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Governo Constitucional de Vargas (34-37)

Ação Integralista Brasileira (AIB)


Em 1932 é criada a Ação Integralista Brasileira (AIB), inspirada no fascismo italiano, de
ideologia nacionalista e antiliberal. Seu chefe era Plínio Salgado, composta por membros das
camadas médias urbanas como intelectuais, em sua maioria católicos, profissionais liberais,
funcionários públicos e militares. Seu lema era "Deus, Pátria e Família".
Plínio Salgado deu início à articulação entre grupos regionais simpáticos ao fascismo e ao
mesmo tempo fundou a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), reunindo intelectuais de
tendências políticas autoritárias. O sucesso dessas iniciativas levou à criação, em outubro
daquele ano, da AIB. O Manifesto Integralista, lançado na ocasião, sintetizava o ideário básico
da nova organização: defesa do nacionalismo, definido mais sobre bases culturais do que
econômicas, e do corporativismo, visto como esteio da organização do Estado e da sociedade;
combate aos valores liberais e rejeição do socialismo como modo de organização social.
Querendo demonstrar sua força política, os integralistas costumavam realizar grandes
desfiles em que usavam uniformes que lhes valeram o apelido de "camisas-verdes". Nas
manifestações de rua, os enfrentamentos com os comunistas eram uma constante. A oposição
que os integralistas faziam ao regime Vargas era difusa. As críticas ao governo concentravam-
se, sobretudo, no seu aspecto liberal.
A AIB apresentava uma estrutura rigidamente hierarquizada, cabendo ao próprio Plínio
Salgado como chefe nacional, a liderança incontestável. Nitidamente influenciada por suas
similares européias, a AIB cultivava uma série de símbolos e rituais com os quais buscava
afirmar sua identidade, como os uniformes verdes envergados nas manifestações públicas, a
letra grega sigma (*) usada como emblema, e a saudação Anauê! empregada por seus
militantes. O lema da organização era "Deus, Pátria e Família".
Em maio de 1937, a AIB lançou Plínio Salgado como candidato à eleição presidencial prevista
para janeiro do ano seguinte. A eleição, contudo, acabaria não se realizando em virtude do golpe
do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Plínio Salgado esteve o tempo todo a par das
articulações golpistas e lhes deu apoio. O próprio pretexto utilizado por Vargas para golpear a
democracia - o Plano Cohen, apresentado como um plano comunista para a tomada do poder -
não passava de um documento forjado, de autoria do então capitão Olímpio Mourão Filho,
destacado dirigente integralista. Para surpresa dos integralistas, porém, em dezembro de 1937
Vargas decretou o fechamento da AIB, juntamente com todas as demais organizações
partidárias do país.
Decepcionados, em maio de 1938 alguns dirigentes integralistas promoveram um levante no
Rio de Janeiro para depor o governo, mas foram derrotados sem dificuldade.
Em seguida, Plínio Salgado exilou-se por alguns anos em Portugal. Em 1945, com a
redemocratização, voltou ao Brasil. Fundou, então, o Partido de Representação Popular (PRP),
no qual tentou reviver algumas das teses integralistas.
Aliança Nacional Libertadora (ANL)
Em 1935 é criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização inspirada na proposta
das frentes populares surgidas em diversos países da Europa com o objetivo de combater o
avanço do nazi-fascismo. A ANL congregava comunistas, socialistas, "tenentes", liberais e
católicos. Pregando a formação de um governo popular-nacional-revolucionário, transformou-se,
assim como a AIB, num grande movimento de massas. De seu programa faziam parte a luta
contra o latifúndio e o imperialismo, a defesa da reforma agrária e das liberdades democráticas,
a suspensão do pagamento da dívida externa brasileira e o combate ao nazi-fascismo. Sua
oposição a Vargas era nítida. Importantes "tenentes" que haviam atuado na linha de frente da
Revolução de 1930, como Milguel Costa e Agildo Barata romperam radicalmente com o governo
e tornaram-se dirigentes da ANL. Luís Carlos Prestes, um dos principais expoentes do
tenentismo e agora dirigente comunista, foi escolhido presidente de honra da entidade.
AIB e ANL representavam pólos opostos que contribuíam para tornar tenso o quadro político.
O governo aproveitava para pressionar o Congresso a adotar medidas autoritárias.
Em abril de 1935 Luís Carlos Prestes voltou clandestinamente ao Brasil. Incumbido pela
direção da Internacional Comunista de promover um levante armado que instaurasse no país um
governo nacional-revolucionário, recebia a colaboração de um pequeno mas experiente grupo
de militantes estrangeiros, entre os quais se incluía sua mulher, a alemã Olga Benário. A opção
de Prestes por manter-se na clandestinidade num momento em que a ANL ganhava as ruas
demonstra bem suas intenções insurrecionais e a heterogeneidade de perspectivas que
caracterizava essa ampla frente de esquerda.
À medida que a ANL crescia, aumentava a tensão política no país, com freqüentes conflitos
de rua entre comunistas e integralistas. No dia 5 de julho, a ANL promoveu manifestações
públicas para comemorar o aniversário dos levantes tenentistas de 1922 e 1924. Nessa ocasião,
contra a vontade de muitos dirigentes aliancistas, foi lido um manifesto de Prestes propondo a
derrubada do governo e exigindo "todo o poder à ANL". Vargas aproveitou a grande repercussão
do manifesto para, com base na Lei de Segurança Nacional, promulgada em abril, ordenar o
fechamento da organização. A ANL foi colocada na ilegalidade em 11 de julho, quatro meses
após sua fundação. Com o seu fechamento, a perspectiva de tomada do poder através de uma
insurreição, sempre presente no horizonte dos comunistas e antigos "tenentes", ganhou força.
Dirigentes do Partido Comunista do Brasil, com o aval da Internacional Comunista , decidiram
então promover a derrubada do regime Vargas pelas armas.
Em 23 de novembro de 1935, em nome da ANL, uma revolta foi deflagrada em Natal por
sargentos, cabos e soldados do 21° Batalhão de Caçadores. No dia seguinte o movimento
eclodiu em Recife, envolvendo civis e militares. Na noite de 26 para 27, militares do 3°
Regimento de Infantaria, sob a liderança de Agildo Barata, rebelaram-se no Rio de Janeiro,
enquanto um outro foco surgia no Campo dos Afonsos. Tanto em Recife como no Rio de Janeiro
os revoltosos foram rapidamente dominados. Entretanto, em Natal foi instalado um Governo
Popular Revolucionário, sob a liderança de João Praxedes de Andrade, sapateiro, membro da
direção regional do PCB. O governador do Rio Grande do Norte, Rafael Fernandes, e demais
autoridades asilaram-se no consulado italiano, e durante quatro dias os rebeldes dominaram a
situação.
O fracasso dos levantes comunistas desencadeou intensa reação por parte da polícia política.
Para as elites civis e militares do país, o comunismo tornou-se o inimigo número um. Com o
apoio de 2/3 dos parlamentares, Vargas conseguiu aprovar uma série de medidas repressivas
que iriam cercear cada vez mais o Poder Legislativo. O estado de sítio foi decretado em todo o
território nacional por 30 dias, e prorrogado depois por mais 90.
Entre o final de 1935 e o início de 1936, centenas de civis e militares foram presos em todo o
país. Entre os prisioneiros estava Pedro Ernesto, prefeito do Distrito Federal, acusado de manter
ligações com membros da ANL. A administração Pedro Ernesto havia-se caracterizado por
inovações na área de saúde e educação, e por uma maior aproximação com os setores
populares. A prisão de diversas lideranças comunistas e a apreensão de documentos em seu
poder forneceram a justificativa para a decretação, em março de 1936, do estado de guerra, que
vigoraria até meados de 1937. Conferindo ao governo poderes de repressão quase ilimitados, a
medida, aprovada pelo Congresso, diferentemente do estado de sítio, tornava vulneráveis até
mesmo os parlamentares. Dois dias após a decretação do estado de guerra, foram presos os
deputados oposicionistas Otávio da Silveira, Domingos Velasco, João Mangabeira e Abguar
Bastos, e o senador Abel Chermont.
Também em 1936 foi criada a Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo, encarregada
de investigar a participação de funcionários públicos e outros em atos e crimes contra as
instituições políticas e sociais. O atestado de ideologia passou a ser exigido para todos os que
exercessem cargos públicos e sindicais. Instituiu-se o Tribunal de Segurança Nacional para
julgar os acusados de envolvimento com a revolta de 1935.
Finalmente, em 10 de novembro de 1937, o perigo de uma nova revolta comunista foi a
justificativa apresentada pelo governo para dar o golpe do Estado Novo.
Plano Cohen
Documento divulgado pelo governo brasileiro em setembro de 1937, atribuído à Internacional
Comunista, contendo um suposto plano para a tomada do poder pelos comunistas. Anos mais
tarde, ficaria comprovado que o documento foi forjado com a intenção de justificar a instauração
da ditadura do Estado Novo, em novembro de 1937.
O panorama político no Brasil durante o ano de 1937 foi dominado pela expectativa da eleição
do sucessor de Vargas, prevista para janeiro do ano seguinte. O presidente, contudo, alimentava
pretensões continuístas e nos bastidores articulava o cancelamento do pleito. O pretexto para
isso seria a iminência de uma revolução preparada pelos comunistas, conforme informações
obtidas pelas autoridades militares.
Em setembro, realizou-se uma reunião da alta cúpula militar do país, na qual foi apresentado
o Plano Cohen, supostamente apreendido pelas Forças Armadas. Participaram dessa reunião,
entre outros, o general Eurico Dutra, ministro da Guerra; o general Góes Monteiro, chefe do
Estado-Maior do Exército (EME); e Filinto Muller, chefe de Polícia do Distrito Federal. A
autenticidade do documento não foi questionada por nenhum dos presentes, e dias depois o
Plano Cohen seria divulgado publicamente, alcançando enorme repercussão na imprensa e na
sociedade ao mesmo tempo em que era desencadeada uma forte campanha anticomunista. O
plano previa a mobilização dos trabalhadores para a realização de uma greve geral, o incêndio
de prédios públicos, a promoção de manifestações populares que terminariam em saques e
depredações e até a eliminação física das autoridades civis e militares que se opusessem à
insurreição.
Vargas aproveitou-se em seguida para fazer com que o Congresso decretasse mais uma vez
o estado de guerra. No dia 10 de novembro, a ditadura do Estado Novo foi implantada.

Golpe do Estado Novo


O Estado Novo foi um período autoritário da nossa história, que durou de 1937 a 1945. Foi
instaurado por um golpe de Estado que garantiu a continuidade de Getúlio Vargas à frente do
governo central, tendo a apoiá-lo importantes lideranças políticas e militares. Para entender
como foi possível o golpe, eliminando-se as suas resistências, é preciso retroceder ao ano de
1936.
A Constituição de 1934 determinava a realização de eleições para presidente da República
em janeiro de 1938. Com isso, desde 1936 a sucessão presidencial tomou conta da cena
política, embora Vargas procurasse adiar e esvaziar o debate. Armando de Sales Oliveira,
governador de São Paulo, lançou-se candidato pela oposição depois de tentar, sem sucesso,
atrair o apoio das forças situacionistas. Estas, por sua vez, apresentaram o nome do paraibano
José Américo de Almeida. Além dos dois, outro pretendente à presidência foi Plínio Salgado,
líder da Ação Integralista Brasileira (AIB).
A campanha sucessória desenrolou-se em meio a um quadro repressivo, de censura e
restrição da participação política, resultado do estado de guerra decretado no país em março de
1936 com a justificativa de combater o comunismo. Os instrumentos de força criados para
reprimir a ação comunista terminaram sendo utilizados também contra antigos aliados de Vargas
contrários ao continuísmo, enfraquecendo-os ou neutralizando-os. Desse modo, as resistências
políticas ao golpe foram sendo progressivamente minadas. O combate ao comunismo serviu
igualmente para alijar setores militares contrários ao projeto de Góes Monteiro de construção de
um Exército forte, unificado e isento de influências políticas.
Ao longo de 1937, o processo eleitoral foi sofrendo um progressivo esvaziamento. A própria
candidatura situacionista perdeu gradativamente consistência. José Américo de Almeida não
obteve em nenhum momento o apoio de Vargas que, ao contrário, fez o possível para esvaziá-
lo. Mais do que isso, procurando marcar sua diferença em relação a Armando Sales, que se
apresentava como oposição, José Américo passou a sustentar um discurso mais radical que seu
concorrente e com um forte apelo popular. Acrescente-se ainda o fato de que, preocupando-se
excessivamente com o Norte, José Américo provocou um deslocamento progressivo de outras
forças regionais que o apoiavam. Até mesmo o governador mineiro Benedito Valadares, que
havia garantido seu lançamento como candidato, a partir de fins de setembro tornou-se defensor
da idéia de retirada das candidaturas e de uma reforma constitucional visando à prorrogação dos
mandatos.
Entrava na sua reta final o projeto golpista. No mês de setembro, de modo significativo, o
governo realizou antecipadamente as cerimônias de rememoração das vítimas da revolta
comunista de novembro de 1935. Alguns dias depois, o Ministério da Guerra divulgou o que
ficou conhecido como Plano Cohen, um documento forjado que relatava a preparação de uma
nova ofensiva comunista. Essa foi a base para que o governo pedisse ao Congresso o retorno
ao estado de guerra, que havia sido momentaneamente suspenso.
Em 10 de novembro de 1937 o Congresso Nacional foi cercado por tropas da Polícia Militar e
fechado. No mesmo dia Vargas anunciou pelo rádio à nação o início de uma nova era, orientada
por uma nova Constituição elaborada por Francisco Campos. Começava ali o Estado Novo

Constituição de 1937
Quarta constituição da história brasileira, outorgada pelo presidente Getúlio Vargas em 10 de
novembro de 1937, no mesmo dia em que, por meio de um golpe de Estado, era implantada no
país a ditadura do Estado Novo. Foi elaborada pelo jurista Francisco Campos, ministro da
Justiça do novo regime, e obteve a aprovação prévia de Vargas e do ministro da Guerra, general
Eurico Dutra.
A essência autoritária e centralista da Constituição de 1937 a colocava em sintonia com os
modelos fascistizantes de organização político-institucional então em voga em diversas partes
do mundo, rompendo com a tradição liberal dos textos constitucionais anteriormente vigentes no
país. Sua principal característica era a enorme concentração de poderes nas mãos do chefe do
Executivo. Do ponto de vista político-administrativo, seu conteúdo era fortemente centralizador,
ficando a cargo do presidente da República a nomeação das autoridades estaduais, os
interventores. Aos interventores, por seu turno, cabia nomear as autoridades municipais.
A intervenção estatal na economia, tendência que na verdade vinha desde 1930, ganhava
força com a criação de órgãos técnicos voltados para esse fim. Ganhava destaque também o
estímulo à organização sindical em moldes corporativos, uma das influências mais evidentes dos
regimes fascistas então em vigor. Nesse mesmo sentido, o Parlamento e os partidos políticos,
considerados produtos espúrios da democracia liberal, eram descartados. A Constituição previa
a convocação de uma câmara corporativa com poderes legislativos, o que no entanto jamais
aconteceu. A própria vigência da Constituição, segundo o seu artigo 187, dependeria da
realização de um plebiscito que a referendasse, o que também jamais foi feito.
Após a queda de Vargas e o fim do Estado Novo em outubro de 1945, foram realizadas
eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, em pleito paralelo à eleição presidencial.
Eleita a Constituinte, seus membros se reuniram para elaborar o novo texto constitucional, que
entrou em vigor a partir de setembro de 1946, substituindo a Carta de 1937.
Estado Novo e Fascismo
O Estado Novo foi instaurado no Brasil ao mesmo tempo em que uma onda de
transformações varria a Europa, instalando governos autoritários e reforçando a versão de que a
democracia liberal estava definitivamente liquidada. Mussolini chegou ao poder na Itália em 1922
e aí implantou o fascismo; Salazar se tornou primeiro-ministro (presidente do Conselho de
Ministros) de Portugal em 1932 e inaugurou uma longa ditadura; Hitler foi feito chanceler na
Alemanha em 1933 e tornou-se o chefe supremo do nazismo. A guerra civil espanhola, que se
estendeu de 1936 a 1939, banhou de sangue a Espanha antes que Franco começasse a
governar o país com mão de ferro.
O governo do Estado Novo foi centralizador, ou seja, concentrou no governo federal a tomada
de decisões antes partilhada com os estados, e autoritário, ou seja, entregou ao Poder Executivo
atribuições anteriormente divididas com o Legislativo. Sua ideologia recuperou práticas políticas
autoritárias que pertenciam à tradição brasileira, mas também incorporou outras mais modernas,
que faziam da propaganda e da educação instrumentos de adaptação do homem à nova
realidade social. Era esse o papel do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), destinado
não só a doutrinar, mas a controlar as manifestações do pensamento no país.
A doutrina estadonovista propunha a concentração do poder no Estado, visto como única
instituição capaz de garantir a coesão nacional e de realizar o bem comum. Desenvolvia,
também, a crença no homem excepcional, portador de virtú, que seria capaz de expressar e
construir a nova ordem. Havia muitas semelhanças com a doutrina fascista, e foi a partir dos
aspectos comuns que muitas vezes o Estado Novo foi identificado com o fascismo.
Dentre esses pontos comuns, pode-se destacar a valorização da missão histórica da nação
representada pelo Estado; o reconhecimento dos direitos individuais, mas apenas daqueles que
não entravam em conflito com as necessidades do Estado soberano; a ênfase no significado da
elite como corporificação do gênio do povo; a solidariedade entre o capital e o trabalho
assegurada pela estrutura corporativa; o antiliberalismo, e o antiparlamentarismo. Ambas as
doutrinas apresentavam traços totalizadores, já que seu campo de ação não se atinha somente
à ordem política, mas envolvia também outros aspectos da vida social: cultura, religião, filosofia.
Por outro lado, o regime fascista italiano resultou de um movimento organizado que tomou o
poder. O partido teve um papel fundamental como propulsor das transformações por que iria
passar o novo Estado, era uma entidade que "representava" a vontade da nação, mobilizando
intensamente a população e chegando a assumir feições militarizadas. Já o regime de 1937 no
Brasil não resultou da tomada do poder por nenhum movimento revolucionário, nem era
sustentado por qualquer partido. A mobilização e organização das massas em milícias também
era recusada, como o demonstra o caso da Organização Nacional da Juventude, que foi
transformada em um programa de educação moral e cívica.
Ainda que haja semelhanças no tocante ao cerceamento da liberade individual, percebe-se
assim que tanto do ponto de vista doutrinário como da realidade histórica, o Estado Novo
brasileiro não foi a reprodução literal do fascismo italiano.

Tio Sam chega ao Brasil


Este é o título de um livro do historiador Gerson Moura que trata da ostensiva campanha de
penetração cultural norte-americana no Brasil desencadeada no início dos anos 40. Foi uma
época em que gradativamente o american way of life foi ganhando espaço na sociedade
brasileira, graças a um cuidadoso plano de conquista. Esse plano fazia parte da estratégia dos
Estados Unidos de promover a cooperação interamericana e a solidariedade hemisférica,
enfrentar o desafio do Eixo e consolidar-se como grande potência. A campanha teve início com
a propagação dos "valores pan-americanos" durante as conferências interamericanas. O passo
seguinte foi a criação, em agosto de 1940, de uma superagência de coordenação dos negócios
interamericanos, sob a chefia de Nelson Rockefeller, chamada Office of the Coordinator of Inter-
American Affairs (OCIAA). Essa iniciativa diferia dos programas de colaboração já em
funcionamento por estar diretamente vinculada ao Conselho de Defesa Nacional dos Estados
Unidos.
Para alcançar seus objetivos, o OCIAA contava com as divisões de comunicações, relações
culturais, saúde e comercial/financeira. Cada uma dessas divisões subdividia-se em seções:
rádio, cinema, imprensa; arte, música, literatura; problemas sanitários; exportação, transporte e
finanças. Durante todo o seu tempo de vida, o OCIAA contou com ativa colaboração do DIP,
quer na condução de projetos conjuntos, quer como órgão de apoio à sua ação no Brasil.
Na área de comunicação e informação, a agência norte-americana procurava veicular na
imprensa brasileira notícias favoráveis aos Estados Unidos e, nos Estados Unidos, divulgar o
Brasil. Procurava também difundir as técnicas mais modernas do jornalismo norte-americano,
como por exemplo a recepção e transmissão de radiofotos transmissão de radiofotos. Mas nada
se comparava, em termos de glamour e apelo popular, aos programas radiofônicos e,
principalmente, às produções cinematográficas sob sua coordenação.
No rádio, um dos mais importantes instrumentos de propaganda da guerra, o OCIAA
apresentava programas transmitidos diretamente dos Estados Unidos ou por estações locais.
Além de fazer a cobertura dos fatos relacionados ao andamento da guerra, as transmissões
procuravam divulgar a cultura norte-americana e se contrapor à propaganda de guerra do Eixo
em programas como "Família Borges", "Barão Eixo" ou "O Brasil na Guerra".
Já na área cinematográfica, tanto os filmes de ficção quanto os documentários
desempenhavam o papel de difusores culturais e ideológicos. Na produção dos primeiros, o
OCIAA contou com a colaboração das indústrias cinematográficas de Hollywood. Procurava-se
evitar a distribuição na América Latina de filmes que expusessem instituições e costumes norte-
americanos malvistos, como a discriminação racial, ou que pudessem ofender os brios dos
latino-americanos. Os bandidos mexicanos, por exemplo, foram banidos das produções de
Hollywood. Outra importante iniciativa foi a criação de personagens que ajudassem a fomentar a
solidariedade continental. Data dessa época o nascimento do conhecido personagem dos
Estúdios Disney, o papagaio Zé Carioca. O filme Alô Amigos, que apresentou esse personagem
ao mundo como amigo do Pato Donald, enfatizava a política de boa vizinhança. Vejamos o
que diz Gerson Moura: "Zé Carioca é falador, esperto e fã de Donald; sente um imenso prazer
em conhecer o representante de Tio Sam e logo o convida para conhecer as belezas e os
encantos do Brasil. Brasileiramente, faz-se íntimo de Donald - quando este lhe estende a mão,
Zé Carioca lhe dá um grande abraço -, que aceita o oferecimento e sai para conhecer o Brasil."
Na área da saúde, a ação do OCIAA voltou-se basicamente para o controle da malária, o
treinamento de enfermeiras e a educação médica. Esses programas não tinham apenas o
objetivo político de obter a aprovação da população à atuação da agência no Brasil. Destinavam-
se também a preparar o terreno para o provável estacionamento de tropas norte-americanas em
território brasileiro e para a extração de materiais estratégicos a serem fornecidos aos Estados
Unidos, ambas as questões presentes na agenda da negociação do alinhamento brasileiro.
Foi nessa época que Carmem Miranda se tornou símbolo da cultura brasileira nos Estados
Unidos, que o Zé Carioca ajudou a construir o estereótipo do brasileiro simpático, que a Coca-
Cola substituiu os sucos de frutas nas mesas da classe média brasileira etc. etc. Apesar dos
focos de resistência à sua ação, o OCIAA conseguiu erradicar a influência do Eixo no Brasil e
sedimentar o discurso pan-americanista da solidariedade continental. Terminada a guerra, o
governo dos Estados Unidos encerrou as atividades da agência, deixando a cargo embaixada
americana no Brasil a condução de algumas de suas atividades.
Negociação do alinhamento
Na negociação do alinhamento do Brasil aos Estados Unidos, tendo em vista a Segunda
Guerra Mundial, quatro questões estiveram desde o início na agenda de discussões: de um lado,
o fornecimento de materiais estratégicos. brasileiros aos Estados Unidos e a cessão das bases
do Nordeste para o estacionamento de tropas norte-americanas; de outro, a concessão de
financiamento norte-americano para a modernização das Forças Armadas brasileiras e a criação
da Companhia Siderúrgica Nacional.
Desde o início de 1941, os Estados Unidos estavam decididos a cortar o fornecimento de
matérias-primas brasileiras ao Eixo. Para tanto assinaram com o Brasil um contrato de aquisição
de toda a sua produção de materiais estratégicos - bauxita, berilo, cromita, ferro-níquel,
diamantes industriais, minério de manganês, mica, cristais de quartzo, borracha, titânio e
zircônio. Nessas negociações, ênfase especial foi dada à borracha, produto que se tornara
escasso após o avanço japonês no Sudeste Asiático. Com a ajuda de recursos norte-
americanos, desencadeou-se na época a "batalha da borracha", projeto de estímulo à produção
e distribuição do produto.. Com a entrada dos Estados Unidos na guerra em dezembro de 1941
e o conseqüente aumento da necessidade desses e de outros produtos estratégicos para a
indústria bélica norte-americana, o governo brasileiro procurou associar novos acordos de venda
à obtenção de armamentos para suas Forças Armadas.
Um outro fator que veio contribuir para tornar mais complexas as negociações entre os dois
países foi a intenção do governo norte-americano de enviar tropas ao Nordeste brasileiro, com
base no argumento de que a região se constituía em alvo potencial para um avanço alemão em
direção América. Enquanto a concepção de defesa nacional dos Estados Unidos implicava a
idéia de que cabia às forças norte-americanas arcar com a defesa do continente, e de que a
solidariedade continental deveria se traduzir na permissão para o estacionamento de tropas na
bases militares do Nordeste do Brasil, os brasileiros insistiam em se encarregar eles próprios da
defesa de seu território. Para isso, porém, precisavam de material bélico moderno.
Até que esse assunto fosse resolvido, o governo Vargas concedeu, de toda forma, facilidades
importantes aos Estados Unidos. Em outubro de 1940 foi criada a Comissão Mista Brasil-
Estados Unidos, que trabalhou no aprimoramento de medidas comuns de defesa. A seguir, em
janeiro de 1941, um acordo assinado entre os dois países previu a instalação no Rio de Janeiro
de duas missões militares norte-americanas (Exército e Aviação). Em abril do mesmo ano, novo
acordo concedeu facilidades para a Marinha americana em operações na costa brasileira.
Finalmente, em julho de 1941 o Brasil autorizou a utilização de suas bases navais e aéreas no
Nordeste pelos norte-americanos.
A cada dia mais ciente da importância que a modernização do equipamento tinha para as
Forças Armadas, e desejoso de garantir o apoio destas a seu governo, Vargas decidiu
finalmente condicionar a consolidação do alinhamento aos Estados Unidos ao fornecimento do
material solicitado. Foi o que fez por ocasião da Reunião de Chanceleres do Rio de Janeiro, em
janeiro de 1942, na qual os Estados Unidos esperavam obter o rompimento das relações
diplomáticas dos países do continente com os países do Eixo. A insistência no reequipamento
feita pelos chefes militares brasileiros, representados pelos generais Eurico Dutra, ministro da
Guerra, e Góes Monteiro, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, baseava-se no
argumento de que o Brasil não estava preparado para arcar com as conseqüências do
rompimento com o Eixo.
Após ajustes difíceis entre os interesses dos dois países, foi afinal assinado, em março de
1942, um acordo que possibilitava o envio de armas e munições ao Brasil no valor de US$ 200
milhões, em desdobramento aos chamados Acordos de Washington de 1942 que diziam
respeito, basicamente, ao fornecimento de certas matérias-primas brasileiras à indústria norte-
americana. Em contrapartida, Vargas atendeu à reivindicação dos Estados Unidos de aumentar
seus efetivos no Nordeste e construir novas instalações militares na região. A seguir, com a
assinatura de um novo acordo político-militar em maio de 1942, foram criadas comissões
militares, nos dois países encarregadas de desenhar os planos de defesa conjunta para o
Nordeste e elevar a capacitação das Forças Armadas brasieiras.
Às vésperas da declaração de guerra do Brasil à Alemanha e à Itália, em agosto de 1942, era
indiscutível o comprometimento brasileiro com os Estados Unidos. Mais uma vez, porém, a
implementação efetiva dos acordos de reequipamento das Forças Armadas enfrentaria
problemas que só a criação da Força Expedicionária Brasileira iria resolver.
Propaganda de guerra
Desde a criação do DIP, o Estado assumiu como sua tarefa o controle sistemático de todos
os meios de comunicação social disponíveis. A justificativa para esse controle e para a maciça
publicidade da ação do governo estava ligada à concepção da propaganda como fator de
segurança da nação e de defesa das instituições nacionais. Propaganda e censura eram vistas
como armas de que o Estado Novo dispunha para ajudar a manter a unidade ideológica da
nação, elucidar as propostas do governo e educar a opinião pública dentro dos princípios
doutrinários do regime.
Pode-se dividir a ação estatal em relação à informação sobre o tema da Segunda Guerra
Mundial em dois momentos distintos: antes da Reunião de Chanceleres do Rio de Janeiro em
1942, ou seja, enquanto o Brasil mantinha sua neutralidade diante do conflito europeu, e a partir
do rompimento de relações e da declaração de guerra com a Alemanha, Itália e Japão.
No primeiro momento, o governo determinava que a imprensa e o rádio permanecessem
neutros ao divulgar notícias sobre a guerra. A censura era então exercida com rigor, e era
proibida a publicação de notícias, correspondências e artigos nos quais se pregasse ou
insinuasse a necessidade de uma tomada de posição do governo brasileiro diante do conflito. Da
mesma forma era proibido publicar "telegramas, comunicados, fotografias ou gravuras" que
atribuíssem a qualquer dos beligerantes "atos reprováveis". Matérias a favor ou contra qualquer
dos lados envolvidos não seriam divulgadas, bem como caricaturas, anedotas e fotografias
"ofensivas a qualquer homem público ou exército das nações em guerra" ou relativas à "vitória
ou derrota nos campos de batalha".
A partir do seu novo posicionamento no plano internacional, e em virtude do estreitamento
das relações com os Estados Unidos, o Brasil passou a permitir, cada vez mais, a influência
norte-americana sobre todos os meios de comunicação, ao mesmo tempo em que era
deflagrada uma propaganda sistemática contra a ideologia e os países do Eixo. A imprensa, o
cinema, o rádio e outros veículos de comunicação brasileiros eram "abastecidos" com
propaganda norte-americana, apresentando desde temas como o sacrifício dos soldados na
guerra e o poderio militar dos Estados Unidos, até os hábitos e estilo de vida que constituíam o
american way of life. Por isso foi possível falar na chegada de Tio Sam ao Brasil. Esse esforço
tinha um propósito: afastar a influência alemã e italiana exercida pelas comunidades imigrantes
ou por simples simpatizantes dos países do Eixo,
Mas o Brasil também produzia sua própria propaganda de guerra. O DIP se dedicava a isso
organizando cerimônias e concentrações populares cujo objetivo era a mobilização moral e
material para o esforço de guerra. Toda a propaganda era feita no sentido de enaltecer as
Forças Armadas do país, mostrando-as aparelhadas a aptas a enfrentar o desafio,
salvaguardando assim a ordem e integridade da nação. Através dos cinejornais ou
documentários de curta metragem, então de exibição obrigatória nos cinemas, eram mostrados
o embarque dos pracinhas, sua atuação no front, as batalhas vencidas, o estado de espírito da
população brasileira diante do desenrolar dos acontecimentos na Europa. Eram ainda
produzidos cartazes sobre os mais variados temas, como as Obrigações de Guerra, a
convocação para o alistamento, a arrecadação de fundos etc. O DIP editou também a coleção O
Brasil na Guerra, reunindo dados sobre a participação brasileira no conflito, enquanto os
grandes jornais constantemente eram abastecidos com matérias sobre questões as mais
diversas relativas à Segunda Guerra Mundial.

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