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Orientador/a: __________________________________
Leitor/a: __________________________________
Agradeço a Deus por ter me concedido esse tempo de estudos. A minha esposa que
tem se dedicado, apoiado e reconhecido meu chamado e ministério, te amo! Aos meus filhos
Giovanna e Arthur, por terem paciência e compreensão quando fui obrigado a trocar muitos
finais de semana com vocês por leituras e trabalhos (agora o papai poderá brincar mais com
Agradeço a minha mãe por ter me dado a vida, por me ensinar importantes valores
que trago até hoje comigo, te amo, tu és a mulher mais forte que conheço, a você dedico
este trabalho. Meu irmão, a quem Deus nos deu a chance de convivermos por mais um tem-
po, Louvado Seja o Teu Nome Pai. Aos sobrinhos e você também Costinha.
Agradeço também a família Arbex, em especial ao Pastor Márcio Arbex pelo, apoio,
ajuda, amizade, companheirismo e colo nos momentos difíceis. A Igreja Metodista no Brás
por me acolher nestes anos em que estive como acadêmico. Ao Ministério Alegria do Noi-
Aos meus sogros Bê e Lúcia, obrigado pela família que tenho. Aos pastores que me acom-
panharam durante a caminhada de fé, em especial ao Pastor Marcos Garcia pelas preciosas
dicas, apoio e força. Aos colegas Eduardo Stambassi, Rogério, Chrystiane, Patyski e Vânia,
por este grupo que se manteve firme por todos esses anos. Aos professores em especial a
você Blanches, pelo carinho, dedicação, amor pelo que faz, não tenho palavras pra agrade-
cer pelos momentos de luz que me ajudaram a iluminar os caminhos desta pesquisa.
E por fim, quero agradecer a TODOS os que estiveram comigo nessa caminhada me
incentivando e ajudando a perseverar. Você está no “TODOS” também, viu, você é especi-
al.
Eu os amo!
SUMÁRIO ______________________________________________________________ 7
Introdução _______________________________________________________________ 9
Capítulo 1 Compreendendo o Transtorno do Pânico, suas causas e desdobramentos. ____ 11
1 O Transtorno do Pânico ________________________________________________ 12
1.1 Etimologia da palavra pânico ________________________________________ 12
1.2 Características do TP _______________________________________________ 13
1.3 Distinguindo o TP de outras categorias de ansiedade ______________________ 14
2 A Síndrome do Pânico _________________________________________________ 16
2.1 Definindo síndrome e transtorno ______________________________________ 16
2.2 Classificação dos sintomas __________________________________________ 16
2.2.1 O TP seguido de Agorafobia _______________________________________ 18
2.3 Procedimento dos pacientes durante um ataque/crise de TP_________________ 18
3 Diagnósticos, Assemelhações e Etiologias _________________________________ 19
3.1 O Diagnóstico ____________________________________________________ 19
3.2 Asma Brônquica __________________________________________________ 20
3.3 Tabagismo _______________________________________________________ 22
3.4 Hipocondria ______________________________________________________ 22
3.5 Hereditariedade e Fisiológico ________________________________________ 23
3.6 Stress ___________________________________________________________ 25
4 Tratamentos _________________________________________________________ 25
4.1 Farmacológicos ___________________________________________________ 26
4.2 Terapias _________________________________________________________ 28
4.3 Exercícios Aeróbicos_______________________________________________ 29
Capítulo 2 O Sofrimento e o Medo como condição humana a partir de uma bisão Bíblica
e Histórica. ______________________________________________________________31
1 O Discurso da Prosperidade Integral ______________________________________ 32
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa apresenta diretrizes para uma ação pastoral frente a realidades de
pessoas acometidas por transtorno do pânico. Nossa intenção é contribuir com informa-
ções para fins de conscientização do pastor e da pastora a respeito do tema, de modo que
a ação pastoral seja comunitária e voltada para o acolhimento, cuidado e encaminhamen-
tos do(a) indivíduo(a) que sofre de transtorno do pânico.
O transtorno do pânico é uma doença que acomete de 2% a 4% da população mun-
dial e 10% dos pacientes diagnosticados em consultórios psiquiátricos. A faixa etária de
pessoas que sofrem com maior frequência desta doença, está entre os 20 aos 40 anos,
também considerada a faixa etária da produtividade. O gênero feminino é mais afetado
em relação aos homens. Infelizmente nem todos tem a clareza de como se dá o processo
do transtorno do pânico, com isso, mitos e verdades se misturam na consciência coletiva
das pessoas. Suas causas mais prováveis estão relacionadas ao stress e disfunção a partir
de outras patologias.
Se fizermos uma pesquisa rápida entre nossos amigos, um número considerável de-
les nos dirá que conhece alguém ou até mesmo alguns deles já passaram por este proble-
ma. A grande questão é que os casos de pessoas acometidas por transtorno de pânico têm
aumentado nos últimos tempos. Esta doença não escolhe onde, quando, como e em quem
se manifestar. Suas crises podem ser devastadoras. Neste sentido, se faz necessário um
cuidado especial da Igreja como acolhedora e promotora da vida, olhar com mais atenção
para estes casos. Nossa pesquisa visa uma ação pastoral de saúde no sentido de auxílio
10
Reconhecemos que são muitos os desafios sobre cuidados pastorais. Para a realização
de um trabalho efetivo frente às diversas demandas, entendemos que a informação e forma-
ção para o pastor e a pastora é imprescindível tanto quanto em qualquer outra profissão. É
com esta intenção que desenvolvemos esta pesquisa no primeiro capítulo. Ela traz esclare-
cimentos sobre o tema do Transtorno do Pânico, que acomete mais de 2% da população
mundial1 e 10% dos pacientes diagnosticados em consultórios psiquiátricos.2
Procuramos, do ponto de vista epistemológico do campo da psiquiatria, responder
perguntas como: O que é o Transtorno do Pânico? Quais os sintomas? Como é a vida de
uma pessoa com Transtorno do Pânico? Como é feito o diagnóstico? Quais as possíveis cau-
sas? Quais os tipos de tratamentos disponíveis?
É esclarecendo perguntas desta natureza que queremos agregar conhecimento aos pas-
tores e pastoras para um desempenho mais coerente e efetivo junto à sociedade e sua mem-
bresia a respeito deste assunto.
1
BERNIK, Vladimir. Transtorno do pânico. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 056, n. 004, p. 209-
216, abril 1999.
2
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK, Márcio Antonini. Exercício aeróbico como tera-
pia de exposição a estímulos interoceptivos no tratamento do transtorno de pânico. Revista Brasileirade Me-
dicina do Esporte, Niterói, v. 13, n. 5,out. 2007. Disponível em http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_
arttext&pid= S1517-86922007000500009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 10 dez. 2009.
12
1 O Transtorno do Pânico
O TP3 (Transtorno do Pânico) é uma síndrome caracterizada pela presença de ata-
ques/crises repentinos e inesperados de intenso medo, desconforto ocasionado por sintomas
somáticos ou cognitivos4. Além disso, Vladimir Bernik salienta que o TP é uma patologia
psiquiátrica, de bases neurofisiopatológicas estabelecidas e delimitadas em neurociência, ou
seja, diferentemente do que muitos podem pensar, o TP é entendido no campo da psiquiatria
como uma doença e classificado em níveis graves, etiologicamente multifacetado5, como
será possível observar mais adiante.
Um ataque/crise do TP pode, em muitos casos, ser uma experiência avassaladora para
o indivíduo, que é tomado por um desesperado ímpeto de fuga ou necessidade de ajuda e
sensações catastróficas denominadas de pânico.6
3
Terminologia que usaremos para nos referir ao Transtorno do Pânico a partir de então.
4
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK Márcio Antonini; 2007. p. 327.
5
BERNIK, Vladimir; 1999. p.210.
6
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto F, Pânico, Fobias e Obsessões: A Experiência do Projeto AMBAN. São
Paulo-SP: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p. 97.
7
NARDI, A. E.; VALENÇA, A. M. Transtorno do Pânico: diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro-RJ: Guana-
bara Koogan, 2005. p. 32.
8
BARLOW, D. H.; CERNY, J. A. Tratamento Psicológico do Pânico. Porto Alegre-RS: Artes Médicas do Sul,
1999. p. 24.
9
COMIN, Odair José. Síndrome do Pânico e Hipnose. Revista Psicologia Brasil, São Paulo, v. 11, n. 07, p.17-
19, julho 2004.
13
1.2 Características do TP
Um ataque/crise de pânico é caracterizado por ocorrer sem prévio aviso ou motivo a-
parente, apresentando grande frequência durante o sono, o que provoca despertamento re-
pentino e seguido de sintomas10, como veremos mais adiante.
O TP é vivido por cerca 2% da população. Ocorre a partir da segunda década de vida,
com maior frequência entre as mulheres. Pacientes de TP sem o devido tratamento podem
desenvolver outras patologias mais sérias, como depressão profunda, o que, em alguns ca-
sos, leva a pessoa ao suicídio.11
Adverte Valentim Gentil, em seu livro Pânico, Fobias e Obsessões, quanto aos peri-
gos a que uma pessoa está exposta durante um ataque/crise de pânico. Ela pode tomar atitu-
des que colocarão em risco a sua saúde, como, por exemplo, ingerir medicamentos sem
prescrição médica, em alguns casos, em doses exageradas, com o intuito de minimizar os
sintomas. Se estiver dirigindo, a pessoa pode parar e descer do carro em local de iminente
perigo. Em casa, pode abandonar afazeres domésticos, esquecendo-se de apagar o fogo, cor-
rendo risco de incêndio, não fechando torneiras etc.12
Tito Paes de Barros Neto salienta que portadores de TP costumam desenvolver ansie-
dade antecipatória quanto a terem outros ataques/crises; neste estágio a pessoa eleva seus
índices de ansiedade e preocupação. Ele descreve alguns pensamentos mais comuns:
10
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 98.
11
BERNIK, Vladimir, 1999. p. 210.
12
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 98.
13
BARROS NETO, Tito Paes de. Sem Medo de ter Medo: um guia prático para ajudar com pânico, fobias, ob-
sessões, compulsões e estresse. São Paulo-SP: Casa do Psicólogo, 2000. p. 41.
14
14
BARROS Neto, Tito Paes de; 2000. p. 13.
15
Ibid., p. 14.
15
A ansiedade é o sintoma psiquiátrico mais conhecido pelo ser humano, diz Bernik. Pa-
ra ele, todos nós já passamos ou passaremos por um ataque/crise agudo de ansiedade que
nos levou ou levará a uma experiência de medo. Cerca de 20% da população experimenta o
sintoma da ansiedade em um nível grave, ou seja, uma em cada cinco pessoas vive essa ex-
periência.16
O Manual de Diagnóstico Diferencial17, do DSM-IV, classifica o TP como um tipo de
Transtorno de Ansiedade18. As patologias classificadas como Transtornos de Ansiedades
são:19
• Transtorno de Ansiedade Generalizada;
• Transtorno de Ansiedade de Separação;
• Transtorno Obsessivo-Compulsivo;
• Transtorno de Estresse Pós-Traumático;
• Transtorno de Estresse Agudo;
• Transtorno de Pânico;
• Transtorno de Pânico com Agorafobia;
• Transtorno da Personalidade Esquiva;
• Transtorno Invasivo do Desenvolvimento;
• Transtorno da Personalidade Esquizoide;
• Transtorno da Personalidade Esquiva;
• Transtorno Dismórfico Corporal ou Transtorno Alimentar (Anorexia);
• Tricotilomania;
• Hipocondria;
• Transtorno Delirante ou Psicótico/Esquizofrenia;
• Transtorno de Ajustamento.
Como pudemos observar neste grupo das ansiedades, o TP é um subtipo de ansiedade,
embora seus ataques/crises sejam apresentados em níveis mais agudos, como veremos a
partir dos sintomas que os constituem.
16
BERNIK, Vladimir; 1999. p. 210.
17
O Manual de Diagnóstico Diferencial – DSM-IV é uma ferramenta de referência resumida com descrição das
patologias e seus sintomas. Este livro ajuda os profissionais da área da saúde a realizarem um diagnóstico co-
erente com a realidade do paciente, imprescindível para uma avaliação clínica.
18
FIRST, M. B.; FRANCES, A.; PINCUS, H. A. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-IV. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2002. p. 179.
19
Ibid., p. 179-190.
16
2 A Síndrome do Pânico
20
Terminologia usada para descrever o que causa determinada infecção, doença ou alteração no organismo,
provém da etiologia, que é a ciência que estuda as causas e origens das doenças ou distúrbios da saúde, po-
dendo ser genética ou adquirida (Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. p. 304).
21
REY, Luís. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1999.
22
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 29.
23
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK, Márcio Antonini;1999. p. 210.
24
A taquicardia é caracterizada pelo aceleramento da frequência cardíaca, que passa dos cem batimentos por
minuto. Cf. MATOS, Charles H. F.; LEITE, Érika M. D. PDAMED – conteúdos em computadores de mão
para área médica. Disponível em: http://www.pdamed.com.br/diciomed/pdamed_0001_da.php# . Acesso em
17
O DSM-IV orienta que o diagnóstico seja feito a partir da síndrome. Para tanto, é ne-
cessário explicitar a característica de cada um dos sintomas apresentados em duas tabelas. A
Tabela 1 é baseada no DSM-IV da Associação Psiquiátrica Americana, que descreve o TP
sem agorafobia e com agorafobia (termo que definiremos a seguir), a partir de ata-
ques/crises recorrentes e inesperados, durante um mês ou mais, seguidos de: preocupação
persistente acerca de ter outros ataques/crises; preocupação acerca das implicações do ata-
que/crise ou suas consequências; e uma alteração comportamental significativa relacionada
aos ataques/crises. A Tabela 2 é apresentada a partir de uma lista de sintomas em sete con-
glomerados elaborada por McGrath & Bowker, publicada em 1987, conforme descrição
abaixo:
1º de março de 2010.
25
A dispneia é uma subjetiva falta de ar, algumas pessoas podem apresentar esforço ao respirar ou respiração
curta. Cf. MATOS, Charles; LEITE, Érika M. D. Acesso em 1º de março de 2010.
26
MCGRATH, G; BOWKER, M. Common Psychiatric Emergencies: Apud. FIRST, M. B.; FRANCES, A.;
PINCUS, H. A. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-IV. Porto Alegre-RS: Artes Médicas Sul, 2002.
p. 189.
18
27
KAPCZINSKI, Flávio; QUEVEDO, João; IZQUIERDO, Iván. Bases biológicas dos transtornos psiquiátricos.
Porto Alegre-RS: Artes Médicas Sul, 2000. p. 134.
28
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 21, 47-49.
29
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 41, 98, 99 e 102.
30
Ibid., p. 41.
31
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 21.
19
3.1 O Diagnóstico
Para Barros Neto, o diagnóstico de TP não é tão simples de ser feito porque, mesmo
preenchendo os requisitos sintomáticos do TP, para confirmá-lo é necessário que outras pa-
tologias sejam descartadas. O diagnóstico precisa ser feito por um médico, de preferência
um psiquiatra. Para os casos cujos exames apresentam normalidade, o autor salienta:
32
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 21 e 22.
20
orgânicos. Para tanto, o Manual orienta que, em primeiro lugar, é importante considerar
sobre o tipo de pânico pelo qual o paciente está acometido, se um pânico proveniente de
fobia, ou seja, marcado por ataques/crises a partir de um fator situacional, ou sem presença
de um fator situacional.
De acordo com o DSM-IV33, para que o diagnóstico diferencial do TP seja concluí-
do, é fundamental descartar possíveis patologias cujos sintomas se assemelhem ao do TP,
como, por exemplo, patologias do campo da medicina geral e cardíaca – hipertireoidismo34,
feocromocitoma35 e o prolapso da válvula mitral36; possíveis ingestões de medicamentos em
grandes doses ou em longos períodos, durante o processo de abstinência, podem levar a um
ataque/crise de pânico, que não necessariamente seja um ataque/crise de TP; ingestão de
cafeína em grandes doses ou de substâncias que contenham cafeína. Mesmo não havendo
motivo aparente, é importante verificar se o ataque/crise ocorreu uma única vez, o que pode
ser entendido como um Transtorno de Ajustamento37.
Observamos acima que um paciente com ataques/crises consecutivos e agudos de
pânico, que não apresenta causa situacional e que não manifesta as patologias mencionadas,
é um potencial portador(a) do TP. A seguir veremos algumas relações entre TP e outras pa-
tologias.
33
KAPCZINSKI, Flávio; QUEVEDO, João; IZQUIERDO, Iván; 2000. p. 104 e 105.
34
Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido
pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma
produção deles nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda
de peso, hiperatividade, exoftalmia. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 10 de abril de 2010.
35
Tumor da medula da suprarrenal, podendo localizar-se também em região para-aórtica, secretando nível exces-
sivo de adrenalina, provocando intensos picos hipertensivos. Eleva a dosagem do ácido vanil mandélico na
urina e das catecolaminas no sangue. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 10 de abril de 2010.
36
Denominação atribuída à posição peculiar de uma das cúspides da válvula mitral, na contração do ventrículo
esquerdo. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 10 de abril de 2010.
37
A característica essencial de um Transtorno de Ajustamento é o desenvolvimento de sintomas emocionais ou
comportamentais significativos em resposta a um ou mais estressores psicossociais identificáveis. Cf. FIRST;
PINCUS, DSM-IV, 2000.
38
Perturbação da respiração que se caracteriza por crises recorrentes de dispneia (dificuldade de respirar), com
"chiado" característico, devido a um estreitamento da luz dos brônquios e bronquíolos. Durante o acesso as-
mático, a mucosa dos brônquios torna-se espessada, produzindo grande quantidade de muco, enquanto os
21
Foram avaliados 107 pacientes da Liga de Asma do Hospital das Clínicas; destes,
19,6% apresentaram transtornos fóbicos-ansiosos; 13,1%, agorafobia sem histórico de TP;
6,5%, TP (destes, 83% apresentavam TP com agorafobia); 5,6% apresentaram fobias especí-
ficas; 4,7%, fobias sociais39.
O estudo mostrou um resultado maior que o esperado, 49,5% dos pacientes apresen-
taram algum tipo de associação com transtornos ansiosos. Assim ele conclui que:
músculos lisos das paredes brônquicas se contraem, diminuindo o calibre dos brônquios, o que dificulta a
passagem do ar, dando origem à "chiadeira". O tratamento visa dilatar os brônquios e proporcionar melhoria
da condição respiratória, além de tranquilizar o paciente, que se torna aflito durante o acesso, com sensação
de morte próxima. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 19 de abril de 2010.
39
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 38.
40
Um ritmo de ventilação pulmonar mais rápido do que é metabolicamente necessário para a troca de gases. Ela
é o resultado do aumento na frequência da respiração, um aumento no volume de ventilação pulmonar ou a
combinação de ambos. Ela causa um excesso na tomada de oxigênio e na expulsão de dióxido de carbono.
Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 19 de abril de 2010.
41
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 38 e 39.
42
Ibidem.
22
3.3 Tabagismo
Rafael Christophe da Rocha Freire et al, em seu artigo “O tabagismo e o transtorno do
pânico: gravidade e comorbidades”, menciona estudos recentes que indicam uma elevada
prevalência de tabagismo em pacientes com transtornos psiquiátricos, entre eles, TP. O TP,
assim como os ataques/crises, está intimamente ligado ao hábito de fumar. Embora sua pes-
quisa, realizada no Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tenha apresentado resultados não muito signi-
ficativos devido às várias limitações que tinha, ele cita uma pesquisa realizada por Michael
J. Zvolensky et al, que estudou o efeito do tabagismo em pacientes com TP. Esta pesquisa
evidenciou maior intensidade dos sintomas de ansiedade, maior ansiedade antecipatória,
maior comprometimento funcional devido ao agravamento dos ataques/crises de pânico e
mais complicações clínicas em pacientes com TP fumantes do que em não fumantes.43
3.4 Hipocondria
As assemelhações não param por ai. No artigo publicado por Albina Rodrigues Torres
e André Luiz Crepaldi, eles consideram comorbidades44 entre hipocondria45 e TP. Segundo
pesquisas, de 50% a 70% dos pacientes com TP apresentam sintomas hipocondríacos, e de
13% a 17% dos hipocondríacos são portadores de TP. Pacientes com TP apresentam preo-
cupações exageradas quanto a sua saúde antes do primeiro ataque/crise de pânico, o que
pode ser considerado um sintoma indicativo inicial da doença. Esta relação está diretamente
ligada aos sintomas cognitivos, conforme já descrevemos, e inicia a partir da preocupação
exacerbada quanto à origem dos sintomas. É comum encontrar pacientes com o seguinte
pensamento: “se me sinto repetidamente tão mal fisicamente a ponto de achar que estou
43
FREIRE, Rafael Christophe da Rocha et al. O tabagismo e o transtorno do pânico: gravidade e comorbida-
des. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul [online]. 2007, v. 29, n. 3 [citado 2009-12-10], p. 281-285 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082007000300007&lng=pt&nrm=iso>.
ISSN 0101-8108.
44
Doenças que se associam a uma doença principal, somando-se em agravamento do quadro. Cf. MATOS; LEI-
TE, Acesso em 20 de abril de 2010.
45
Medo exagerado de doença; preocupação doentia com a saúde. 2 - Síndrome neurótica em que o indivíduo é
acometido de preocupações exageradas, sem razões reais, relativas à sua saúde, no que demonstra uma certa
fragilidade e mecanismo primitivo de defesa do ego. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 20 de abril de 2010.
23
morrendo, deve haver algo de muito grave com meu organismo”46. Os autores afirmam a
partir de suas pesquisas que a alta frequência de sintomas hipocondríacos no TP se deve ao
fato de haver um ponto central, a ansiedade, que desencadeia outros mecanismos: “a) a dis-
torção cognitiva na avaliação da saúde; b) o maior estado de alerta nos próprios processos
fisiológicos; e c) a ativação do sistema nervoso autônomo, cujas manifestações seriam in-
terpretadas pelo paciente como disfuncionais”.47
Embora seja comum pensar que comportamento hipocondríaco surja secundário aos
ataques/crises de pânico, foi possível constatar em pesquisa que cerca de 85% dos pacientes
apresentaram medos e crenças hipocondríacas antes do primeiro ataque/crise de pânico, e do
total de pesquisados 35% dos pacientes de TP apresentaram comorbidades entre hipocon-
dria e TP48.
46
TORRES, Albina Rodrigues; CREPALDI, André Luiz. Sobre o transtorno de pânico e a hipocondria: uma
revisão. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo, v. 24, n. 3, set. 2002. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462002000300009&lng=pt&nrm=iso>. aces-
sos em 10 dez. 2009.
47
Ibidem.
48
Ibidem.
49
BERNIK, Vladimir; abril 1999. p. 210.
50
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 64.
24
51
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 65.
52
Um mensageiro bioquímico e regulador, sintetizado a partir do aminoácido essencial L-Triptofano. Em huma-
nos é geralmente encontrada no sistema nervoso central, no trato gastrointestinal e nas plaquetas sanguíneas.
A serotonina está envolvida em importantes funções fisiológicas, incluindo neurotransmissão, motilidade
gastrointestinal, homeostase e integridade cardiovascular. Múltiplas famílias de receptores (receptores de se-
rotonina) explicam o amplo espectro de ações fisiológicas e distribuição deste mediador bioquímico. Cf.
MATOS; LEITE, Acesso em 26 de abril de 2010.
53
ENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; p. 66.
54
Ativador do metabolismo cerebral. Coadjuvante da terapêutica anticonvulsivante. Indicado para transtornos de
aprendizagem em crianças e retardo mental. Complemento terapêutico em sequelas de acidentes vasculares
cerebrais e de arteriosclerose. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 26 de abril de 2010.
55
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 67.
56
VALENCA, Alexandre M et al. Ataques de pânico provocados pelo dióxido de carbono: estudo clínico-
fenomenológico. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, n. 1, mar. 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000100005&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 10 dez. 2009.
25
3.6 Stress
Jerilyn Ross, uma das principais especialistas de distúrbios de ansiedade dos USA,
aponta em sua obra o fator stress como um possível desencadeador dos ataques/crises de
TP. Para a autora, todos têm certas vulnerabilidades biológicas que podem ser afloradas sob
situações de pressão ou stress. Algumas pessoas, diante dessas circunstâncias, podem reagir
com uma dor de cabeça ou colites57, outras estão biologicamente predispostas a ataques de
pânico. A autora aponta algumas situações desencadeadoras de stress como à necessidade
de adaptações drásticas, a exemplo, mudança de cidade, que se faz necessário readaptar todo
o ciclo social e profissional; perdas como separação de casais, luto, trabalho; exposição a
situações extremas de medo e pânico gerando stress pós-traumático; entre outros.58 Esclare-
ce ainda Gentil sobre este tema em sua obra:
4 Tratamentos
Como vimos até aqui, pessoas que sofrem de TP levam uma vida bem difícil se le-
varmos em conta as gravidades dos ataques/crises, a dificuldade de diagnóstico e a busca de
uma origem concreta para um tratamento coerente, porém é importante salientar que nin-
57
Inflamação aguda ou crônica do cólon. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 02 de novembro de 2010.
58
ROSS, Jerilyn. Vencendo o medo: um livro para pessoas com distúrbios de ansiedade, pânico e fobias; tradu-
ção Pedro Maia Soares. São Paulo-SP:Ágora, 1995. p. 45-47 e 237-239
59
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; São Paulo, 1996. p. 43.
60
BOCCALANDRO, Marina Pereira Rojas. Sob o domínio de Pã(nico): um estudo do transtorno do pânico
através da psicossíntese. São Paulo-SP: Vetor, 2003. p. 55.
26
guém morre de pânico. Para Barros Neto, “pessoas morrem em consequência de acidentes
automobilísticos, atropelamentos, doenças físicas graves, mas não de pânico”. Nesta pers-
pectiva, ele orienta aos pacientes que busquem um acompanhamento com profissional para
que ele indique o melhor tratamento, que pode variar entre medicamentoso e associado com
algum tipo de psicoterapia.61 Entretanto é preciso entender, segundo Gentil, que não se pode
tratar um TP como sendo apenas de causa psicológica. Ele salienta:
4.1 Farmacológicos
Assim como Barros Neto, Gentil afirma que o tratamento farmacológico escolhido pe-
lo psiquiatra deve ser aplicado juntamente com técnicas psicológicas que visem o manejo da
ansiedade antecipatória.63
Barros Neto salienta ainda em seu livro que os medicamentos mais utilizados para o
tratamento do TP são os antidepressivos. Entre eles estão:
• Clomipramina (Anafranil);
• Imipramina (Tofranil);
• Paroxetina (Aropax).
A Paroxetina é um medicamento relativamente recente e possui eficácia significativa
no controle dos ataques/crises de TP. Contrariando um paradigma relativamente comum,
Barros Neto esclarece que os antidepressivos não causam dependência física. Todavia, ao
61
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 22.
62
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 103.
63
Ibid., p. 140.
27
64
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 22-24.
28
4.2 Terapias
Diversas técnicas podem ser aplicadas para o tratamento do TP. Como já vimos, e rei-
teramos, pesquisas mostram que um tratamento medicamentoso associado com tratamentos
terapêuticos diminui o risco de recaídas dos pacientes com o passar do tempo.65 Para Barros
Neto, em alguns casos resta apenas este tratamento, uma vez que os medicamentos não po-
dem ser utilizados. Esses casos são descritos como pacientes que:
Em geral agorafóbicos abandonam o tratamento, por isso é importante que o terapeuta crie
elos de relacionamentos calorosos com o paciente. Exercícios de exposição precisam ser
65
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 24.
66
Ibidem.
29
promovidos para que o paciente aprenda a enfrentar o problema ou possíveis estímulos de-
sencadeantes internos. Salienta ainda mais Roso e Lotufo-Neto:
67
ROSO, Miréia C; LOTUFO-NETO, Francisco. Terapias Psicológicas para os transtornos ansiosos. Pânico,
fobias e obsessões. São Paulo-SP: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p.153, 160, 161.
68
Ibid., p. 162.
30
uma aversão aos exercícios físicos. Ricardo Willian Muotri et al propõe o tratamento de
ataques/crises de pânico a partir de exercícios físicos:
69
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK, Márcio Antonini; 2007. p. 329.
CAPÍTULO 2
HISTÓRICA.
Como vimos no primeiro capítulo, o medo excessivo pode se tornar patológico, embo-
ra não há como precisar uma única causa, mas um conjunto de fatores que desencadeiam os
sintomas. Pudemos também observar os diversos Transtornos Ansiosos e seus sintomas, o
que é muito relevante para que possamos distingui-los em relação ao TP.
Em nossas pesquisas, pudemos perceber que muitos atribuem a patologia a fatores do
cotidiano como o stress, outros, entretanto, dizem que o TP, bem como a depressão, são
doenças da modernidade e até mesmo devido a uma disfunção hormonal. Não é difícil en-
contrarmos em alguns discursos religiosos, àqueles que afirmam que, este tipo de doença
existe no ser humano como um sinal da desobediência, pecado ou até mesmo como uma
ação demoníaca na vida do(a) indivíduo(a). Neste capítulo observaremos esses discursos, o
cerne de sua teologia e suas raízes. Mostraremos o sofrimento e o medo como uma condição
humana e presente na humanidade através dos relatos e em expressões do Antigo e Novo
testamento. Por fim, apresentaremos o discurso do medo como um cuidado durante a pro-
clamação da Palavra e a valorização do anúncio do Cristo que cura, salva e liberta como um
prévio anúncio de diretriz pastoral.
32
70
MARIANO, Ricardo. Neopentecostalismo: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo-SP: Edi-
ções Loyola, 1999. p. 149.
71
Ibid., p. 128.
33
72
MARIANO, Ricardo; 1999. p. 151 a 154.
73
Ibid., p. 155.
74
Ibid., p. 155 e 156.
75
LEPARGNEUR, Hubert. Antopologia do Sofrimento. Aparecida-SP: Editora Santuário, 1985, p. 10.
34
76
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada; tradução Maria Lucia
Machado; tradução de notas Heloísa Jahn. São Paulo-SP: Companhia das Letras, 2009. p. 335
77
Ibid., p. 336.
78
MARIANO, Ricardo; 1999. p. 176, 177.
79
Ibid., p.178.
35
encaminhamento coerente afim de que a enfermidade não ganhe proporções ainda mais ca-
tastróficas para o indivíduo como vimos no primeiro capítulo e como afirma o autor Erhard
S. Gerstenberger e Wolfgang Schrage em sua obra, Por que sofrer? O sofrimento na pers-
pectiva bíblica:
80
GERSTENBERGER, Erhard; SHRAGE, Wolfgang. Por que sofrer?: O sofrimento na perspectiva bíblica.
Traduzido por: Ilson Kayser, Leiden. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2007.p.15.
81
FERNANDO, Ajith. Chamados para a dor e alegria: o valor do sofrimento para a vida cristã; tradução Carlos
Eduardo de Siqueira Lopes. São Paulo-SP: Vida Nova. 2009. p. 20, 21.
36
frimento, o que garante consolo e esperança para vencer as dificuldades da vida, ser cris-
tão(ã) sobretudo, é saber que em Deus há refúgio e auxílio, é ter a certeza de que Deus ca-
minha conosco e que Ele é a fonte de nossa alegria em meio às tribulações.82 Para Fernando,
a vida cristã não é só sofrimento, nem só alegria, mas esses dois sentimentos caminham jun-
tos83. Ele ainda, aborda um aspecto muito interessante da vida que muitos buscam calar,
para ele, antes que o cristão goze da alegria, é necessário passar pelo lamento:
82
FERNANDO, Ajith; 2009. p. 26, 27.
83
Ibid., p. 37.
84
Ibidem.
85
Ibid., p. 38-39.
86
Ibid., p.40.
87
GERSTENBERGER, Erhard; SHRAGE, Wolfgang; 2007. p. 16 e 17.
37
88
GERSTENBERGER, Erhard; SHRAGE, Wolfgang; 2007. p.23-80.
89
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada; tradução Maria Lucia
Machado; tradução de notas Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. pg 23.
38
o sentido de estar intimidado diante de algo mais forte ou superior – é particularmente em-
pregado para descrever o medo entre homens e para com animais. No texto de Dt 1.17 – os
juízes são instruídos a não temerem a face de ninguém durante de um julgamento. Outro
texto que podemos mencionar, é a instrução de Yahweh quanto às ameaças de um falso pro-
feta que anuncia suas próprias palavras, a este, o povo não deve temer, pois o que fala não
procede de Deus. São derivados de gûr os termos, magôr = medo, terror e megôrâ = tam-
bém traduzido por, medo, terror.92
O termo drix; " harad é um termo muito utilizado para traduzir: estremecer, ir de um
lado para outro, ser (estar) agitado, assustado, tremer, ser (estar) temeroso. Seus termos de-
rivados são: hared = temeroso, trêmulo e haradâ = tremor, medo.
90
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo-SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
91
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo-SP: Vida Nova, 1998. p.203.
92
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo-SP: Vida Nova, 1998 p.257.
39
Em sentidos concretos, este verbo descreve tremer como espasmos físicos ou sísmi-
cos, como por exemplo, montes e terras - o tremer do monte Sinai com a presença de Deus
(Ex 19.18).
93
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bíbli-
ca do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
94
Ibid., p. 528 e 529.
95
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998 p.555
40
“Em consonância com este sentido, o típico paralelo para o grau qal
do verbo é bôsh, “estar envergonhado”... A desmoralização que
procede da frustração pode ser expressa por este verbo, conforme se
vê aplicado aos três amigos de Jó depois de desistirem de discutir
com ele (Jó 32.15).”97
Encontramos também a palavra arey" yaré = temer, ter medo, reverenciar, imputar ter-
96
Ibidem.
97
Ibidem.
98
Ibid., p.655
99
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998. p.655
41
100
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bí-
blica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
101
Ibid., p.654 e 655
42
cia diante dos pais em alguns contextos. O seu oposto, ou seja, falta de reverência é
aplicada a palavra asebeia.
Tanto phobos como suas raízes, podem significar alguém ou algo que deve ser temido.
É possível perceber a intenção das escrituras em descrever a questão do medo nos seguintes
contextos:
1. Medo de anjos: como por exemplo, os guardas que vigiavam o túmulo de Jesus, fica-
ram paralisados de temor quando foram surpreendidos pelo anjo que rolara a pedra
do túmulo (Mt 28.4); Zacarias ficou apoderado de temor quando viu o anjo que veio
lhe anunciar de que Deus ouviu sua oração e Isabel ficaria grávida (Lc 1.12); os pas-
tores ficaram tomados de grande temor quando receberam a visita do anjo que lhes
anunciou o nascimento do Cristo (Lc 2.9);
2. Medo das catástrofes do fim: homens que desmaiarão de terror diante das incertezas
do que haverá de vir sobre o mundo (Lc 21.26);
3. O Medo da morte: pavor da morte imputado à humanidade pelo diabo (Hb 2.15);
4. Medo dos Magistrados: O proceder corretamente para que não haja temor dos magis-
trados (Rm 13.3);
5. Medo dos judeus: o povo não falava de Jesus abertamente na festa do tabernáculo
por medo dos judeus (Jo 7.13); os discípulos estavam trancados em casa por conta
do medo dos judeus (Jo 20.19).
6. O medo, também é apresentado no Novo Testamento como seguido de sintomas de
ansiedade através da expressão: “phobos kai tromos” = “medo e tremor” (Mc5.33;
1Co 2.3; 2Co 7.15; Fp 2.12).
Da mesma forma encontramos a palavra deilia = timidez, desânimo. Aparecem ape-
nas 5 vezes em todo NT (Mt 8.26; Mc 4.40; Jo 14.27; 2Tm 1:7; e Ap 21.8). Em es-
pecial no texto de Marcos 4.40, a palavra timidez é traduzida em algumas versões
por medo. ; e deiliao = ter medo, ser desanimado, (Mc 6.19; Jo 14.27).
7. Encontramos o medo como forma de reverência diante de Deus: Como forma de mo-
tivação e conduta de reverência cristã – as Igrejas da Judéia, Galiléia e Samaria que
andavam no temor do Senhor (At 9.31); Pedro ao instruir no bom procedimento
cristão, termina dizendo que o cristão deve honrar a todos, amar os irmãos e temer a
Deus (1Pe 2.17); a recompensa aos profetas, servos, aos pequenos, grande e aos que
temem o nome do Senhor (Ap 11.18); em especial o relato de Jesus que, segundo as
escrituras, devemos temer a Deus que pode destruir tanto o corpo com a alma no in-
43
ferno (Mt 10.28; Lc 12.5); na Epistola aos Hebreus 10.31, encontramos a advertên-
cia para aqueles que porventura podem cair nas mãos de Deus, isto é coisa
horrenda.102
Em contra partida, encontramos exortações para que o povo não tema, em um sentido
de libertação do medo em Jesus Cristo para os casos cotidianos:
“v18. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é
aperfeiçoado no amor.
v 19. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.”104
A convocação para não temer se amplia para diversos contextos, vejamos:
1. Jesus adverte seus discípulos a não ter medo daqueles que matam o corpo (Mt 10.26,
28; Lc 12.4,5);
2. Não ter medo de passar necessidade (Lc 12.32);
3. Não ter medo dos oponentes (Fp 1.28);
4. Não ter medo do sofrimento (1Pe 3.14, Ap 2.10);
5. O medo dos homens é removido pela segurança que temos em Deus (Mt 10.30, 31;
Hb 11.23, 27; 13.6);
6. Jesus Cristo é aquele que livra a humanidade do pavor da morte (Hb 2.15);
7. O Espírito de Deus, é o auxiliador que ajuda o indivíduo a clamar “Aba Pai” (Rm
8.15; Gl 4.6);
102
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen. São Paulo: Vida
Nova, 2000. p.1264-1267.
103
Ibidem.
104
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bí-
blica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
44
105
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen. São Paulo: Vida
Nova, 2000.p.1266.
106
Ibid., p.1284
107
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen. São Paulo: Vida
Nova, 2000.p.1284.
108
Ibidem.
109
Ibidem.
45
A Palavra thaumazo inclui um elemento de terror, grande medo. Esta é uma relação de
admiração diante das obras milagrosas de Jesus. Estes contextos são elementos para utiliza-
ção desta expressão, como exemplo o texto do Evangelho de Mateus quando Jesus volta
para o mar da Galiléia e muitos enfermos, o povo é tomado de grande medo ao verem mu-
dos falarem, aleijados recuperarem a saúde, coxos andando e cegos enxergando (Mt
15.31).110
Como vimos, mesmo na Bíblia, o medo sempre esteve presente na humanidade. Nela
encontramos diversos relatos e significados de temores presentes na humanidade. Percebe-
mos através desta pesquisa o medo em diversos contextos e épocas.
4 A Religião e o Amor
Para que possamos apresentar caminhos para o cuidado pastoral diante do TP, preci-
samos fazer de nossas Igrejas um espaço cujo medo seja combatido e não intensificado.
Paulo Roberto Ramos em seu livro O Deus Im-potente, a partir das contribuições de Andrés
Torres Queiruga, Jürgen Moltmann e Jon Sobrino, procura harmonizar a afirmação do Deus
Todo Poderoso com a realidade do sofrimento e do mal, respeitando sempre os limites e os
contextos humanos. Em sua obra, ele menciona algumas religiões e seus papeis de transfe-
rência de sua identidade para seus fiéis. Entre elas, o autor menciona a religião do medo.
Para ele, certas imagens divinas contribuíram para a criação dessas religiões. Ele afirma:
110
Ibidem.
111
GOMES, Paulo Roberto. O Deus Im-Potente: o sofrimento e o mal em confronto com a cruz. São Paulo-SP:
Edições Loyola. 2007. p. 44 e 45.
112
Ibid., p.44
46
Neste sentido, a imagem de Deus passa a ser vista como a de um deus legislador e se-
vero. Esse deus está presente na consciência do ser humano, impondo suas exigências e o-
brigações que por vezes são duras e difíceis, além de ser castigador ao retirar seus favores
daqueles que não os merecem. O autor acrescenta:
113
Ibid., p.68
114
GOMES, Paulo Roberto; 2007. p.68 e 69
115
Ibid., p.73, 74, 74
47
116
GOMES, Paulo Roberto; 2007. p.77 e 78.
CAPÍTULO 3
Esta canção nos inspira a iniciarmos este capítulo, pois entendemos que a Igreja pre-
cisa conscientizar-se de seu papel diante das realidades de nossa sociedade carente, doente,
fragilizada e aterrorizada que clama, Piedade! Acreditamos que as ações solitárias do pastor
e da pastora, não dão conta das demandas que a sociedade exige. Todavia, é necessária uma
intervenção comunitária na sociedade. Abordaremos neste capítulo apontamentos gerais da
comunidade de fé atuante por meio de pastorais que atuam ligadas a saúde. Diante destes
contextos, queremos apontar diretrizes para uma ação pastoral que poderão ser úteis para
encaminhamentos frente aos casos de TP.
49
b) Psicológica em três aspectos: 1) por não conseguir diagnosticar o que de fato ocorre con-
sigo e diante das crises o(a) portador(a) do TP está muitas vezes emocionalmente abalado;
2) o fato da não aceitação da doença e por conseguinte a relutância em procurar um profis-
sional de saúde psiquiátrica; 3) e o fator stress do dia a dia, trabalho, família, ou perda, que
pôde, em alguns casos, ter desencadeado a doença, por tanto um acompanhamento psíquico-
terapêutico se faz necessário;
d) E por fim espiritual: como responsável por conferir sentido a sua existência com relação
a vida e a morte na perspectiva do Cristo, afim de que a morte já não seja mais motivo de
medo.
1) Fazer da comunidade cristã um ambiente vital do cuidado pastoral, para tanto, é necessá-
rio a atenção do pastor e da pastora para promover elos de confiança como prioridade para o
desenvolvimento da solidariedade;
2) Criar saúde relacional: os relacionamentos correm sérios riscos de contaminação por con-
ta das ideologias de competitividades, o padrão cultural da competitividade contribui para a
destruição dos relacionamentos salutares, como ato de preservação, deve-se cultivar: a co-
municação clara e honesta; o ouvir ativo; a fidelidade; a confiança; assumir o risco de apro-
fundar o relacionamento; o perdão e a aceitação do outro; e assumir responsabilidades pes-
soais;
117
GOODLIF, P. Care in a confused climate. Pastoral care and postmodern culture: Apud. SATHLER-ROSA,
Ronaldo. Cuidado pastoral em tempos de insegurança: uma hermenêutica contemporânea. São Paulo-SP:
Aste, 2004. p. 44-47.
50
3) Nutrir e sustentar a fé: o trânsito religioso promove o sincretismo e diante desta realida-
de surge a necessidade de manter as raízes bem referenciadas sem correr o risco perdê-las;
4) E por fim a cura das feridas da alma: são de causas depressivas e de ansiedade exagera-
da, episódios de pânico, de auto-estima, processos de lutos não elaborados, dificuldades
ligadas a área sexual além outros confrontos da pessoa com sua natureza e identidade, seu
lugar no mundo e aceitação, seja pessoal ou por outras pessoas.
Estas são justificativas que reafirmam a necessidade de uma proposta de cuidado pa-
ra o portador(a) do TP. Neste sentido, nosso olhar está na perspectiva do shalom apresenta-
da por Abigail R. Evans como orientação para a proposta pastoral:
2 A comunidade de fé terapêutica
Conforme os desafios apresentados até o momento, entendemos que a Comunidade
de Fé pode ser um lugar terapêutico frente ao sofrimento humano, em particular, como é
objetivo de nossa pesquisa, ao portador(a) de TP.
118
EVANS, Abigail Rian. O ministério Terapêutico da Igreja: programas práticos para ministérios de saúde. São
Paulo-SP: Edições Loyola, 2002. p. 251.
51
Noé afirma que o termo terapêutico, teologicamente pode ser compreendido como
redundante, uma vez que, denominamos nossas comunidades como sendo de Jesus Cristo,
obrigatoriamente, esta deveria ser essencialmente terapêutica se olhássemos para Seu exem-
plo.121
119
HOCH, Lothar Carlos; NOÉ, Sidnei Vilmar. Comunidade Terapêutica: cuidando do ser através de relações
de ajuda. São Leopoldo-RS: Escola Superior de Teologia, Editora Sinodal, 2003. p. 8.
120
Ibid., p. 9.
121
Ibid., p. 10.
122
MYERS, Ched. O Evangelho de São Marcos. São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1992. p. 185.
52
Neste sentido, Noé enfatiza que comunidade é terapêutica quando trás consigo algu-
mas característica como: a busca por redescobrir esses elementos terapêuticos presentes na
tradição cristã bíblica, como vimos acima na perspectiva do caráter terapêutico de Jesus; é
marcada também pela conscientização de caráter diaconal interno e externo (serviço); recu-
peradora da integridade do ser humano; é constituída a partir de um clima saudável e de
bem-estar bio-psico-social-espiritual das pessoas que a compõe; e por fim, sua responsabili-
dade diante da reumanização do ser humano contemporâneo através de espaços de convi-
vência com intuito de reverter o quadro doentio de fragmentação social.125
Evans afirma que esta “natureza comunitária da Igreja faz dela uma força terapêuti-
ca”126. A autora denomina esta ação da Igreja como, ministério. Este é parte integral da vida
da Igreja. Para ela, não se trata de um ministério opcional, mas de extrema importância, e
obrigatoriamente deve ser exercido pela Igreja com objetivo de apregoar o Reino de Deus
na sociedade. Este ministério deve ter como alvo o ser humano em todas as suas dimensões.
Para Evans, a Igreja é expressão comunitária do chamado individual da cristandade no que
diz respeito ao ministério de restauração da saúde.127 Evans procura em sua obra posicionar
a Igreja como oferecedora de soluções concretas para as questões que envolvem saúde e
123
MYERS, Ched; 1992. p. 185.
124
Ibid., p. 185-187.
125
HOCH, Lothar Carlos; NOÉ, Sidnei Vilmar; 2003. p. 10-11.
126
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 9.
127
Ibid., p. 12.
53
cura128. A autora faz uma análise das Igrejas e constata que este ministério não é desempe-
nhado a contento pelas comunidades. Comenta ainda:
128
Para a autora “cura” tem um significado bem mais amplo do que da cura meramente física. A autora tem em
mente uma compreensão integral de saúde humana que envolve desde aspectos físicos, mentais, espirituais e
sociais. Quando o texto se refere apenas ao físico, a autora utiliza a expressão “cura física”.
129
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 21.
130
Ibid., p. 51.
54
Para Hoch e Noé, talvez este seja um dos motivos pelos quais pessoas estão migran-
do das Igrejas para as terapias, uma vez que esta primeira tem negligenciado seu papel tera-
pêutico. Para eles, o consolo precisa vir aqui e agora e não deve ser transferido para as ou-
tras gerações ou para a eternidade.132
De forma geral entre os autores, o termo Comunidade Terapêutica é mais uma ex-
pressão que caiu no modismo do que uma realidade do contexto cristão. É preciso retomar
esta perspectiva de atuação da Igreja como propõe Howard J. Clinebell. Sua intenção é des-
pertar a Igreja para uma ação atuante através da poimênica e do aconselhamento pastoral.
Para Clinebell, esta pode ser uma ferramenta de cura e crescimento das pessoas em direção
ao desenvolvimento mais profundo dos relacionamentos diante da realidade de uma cultura
que predomina a superficialidade interpessoal.133 O autor esclarece ainda:
131
HOCH, Lothar Carlos; NOÉ, Sidnei Vilmar; 2003. p. 9.
132
Ibid., p. 51-56.
133
CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. São Leo-
poldo-RS: Sinodal, 1987. p. 14-15.
134
Ibid., p. 24, 25.
55
nossas Igrejas um lugar que potencializa essas forças humanas.135 Esta potencialização sig-
nifica ajudar a pessoa a experimentar cura e o crescimento vertical, ele denomina esta expe-
riência de integralidade. Neste sentido a pessoa aprende como desenvolver sua fé, compre-
ende seus valores. Isso significa libertação em direção a vida, e vida no Espírito. Orientada
pela ética da integralidade, a poimênica e o aconselhamento pastoral podem tornar-se ins-
trumentos cada vez mais eficazes de cura e transformação da sociedade. Esta integralidade,
segundo o autor, acontece em seis aspectos, São eles: 136
• Avivar sua mente;
• Revitalizar seu corpo;
• Renovar e enriquecer seus relacionamentos íntimos;
• Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera;
• Crescer em relação às instituições significativas em sua vida
• Aprofundar e vitalizar seu relacionamento com Deus.137
Neste sentido focalizaremos algumas pastorais ligadas ao tema da saúde como con-
tribuições para nossa ação pastoral diante da necessidade de acolhimento e ajuda ao porta-
dor(a) de TP.
Neste sentido, percebemos que o desafio de ajudar pessoas não é algo exclusivo do
pastor e da pastora, mas estende-se como um chamado para toda a Comunidade de Fé atra-
vés de intervenções pastorais, como afirma Clovis Pinto de Castro:
135
CLINEBELL, Howard J; 1987. p. 28.
136
Ibid., p. 28,29,30.
137
Ibid., p. 29.
138
LIBANIO, João Batista. O que é Pastoral. São Paulo-SP: Editora Brasiliense, 1982. p. 11.
56
Clovis Pinto de Castro afirma que quando falamos de pastoral urbana, falamos de a-
titudes de humildade. Para isso é necessário conhecer os contextos das cidades. Em seu arti-
go: dos desafios do mundo urbano à pastoral da Igreja, o autor faz uma análise da socieda-
de relacionada às leis de mercado, que de certo modo, influenciam e definem a modernida-
de. Do mesmo modo, muitas Igrejas têm se deixado levar por estas leis de mercado, enquan-
to deveria intervir no mundo através de uma ação pastoral libertadora desse sistema aprisio-
nador. Para o autor, a Pastoral Urbana acontece a partir do momento em que a Igreja assume
a cidade afim de torná-la um lugar de justiça, solidariedade, comunhão e alegria. Para isso, a
Igreja precisa também deixar as visões dualistas que a separa do mundo e tornando-a parti-
139
CASTRO, Clovis Pinto de. Por uma fé cidadã, a dimensão pública da Igreja: fundamentos para uma pastoral
da cidadania. São Paulo-SP: Edições Loyola, 2000. p. 105.
140
Ibid., p. 104.
57
cipante no mundo. A concretização desta ação da Igreja, acontece nas relações da Igreja
local.141
A Pastoral Urbana contribui para nossa pesquisa no sentido de abrir a visão da Igreja
para as questões sociais. Em nosso caso específico, não podemos fechar os olhos diante dos
casos de TP. Para alguns, uma doença da modernidade porque está atrelada as leis de mer-
cado mencionadas pelo autor. A competitividade, a necessidade de ter, a busca constante
pelo melhor: emprego, carro, celular, casa etc. Invariavelmente levam as pessoas a um esta-
do limite de suas forças. Diante dessa realidade, a Igreja é desafiada a resignificar a relação
do homem e da mulher com a vida e o mundo. A Igreja não deve se separar da sociedade,
mas é parte dela, para tanto, o autor propõe algumas ações pastorais que podem integrar as
Igrejas cristãs e o mundo:142
• Renovando a Liturgia de modo que reflita o amor e paixão pela cidade, provocando
assim este mesmo sentimento no cristão e na cristã, afim de nutri-los com energia e
vontade de transformar a realidade da cidade. A Igreja passa a ser um lugar de edu-
cação, conscientização e de concentração para a missão;
• A dimensão diaconal de seus membros na relação com o próximo, promovendo en-
contros com a realidade, que poderão acontecer por meio de visitas em asilos, fave-
las, orfanatos, hospitais etc. O autor salienta que normalmente as pessoas aceitam
uns aos outros mediante as experiências que visam descobrir a comunhão humana e
seu sentido;
• A hospitalidade e a solidariedade devem ser atitudes que marcam a vida e a missão
das Igrejas preocupadas com pastoral urbana. Diferente do item acima, que a Igreja
vai ao encontro, acontece também de pessoas irem ao encontro da Igreja, por isso as
Igrejas locais precisam criar uma dinâmica de acolhimento;
• A dimensão profética ou Kerígma, muito mais do que a denúncia, leva em conside-
ração dois aspectos que segundo o autor são indissociáveis, a palavra e a ação. Para a
Igreja ser de fato profética, ela precisa estar junto do povo, das autoridades para que
não seja vista como hipócrita, ou seja, uma Igreja que anuncia e não pratica;
141
CASTRO, Clovis Pinto de; 2000. p. 105-106.
142
CASTRO, Clovis Pinto de. Dos desafios do mundo urbano à pastoral da Igreja. Pastoral e Mística: Cadernos
de Pós-Graduação/Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, Nº 8, Ano XIII, Páginas 25-39, novembro,
1995.
58
• A Igreja deve promover encontros entre a teologia e as áreas do saber humano para
criar assim a dimensão pedagógica. A reflexão teológica se faz necessária para colo-
car-se em posição de diálogo com a saúde, educação, comunicação, urbanismo, so-
ciologia, entre outros. O autor sugere que pessoas ligadas a essas e outras áreas se-
jam contatadas para promover esses diálogos com a Igreja local, com o objetivo de
uma Pastoral Urbana melhor elaborada e coerente;
• A Igreja precisa compreender que todos que vivem no mundo são chamados a parti-
ciparem do Reino de Deus, para isso é necessário compreender a dimensão ecumêni-
ca da Igreja. O autor faz menção à parábola do banquete (Lc14.1-4), e que muitas
outras comunidades e instituições também estão engajadas na obra de anúncio deste
mesmo Reino, não estamos sozinhos nesta tarefa, precisamos de outros.143
Desta forma o autor busca conscientizar a Igreja de sua tarefa, dentro de uma propos-
ta missionária de aproximação com a realidade que a cerca.
143
CASTRO, Clovis Pinto de; 1995. p. 40-47.
144
BERMEJO, José Carlos. Relação Pastoral de Ajuda ao Doente. São Paulo-SP: Edições Loyola. 1997. p. 23.
59
145
Para os interessados em se aprofundarem no pensamento de Carl Rogers, fazemos a indicação de sua obra
“Tornar-se pessoa” editado pela Martins Fontes.
146
BERMEJO, José Carlos; 1997. p. 19, 20.
147
Ibidem.
60
Para os casos de Transtorno de Pânico podemos utilizar alguns destes recursos vi-
sando o cuidado destas pessoas. Faz-se importante esclarecer que devido à complexidade
destes casos, algumas ações de cura149 podem promover mais do que realmente gerar cura.
Evans aborda este aspecto também em sua obra:
Para Evans, no processo de ajuda, não pode abandonar também os métodos não-
alopáticos/complementares diante das enfermidades. A autora descreve alguns desses méto-
dos como sendo de possíveis aplicações e portanto podem ser disponibilizados como possi-
bilidade terapêutica, alguns exemplos: homeopatia151; ioga152; massagem; acupuntura153;
cupping (prática da antiguidade para melhorar a circulação); rolfing (técnica que utiliza a
pressão manual sobre vários pontos distintos do corpo com finalidade de liberar emoções
reprimidas e dissipar a tensão muscular habitual); terapias quiropráticas154; terapias à base
de ervas e vitaminas; meditação e toque terapêutico155. 156 A autora ressalta ainda que:
148
BERMEJO, José Carlos; 1997. p. 60.
149
Bem como o conceito sobre “cura” esclarecido até então no trabalho, nós também utilizaremos a cura para
referirmos ao aspecto integral do ser humano e não especificamente física.
150
BERMEJO, José Carlos; 1997. p. 60-61.
151
Sistema terapêutico que consiste no tratamento das doenças com doses infinitésimas de específicos capazes
de produzir em pessoa sã efeitos análogos aos sintomas das doenças que se pretende combater.
152
Sistema místico-filosófico da Índia, o qual procura, mediante determinados exercícios corporais, respiratórios,
mentais, hipnóticos etc.
153
Operação terapêutica de origem chinesa que consiste em introduzir uma ou várias agulhas metálicas finas em
pontos, chamados vitais, do corpo humano para tratamento ou aliviar dores.
154
Sistema de tratamento baseado na teoria de que as doenças resultam da falta de funções nervosas normais e
que emprega a manipulação e ajustagens específicas das estruturas do corpo, especialmente da coluna verte-
bral por intermédio de massagem.
155
Técnica contemporânea de contato das mãos que visa liberar tensões.
156
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 61-65.
61
Muito parecida com a pastoral de ajuda, a Pastoral de Saúde se diferencia por sua a-
tuação também nas esferas políticas da sociedade. Anísio Baldessin em sua obra; Como fa-
zer pastoral de saúde?, diz que a pastoral de saúde é a ação evangelizadora de todo o povo
de Deus, que por sua vez, se compromete a promover a vida em todos os sentidos, tornando-
se presente na sociedade atrás da concretização da missão libertadora de Cristo no contexto
da saúde.160 O objetivo da Pastoral de Saúde é:
157
A assistência holística descrita pela autora, faz menção ao movimento internacional encabeçados por Andrew
Weil, médico formado em Harvard. Ela engloba uma ampla variedade de práticas tradicionais e alternativas
de saúde, em que o espírito é interpretado a partir da perspectiva religiosa oriental e práticas exóticas são in-
cluídas misturando abordagens alternativas e alopáticas. (EVANS, A.R.p.63).
158
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 65.
159
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 158.
160
BALDESSIN, Anísio. Como fazer pastoral de saúde?. São Paulo-SP: Edições Loyola. 2000. p. 31.
161
Ibid., p. 32.
62
A Pastoral da saúde contribui para uma ação com os(as) portadores(as) de TP, devi-
do a sua conscientização social, métodos e ideais aplicados para o tratamento do(a) doente.
Especialmente, através da religião, podemos oferecer muitas contribuições ao portador de
TP, são elas:
162
BALESSIN, Anísio; 2000. p. 31,32.
163
Ibid., p. 38.
164
Ibid., p. 38,39.
63
Evans trás informações muito relevantes em sua obra quanto ao papel da religião na
saúde. Ela faz menção ao trabalho realizado, The Faith Factor, dirigido por Matthews Lar-
son, que analisou diversos casos clínicos em diferentes pessoas, relacionando-os com o fator
da fé. Este trabalho apresenta dados em quatro volumes. É possível constatar que fé e religi-
ão podem ser medidas cientificamente. Um indício religioso positivo apontado pela pesqui-
sa, foi o compromisso religioso167, vejamos:
165
BALDESSIN, Anísio; 2000. p. 38, 39.
166
Ibidem.
167
A pesquisa The Faith Factor, investigou a religião e a fé em relação a diferentes doenças. O termo “COM-
PROMISSO RELIGIOSO” considera práticas de freqüência à Igreja, voluntariedade e crença religiosa de paci-
entes.
64
A autora faz citação à outra pesquisa realizada em Glasgow, Escócia, que estudou os
efeitos da frequência à Igreja na saúde. A pesquisa foi realizada com base em uma amostra
aleatória de pacientes. Foram entrevistadas 964 pessoas com idade acima de 16 anos. Paci-
entes ligados a Igreja Católica Romana, à Igreja da Escócia e outra denominações protestan-
tes, apresentaram melhoras físicas, mentais e sociais em 41% dos casos em relação aos pa-
cientes que não frequentavam Igrejas.169
168
LARSON, Matthews et al., “Methods”, introdução do The Faith Factor, vol. 1, páginas não numeradas: A-
pud. EVANS, Abigail Rian. O ministério Terapêutico da Igreja: programas práticos para ministérios de saú-
de. São Paulo-SP: Edições Loyola, 2002. p. 78,79 e80.
169
HANNAY, D. R. Religion and Health, Social Sciense and Medicine 14A: Apud. EVANS, Abigail Rian. O
ministério Terapêutico da Igreja: programas práticos para ministérios de saúde. São Paulo-SP: Edições Lo-
yola, 2002. p. 81.
65
170
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 247, 248 e 252.
171
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 248, 249.
66
Evans nomeia este agente de saúde como enfermeiro(a) pastoral. Para a autora, este
termo alinhado ao pastoral, enfatiza a missão do cuidado da saúde em níveis espirituais e
físicos, bem como aproxima o profissional da saúde ao contexto pastoral. A partir de uma
ação multiplicadora, o enfermeiro(a) pastoral tem a função de conscientizar as pessoas da
Igreja e da comunidade a alcançarem uma qualidade de vida mais sadia por meio de infor-
mação que indicam como se obter bem-estar em todos os níveis da vida, prevenção de en-
172
Ibid., p. 249.
173
Ibid., p. 252, 253.
174
BALDESSIN, Anísio. Como Organizar a Pastoral da Saúde. São Paulo-SP: Edições Loyola, 2007. p. 56-58.
67
Sabe-se também que as crises ou ataques de pânico que acometem os(as) portado-
res(as) do TP são seguidos de sintomas. Por mais que tenhamos evidenciado no primeiro
capítulo as disfunções noradrenérgicas; serotonérgicas e gabaérgicas, que são responsáveis
por disparos adrenalínicos causando assim os ataques. Nestes casos, a partir de intervenções
medicamentosas, os ataques podem ser controlado, entretanto, sabe-se também que parte
das sensações presentes nos momentos de crise se dão por fatores psicológicos.178 Atual-
mente a medicina psicossomática é normalmente praticada, tendo em vista que esta passou
175
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 217, 225.
176
CLINEBELL, Howard J; 1987. p. 313, 314 e 315.
177
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 17 e 18.
178
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 149.
68
por diversos questionamentos até que fosse realmente provada como legitima em atribuir
relações entre mente e corpo.179 Neste exemplo se faz necessário também a aplicação do
método educativo no sentido de reinterpretação dos processos de crises e sensação de morte
que são acometidos(as) os(as) portadores(as) do TP, como veremos a seguir.
Evans destaca o caráter educacional do pastor e a pastora como agentes da saúde li-
gados ao exemplo, e deste modo, também necessitam de saúde. A partir deste ponto, se faz
essencial dar o exemplo quanto aos hábitos e estilo de vida desenvolvido por eles, de modo
que possam trazer saúde integral para suas vidas. Este exemplo, deve comunicar a comuni-
dade e membros, uma recusa por tornar-se escravo da doença do trabalho excessivo e do
materialismo presente na sociedade, há alternativas sadias que precisam ser aplicadas. A
autora considera que o pastor e a pastora pode ser um (a) agente de cura de diversos modos
ao passar ensinamentos:180
1. O pastor e a pastora, são proclamadores de verdades que geram esperança: cada pessoa
tem dignidade infinita; doença não é um sinal de pecado; quando o pecado causa a doença,
o perdão está disponível.
2. O pastor e a pastora trazem consigo símbolos da cura ao se relacionar não com pacientes
e sim com pessoas. Muitos indivíduos lutam para aceitar suas doenças, como no caso do(a)
portador(a) do TP, com este tipo de postura do pastor e da pastora podem sustentá-los(as)
diante da dor e do sofrimento, ajudando-os(as) a viverem em meio a esta realidade de fragi-
lidade.
179
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 60, 61.
180
Ibid., p. 251, 252.
69
181
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 318.
CONCLUSÃO
Foi possível constatar a partir das bibliografias consultadas sobre o tema do Transtor-
no do Pânico, que há menos de três décadas este assunto tem sido abordado pelos profissio-
nais da saúde de forma significativa. Em especial, na última década, as pesquisas e estudos
sobre o Transtorno do Pânico estão sendo intensificadas, na esperança de encontrar alterna-
tivas para controle dos sintomas. É possível dizer que os tratamentos disponibilizados até o
momento têm surtido efeitos expressivos. Todavia, eles não trazem cura ao portador(a) do
Transtorno do Pânico. Constatamos também que conclusões sobre possíveis causas ainda
são divergentes, embora se saiba que, fatores sociais como: stress, sobrecarga de trabalho,
falta de tempo, sedentarismo, violência, insegurança, sentimentos de perdas entre outros,
são fatores desencadeadores da doença.
Esses fatos nos direcionam a uma conscientização do que é a doença, como ela aco-
mete as pessoas e a que tipo de sofrimento estão sujeitos os corpos. Desta forma, a patologia
precisa receber os devidos cuidados como apresentado no primeiro capítulo. Classificá-la
como etiologicamente espiritual/demoníaca, é desconhecimento dos fatos, e assim, encami-
nhamentos que não sejam farmacológicos, terapêuticos e aeróbicos, são insensatos. Como
podemos constatar também, o não tratamento pode culminar em efeitos desastrosos para
o(a) individuo(a), em alguns casos chegando a depressão profunda e até a morte. Ricardo
Mariano em seu livro, conta alguns casos em que pastores pediram para pessoas abandona-
rem seus medicamentos e que por consequência, estes últimos, vieram a óbitos.
71
Para lidarmos com os desafios atuais, devemos buscar um caminho que respeite a rea-
lidade local, entretanto, é preciso manter um olhar do todo para que possamos ir ao encontro
do ser humano individual; buscar uma solução para suas aflições; cultivar os relacionamen-
tos; precisamos conhecer a psique humana e preservar o aspecto na alma humana; reconhe-
cer os desafios específicos de cada contexto, sem ignorar miséria, déficit de saúde, educação
violência e diferenças de gêneros e etnias.
Frente aos problemas sociais, a Igreja tem o grande desafio de desenvolver um papel
pastoral, que não cabe apenas ao pastor e a pastora, mas a toda a comunidade que necessita
exercer o papel de comunidade terapêutica ou comunidade geradora de saúde.
A saúde é muito mais que um bem estar físico. Para gerar saúde, a ação pastoral deve
entrar em contato com o sofrimento humano, não bastando apenas consolar e acompanhar,
mas descobrir as causas, formas de intervenção e alívio para harmonia atual desta geração e
das próximas.
Descobrimos nesse trabalho que, como cristãos e cristãs, temos muito a oferecer para
as pessoas que sofrem de modo geral. As diretrizes oferecidas neste trabalho, não se compa-
ram ao potencial existente em cada um de nós, como Clinebell diz, precisamos liberar o
potencial que existe dentro de nós. As pessoas que compõem nossa sociedade carecem de
referenciais acolhedores. Precisamos fazer de nossas comunidades, espaços de acolhimento,
ajuda e cura para o homem e a mulher em sua integralidade.
O que muito nos alegra, é que não esgotamos o tema, muitas outras pesquisas podem
ser feitas a partir desta, como por exemplo:
a) Um aprofundamento exegético e hermenêutico sobre o tema do medo e sofrimento
no Antigo e Novo Testamento;
72
Como cristãos e a cristãs, temos um compromisso com a vida que vai além das cele-
brações cúlticas e sacramentais. É sabido que Deus é onipotente e que curas podem ser en-
tendidas como manifestação de sua Graça, entretanto, atribuir o contexto da cura somente a
Deus é fechar os olhos para a realidade e não assumir nossa responsabilidade neste processo
de cuidado. Reafirmar nosso chamado como agentes de cura nessa terra de fragilidades,
desespero e dor se faz necessário. O Deus da vida convoca Sua Igreja para ser atuante na
promoção da vida afim de priorizá-la e preservá-la.
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74