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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

TRANSTORNO DO PÂNICO: uma ação pastoral frente a uma realidade de saúde

TRANSTORNO DO PÂNICO: UMA AÇÃO PASTO-


Eduardo Seixas Jr.

RAL FRENTE A UMA REALIDADE DE SAÚDE

EDUARDO SEIXAS JÚNIOR.

São Bernardo do Campo – Novembro 2010


EDUARDO SEIXAS JÚNIOR

TRANSTORNO DO PÂNICO: UMA AÇÃO PASTORAL


FRENTE A UMA REALIDADE DE SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresenta-


do ao Colegiado de Curso, com vistas à obten-
ção de grau. — 4º Ano, Noturno, do Curso de
Bacharel em Teologia da Faculdade de Teolo-
gia da Igreja Metodista — Universidade Me-
todista de São Paulo. Sob a orientação da Profª
Drª Blanches de Paula.

São Bernardo do Campo — Novembro de 2010


FOLHA DE APROVAÇÃO

A Banca Examinadora considera o trabalho: __________________________________

E atribui o conceito: __________________________________

Orientador/a: __________________________________

Profª. Drª. Blanches de Paula

Leitor/a: __________________________________

Profº. Ms. Wesley Fajardo Pereira

Professor de TCC: __________________________________

Profº. Ms. Paulo Ayres Mattos


AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me concedido esse tempo de estudos. A minha esposa que

tem se dedicado, apoiado e reconhecido meu chamado e ministério, te amo! Aos meus filhos

Giovanna e Arthur, por terem paciência e compreensão quando fui obrigado a trocar muitos

finais de semana com vocês por leituras e trabalhos (agora o papai poderá brincar mais com

vocês) eu amo os com todas as minhas forças.

Agradeço a minha mãe por ter me dado a vida, por me ensinar importantes valores

que trago até hoje comigo, te amo, tu és a mulher mais forte que conheço, a você dedico

este trabalho. Meu irmão, a quem Deus nos deu a chance de convivermos por mais um tem-

po, Louvado Seja o Teu Nome Pai. Aos sobrinhos e você também Costinha.

Agradeço também a família Arbex, em especial ao Pastor Márcio Arbex pelo, apoio,

ajuda, amizade, companheirismo e colo nos momentos difíceis. A Igreja Metodista no Brás

por me acolher nestes anos em que estive como acadêmico. Ao Ministério Alegria do Noi-

vo, que se cumpra a vontade de Deus em nós.


5

Vó Lygia, obrigado por me apresentar a Jesus, a quem sirvo e servirei eternamente.

Aos meus sogros Bê e Lúcia, obrigado pela família que tenho. Aos pastores que me acom-

panharam durante a caminhada de fé, em especial ao Pastor Marcos Garcia pelas preciosas

dicas, apoio e força. Aos colegas Eduardo Stambassi, Rogério, Chrystiane, Patyski e Vânia,

por este grupo que se manteve firme por todos esses anos. Aos professores em especial a

você Blanches, pelo carinho, dedicação, amor pelo que faz, não tenho palavras pra agrade-

cer pelos momentos de luz que me ajudaram a iluminar os caminhos desta pesquisa.

E por fim, quero agradecer a TODOS os que estiveram comigo nessa caminhada me

incentivando e ajudando a perseverar. Você está no “TODOS” também, viu, você é especi-

al.

Eu os amo!

Eduardo Seixas Jr.


RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo apresentar


diretrizes para uma ação Pastoral de Saúde para os portadores do
Transtorno do Pânico. Para tanto, se faz necessário apresentar a do-
ença, suas causas, sintomas e tratamentos, segundo uma perspectiva
médica psiquiátrica. A seguir, procuraremos apresentar o homem e a
mulher como pessoas frágeis, sujeitas a enfermidades e problemas.
Tentaremos desmistificar a idéia de que o cristão e a cristã não po-
dem sofrer ou ter problemas a partir de uma perspectiva do medo
presente na história do povo de Deus as vistas do Antigo Testamento
e do Novo Testamento. Por fim, uma vez consciente do que é a do-
ença e que as dificuldades fazem parte da vida, apresentaremos al-
gumas Pastorais de Saúde importantes para implantação de um Mi-
nistério de Saúde na igreja local.

Palavras-chave: transtorno do pânico – síndrome – sofrimento –


medo – pânico – teologia da prosperidade – pastoral urbana – pasto-
ral de ajuda – pastoral de saúde – ministério de saúde.
SUMÁRIO

SUMÁRIO ______________________________________________________________ 7
Introdução _______________________________________________________________ 9
Capítulo 1 Compreendendo o Transtorno do Pânico, suas causas e desdobramentos. ____ 11
1 O Transtorno do Pânico ________________________________________________ 12
1.1 Etimologia da palavra pânico ________________________________________ 12
1.2 Características do TP _______________________________________________ 13
1.3 Distinguindo o TP de outras categorias de ansiedade ______________________ 14
2 A Síndrome do Pânico _________________________________________________ 16
2.1 Definindo síndrome e transtorno ______________________________________ 16
2.2 Classificação dos sintomas __________________________________________ 16
2.2.1 O TP seguido de Agorafobia _______________________________________ 18
2.3 Procedimento dos pacientes durante um ataque/crise de TP_________________ 18
3 Diagnósticos, Assemelhações e Etiologias _________________________________ 19
3.1 O Diagnóstico ____________________________________________________ 19
3.2 Asma Brônquica __________________________________________________ 20
3.3 Tabagismo _______________________________________________________ 22
3.4 Hipocondria ______________________________________________________ 22
3.5 Hereditariedade e Fisiológico ________________________________________ 23
3.6 Stress ___________________________________________________________ 25
4 Tratamentos _________________________________________________________ 25
4.1 Farmacológicos ___________________________________________________ 26
4.2 Terapias _________________________________________________________ 28
4.3 Exercícios Aeróbicos_______________________________________________ 29
Capítulo 2 O Sofrimento e o Medo como condição humana a partir de uma bisão Bíblica
e Histórica. ______________________________________________________________31
1 O Discurso da Prosperidade Integral ______________________________________ 32
8

2 O Ser Humano e o sofrimento ___________________________________________ 35


3 O Medo e a Bíblia: Apontamentos gerais __________________________________ 37
3.1 O Medo no Antigo Testamento _______________________________________ 37
3.2 O Medo no Novo Testamento ________________________________________ 41
4 A Religião e o Amor __________________________________________________ 45
Capítulo 3 Acolhimento, Cuidado e Encaminhamentos: uma ação pastoral de saúde. ___ 48
1 Introdução às Diretrizes Pastorais ________________________________________ 49
2 A comunidade de fé terapêutica __________________________________________ 50
3 Pastoral: Apontamentos gerais ___________________________________________ 55
3.1 Pastoral Urbana ___________________________________________________ 56
3.2 Pastoral de Ajuda _________________________________________________ 58
3.3 Pastoral de Saúde _________________________________________________ 61
3.3.1 O Fator fé na saúde: Apontamentos gerais_____________________________ 63
4 Iniciando um Ministério de Saúde ________________________________________ 65
4.1 O agente do Ministério de Saúde _____________________________________ 66
4.2 Aconselhamento Educativo __________________________________________ 67
Conclusão ______________________________________________________________ 70
Bibliografia ___________________________________________________________ 73
9

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa apresenta diretrizes para uma ação pastoral frente a realidades de
pessoas acometidas por transtorno do pânico. Nossa intenção é contribuir com informa-
ções para fins de conscientização do pastor e da pastora a respeito do tema, de modo que
a ação pastoral seja comunitária e voltada para o acolhimento, cuidado e encaminhamen-
tos do(a) indivíduo(a) que sofre de transtorno do pânico.
O transtorno do pânico é uma doença que acomete de 2% a 4% da população mun-
dial e 10% dos pacientes diagnosticados em consultórios psiquiátricos. A faixa etária de
pessoas que sofrem com maior frequência desta doença, está entre os 20 aos 40 anos,
também considerada a faixa etária da produtividade. O gênero feminino é mais afetado
em relação aos homens. Infelizmente nem todos tem a clareza de como se dá o processo
do transtorno do pânico, com isso, mitos e verdades se misturam na consciência coletiva
das pessoas. Suas causas mais prováveis estão relacionadas ao stress e disfunção a partir
de outras patologias.
Se fizermos uma pesquisa rápida entre nossos amigos, um número considerável de-
les nos dirá que conhece alguém ou até mesmo alguns deles já passaram por este proble-
ma. A grande questão é que os casos de pessoas acometidas por transtorno de pânico têm
aumentado nos últimos tempos. Esta doença não escolhe onde, quando, como e em quem
se manifestar. Suas crises podem ser devastadoras. Neste sentido, se faz necessário um
cuidado especial da Igreja como acolhedora e promotora da vida, olhar com mais atenção
para estes casos. Nossa pesquisa visa uma ação pastoral de saúde no sentido de auxílio
10

quanto ao apoio a esses casos através de processos terapêuticos e de aconselhamento pas-


toral.
Coube a nós esclarecermos no primeiro capítulo informações sobre a patológica em
todo o seu conteúdo. Do ponto de vista das origens, no campo da psiquiatria, buscaremos
descrever a patologia, os sintomas e a vida da pessoa portadora do transtorno do pânico.
Veremos também como é feito o processo de diagnóstico da doença, as possíveis causas
e os tipos de tratamentos disponíveis.
No segundo capítulo analisaremos o pensamento existente e que se manifesta em
alguns púlpitos. Particularmente, analisaremos os discursos de prosperidade e suas impli-
cações em relação ao transtorno do pânico. Trabalharemos o tema do sofrimento como
uma condição humana e o medo a partir de uma perspectiva Bíblica no Antigo e Novo
Testamento.
O terceiro capítulo apresentará diretrizes para uma pastoral de saúde. Veremos a
importância da igreja como comunidade terapêutica. Apresentaremos algumas pastorais e
como podem ser aplicadas ao tema do transtorno do pânico. Por fim, mostraremos subsí-
dios para a implantação de um ministério de saúde em nossas igrejas e comunidades.
A pesquisa utilizou o método bibliográfico. Fizemos uso de uma considerável di-
versidade de obras. Visando o enriquecimento de seu conteúdo, utilizamos bibliografias
médicas do campo da psiquiatria, dicionários médicos, artigos médicos atuais sobre a-
vanços médicos no campo do diagnóstico e da compreensão da doença, além de livros
teológicos que tratam de temas pastorais e de aconselhamento pastoral.
CAPÍTULO 1

COMPREENDENDO O TRANSTORNO DO PÂNICO,

SUAS CAUSAS E DESDOBRAMENTOS.

Reconhecemos que são muitos os desafios sobre cuidados pastorais. Para a realização
de um trabalho efetivo frente às diversas demandas, entendemos que a informação e forma-
ção para o pastor e a pastora é imprescindível tanto quanto em qualquer outra profissão. É
com esta intenção que desenvolvemos esta pesquisa no primeiro capítulo. Ela traz esclare-
cimentos sobre o tema do Transtorno do Pânico, que acomete mais de 2% da população
mundial1 e 10% dos pacientes diagnosticados em consultórios psiquiátricos.2
Procuramos, do ponto de vista epistemológico do campo da psiquiatria, responder
perguntas como: O que é o Transtorno do Pânico? Quais os sintomas? Como é a vida de
uma pessoa com Transtorno do Pânico? Como é feito o diagnóstico? Quais as possíveis cau-
sas? Quais os tipos de tratamentos disponíveis?
É esclarecendo perguntas desta natureza que queremos agregar conhecimento aos pas-
tores e pastoras para um desempenho mais coerente e efetivo junto à sociedade e sua mem-
bresia a respeito deste assunto.

1
BERNIK, Vladimir. Transtorno do pânico. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 056, n. 004, p. 209-
216, abril 1999.
2
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK, Márcio Antonini. Exercício aeróbico como tera-
pia de exposição a estímulos interoceptivos no tratamento do transtorno de pânico. Revista Brasileirade Me-
dicina do Esporte, Niterói, v. 13, n. 5,out. 2007. Disponível em http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_
arttext&pid= S1517-86922007000500009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 10 dez. 2009.
12

1 O Transtorno do Pânico
O TP3 (Transtorno do Pânico) é uma síndrome caracterizada pela presença de ata-
ques/crises repentinos e inesperados de intenso medo, desconforto ocasionado por sintomas
somáticos ou cognitivos4. Além disso, Vladimir Bernik salienta que o TP é uma patologia
psiquiátrica, de bases neurofisiopatológicas estabelecidas e delimitadas em neurociência, ou
seja, diferentemente do que muitos podem pensar, o TP é entendido no campo da psiquiatria
como uma doença e classificado em níveis graves, etiologicamente multifacetado5, como
será possível observar mais adiante.
Um ataque/crise do TP pode, em muitos casos, ser uma experiência avassaladora para
o indivíduo, que é tomado por um desesperado ímpeto de fuga ou necessidade de ajuda e
sensações catastróficas denominadas de pânico.6

1.1 Etimologia da palavra pânico


Segundo os autores Antonio Egidio Nardi7, David H. Barlow8 e o psiquiatra Odair Jo-
sé Comin9, a palavra pânico é utilizada devido à semelhança dos ataques/crises do TP com a
etimologia da palavra grega panikon (Πανικον).
A palavra pânico é uma menção ao deus Pã ou Pan, que, segundo a lenda, era o deus
dos bosques, campos, caçadores, pastores e rebanhos. Era temido pelos viajantes que preci-
savam atravessar as florestas à noite. Pã, sem qualquer motivo ou causa aparente, emitia um
grito aterrorizador que causava em suas vítimas súbitos momentos de pavor que os levavam
a pensar que estavam prestes a morrer. Algumas de suas vítimas ficavam paralisadas, toma-
das pelo medo, enquanto outras fugiam desesperadamente, assim como os indivíduos que
são acometidos pelos ataques/crises de pânico.

3
Terminologia que usaremos para nos referir ao Transtorno do Pânico a partir de então.
4
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK Márcio Antonini; 2007. p. 327.
5
BERNIK, Vladimir; 1999. p.210.
6
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto F, Pânico, Fobias e Obsessões: A Experiência do Projeto AMBAN. São
Paulo-SP: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p. 97.
7
NARDI, A. E.; VALENÇA, A. M. Transtorno do Pânico: diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro-RJ: Guana-
bara Koogan, 2005. p. 32.
8
BARLOW, D. H.; CERNY, J. A. Tratamento Psicológico do Pânico. Porto Alegre-RS: Artes Médicas do Sul,
1999. p. 24.
9
COMIN, Odair José. Síndrome do Pânico e Hipnose. Revista Psicologia Brasil, São Paulo, v. 11, n. 07, p.17-
19, julho 2004.
13

1.2 Características do TP
Um ataque/crise de pânico é caracterizado por ocorrer sem prévio aviso ou motivo a-
parente, apresentando grande frequência durante o sono, o que provoca despertamento re-
pentino e seguido de sintomas10, como veremos mais adiante.
O TP é vivido por cerca 2% da população. Ocorre a partir da segunda década de vida,
com maior frequência entre as mulheres. Pacientes de TP sem o devido tratamento podem
desenvolver outras patologias mais sérias, como depressão profunda, o que, em alguns ca-
sos, leva a pessoa ao suicídio.11
Adverte Valentim Gentil, em seu livro Pânico, Fobias e Obsessões, quanto aos peri-
gos a que uma pessoa está exposta durante um ataque/crise de pânico. Ela pode tomar atitu-
des que colocarão em risco a sua saúde, como, por exemplo, ingerir medicamentos sem
prescrição médica, em alguns casos, em doses exageradas, com o intuito de minimizar os
sintomas. Se estiver dirigindo, a pessoa pode parar e descer do carro em local de iminente
perigo. Em casa, pode abandonar afazeres domésticos, esquecendo-se de apagar o fogo, cor-
rendo risco de incêndio, não fechando torneiras etc.12
Tito Paes de Barros Neto salienta que portadores de TP costumam desenvolver ansie-
dade antecipatória quanto a terem outros ataques/crises; neste estágio a pessoa eleva seus
índices de ansiedade e preocupação. Ele descreve alguns pensamentos mais comuns:

1. Vou morrer; 2. Vou ter um ataque cardíaco; 3. Vou ter um


derrame; 4. Vou ficar louco; 5. Vou desmaiar e todos vão rir de
mim; 6. Sou um fraco; 7. Vou perder o controle e bater o carro; 8.
Não posso praticar esportes ou ter relações sexuais porque posso
morrer; 9. Tenho que ser capaz de controlar tudo; 10. Não posso me
emocionar ou chorar para não perder o controle; 11. Se eu não
dormir, vou enlouquecer; 12. Não posso ficar sozinho.13
Pensamentos como estes também limitam os pacientes de TP e, muitas vezes, são os
principais motivadores de agravamento dos sintomas, pois cada um dos pensamentos é re-
tomado a cada momento de ataque/crise do TP.

10
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 98.
11
BERNIK, Vladimir, 1999. p. 210.
12
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 98.
13
BARROS NETO, Tito Paes de. Sem Medo de ter Medo: um guia prático para ajudar com pânico, fobias, ob-
sessões, compulsões e estresse. São Paulo-SP: Casa do Psicólogo, 2000. p. 41.
14

1.3 Distinguindo o TP de outras categorias de ansiedade


Qualquer pessoa pode sofrer um ataque/crise de pânico. Porém é importante ressaltar
que uma pessoa em pânico nem sempre é portadora de TP. Para Barros Neto, a sensação de
medo é um atributo saudável e imprescindível que protege os seres humanos dos perigos
que os cercam. Em sua exposição, ele explica que, se não sentíssemos medo, estaríamos em
risco constante, pois é o medo que habita dentro de cada um de nós que nos limita a ponto
de não corrermos riscos desnecessários, conforme ele descreve:

Basta pensar em um exemplo da vida cotidiana, como o simples ato


de atravessar uma rua, para se dar conta de que é o medo de ser
atropelado que faz com que alguém olhe de um lado para o outro
antes de atravessá-la (...) É possível imaginar alguém que não sinta
medo ao ser assaltado? Ou que, indo além, quisesse dar uma de
valente, reagindo? Certamente acabaria sendo atingido por uma bala.
É provável que a maioria das pessoas, em tal situação, experimente
medo em uma determinada intensidade (...) suficiente para inibir
qualquer atitude do tipo reagir ao assaltante, protegendo-se (...) Por
outro lado, se a intensidade do medo for excessiva, esse alguém
poderia gritar ou tentar fugir, levando a conseqüências tão mais
danosas que o reagir. O medo, portanto, deve estar presente em uma
intensidade ideal. Nem mais, nem menos.14
Para ele o medo é saudável, o problema inicia quando ele é excessivo, ocorrendo em
situações em que a maioria das pessoas não o expressariam. Por este motivo é importante
percebermos que um ataque/crise de medo nem sempre tem correlação com o TP.
O medo, quando exagerado, anormal e irracional, pode ser diagnosticado como uma
patologia de Ansiedade Fóbica ou Hipocondria. Segundo o autor, pessoas podem conviver
com fobias sem precisar de tratamentos. Ele cita o exemplo de uma pessoa que tem fobia de
cobras e que mora em uma cidade como São Paulo. Esta pessoa facilmente consegue viver
com esse problema, uma vez que é necessário ter uma atitude de esquiva, ou seja, não reali-
zar passeios em locais em que possam existir cobras, como zoológicos, florestas etc. Por
outro lado, pessoas que apresentam fobias de cachorro dificilmente conseguem conviver
nesta mesma cidade sem que haja um prévio tratamento, porque o cachorro é um animal que
facilmente podemos encontrar, em casa de amigos ou parentes, durante uma caminhada na
rua, parques etc.15

14
BARROS Neto, Tito Paes de; 2000. p. 13.
15
Ibid., p. 14.
15

A ansiedade é o sintoma psiquiátrico mais conhecido pelo ser humano, diz Bernik. Pa-
ra ele, todos nós já passamos ou passaremos por um ataque/crise agudo de ansiedade que
nos levou ou levará a uma experiência de medo. Cerca de 20% da população experimenta o
sintoma da ansiedade em um nível grave, ou seja, uma em cada cinco pessoas vive essa ex-
periência.16
O Manual de Diagnóstico Diferencial17, do DSM-IV, classifica o TP como um tipo de
Transtorno de Ansiedade18. As patologias classificadas como Transtornos de Ansiedades
são:19
• Transtorno de Ansiedade Generalizada;
• Transtorno de Ansiedade de Separação;
• Transtorno Obsessivo-Compulsivo;
• Transtorno de Estresse Pós-Traumático;
• Transtorno de Estresse Agudo;
• Transtorno de Pânico;
• Transtorno de Pânico com Agorafobia;
• Transtorno da Personalidade Esquiva;
• Transtorno Invasivo do Desenvolvimento;
• Transtorno da Personalidade Esquizoide;
• Transtorno da Personalidade Esquiva;
• Transtorno Dismórfico Corporal ou Transtorno Alimentar (Anorexia);
• Tricotilomania;
• Hipocondria;
• Transtorno Delirante ou Psicótico/Esquizofrenia;
• Transtorno de Ajustamento.
Como pudemos observar neste grupo das ansiedades, o TP é um subtipo de ansiedade,
embora seus ataques/crises sejam apresentados em níveis mais agudos, como veremos a
partir dos sintomas que os constituem.

16
BERNIK, Vladimir; 1999. p. 210.
17
O Manual de Diagnóstico Diferencial – DSM-IV é uma ferramenta de referência resumida com descrição das
patologias e seus sintomas. Este livro ajuda os profissionais da área da saúde a realizarem um diagnóstico co-
erente com a realidade do paciente, imprescindível para uma avaliação clínica.
18
FIRST, M. B.; FRANCES, A.; PINCUS, H. A. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-IV. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2002. p. 179.
19
Ibid., p. 179-190.
16

2 A Síndrome do Pânico

2.1 Definindo síndrome e transtorno


Usualmente, ouvimos pessoas se referirem ao TP como Síndrome do Pânico. Para en-
tendermos a diferença entre os termos, recorremos ao Dicionário de Termos Técnicos de
Medicina e Saúde:

Síndrome: qualquer quadro patológico caracterizado por


determinada série de sinais e sintomas, que pode ser produzido por
mais de um agente etiológico20. Pode ser entendido também como
um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem juntos e constituem
uma individualidade clínica, mas não etiológica, de causa conhecida
ou não.
Transtorno: ato ou efeito de transtornar. Desarranjo, desordem.
Doença ou perturbação mental. 21

Como é possível perceber, a terminologia síndrome é apropriada quando nos referi-


mos ao conjunto de sintomas provocados no momento de ataque/crise do TP, enquanto
transtorno é a causa ou o que provoca os sintomas. Quanto às causas de um transtorno men-
tal, para Gentil, é difícil precisar especificamente, uma vez que eles não seguem um mesmo
padrão.22

2.2 Classificação dos sintomas


Em um recente artigo escrito por Ricardo William Muotri et al23, eles relatam a com-
plexidade da condição clínica do(a) paciente de TP devido aos diferentes conglomerados de
sintomas.
Para eles, é errado atribuir aos sintomas de um ataque/crise de TP apenas as manifes-
tações autonômicas da taquicardia24 e da dispnéia.25

20
Terminologia usada para descrever o que causa determinada infecção, doença ou alteração no organismo,
provém da etiologia, que é a ciência que estuda as causas e origens das doenças ou distúrbios da saúde, po-
dendo ser genética ou adquirida (Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. p. 304).
21
REY, Luís. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1999.
22
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 29.
23
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK, Márcio Antonini;1999. p. 210.
24
A taquicardia é caracterizada pelo aceleramento da frequência cardíaca, que passa dos cem batimentos por
minuto. Cf. MATOS, Charles H. F.; LEITE, Érika M. D. PDAMED – conteúdos em computadores de mão
para área médica. Disponível em: http://www.pdamed.com.br/diciomed/pdamed_0001_da.php# . Acesso em
17

O DSM-IV orienta que o diagnóstico seja feito a partir da síndrome. Para tanto, é ne-
cessário explicitar a característica de cada um dos sintomas apresentados em duas tabelas. A
Tabela 1 é baseada no DSM-IV da Associação Psiquiátrica Americana, que descreve o TP
sem agorafobia e com agorafobia (termo que definiremos a seguir), a partir de ata-
ques/crises recorrentes e inesperados, durante um mês ou mais, seguidos de: preocupação
persistente acerca de ter outros ataques/crises; preocupação acerca das implicações do ata-
que/crise ou suas consequências; e uma alteração comportamental significativa relacionada
aos ataques/crises. A Tabela 2 é apresentada a partir de uma lista de sintomas em sete con-
glomerados elaborada por McGrath & Bowker, publicada em 1987, conforme descrição
abaixo:

Humor: Apreensão, medo, impaciência, irritabilidade.


Pele: Sudorese, palidez.
Gastrointestinal: Boca seca, “nó na garganta”, cólicas abdominais,
náuseas, anorexia, diarreia.
Sistema Motor: Tensão muscular, tremores, agitação.
Cardiovascular: Palpitação, taquicardia, desmaio, dor torácica.
Respiratório: Pressão no peito, dispneia.
Neurológico: Tontura, parestesias, cefaleia, fraqueza.
Psicológicos: Obsessão, compulsões, despersonalização,
desrealização, fobia, ruminação. 26
Em seu livro Bases Biológicas dos Transtornos Psiquiátricos, Flávio Kapczinski et al
apresentam uma lista baseada nesta publicação do DSM-IV, só que resumida, contendo os
sintomas mais frequentes, treze ao todo. Eles afirmam que um ataque/crise de TP é identifi-
cado quando pelo menos quatro dos sintomas ocorrem simultaneamente. São eles:

1. Palpitação ou ritmo cardíaco acelerado; 2. Sudorese; 3. Tremores


ou abalos; 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento; 5. Sensações
de asfixia; 6. Dor ou desconforto torácico; 7. Náusea ou desconforto
abdominal; 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou
desmaio; 9. Desrealização (sensação de irrealidade) ou
despersonalização (estar distanciado de si mesmo); 10. Medo de
perder o controle ou enlouquecer; 11. Medo de morrer; 12.

1º de março de 2010.
25
A dispneia é uma subjetiva falta de ar, algumas pessoas podem apresentar esforço ao respirar ou respiração
curta. Cf. MATOS, Charles; LEITE, Érika M. D. Acesso em 1º de março de 2010.
26
MCGRATH, G; BOWKER, M. Common Psychiatric Emergencies: Apud. FIRST, M. B.; FRANCES, A.;
PINCUS, H. A. Manual de diagnóstico diferencial do DSM-IV. Porto Alegre-RS: Artes Médicas Sul, 2002.
p. 189.
18

Parestesias (anestesias ou sensações de formigamento); 13. Calafrios


ou ondas de calor.27
A partir destes quadros da síndrome do pânico, conseguimos perceber a gravidade do
quadro de um ataque/crise que, segundo os autores pesquisados, acontecem abruptamente,
alcançando seu pico em 10 minutos.

2.2.1 O TP seguido de Agorafobia


Como descrevemos anteriormente, o TP pode ser acompanhado de agorafobia. Segun-
do Barros Neto, estes casos são caracterizados pela ansiedade que toma conta do(a) paciente
quando ele(a) se vê em locais ou situações em que a saída ou o auxílio seja difícil na vigên-
cia de um ataque/crise de pânico. Desta forma, o indivíduo procura evitar algumas situações
como: estar sozinho em casa, em meio à multidão, andar de carro e ficar parado no trânsito,
andar de ônibus, metrô, avião, elevador, filas de bancos, ruas cheias, feiras etc. Para ele, a
intensidade e a frequência com que ocorrem estes sintomas de ansiedade são variadas, po-
dendo ser um leve desconforto diante dessas situações até casos em que o indivíduo não sai
de casa desacompanhado ou, em casos mais graves, deixando de sair de casa ou do quarto.
É comum que indivíduos necessitem de uma pessoa de confiança para ser capaz de enfrentar
tais situações.28
Gentil ainda acrescenta que, pelo fato dos ataques/crises serem espontâneos, a pessoa
é levada a um sentimento aversivo de que se repitam sem prévio aviso em um ambiente des-
conhecido, gerando assim um receio de exposição desnecessária. Por este motivo também
algumas pessoas limitam suas atividades sociais e profissionais com o intuito de preserva-
rem sua imagem.29

2.3 Procedimento dos pacientes durante um ataque/crise de TP


Segundo Gentil30 e Barros Neto31, frequentemente pessoas com ataques/crises de TP
procuram pronto-socorros com falsos alarmes de ataques cardíacos. Também é comum entre

27
KAPCZINSKI, Flávio; QUEVEDO, João; IZQUIERDO, Iván. Bases biológicas dos transtornos psiquiátricos.
Porto Alegre-RS: Artes Médicas Sul, 2000. p. 134.
28
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 21, 47-49.
29
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 41, 98, 99 e 102.
30
Ibid., p. 41.
31
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 21.
19

os pacientes de TP realizarem verdadeiras peregrinações em laboratórios e pronto-socorros


na tentativa de encontrarem uma causa para os sintomas. Exames investigativos são realiza-
dos sem que haja contudo alguma irregularidade ou anormalidades. Sem chegar a uma ex-
plicação plausível quanto às ocorrências, o (a) paciente passa a ter um agravamento da an-
siedade antecipatória, como já descrevemos anteriormente no item 1.2. Sendo assim, o fato
de não encontrar anormalidades físicas nos exames clínicos e nos exames laboratoriais não
significa que não haja nada com o (a) paciente.
Basicamente podemos perceber três aspectos que devem ser levados em consideração
durante um ataque/crise de TP em um indivíduo: os aspectos cognitivos, evidenciados pela
apreensão, os medos indefinidos, os sentimentos de morte, entre outros; os fisiológicos, co-
mo taquicardias, dispnéias, agitações etc; e os comportamentais, como, por exemplo, agora-
fobia, obsessão, compulsões, despersonalização, desrealização, fobia, ruminação.
Para que tenhamos um entendimento do ponto de vista da complexidade do diagnósti-
co do TP, veremos a seguir quais são as orientações e procedimentos necessários utilizados
pela medicina.

3 Diagnósticos, Assemelhações e Etiologias

3.1 O Diagnóstico
Para Barros Neto, o diagnóstico de TP não é tão simples de ser feito porque, mesmo
preenchendo os requisitos sintomáticos do TP, para confirmá-lo é necessário que outras pa-
tologias sejam descartadas. O diagnóstico precisa ser feito por um médico, de preferência
um psiquiatra. Para os casos cujos exames apresentam normalidade, o autor salienta:

(...) não dispomos de métodos laboratoriais suficientemente


refinados que possam detectar a presença do pânico, como, por
exemplo, um perfil bioquímico de neurotransmissores (...) A verdade
é que os instrumentos de que a medicina dispõe ainda estão longe do
ideal.32
A opinião de Barros Neto está fundamentada nas orientações do DSM-IV. Conforme
já mencionamos no item 2.2, os sintomas são imprescindíveis para um diagnóstico de TP,
porém é importante salientar que eles podem estar associados a outros Transtornos Ansio-
sos, como também já descrevemos no mesmo item, ou também ligados a outros distúrbios

32
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 21 e 22.
20

orgânicos. Para tanto, o Manual orienta que, em primeiro lugar, é importante considerar
sobre o tipo de pânico pelo qual o paciente está acometido, se um pânico proveniente de
fobia, ou seja, marcado por ataques/crises a partir de um fator situacional, ou sem presença
de um fator situacional.
De acordo com o DSM-IV33, para que o diagnóstico diferencial do TP seja concluí-
do, é fundamental descartar possíveis patologias cujos sintomas se assemelhem ao do TP,
como, por exemplo, patologias do campo da medicina geral e cardíaca – hipertireoidismo34,
feocromocitoma35 e o prolapso da válvula mitral36; possíveis ingestões de medicamentos em
grandes doses ou em longos períodos, durante o processo de abstinência, podem levar a um
ataque/crise de pânico, que não necessariamente seja um ataque/crise de TP; ingestão de
cafeína em grandes doses ou de substâncias que contenham cafeína. Mesmo não havendo
motivo aparente, é importante verificar se o ataque/crise ocorreu uma única vez, o que pode
ser entendido como um Transtorno de Ajustamento37.
Observamos acima que um paciente com ataques/crises consecutivos e agudos de
pânico, que não apresenta causa situacional e que não manifesta as patologias mencionadas,
é um potencial portador(a) do TP. A seguir veremos algumas relações entre TP e outras pa-
tologias.

3.2 Asma Brônquica


Gentil nos traz informações importantes a partir de pesquisas realizadas no Ambula-
tório de Ansiedades do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP – AM-
BAN. Estudos mostram associação entre pânico/agorafobia e asma brônquica.38

33
KAPCZINSKI, Flávio; QUEVEDO, João; IZQUIERDO, Iván; 2000. p. 104 e 105.
34
Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido
pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma
produção deles nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda
de peso, hiperatividade, exoftalmia. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 10 de abril de 2010.
35
Tumor da medula da suprarrenal, podendo localizar-se também em região para-aórtica, secretando nível exces-
sivo de adrenalina, provocando intensos picos hipertensivos. Eleva a dosagem do ácido vanil mandélico na
urina e das catecolaminas no sangue. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 10 de abril de 2010.
36
Denominação atribuída à posição peculiar de uma das cúspides da válvula mitral, na contração do ventrículo
esquerdo. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 10 de abril de 2010.
37
A característica essencial de um Transtorno de Ajustamento é o desenvolvimento de sintomas emocionais ou
comportamentais significativos em resposta a um ou mais estressores psicossociais identificáveis. Cf. FIRST;
PINCUS, DSM-IV, 2000.
38
Perturbação da respiração que se caracteriza por crises recorrentes de dispneia (dificuldade de respirar), com
"chiado" característico, devido a um estreitamento da luz dos brônquios e bronquíolos. Durante o acesso as-
mático, a mucosa dos brônquios torna-se espessada, produzindo grande quantidade de muco, enquanto os
21

Foram avaliados 107 pacientes da Liga de Asma do Hospital das Clínicas; destes,
19,6% apresentaram transtornos fóbicos-ansiosos; 13,1%, agorafobia sem histórico de TP;
6,5%, TP (destes, 83% apresentavam TP com agorafobia); 5,6% apresentaram fobias especí-
ficas; 4,7%, fobias sociais39.
O estudo mostrou um resultado maior que o esperado, 49,5% dos pacientes apresen-
taram algum tipo de associação com transtornos ansiosos. Assim ele conclui que:

(...) pacientes asmáticos que forem constitucionalmente vulneráveis


aos transtornos ansiosos terão o mais alto risco para a associação
destas doenças, uma vez que, supostamente, são mais suscetíveis aos
efeitos da dispneia, hiperventilação40 e medicamentos com ação
estimulante sobre o SNC [Sistema Nervoso Central] usualmente
prescritos para asma. Além disso, a ansiedade pode deflagrar ou
agravar uma crise de asma, e o comportamento de esquiva pode se
tornar tão intenso que nem o médico nem o paciente sabem se os
objetos evitados o estão sendo por motivos psicológicos, fisiológicos
ou ambos. Isso pode resultar em prejuízos sociais e funcionais
desproporcionalmente altos em relação às medidas objetivas da
disfunção respiratória.41
Este é mais um cenário complicador para um diagnóstico correto, tanto para os casos
cujo paciente sofre de asma, quanto para os pacientes que sofrem de TP, que, ao receberem
um diagnóstico equivocado, poderão iniciar um tratamento que não condiz com a realidade
de sua patologia. Gentil salienta que frequentemente isso ocorre devido à semelhança dos
sintomas e que dificilmente estes pacientes recebem tratamento psiquiátrico. O diagnóstico
equivocado de Asma, enquanto o paciente sofre de TP, pode agravar o seu estado clínico.
Quando ele inicia o tratamento com aerossóis e corticosteroides, estes medicamentos podem
aumentar o risco de novos e frequentes ataques/crises de pânico.42

músculos lisos das paredes brônquicas se contraem, diminuindo o calibre dos brônquios, o que dificulta a
passagem do ar, dando origem à "chiadeira". O tratamento visa dilatar os brônquios e proporcionar melhoria
da condição respiratória, além de tranquilizar o paciente, que se torna aflito durante o acesso, com sensação
de morte próxima. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 19 de abril de 2010.
39
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 38.
40
Um ritmo de ventilação pulmonar mais rápido do que é metabolicamente necessário para a troca de gases. Ela
é o resultado do aumento na frequência da respiração, um aumento no volume de ventilação pulmonar ou a
combinação de ambos. Ela causa um excesso na tomada de oxigênio e na expulsão de dióxido de carbono.
Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 19 de abril de 2010.
41
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 38 e 39.
42
Ibidem.
22

3.3 Tabagismo
Rafael Christophe da Rocha Freire et al, em seu artigo “O tabagismo e o transtorno do
pânico: gravidade e comorbidades”, menciona estudos recentes que indicam uma elevada
prevalência de tabagismo em pacientes com transtornos psiquiátricos, entre eles, TP. O TP,
assim como os ataques/crises, está intimamente ligado ao hábito de fumar. Embora sua pes-
quisa, realizada no Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tenha apresentado resultados não muito signi-
ficativos devido às várias limitações que tinha, ele cita uma pesquisa realizada por Michael
J. Zvolensky et al, que estudou o efeito do tabagismo em pacientes com TP. Esta pesquisa
evidenciou maior intensidade dos sintomas de ansiedade, maior ansiedade antecipatória,
maior comprometimento funcional devido ao agravamento dos ataques/crises de pânico e
mais complicações clínicas em pacientes com TP fumantes do que em não fumantes.43

3.4 Hipocondria
As assemelhações não param por ai. No artigo publicado por Albina Rodrigues Torres
e André Luiz Crepaldi, eles consideram comorbidades44 entre hipocondria45 e TP. Segundo
pesquisas, de 50% a 70% dos pacientes com TP apresentam sintomas hipocondríacos, e de
13% a 17% dos hipocondríacos são portadores de TP. Pacientes com TP apresentam preo-
cupações exageradas quanto a sua saúde antes do primeiro ataque/crise de pânico, o que
pode ser considerado um sintoma indicativo inicial da doença. Esta relação está diretamente
ligada aos sintomas cognitivos, conforme já descrevemos, e inicia a partir da preocupação
exacerbada quanto à origem dos sintomas. É comum encontrar pacientes com o seguinte
pensamento: “se me sinto repetidamente tão mal fisicamente a ponto de achar que estou

43
FREIRE, Rafael Christophe da Rocha et al. O tabagismo e o transtorno do pânico: gravidade e comorbida-
des. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul [online]. 2007, v. 29, n. 3 [citado 2009-12-10], p. 281-285 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082007000300007&lng=pt&nrm=iso>.
ISSN 0101-8108.
44
Doenças que se associam a uma doença principal, somando-se em agravamento do quadro. Cf. MATOS; LEI-
TE, Acesso em 20 de abril de 2010.
45
Medo exagerado de doença; preocupação doentia com a saúde. 2 - Síndrome neurótica em que o indivíduo é
acometido de preocupações exageradas, sem razões reais, relativas à sua saúde, no que demonstra uma certa
fragilidade e mecanismo primitivo de defesa do ego. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 20 de abril de 2010.
23

morrendo, deve haver algo de muito grave com meu organismo”46. Os autores afirmam a
partir de suas pesquisas que a alta frequência de sintomas hipocondríacos no TP se deve ao
fato de haver um ponto central, a ansiedade, que desencadeia outros mecanismos: “a) a dis-
torção cognitiva na avaliação da saúde; b) o maior estado de alerta nos próprios processos
fisiológicos; e c) a ativação do sistema nervoso autônomo, cujas manifestações seriam in-
terpretadas pelo paciente como disfuncionais”.47
Embora seja comum pensar que comportamento hipocondríaco surja secundário aos
ataques/crises de pânico, foi possível constatar em pesquisa que cerca de 85% dos pacientes
apresentaram medos e crenças hipocondríacas antes do primeiro ataque/crise de pânico, e do
total de pesquisados 35% dos pacientes de TP apresentaram comorbidades entre hipocon-
dria e TP48.

3.5 Hereditariedade e Fisiológico


Bernik, em seu artigo, diz haver fortes indícios de hereditariedade entre 15% e 25%
dos pacientes de TP que possuem casos dessa patologia na família, e entre gêmeos monozi-
góticos a taxa é ainda maior, 40%.49
Entretanto, para Gentil isso não deve ser suficiente para se concluir como a principal
causa do aparecimento do TP na maioria dos pacientes. Ele ainda afirma que, do ponto de
vista neuroquímico, “ataques de pânico são manifestações disfuncionais do sistema nervo-
so” e que segundo recentes pesquisas “revelam alterações na atividade metabólica cerebral
de subgrupos de pacientes” com TP, embora estudos mereçam melhor aprofundamento.50
Os principais sistemas envolvidos na fisiopatologia dos ataques de pânico são acome-
tidos por basicamente três disfunções, entre elas:
a) noradrenérgico: um significativo aumento dos disparos elétricos do noradrenérgico cen-
tral, que é responsável pelo processamento sensório-motor do organismo e pela capacidade

46
TORRES, Albina Rodrigues; CREPALDI, André Luiz. Sobre o transtorno de pânico e a hipocondria: uma
revisão. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo, v. 24, n. 3, set. 2002. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462002000300009&lng=pt&nrm=iso>. aces-
sos em 10 dez. 2009.
47
Ibidem.
48
Ibidem.
49
BERNIK, Vladimir; abril 1999. p. 210.
50
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 64.
24

de reação, em termos gerais. O noradrenérgico também é responsável pela manutenção do


equilíbrio dinâmico do organismo51;
b) serotonérgico: uma disfunção acontece por causa de uma supersensibilidade do receptor
pós-sináptico 5HT da serotonina52, que “é o principal neurotransmissor do núcleo mediano
de rafe, importante estrutura do sistema cerebral aversivo”. Com isso há um significativo
aumento da ansiedade e de esquiva53;
c) gabaérgico: três teorias envolvem a participação do receptor BDZ/GABA.54 A primeira
teoria sugere que uma determinada substância ansiogênica, ou seja, uma substância que cau-
sa ansiedade, combinada a este receptor, produziria um efeito que poderia provocar um au-
mento excessivo do quadro de ansiedade. A segunda sugere uma deficiência de um ansiolí-
tico combinada a este receptor, que, em altas dosagens, poderia levar a um transtorno ansio-
so generalizado ou em ingestão periódica poderia causar ataques/crise de pânico. E por fim,
uma anormalidade em seu funcionamento, provocando algumas formas de ansiedade.55
A partir do exposto sobre o diagnóstico do TP, pudemos perceber as dificuldades dos
profissionais de saúde em identificar a patologia do pânico, bem como suas possíveis cau-
sas. Estudos apontam para um avanço significativo das pesquisas, uma vez que em laborató-
rio já é possível induzir pacientes de TP a terem ataques/crises de pânico utilizando inala-
ções de misturas gasosas de CO2 a 35% e O2 a 65%. A indução de ataques/crises em ambi-
entes controlados possibilita para os pesquisadores observarem mais de perto os sintomas,
sua duração e efeitos. Com este avanço, é possível conhecer cada vez mais a patologia na
busca de tratamentos cada vez mais efetivos.56

51
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 65.
52
Um mensageiro bioquímico e regulador, sintetizado a partir do aminoácido essencial L-Triptofano. Em huma-
nos é geralmente encontrada no sistema nervoso central, no trato gastrointestinal e nas plaquetas sanguíneas.
A serotonina está envolvida em importantes funções fisiológicas, incluindo neurotransmissão, motilidade
gastrointestinal, homeostase e integridade cardiovascular. Múltiplas famílias de receptores (receptores de se-
rotonina) explicam o amplo espectro de ações fisiológicas e distribuição deste mediador bioquímico. Cf.
MATOS; LEITE, Acesso em 26 de abril de 2010.
53
ENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; p. 66.
54
Ativador do metabolismo cerebral. Coadjuvante da terapêutica anticonvulsivante. Indicado para transtornos de
aprendizagem em crianças e retardo mental. Complemento terapêutico em sequelas de acidentes vasculares
cerebrais e de arteriosclerose. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 26 de abril de 2010.
55
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 67.
56
VALENCA, Alexandre M et al. Ataques de pânico provocados pelo dióxido de carbono: estudo clínico-
fenomenológico. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, v. 23, n. 1, mar. 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000100005&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 10 dez. 2009.
25

3.6 Stress
Jerilyn Ross, uma das principais especialistas de distúrbios de ansiedade dos USA,
aponta em sua obra o fator stress como um possível desencadeador dos ataques/crises de
TP. Para a autora, todos têm certas vulnerabilidades biológicas que podem ser afloradas sob
situações de pressão ou stress. Algumas pessoas, diante dessas circunstâncias, podem reagir
com uma dor de cabeça ou colites57, outras estão biologicamente predispostas a ataques de
pânico. A autora aponta algumas situações desencadeadoras de stress como à necessidade
de adaptações drásticas, a exemplo, mudança de cidade, que se faz necessário readaptar todo
o ciclo social e profissional; perdas como separação de casais, luto, trabalho; exposição a
situações extremas de medo e pânico gerando stress pós-traumático; entre outros.58 Esclare-
ce ainda Gentil sobre este tema em sua obra:

“Nos últimos anos, em particular desde a guerra do Vietnã, a


psiquiatria passou a se preocupar com as chamadas reações ao
estresse grave e transtorno de adaptação. São incluídos nessa
categoria os quadros de alteração psíquica causados por situações
vivenciais anormais. Um evento especialmente estressante pode
provocar uma reação aguda ao estresse, ou uma mudança
significativa de vida, que leve à permanência de circunstâncias
desagradáveis, pode provocar um transtorno de adaptação.”59
Salienta ainda a psicóloga Marina P.R.Boccalandro que situações de tensão e stress,
incidem na mudança do ritmo respiratório, que em alguns casos torna-se muito rápida. Essa
respiração prolongada, pode proporcionar sensações somáticas como dificuldade de respi-
rar, palpitações, dores no peito, enjôos, sudorese e tremores, sinais de ataques/crises de pâ-
nico.60 Por isso, técnicas de relaxamento são importantes no tratamento do TP, como vere-
mos mais adiante ao apresentarmos os principais tratamentos disponíveis para o TP.

4 Tratamentos
Como vimos até aqui, pessoas que sofrem de TP levam uma vida bem difícil se le-
varmos em conta as gravidades dos ataques/crises, a dificuldade de diagnóstico e a busca de
uma origem concreta para um tratamento coerente, porém é importante salientar que nin-

57
Inflamação aguda ou crônica do cólon. Cf. MATOS; LEITE, Acesso em 02 de novembro de 2010.
58
ROSS, Jerilyn. Vencendo o medo: um livro para pessoas com distúrbios de ansiedade, pânico e fobias; tradu-
ção Pedro Maia Soares. São Paulo-SP:Ágora, 1995. p. 45-47 e 237-239
59
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; São Paulo, 1996. p. 43.
60
BOCCALANDRO, Marina Pereira Rojas. Sob o domínio de Pã(nico): um estudo do transtorno do pânico
através da psicossíntese. São Paulo-SP: Vetor, 2003. p. 55.
26

guém morre de pânico. Para Barros Neto, “pessoas morrem em consequência de acidentes
automobilísticos, atropelamentos, doenças físicas graves, mas não de pânico”. Nesta pers-
pectiva, ele orienta aos pacientes que busquem um acompanhamento com profissional para
que ele indique o melhor tratamento, que pode variar entre medicamentoso e associado com
algum tipo de psicoterapia.61 Entretanto é preciso entender, segundo Gentil, que não se pode
tratar um TP como sendo apenas de causa psicológica. Ele salienta:

De fato, dizer que a causa é psicológica, além de incorreto, é


antiterapêutico, pois, devido à nossa tradição cultural, isso implica
atribuir a responsabilidade ao próprio paciente, que não tem como
assumir a gênese de manifestações com evidentes alterações
biológicas como estas. O psiquiatra e professor de psiquiatria Arnold
Cooper (1985) salientou que, ao se interpretar psicodinamicamente
estados depressivos, ansiosos e disfóricos de algum paciente, corre-
se o risco de reforçar defesas masoquistas em pessoas que tentam
racionalizar e assumir responsabilidade por fenômenos que não estão
sob seu controle. Isso, segundo Cooper, é um mal-entendido cruel.62
Um diagnóstico preciso não é garantia de um tratamento correto. Esta imprecisão
também traz problemas para o paciente, o que pode contribuir para sua desmoralização e-
mocional. Vejamos alguns tipos de tratamentos mais indicados para o TP.

4.1 Farmacológicos
Assim como Barros Neto, Gentil afirma que o tratamento farmacológico escolhido pe-
lo psiquiatra deve ser aplicado juntamente com técnicas psicológicas que visem o manejo da
ansiedade antecipatória.63
Barros Neto salienta ainda em seu livro que os medicamentos mais utilizados para o
tratamento do TP são os antidepressivos. Entre eles estão:
• Clomipramina (Anafranil);
• Imipramina (Tofranil);
• Paroxetina (Aropax).
A Paroxetina é um medicamento relativamente recente e possui eficácia significativa
no controle dos ataques/crises de TP. Contrariando um paradigma relativamente comum,
Barros Neto esclarece que os antidepressivos não causam dependência física. Todavia, ao

61
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 22.
62
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 103.
63
Ibid., p. 140.
27

término do tratamento, o medicamento precisa ser retirado diminuindo a dosagem gradati-


vamente até que seja eliminado por completo. Ao contrário, no início do tratamento, são
inseridas baixas doses do medicamento, e gradualmente vão aumentando até que o paciente
obtenha o controle dos sintomas. É comum observar neste início uma piora em relação aos
sintomas, porém em poucos dias o paciente sente-se melhor. Para os pacientes que não con-
seguem conviver com este estado de piora inicial, é necessário associar ao tratamento o uso
de tranquilizantes da classe dos benzodiazepínicos, como, por exemplo, o clonazepan (Rivo-
tril). Geralmente, após o acerto de dosagem e término das síndromes, o paciente permanece
em tratamento geralmente por 12 meses, período chamado pelos médicos de “período de
manutenção”. Durante este período podem surgir efeitos colaterais, entre eles:
• Boca seca;
• Aumento ou diminuição do apetite;
• Prisão de ventre;
• Taquicardia;
• Tremores;
• Visão embaçada;
• Sudorese;
• Náusea;
• Dificuldade para urinar;
• Tontura;
• Dor de cabeça;
• Sonolência ou insônia;
• Diminuição do desejo sexual;
• Ausência de orgasmo.
Segundo o autor, com o passar do tempo os efeitos colaterais passam a ser tolerados
pelos pacientes. A partir de estudos realizados em pacientes em tratamento de TP durante
três anos, 80% apresentaram recaída após a retirada dos medicamentos, em tempos alterna-
dos. Este resultado revela que o tratamento não significa cura imediata, tendo o paciente de
voltar a fazer uso de antidepressivos por tempo indeterminado. Este é um dos motivos de
desistência do tratamento por muitos pacientes, afirma Barros Neto.64

64
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 22-24.
28

4.2 Terapias
Diversas técnicas podem ser aplicadas para o tratamento do TP. Como já vimos, e rei-
teramos, pesquisas mostram que um tratamento medicamentoso associado com tratamentos
terapêuticos diminui o risco de recaídas dos pacientes com o passar do tempo.65 Para Barros
Neto, em alguns casos resta apenas este tratamento, uma vez que os medicamentos não po-
dem ser utilizados. Esses casos são descritos como pacientes que:

(...) não aceitam a ideia de ter que tomar um remédio para


permanecer bem, sobretudo se (...) não houver um prazo
determinado para a sua retirada. Ademais, circunstâncias
particulares, como gravidez ou aleitamento, além de algumas
doenças físicas, podem restringir ou até mesmo contraindicar o uso
de antidepressivos. Em todos esses casos, as técnicas
comportamentais e cognitivas são de grande valia.66
Descreveremos a seguir as terapias comportamentais e cognitivas mais utilizadas no
tratamento do TP.
Miréia C. Roso e Francisco Lotufo-Neto relatam a importância do início do tratamen-
to. É necessário realizar um levantamento de todo o histórico dos ataques/crises, sensações,
atitudes tomadas e comportamentos, comportamento das pessoas que se encontravam pró-
ximas durante os ataques/crises, crenças pessoais sobre as causas do problema e condições
de personalidade que dificultam ou facilitam o tratamento. Ensinam-se técnicas de relaxa-
mento e respiração, com o intuito de mostrar para o paciente que ele tem controle sobre o
corpo e com isso impedir a hiperventilação. Durante o tratamento, orienta-se o paciente
quanto à necessidade de ele não lutar contra os ataques/crises de pânico, são esclarecidos os
desenvolvimentos naturais dos sintomas e que o lutar só levará a uma descarga de adrenali-
na, o que pode prolongar e piorar a síndrome. Os sintomas devem passar sozinhos, o tempo
se incumbirá de levá-los embora.
Os autores apresentam, para estes episódios, técnicas cognitivas que podem ser muito
úteis, como, por exemplo, focalizar a atenção no que acontece no ambiente ao invés de pen-
samentos catastróficos, frases prontas podem ser escritas em cartão que remetam a pessoa à
consciência de que esta situação é passageira.

Em geral agorafóbicos abandonam o tratamento, por isso é importante que o terapeuta crie
elos de relacionamentos calorosos com o paciente. Exercícios de exposição precisam ser

65
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 24.
66
Ibidem.
29

promovidos para que o paciente aprenda a enfrentar o problema ou possíveis estímulos de-
sencadeantes internos. Salienta ainda mais Roso e Lotufo-Neto:

Recomenda-se exercícios de hiperventilação, exercício físico,


imaginar-se em situações que costumam desencadear ataques de
pânico, ler em voz alta pares de palavras que, em sequência,
descrevem uma sensação corporal e uma consequência catastrófica
(falta de ar = sufocar, palpitações = morrer, por exemplo). Muitos
pacientes com um programa deste tipo relatam suportar os ataques
de pânico e a ansiedade, embora eles não desapareçam totalmente.67
Grupos de apoio podem ser úteis para auxiliar os pacientes a entenderem melhor
seus problemas, garantem Roso e Lotufo-Neto. O testemunho do outro pode ser um recurso
viável para encontrar forças para sair desta condição. É comum os membros desenvolverem
um alto grau de coesão, auxílios mútuos durante os exercícios, o que torna o tratamento
mais fácil e produtivo para todo o grupo.68
Embora não haja ligação entre o ambiente familiar e o desenvolvimento do TP, é co-
mum a relação com a manutenção. Parentes, sem saber exatamente o que está acontecendo,
sentem-se frustrados por causa das limitações em não poder ajudar, com isso podem agir
com hostilidade ou até mesmo temer que algo grave esteja ocorrendo. Por este motivo, Roso
e Lotufo-Neto salientam quanto à importância em desenvolver uma terapia familiar, com
um trabalho terapêutico visando estimular o desenvolvimento de um clima de super-
proteção em paciente e família.

4.3 Exercícios Aeróbicos


O exercício físico é apontado como uma forma de terapia para o tratamento do TP,
sobretudo para os subtipos ansiosos ligados aos agravamentos respiratórios. Estudos recen-
tes apontam melhora significativa em pacientes em tratamento de TP utilizando medicamen-
tos e submetidos a exercícios aeróbicos de corrida. O mesmo estudo apresenta também um
grande índice de desistência dos pacientes em relação ao tratamento, 31%. Isso se deve ao
fato de que os pacientes de TP interpretam mudanças autonômicas provocadas pelos exercí-
cios físicos como sendo um gatilho para o início de ataques/crises de pânico, o que ocasiona

67
ROSO, Miréia C; LOTUFO-NETO, Francisco. Terapias Psicológicas para os transtornos ansiosos. Pânico,
fobias e obsessões. São Paulo-SP: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p.153, 160, 161.
68
Ibid., p. 162.
30

uma aversão aos exercícios físicos. Ricardo Willian Muotri et al propõe o tratamento de
ataques/crises de pânico a partir de exercícios físicos:

O estudo do exercício como uma forma mais prazerosa de terapia de


exposição a estímulos interoceptivos, visando modificar o
condicionamento catastrófico das sensações corporais, sugere uma
melhora na qualidade de vida dos pacientes com transtorno de
pânico.69
O fato de pessoas adquirirem um sentimento de esquiva aos exercícios físicos é mais
um fator de risco que se deve considerar. O artigo de Muotri apresenta um dado preocupan-
te: ele observa que pessoas com TP, ansiedade e fobia possuem de três a cinco vezes mais
chances de desenvolver alguma coronariopatia ou ter morte súbita. Por este motivo também
os exercícios físicos devem ser praticados entre os pacientes com TP.
Procuramos neste primeiro capítulo apresentar o TP como ele é de fato. Nossa inten-
ção quanto às informações sobre a patologia chegam em seu objetivo. Entendemos as con-
dições patológicas e clínicas, identificamos as principais dificuldades da experiência dos
ataques/crises, das peculiaridades para se chegar a um diagnóstico até os tratamentos mais
utilizados. A partir do próximo capítulo, procuraremos responder novas perguntas até que
alcancemos nosso objetivo maior: uma ação pastoral condizente com a realidade humana.

69
MUOTRI, Ricardo William; NUNES, Rafael Pinto; BERNIK, Márcio Antonini; 2007. p. 329.
CAPÍTULO 2

O SOFRIMENTO E O MEDO COMO CONDIÇÃO

HUMANA A PARTIR DE UMA VISÃO BÍBLICA E

HISTÓRICA.

Como vimos no primeiro capítulo, o medo excessivo pode se tornar patológico, embo-
ra não há como precisar uma única causa, mas um conjunto de fatores que desencadeiam os
sintomas. Pudemos também observar os diversos Transtornos Ansiosos e seus sintomas, o
que é muito relevante para que possamos distingui-los em relação ao TP.
Em nossas pesquisas, pudemos perceber que muitos atribuem a patologia a fatores do
cotidiano como o stress, outros, entretanto, dizem que o TP, bem como a depressão, são
doenças da modernidade e até mesmo devido a uma disfunção hormonal. Não é difícil en-
contrarmos em alguns discursos religiosos, àqueles que afirmam que, este tipo de doença
existe no ser humano como um sinal da desobediência, pecado ou até mesmo como uma
ação demoníaca na vida do(a) indivíduo(a). Neste capítulo observaremos esses discursos, o
cerne de sua teologia e suas raízes. Mostraremos o sofrimento e o medo como uma condição
humana e presente na humanidade através dos relatos e em expressões do Antigo e Novo
testamento. Por fim, apresentaremos o discurso do medo como um cuidado durante a pro-
clamação da Palavra e a valorização do anúncio do Cristo que cura, salva e liberta como um
prévio anúncio de diretriz pastoral.
32

1 O Discurso da Prosperidade Integral


Esse assunto é muito bem abordado por Ricardo Mariano em seu livro Neopentecosta-
lismo: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. O autor apresenta a Teologia da Pros-
peridade como uma afirmação de que os(as) cristãos(ãs) como filhos(as) do Rei, são cria-
dos(as) para o êxito e para a vitória. Por isso todos devem comer a melhor comida, vestir as
melhores roupas, ter os melhores carros, obter riquezas e não adoecer. O autor enfatiza ain-
da que:

“Com promessas de que o mundo seria locus de felicidade,


prosperidade e abundância de vida para os cristãos, herdeiros das
promessas divinas, a Teologia da Prosperidade veio coroar e
impulsionar a incipiente tendência de acomodação ao mundo de
várias Igrejas pentecostais aos valores e interesses do “mundo”, isto
é, à sociedade de consumo.”70
O autor constata esse tipo de apelo presente inclusive em folhetos de divulgação das
Igrejas. Os anúncios sobre Jesus e seu Reino, já não são mais importantes, o objetivo é di-
vulgar os serviços que a Igreja presta para os fiéis. Como exemplo, ele comenta sobre o
panfleto distribuído pela Casa da Benção, cujo nome já proclama sua missão:

Distribuído pela Casa da Bênção, o folheto intitulado Qual é o seu


problema?, já com as prováveis respostas incluídas, como
“desemprego, sentimental, financeiro, vícios, enfermidades,
nervosismo, depressão, familiar, divulga as especialidades
terapêuticas da Igreja conforme o dia da semana. Com calendários
idênticos aos da Universal e Internacional da Graça, uma das sedes
da Casa da Bênção em São Paulo realiza às sextas-feiras a Corrente
da Libertação. Nela, os pastores fazem orações por “todos que têm
os seus caminhos amarrados por obras de bruxaria, feitiçaria,
macumbaria, inveja, olho grande, pessoas que tiveram contatos com
entidades, que ouvem vozes, vêem vultos”. Quando combatidos nos
cultos, os demônios são devidamente identificados pelos respectivos
nomes e qualidades, tal como os denominam os próprios pais e
mães-de-santo. Da mesma forma, os diferentes tipos de sofrimento e
infortúnio dos fiéis são atribuídos esteriotipadamente à ação de tal
ou qual entidade demoníaca.71
Segundo Mariano, essa doutrina, de solução de todos os problemas, utilizada pelas I-
grejas Neopetencostais, emerge das doutrinas dos movimentos americanos da década de 40
conhecidos como: Healt and Wealth Gospel (Evangelho da Saúde e Riqueza), Faith Move-

70
MARIANO, Ricardo. Neopentecostalismo: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo-SP: Edi-
ções Loyola, 1999. p. 149.
71
Ibid., p. 128.
33

ment (Movimento Fé), Faith Prosperity Doctines (Doutrinas de Fé e Prosperidade), Positive


Confession (Confissão Positiva) entre outros. O que de fato somente ganha caráter doutriná-
rio na década de 70 com os grupos carismáticos americanos, em destaque o texano Kenneth
Hagin. A doutrina afirma que pela Fé no nome de Jesus, os cristãos podem possuir tudo o
que determinarem, desde saúde perfeita, ou cura de enfermidades, prosperidade material,
triunfo sobre o diabo, vida plena e felicidade – respeitando-se o princípio da reciprocidade,
ou seja, é “dando que se recebe”.72
Mariano esclarece ainda que alguns pregadores chegam a afirmar que os cristãos(ãs)
por possuírem a mesma natureza de Deus, gozam de autoridade e poder para trazer coisas a
existência. Já outros mais radicais, afirmam que o homem ao “nascer de novo” adquire a
própria natureza divina, ou seja, este “cristão” torna-se um deus.73
Diante deste discurso, sabemos que o sofrimento, a miséria, as enfermidades também
estão presentes nestas comunidades. É aí que o discurso de possessão entra em ação, como
um mecanismo de defesa desta teologia, como afirma Mariano:

“Prevenidos quanto às possíveis frustrações, estes pregadores alegam


que a responsabilidade pelos males é do homem, do Diabo e das
legiões de demônios. Isto é, as bênçãos não são alcançadas pela
inabilidade do fiel em confessá-las, por sua falta de fé, pelo
cometimento de pecados ou por sua escravidão a Satanás e, portanto,
às maldições por ele enviadas.”74
Há também outra corrente que afirma que as doenças são fruto da mão de Deus pesan-
do sobre a vida da pessoa, seja para castigar ou para prová-las.75 Esta idéia de um Deus vin-
gador e tirano é muito bem trabalhada por Jean Delumeau em sua obra, História do Medo
no Ocidente. Ele a define com a teologia do Deus terrível, que ganhou força no Ocidente a
partir das cascatas epidemiológicas iniciando com a peste negra, sífilis, fome, passando pe-
las guerras entre outros. Estas afirmações eram particularmente presentes nos discursos reli-
giosos. Todavia, não era difícil de vê-las entre os mais cultos, ou seja, quando a ciência,
ainda caminhando a passos lentos, não dava conta das respostas. Como exemplo, o autor
cita o discurso idêntico do Arcebispo de Toledo, Carranza, e do cirurgião A. Paré justifican-
do o surgimento da sífilis:

72
MARIANO, Ricardo; 1999. p. 151 a 154.
73
Ibid., p. 155.
74
Ibid., p. 155 e 156.
75
LEPARGNEUR, Hubert. Antopologia do Sofrimento. Aparecida-SP: Editora Santuário, 1985, p. 10.
34

“Há duas causas da sífilis [escreve o cirurgião francês] a primeira


vem por uma qualidade, específica e oculta, a qual não está sujeita a
nenhuma demonstração; pode-se contudo atribuí-la à ira de Deus,
que permitiu que essa doença caísse sobre o gênero humano para
refrear sua lascívia e desregrada concupiscências. A segunda é por
ter companhia de homem ou de mulher que tenha a dita doença”.76
Delumeau, faz diversas referências sobre a lógica da Idade Média que atribuía as ca-
lamidades como sinal do peso da mão de Deus. Alguns relatos descrevem Deus como sendo
o responsável por enviar as pestes, as guerras e as fomes por intermédio de espíritos malig-
nos, que eram executores da justiça divina.77 Constatamos assim, ainda um resquício do
pensamento medieval na afirmação da Teologia da Prosperidade.
Mariano salienta que, se de fato Deus é capaz de ferir seus servos pelo prazer de re-
preendê-los ou de simplesmente fortalecê-los na fé, Ele passa a ter uma cota de responsabi-
lidade no sofrimento humano, já não há mais um caráter libertador na personalidade divi-
na.78 O autor avalia esse aprisionamento na vida do(a) cristão(ã):

“Diante da crença de que devem ser prósperos, felizes e gozar de


saúde, os fiéis tendem a se sentir culpados quando adoecem, ficam
desempregados ou enfrentam algum infortúnio... A culpa provém da
crença de que os males significam falta de fé, inaptidão em confessá-
la, ou resultam de algum ato de desobediência a Deus, situações que
tornam o crente vulnerável à maldade do diabo.”79
Como pudemos observar no primeiro capítulo, o TP provoca no paciente e em sua fa-
mília, uma grande incógnita ao passar por diversos médicos e após realizar diversos exames
sem nada constatar. O estado emocional deste(a) indivíduo(a) está completamente abalado
devido a doença e as incertezas sobre a origem dos sintomas. Neste momento, frequente-
mente, há uma intensa busca pelo esclarecimento, e as religiões passam a ser consultadas.
Diante de um discurso em que o paciente é apontado como o culpado pelo seu sofrimento, o
aprisionamento passa a ser ainda maior segundo Mariano, devido ao sentimento de culpa
que ele provoca no(a) indivíduo(a), o que a nosso ver, reproduzir esse tipo de discurso em
nossos púlpitos é um grande equívoco.
Desta forma, não queremos presunçosamente colocar em dúvida curas, milagres ou
limitarmos a ação de Deus, o que objetivamos é uma conscientização do problema e um

76
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada; tradução Maria Lucia
Machado; tradução de notas Heloísa Jahn. São Paulo-SP: Companhia das Letras, 2009. p. 335
77
Ibid., p. 336.
78
MARIANO, Ricardo; 1999. p. 176, 177.
79
Ibid., p.178.
35

encaminhamento coerente afim de que a enfermidade não ganhe proporções ainda mais ca-
tastróficas para o indivíduo como vimos no primeiro capítulo e como afirma o autor Erhard
S. Gerstenberger e Wolfgang Schrage em sua obra, Por que sofrer? O sofrimento na pers-
pectiva bíblica:

“Uma experiência básica da pessoa é o fato de o sofrimento ser


percebido profundamente como destino pessoal... Mas se a pessoa
pensar apenas em si e em seu sofrimento, acaba no desespero ou em
resignação apática. Decerto o último caso é bastante mais freqüente;
as estatísticas de suicídios não o contestam. O sofrimento pode
tornar o indivíduo apático, pode efetivamente matá-lo bem antes da
morte física. O sofredor aceita o destino, quem sabe até como
vontade de Deus. E pode, finalmente, - único consolo do
padecimento silencioso – morrer sem resistência.”80
Nosso intuito é evitarmos tais consequências, por isto precisamos olhar para o TP co-
mo uma condição patológica, e entendermos que este tipo de discurso não se encaixa como
uma solução libertadora para o(a) indivíduo(a), tendo em vista que, somos seres humanos,
frágeis, limitados e que não estamos isentos de ser acometidos de doenças ou sofrimentos
mesmo sendo cristãos, como veremos a seguir.

2 O Ser Humano e o sofrimento


O autor Ajith Fernando aborda a questão do sofrimento como uma condição humana,
e mais, ele afirma que os cristãos são chamados a assumirem seus aspectos de fragilidade
mesmo durante a caminhada de Fé:

“Gostaria simplesmente de afirmar agora que isto também é um


aspecto básico do cristianismo. O chamado básico de Jesus para
quem quisesse segui-lo era um chamado para o sofrimento: “Se
alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me” (Mt 16-24)... “No mundo tereis tribulações” (Jo 16.33)...
Quando alguns de seus futuros discípulos se apresentaram como
voluntários, ele apresentou a eles o custo em pontos onde eles eram
vulneráveis”.81
Para o autor, ser cristão não necessariamente implica em sofrimento, mas sua intenção
é apresentar o(a) cristão(ã) como ser humano, passível de sofrimento. A grande questão para
ele, é que o(a) cristão(ã) pode contar com Deus durante os momentos de crise, medo e so-

80
GERSTENBERGER, Erhard; SHRAGE, Wolfgang. Por que sofrer?: O sofrimento na perspectiva bíblica.
Traduzido por: Ilson Kayser, Leiden. São Leopoldo-RS: Sinodal, 2007.p.15.
81
FERNANDO, Ajith. Chamados para a dor e alegria: o valor do sofrimento para a vida cristã; tradução Carlos
Eduardo de Siqueira Lopes. São Paulo-SP: Vida Nova. 2009. p. 20, 21.
36

frimento, o que garante consolo e esperança para vencer as dificuldades da vida, ser cris-
tão(ã) sobretudo, é saber que em Deus há refúgio e auxílio, é ter a certeza de que Deus ca-
minha conosco e que Ele é a fonte de nossa alegria em meio às tribulações.82 Para Fernando,
a vida cristã não é só sofrimento, nem só alegria, mas esses dois sentimentos caminham jun-
tos83. Ele ainda, aborda um aspecto muito interessante da vida que muitos buscam calar,
para ele, antes que o cristão goze da alegria, é necessário passar pelo lamento:

“Os cristãos não precisam negar a dor. Em algum momento de suas


vidas, todos os cristãos experimentam a dor, o desânimo, a tristeza, a
raiva pelas coisas erradas e os infortúnios que os afetam. De nada
adianta negar esses sentimentos. Antes de nos alegrarmos em meio à
dor frequentemente precisamos chorar, lamentar ou expressar nossa
dor de alguma maneira, isto é, colocar para fora os nossos
sentimentos.”84
A Bíblia é repleta desta expressão de lamento, desde o Antigo Testamento até o Novo
Testamento. O livro dos Salmos apresenta expressões de lamentos em aproximadamente um
terço de seus salmos, superando os salmos de louvor, afirma o autor. Um dos livros da Bí-
blia leva o nome de Lamentações e boa parte dos livros proféticos com exceção de Ageu,
contem expressões de lamento. O autor ainda salienta que o lamento é o pranto dos justos
que apesar de sua fé, atravessam períodos de grandes sofrimentos.85 O autor nos alerta sobre
a necessidade de não sofrermos calados, e apresenta o lamento como um pedido de socorro
a Deus para que nos conforte.86 Desta forma podemos entender o lamento como um princí-
pio terapêutico, uma forma de externar sentimentos, mágoas, frustrações entre outros.
Para Erhard Gestenberger e Wolfgang Schrage, a questão do sofrimento é presente na
vida humana desde os tempos bíblicos do Antigo Testamento. O sofrimento pode ser visto
em diferentes contextos e de diferentes formas:

“O ser humano suscetível de sofrimento e nele calejado permanece o


mesmo nos diversos sistemas culturais e épocas da história. O
sofrimento se apresenta e atua em formas distintas; ele plasma a
experiência pessoal do sofrimento.”87
Os autores ainda constatam diversas experiências (causas) de sofrimentos, como por
exemplo: o sofrimento da perda de propriedades, semelhantes e honra; o sofrimento causado

82
FERNANDO, Ajith; 2009. p. 26, 27.
83
Ibid., p. 37.
84
Ibidem.
85
Ibid., p. 38-39.
86
Ibid., p.40.
87
GERSTENBERGER, Erhard; SHRAGE, Wolfgang; 2007. p. 16 e 17.
37

por doenças; o sofrimento da violência familiar, social e resultantes de guerras; o sofrimento


como causa do medo de espírito/demônios, de Deus, de homens, de inimigos, da culpa do
pecado e da injustiça; e por fim, o sofrimento provocado pelo fracasso.88
Como nosso objeto de pesquisa envolve o sofrimento a partir da experiência do medo,
nos ateremos a este aspecto a partir de então. Para Delumeau, o medo é uma condição ine-
rente ao ser humano, uma fragilidade humana89. O Medo faz parte da vida humana há muito
tempo, desde Genesis, encontramos a expressão do medo presente no Éden, sentimento dito
por Adão a Deus, após ter ouvido Sua voz (Gn 3.10). No livro mais antigo presente na Bí-
blia, Jó, o termo é utilizado em diferentes significâncias e contextos. Nossa intenção é escla-
recer como o discurso do medo atravessou os séculos e como ele se apresenta em nossos
dias.

3 O Medo e a Bíblia: Apontamentos gerais


O medo é uma expressão muito utilizada em toda a Bíblia, de modo que compreende-
mos este sentimento como sendo uma condição inerente aos seres humanos desde os relatos
mais antigos.
Veremos a seguir as várias expressões de medo e seus distintos significados presentes
no Antigo Testamento e no Novo Testamento.

3.1 O Medo no Antigo Testamento


De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, há di-
versas palavras no hebraico para distinguir medos específicos.
A palavra t[;B. = ba’at, é empregada 15 vezes no Antigo Testamento e significa “ser
tomado de súbito terror, aterrorizar”. Este termo pode ser empregado para descrever o terror
ocasionado por um homem /mulher a outro(a). A exemplo o texto no livro de Ester no capí-
tulo 7 verso 6, em que Hamã é tomado de terror (ba’at) quando Ester revela seus intentos ao
Rei Assuero, que por conseguinte decreta a morte de Hamã na forca que preparara para
Mordecai.

88
GERSTENBERGER, Erhard; SHRAGE, Wolfgang; 2007. p.23-80.
89
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada; tradução Maria Lucia
Machado; tradução de notas Heloísa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. pg 23.
38

“v6. Respondeu Ester: O adversário e inimigo é este mau Hamã.


Então, Hamã se perturbou perante o rei e a rainha.
v7. O rei, no seu furor, se levantou do banquete do vinho e passou
para o jardim do palácio; Hamã, porém, ficou para rogar por sua vida
à rainha Ester, pois viu que o mal contra ele já estava determinado
pelo rei.”90
Entretanto ba’at é empregado, a maioria das vezes, para descrever o terror promovido
por forças divinas como por exemplo: Davi que não podia ir ao tabernáculo do Senhor que
Moisés fizera no deserto porque estava aterrorizado depois de ver a espada do anjo do Se-
nhor (1Cr 21.30); o mesmo termo é empregado ao descrever o espírito maligno que aterrori-
zava Saul (1Sm 16.14); Elifaz é tomado de terror e tremor ao sentir um espírito passando
próximo a ele (Jó 4.14); outro episódio é a visão de Daniel de um “ser semelhante a ho-
mem” que ao se aproximar dele, foi tomado de assombro (Dn 8.17). Ba’at é a reação tida
tanto pelo pecador, como pelo santo quando tem uma experiência com Yahweh. Ela enfatiza
o reconhecimento humano diante do poder e da grandeza de Deus. Termos derivados de
ba’at são: be’atâ = terror, medo, aflição e bi’utîm = terrores, situações de alarme ocasiona-
dos por Deus.91
A palavra dWG = gûr significa “estar temeroso, ter medo, ficar atônito”. Esta raiz tem

o sentido de estar intimidado diante de algo mais forte ou superior – é particularmente em-
pregado para descrever o medo entre homens e para com animais. No texto de Dt 1.17 – os
juízes são instruídos a não temerem a face de ninguém durante de um julgamento. Outro
texto que podemos mencionar, é a instrução de Yahweh quanto às ameaças de um falso pro-
feta que anuncia suas próprias palavras, a este, o povo não deve temer, pois o que fala não
procede de Deus. São derivados de gûr os termos, magôr = medo, terror e megôrâ = tam-
bém traduzido por, medo, terror.92
O termo drix; " harad é um termo muito utilizado para traduzir: estremecer, ir de um

lado para outro, ser (estar) agitado, assustado, tremer, ser (estar) temeroso. Seus termos de-
rivados são: hared = temeroso, trêmulo e haradâ = tremor, medo.

90
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo-SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
91
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo-SP: Vida Nova, 1998. p.203.
92
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo-SP: Vida Nova, 1998 p.257.
39

Em sentidos concretos, este verbo descreve tremer como espasmos físicos ou sísmi-
cos, como por exemplo, montes e terras - o tremer do monte Sinai com a presença de Deus
(Ex 19.18).

“v.18. Todo o monte Sinai fumegava, porque o SENHOR descera


sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma
fornalha, e todo o monte tremia grandemente.”93
A maior parte das ocorrências é para descrever o tremor causado como movimento fí-
sico de caráter emocional, diante de circunstâncias excepcionais, sejam elas: após a leitura
da Palavra de Deus, durante uma visão divina, desmoralização, apreensão diante de uma
situação específica entre outros. Hared , é usado para descrever a ansiedade de Eli, que se-
gundo o texto bíblico, estava com o coração tremendo diante da Arca do Senhor (1Sm
4.13).94
Outra palavra muito utilizada para descrever um estado de pânico, pavor é tti;x" hatat
– que significa: estar quebrantado, aniquilado, com medo, aterrorizado. Suas derivações vão
neste mesmo sentido. Em graus causativos: quebrar, aterrorizar, apavorar. A partir da idéia
básica que é “estar quebrado”, derivam-se outras palavras abstratas e secundárias, como:
“estar aniquilado” ou “estar em pânico”. A partir de hatat, e seus derivados, denota quatro
gamas de significados:
1. A Palavra qal - Quebra física: deprimido, abatimento; Quebra literal: terra fendida,
gretada, rachada devido à seca (Jr 14.4);

“A palavra, no entanto, tem, na maioria das vezes, significados


secundários. Descreve o pavor ou pânico de líderes militares cuja
coragem foi quebrada (Is 31.9). Com o sentido mais amplo de
“desmoralizado” (Is 20.5; Jr 48.20, 39), deuses de nações derrotadas
(Jr 50.2) ou classes de pessoas (Jr 8.9).” 95
2. A palavra nifal é aplicada a pessoas com o sentido de quebrar ou destruição num
sentido abstrato, como por exemplo: Efraim é despedaçado (Is 7.8), os inimigos de
Deus serão esmigalhados (1Sm 2.10). A Justiça de Deus jamais será quebrada (Is
51.6);
3. De pavor;

93
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bíbli-
ca do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
94
Ibid., p. 528 e 529.
95
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998 p.555
40

“O sentido de “temer” é atestado algumas vezes em passagens onde


o nifal é paralelo de outros termos indicativos de “medo”. Descreve
o pavor do exército hebreu ante o desafio de Golias (1Sm 17.11) e
aparece no mandamento negativo para não temer (Dt. 1.21; Js
8.1).”96
4. De desmoralização, estar envergonhado, frustrado;

“Em consonância com este sentido, o típico paralelo para o grau qal
do verbo é bôsh, “estar envergonhado”... A desmoralização que
procede da frustração pode ser expressa por este verbo, conforme se
vê aplicado aos três amigos de Jó depois de desistirem de discutir
com ele (Jó 32.15).”97
Encontramos também a palavra arey" yaré = temer, ter medo, reverenciar, imputar ter-

ror. Para este termo, encontramos cinco categorias:


1) Empregada para descrever a emoção do medo:

“Exemplos típicos de medo como reação emocional são o temor dos


judeus diante do fogo no monte Sinai (Dt 5.5) e o temor dos judeus
em Mispa ao ouvirem da mobilização dos filisteus (1 Sm 7.7).” 98
2) A previsão intelectual do mal:

“Outros exemplos dão mais ênfase à previsão do mal sem que,


necessariamente, se indique uma reação emocional. Exemplos disso
são a reação de Davi, enquanto estava na corte de Aquis, de que sua
reputação representava um risco para sua própria vida (1 Sm 21.13)
e a previsão de Jacó de que sua família poderia ser-lhe tirada (Gn
31.31).” 99
3) Reverência ou respeito – Pode ser encontrada como reverência aos pais (Lv. 19.3),
lugares santos (Lv 26.2), Deus (Sl 112.1) e a Seu Nome (Sl 86.11). O temor dos a-
migos de Jó diante de sua miséria e estado (Jó 6.21), Habacuque diante das obras de
Deus (Hc 3.2).
4) Comportamento íntegro ou piedade – é o temor prático e atuante, aprendido de acor-
do com a leitura da Lei (Dt. 31.11,12), uma ação concreta associada com o temor a
Deus, é a bondade para com o estrangeiro, viúvas etc (Dt. 10.18-20; 25.18). Este tipo
de “temor” está tão ligado com uma conotação de vida correta que em algumas pas-
sagens chegam a ser sinônimos:

96
Ibidem.
97
Ibidem.
98
Ibid., p.655
99
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento / R. Lair Harris organizador; tradução Márcio
Loureiro Redondo, Luiz Alberto T. Sayão, Carlos Osvaldo C. Pinto. São Paulo: Vida Nova, 1998. p.655
41

“Lv 19.14: Não amaldiçoarás o surdo, nem porás tropeço diante do


cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR.
25.17: Não oprimais ao vosso próximo; cada um, porém, tema a
seu Deus; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus.
Dt 17.19: E o terá consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para
que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as
palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir.
2 Rs 17.34: Até ao dia de hoje fazem segundo os antigos costumes;
não temem o SENHOR, não fazem segundo os seus estatutos e
juízos, nem segundo a lei e o mandamento que o SENHOR
prescreveu aos filhos de Jacó, a quem deu o nome de Israel.100
5. Adoração religiosa formal – os religiosos do reino do norte que temiam ao Senhor
com respeito à adoração pública, embora não o temiam com relação ao cumprimen-
to de Sua Lei (2Rs 17.32-34).101
Como pudemos constatar, o Antigo Testamento é repleto de experiência de medo de
acordo com cada situação específica. Vejamos agora a perspectiva do Medo no Novo Tes-
tamento.

3.2 O Medo no Novo Testamento


Diferente do Antigo Testamento, no Novo Testamento não há tantas palavras no grego
para descrever o medo como o hebraico. Utilizamos de base para nossa pesquisa o Dicioná-
rio Internacional de Teologia do Novo Testamente como veremos a seguir.
Encontramos a palavra fo,boj, phobos = pânico, susto, medo, temor, reverência, respei-
to. Suas raizes são:
1. Phobeomai = ter medo de, temer, reverenciar, respeitar – muito encontrada na septu-
aginta acompanhada da preposição apo que dá sentido de “ter medo de”;
2. Phoberos = terrível, temível, assustador;
3. Phobeo = ter medo, medo santo, temor dos deuses, podendo ser encontrado também
neste sentido de reverencia, diante de uma divindade, a palavra sebomai = temor
respeitoso, reverencia, adorar. Ainda neste mesmo sentido, a palavra correlacionada,
eusebeia, significa reverência diante dos deuses e até mesmo significando reveren-

100
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bí-
blica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
101
Ibid., p.654 e 655
42

cia diante dos pais em alguns contextos. O seu oposto, ou seja, falta de reverência é
aplicada a palavra asebeia.
Tanto phobos como suas raízes, podem significar alguém ou algo que deve ser temido.
É possível perceber a intenção das escrituras em descrever a questão do medo nos seguintes
contextos:
1. Medo de anjos: como por exemplo, os guardas que vigiavam o túmulo de Jesus, fica-
ram paralisados de temor quando foram surpreendidos pelo anjo que rolara a pedra
do túmulo (Mt 28.4); Zacarias ficou apoderado de temor quando viu o anjo que veio
lhe anunciar de que Deus ouviu sua oração e Isabel ficaria grávida (Lc 1.12); os pas-
tores ficaram tomados de grande temor quando receberam a visita do anjo que lhes
anunciou o nascimento do Cristo (Lc 2.9);
2. Medo das catástrofes do fim: homens que desmaiarão de terror diante das incertezas
do que haverá de vir sobre o mundo (Lc 21.26);
3. O Medo da morte: pavor da morte imputado à humanidade pelo diabo (Hb 2.15);
4. Medo dos Magistrados: O proceder corretamente para que não haja temor dos magis-
trados (Rm 13.3);
5. Medo dos judeus: o povo não falava de Jesus abertamente na festa do tabernáculo
por medo dos judeus (Jo 7.13); os discípulos estavam trancados em casa por conta
do medo dos judeus (Jo 20.19).
6. O medo, também é apresentado no Novo Testamento como seguido de sintomas de
ansiedade através da expressão: “phobos kai tromos” = “medo e tremor” (Mc5.33;
1Co 2.3; 2Co 7.15; Fp 2.12).
Da mesma forma encontramos a palavra deilia = timidez, desânimo. Aparecem ape-
nas 5 vezes em todo NT (Mt 8.26; Mc 4.40; Jo 14.27; 2Tm 1:7; e Ap 21.8). Em es-
pecial no texto de Marcos 4.40, a palavra timidez é traduzida em algumas versões
por medo. ; e deiliao = ter medo, ser desanimado, (Mc 6.19; Jo 14.27).
7. Encontramos o medo como forma de reverência diante de Deus: Como forma de mo-
tivação e conduta de reverência cristã – as Igrejas da Judéia, Galiléia e Samaria que
andavam no temor do Senhor (At 9.31); Pedro ao instruir no bom procedimento
cristão, termina dizendo que o cristão deve honrar a todos, amar os irmãos e temer a
Deus (1Pe 2.17); a recompensa aos profetas, servos, aos pequenos, grande e aos que
temem o nome do Senhor (Ap 11.18); em especial o relato de Jesus que, segundo as
escrituras, devemos temer a Deus que pode destruir tanto o corpo com a alma no in-
43

ferno (Mt 10.28; Lc 12.5); na Epistola aos Hebreus 10.31, encontramos a advertên-
cia para aqueles que porventura podem cair nas mãos de Deus, isto é coisa
horrenda.102
Em contra partida, encontramos exortações para que o povo não tema, em um sentido
de libertação do medo em Jesus Cristo para os casos cotidianos:

“O cristão é constantemente confrontado pela tarefa de vencer o


motivo do medo pelo motivo do amor. Muito acima do motivo do
medo, a fé que opera no amor surge como centro vital da conduta
cristã, no NT (Gl 5.6). O NT apresenta uma tensão entre o medo e o
amor. De modo paradoxal, convivem juntamente. Não temos,
portanto, justificativa em atribuir inteiramente à influência da
sinagoga judaica o temor a Deus e o medo do julgamento, nem em
repudiá-lo como sendo um remanescente do pensamento judáico.”103
Por este motivo, é importante compreendermos que o Novo Testamento nos oferece
um novo paradigma como solução para vencer o medo. O texto da primeira epístola de João
no capítulo 4 versos 18 e 19, o escritor deixa claro essa intenção:

“v18. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é
aperfeiçoado no amor.
v 19. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.”104
A convocação para não temer se amplia para diversos contextos, vejamos:
1. Jesus adverte seus discípulos a não ter medo daqueles que matam o corpo (Mt 10.26,
28; Lc 12.4,5);
2. Não ter medo de passar necessidade (Lc 12.32);
3. Não ter medo dos oponentes (Fp 1.28);
4. Não ter medo do sofrimento (1Pe 3.14, Ap 2.10);
5. O medo dos homens é removido pela segurança que temos em Deus (Mt 10.30, 31;
Hb 11.23, 27; 13.6);
6. Jesus Cristo é aquele que livra a humanidade do pavor da morte (Hb 2.15);
7. O Espírito de Deus, é o auxiliador que ajuda o indivíduo a clamar “Aba Pai” (Rm
8.15; Gl 4.6);

102
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen. São Paulo: Vida
Nova, 2000. p.1264-1267.
103
Ibidem.
104
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bí-
blica do Brasil, 1993. Edição revista e atualizada no Brasil.
44

8. É Deus quem dá ao homem um espírito de poder, amor e moderação e não de covar-


dia (2Tm 1.7);105
Outro grupo de palavras no grego, denotam expressões de medo, pavor, espanto, são
as palavras da raiz thambos, significa espanto, temor. Estas expressões, bem como suas de-
rivações, denotam espanto diante de um acontecimento específico, a maior parte das ocor-
rências aparece após manifestações divinas, de milagres ou reconhecimento da autoridade
de Jesus.106
qambe,w = thambeo, significa ficar atônito, admirado. Como exemplo: ao libertar o en-
demoninhado de Cafarnaum, Jesus deixa todos na sinagoga atônitos (Mc 1.27); o mesmo
acontece com os discípulos quando são advertidos por Jesus sobre o amor pela riqueza (Mc
10.24) e quanto ao que viria sobre Ele quando entrasse em Jerusalém (Mc 10.32).107
Ekthambos denota um estado em que a pessoa fica “totalmente atônita” diante de uma
situação, como no caso do povo que viu a cura do coxo na porta formosa ao constatarem o
milagre por realizado através de Pedro e João (At 3.11).108
Ekthambeo denota um estado em que a pessoa fica alarmada, assombrado como no
exemplo de quando o povo vê a Jesus após descer do monte da transfiguração, são tomados
assombro (Mc 9.15); O sentimento que sobreveio em Jesus no Getsêmani (Mc 14.33); assim
também sentiram Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé quando foram até o túmu-
lo em que Jesus fora sepultado e viram um homem vestido de branco assentado, foram to-
madas de grande assombro (Mc 16.6 e 7).109
As palavras da família Thambeo trazem a conotação do temor diante de Deus e ou de
acontecimentos provenientes dEle. Thambeo, ao contrário do medo que afugenta, paralisa,
aterroriza, é o temor reverencial que atrai a humanidade para próximo do Criador. Esse te-
mor ajuda o homem e a mulher a vencerem as mais diversas situações de medo proporcio-
nadas pela vida. Desta forma, Thambeo tem o poder de resignificar os traumas e medos hu-
manos.

105
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen. São Paulo: Vida
Nova, 2000.p.1266.
106
Ibid., p.1284
107
Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen. São Paulo: Vida
Nova, 2000.p.1284.
108
Ibidem.
109
Ibidem.
45

A Palavra thaumazo inclui um elemento de terror, grande medo. Esta é uma relação de
admiração diante das obras milagrosas de Jesus. Estes contextos são elementos para utiliza-
ção desta expressão, como exemplo o texto do Evangelho de Mateus quando Jesus volta
para o mar da Galiléia e muitos enfermos, o povo é tomado de grande medo ao verem mu-
dos falarem, aleijados recuperarem a saúde, coxos andando e cegos enxergando (Mt
15.31).110
Como vimos, mesmo na Bíblia, o medo sempre esteve presente na humanidade. Nela
encontramos diversos relatos e significados de temores presentes na humanidade. Percebe-
mos através desta pesquisa o medo em diversos contextos e épocas.

4 A Religião e o Amor
Para que possamos apresentar caminhos para o cuidado pastoral diante do TP, preci-
samos fazer de nossas Igrejas um espaço cujo medo seja combatido e não intensificado.
Paulo Roberto Ramos em seu livro O Deus Im-potente, a partir das contribuições de Andrés
Torres Queiruga, Jürgen Moltmann e Jon Sobrino, procura harmonizar a afirmação do Deus
Todo Poderoso com a realidade do sofrimento e do mal, respeitando sempre os limites e os
contextos humanos. Em sua obra, ele menciona algumas religiões e seus papeis de transfe-
rência de sua identidade para seus fiéis. Entre elas, o autor menciona a religião do medo.
Para ele, certas imagens divinas contribuíram para a criação dessas religiões. Ele afirma:

“A religião do medo construiu uma Igreja forte: instituição sólida,


imutável e inamovível, dotada de uma hierarquia na qual o poder se
manifesta por intermédio dos sinais de uma casta sagrada, com uma
língua, saber, vestes e leis que dizem o que se deve fazer, orações a
pronunciar, ritos a celebrar, no que crer e o que não se de fazer.
Estas exigências se colocam diante de um Deus implacável e
perigoso, cuja força religiosa se une à política para manter seu
intento... Lei, pecado, culpabilidade, medo e ritos compensatórios
muitas vezes alienaram e destruíram o crente de sua verdadeira
tarefa e de sua responsabilidade pela transformação do mundo”111
O autor cita François Varone que diz sobre a responsabilidade do crente pertencente a
essas religiões. Para ele, estes fiéis precisam passar da religião objetiva, para a fé subjetiva
por meio de uma crítica profética para que possam se libertar de tais alienações.112

110
Ibidem.
111
GOMES, Paulo Roberto. O Deus Im-Potente: o sofrimento e o mal em confronto com a cruz. São Paulo-SP:
Edições Loyola. 2007. p. 44 e 45.
112
Ibid., p.44
46

Neste sentido, a imagem de Deus passa a ser vista como a de um deus legislador e se-
vero. Esse deus está presente na consciência do ser humano, impondo suas exigências e o-
brigações que por vezes são duras e difíceis, além de ser castigador ao retirar seus favores
daqueles que não os merecem. O autor acrescenta:

“A angústia vivida diante dessa concepção degenera em uma religião


da norma, da lei, da obrigação. O drama interno se converte em
práticas e ritos obsessivos e escrupulosos, em intolerância nada
misericordiosa com os demais. A relação com Deus passa a pautar-se
pelo perfeccionismo, pelo medo, e o que era promessa se converte
em ameaça. O chamado gratuito em imposição, a existência em
castigo e o frescor evangélico em leis esclerosadas.”113
Esse tipo de afirmação, segundo o autor, contribui para o crescimento da indiferença
religiosa e do ateísmo, uma vez que o homem e a mulher modernos, se rebelam contra esse
deus apresentado por essas religiões que, ao invés de promover libertação no sentido da
promoção da liberdade, promove a imposição de leis opressivas e de aprisionamento religi-
oso, isso faz com que o cristianismo soe falso. Para o autor, a própria teologia da Graça foi
lançada por terra por esse tipo de posicionamento de mandamentos e observâncias.114
O autor apresenta Jesus como àquele que acolhe as esperanças, que anima através da
confiança em Deus e em Seu Reinado. Jesus propôs a todos um Deus que é Pai e Amor,
capaz de amar os seres humanos mais do que seus próprios pais e mães. Jesus reunia aspira-
ções um tanto quanto antagônicas, radical, entretanto sem usar de violência; revolucionário,
porém amoroso e sem intentos de vingança; não sacro, mas de intimidade profunda com
Deus115. Sendo assim, o autor sugere:

“Diante do problema do mal e do sofrimento, não cabe simplesmente


acusar Deus ou tentar defendê-lo, mas aprendendo com Jesus, ir
enfrentando os fatos e a existência como criatura limitada crendo e
confiando nesse Deus que se interessa por nossa felicidade, apesar
da cruz e da morte. A verdadeira integração da dor se encontra em
Cristo, na fé em Deus ao lado de suas criaturas frágeis e vulneráveis,
lutando contra o mal. Longe de ser cúmplice no sofrimento, Deus,
pelo testemunho irrefutável da cruz, mostra-se disposto a entregar
tudo inclusive seu unigênito na luta contra o mal, no qual o ser
humano se faz vitima e culpável. Na cruz, Deus “sofre” de uma
forma que não podemos compreender – seu coração se dilacera, mas
não “pode” livrar seu Filho, senão acompanhá-lo. Penetrando em
nossa dor, Jesus se apropria do que há de mais terrível em nossa

113
Ibid., p.68
114
GOMES, Paulo Roberto; 2007. p.68 e 69
115
Ibid., p.73, 74, 74
47

condição, com o objetivo de nos dar poder e de nos ajudar a assumi-


la.”116
É exatamente este tipo de ajuda que precisamos oferecer a todo aquele que nos pro-
cura e ou virão procurar nossas Igrejas.
Vimos neste capítulo, alguns discursos que tentam causar invulnerabilidade ao ho-
mem e a mulher. Vimos também que o sofrimento faz parte de nossas vidas desde os relatos
mais antigos. A própria Bíblia é sinal de que o cristão e a cristã são sujeitos às dores, medos
e sofrimentos.
No próximo capítulo veremos como fazer de nossas comunidades um lugar de aco-
lhimento e de cuidado. Veremos que podemos fazer de nossas Igrejas um referencial tera-
pêutico.

116
GOMES, Paulo Roberto; 2007. p.77 e 78.
CAPÍTULO 3

ACOLHIMENTO, CUIDADO E ENCAMINHAMENTOS:

UMA AÇÃO PASTORAL DE SAÚDE.

Pelas dores deste mundo, Ó Senhor, imploramos piedade,


A um só tempo geme a criação.
Teus ouvidos se inclinem ao clamor, desta gente oprimida.
Apressa-te com a tua salvação!
A tua paz, bendita e irmanada co'a justiça
Abraça o mundo inteiro, tem compaixão!
O teu poder sustente, o testemunho do teu povo.
Teu Reino venha a nós! Kyrie eleison!
(Canção: Pelas dores deste mundo – Rodolgo Gaede Neto)

Esta canção nos inspira a iniciarmos este capítulo, pois entendemos que a Igreja pre-
cisa conscientizar-se de seu papel diante das realidades de nossa sociedade carente, doente,
fragilizada e aterrorizada que clama, Piedade! Acreditamos que as ações solitárias do pastor
e da pastora, não dão conta das demandas que a sociedade exige. Todavia, é necessária uma
intervenção comunitária na sociedade. Abordaremos neste capítulo apontamentos gerais da
comunidade de fé atuante por meio de pastorais que atuam ligadas a saúde. Diante destes
contextos, queremos apontar diretrizes para uma ação pastoral que poderão ser úteis para
encaminhamentos frente aos casos de TP.
49

1 Introdução às Diretrizes Pastorais


Como vimos no decorrer de toda pesquisa, o(a) portador(a) de TP necessita de apoio
e cuidados em uma perspectiva integral:

a) Física: por conta das síndromes que o paciente é acometido;

b) Psicológica em três aspectos: 1) por não conseguir diagnosticar o que de fato ocorre con-
sigo e diante das crises o(a) portador(a) do TP está muitas vezes emocionalmente abalado;
2) o fato da não aceitação da doença e por conseguinte a relutância em procurar um profis-
sional de saúde psiquiátrica; 3) e o fator stress do dia a dia, trabalho, família, ou perda, que
pôde, em alguns casos, ter desencadeado a doença, por tanto um acompanhamento psíquico-
terapêutico se faz necessário;

c) Social: como vimos, em muitos casos o portador(a) do TP pode apresentar agorafobia


limitando assim sua vida social. Neste sentido, precisamos redirecioná-lo(a) para o convívio
social em todos os níveis;

d) E por fim espiritual: como responsável por conferir sentido a sua existência com relação
a vida e a morte na perspectiva do Cristo, afim de que a morte já não seja mais motivo de
medo.

Ronaldo Sathler-Rosa, descreve quatro prioridades que Goodliff compreende como


prioridade para o cuidado pastoral no contexto contemporâneo:117

1) Fazer da comunidade cristã um ambiente vital do cuidado pastoral, para tanto, é necessá-
rio a atenção do pastor e da pastora para promover elos de confiança como prioridade para o
desenvolvimento da solidariedade;

2) Criar saúde relacional: os relacionamentos correm sérios riscos de contaminação por con-
ta das ideologias de competitividades, o padrão cultural da competitividade contribui para a
destruição dos relacionamentos salutares, como ato de preservação, deve-se cultivar: a co-
municação clara e honesta; o ouvir ativo; a fidelidade; a confiança; assumir o risco de apro-
fundar o relacionamento; o perdão e a aceitação do outro; e assumir responsabilidades pes-
soais;

117
GOODLIF, P. Care in a confused climate. Pastoral care and postmodern culture: Apud. SATHLER-ROSA,
Ronaldo. Cuidado pastoral em tempos de insegurança: uma hermenêutica contemporânea. São Paulo-SP:
Aste, 2004. p. 44-47.
50

3) Nutrir e sustentar a fé: o trânsito religioso promove o sincretismo e diante desta realida-
de surge a necessidade de manter as raízes bem referenciadas sem correr o risco perdê-las;

4) E por fim a cura das feridas da alma: são de causas depressivas e de ansiedade exagera-
da, episódios de pânico, de auto-estima, processos de lutos não elaborados, dificuldades
ligadas a área sexual além outros confrontos da pessoa com sua natureza e identidade, seu
lugar no mundo e aceitação, seja pessoal ou por outras pessoas.

Estas são justificativas que reafirmam a necessidade de uma proposta de cuidado pa-
ra o portador(a) do TP. Neste sentido, nosso olhar está na perspectiva do shalom apresenta-
da por Abigail R. Evans como orientação para a proposta pastoral:

“O conceito bíblico de shalom fala de plenitude/integridade do ser e


de bem-estar mental e físico; enfim, do bem-estar total de indivíduos
e comunidades. Ele surge de uma relação de aliança caracterizada
pelo amor a Deus (uma das partes da aliança) e amor ao próximo e a
si mesmo (a outra parte na aliança). Quando essas qualidades
caracterizam as vidas de indivíduos e comunidades, há saúde na
pessoa e na comunidade. Há shalom.”118
Para Evans, a definição de saúde e integridade nos força a vermos a pessoa inteira
também em sua situação de enfermidade. A cura passa a incluir uma gama significativa de
fatores, para tanto é necessário instaurar um ministério de saúde na Igreja local, cujo objeti-
vo é envolver toda a comunidade neste propósito.

2 A comunidade de fé terapêutica
Conforme os desafios apresentados até o momento, entendemos que a Comunidade
de Fé pode ser um lugar terapêutico frente ao sofrimento humano, em particular, como é
objetivo de nossa pesquisa, ao portador(a) de TP.

Para compreendermos a relação terapêutica, precisamos antes entender as implica-


ções etimológicas da palavra comunidade, que é formada a partir de duas palavras: comum
e unidade – o que não significa que todos dentro dessa comunidade devem agir e se portar
em uniformidade. Para Sidnei Vilmar Noé, pensar em comunidade dos iguais, pode ser um
equivoco, pois a uniformidade no agir, vestir etc, pode fazer com que seus membros percam
o contato com a realidade externa, fazendo a comunidade viver em um mundo a parte. Sua

118
EVANS, Abigail Rian. O ministério Terapêutico da Igreja: programas práticos para ministérios de saúde. São
Paulo-SP: Edições Loyola, 2002. p. 251.
51

proposta é trabalhar paradoxalmente, ou seja, uma comunidade de pessoas diferentes, cuja


tolerância e aceitação destas diferenças são bem assimiladas e respeitadas por todos, por
mais controverso que seja, se constrói comunidade a partir deste cenário, salienta o autor:119

“A necessidade de distinção, de demarcar a diferença que permite a


constituição de uma identidade própria, não se dá mais através da
distinção da comunidade em relação ao resto do mundo, e sim, essa
seria deslocada para dentro da própria comunidade. Ali convivem os
“diferentes” e eles precisam aprender a se relacionar de forma
equilibrada e saudável... isso exige um processo de amadurecimento
das pessoas que compõem essa comunidade.”120
Neste contexto acontece a comunidade terapêutica. Cremos que uma comunidade cu-
jo respeito predomina dentro de suas portas, capacita seus membros a olharem com mais
atenção para os problemas que estão presentes na sociedade pungente.

Noé afirma que o termo terapêutico, teologicamente pode ser compreendido como
redundante, uma vez que, denominamos nossas comunidades como sendo de Jesus Cristo,
obrigatoriamente, esta deveria ser essencialmente terapêutica se olhássemos para Seu exem-
plo.121

Ched Myers aborda o caráter terapêutico de Jesus na perspectiva do evangelho de


Marcos. O autor trabalha esclarecendo a importância do ministério de cura de Jesus, que
essencialmente tinha como objetivo conferir libertação em sentido de cura aos oprimidos e
marginalizados da sociedade palestinense.122 Myers nos dá um panorama importante da so-
ciedade deste período, o que valoriza a ação intervencionista de Jesus frente a essa realida-
de:

“Esses aspectos do mundo narrativo de Marcos só podem ser vistos


como reflexo direto de sua realidade social. A deterioração
econômica e política, especialmente na década anterior aos levantes
da guerra romano-judaicas, deixou em extrema pobreza partes
significativas da população palestinense, principalmente nas áreas
rurais densamente populosas da Galiléia. A doença e a incapacidade
física constituíam parte inseparável do ciclo de pobreza (fenômeno
ainda verdadeiro nos dias de hoje, apesar do advento da medicina
moderna). Para o trabalhador diarista, a enfermidade significava
desemprego e empobrecimento imediato. As “multidões” (ochlos)

119
HOCH, Lothar Carlos; NOÉ, Sidnei Vilmar. Comunidade Terapêutica: cuidando do ser através de relações
de ajuda. São Leopoldo-RS: Escola Superior de Teologia, Editora Sinodal, 2003. p. 8.
120
Ibid., p. 9.
121
Ibid., p. 10.
122
MYERS, Ched. O Evangelho de São Marcos. São Paulo-SP: Edições Paulinas, 1992. p. 185.
52

servem de pano de fundo para a narrativa e representam um dos


grandes aspectos de sua localização social.123
Myers trabalha o original grego da palavra cura presente em Marcos 1.34 – depois de
curar a sogra de Pedro, muitos enfermos e endemoninhados são levados até Jesus. Ele cura a
todos – Esta palavra “cura” no grego é therapeuo, de onde vem o termo terapia. O autor
defende a tese de que o caráter curador de Jesus era terapêutico diante das enfermidades
sociais. Os relatos bíblicos dizem respeito às circunstâncias da cura, de certa forma, há um
desinteresse pelos sintomas. Para Myers, esse é um sinal da atividade de Jesus em procurar
restabelecer o bem-estar social, o que normalmente era negado aos doentes, desafiando as-
sim a ordem simbólica de impureza que segregava os desprovidos de integridade física. Por
isso Jesus, como autor de curas, era uma ameaça à ordem cívica.124

Neste sentido, Noé enfatiza que comunidade é terapêutica quando trás consigo algu-
mas característica como: a busca por redescobrir esses elementos terapêuticos presentes na
tradição cristã bíblica, como vimos acima na perspectiva do caráter terapêutico de Jesus; é
marcada também pela conscientização de caráter diaconal interno e externo (serviço); recu-
peradora da integridade do ser humano; é constituída a partir de um clima saudável e de
bem-estar bio-psico-social-espiritual das pessoas que a compõe; e por fim, sua responsabili-
dade diante da reumanização do ser humano contemporâneo através de espaços de convi-
vência com intuito de reverter o quadro doentio de fragmentação social.125

Evans afirma que esta “natureza comunitária da Igreja faz dela uma força terapêuti-
ca”126. A autora denomina esta ação da Igreja como, ministério. Este é parte integral da vida
da Igreja. Para ela, não se trata de um ministério opcional, mas de extrema importância, e
obrigatoriamente deve ser exercido pela Igreja com objetivo de apregoar o Reino de Deus
na sociedade. Este ministério deve ter como alvo o ser humano em todas as suas dimensões.
Para Evans, a Igreja é expressão comunitária do chamado individual da cristandade no que
diz respeito ao ministério de restauração da saúde.127 Evans procura em sua obra posicionar
a Igreja como oferecedora de soluções concretas para as questões que envolvem saúde e

123
MYERS, Ched; 1992. p. 185.
124
Ibid., p. 185-187.
125
HOCH, Lothar Carlos; NOÉ, Sidnei Vilmar; 2003. p. 10-11.
126
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 9.
127
Ibid., p. 12.
53

cura128. A autora faz uma análise das Igrejas e constata que este ministério não é desempe-
nhado a contento pelas comunidades. Comenta ainda:

“Embora a Igreja ofereça os sacramentos, promova cultos


regularmente e pregue a palavra, o quarto sinal da Igreja – a
restauração dos enfermos – não tem sido praticado no sentido
completo de um ministério terapêutico. Em muitos casos, por causa
do medo do abuso, negligenciamos a ordem de Cristo a seus
discípulos para curar os enfermos. Frequentemente a cura tem sido
totalmente espiritualizada, de modo que sua dimensão física tem sido
perdida; mas curar e salvar têm a mesma raiz, e esses conceitos
devem ser compreendidos integralmente – cura da mente, do corpo e
do espírito. A história desses conceitos transforma-se numa base
importante para avaliar práticas atuais de cura e para entender as
dificuldades que os cristãos sempre enfrentaram para implementar a
ordem de Cristo de sarar os enfermos.”129
Evans faz referência a alguns modelos de ministério da saúde que deram certo e nos
apresenta John Wesley como precursor deste pensamento, informa ainda a autora:

“O desenvolvimento da preocupação das Igrejas protestantes com


um ministério de saúde origina-se em John Wesley, que...
influenciou o desenvolvimento das missões médicas. No início do
século XVIII ele combinou um evangelismo espiritual com um
evangelho social baseado nas necessidades humanas, incluindo o
cuidado da saúde. Saúde era uma das grandes preocupações,
considerando que a Inglaterra registrou a mais alta taxa de
mortalidade de sua história naquele período.
Wesley foi um dos principais pastores/teólogos que notaram o
relacionamento complementar entre religião e saúde. Ele entendeu
que o cuidado com a saúde estava vinculado ao estilo de vida. Em
1746 fundou a primeira farmácia gratuita da Inglaterra. Seu
Primitive Physic era um livro cheio de orientações práticas sobre
dieta, exercício, sono e outros elementos básicos de cuidado com a
própria saúde. O fundador do Metodismo acreditava que o amor de
Deus ajuda a manter as paixões em seus devidos limites.
Tranquilidade poderia contribuir para a saúde e uma vida longa.
“Não é mero acidente que os mais marcantes aumentos no padrão de
saúde pública tenham coincidido com a influência crescente do
movimento de reavivamento”. Por liderar o caminho de ajuda aos
pobres sofredores que tinham sido negligenciados pela profissão
médica, Wesley se tornou um pioneiro do movimento nacional de
saúde. Pode-se dizer o mesmo da Igreja de hoje?”130

128
Para a autora “cura” tem um significado bem mais amplo do que da cura meramente física. A autora tem em
mente uma compreensão integral de saúde humana que envolve desde aspectos físicos, mentais, espirituais e
sociais. Quando o texto se refere apenas ao físico, a autora utiliza a expressão “cura física”.
129
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 21.
130
Ibid., p. 51.
54

A autora conclui com um questionamento inquietante, complementa dizendo que ou-


tras denominações, infelizmente não aderiram às idéias de Wesley, e ainda, com o avanço
do conhecimento científico, gradualmente a visão materialista e mecanicista começou a pre-
dominar nas Igrejas, que foi deixando de priorizar estas questões. 131

Para Hoch e Noé, talvez este seja um dos motivos pelos quais pessoas estão migran-
do das Igrejas para as terapias, uma vez que esta primeira tem negligenciado seu papel tera-
pêutico. Para eles, o consolo precisa vir aqui e agora e não deve ser transferido para as ou-
tras gerações ou para a eternidade.132

De forma geral entre os autores, o termo Comunidade Terapêutica é mais uma ex-
pressão que caiu no modismo do que uma realidade do contexto cristão. É preciso retomar
esta perspectiva de atuação da Igreja como propõe Howard J. Clinebell. Sua intenção é des-
pertar a Igreja para uma ação atuante através da poimênica e do aconselhamento pastoral.
Para Clinebell, esta pode ser uma ferramenta de cura e crescimento das pessoas em direção
ao desenvolvimento mais profundo dos relacionamentos diante da realidade de uma cultura
que predomina a superficialidade interpessoal.133 O autor esclarece ainda:

“A poimênica e o aconselhamento pastoral compreendem a


utilização, por pessoas que exercem o ministério, de relacionamentos
de indivíduo para indivíduo ou de pequeno grupo para possibilitar a
ocorrência de potencialização curativa e crescimento dentro de
indivíduos e de seus relacionamentos. Poimênica é o ministério
amplo e inclusivo de cura e crescimento mútuos dentro de uma
congregação e de sua comunidade, durante todo o ciclo da vida.
Aconselhamento pastoral, que constitui uma dimensão da poimênica,
é a utilização de uma variedade de métodos de cura (terapêuticos)
para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de uma
forma mais conducente ao crescimento e, assim, a experimentar a
cura de seu quebrantamento. As pessoas precisam de poimênica
durante a vida toda.” 134
O método holístico da poimênica e do aconselhamento apresentado pelo autor, permi-
tem ver os seres humanos como possuidores de uma riqueza de forças, de potencialidades e
de recursos não descobertos e não desenvolvidos. O desafio, segundo Clinebell, é tornar

131
HOCH, Lothar Carlos; NOÉ, Sidnei Vilmar; 2003. p. 9.
132
Ibid., p. 51-56.
133
CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. São Leo-
poldo-RS: Sinodal, 1987. p. 14-15.
134
Ibid., p. 24, 25.
55

nossas Igrejas um lugar que potencializa essas forças humanas.135 Esta potencialização sig-
nifica ajudar a pessoa a experimentar cura e o crescimento vertical, ele denomina esta expe-
riência de integralidade. Neste sentido a pessoa aprende como desenvolver sua fé, compre-
ende seus valores. Isso significa libertação em direção a vida, e vida no Espírito. Orientada
pela ética da integralidade, a poimênica e o aconselhamento pastoral podem tornar-se ins-
trumentos cada vez mais eficazes de cura e transformação da sociedade. Esta integralidade,
segundo o autor, acontece em seis aspectos, São eles: 136
• Avivar sua mente;
• Revitalizar seu corpo;
• Renovar e enriquecer seus relacionamentos íntimos;
• Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera;
• Crescer em relação às instituições significativas em sua vida
• Aprofundar e vitalizar seu relacionamento com Deus.137

Neste sentido focalizaremos algumas pastorais ligadas ao tema da saúde como con-
tribuições para nossa ação pastoral diante da necessidade de acolhimento e ajuda ao porta-
dor(a) de TP.

3 Pastoral: Apontamentos gerais


Para João Batista Libanio, pastoral é a ação da Igreja no mundo, desta forma o autor
contempla as três áreas importantes para a concretização da pastoral, o agir, a Igreja e o
mundo.138 Para o autor, estas três dimensões ganham força quando unidas em prol de um
objetivo único.

Neste sentido, percebemos que o desafio de ajudar pessoas não é algo exclusivo do
pastor e da pastora, mas estende-se como um chamado para toda a Comunidade de Fé atra-
vés de intervenções pastorais, como afirma Clovis Pinto de Castro:

“Pastoral é... entendida como a ação do povo de Deus na realidade


cotidiana, onde, na relação tempo e espaço, o ser humano se
encontra. A preocupação básica da pastoral é a eficácia e a
relevância da fé cristã. Pastoral é também responsável pela inserção

135
CLINEBELL, Howard J; 1987. p. 28.
136
Ibid., p. 28,29,30.
137
Ibid., p. 29.
138
LIBANIO, João Batista. O que é Pastoral. São Paulo-SP: Editora Brasiliense, 1982. p. 11.
56

do povo de Deus no espaço público. Pastoral é ação intencional,


sistemática e organizada coletivamente. É fruto do esforço
missionário da Igreja que busca mudanças, vislumbrando novos
tempos na perspectiva do Reino Messiânico de Deus.”139
Para Castro, a pastoral não é qualquer tipo de ação no seio da comunidade, mas uma
ação que instaura o novo. É muito mais do que uma ação isolada do pastor e da pastora, mas
uma ação da comunidade de fé organizada em ações específicas, que visam marcar presença
da Igreja na esfera pública. O autor enfatiza que é o chamado de Deus que motiva a comu-
nidade, e com isso, a convicção de que Ele nos chama para o trabalho no mundo novo. A
partir da década de 70, as pastorais possibilitaram avanços para o exercício da cidadania
como por exemplo, a criação das ONGs a partir das pastorais católicas e ecumênicas. No
cenário político, ocupou seu espaço nos processos de redemocratização do país e na luta por
uma ordem social, o que contribuiu para a inserção de cristãos nas pastorais sociais. O autor
propõe considerarmos a pastoral ligada à responsabilidade missionária da Igreja. A Igreja
Católica utiliza-se das pastorais setorizadas a partir de suas tarefas específicas, como: pasto-
ral operária; pastoral da família; pastoral carcerária; pastoral hospitalar; pastoral com mora-
dores de rua; pastoral com portadores de HIV; pastoral dos sem terra etc. 140

3.1 Pastoral Urbana

Clovis Pinto de Castro afirma que quando falamos de pastoral urbana, falamos de a-
titudes de humildade. Para isso é necessário conhecer os contextos das cidades. Em seu arti-
go: dos desafios do mundo urbano à pastoral da Igreja, o autor faz uma análise da socieda-
de relacionada às leis de mercado, que de certo modo, influenciam e definem a modernida-
de. Do mesmo modo, muitas Igrejas têm se deixado levar por estas leis de mercado, enquan-
to deveria intervir no mundo através de uma ação pastoral libertadora desse sistema aprisio-
nador. Para o autor, a Pastoral Urbana acontece a partir do momento em que a Igreja assume
a cidade afim de torná-la um lugar de justiça, solidariedade, comunhão e alegria. Para isso, a
Igreja precisa também deixar as visões dualistas que a separa do mundo e tornando-a parti-

139
CASTRO, Clovis Pinto de. Por uma fé cidadã, a dimensão pública da Igreja: fundamentos para uma pastoral
da cidadania. São Paulo-SP: Edições Loyola, 2000. p. 105.
140
Ibid., p. 104.
57

cipante no mundo. A concretização desta ação da Igreja, acontece nas relações da Igreja
local.141

A Pastoral Urbana contribui para nossa pesquisa no sentido de abrir a visão da Igreja
para as questões sociais. Em nosso caso específico, não podemos fechar os olhos diante dos
casos de TP. Para alguns, uma doença da modernidade porque está atrelada as leis de mer-
cado mencionadas pelo autor. A competitividade, a necessidade de ter, a busca constante
pelo melhor: emprego, carro, celular, casa etc. Invariavelmente levam as pessoas a um esta-
do limite de suas forças. Diante dessa realidade, a Igreja é desafiada a resignificar a relação
do homem e da mulher com a vida e o mundo. A Igreja não deve se separar da sociedade,
mas é parte dela, para tanto, o autor propõe algumas ações pastorais que podem integrar as
Igrejas cristãs e o mundo:142

• Renovando a Liturgia de modo que reflita o amor e paixão pela cidade, provocando
assim este mesmo sentimento no cristão e na cristã, afim de nutri-los com energia e
vontade de transformar a realidade da cidade. A Igreja passa a ser um lugar de edu-
cação, conscientização e de concentração para a missão;
• A dimensão diaconal de seus membros na relação com o próximo, promovendo en-
contros com a realidade, que poderão acontecer por meio de visitas em asilos, fave-
las, orfanatos, hospitais etc. O autor salienta que normalmente as pessoas aceitam
uns aos outros mediante as experiências que visam descobrir a comunhão humana e
seu sentido;
• A hospitalidade e a solidariedade devem ser atitudes que marcam a vida e a missão
das Igrejas preocupadas com pastoral urbana. Diferente do item acima, que a Igreja
vai ao encontro, acontece também de pessoas irem ao encontro da Igreja, por isso as
Igrejas locais precisam criar uma dinâmica de acolhimento;
• A dimensão profética ou Kerígma, muito mais do que a denúncia, leva em conside-
ração dois aspectos que segundo o autor são indissociáveis, a palavra e a ação. Para a
Igreja ser de fato profética, ela precisa estar junto do povo, das autoridades para que
não seja vista como hipócrita, ou seja, uma Igreja que anuncia e não pratica;

141
CASTRO, Clovis Pinto de; 2000. p. 105-106.
142
CASTRO, Clovis Pinto de. Dos desafios do mundo urbano à pastoral da Igreja. Pastoral e Mística: Cadernos
de Pós-Graduação/Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, Nº 8, Ano XIII, Páginas 25-39, novembro,
1995.
58

• A Igreja deve promover encontros entre a teologia e as áreas do saber humano para
criar assim a dimensão pedagógica. A reflexão teológica se faz necessária para colo-
car-se em posição de diálogo com a saúde, educação, comunicação, urbanismo, so-
ciologia, entre outros. O autor sugere que pessoas ligadas a essas e outras áreas se-
jam contatadas para promover esses diálogos com a Igreja local, com o objetivo de
uma Pastoral Urbana melhor elaborada e coerente;
• A Igreja precisa compreender que todos que vivem no mundo são chamados a parti-
ciparem do Reino de Deus, para isso é necessário compreender a dimensão ecumêni-
ca da Igreja. O autor faz menção à parábola do banquete (Lc14.1-4), e que muitas
outras comunidades e instituições também estão engajadas na obra de anúncio deste
mesmo Reino, não estamos sozinhos nesta tarefa, precisamos de outros.143

Desta forma o autor busca conscientizar a Igreja de sua tarefa, dentro de uma propos-
ta missionária de aproximação com a realidade que a cerca.

3.2 Pastoral de Ajuda


José Carlos Bermejo também enfatiza a importância dos cristãos em exercerem esse
ministério como participação nas funções sacerdotais, proféticas e reais de Cristo:

“Podemos definir mais especificamente a relação pastoral de ajuda


como um ministério da comunidade fiel que tem como fim a cura, a
libertação, a reconciliação e o crescimento pessoal do indivíduo. Tal
ministério baseia-se na relação entre um ou mais agentes de pastoral
competentes a alguma pessoa ou algum grupo que se comprometam
a desenvolver uma interação significativa. Essa relação é um
processo dinâmico, com estrutura bem definida e objetiva
mutuamente acordada, e tem lugar na tradição e nos recursos da
comunidade fiel.”144
Para o autor, a proposta de ação pastoral de ajuda, tem a finalidade de acompanhar
pessoas diante de situações como: luto; fracasso, medo da morte, divórcio, questões educa-
cionais, solidão, dúvidas, homossexualismo, doenças, problemas econômicos, idéias de sui-
cídio entre outros. A pastoral de ajuda é outro exemplo de que é possível olhar para o TP
como uma oportunidade de intervenção da Igreja diante da enfermidade. Através dos méto-
dos de ajuda por ela estabelecidos, podemos encontrar meios para acolher e auxiliar os(as)

143
CASTRO, Clovis Pinto de; 1995. p. 40-47.
144
BERMEJO, José Carlos. Relação Pastoral de Ajuda ao Doente. São Paulo-SP: Edições Loyola. 1997. p. 23.
59

portadores(as) do TP, a exemplo, a psicologia, que contribuiu e enriqueceu positivamente a


pastoral de ajuda, como afirma o autor:

“A psicologia favorece a relação pastoral de ajuda, oferecendo


conhecimento sobre as motivações dos comportamentos da pessoa e
introduzindo grandes novidades no estilo de exercer o diálogo
pastoral. Essa... contribuição teve ressonância especial
particularmente nos Estados Unidos , onde muitos pastores
recorreram às técnicas laicas de psicoterapia para melhorar a prática
da relação pastoral de ajuda... sobretudo Carl Rogers145 quem
inicialmente, mais contribuiu para tornar efetiva essa tendência,
salientando a importância de uma relação intensa, feita de aceitação,
de respeito e de empatia, de modo que se permita à pessoa entrar em
contato com os próprios sentimentos, exprimi-los, ganhar confiança
em si mesma e tomar decisões a respeito da própria vida, evitando-se
toda inclinação moralizante. A pessoa deve ser ajudada a empregar
seus próprios recursos para enfrentar os problemas, sem
paternalismo nem autoritarismo.”146
O autor salienta ainda que, por mais que a psicologia ocupe um papel importante pa-
ra a relação pastoral de ajuda, é preciso entender que o enfoque principal é ajudar o homem
e a mulher a estabelecerem uma relação sadia com Deus, o que não consiste exatamente em
um processo terapêutico com técnicas mais apuradas e concretas. O que o autor propõe é
uma integração entre o campo da investigação e a distinção das competências para elabora-
ção do resultado. Com isto, a pastoral de ajuda passa a ser entendida como um processo
religioso pelo qual as pessoas passam a experimentar um Deus que redime, cura, reconcilia
e promove o crescimento humano.147

Neste sentido, Evans apresenta algumas alternativas de ações práticas de ajuda. A


autora destaca que quando adotamos uma visão mais integral da cura, todos os recursos dis-
ponibilizados podem ser meios de Graça restauradora de Deus, ao mesmo tempo em que
cooperamos com o processo de cura proporcionada por Deus. Desta forma, a Igreja se torna
parceira natural no cuidado da saúde através de meios de cura que podem ser utilizados por
pacientes, familiares, amigos, membros de Igreja que incluem os seguintes métodos:

a) por meios físicos: dieta, sono adequado, exercícios;

b) por meios médicos: cirurgias, remédios, testes e tratamentos;

145
Para os interessados em se aprofundarem no pensamento de Carl Rogers, fazemos a indicação de sua obra
“Tornar-se pessoa” editado pela Martins Fontes.
146
BERMEJO, José Carlos; 1997. p. 19, 20.
147
Ibidem.
60

c) por meios psicológicos: aconselhamento, terapia e imaginação.148

Para os casos de Transtorno de Pânico podemos utilizar alguns destes recursos vi-
sando o cuidado destas pessoas. Faz-se importante esclarecer que devido à complexidade
destes casos, algumas ações de cura149 podem promover mais do que realmente gerar cura.
Evans aborda este aspecto também em sua obra:

“O realismo defende a moderação das expectativas. Uma vez que as


expectativas são abrandadas, o paciente pode vir a apreciar o fato de
que, enquanto a restauração completa da saúde pode não ser sempre
possível, a cura em um certo nível está sempre disponível -
elementos que impedem ou retardam a saúde podem ser
removidos.”150
Esta postura não visa nos eximir de responsabilidades, mas tem como fundamento não
deixar com que o(a) individuo(a) seja tomado por uma expectativa que poderá ser danosa
caso não se concretize. Vejamos a seguir algumas ações que podemos promover por inter-
médio do Ministério de Saúde da Igreja.

Para Evans, no processo de ajuda, não pode abandonar também os métodos não-
alopáticos/complementares diante das enfermidades. A autora descreve alguns desses méto-
dos como sendo de possíveis aplicações e portanto podem ser disponibilizados como possi-
bilidade terapêutica, alguns exemplos: homeopatia151; ioga152; massagem; acupuntura153;
cupping (prática da antiguidade para melhorar a circulação); rolfing (técnica que utiliza a
pressão manual sobre vários pontos distintos do corpo com finalidade de liberar emoções
reprimidas e dissipar a tensão muscular habitual); terapias quiropráticas154; terapias à base
de ervas e vitaminas; meditação e toque terapêutico155. 156 A autora ressalta ainda que:

148
BERMEJO, José Carlos; 1997. p. 60.
149
Bem como o conceito sobre “cura” esclarecido até então no trabalho, nós também utilizaremos a cura para
referirmos ao aspecto integral do ser humano e não especificamente física.
150
BERMEJO, José Carlos; 1997. p. 60-61.
151
Sistema terapêutico que consiste no tratamento das doenças com doses infinitésimas de específicos capazes
de produzir em pessoa sã efeitos análogos aos sintomas das doenças que se pretende combater.
152
Sistema místico-filosófico da Índia, o qual procura, mediante determinados exercícios corporais, respiratórios,
mentais, hipnóticos etc.
153
Operação terapêutica de origem chinesa que consiste em introduzir uma ou várias agulhas metálicas finas em
pontos, chamados vitais, do corpo humano para tratamento ou aliviar dores.
154
Sistema de tratamento baseado na teoria de que as doenças resultam da falta de funções nervosas normais e
que emprega a manipulação e ajustagens específicas das estruturas do corpo, especialmente da coluna verte-
bral por intermédio de massagem.
155
Técnica contemporânea de contato das mãos que visa liberar tensões.
156
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 61-65.
61

“Na medicina alternativa, as especialidades da medicina alopática,


psicologia e religião se fundem. Médicos, psicoterapeutas, teólogos e
clérigos se tornam parceiros iguais no processo de cura. Mas,
enquanto a medicina alternativa inclui em sua definição o tratamento
médico tradicional... a medicina alopática, por outro lado, não
engloba essa abordagem holística157. A maior parte das pessoas
prefere o termo medicina “complementar” a medicina
“alternativa”.158
Gentil apresenta em sua obra que, métodos de relaxamento podem ser eficazes no
tratamento do TP. O autor destaca como técnicas de relaxamento a prática da ioga como
importantes para amenizar a ansiedade durante um processo de crise ou ataque de pânico.
São importantes também na reeducação da respiração, auxiliando no controle dos sintomas
provocados pela hiperventilação, conforme tratamos no primeiro capítulo.159

3.3 Pastoral de Saúde

Muito parecida com a pastoral de ajuda, a Pastoral de Saúde se diferencia por sua a-
tuação também nas esferas políticas da sociedade. Anísio Baldessin em sua obra; Como fa-
zer pastoral de saúde?, diz que a pastoral de saúde é a ação evangelizadora de todo o povo
de Deus, que por sua vez, se compromete a promover a vida em todos os sentidos, tornando-
se presente na sociedade atrás da concretização da missão libertadora de Cristo no contexto
da saúde.160 O objetivo da Pastoral de Saúde é:

“Evangelizar o mundo da saúde com renovado espírito missionário,


testemunhando Jesus Cristo em comunhão fraterna na opção
preferencial pelos pobres, enfermos e sofredores, participando da
construção de uma sociedade justa e solidária a serviço da vida em
plenitude, sinal do Reino de Deus entre nós.”161
Para o autor esta ação missionária se dá em três dimensões da vida: solidária; comu-
nitária; e nas esferas político-institucional. Ele descreve cada uma delas:

“Dimensão solidária: vivência da solidariedade com os doentes e


sofredores nos hospitais, domicílios e comunidades, atendendo a
pessoa em sua dimensão física, psicológica, social e espiritual.

157
A assistência holística descrita pela autora, faz menção ao movimento internacional encabeçados por Andrew
Weil, médico formado em Harvard. Ela engloba uma ampla variedade de práticas tradicionais e alternativas
de saúde, em que o espírito é interpretado a partir da perspectiva religiosa oriental e práticas exóticas são in-
cluídas misturando abordagens alternativas e alopáticas. (EVANS, A.R.p.63).
158
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 65.
159
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 158.
160
BALDESSIN, Anísio. Como fazer pastoral de saúde?. São Paulo-SP: Edições Loyola. 2000. p. 31.
161
Ibid., p. 32.
62

Dimensão comunitária: capacitação de agentes multiplicadores de


saúde e criação de grupos comunitários que atuem no campo da
prevenção, promoção, educação e humanização das instituições de
saúde mediante um processo participativo e transformador.
Dimensão político-institucional: atuação política junto aos órgãos e
instituições, públicos e privados, que prestam serviços e formam
profissionais na área de saúde. Participação nos conselhos
municipais, estaduais e nacional, e nas assembléias, buscando a
humanização do Sistema de Saúde, ou a fiscalização e a denúncia
quando isso não for possível.”162
Segundo o autor a religião ocupa um papel importante no processo da doença, e a fé
cristã, vem ajudando o(a) enfermo(a) ao longo de toda a história. Entretanto, ao mesmo
tempo em que reconhece a relevância da Fé neste contexto, o autor valoriza a contribuição
da ciência e da sabedoria dos profissionais de saúde pelos avanços conquistados até então.
Para ele, a comunidade de Fé, precisa espelhar-se no exemplo de Jesus. Assim como Ele,
precisamos olhar para o ser humano a partir da perspectiva do cuidado integral. O autor a-
firma ainda que:

“...a religião está associada ao bem-estar, saúde física, diminuição da


mortalidade, melhor controle de pressão arterial, maior capacidade
de enfrentar o estresse e maior satisfação conjugal e sexual. Existe
um potencial grande da própria pessoa que pode servir na promoção
da saúde e na cura das doenças”.163
A primeira finalidade da religião, não está na prerrogativa de livramento do inferno
ou da certeza do envio do homem e da mulher para o céu, para o autor, a religião tem um
papel fundamental de colocar o ser humano em contato com Deus e com as pessoas. Salien-
ta ainda o autor que, frente a um problema, podemos fazer uma oração a Deus em qualquer
lugar crendo que Ele está nos ouvindo. Por outro lado, quando precisamos de pessoas para
conversar, não podemos encontrá-las em qualquer lugar e na hora que queremos, neste mo-
mento, o autor apresenta a comunidade de Fé como um lugar que confere sentido para quem
necessita de conforto e auxílio.164

A Pastoral da saúde contribui para uma ação com os(as) portadores(as) de TP, devi-
do a sua conscientização social, métodos e ideais aplicados para o tratamento do(a) doente.
Especialmente, através da religião, podemos oferecer muitas contribuições ao portador de
TP, são elas:

162
BALESSIN, Anísio; 2000. p. 31,32.
163
Ibid., p. 38.
164
Ibid., p. 38,39.
63

“a. Reduzir a ansiedade existencial ao oferecer uma estrutura que


ordena e explica um mundo que parece caótico;
b. Oferecer esperança, sentido, significado e sensação de bem-estar
emocional;
c. Ajudar as pessoas a entender melhor a dor e o sofrimento,
encontrando nessas realidades um sentido reassegurador;
d. Fornecer soluções para uma grande variedade de conflitos
emocionais e situacionais;
e. Solucionar o problema perturbador da morte por meio da crença
na continuidade da vida;
f. Dar às pessoas uma sensação de poder e controle por meio da
associação com uma Força Onipotente;
g. Estabelecer orientação moral que suprime práticas e estilos de
vida autodestrutivos;
h. Promover coesão social;
i. Fornecer identidade, satisfazendo a necessidade de presença ao
unir as pessoas em torno de uma compreensão comum;
j. Fornecer as bases para um ritual estático coletivo.”165
Baldessim conclui que se de fato cremos que a religião pode ter um impacto positivo
na saúde das pessoas, como comunidade, não podemos fechar nossos olhos para os inúme-
ros casos em que os corpos doentes são produzidos a partir dos diversos fatores sociais. Para
ele, as instituições religiosas estão capacitadas a tratar das causas das doenças sociais, tanto
quanto as instituições médicas, que agem apenas na doença, e não nas causas.166

3.3.1 O Fator fé na saúde: Apontamentos gerais

Evans trás informações muito relevantes em sua obra quanto ao papel da religião na
saúde. Ela faz menção ao trabalho realizado, The Faith Factor, dirigido por Matthews Lar-
son, que analisou diversos casos clínicos em diferentes pessoas, relacionando-os com o fator
da fé. Este trabalho apresenta dados em quatro volumes. É possível constatar que fé e religi-
ão podem ser medidas cientificamente. Um indício religioso positivo apontado pela pesqui-
sa, foi o compromisso religioso167, vejamos:

165
BALDESSIN, Anísio; 2000. p. 38, 39.
166
Ibidem.
167
A pesquisa The Faith Factor, investigou a religião e a fé em relação a diferentes doenças. O termo “COM-
PROMISSO RELIGIOSO” considera práticas de freqüência à Igreja, voluntariedade e crença religiosa de paci-
entes.
64

“ ‘O efeito do compromisso religioso sobre o abuso de substâncias


tóxicas incluiu a redução do consumo de álcool em 16 de 18 estudos,
de nicotina em 6 de 6 estudos(100%) e do uso de drogas em 12 de 12
estudos (100%)’. Esses dados são importantes, se não
revolucionários, quando se considera que nos Estados Unidos
anualmente 400 mil mortes são causadas pelo fumo e 100 mil mortes
pelo álcool. Melhor saúde psicológica ‘indica a melhora no
ajustamento e no lidar com situações difíceis em 14 de 15 estudos
(93%)’. O compromisso religioso ‘reduziu o número total de
sintomas psicológicos adversos em 11 dos 13 estudos, inclusive
depressão (12 de 17 casos, ou 71%); hostilidade (4 de 4 casos);
ansiedade em geral (8 de 11 casos); e ansiedade em relação a morte
(10 de 15 casos, 67%)’. Além disso, ‘o efeito do compromisso
religioso no nível dos sintomas físicos e de resultados gerais na
saúde incluiu uma melhora geral na saúde (4 de 5 casos); diminuição
da pressão arterial (4 de 5); melhoria na qualidade de vida de
pacientes com câncer (7 de 8) e doenças do coração (4 de 6); e
aumento na sobrevivência (8 de 9, ou 89%)’. O bem-estar geral foi
correlacionado positivamente com variáveis religiosas com ‘maior
satisfação na vida (92%), maior satisfação marital (100%) e auto-
estima (2 de 4 casos, ou 50%)’.”168
Percebe-se que o aspecto religioso é fundamental quando relacionado com as doen-
ças. No caso das doenças psiquiátricas, em especial o tema do Transtorno do Pânico, quan-
do relacionado ao aspecto do compromisso religioso obteve um resultado considerável de
melhora em 67% dos casos (citado na pesquisa com o nome de “ansiedade em relação a
morte”).

A autora faz citação à outra pesquisa realizada em Glasgow, Escócia, que estudou os
efeitos da frequência à Igreja na saúde. A pesquisa foi realizada com base em uma amostra
aleatória de pacientes. Foram entrevistadas 964 pessoas com idade acima de 16 anos. Paci-
entes ligados a Igreja Católica Romana, à Igreja da Escócia e outra denominações protestan-
tes, apresentaram melhoras físicas, mentais e sociais em 41% dos casos em relação aos pa-
cientes que não frequentavam Igrejas.169

168
LARSON, Matthews et al., “Methods”, introdução do The Faith Factor, vol. 1, páginas não numeradas: A-
pud. EVANS, Abigail Rian. O ministério Terapêutico da Igreja: programas práticos para ministérios de saú-
de. São Paulo-SP: Edições Loyola, 2002. p. 78,79 e80.
169
HANNAY, D. R. Religion and Health, Social Sciense and Medicine 14A: Apud. EVANS, Abigail Rian. O
ministério Terapêutico da Igreja: programas práticos para ministérios de saúde. São Paulo-SP: Edições Lo-
yola, 2002. p. 81.
65

4 Iniciando um Ministério de Saúde


Evans, sugere que um ministério de Saúde seja criado a partir da comunidade de Fé,
o que a nosso ver pode ser uma alternativa para o processo de acolhimento, cuidado e a-
companhamento aos pacientes de TP. Ao descrever como iniciar um ministério de saúde, a
autora esclarece que não há uma receita pronta, cada ministério é adaptado de acordo com
cada realidade e contexto. O ministério de saúde não necessita estar completamente estrutu-
rado para iniciar suas atividades. O crescimento e estruturação poderão acontecer com o
desenvolvimento dos trabalhos. Entretanto, a autora nos oferece algumas sugestões para
iniciarmos o trabalho. Evans aponta a necessidade de um trabalho de conscientização de
toda congregação. Esta tarefa de envolvimento dos membros da Igreja, é de responsabilida-
de primeira do pastor e da pastora. Poderá ser criado um comitê de apoio para a realização
dos levantamentos iniciais como: financeiros, estabelecimento de objetivos claros e coeren-
tes, coalizões com órgãos do governo e ou grupos da comunidade. Durante o processo de
aprendizado sobre o ministério da saúde e de pesquisa na comunidade para levantamentos
gerais, a autora propõe que a comunidade apresente o projeto em oração afim de que haja
direcionamento para os trabalhos. É importante também que haja estudos bíblicos sobre o
tema como forma de envolvimento dos membros no contexto de ajuda.170

Segundo a autora, outra maneira de envolvimento da Igreja, seria promovendo ações


de ministério de saúde sem que as pessoas se dêem conta disso, como por exemplo: distribu-
ição de refeições na rua e creches; visita a pessoas acamadas; e círculos de orações. Essas
ações gradativamente irão inserindo a Igreja no contexto e proporcionando interesse para o
desenvolvimento do projeto. A autora sugere que Igrejas interessadas na abertura de minis-
térios de saúde, visitem ministérios que já existem. Há também a possibilidade de participar
de aulas e educação de saúde, promovidas por estes grupos, embora também possam ser
encontradas em hospitais e centros médicos. Estes locais, por conhecerem como atuam ou-
tros ministérios de saúde, são importantes centros de informações para as Igrejas, evitando
duplicidade de esforços entre eles 171, acrescenta a autora:

“Eles fornecem meios para instruir os membros da Igreja e da


comunidade em geral sobre a importância da Igreja como provedor e
sede cuidados da saúde; um bom inicio para que as Igrejas não

170
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 247, 248 e 252.
171
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 248, 249.
66

tenham de inventar programas do nada. Um congregação local pode


funcionar como um centro de recursos que ofereça informações
sobre o cuidado da saúde para seus membros e para a comunidade
em geral.”172
Para Evans, é essencial incluir membros de diferentes grupos e ministérios da Igreja
nesta tarefa de implantação. Como mencionamos anteriormente, a criação de um comitê se
faz necessário para que o programa seja comunal e não um empreendimento isolado da Igre-
ja. Não necessidade de que os integrantes deste comitê sejam todos profissionais de saúde.
É de obrigação deste comitê estabelecer propósitos e objetivos de ação; distribuição de fun-
ções; identificar recursos na congregação como voluntários, profissionais de saúde, educa-
dores, patrocinadores e administradores; identificação de recursos na comunidade a fim de
evitar duplicações; desenvolvimento de orçamento e plano de levantamento de verbas; re-
crutamento e contratação de profissionais de saúde.173

Faz-se importante percebermos a ecumenicidade deste ministério. Seria um equívoco


pensar em um trabalho desta natureza, com apenas a participação dos membros da Igreja,
esta ação precisa envolver a sociedade. Os membros do ministério de saúde poderão ser
membros voluntários ou contratados.

4.1 O agente do Ministério de Saúde

O agente de saúde é aquele que busca oferecer o amor, a misericórdia, a solidarieda-


de e a gratuidade para com os mais necessitados a exemplo de Jesus. Em uma perspectiva
de perfil comportamental, é importante que este apresente uma personalidade madura; equi-
librada; sensível e solidário ao problema do outro; precisa ter predisposição para o aprendi-
zado e responsabilidade.174

Evans nomeia este agente de saúde como enfermeiro(a) pastoral. Para a autora, este
termo alinhado ao pastoral, enfatiza a missão do cuidado da saúde em níveis espirituais e
físicos, bem como aproxima o profissional da saúde ao contexto pastoral. A partir de uma
ação multiplicadora, o enfermeiro(a) pastoral tem a função de conscientizar as pessoas da
Igreja e da comunidade a alcançarem uma qualidade de vida mais sadia por meio de infor-
mação que indicam como se obter bem-estar em todos os níveis da vida, prevenção de en-

172
Ibid., p. 249.
173
Ibid., p. 252, 253.
174
BALDESSIN, Anísio. Como Organizar a Pastoral da Saúde. São Paulo-SP: Edições Loyola, 2007. p. 56-58.
67

fermidades e a promoção da saúde – em um modelo muito parecido a proposta do governo


brasileiro proposto pelo Ministério da Saúde de agentes comunitários de saúde. O(a) enfer-
meiro(a) pode ainda ser um conselheiro(a) pessoal para assuntos relacionados à saúde na
comunidade. Como educador da área da saúde, promove a formação de grupos de ajuda
mútua de acordo com as necessidades da comunidade. Pode ser um relações públicas, entre
comunidade e os órgãos governamentais, divulgando para a população os recursos de saúde
disponíveis nos centros de saúde regionais e cobertos pelo governo, e ao contrário também,
levando aos órgãos competentes, desejos e anseios da comunidade como meio de providen-
cia em relação às necessidades comunitárias.175

4.2 Aconselhamento Educativo


Para Clinebell, o aconselhamento educativo é particularmente proveitoso como ins-
trumento de ajuda e aconselhamento de pessoas e grupos preventivos. O conceito deste a-
conselhamento educativo, visa promover alinhamento entre educação e aconselhamento.
Para Clinebell, aconselhamento e terapia são métodos de reeducação que objetiva substituir
um aprendizado, que ele denomina defeituoso, por um aprendizado criativo de idéias, atitu-
des, habilidades de relacionamentos e valores.176 Isto é o que Tito Paes de Barros Neto
chama de terapia cognitiva e de grande relevância para o tratamento do TP. Segundo Barros,
trata-se de uma reeducação de pensamentos distorcidos, chamados de cognições. Esses pen-
samentos precisam ser reinterpretados para que a pessoa consiga reagir frente a situações
como o TP seguido de agorafobia.177

Sabe-se também que as crises ou ataques de pânico que acometem os(as) portado-
res(as) do TP são seguidos de sintomas. Por mais que tenhamos evidenciado no primeiro
capítulo as disfunções noradrenérgicas; serotonérgicas e gabaérgicas, que são responsáveis
por disparos adrenalínicos causando assim os ataques. Nestes casos, a partir de intervenções
medicamentosas, os ataques podem ser controlado, entretanto, sabe-se também que parte
das sensações presentes nos momentos de crise se dão por fatores psicológicos.178 Atual-
mente a medicina psicossomática é normalmente praticada, tendo em vista que esta passou

175
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 217, 225.
176
CLINEBELL, Howard J; 1987. p. 313, 314 e 315.
177
BARROS NETO, Tito Paes de; 2000. p. 17 e 18.
178
GENTIL, V; LOTUFO-NETO Neto, F; 1996. p. 149.
68

por diversos questionamentos até que fosse realmente provada como legitima em atribuir
relações entre mente e corpo.179 Neste exemplo se faz necessário também a aplicação do
método educativo no sentido de reinterpretação dos processos de crises e sensação de morte
que são acometidos(as) os(as) portadores(as) do TP, como veremos a seguir.

Evans destaca o caráter educacional do pastor e a pastora como agentes da saúde li-
gados ao exemplo, e deste modo, também necessitam de saúde. A partir deste ponto, se faz
essencial dar o exemplo quanto aos hábitos e estilo de vida desenvolvido por eles, de modo
que possam trazer saúde integral para suas vidas. Este exemplo, deve comunicar a comuni-
dade e membros, uma recusa por tornar-se escravo da doença do trabalho excessivo e do
materialismo presente na sociedade, há alternativas sadias que precisam ser aplicadas. A
autora considera que o pastor e a pastora pode ser um (a) agente de cura de diversos modos
ao passar ensinamentos:180

1. O pastor e a pastora, são proclamadores de verdades que geram esperança: cada pessoa
tem dignidade infinita; doença não é um sinal de pecado; quando o pecado causa a doença,
o perdão está disponível.

2. O pastor e a pastora trazem consigo símbolos da cura ao se relacionar não com pacientes
e sim com pessoas. Muitos indivíduos lutam para aceitar suas doenças, como no caso do(a)
portador(a) do TP, com este tipo de postura do pastor e da pastora podem sustentá-los(as)
diante da dor e do sofrimento, ajudando-os(as) a viverem em meio a esta realidade de fragi-
lidade.

3. O pastor e a pastora ao aconselhar as pessoas, identificam pedras no caminho da cura e


colocam as pessoas em contato com seus próprios recursos terapêuticos interiores. Abre-se
então as portas para o poder terapêutico de Deus; e as integra a uma comunidade de apoio e
serviço. Confiança e constância precisam ser partes importantes do ministério de aconse-
lhamento.

Clinebell, aponta seis pressupostos que constituem o fundamento teórico e aplicativo


do aconselhamento educativo:

“1. Conhecimento intelectual é importante para lidar


construtivamente com a realidade.

179
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 60, 61.
180
Ibid., p. 251, 252.
69

2. A maioria dos aconselhandos tem suficientes áreas livres de


conflito na personalidade para lhes permitir algum uso da
informação obtida em sessões de aconselhamento educativo e nas
tarefas de leitura entre as sessões.
3. O conhecimento, os valores e habilidades de um pastor podem ser
proveitosos para muitos aconselhandos.
4. Habilidades de aconselhamento podem ajudar a pessoa a utilizar
informação relevante.
5. Fatos, intuições, valores e habilidades podem ajudar muitas
pessoas a enfrentar com mais eficácia os desafios com que são
confrontadas. O enfrentamento construtivo fortalece sua noção de
identidade, confiança e valor próprio.
6. O modelo que o pastor representa por suas atitudes construtivas,
seus conteúdos de fé, valores e comportamento, representa uma das
mais efetivas partes do ensinamento proporcionada por ele (no
aconselhamento e em outras ocasiões). Por exemplo, o relacionar-se
com clientes do sexo feminino de modo não-sexista (como seres
humanos integrais em primeiro lugar, e como mulheres em segundo)
tende a produzir aprendizado e crescimento, que podem ser
reforçados por uma declaração didática sobre essa questão.”181
Clinebell apresenta um caráter de aprendizado existente em aconselhando(a) e conse-
lheiro(a) . Ambos buscam a melhora no sentido de cura integral, que se dará pela conscien-
tização de suas realidades: fracassos, dores, vitórias, potenciais e virtudes. Para Clinebell o
responsável pelo aconselhamento, funciona melhor como um moderador do que como um
solucionador de problemas.

Concluindo estas considerações sobre aconselhamento educativo, entendendo que


suas práticas não excluem a importância ou necessidade de utilização de métodos farmaco-
lógicos, entretanto, ambos podem caminhar juntos diante da realidade do TP. Também Sali-
entamos que não é de responsabilidade do ministério de saúde, estabelecer receituários ou
indicações medicamentosas, a menos que haja o acompanhamento de um profissional de
saúde com especialização para assim proceder atuante junto ao ministério.

181
EVANS, Abigail Rian; 2002. p. 318.
CONCLUSÃO

Foi possível constatar a partir das bibliografias consultadas sobre o tema do Transtor-
no do Pânico, que há menos de três décadas este assunto tem sido abordado pelos profissio-
nais da saúde de forma significativa. Em especial, na última década, as pesquisas e estudos
sobre o Transtorno do Pânico estão sendo intensificadas, na esperança de encontrar alterna-
tivas para controle dos sintomas. É possível dizer que os tratamentos disponibilizados até o
momento têm surtido efeitos expressivos. Todavia, eles não trazem cura ao portador(a) do
Transtorno do Pânico. Constatamos também que conclusões sobre possíveis causas ainda
são divergentes, embora se saiba que, fatores sociais como: stress, sobrecarga de trabalho,
falta de tempo, sedentarismo, violência, insegurança, sentimentos de perdas entre outros,
são fatores desencadeadores da doença.

Esses fatos nos direcionam a uma conscientização do que é a doença, como ela aco-
mete as pessoas e a que tipo de sofrimento estão sujeitos os corpos. Desta forma, a patologia
precisa receber os devidos cuidados como apresentado no primeiro capítulo. Classificá-la
como etiologicamente espiritual/demoníaca, é desconhecimento dos fatos, e assim, encami-
nhamentos que não sejam farmacológicos, terapêuticos e aeróbicos, são insensatos. Como
podemos constatar também, o não tratamento pode culminar em efeitos desastrosos para
o(a) individuo(a), em alguns casos chegando a depressão profunda e até a morte. Ricardo
Mariano em seu livro, conta alguns casos em que pastores pediram para pessoas abandona-
rem seus medicamentos e que por consequência, estes últimos, vieram a óbitos.
71

Para lidarmos com os desafios atuais, devemos buscar um caminho que respeite a rea-
lidade local, entretanto, é preciso manter um olhar do todo para que possamos ir ao encontro
do ser humano individual; buscar uma solução para suas aflições; cultivar os relacionamen-
tos; precisamos conhecer a psique humana e preservar o aspecto na alma humana; reconhe-
cer os desafios específicos de cada contexto, sem ignorar miséria, déficit de saúde, educação
violência e diferenças de gêneros e etnias.

Nossas comunidades precisam de nossa ajuda, no sentido de serem confrontadas pela


existência de pessoas em seus estados de padecimento, que precisam de ajuda pessoal e fa-
miliar e de espaços cristãos que forneçam apoio, orientação, resolução e cura em meio a sua
situação. Uma Igreja que possui Jesus como referencial, não pode deixar de ter um olhar
crítico da realidade do contexto a sua volta. Em Jesus esta a chave para a missão da Igreja.
Jesus se interessa, identifica e compromete-se com o sofrimento humano. Somos chamados
e chamadas a ser agentes de esperança e cuidado, e assim, através da proclamação do evan-
gelho transmitir seus valores como novidade de vida.

Frente aos problemas sociais, a Igreja tem o grande desafio de desenvolver um papel
pastoral, que não cabe apenas ao pastor e a pastora, mas a toda a comunidade que necessita
exercer o papel de comunidade terapêutica ou comunidade geradora de saúde.

A saúde é muito mais que um bem estar físico. Para gerar saúde, a ação pastoral deve
entrar em contato com o sofrimento humano, não bastando apenas consolar e acompanhar,
mas descobrir as causas, formas de intervenção e alívio para harmonia atual desta geração e
das próximas.

Descobrimos nesse trabalho que, como cristãos e cristãs, temos muito a oferecer para
as pessoas que sofrem de modo geral. As diretrizes oferecidas neste trabalho, não se compa-
ram ao potencial existente em cada um de nós, como Clinebell diz, precisamos liberar o
potencial que existe dentro de nós. As pessoas que compõem nossa sociedade carecem de
referenciais acolhedores. Precisamos fazer de nossas comunidades, espaços de acolhimento,
ajuda e cura para o homem e a mulher em sua integralidade.

O que muito nos alegra, é que não esgotamos o tema, muitas outras pesquisas podem
ser feitas a partir desta, como por exemplo:
a) Um aprofundamento exegético e hermenêutico sobre o tema do medo e sofrimento
no Antigo e Novo Testamento;
72

b) A relação libertadora de Jesus para aplicação na ação comunitária aos enfermos e


marginalizados;
c) Outras ações pastorais específicas em relação a outros casos de saúde;
d) Capelania hospitalar;
e) Ações educativas para a comunidade, de modo a envolvê-la nas questões sociais;
f) Aprofundamentos terapêuticos para comunidades que atuam com ministério de saú-
de;
e) Teologia prática e o tema da saúde entre outras;

Como cristãos e a cristãs, temos um compromisso com a vida que vai além das cele-
brações cúlticas e sacramentais. É sabido que Deus é onipotente e que curas podem ser en-
tendidas como manifestação de sua Graça, entretanto, atribuir o contexto da cura somente a
Deus é fechar os olhos para a realidade e não assumir nossa responsabilidade neste processo
de cuidado. Reafirmar nosso chamado como agentes de cura nessa terra de fragilidades,
desespero e dor se faz necessário. O Deus da vida convoca Sua Igreja para ser atuante na
promoção da vida afim de priorizá-la e preservá-la.
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