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Jornal Experimental do 6º período de Comunicação Social da Ufes
Jornal Experimental do 6º período de Comunicação Social da Ufes
Vitória
Vitória - ES
- ES / Dezembro
/ Novembro dede 2010
2010
edição_123
edição _120

Universitários
de aluguel páginas 8, 9 e 10
2 PRIMEIRA
mão

Expediente:
O Primeira Mão é um jornal laborató-
Ela é a Zulma
rio, produzido em caráter experimental
pelos alunos do 6º período do curso de
Comunicação Social – Jornalismo, da
Universidade Federal do Espírito Santo.
Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras |
Vitória - ES - CEP 29075-910

Reportagem:
Amanda Freitas
Ana Carolina Gomes
Barbara Tavares
Bruno Almeida
Bruno de Castro
Carolina Moreira
Daniel Vilela
Dinora dos Santos
Djamile Carreiro
Eduardo Fernandes
Évelli Falqueto
Fiorella Gomes
Flavio Santos
Flora Viguini
Isabela Couto
Isabela Zortéa
Ismael Inoch FOTO: IZAIAS BUSON
Izaias Buson
Keyla Cezini Por Carolina Moreira dido da mãe e matando aula. O filme Doutor ela furasse a orelha. Aos 23 anos, já emancipa-
Lívia Bernabé Jivago, que tem como pano de fundo a Revolu- da, Zulma furou a própria orelha, numa atitude
Luma Poletti “Ih, se eu fosse te contar as minhas histó- ção Bolchevique, é apontado por ela como um catártica mesmo, querendo provar para si que
Marcel Martinuzzo
Paula Tessarolo rias, você iria ficar um dia todo aqui”. Assim que marcou sua vida. Zulma ama assistir filmes podia fazer do seu corpo e da sua vida o que qui-
Rafael Monteiro Zulma começa a me contar sobre a sua vida. e durante os trezes anos que trabalha no cinema sesse. Foram cinco furos de uma vez. Os outros
Rafael Abreu Sempre deixando claro que tem mais. Curio- já viu boa parte dos que entraram em cartaz. foram na farmácia mesmo, e a impressão que
Tiago Moreno sa, desinibida, engraçada, mal criada, rabu- Diz que é preciso ser inteligente para enten- dá é que ela sempre vai aparecer com mais
genta, são apenas alguns dos adjetivos que ela der alguns, e que quando vê alguém saindo do um. Quando questiono o porquê deles per-
Professora orientadora: mesma usa para se descrever. cinema reclamando pensa que é porque a pes- manecerem nela até hoje, Zulma sorri e diz:
Zulma de Alcântara Ascaciba é uma pessoa soa não conseguiu entender aquela história. “Eles fazem parte de mim, da minha história,
Daniela Caniçali que vai direto ao ponto. “Eu sou a Zulma!”, me “Eles querem histórias fáceis demais. Cinema do que eu sou. Não dá pra tirar”.
responde quando pergunto quem ela é. E mes- tem que pensar também”, declara. Seu gêne- Zulma não tem religião. Acredita em Deus
Diagramação: mo que pareça uma resposta simples, diz muito ro preferido é o suspense. e é feliz assim. Sua cor preferida é o azul, e se
sobre a misteriosa moça cheia de brincos que Zulma se sente sozinha. Já sofreu muito tem algo que a deixa irritada, são perguntas
Any Cometti trabalha no Cine Metrópolis. Ela Tem uma for- na vida, mas também já teve muitas alegrias. bestas. ”- Onde fica o banheiro? - Lá em cima.
Astrid Malacarne te relação com o próprio nome, desde a sua ex- Aprendeu que não adianta deixar guardado - Eu tenho que subir escadas? - Não, vai voan-
Daiane Delpupo
periência como babá, aos 14 anos. A criança que o que machuca, assim só se machuca ain- do!”. Não quis ser grossa, mas quando viu, já
Edberg Souza
Eduardo Dias ela tomava conta a chamava sempre de “empre- da mais. Mas precisou de muito tempo para havia falado. Ela é assim.
Esther Radaelli gada”, nunca Zulma. Isso a machucava, afinal, compreender isso de verdade. Ela tem consciência de que tudo passa,
Fábio Andrade ela tem um nome, oras. Há dois anos, logo após o falecimento da inclusive as coisas materiais. Faz questão de
Henrique Montovanelli Nasceu em Afonso Claudio no dia 03 de ju- sua mãe, ela teve depressão. Zulma já havia deixar claro que não tem apego nenhum. En-
Inglydy Rodrigues
Isabella Mariano lho de 1955, mas só fora registrada no cartório perdido todos os três irmãos e o pai. “Mas a che a boca para dizer que tem saúde, “não está
Isabella Zonta oito anos depois, acontecimento comum para a relação com a mãe é diferente. É algo forte 100%, mas está funcionando ainda”. E afirma
Izabelly Possatto época. Nessa confusão toda, o cartório lhe dei- demais”. Sentiu-se como se não tivesse mais isso sem saber que o significado do seu nome
Jessica Romanha xou com um ano a menos de vida. Brincalho- nada na vida, sem identidade, sem história. é justamente esse: “Aquela que tem saúde”.
Karolina Lopes Não se alimentava direito. E como reflexo de Adora uma cerveja. “Tem uma tal de bol-
na, prefere acreditar nessa data e achar que tem
Kauê Scarim
Leonardo Ribeiro mais tempo para viver. todos os problemas interiores, o seu cabelo sa família. Eu quero é uma bolsa Skol”, brin-
Leone Oliveira Em Afonso Claudio ela tinha uma vida mui- começou a cair. Zulma preferiu sofrer de uma ca. E vai além, diz que quer um freezer bem
Maíra Mendonça to boa. Morava numa fazenda onde pescava, fa- vez, passou máquina zero. grande, toda semana abastecido. “O povo fala
Michelle Terra zia gaiolas e arapucas. Adorava brincar em baixo As pessoas pensavam que ela tinha raspado para eu parar de beber. Dizem que vou mor-
Milena Mendonça
de árvores. Lembra-se, com muita nostalgia, a cabeça porque quis. Pensavam também que rer. Mas se eu já vou morrer de alguma coisa
Rhayan Lemes
Thaiana Gomes dos tempos em que se divertia em meio à natu- ela andava de boné porque queria. E eu era mesmo, que seja de algo que eu gosto, pelo
Viviane Machado reza. Mas um acontecimento a traria a Vitória. uma dessas pessoas. Zulma achava que o seu menos”.
Seu pai, que gostava de jogar, apostou a fazenda cabelo nunca mais voltaria a crescer. Passou Ainda falando de saúde, ela conta que fez
Professora orientadora: que a família morava e perdeu. Assim, Zulma,
seus três irmãos, sete irmãs, seu pai e sua mãe se
dois anos escondendo com bonés aquilo de
que tinha vergonha.
questão de voltar na médica que disse que o
seu cabelo havia caído por causa dos brincos
Ruth Reis mudaram para Vitória, e foram morar de favor Mas superou. Reverteu a situação e decidiu para lhe mostrar que estava errada. E ao ser
na casa de amigos. voltar a viver bem e tentar ser feliz. Na mesma indagada sobre o que tomou para melhorar,
Quando Zulma completou oito anos, sua época, seu cabelo voltou a crescer. E o engraça- Zulma sorriu e disse: “Eu tomei muito vinho
Tiragem: mãe lhe ensinou a ler. Depois disso, ela ganhou do é que, ainda careca, ela foi a um médico que e cerveja, doutora”.
1000 exemplares o mundo. Apaixonou-se pela leitura e percebeu culpou seus 13 brincos pela perda do cabelo. Observando a “velhinha”, como ela mes-
que gostava muito de arte. Queria mesmo era Por falar nos brincos, essa é uma boa histó- ma se chama, não pensamos que ela pode
ser artista, trabalhar usando as próprias mãos ria. Se há uma marca visual forte em Zulma, são ser mais do que o cargo que ocupa, do que
Gráfica: para construir objetos, fazer pinturas. Mas nun- os muitos brincos. Deles, pode se tirar inúme- a roupa veste, do que os brincos na orelha.
AINDA NÃO SABEMOS ca teve incentivo para fazer o que gostava. ras conclusões sobre a dona. Eu já havia pensado Mas Zulma é muito mais. As pessoas são mui-
Foi trabalhar no Cine Metrópolis por acaso, muita coisa, só não imaginava o óbvio: rebeldia. to mais. Parafraseando a jornalista e escritora
se é que acasos existem. Antes disso, só havia É tudo rebeldia, transgressão. Eliane Brum, “não existem histórias comuns.
ido ao cinema três vezes. Sendo as três, escon- Sua mãe era evangélica e não permitia que Só olhos domesticados”.
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De consumidores a Espaço na grande


mídia
produtores de informação Na grande mídia, o cada vez mais co-
mum “espaço do leitor” permite ao cida-
dão participar da produção de conteúdo
do veículo. A jornalista Débora Milke, da
Por Luma Poletti
redação do Gazeta Online, destaca que “a
participação do público já fazia parte da
Roberto Maxwell, 35 anos, mora no Japão que antes só desempenhava o papel de recep- e pagar 35 reais pela imagem. A Gazeta tam-
realidade na internet, em blogs ou redes
e, apesar de não ser formado em jornalismo, tor, pudesse produzir informação. A rede conta bém pegou fotos, mas disse que não pagaria”,
sociais. Aos poucos, as redações do mun-
trabalha como produtor para a Rede Globo e também com a possibilidade de conciliar recur- contou a universitária Ísis Dequech, monitora
do inteiro foram abrindo espaço para es-
participa de um site de conteúdo colaborativo sos de áudio, imagem e texto. Soma-se a isto o da ESPOCC.
sas contribuições e o Gazeta Online não
voltado para a cultura, o Overmundo. Roberto avanço das tecnologias: celulares que capturam A questão da remuneração por conteúdo
ficou de fora. Era uma proposta desafiado-
considera muito importante a prática do jor- imagens em boa resolução, equipamentos cada colaborativo é algo que a estudante de Publi-
ra, que aos poucos foi dando certo”.
nalismo cidadão – também conhecido como vez mais portáteis e de fácil acesso. cidade e Propaganda Laíssa Gamaro, 22 anos,
O professor universitário Vitor Cei,
jornalismo colaborativo, participativo, dentre Exemplo de jornalismo colaborativo foi o defende. Ela colaborou com a produção de
27 anos, aponta, porém, um outro inte-
outras denominações. “Mudou minha visão, que aconteceu em 20 de abril, no morro do charges políticas para a coluna Jovem Eleitor
resse nesse novo espaço. “As seções de
minha relação com a notícia, me tornou um Romão, Vitória. Um acidente de carro próxi- do jornal A Gazeta durante o período eleitoral.
‘jornalismo participativo’ tem como ob-
leitor mais criterioso. Quando a gente percebe mo à sede da Escola Popular de Comunicação “Compreendo como condição a priori da prá-
jetivo principal seduzir o público. Elas
que uma notícia tem vários enfoques possíveis, Crítica (ESPOCC) foi registrado pelos jovens tica colaborativa a existência de uma troca efe-
exploram a vaidade e o imaginário das
vai se tornando mais crítico ao conteúdo apre- que participavam do projeto. Mais tarde, eles tiva. O pagamento é um incentivo para que a
pessoas, que se sentem orgulhosas quan-
sentado”, destaca. forneceram material para os veículos de co- pessoa continue se especializando”. Em alguns
do publicam um conteúdo e vêem seus
A internet desempenhou papel fundamen- municação, que só chegaram ao local horas casos, como a seção FotoRepórter do jornal
nomes estampados. As grandes empresas
tal no crescimento do jornalismo cidadão. A depois. “Tínhamos material fotográfico e ima- online Estadão, isso acontece. Se a foto enviada
não têm preocupações cívicas, mas econô-
proliferação de blogs, videoblogs, podcasts, gens em vídeo do acidente. A Tribuna pegou for publicada nos jornais impressos do Grupo
micas. O importante é vender, conquistar
fotoblogs e sites wikis permitiu que o público, algumas fotos, falou que ia escolher a melhor Estado, o autor tem direito a remuneração.
anunciantes e aumentar o faturamento”.
Seja uma jogada de marketing ou sim-
ples intenção de interagir com o público,

Rádios Comunitárias: a a pluralidade de narrativas não deixa de


contribuir na diversidade de enquadra-
mentos de um fato. O jornalismo cidadão,

voz da comunidade?
portanto, é também uma oportunidade de
conhecer ângulos diferentes de uma mes-
ma realidade.

Por Livia Bernabé, Luma Dutra e Rafael Abreu


Além da lentidão das análises dos processos, para que a tra-
Comunicação comunitária é toda forma de comunicação mitação seja agilizada ou mesmo concluída, às vezes é necessá-
produzida e destinada à comunidade. Jornais de bairro, rá- rio conhecer a pessoa certa, ter contatos com políticos influen-
dios, blogs, sites, fanzines. Mas nem todos estes veículos são tes. Favores trocados e concessão cedida, a rádio pode não ser
realmente acessíveis a qualquer comunidade. O caso dos blo- tão comunitária quanto deveria.
gs é relativamente simples, os sites têm o custo do domínio, Apesar das críticas por ter sido o governo que mais interdi-
jornais e fanzines têm o custo da produção e impressão. As tou rádios comunitárias ilegais - cerca de 2000 rádios fechadas
rádios comunitárias, por sua vez, precisam de equipamentos e por ano - em janeiro de 2009 o presidente Lula apresentou um
de uma concessão pública para funcionarem. Mas o caminho projeto de lei que visa a descriminalização das rádios comuni-
para se conseguir essa autorização é longo. tárias. De acordo com o Art. 3º do PL, a lei de 1998 passa a vi-
Criado em 1998 pela Lei 9.612, o Serviço de Radiodifu- gorar com os seguintes acréscimos “Art. 21 – C. A operação de
são Comunitária estabelece que a rádio deve apresentar bai- estação de radiodifusão sem autorização do Poder Concedente
xa potência (25 Watts) em frequência modulada (FM), cubrir constitui infração gravíssima sancionada com a apreensão dos
apenas o raio de 1Km da antena transmissora e o serviço só equipamentos, multa e suspensão do processo de autorização
pode ser explorado por associações comunitárias sem fins lu- de outorga ou impossibilidade de se habilitar em novo certame
crativos. Além disso, não são permitidos vínculos entre os di- até o devido pagamento da referida multa”.
rigentes da rádio e outras associações por ligações familiares, Para Jones Vieira de Morais, presidente da Associação Brasi-
político-partidárias, religiosas, financeiras ou comerciais, evi- leira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), no Espírito Santo,
tando assim a dependência financeira e o comprometimento a burocracia é a principal dificuldade. “Conseguir uma conces-
de sua autonomia. são pode levar, aproximadamente, cinco ou seis anos, tempo
Segundo o site do Ministério das Comunicações, no Espí- suficiente para se desanimar. Hoje um processo completo tem
rito Santo existem 53 rádios comunitárias legalizadas, nove que ter cerca de 600 documentos”. Outro problema apontado
delas localizadas na região da Grande Vitória. por Jones é a falta de fiscalização e a impunidade, elementos
Quando as rádios comunitárias atuam sem a concessão da que, somados à burocracia e à longa espera, contribuem para
Anatel, elas são comumente chamadas de “piratas”. A denomi- que o indivíduo busque um caminho mais simplificado, a clan-
nação tem um caráter pejorativo, o que é a intenção dos de- destinidade. Por isso a Abraço luta para que haja uma redução
tentores de rádios comerciais. A Associação Brasileira de Emis- Rádios piratas? da burocracia, fazendo com que os processos tramitem mais
soras de Rádio e Televisão (ABERT) chega a acusar as rádios Muitas dessas rádios só não funcionam legalmente devido à rapidamente no Ministério. “Hoje nós temos uma média de
clandestinas de interferirem no sinal aéreo do país, podendo burocracia. Ela começa no cadastro da entidade junto ao Minis- 25000 processos no Ministério para rádios comunitárias. Daqui
causar acidentes, o que é um exagero. Mantidas sob um regi- tério das Comunicações, passando pela espera pela publicação do Espírito Santo, nós temos uma média de 550”.
me de clandestinidade, essas rádios correm o risco de serem dos “Avisos de Habilitação” no Diário Oficial da União, até a Nosso Estado, que já ultrapassou a marca de mais de 50%
fechadas, terem seus equipamentos apreendidos e seus comu- apresentação de mais de 20 documentos (em um prazo de 45 dos municípios atendidos por rádios comunitárias, ainda tem
nicadores presos. O crime de radiodifusão comunitária ilegal é dias) para que o Ministério inicie a análise dos processos. No um longo caminho pela frente. Segundo Jones, “a idéia é que
classificado como grave, com pena maior do que a de homicídio Espírito Santo, no ano de 2010, apenas quatro municípios esti- cada município tenha uma rádio comunitária e, havendo a
culposo. veram presentes na lista dos Avisos de Habilitações. possibilidade, mais do que isso”.
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Ser vegetariano em Vitória…

Daniel Vilela, Dinora dos Santos e Flora Viguini

Vamos supor que, num caso de apocalipse


instantâneo, você pudesse, então, ter direito a
do restaurante é “alimentar sem fermentar, atra-
vés da combinação”. Por isso, a rigidez quanto
Até mais e obrigado
um último prato de comida. Apenas um e nada ao cardápio, que segue um modelo formado pela torta de
mais. Bife, feijão, arroz, batata-frita? Pode ser. por 48 conjuntos de refeições, denominados
Mas, segundo o Dr. T. Colin Campbell, que es- de “Oito semanas de amor e cura”. Para Maria banana: Sol da Terra
tudou a relação entre dieta e doenças, os vegeta- Angélica, decoradora, que dedica parte da sua “Queria fazer do meu restaurante, o meu
rianos vivem de 8 a 10 anos mais. Sendo assim, vida pesquisando sobre alimentos e os efeitos consultório”, afirma Marco Ortiz. Uma figura
será que eles teriam mais chances de sobreviver que causam no corpo, a fermentação digestiva de outras galáxias: uma touca de crochê colo-
a essa catástrofe final? Não fazemos idéia. é algo que não é bom. Para ela, há tipos de nu- rida, a barba longa, branquíssima, a roupa de
Separe seus rabanetes e venha conhecê-los. trientes que não combinam. É preciso ter um algodão cru. Tanto acredita que afirma com
equilíbrio dos alimentos consumidos para que o convicção: “Meus filhos nunca precisaram to-
nosso corpo não produza gases e toxinas, atra- mar vacina.”
palhando a absorção de nutrientes no intestino. E nunca comeram carne. Alguns podem
A ambientalista Giovana Aparecida se iden- chamá-lo de irresponsável. Aquele senhor, en-
tifica com o regime de alimentação do restau- tretanto, é médico formado pela Universidade
rante. “Quando dizem que o vegetariano preci- Federal do Espírito Santos, e dirige o restauran-
sa saber se alimentar muito bem, é a mais pura te há 30 anos. Marco considera que o sistema
verdade”, afirma. E o Cio da Terra procura equi- impõe um determinado tipo de alimentação que
Mas, o que é librar a quantidade e qualidade dos alimentos, não tem nada a ver com saúde. E acusa que eles

vegetarianismo? estabelecendo uma ordem rígida dos pratos.


O primeiro é composto pela salada, que pode
fazem parte do mesmo processo das multinacio-
nais dos medicamentos. “Se eles seguissem, no
Pai-dos-burros. Retire da sua estante um
ser couve com gergelim e grão de bico, pois o entanto, aquilo que dizia Hipócrates: Fazei do nismo depois de buscar a Yoga, para poder se
bom dicionário. Observe: vegetariano se origi-
corpo reconhece o alimento cru primeiro. Em alimento o vosso próprio remédio. A gente teria sentir mais leve, além de não precisar se pre-
na do latim vegetus, que significa saudável, vi-
seguida, a sopa, uma canjiquinha, por exemplo. saúde e não precisaria tomar remédio”, conclui. ocupar que animais morram para poder se ali-
goroso, forte. O vegetarianismo é um regime
Depois o prato principal, que consiste em grãos, Para Marco, não basta virar apenas vege- mentar. Ela confessa que no começo foi bem
alimentar segundo o qual nada que implique em
carboidratos e proteínas e, por último, a sobre- tariano. Ser vegetariano é estar despojado dos difícil deixar de comer carne, mas com mui-
sacrifício de vidas animais deva servir para con-
mesa, como uma bela mousse de morango, mas bens e dos sabores. É fazer uma experiência no ta força de vontade e mudança de hábito, foi
sumo humano.
bem natural. Nada é frito. Não usam alho e nem corpo e ver o resultado aparecer. Além de fazer possível se tornar vegetariana. Além disso, só
Neste mesmo dicionário, o verbete vegeta-
cebola, pois entendem que são ótimos quan- bem para a saúde, não comer nenhum produto utiliza açúcar mascavo e faz questão de reciclar
rianismo possivelmente leva a muitos outros.
do combinados com algum tipo de carne. Mas de origem animal é importante pelo fato de não o lixo. “Não basta ser vegetariano, pois existe
Folheie por entre crudívoros, frugívoros, ovo-
numa flora intestinal de um vegetariano, o alho matar um criatura que está no processo evoluti- um processo por trás, uma teia de atitudes sus-
-lacto-vegetarianos. Mas, fique atento quanto
e a cebola podem causar irritações. vo da mesma forma que os seres humanos. Mar- tentáveis. Temos que reciclar o lixo, deixar de
aos veganos. Eles excluem de sua alimentação
Há algumas recomendações quanto ao café- co diz que nasceu sendo induzido a comer lin- consumir alimentos industrializados. Enfim, é
todos os produtos de origem animal. Além de
-da-manhã, como o consumo de uma fruta antes güiça, salsicha e bisteca. Quando não tinha bife uma seqüência de deveres”, explica.
carnes, peixes, aves e laticínios como manteiga,
de uma refeição mais completa. Giovana explica brigava com a mãe. Mas isso foi mudando. Parou Marco Ortiz nos ofereceu uma deliciosa
queijo e iogurte, excluem ovos, mel e gelati-
que no período da manhã o nosso corpo está se primeiro com a carne vermelha, depois com o torta de banana integral, mas com uma condi-
na. Evitam o uso de couro, lã, seda e de outros
desintoxicando e a fruta não exige queima caló- frango e por fim com o peixe. Atualmente não ção: depois de almoçar, precisaríamos esperar
produtos como óleos e secreções presentes em
rica para digestão, por isso é o alimento ideal. bebe leite, não come ovo e nem manteiga. três horas para comê-la. Descemos as escadas,
sabonetes, xampus, cosméticos, detergentes e
Líquido durante a alimentação prejudica a di- Não é só deixar de comer carne, tem todo viramos a esquina. E tiramos uma lição de toda
perfumes.
gestão e a assimilação dos nutrientes pelo nosso um processo de transformação. A estudante Na- essa história... para mudar a postura em relação
corpo. É preferível beber um pouco antes ou tasha Tristão, de 23 anos, conta que virou ve- ao que se come e como se come é preciso ter
um pouco depois da refeição. getariana por uma somatória de fatores. Entre força de vontade e disciplina. A torta se foi em
Segundo a ambientalista, da mesma forma eles, a espiritualidade. Encontrou o vegetaria- três mordidas.
em que buscamos os alimentos integrais, tam-
bém precisamos ser integrais. É necessário sa-
ber de onde vem o alimento, quem preparou.
Isso leva a uma nova forma de consciência com a O Cio da terra existe desde 1992. Lá é O Restaurante Sol da Terra está localiza-
A vida, o universo natureza, com o planeta. “Basta saber se alimen-
tar. Quando você muda a sua alimentação, você
possível comprar o livro “A vida, os seres do na Rua Barão de Monjardim, 171, Centro,
humanos e os alimentos”, de Geraldo Oscar Vitória-ES. Próximo a entrada do Parque da
e tudo mais: as 48 muda tudo na sua vida”, declara. de Paula. Trata-se de uma seleção de artigos Gruta da Onça. Também faz entregas com
O Cio da Terra não se resume, entretanto,
combinações de a um restaurante. É uma cozinha escola, tendo
sobre alimentação, fermentação, além das re-
ceitas dos 48 cardápios utilizados no restau-
pedidos até as 11 horas, pelo telefone 3223-
1205. Às sextas tem happy hour a partir das
pratos no Cio da serviços tanto de padaria quanto de almoço.
Possui também uma cozinha de produção, que
rante. 18h, com caldos, pizzas e serviço à la carte.
Endereço: Rua Maria Eleonora Pereira, Cervejas especiais, vinhos e uma banda com
Terra envolve o preparo de tudo o que é da soja, seja 980, Jardim da Penha, Vitória-ES, próximo música de qualidade. Aos sábados, o restau-
Quem se dispõe a deixar a carne de lado em grão ou texturizada, como leite, requeijão, ao Banestes. Telefone: (27) 3314-1124. A loja rante oferece um curso de culinária natural.
encontra em Jardim da Penha sua primeira al- hambúrguer, almôndega. E granola também, e a padaria funcionam de segunda a sábado
ternativa. O Cio da Terra é um restaurante de sem açúcar. de 09h às 16h. O almoço é de 11h às 14h30. Outras informações através do site
comida vegetariana, orgânica e naturalista. É A cozinha-escola acontece diariamente. Meia-refeição custa R$ 12 e a inteira, R$ 17 http://www.naturalsoldaterra.com.br/
um projeto de Maria Angélica e Geraldo Oscar Qualquer um pode participar. Não cobram, reais.
de Paula. mas exigem que o aluno almoce e pague a sua
A principal característica, e também lema refeição.
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Melissa Setubal frescos e com menor rastro de carbono. Além


disso, mesmo em produção em maior escala, os

coach de saúde produtores certificados têm que garantir o tra-


tamento justo aos seus trabalhadores.
integrativa No âmbito econômico, apesar de normal-
mente mais caros que os convencionais, eles
Melissa recebeu treinamento para ser uma não geram custo posteriores em danos ao meio
Coach de Saúde Integrativa pelo Institute for ambiente, à saúde das pessoas e demais formas
Integrative Nutrition (Instituto para Nutrição de vida, você paga apenas pelos alimentos e pelo
Integrativa), em Nova Iorque – EUA, que é a trabalho das pessoas que os produziram.
única Escola de Nutrição que integra todas as
diferentes teorias na área de Nutrição e Dietas. Primeira Mão: Que tipo de ali-
mentação você sugere para quem deseja
Primeira Mão: O que é um coach se tornar vegetariano?
de saúde integrativa? Melissa: Recomendo para todas as pessoas,
Melissa: Um coach de saúde integrativa é sejam elas onívoras,vegetarianas ou veganas, a
um profissional especializado em apoiar as pes- privilegiarem os alimentos frescos e ou que pas-
soas a conquistarem seus objetivos nas áreas de sem por pouquíssimo processamento. Somente
alimentação, saúde física, emocional e mental, dessa forma conseguimos extrair dos alimentos
e demais aspectos de sua vida. Em sessões in- o que a natureza projetou para nosso organismo.
dividuais, parte de um programa de seis meses Hoje em dia, ser vegetariano não é mais sinô-
de duração, o coach de saúde integrativa ofere- nimo de pessoa saudável, pois há muita ‘junk
ce diversas informações e usa das mais diversas food’ sem um ingrediente de origem animal,
técnicas para que a pessoa possa por si mesma como por exemplo, a batata frita, o hambúrger
trilhar seu caminho na transformação de seus de soja, ou balas e biscoitos.
hábitos, conquistando bem-estar e uma vida Recomendo também que todo mundo seja
saudável. vegano/vegetariano pelo menos uma vez na se-
mana. Essa é uma forma de reduzirmos o im-
Primeira Mão: Quais dicas você pacto ambiental e sobre a crueldade na criação
daria para quem quer seguir uma dieta de animais.
sem sacrifícios? Minhas dicas para os iniciantes são:
Melissa: A primeira coisa é entender que - Fazer uma fase de transição para que o or-
não existe uma dieta que funcione para todo ganismo não se sinta em estado de privação e
mundo, nem dieta que funcione para a pessoa se ‘desespere’, criando os desejos. Você pode
em todos os momentos e estágios da vida dela. ir retirando primeiro as carnes vermelhas e as
A segunda é entender que os alimentos não são processadas. Depois as brancas e peixes. Por
a única forma de nutrição na nossa vida. Temos fim, os laticínios e ovos e mel, se você quiser ser
que considerar que os Alimentos Primários, totalmente vegano.
como os relacionamentos, a espiritualidade, a - Cuidar para ingerir alimentos e/ou suple-
carreira, a atividade física, e outros aspectos da mentos que forneçam Vitamina B12, que são
vida, são tão ou mais impactantes em como nos- mais encontrados nos produtos de origem ani-
so organismo se comporta quanto a comida em mal. Uma opção são os alimentos fermentados,
si. A terceira é entender que ao invés de focar como a pasta de missô e o chucrute com fer-
em tirar alimentos de nossa rotina de alimen- mentação natural, pois contém bactérias bené-
tação, é muito mais produtivo incluir mais dos ficas ao organismo que produzem essa vitamina.
considerados saudáveis, como os diversos vege-
tais. O que essa técnica, conhecida como ‘Cro-
wding Out’, faz com o tempo é reprogramar o
organismo a ‘desejar’ esses alimentos mais sau-
dáveis e ir ‘rejeitando’ os que não são, mas sem
cortes bruscos e sacrifícios.

Primeira Mão: Os produtos or-


gânicos são melhores?
Melissa: Os produtos de produção orgâ-
nica têm vantagens em relação ao de produção
tradicional em diversos aspectos. No aspecto da
saúde do indivíduo, o não uso de adubos quí-
micos, pesticidas, antibióticos e hormônios é
o impacto mais evidente, pois essas substâncias
provocam sérios efeitos no organismo. Outras
questões mais sutis dizem respeito ao sabor,
cor e conteúdo nutricional, que segundo alguns
estudos, dizem que os alimentos orgânicos são
mais ricos. No aspecto ambiental, a questão do
não uso de substâncias químicas são também a
chave para a preservação do ar, solo, água, vida
animal e vegetal. Há o respeito aos ciclos da
natureza, pois a agricultura orgânica respeita o
equilíbrio necessário para um ecossistema sau-
dável, e a biodiversidade, pois promove o culti-
vo de espécies desconsideradas pela monocul-
tura. No aspecto social, a agricultura orgânica
é uma opção para o resgate de pequenos produ-
tores, pois os melhores produtos a serem con-
Interessou? Neste site você encontra informações sobre o programa e
sumidos são os de origem local, portanto mais o valor: http://melissasetubal.com.br/
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A vida de quem trabalha


com a morte
Flora Viguini e Rafael Monteiro

No livro “As Inter- indigentes falecidos porque a morte se apresenta de várias for- CURIOSIDADES
mitências da Morte”, na cidade também mas”.
o escritor José Sara- são enterrados em OS COVEIROS • De acordo com dados da Secretaria
mago conta a história Maruípe. Neste, são Uma mistura de tristeza, solidão e incapaci- de Meio Ambiente de Vitória, no século
XIX foram construídos vários cemité-
de um país em que a realizados cerca de dade de controlar o inevitável, a morte é onde
rios no bairro de Santo Antônio porque
população simples- cinco sepultamentos mora a saudade. Também é, entretanto, a fonte
este era um local mais afastado do cen-
mente não morre por dia e as covas não de renda de muitos coveiros. Invisíveis e esque- tro da cidade e por conta da proibição
mais. Mesmo com são perpétuas. De cidos, eles cuidam dos cemitérios, dos túmulos dos sepultamentos dentro das igrejas.
pessoas em estado acordo com a legis- e zelam pelo descanso de quem já viveu. Em 1º de maio de 1912, todos os cam-
terminal ou vivendo lação municipal, de- Carregar carrinhos com os caixões, cavar pos de sepultamento coletivo do bairro
em condições inex- pois de quatro anos e covas, realizar exumações e construir sepultu- foram unidos em um único complexo
plicáveis, ninguém meio do sepultamen- ras são algumas funções desse profissional. Ele e deram origem ao atual Cemitério de
falece. É preciso pou- to, os corpos devem é pedreiro e mestre de cerimônias ao mesmo Santo Antônio.
co tempo para que o ser exumados (reco- tempo. Durante o cortejo fúnebre, o coveiro
lhimento dos restos desempenha um papel essencial, mas toma cui- • Em 1911, foi inaugurado o serviço de
país afunde no caos
bondes elétricos em Vitória. Eram duas
e a sociedade passe mortais). A família é dado pra não roubar a cena, pois cabe ao faleci-
linhas: uma unia a Cidade Alta à Cidade
a enxergar a morte convocada por meio do ser o protagonista. Baixa, a outra levava de Santo Antônio
de outra forma. Fora de edital e deve de- Há uma regra de etiqueta importante: tem ao Suá. No ano seguinte, com a abertu-
da fantasia literária, cidir se a ossada será que controlar o sentimento durante o funeral. ra do Cemitério de Santo Antônio, foi
entretanto, a vida de levada para outro ce- Por mais triste que a cena seja, alguém tem instituído o serviço de bondes fúne-
todos os seres um dia terá fim. Os homens, ao mitério com sepulturas perpétuas ou se será que realizar o trabalho difícil. “Tem vezes que bres. Um carregava o caixão, o outro
longo de sua existência, criaram diversos rituais colocada nos nichos (espécies de urnas locali- nos emocionamos quando o enterro é de uma carregava os acompanhantes. O bonde
para se despedir dos mortos. Hoje, o ritual mais zadas nas paredes do cemitério). Caso a famí- criança, mas a gente tem que segurar a emoção fúnebre era também conhecido como o
comum é o de sepultamento. lia não compareça, os ossos são armazen’ados e ser neutro”, afirma Hélcio Valadão, coveiro do bonde da morte.
No Brasil, devido ao crescimento populacio- na Ossada Comunitária. cemitério de Santo Antônio há dois anos. Per-
nal e a proibição de se realizar enterros dentro Se engana, porém, quem acredita que este guntado se gosta da profissão, Hélcio acenou
das igrejas, foram construídos cemitérios. As- ambiente é sempre carregado de tristeza. Vi- que sim com a cabeça e disse que não preten-
sim, dois problemas eram resolvidos: o primei- sitamos em várias ocasiões o Cemitério de de mudar de emprego tão cedo, só se o salário
ro é que as igrejas não comportavam mais tantos Santo Antônio para saber como funciona. Lá fosse maior. Ele trabalhava como fotógrafo, mas
mortos; o segundo, não menos determinante, é trabalham vigilantes, funcionários de limpe- quando se viu desempregado agarrou a primei-
que os sepultamentos dentro dos templos gera- za, administradores do cemitério e coveiros. ra oportunidade que apareceu e foi trabalhar no
vam problemas de saúde pública. Os funcionários com quem conversamos se cemitério. “Acostumei a lidar com a morte. Tem
Hoje, a Prefeitura de Vitória administra mostraram tranquilos e bem dispostos a reali- gente que não gosta, mas para os coveiros isso já
dois cemitérios na cidade: o de Santo Antô- zar suas funções, apesar de alguns admitirem é rotina”, conclui.
nio, no bairro de mesmo nome, e o Boa Vis- que sentiram um certo receio quando come- Já para o coveiro Joelson Matias, a vontade
ta, em Maruípe. Mas há diferenças entre os çaram a atuar em cemitério. de mudar de profissão já lhe ocorreu algumas
• Segundo relata Vitalino Damiani, um
dois. No caso do primeiro, as sepulturas são Maria de Lourdes da Penha, mais conheci- vezes. “Eu gosto do trabalho, mas sinto que
simpático barbeiro de Santo Antônio e
perpétuas. Ou seja, as famílias compram os da como Lurdinha, que trabalha no setor ad- muitas pessoas me tratam diferente quando des- pesquisador da História do bairro, em
jazigos e ficam com a posse permanente. Se- ministrativo do Cemitério de Santo Antônio cobrem que sou coveiro. Algumas até evitam 1918 o cemitério passou por uma crise.
gundo a administração do Cemitério de San- há mais de 20 anos, diz que adora o que faz. apertar a mão”, diz. Ele afirma que no come- Por conta da gripe espanhola, muitas
to Antônio, são realizados, em média, quatro Se sente medo de assombrações? “Eu acredito ço era difícil, pois sentia nojo da comida e não pessoas morreram em Vitória. Algumas
enterros por semana e não há mais túmulos que isso não existe”. Para ela, o sobrenatural conseguia dormir à noite. Depois de dois anos e vezes chegavam carroças carregan-
a venda lá. Já o Cemitério Boa Vista, que é não assusta, mas confessa que se emociona dez meses atuando na profissão, Joelson já está do famílias inteiras vítimas da doença.
público, realiza sepultamentos de quaisquer junto com as famílias: “O que mexe com a acostumado a lidar com a morte. Ele acha que Muitos foram enterrados sem sequer
pessoas, desde que seus parentes comprovem gente é o sentimento que as famílias trazem. o trabalho vai além da dor e do sofrimento e, se um caixão.
que são moradores de Vitória. Além disso, os Cada uma chega com uma situação diferente tivesse que enterrar algum ente querido, cum-
priria a sua tarefa, mas com muita tristeza.
“Alguém precisa fazer esse serviço” é o que
TAMBÉM TEM RISADA NO CEMITÉRIO eles costumam dizer. E esse trabalho não é para
qualquer um. Além de estabilidade emocional, o
Viúva queria ir com o marido coveiro precisa de força física. Trabalham com pá,
Em um dia de chuva no Cemitério Boa Vista, uma senhora chorava à beira enxada, chibanca (espécie de picareta), colher de
do caixão de seu marido, na hora de seu sepultamento. Desesperada, en- pedreiro e cordas. Mesmo sendo um trabalho tão
quanto a urna era levada à cova, ela gritava: “Eu quero ir com ele, eu quero duro, eles pouco reclamam. Romar Ribeiro, su-
ir com ele!”. Por conta da chuva, a terra estava escorregadia. Não deu ou- pervisor dos coveiros do Cemitério de Santo
tra, a viúva caiu dentro da sepultura, sobre o caixão do marido. Novamente Antônio, garante que dificilmente tem proble-
desesperada, ela gritava: “Me tira daqui, me tira daqui!” mas. “Eles gostam do que fazem. Alguns até vêm
para cá na folga”.
Alma penada quer saber que horas são Como as pessoas não têm hora para morrer,
Antigamente, em Santo Antônio, o padeiro passava de casa em casa ofere- os coveiros precisam se revezar em plantões de
cendo seu pão em uma cesta de palha. Nessa época, o muro do cemitério 12 horas alternados com períodos de descanso
do bairro era baixo o suficiente para se enxergar o que havia do outro lado. de 36 horas. Em Vitória, os coveiros recebem
Pois uma vez, com sua cesta cheia, o padeiro caminhava pelas calçadas do um salário de R$ 580 e um adicional de 20%
cemitério, quando de trás do muro veio uma voz: “Padeiro, que horas tem por insalubridade. Todos possuem carteira assi-
aí?” Era o vigia do cemitério. O padeiro achou que era uma assombração, nada e são orientados a utilizar máscaras e luvas.
jogou sua cesta para o alto e saiu correndo sem olhar para trás.
Hélcio Valadão, coveiro do cemitério de Santo Antônio.
PRIMEIRA
mão
7

Quando a intenção não é


apenas o que vale
por Djamile Carreiro

“ Dê a preferência para as pessoas da melhor ida-


de” – recomendam as placas das sete Academias
Populares para Pessoa Idosa, instaladas pela Se-
cretaria Municipal de Saúde de Vitória, em distintos
pontos do município. Equipadas, cada uma delas,
va pra lá e pra cá, e o pai, que ouviu todo o desabafo,
o retira e segue com ele em direção ao parquinho.
Fernando Bispo da Paz, 88, vítima de um recente in-
farto, também se manifesta: “Tá errado, mas a gente
não pode falar se não chamam a gente de ignorante”.
domina aparentemente melhor alguns aparelhos,
conta que aprendeu a usá-los porque observou ou-
tras pessoas se exercitando, já que a professora, cujo
nome não deu tempo de memorizar, “vem só de vez
em quando”.
como se alongar e a importância de se consultar o
médico com antecedência. “Muitas vezes a gente faz
o exercício da maneira errada porque não tem nin-
guém pra ensinar. Eu acho que os órgãos competen-
tes deveriam manter um profissional aqui”, reclama,
com dez aparelhos que simulam atividades como Por último, e como forma de tentar sanar o proble- O secretário municipal de Saúde, Luiz Car- insatisfeito, Antônio Espírito Santo, 60.
caminhada, cavalgada e esqui, as academias foram ma que aflige a todos, seu Job Mendes de Souza, 74, los Reblin, alega que os aparelhos não requerem Mas não são apenas instruções de como e
criadas especialmente para receber aqueles que têm sugere uma saída: “Já que isto aqui existe, deveria ser uma orientação especial porque são funcionais, ou por quanto tempo se exercitar. Dona Flausira, por
mais de 60 anos. cercado por uma tela, trancado à chave, com horário seja, imitam os movimentos que o corpo normal- exemplo, preocupa-se muito com a possibilidade
Mas parece que o termo “melhor idade” tem e tudo. Porque, pra ter controle, precisa ser assim, e mente realiza. “Ainda assim, estamos colocando à de uma queda brusca de pressão: “Eu sou diabética,
sido mal compreendido pela população, que vem regras devem ser cumpridas”. disposição da população um professor ou técnico es- tomo treze comprimidos por dia”. O professor dou-
utilizando esse tipo de espaço de maneira inadequa- portivo, que esteja próximo às unidades de saúde e tor Fabian Tadeu do Amaral, do Centro de Educação
da: transformaram-no em mais uma opção para a re- A necessidade de um instrutor academias”, afirma ele, acrescentando que esses pro- Física e Desportos da Universidade Federal do Es-
creação das crianças. Além disso, os idosos também É uníssono. Todos os usuários entrevistados fissionais deverão fazer apenas as primeiras orienta- pírito Santo, reitera a importância do acompanha-
vêm sentindo falta de um profissional que os ajude a sentem a falta de um profissional que lhes instruam ções – um período que dura de um a dois meses. mento adequado. “Mesmo sendo educador físico,
utilizar os equipamentos e os acompanhe durante a durante as atividades físicas. “Toda academia tem que Tempo insuficiente para aqueles que já frequentam nem todos têm competência para lidar com essa fai-
atividade física. ter um instrutor, e eu acho que aqui também tem as academias e certamente alheio aos que ainda vão xa etária. O profissional deve ter especialização no
que ter, pra pessoa fazer o exercício certo, no tempo começar a utilizar o serviço, pois nenhum dos equi- tratamento com o idoso”.
Coloridos, sim. Brinquedos, não certo. Aquele ali, por exemplo, eu não estou saben- pamentos possui instrução de uso. Os idosos chegam
“Meu querido, aqui não é pra você. O seu do usar direito”, diz dona Flausira. Já seu César, que e o que encontram na placa principal são dicas de As fases de um projeto:
brinquedo é mais pra lá. Aqui é do vovô e da vovó”. planejar, efetuar (e avaliar?)
Flausira instrui uma menina de aproximadamente 7 Até o final do ano, a prefeitura pretende
anos. Enquanto isso, um menininho puxava diver- inaugurar mais 13 academias como essas, que vão
sas vezes para o lado a haste de um outro aparelho, contemplar diferentes bairros, muitos deles caren-
quando, na verdade, deveria levantá-la e abaixá-la. tes, e potencializar a interação social entre os idosos.
Flausira, então, pede que ele suspenda o braço. Ino- Mas aqueles para os quais tudo isso foi pensado estão
centemente ele responde que não alcançava. “É por- tentando dizer algo. Eles esperam que o serviço, cujo
que a máquina não é pra você, meu docinho. Por isso objetivo é aumentar a qualidade de sua saúde, pro-
você não está alcançando”. mova apenas tranquilidade, bem-estar e que comple-
Nem avó acompanhando netos no parque te o sentimento de satisfação que já vêm sentindo.
nem instrutora física. Flausira Corrêa do Nascimen- “Melhorou tudo: as pernas, os músculos ficam mais
to, 66, é usuária da Academia Popular para Pessoa fortes. E, quando eu falho um dia ou dois, sinto a
Idosa da região do Parque Moscoso, no Centro de diferença”, comemora seu Fernando Bispo, pouco
Vitória. Ela frequenta o lugar no mínimo três vezes tempo depois do infarto. “Tá servindo muito bem.
por semana e, desde que a academia inaugurou, é a Isso aqui quebra um galho e tanto”, acrescenta seu
mesma história. “Quando tem uma criança eu não Antônio, elogiando o fato de poder estar usando a
falo nada, mas chego perto e fico esperando até a academia sem pagar nada.
mãe desconfiar que o direito é meu”. Outro frequen- Ocupar a posição de velhinhos ranzinzas, insensíveis
te usuário da mesma academia é o senhor César Ro- ao sorriso de uma criança frente a um “brinquedo
drigues Silva, 70, que também já teve que vestir a novo”, ou ter de reivindicar um cuidado profissio-
camisa de instrutor em situações parecidas. “A gente nal adequado são situações pelas quais, a esta altura
ama as crianças, mas elas ainda não entendem, e, se da vida, ninguém precisa passar. Que se dê, então,
a gente diz alguma coisa, às vezes entristece os pais”. a preferência aos verdadeiros donos das Academias
No mesmo aparelho, um menino se balança- Populares para Pessoa Idosa.

De braços, portas e corações abertos


Crianças em situação de risco recebem carinho e um lar temporário através do programa Família Acolhedora

Por Eduardo Fernandes

U ma mãe com uma criança no colo bate a por-


ta. A dona da casa abre e vê um neném todo
molhado e malcheiroso. Pequenino, bem magrelo,
O Família Acolhedora, possível graças a vá-
rias Cicis, é conduzido pela Secretaria Municipal de
Assistência Social de Vitória, desde 2006. As crianças
crianças fiquem nessas casas acolhedoras pra sem-
pre, mas sim que elas voltem ao convívio de suas
famílias originais com as condições necessárias para
toda boba ao falar da filha, ou melhor, da neta que
foi acolhida em sua casa. “Ela foi embora, mas eu
sempre a visito. E ela vem pra cá, nos finais de se-
com olhos quase fechados, enrolado numa manta atendidas pelo programa são levadas a casas de aco- o seu bom desenvolvimento”, afirma Nayra Lima, mana, feriados... Passa até férias comigo. Meu diá-
que, de tão suja, mais parece um pano de chão. lhedores após serem retiradas do convívio de suas fa- psicóloga do programa. Durante o afastamento, os logo com os pais dela é ótimo”, afirma, orgulhosa.
Nem chora. De repente, o pedido: “cuida dele mílias biológicas, devido à violência doméstica, abusos pais biológicos podem visitar os filhos em dias pre- Os braços abertos de Cici nem nos deixam
pra mim”. Hesita. A moça insiste e um sonho tido ou situações de negligência. Além de receberem o ca- viamente estipulados. perceber que há dois meses perdeu um filho bio-
há três dias vem à mente da senhora. No sonho, rinho de suas famílias de passagem, elas têm acesso a Por ser um período provisório, é realizado lógico para as drogas. Com o acolhimento de seus
a criança era idêntica à da moça que batia em sua atendimentos psicossociais e a escolas do município. um trabalho psicossocial, tanto com as crianças, netinhos, ela transformou lágrimas em alegria con-
porta. Um filho entrava na vida de Cici. Para oferecer às crianças todo o suporte necessário, as quanto com os pais biológicos e os acolhedores, tagiante. “Eu não estou só ajudando as crianças. Es-
Dona Maria Auxiliadora, a Cici, mãe de famílias acolhedoras ganham um auxílio financeiro de para que todos tenham em mente o intuito do pro- tou sendo ajudada. Não tem como ver um sorriso
Uéverton, Elaine, Wellington, Wescley, Michael, a 60% do salário mínino por mês, por acolhido. grama: dar condições dignas às crianças e reinseri- daqueles e não sorrir também. Se pudesse resumir
criança do sonho, e de tantos outros, abriu os por- Os pais que perdem a guarda dos filhos -las no convívio familiar. Mas, na hora da despedi- numa palavra o que é cuidar dessas crianças, eu di-
tões de sua casa para o programa Família Acolhe- temporariamente passam por uma avaliação para da, uma dor bate no coração de quem acolhe. “Ah, ria Felicidade”.
dora. A senhora de sorriso fácil e apaixonada por identificar o que ocasionou a situação de risco. Eles quando está chegando o dia de eles irem embora, O programa Família Acolhedora ainda é
crianças, desde jovem criou filhos de vizinhos, da também recebem apoio, como a inclusão na rede eu já fico triste. Mas eu sei que muitas outras crian- acanhado. Hoje, apenas dez menores em Vitória
irmã e, até mesmo, filhos da rua. Com o surgimen- municipal de serviços, se forem desempregados, e ças precisam de mim, e logo fico feliz e me dispo- estão sendo atendidos. Mas, com a boa vontade
to do programa, em 2006, viu mais uma oportuni- atendimentos psicossociais. nho a acolher outra”, diz Dona Maria, a Cici. de senhoras como a Cici e o empenho dos órgãos
dade de aumentar o seu recanto de vidas. Há dois A estadia nas casas acolhedoras é temporá- Apesar de não continuarem com as famí- competentes, outras crianças poderão redescobrir,
anos, acolheu a primeira criança. E se apaixonou ao ria. Dura, no máximo, dois anos, o período para lias acolhedoras, as crianças, muitas vezes, mantêm no aconchego das famílias acolhedoras, o amor e a
ver o sorriso da menininha. Não parou mais. Hoje que as famílias se reestruturem e possam receber as contato com quem se dispôs a doar parte de sua alegria, para enfim distribuí-los no dia do retorno
cuida de outra menina e um menino. crianças de volta. “A ideia do programa não é que as vida e todo o seu lar para cuidar delas. Cici fica às suas casas.
8 PRIMEIRA
mão

Universitários Histórias de

de
estudantes
que vendem
prazer

aluguel
Por Eduardo Fernandes (colaboração de Ana Araújo)

Músculos fortes, seios fartos. Traços abundan- comigo, eu sairia com você”. Quanto vale o corpo?
tes. Corpos e rostos bonitos. Ou não. Um pouco Em 2008, começou a faculdade e também a
gordo. Bem magro. Desajeitado. A aparência nem sair por dinheiro. De início, foi por necessidade. Segundo a antropóloga Ana Paula da Silva, pós-
sempre é o que mais importa. A prostituição seduz Era uma forma de pagar o apartamento, onde -doutoranda em Antropologia na Universidade de
universitários e universitárias de diferentes idades, mora sozinho, e os estudos. Mas, depois, foi o gos- São Paulo (USP), “a prostituição é, muitas vezes,
cores, caras e classes, que encontram nela uma to pelos programas que o manteve no sexo pago. a maneira que encontram para pagarem as men-
oportunidade de conseguir dinheiro, um trabalho “Gosto do sexo, gosto do carinho”, afirma Gury, salidades e matrículas, e é frequentemente citada
igual a qualquer outro. exclusivo para homens. Ele se vangloria por, se- como um investimento no futuro – um futuro sem
“Muitos dizem não gostar da prostituição, não gundo ele, ter feito programa com um apresen- trabalho sexual”.
por causa dela em si, mas porque é um trabalho, tador de TV. “Foi tudo maravilhoso. Meu melhor De acordo com Ana Paula e com Thaddeus
e os trabalhos tendem a ser chatos”. É o que afir- programa”. Blanchette, professor do Departamento de Antro-
mam os antropólogos Ana Paula da Silva e Thad- Com poucas experiências traumáticas, o rapaz pologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
deus Blanchette. diz ter sido surpreendido negativamente apenas (UFRJ), não são tantos os profissionais do sexo
Nem sempre a prostituição exige grandes sa- uma vez. E foi um grande susto. Um dos seus ami- que fazem programa pelo prazer. “Muitos dizem
crifícios ou é encarada como uma obrigação. Os gos, estudante da Univix e garoto de programa, que estão na atividade porque gostam de conhecer
Dimatteo, Gury, Manu e Vítor, todos universitá- pediu que ele atendesse a um cliente dele. Gury pessoas. E, é claro, a prostituição é um trabalho
rios, têm, além do estudo, a prostituição em co- estava a fim e decidiu fazer o favor. Quando che- relativamente bem remunerado, e isso sempre
mum. Decidiram encará-la e descobriram na pros- gou ao local e deu de cara com o rapaz, se assus- ajuda. De vez em quando, encontramos alguém
tituição uma atividade atrativa e recompensadora. tou. “Você aqui?”. Era um amigo. Os dois ficaram que diz fazer por gostar do sexo.”
Uma forma diferente de lidar com sexo, força de congelados, olhos fixos, um desespero momentâ- A remuneração baixa de outras profissões é
trabalho e afetividade. neo. Afinal, poucos sabem que o Gury faz progra- apontada pelos antropólogos como o principal
mas e que esse amigo gosta de sair com homens. motivo para que a prostituição torne-se uma ati-
Gury, o conquistador O resultado desse encontro foi um trato. Ambos vidade sedutora, principalmente a quem não tem
garantiram não contar nada sobre nenhum dos qualificação formal para desempenhar uma pro-
26 anos. Ele nem é tão jovem assim para ser dois a ninguém. fissão mais rentável. “A questão pouco discutida é
apelidado de “Gury”, mas gosta do pseudônimo. Hoje, o jovem que adora sexo tem uma lista de uma mulher ter que optar entre ser trabalhadora
Moreno, corpo médio e cabelo curto, o estudante contatos. Quando os homens demoram a ligar, ele sexual ganhando muito bem, ou uma limpadora
de enfermagem da Faculdade Salesiana de Vitória mesmo pega o telefone e pergunta se estão inte- de privada, que recebe um salário mínino e, ainda,
é galanteador. Durante a entrevista, faz questão ressados em uma saída. E geralmente, para sua ale- pode sofrer abusos de toda a sorte, dependendo
de dar cantadas. “Ah, como você é lindo. Se não gria, eles estão. Às vezes nem cobra. Alia o dinhei- de onde trabalhe. Há um enorme moralismo na
estivesse fazendo uma reportagem e quisesse sair ro ao prazer, não necessariamente nessa ordem sociedade”.

Sexo , Prostituição ou Distúrbio?

“O dinheiro é um fator determinante para a diferencia-


ção dos termos”, explica Borloti. Na prostituição, o sexo
é o instrumento para a obtenção do dinheiro e suas
vantagens. Já no sexo ordinário o indivíduo transa com
freqüência moderada e não o faz por dinheiro. O distúr-
bio sexual hiperativo é uma doença. A pessoa não con-
segue controlar seus pensamentos e vontades, e apre-
senta estados de depressão ou descontrole sexual (sexo
compulsivo), o que afeta toda a vida social. A masturba-
ção excessiva, o exibicionismo e até mesmo a prostitui-
ção são algumas das consequências do distúrbio.
PRIMEIRA
mão
9

Manu, a mulher As propostas e cantadas por programas for da minha idade, prefiro não fazer, pois
eram muitas. Até mesmo os clientes da loja posso esbarrar com ele por aí”. Seus anún-
Manu veio do interior para tentar o ves- em que trabalhava galanteavam enquanto as cios já especificam ‘acima de 40’. Mesmo
tibular da Ufes, há três anos. Não foi apro- esposas experimentavam roupas. Demorou com os cuidados, ela já desconfiou que al-
vada, mas, para não perder a viagem e a a aceitar pela primeira vez um dos pedidos, gumas pessoas tenham descoberto, mas, até
chance de mudar de cidade, matriculou-se mas desde então não parou. agora, nada de concreto.
na Univix. Saiu da loja e aumentou o número de Apesar de estar há algum tempo traba-
Pagar os estudos não foi nada fácil. Co- programas. Três horas de trabalho já garan- lhando como prostituta, a moça do interior
meçou trabalhando em lojas para poder ar- tiam a mensalidade. Poucas horas de traba- não perdeu o desejo de ser uma mulher ‘de
car com os custos da faculdade. A ajuda dos lho a mais e no final do mês ainda sobrava família’. Quer trabalhar. Planeja continuar
pais era sofrida, e mal dava para as mensa- dinheiro para supérfluos e mais tempo de com os programas só até se estabelecer na
lidades. Com a situação econômica difícil, dedicação aos estudos. profissão. E reitera: “ainda quero me casar
acabou caindo nas tentações facilitadas pela Manu manteve a prostituição em segre- e ter filhos”.
genética. “Sempre tive corpão”, afirma. do. “Seleciono os clientes. Por exemplo, se

Carência

Vitor, o atleta terá qualidade”. A carência é um grande estopim para os


Também voltou a ser universitário. Des- jovens começarem a se prostituir. “A maioria
A vaidade com o corpo e o exibicionismo sa vez, na Ufes. “Estudei para o vestibular da não se sente valorizada. Muitos não têm cari-
já eram presentes na vida de Vitor, até então Ufes pela oportunidade de estudar de graça”.
nho da própria família”, diz Elizeu Borloti. Os
apenas um atleta. Corpo forte. Alto. Um ho- Ele não revelou o curso, apenas que circula
mem bonito. Estava acostumado a ser objeto pelo Centro de Ciências Jurídicas e Econô- programas tornam-se válvulas de escape para
de desejo, e as propostas de sexo por dinheiro micas, o CCJE. Seus colegas de turma não sa- uma nova vida. Há, em muitos casos, o desejo
eram frequentes. bem dessa segunda profissão. Só quem sabe é de ser escolhido. Alimentam o sonho de en-
Aos 23 anos, somou-se à vaidade a carên- sua namorada, que aceitou. O que não ocor- contrar o homem ou mulher dos sonhos.
cia afetiva. Vitor terminou um relacionamen- reu com as anteriores. Vítor já terminou com
to e não estava bem. Decidiu aceitar um dos algumas por elas terem descoberto sua pro-
assédios à prostituição como válvula de esca- fissão. “A minha atual sabe que não é traição,
pe. Deu certo. E vem dando certo até hoje é trabalho”.
– já tem mais de 30 anos. Apesar de ainda não ter passado por uma
Apesar de ter um emprego fixo na área de situação constrangedora, usa táticas para se Prostituição brasileira no exterior
informática, ele não dispensa a grana extra. proteger. Seu perfil na internet é discreto e
“É difícil deixá-la. Como garoto de programa só encontrado por quem realmente o procu- Assim como Vítor, cerca de 70 mil brasileiros
ganho mais e trabalho menos”, afirma. Cobra ra, “e essa pessoa pode ter mais a esconder do e brasileiras se prostituem fora do país. É o
R$ 200,00 a hora. que eu”.
que aponta o Relatório de Tráfico de Pesso-
Quando começou a se prostituir, o jovem Além do perfil em sites de busca de rela-
tinha bolsa de atleta na Faculdade Estácio de cionamento, ele mantém um site. “O anún- as de 2006, publicado pelo Departamento
Sá, em Vitória. Mas a perdeu e, sem poder cio com o título ‘universitário’ não valoriza de Estado dos Estados Unidos. A incidência
pagar os estudos, deixou a faculdade. Foi tanto. Até porque a maioria é falsa, ninguém maior é de mulheres entre 18 e 21 anos. A
para os Estados Unidos, onde também fez acredita no que lê”. Seu site, em português atuação de cafetões e redes de tráfico de
sexo por dinheiro e virou até amigo de alguns e inglês, visa também os clientes estrangei- seres humanos dificulta o desvencilhamento
clientes. Para ele, os brasileiros acham que ros. Vítor fala inglês fluente, o que abre no-
da profissão.
por estarem pagando podem tratar mal. No vos mercados como acompanhante. “Para o
exterior o tempo de trabalho é valorizado, e estrangeiro não é só sexo, eles querem um
o tratamento dos clientes é melhor. ‘companheiro’ mesmo”. Os programas, nes-
Vitor voltou ao Brasil e viu que a diferen- tes casos, incluem uma boa conversa e infor-
ça não é só de tratamento. Ele sentiu que o mações turísticas, “poucos sabem que Vitória
mercado brasileiro regrediu. “O brasileiro é a segunda cidade mais antiga do Brasil. Essas
tem a ideia do sexo gratuito. Aqui o orgulho é coisas que ninguém aqui quer saber, interes-
do tipo ‘eu adoro, mas não pago’. Bastam cin- sam a eles”. E eles gostam de seus serviços. E
co minutos no bate-papo para conseguir uma como gostam.
transa grátis. Quanda paga, a pessoa acha que

Traição?

Muitos garotos de programa têm parceiras que aceitam sua


condição, como a namorada de Vítor. Segundo Elizeu Borloti,
a mulher sente-se protegida, porque os programas, a princí-
pio, são sexuais, não envolvem afetividade. Ela não aceitaria,
de forma alguma, um envolvimento emocional do seu parceiro
com a cliente. Para o homem, a traição corporal é inconcebível.
Sua parceira não pode ser tocada por outro. Por isso, casos nos
quais homens saibam de namoradas prostitutas e permitem, são
raros.
10 PRIMEIRA
mão

Sexo, apenas

O maior perigo para quem busca se-


guir a prostituição é confundir sexo
com afetividade. O envolvimento é
maléfico para a continuação da ativi-
dade. Existe inclusive a regra do beijo:
nunca se deve beijar. O beijo possui
conotação afetiva, que, para eles, é
totalmente indesejável. O único vínculo
com o cliente deve ser o sexo.

Os Gêmeos Dimatteo pressiona. “Não vai querer, não? Você tem


À margem da sociedade que decidir. Olha aqui, está tocando. Posso
Os irmãos gêmeos mineiros, que pre- escolher outra pessoa”.
ferem ser chamados de Dimatteo, fazem O jovem não esconde, “saio porque
A prostituição, apesar de não regulamen- programas por curtição. Universitários de gosto”. Com 23 anos, de classe média alta,
tada, não é uma atividade ilegal. O antro- uma faculdade privada de Minas Gerais, diz não precisar do dinheiro. Para ele, uma
pólogo Thaddeus Blanchette afirma que, aproveitam uma de suas viagens, dessa vez companhia de boa aparência e sexo valem
por ser tratada como um crime por mui- de cinco dias por Vitória, para conhecer mais do que qualquer quantia. “Aqui em
tos, inclusive pela mídia, os trabalhadores pessoas da região e faturar uma boa grana. Vitória tem muita gente bonita. Quando
Bernardo é flexível: gosta de sair com gosto do cara ou da menina, às vezes, na
são marginalizados e expostos a situações
homens e mulheres. Já o irmão só sai hora, nem cobro.”
de riscos. “A nocividade está na estigmati- com mulheres. Os dois recebem juntos as Na internet, principalmente em salas de
zação da prostituição”. clientes, quase sempre. A procura pelos bate-papo, Bernardo consegue a maioria dos
gêmeos é intensa. Na webcam, Bernardo seus contatos. E não pretende parar. Fazer
faz questão de mostrar os celulares tocan- programas passa longe de ser uma obrigação.
do. Ele atende a dois ao mesmo tempo. E “Eu curto mesmo. Curto de tudo”.

Após venda, necessidade uma série de estímulos. Elizeu constata


que na prostituição o dinheiro atua como
Elizeu Borloti, professor do Departamento um reforçador positivo, que faz com que
de Psicologia da Ufes e especialista no estu- a pessoa repita o comportamento. Ao fa-
do do comportamento humano, afirma que zer sexo e receber o pagamento, além do
“sexo é bom e pode viciar. Quanto mais se entorno de um programa - por vezes o
tem, mais se quer. Dinheiro e sexo juntos glamour, passeios, lugares caros - o indi-
formam uma combinação poderosa”. Se- víduo sente-se recompensado. Apesar de
gundo ele, o caminho para a prostituição possíveis experiências ruins, como agres-
pode não ter volta. sões físicas e psicológicas, nomeados re-
O professor utiliza em seus estudos o forçadores negativos, o dinheiro e seus
behaviorismo, corrente que estuda o benefícios se sobressaem, quase sempre.
comportamento humano moldado por

O efeito da liberalização sexual

A contemporaneidade trouxe consigo o sexo rápido e fácil,


entre todos os gêneros e orientações sexuais. Essa facilida-
de diminui o número de homens e mulheres profissionais do
sexo. Segundo os antropólogos Ana Paula e Thaddeus, “em
1870, se você era mulher ou homossexual e gostava do sexo,
a prostituição era quase uma das únicas maneiras através da
qual você poderia exercer sua preferência. Sabemos que hoje,
por exemplo, a população de prostitutas do Rio de Janeiro é
provavelmente bem menor do que em 1920”.
PRIMEIRA
mão
11

Se a canoa não encalhar, olê, olê, olá


O rio Reis Magos, conhecido pelos moradores mais antigos da região por sua profundidade, está com apenas 60 centímetros.

venda ou troca. “Minha renda é a pescaria. A gos. Entretanto, é preciso a liberação de licenças Está faltando um apoio dos órgãos de pesca. Por-
Por Daniel Vilela e Tiago Moreno gente passa dificuldades, vai levando. Tem mais ambientais para o início das atividades no local, que a única coisa que queremos é apoio, porque os
Já não é preciso utilizar nenhuma das duas de 300 famílias, todas na mesma situação. Cada ainda sem previsão. pescadores não podem pegar esse rio e abrir sozi-
pontes para atravessar o rio que separa o bairro barco sai com quatro marinheiros, que possuem nho, tem que ter um projeto ambiental.”
Nova Almeida, na Serra, do balneário de Praia cada um filhos e esposa para cuidar”, alerta An- Apoio político Enquanto isso, achar um barco que saia e en-
Grande, em Fundão. Segundo Sara Maria Oli- tônio Vieira Lima, 55 anos, que pesca desde os “Esperamos que com essas eleições, o go- tre na barra, sem qualquer problema, só pode
veira, 55 anos, “tem dia que nem bote sai e as nove anos de idade. verno procure ajudar a gente. As necessidades ser uma história de pescador.
pessoas atravessam com a água na canela”. Dona Vindo de uma comunidade em Guarapari, da gente, eles não cumprem. Resolver o proble-
de uma peixaria local, Sara conta que, muitas afirma que a situação se estende a outros rios, ma, não resolvem. Só queremos uma solução”, História de professor
vezes, é preciso encomendar peixes em outros como o de Jacaraípe. Na Serra, a prefeitura re- conta Antônio. “A formação de bancos de areia e conse-
bairros, como Jacaraípe, e no balneário de Santa alizou obras de revitalização apenas em um dos Segundo os habitantes da região, alguns qüentemente a diminuição de lâmina d’água é
Cruz, da cidade vizinha de Aracruz. “E buscando cursos d’água. “Em Jacaraípe fizeram, mas para políticos locais aparecem de tempos em tem- um evento próprio de cursos fluviais, pois há
esse peixe de fora, tenho que repassar para o clien- nós, nada”, desabafa o pescador Francis Chalita, pos com promessas, mas nenhum traz efeti- sazonalidade na vazão líquida do rio. Chove
te todos esses gastos no preço final”, afirma. de 20 anos. vamente os resultados. Para Francis, “eles en- menos, menor vazão. No caso de períodos de
Evandro Bortolloti, morador da Serra há A prefeitura da Serra, por intermédio das rolam a gente, mas não fazem nada aqui para seca, como estamos passando, isto ocorre”, ex-
mais de 40 anos, conta que o peixe está cada vez secretarias de Meio Ambiente e Desenvolvi- Nova Almeida”. plica a professora doutora Jacqueline Albino, do
mais caro e com menor qualidade. “Tem vez que mento Urbano, assegura que existem projetos Antônio também diz que “não existe um órgão Departamento de Oceanografia e Ecologia da
é preciso ir para outra cidade para encontrar um para revitalização e dragagem do rio Reis Ma- que dê uma melhor infra-estrutura para a gente. Ufes.
bom preço. Mas nem sempre compensa”, afir- Para Jacqueline, esse processo natural soma-
ma o aposentado. Na cozinha de seu Evandro, -se a bacia hidrológica de Reis Magos ser alte-
o peixe já deixou de ser o prato principal há al- rada pelo uso e ocupação, como construções
guns anos. ribeirinhas irregulares, tais quais casas, pontes,
ruas mal estruturadas. “Estudos mais detalhados
Maré baixa poderiam analisar a responsabilidade deste fator
Para alcançar uma embarcação que esteja no no sentido de fornecimento maior de detritos,
meio do canal, não é preciso sequer saber nadar. seja sedimentos por escoamentos superficiais de
Para atravessá-lo então, uma simples caminha- regiões com vegetação alterada, seja por detri-
da, sem ao menos molhar o joelho, já basta. Sair tos industriais e urbanos”, pondera.
ou entrar com os barcos só é possível com o au- Além disso, ela comenta que como o pon-
mento do volume d’agua, que acontece apenas to mais crítico ocorre na desembocadura, a di-
quando a maré está cheia. minuição de vazão d’água pode se dar por uma
É possível observar que alguns trabalhado- entrada mais energética das ondas e marés, que
res já pensam em abandonar a atividade. Na bei- rumo ao rio trariam sedimentos costeiros.
ra da canal, alguns barcos ostentam anúncios de

Gigantes de alta tensão dentro de bairros residenciais


Moradores de sete bairros de Vila Velha temem a implantação de rede de alta-tensão e se No dia 30 de julho deste ano, a apo-
manifestam sobre os possíveis riscos da obra sentada Alaíde Rosa da Silva, de 81 anos,
voltava da igreja que freqüenta, quando
estão sendo reestruturadas. Todas serão asfaltadas, Rosângela de Fátima Souza.
Por Amanda Freitas e Keyla Cezini receberão ciclovias e terão as calçadas reformadas tropeçou em um fio de nylon em frente
Segundo a assessoria de comunicação da EDP
Já imaginou sair de casa pela manhã e perceber e padronizadas de acordo com o Projeto Calçada Escelsa, a implantação da rede elétrica atende ao a sua casa. O fio era utilizado na obra da
que há postes gigantes no meio da sua rua? E, além Cidadã. Por outro lado, muitas das ruas dos bairros que determina a Legislação Brasileira, a Organização Escelsa e não estava sinalizado. O aciden-
disso, notar que sob seus pés não há mais uma calça- residenciais, antes largas e tranquilas, se tornarão Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Brasileira te, que poderia ser considerado simples
da? mais estreitas, de mão única e terão suas calçadas re- de Normas Técnicas (ABNT). Além disso, a obra e corriqueiro, trouxe, porém, graves con-
Foi isso o que aconteceu com alguns moradores duzidas a um metro e meio. foi precedida dos estudos técnicos necessários e foi
de Vila Velha. Dezenas de trabalhadores da emp- Diante da situaç ão, a comunidade, assustada sequências para a cidadã.
aprovada e autorizada pelos diversos órgãos públicos
reiteira Líder ocuparam as ruas de sete bairros do com as obras mal esclarecidas, resolveu se manife- envolvidos, tais como o Instituto Estadual de Meio Alaíde quebrou o braço esquerdo em
município: Novo México, Guaranhuns, Parque das star. Desde julho, os moradores das regiões afetadas Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), a Prefeitura quatro lugares e, devido ao rompimento
Gaivotas, Praia de Itaparica, Coqueiral de Itaparica, se reúnem toda segunda-feira na Associação de Mo- Municipal de Vila Velha e a Agência Nacional de En- de uma artéria e à dificuldade de recupe-
Santa Mônica e Boa Vista. Trata-se da implantação radores do Parque de Gaivotas e até já realizaram ergia Elétrica (Aneel). ração, os médicos tiveram que amputá-
de uma linha de transmissão de energia elétrica de uma audiência pública na Assembléia Legislativa para É importante destacar, porém, que o projeto foi
138 mil volts, realizada pela empresa concessionária discutir o assunto. -lo. Segundo Alaíde, a empreiteira Líder
aprovado em julho de 1999 e as obras só foram ini-
de energia elétrica do Espírito Santo, EDP Escelsa. Eles reivindicam a paralisação das obras e a re- ciadas em 13 de janeiro de 2010. Mais de dez anos se se responsabilizou pelo acidente e arcou
A linha de distribuição possui 4,47km de extensão e estruturação do projeto, de modo que a rede seja passaram, a realidade dos bairros é outra e até mesmo com todos os gastos. “Eles estão me dando
irá fornecer energia elétrica para a futura Subestação subterrânea. Mas esta opção foi descartada pela Es- as normas de transmissão de energia elétrica em áreas os remédios, nos deram a cama, a cadeira
Itapoã, localizada no bairro Boa Vista. celsa devido à dificuldade de isolação e blindagem urbanas sofreram alterações durante este período. de banho e pagam a cuidadora também”,
O objetivo das obras, segundo a empresa, é dos condutores. “O principal risco é a exposição Entramos em contato com esses órgãos para
eliminar sobrecargas no sistema elétrico e aumentar das pessoas aos campos eletromagnéticos”, destaca conta. A empresa também custeou os
confirmar se as obras realmente respeitavam as nor-
o fornecimento de energia para atender aos novos o presidente da associação de moradores de Parque mas. Na Aneel, o atendente informou que a conces- gastos com o hospital e com as cirurgias,
empreendimentos no município. Mas os moradores das Gaivotas, Sandro Franzotti, que acredita que esta sionária de energia de cada região (no caso, a Escel- além de cobrir as consultas com a psicó-
questionam quais malefícios elas podem trazer à exposição pode prejudicar a saúde. Os moradores sa) é a responsável pelas obras e quem as autoriza ou loga e com o fisioterapeuta.
população. O fato de a Escelsa não ter consultado ou também têm outras reclamações. “Entrei em contato não é a prefeitura do município. Além disso, o órgão O acidente aconteceu na rua Dr. Mo-
informado a comunidade sobre o início das obras e com a Aneel para saber se a obra atendia às normas que determina as normas de segurança é a ABNT. Já
não ter realizado um trabalho de divulgação aumen- técnicas e pediram que eu procurasse a prefeitura acir Gonçalves, no bairro Guaranhuns, e
na prefeitura, fomos informadas de que a empreit-
tou as suspeitas de que a instalação elétrica possa ser de Vila Velha. Estive lá, mas não souberam me escla- eira Líder e a Escelsa têm a autorização para reali- só depois do episódio a população tomou
prejudicial. recer er. Como se não bastasse, a intervenção anda zar a implantação da rede elétrica. Apesar disso, os conhecimento do que se tratava a obra e
As ruas que comportarão essa transmissão, além muito devagar, causando transtornos”, conta a mora- moradores permanecem realizando manifestações e da empresa que a estava realizando.
de receberem postes de mais de 20 metros de altura, dora da rua Dr. Moacir Gonçalves, em Guaranhuns, audiências para tentar paralisar as obras.
12 PRIMEIRA
mão

Uma celebração

Izaias Buson
quase tradicional
Isabela Couto e Rafael Abreu

Um pequeno tumulto se forma em no ponto em que a aglomeração já contabi-


uma das extremidades do enorme toldo lizava o nervosismo de 110 noivos, entre
montado na Praça do Papa, pouco antes eles uma noiva que, com a ajuda de uma
das 9 da manhã de domingo do dia 26 de pequena maleta, dava os últimos toques
setembro. Vestidas de lilás, duas damas de nas unhas e na maguiagem. A iniciativa do
honra esperam, sentadas, pela cerimônia Ministério Público, que poupa os casais sele-
que elas mesmas denunciavam. E, mesmo cionados de pagar os R$ 265 de outro modo
que não sejam muitos, os vestidos bran- necessários para realizar o mesmo sonho
cos salpicados pelas moças reunidas em em um cartório da cidade, faz parte do 2º
frente a um palanque não negam: é dia Enco ntro Estadual de Desenvolvimento
de casamento. Aliás, de casamentos. Os Comunitário. O evento tinha uma extensa a algum tempo, eles seriam os primeiros da futuro marido corrige. “Batuqueiro não. Ri-
lugares que, fosse um matrimônio único, programação. Nos 36 estandes distribuídos lista alfabética de casais a subir no palanque, timista.” Edilene de Souza seguiu a tradição à
seriam dignos de uma pequena lista de em um espaço de 4500 metros quadrados, assinar uma certidão de casamento, posar risca. Fazem parte de sua pequena comitiva
convidados, são, na verdade, dos 55 casais realizaram-se atividades como cortes de para uma foto oficial e se dirigir a uma sala as duas damas de honra, usando vestidos lilás
prestes a se oficializar diante do estado. cabelo (SENAC), avaliações nutricionais decorada com um enorme bolo branco e elaborados. “Foi tudo muito corrido. Alugar
Ainda na linha de peculiaridades do (Centro Universitário Vila Velha – UVV) e cadeiras douradas. Erton Ramos e Márcia vestido , preparar a festa, contratar filma-
cenário, quem chega atrasado é o próprio a emissão de carteiras de trabalho (Super- Oliveira, assim como Alexandro e Kelly, já gem” ela comenta, enquanto uma câmera
evento. Foi só às nove e meia (trinta minu- intendência Regional do Trabalho – DRT). namoravam há algum tempo: estão juntos de vídeo profissional a filma. Ficaram regis-
tos depois do horário previsto) que os Alexandro Eliziario e Kelly Inácio cheg- há 21 anos. “Nos conhecemos na escola de trados os momentos em que estava prestes
preâmbulos da união civil começaram, logo aram ao evento por volta das 8 horas. Dali Samba. Ele era batuqueiro.” diz a moça. O a se casar com Leonardo do Nascimento.

Sem a letra “a”


Sobre o livro “O amor desaparecerá. Nem tristeza teremos para nos lamentar”. Assim diz a música de Tom Zé. Mas será que não dá
A- conta a história de um meni- mesmo para se comunicar sem a letra “a”?
no que se torna filósofo e conse-
gue bastante êxito nesse aspecto por Carolina Moreira e Lívia Bernabé
de sua vida. No âmbito familiar,
porém, ele se vê impotente. Con- Já imaginou escrever um texto sem pod- vogal “a” é usada com aproximadamente gentino. Ele escreveu O Jogo da Amarelinha.
segue resolver os problemas dos er usar a vogal “a”? E um livro? Pois bem, o 15% de frequência no nosso vocabulário. Este romance pode ser lido na ordem que
seus clientes, mas não dá conta psicólogo, psicanalista e escritor paulista, Ri- O romance escrito por Ricardo Mar- o leitor quiser, por isso é considerado uma
dos problemas do próprio pri- cardo Mardegan, 34 anos, escreveu um livro degan chama-se A- (lê-se: A negativo). obra aberta. Não tem um roteiro a ser se-
mogênito. Com isso, o persona- de 80 páginas sem a letra A. Fato inédito na O autor começou a escrever a narrativa guido, mas vários. Razão pela qual as perso-
gem principal vai apresentando
língua portuguesa. Com este trabalho, Ri- como diversão. Mas o que era brincadeira nagens e situações se modificam de acordo
pequenos sinais de colapso e
cardo mostra que é possível reinventar a es- tornou-se sério e culminou nesse livro. Ele com as escolhas que nós, leitores, fazemos.
num último e grande surto ele
consegue se libertar de algumas crita e conduzi-la da maneira que quisermos. define a obra como uma superação pessoal A opção de não usar a vogal “a” permitiu
amarras que o impediam de ser A primeira letra em quase todos os al- e profissional, e comenta que ela faz parte a Ricardo Mardegan estabelecer uma nova
integralmente como desejava. fabetos do mundo, a vogal “a”, é também de “um delírio de escritor que quer o dife- relação com a língua portuguesa. Foi ne-
a letra mais usada na língua portuguesa e rente, o novo, o (im)possível como desejo”. cessário buscar novas formas de dizer o que
a terceira na língua inglesa. Segundo os O objetivo da obra é fazer com que o já é dito com o uso de todas as letras. Tende-
estudos de Viktoria Tkotz, que mantém leitor reflita sobre a história e tenha sua mos a considerar natural a forma habitual de
o portal Aldeia Numa Boa, onde discute, curiosidade aguçada em relação à lingua- escrita, como se não houvesse outras manei-
Sobre o autor principalmente, escrita e linguagem, a gem, se interesse por novas possibilidades ras de fazer uso daqueles signos. Sendo assim,
A- é a a 4ª publicação de Ricar- de escrita. Ricardo garante que a é estranho quando algum trabalho propõe
do, que também é autor de Alfa- falta da vogal “a” não interfere na a mudança dessa ordem. O importante
beto, Metade e Diversos e Sorti- compreensão do conteúdo. Bas- disso tudo é entender que língua é escolha.
dos. Ele conta que a ideia da obra ta ler o prólogo (ao lado) para
surgiu a partir da realização de comprovar o que diz o autor.
seu primeiro livro, Alfabeto. A Thalles Zaban, estudante
obra é toda construída a partir
Prólogo
de letras e bacharel em jornal-
de aliterações, nas quais todas ismo, defende que temos que
as palavras de cada capítulo co-
Diz de um filósofo que emerge e
pensar a língua de várias formas. sucumbe em seus conceitos teóri-
meçam pela letra-título: no tex-
“A tradição não pode engessar cos e ressurge como um ícone in-
to da letra A, todas as palavras
a língua em sentenças pré-de- compreendido. Seus conhecimen-
começam com a letra A; no do
B, todas começam com a letra B terminadas, em compreensões tos, ensinos e conteúdos podem
e assim sucessivamente. Marde- rígidas. A língua é múltipla.
muito nos dizer sobre questões do
gam é um autor independente É dinâmica.” Para ele, o teor
existir, sobre o Ser e sobre o uni-
- ele publica, distribui e vende artístico de uma obra não está
por conta própria. Para mais no significado concreto das pala-
verso dos homens. Foi escrito de
informações sobre a obra ou se vras e letras, mas sim na possibi-
modo que um dos signos do nosso
estiver interessado em adquirir lidade dos múltiplos significados uso comum (o A) fosse excluído e
um exemplar, entre em contato que a utilização delas oferece. que, mesmo com esse jeito diferen-
com o autor pelo e-mail psicolo- Nesse sentido, alguns autores te de escrever, houvesse o entendi-
go@ricardomardegam.com.br. já executaram diferentes pro- mento do conteúdo nele exposto.
postas para a língua. Destacamos
Júlio Cortázar, um escritor ar-
PRIMEIRA
mão
13

De bandeiras, cintos e cadeiras

Texto: Carolina Moreira e Rafael Abreu


Fotos: Izaias Buson
-Já começou?
A moça que bebia despreocupada uma Sukita de uva não tinha percebido, mas o
espanhol Miguel Garcia já começara a fazer arte. Fazia quinze minutos que Garcia re-
tirava as cadeiras e mesas previamente dispostas no anfiteatro da Fafi, no centro de Vi-
tória, e as colocava na escada que dava acesso ao prédio da faculdade, mas alguns es-
pectadores pareciam desavisados. Faz sentido: a segunda das três performances da
primeira etapa do TRAMPOLIM_, uma “plataforma de encontro com a arte da perfor-
mance”, era a mais sutil daquela noite. Afinal, a solenidade do hastear de uma bandei-
ra transparente e a estranheza de uma mulher se prendendo com cintos de couro da ca-
beça aos pés, os dois outros acontecimentos da noite, não seriam facilmente ignorados.
TRAMPOLIM_ é um projeto de Marcus Vinícius e Rubiane Maia e tem o objetivo
de apresentar à cidade uma arte que nem sempre é compreendida. “As pessoas geralmen-
te vêem a performance como algo chocante, agressivo. Mas ela tem o papel de refletir
a relação entre vida e arte, realizando um estranhamento necessário para a gente se de-
sacostumar com o que já tem concebido”, diz Rubiane. É desses estranhamentos que a
programação do evento, de outubro de 2010 a março de 2011, se ocupa: durante três
dias de cada mês Vitória recebe oito perfomances realizadas por artistas do mundo inteiro.
“A plataforma promove um encontro dos artistas com a cidade e um en-
contro da cidade com a arte da performance” explica Rubiane. A idéia é que as
mostras mensais funcionem como “disparadores” de reflexões, formando um pú-
blico para a performance na cidade. À medida que o programa avança, mais desa-
fiadoras se mostram as obras, definindo o projeto por um esforço quase did¬ático.
A psicóloga Marina Francisqueto Bernabé, 24 anos, só conhecia esse tipo de arte de
ouvir falar e esteve presente na terceira noite do encontro. “Eu fico tentando entender qual
é o sentido disso. Claramente é uma intervenção para algo, isso eu entendo. Só não sei ainda
para quê”, afirma ao assistir a performance da colombiana Paula Usuga¬ que consistia, a gros-
so modo, na moça se amarrando com diversos cintos até cair no chão por falta de equilíbrio.
A obra da artista está relacionada à violência doméstica e inclui pesquisas que se ramificam
até a violência e o abuso sexual, numa série . “Parece que ela está se machucando. Eu queria
ir lá ajuda-la”. Marina percebeu a intervenção como uma maneira de convidar as pessoas
que vivem a individualidade o tempo todo a pensar no próximo duraante aquele momento.
E é justamente esse caráter de ressignificação das obras que chama a atenção do artista
Miguel Garcia para as performances. Ele baseia seu trabalho nas relações das pessoas com o
cotidiano e as pequenas coisas que acontecem em suas rotinas, afirmando que nesse tipo de
arte se faz necessário estabelecer uma comunicação entre o público e o artista. Não necessa-
riamente, no entanto, o público tem que entender a obra como o criador a concebeu. “A arte
não pode se fechar” declara. O significado das obras é dado a cada apresentação, para cada pes-
soa individualmente. “Eu posso ver uma simples nuvem e você ver um desenho”, exemplifica.
A arte da performance é uma manifestação artística multidiscipli-
nar por natureza que nasceu na segunda metade do século XX. Ela surgiu inse-
rida no movimento das vanguardas européias, então cansadas da arte vigente. O
objetivo, à época, era transcender as pinturas e esculturas, recusando suportes já insti-
tucionalizados pela arte. As obras performáticas articulam diferentes modalidades – mú-
sica, dança, teatro, escultura, literatura, vídeo - e encontram na falta de classificação o
seu lugar. O limite da performance é o limite do próprio corpo, que serve de suporte .
14 PRIMEIRA
mão

Imigrantes desde o início


Daniel Vilela e Dinora dos Santos

Mais um pouco, chegará o Verão. O sol, a são maior de cultura, conhecer outras formas denominada como Quinxassa, para diferen- versam pouco com estranhos, não ligam muito
praia, areia, a ventania incessante. O mar. E de ensino e novas experiências em pesquisa.”, ciar do país vizinho congo Brazzaville é um dos para estrangeiros ou gente de outros estados do
diante dele, toda uma possibilidade, um amon- conta a estudante que cursa Serviço Social na maiores países de África. O estudante de Di- Brasil”.
toado de terra, o continente que chamamos universidade federal do espírito santo. Embo- reito da Ufes, Yannick Kalombo, da República
de África. Sem que pedissem, desembarcaram ra tendo já o irmão em Vitória, que a acolheu, do Congo diz que lá existe um provérbio. “O Sangue Negro: petróleo,
por lá naus, barcos, aviões e contingentes de Suely não deixa de citas algumas das dificulda- chimpanzé, apesar de pertencer a família dos Angola
guerra. “Sozinhos e sem amigos na ponta de um des que o estudante africano passa. mamíferos, colocado no meio dos gorilas, ele Angola, conhecida em outros países pela
continente hostil, eles erigiram seu Estado-for- E não são poucas. A chegada, por vezes so- pode se ou não aceito na comunidade. Mas isso cultura e pela famosa dança “Kuduro”, além
taleza e se retiraram para trás de suas muralhas: zinho, ao novo país. As idas periódicas à Polícia não lhe tiraria o seu jeito de ser”. O estudan- de ter a língua portuguesa como oficial, pos-
ali manteriam a chama da civilização cristã oci- Federal, a procura por apartamento, a grafia e te diz que este provérbio é aplicável para ele, sui também varias línguas nacionais. Uma
dental acesa até o mundo finalmente recuperar entonação completamente diferentes para uma que se sente estrangeiro, mesmo sendo aceito delas é o umbundo, falada por mais de 26%
a razão”, escreve o escritor sul-africano J. M.
Coetzee.
Sobreviveram enquanto houvesse frontei-
ras, enquanto existissem na cabeça das pesso-
as. Hoje já não há mais esses riscos terminais,
como arrisca um sociólogo inglês, o mundo é a
mesma aldeia. Não há mais para onde segregar e
enviar os indesejáveis pela colonização. Ao con-
trário, hoje, chegam pelos aviões, desejados, e
não mais confinados por chicotes sádicos de um
projeto falido. Os novos imigrantes africanos
que entram legalmente no Brasil, segundo a
Polícia Federal, se enquadram em dois grupos.
O primeiro é formado pelos estudantes, bene-
ficiados por um projeto de cooperação entre
países lusófonos. O outro, profissionais qualifi-
cados contratados, em postos de destaque, para
áreas de ponta como a petroquímica.
Cá em Vitória, há um pequeno número de
africanos, cada um com seu jeito de ser e costu-
mes próprios. Vieram de Angola, Cabo Verde,
São Tomé e Príncipe, Moçambique. Quando se mesma língua, as gírias. E a comida. Pelo me- ou não em diversos grupos. Mas lidar com es- da população.
fala, entretanto, em datas comemorativas do nos nesse ponto, os que utilizam o Restaurante trangeiros em seu país nunca foi grande pro- Hoje o Brasil é considerado a segunda
continente africano, todos se juntam e forma Universitário têm alguma vantagem. Segundo blema. “Somos acolhedores, fazemos com que maior colônia angolana fora da África. Isso
uma só cultura, um só povo. É como diz a es- a nutricionista-chefe do RU, Carmem Rosa, o estrangeiro se sinta em casa”, conta. se deve ao número de vagas que o governo
tudante cabo-verdiana Suely Carvalho: “Ka nu há um cuidado muito grande para inserir tem- E como lidar com o português de outro brasileiro disponibiliza nas universidades pú-
skeci di nos raiz el ke nos mai”. peros e pratos africanos no cardápio. “O arroz país? No começo foi difícil, mas conhecer no- blicas e privadas para jovens angolanos rea-
Ora, por vezes, nessa reportagem, será pre- com banana é um deles”, afirma. Mas a ajuda vas culturas e novas experiências o fez superar lizarem seus estudos universitários no país.
ciso apelar para traduções quase-instantâneas. para por aí. Suely reclama da falta de apoio de as dificuldades de um novo lar, o Brasil. “Mas, Segundo a embaixada de Angola no Rio de
A frase dita em crioulo por Suely, em portu- maiores informações pelos departamentos de olha, a recepção dos brasileiros é igual do povo Janeiro, não se sabe com exatidão quantos
guês, significa “Nunca nos esqueçamos da nos- estudantes estrangeiros. africano. É igual na África, em cada estado vivem por aqui, mas as estimativas variam
sa raiz, porque ela é a nossa mãe”. É uma das encontram-se pessoas e culturas diferentes”, de 10 a 15 mil só no estado de São Paulo.
frases que carrega dentro de si para superar os Outras fronteiras do revela Yannick, que considera os cariocas, os E não são apenas estudantes: são, sobretudo,
quatro anos longe da sua família de sua cultura. Império mineiros e os baianos os mais hospitaleiros. “O comerciantes da área têxtil e trabalhadores
“Queria vir para o Brasil para ter uma vi- A República do Congo, que é por vezes capixaba, em geral, é tipo o povo paulista. Con- de petroquímica.

Crônica de uma iniciante


Évelli Falqueto Nesta busca, percebi que as emoções isto não é mais possível. Jamais reviverei mas através deles, disso tudo que guar-

Q uando me propus este desafio podem facilitar muito o exercício da es- o aniversário em que contemplei crian- do silenciosa, construí a minha natureza.
sabia que não seria fácil. Sabia crita. E como me arrependi por não ter ças brincando no parque, em meio à na- Digo, a minha natureza interior. Por isso
que teria um prazo a cumprir, diferente aproveitado os meus momentos de dor tureza exuberante e sob o apaixonante sinto ainda maior meu amor pelo mun-
dos outros que fizera a mim mesma tan- para escrever. Impotência, solidão, inveja sol da primavera. Não haverá outro mo- do, o prazer das descobertas, do “obser-
tas outras vezes. da felicidade alheia, dor da alma... Vontade mento em que me sentirei tão querida var”, me interessa as reações das pessoas,
Então logo coloquei meu cérebro de colocar tudo pra fora. Uma mistura de como naquela festa. Não serei capaz de seus olhares, suas respostas, seus encan-
para trabalhar. E meus olhos se estreita- sentimentos fervilhando dentro do peito, sentir novamente a mesma angústia que a tos. Quero, pois, usar os meus sentidos
ram como em resposta, para mostrar que conversas idealizadas na cabeça, poesias incerteza dos meus sentimentos por ele para absorver o máximo que a vida me
estava alerta a qualquer situação, com- inteiras saltando pela boca... E eu deixei me provocou. proporcionar, até que eu não consiga
portamento ou gesto que merecessem tudo passar. Nenhum registro. Ora, mas todos estes fatos estão en- mais me conter e divida tudo isso com
ser o personagem principal da minha Agora me pego aqui, tentando captu- tranhados em mim. Não em imagens que estiver ao meu redor. Talvez este já
história. rar instantes passados, mas certa de que exatas, já que a memória não permite, tenha sido um começo.
PRIMEIRA
mão
15

A Delicadeza de Nina
Faz pouco tempo que Nina Becker
lançou Azul e Vermelho, seus dois discos
de estréia. Com um ar tranqüilo e sere-
no, a moça esteve em Vitória no dia 13
de novembro para apresentar um show
aconchegante a uma pequena platéia.
Sua voz doce, seu sotaque carioca e seu
jeito um pouco desajeitado conquista-
ram os que lá estiveram.

Essas fotos, em preto e branco, pre-


tendem mostrar um pouco das cores de
Nina.

Texto: Rafael Abreu


Fotos: Izaias Buson
16 PRIMEIRA
mão

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