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BREVE DESCRIÇÃO
NOTA PRÉVIA
Este texto tem por objectivo ilustrar, de forma muito simples, uma estruturação básica do
modelo AS/AD. A sua leitura deverá ser acompanhada pela leitura dos capítulos 12 e 13 do
livro adoptado na disciplina: Michael Burda e Charles Wyplosz (2005), Macroeconomics –
A European Text, 4rd ed., Oxford University Press. Deverá ser tido em consideração que
nas aulas apenas foi feita a estruturação e aplicação do modelo AS/AD para o caso de uma
grande economia aberta ao exterior.
O MODELO AS/AD
A passagem do modelo IS/LM para o modelo AS/AD implica o abandono de um dos
pressupostos mais fortes do modelo: o facto dos preços dos bens e serviços serem fixos. Ao
abdicarmos deste pressuposto estamos a proporcionar ao modelo um horizonte temporal de
análise bastante mais alargado, que irá desde o curto prazo, caracterizado por alguma
rigidez de preços e salários1, até ao longo prazo, onde preços e salários são geralmente
tidos como perfeitamente flexíveis.
O facto dos preços passarem a ser variáveis resulta na introdução de uma nova variável
fundamental no modelo, a taxa de inflação, implicando a rejeição da curva da oferta
agregada subjacente ao modelo IS/LM, a qual é horizontal (perfeitamente elástica), e de
tudo o que a mesma representa, nomeadamente a subjugação da oferta à procura de bens e
serviços, deixando os produtores de responder passivamente a alterações na procura. O
abandono do pressuposto da rigidez total de preços vai levar-nos a estudar algo que até ao
momento tinha sido negligenciado no nosso plano lectivo: o lado da oferta de uma
economia e a formação dos preços dos bens e serviços.
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A rigidez dos preços dos bens e serviços e dos salários é usualmente justificada na literatura com a
existência de custos de ajustamento, vulgarmente designados por custos de menu, e de contratos que devem
ser cumpridos. Os custos de menu são geralmente identificados com custos de impressão e distribuição de
novas tabelas de preços, custos administrativos inerentes ao processo de decisão dos novos preços e custos
relacionados com possíveis alterações ao nível da carteira de clientes.
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
A Lei de Okun diz-nos que tende a existir uma relação inversa entre as variações da
procura de bens e serviços, e consequentemente do produto, e as variações do desemprego,
uma vez que um aumento da procura gera uma necessidade de resposta por parte da oferta,
o que implica o aumento da utilização dos diferentes factores produtivos, incluindo o
trabalho. Logo, um aumento da procura de bens e serviços tende a gerar um aumento do
emprego, ou seja uma diminuição do desemprego. Genericamente a Lei de Okun poderá
representar-se da seguinte forma:
_ _
U − U = −g (Y − Y) , g’(⋅) > 0, (1)
_ _
onde (U − U) representa os desvios do desemprego face ao desemprego natural, e (Y − Y)
os desvios do produto relativamente ao produto de pleno emprego, o que geralmente se
designa por output gap.
Por sua vez, a Curva de Phillips é uma relação empírica, descoberta em finais da década de
50 do século XX, que tem por base uma correlação negativa entre as variações do
desemprego e as variações dos salários nominais. A partir dos estudos originais de A.W.
Phillips, evoluiu-se para uma relação entre variações do desemprego e inflação (π) do tipo:
_
π = −h (U − U) , h’(⋅) > 0 . (2)
A conjugação da Lei de Okun (1) com a Curva de Phillips (2) permite-nos afirmar que:
_ _
π = −h {−g (Y − Y)} ⇒ π = f (Y − Y) , f’(⋅) > 0 , (3)
ou seja, existe uma relação positiva entre o output gap e a inflação. Um aumento na oferta
de bens e serviços, traduz-se, tudo o resto constante, num aumento do output gap que,
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
através da Lei de Okun, implica uma redução do desemprego relativamente ao seu nível
natural tendendo, se acreditarmos na Curva de Phillips, a elevar o valor da inflação. Eis a
lógica desta curva da oferta agregada, a qual é, como facilmente percebemos, positivamente
inclinada (figura nº 1).
AS
Y-Y
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
originou o que se costuma designar pela Curva de Phillips Aumentada (pelas expectativas e
pelos choques na oferta):
___
πt = πe − b (U − U) + s (4)
De acordo com esta nova formulação, para além de uma relação inversa entre inflação e
variações do desemprego, quer as expectativas de inflação que os choques na oferta têm um
papel importante na determinação da taxa de inflação.
Uma questão pertinente que poderá surgir respeita ao processo de formação da inflação
subjacente. Numa abordagem muito simples à questão, podemos referir que o processo de
formação de expectativas para a inflação subjacente às negociações salariais engloba, numa
lógica inerente à utilização de expectativas racionais, dois tipos de análise: uma, que é
usualmente designada por forward looking, onde os agentes envolvidos procuram olhar
para o futuro, tentando prever a influência da evolução futura esperada da economia sobre
o valor da inflação, gerando uma parcela esperada da inflação subjacente; outra, baseada
numa análise backward looking, onde os agentes olham para o passado, procurando corrigir
os erros cometidos nas previsões então elaboradas, gerando uma parcela indexada da
inflação subjacente.
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
πt = πe + a (Y − Y) + s (5)
ASc p
Y-Y
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
Por outro lado, note-se que alterações na posição da AScp, ou seja deslocações para cima
(esquerda) ou para baixo (direita) da mesma, estão directamente relacionadas com
alterações da inflação subjacente e com a eventual ocorrência de choques da oferta. Um
aumento nas expectativas da inflação subjacente às negociações salariais e/ou a ocorrência
de um choque da oferta que agrave os custos de produção, será algo que, para um mesmo
nível de produção, tenderá a agravar os preços de venda e, consequentemente, a inflação,
resultando numa deslocação para cima (esquerda) da AScp.
Mas, se estamos a falar da curva AS de curto prazo, certamente existirá uma de longo
prazo. Como será representada essa ASLP?
Como sabemos, no longo prazo o produto tende a convergir para o seu nível de pleno
emprego, o que, tendo em atenção a estrutura da AS, equivale a assumirmos que o longo
prazo será caracterizado pela total ausência de incerteza, que se reflectirá no facto da
inflação subjacente igualar a inflação efectivamente verificada, e pela ausência de choques
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
na oferta (s = 0). Nesta situação, a curva AS transforma-se numa recta vertical, que
designaremos por ASLP, expressa por:
___ ___
Y = Y ⇔ (Y − Y) = 0 (6)
Comparando as curvas de curto e longo prazo (figura nº 3), concluímos que enquanto no
longo prazo o produto estará sempre ao nível correspondente ao pleno emprego dos
factores, sendo admissíveis apenas variações ao nível da taxa de inflação, no curto prazo o
produto pode flutuar em torno do seu nível potencial, sendo essas flutuações acompanhadas
por eventuais alterações da inflação.
_
0 Y- Y
Uma vez definidas as curvas da oferta agregada de curto e longo prazo, vamos agora
concentrarmo-nos no estudo da procura agregada, procurando definir a curva AD.
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
variação contínua dos preços, ou seja, introduzindo uma nova variável: a taxa de inflação.
Tendo subjacente a reacção do lado da procura de uma economia face a alterações da taxa
de inflação, a curva AD que vamos deduzir representa o conjunto das diferentes
combinações entre valores da inflação e do gap do produto que garantem o equilíbrio
simultâneo dos diferentes mercados que constituem essa economia, ou seja que garantem o
equilíbrio geral do modelo IS/LM. A dedução da curva AD que iremos fazer tem como
pressuposto que estamos perante um grande economia aberta.
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
i
LM1 (inf1)
LM0 (inf0)
E1
E0
IS0
Y1 Y0 Y
inflação
E'1
inf1
inf0 E'0
AD
Y1 -Y Y0-Y Y-Y
Desta forma concluímos que, numa grande economia aberta, a curva AD tem uma
inclinação negativa pois um aumento da inflação, ao reduzir a oferta real de moeda e,
consequentemente, ao determinar um nível superior para a taxa de juro, tende a provocar
uma diminuição da procura agregada. Se em vez de considerarmos uma grande economia
aberta, considerarmos uma pequena economia aberta, seja num regime de câmbios fixos,
seja num regime de câmbios flexíveis, chegaremos à conclusão que a curva AD é sempre
negativamente inclinada.
Já vimos que a curva AD tem uma inclinação negativa. Mas que factores determinam
possíveis deslocações da AD?
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
Relativamente a deslocações da AD, poderemos dizer que esta curva se deslocará sempre
que se deslocam a IS e/ou a LM, excepto quando as deslocações destas curvas são
originadas, como vimos atrás, por alterações da inflação (sendo a inflação uma variável
endógena da AD, uma alteração desta variável originará uma deslocação ao longo da AD).
Como vimos quando analisámos o modelo IS/LM, as deslocações destas duas curvas
estavam dependentes de uma série de alterações, entre as quais se destacam aquelas que
resultam de políticas activas de gestão da procura, nomeadamente de políticas orçamentais
(alterações ao nível dos gastos públicos, dos impostos ou das transferências do sector
público para o sector privado) e monetárias (alterações da oferta nominal de moeda).
Sempre que estamos perante uma política de gestão da procura expansionista, a deslocação
para a direita da IS e/ou da LM, fará deslocar a AD em igual sentido. Políticas
contraccionistas farão deslocar a AD para a esquerda. Também não devemos esquecer que
estas deslocações da AD podem resultar de choques específicos sobre as diferentes
componentes da procura agregada.
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O Modelo AS/AD: Breve Descrição
e
inflação
AD
0 Y-Y
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