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Joaquim Blessmann
Professor aposentado, Departamento de Engenharia Civil, UFRGS
joaquimb@cpovo.net
Resumo
O objetivo deste trabalho é ampliar o conhecimento das cargas do vento em telhados a quatro
águas. Já na década de 1930 pelo estudo de danos causados por furacões foi constatado que
telhados a quatro águas resistem melhor à ação do vento do que os a duas águas, com
características similares. Posteriormente, pesquisas em túneis de vento mostraram que as
pontas de sucção são bem menores (cerca da metade, em certos casos) nos telhados a quatro
águas. Complementando ensaios anteriores em 20 modelos, foram estudadas as cargas do
vento em 10 modelos com paredes mais altas do que naqueles ensaios, com e sem beirais, e
com platibandas de diversas alturas. Os ensaios foram realizados no túnel de vento TV-2 da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A partir das pressões médias medidas em um
multimanômetro a álcool foram calculados os coeficientes de pressão e, por integração
numérica, os coeficientes de forma. São apresentadas tabelas e gráficos dos coeficientes de
forma (Ce) e das pontas de sucção (cpe), bem como algumas curvas isobáricas. Foi concluído
que também para os modelos agora ensaiados (como ocorreu para outros ensaios de modelos
com coberturas a quatro águas) uma platibanda pode ser favorável ou desfavorável,
dependendo da altura da parede e da platibanda, da inclinação do telhado e do ângulo de
incidência do vento.
1 INTRODUÇÃO
Telhados a quatro águas são de uso corrente em vários países. Os primeiros ensaios de
que temos notícia foram feitos em 1928, por DAWLEY [1], em um modelo de grandes
dimensões (axb=1,37x0,90m) em um túnel aerodinâmico de secção transversal 3,20x4,10m.
Dez anos mais tarde, GIOVANNOZZI [2] pesquisou a ação do vento em um modelo de
pequenas dimensões, colocado no piso de um túnel aerodinâmico.
Os primeiros ensaios com simulação de características de ventos naturais, foram os de
JENSEN e FRANCK [3], em 1965. A partir daí, esporadicamente foram realizados mais
alguns ensaios em modelos com coberturas a quatro águas, principalmente na última década
do século XX. Eles foram feitos após a constatação de que, em furacões, os telhados de quatro
águas resistem melhor que os de duas águas. Enquanto telhados a duas águas foram
severamente danificados, os de quatro águas, situados nas proximidades, resistiram sem
danos.
2 ENSAIOS
Em nossa série anterior de ensaios em modelos de construções com telhados a quatro
águas [5] foram estudados vinte modelos de construções de planta retangular axb =2x1, com
duas alturas de paredes. A presente série utilizou modelos com as mesmas dimensões em
planta e com uma altura maior das paredes, sendo iguais as outras variáveis (inclinação do
telhado, beiral, platibandas).
A Figura 1 apresenta a simbologia utilizada, os quadrantes, as zonas e a orientação do
vento. Nas Tabelas 1 e 2 são dadas as dimensões e proporções dos modelos da série anterior e
da presente série.
As pressões médias (temporais) foram medidas em um multimanômetro a álcool. A
partir de fotografias deste multimanômetro foram calculados os coeficientes de pressão
externa, definidos por:
VISTA SUPERIOR
CORTE -- DETALHES
Figura 1 -- Simbologia
TABELA 1 -- Dimensões e proporções dos modelos com beiral (6 modelos)
Modelos a x b x h (mm) θ b (mm) b/ h h/b
Parede baixa (PB) 320 x 160 x 60 15°
2/10 3/8
(2 modelos) [2 x 1 x 0,375] 30°
Parede média (PM) 320 x 160 x 120 15°
12 2/20 6/8
(2 modelos) [2 x 1 x 0,75] 30
Parede alta (PA) 320 x 160 x 180 15°
2/30 9/8
(2 modelos) [2 x 1 x 1,125] 30°
Quadrante 3 Quadrante 4
Zon Com Com Platibanda p/h= Com Com Platibanda p/h=
a Beiral 0 0,05 0,10 0,20 Beiral 0 0,05 0,10 0,20
0º - 73 - 79 - 75 - 76 - 70 - 22 - 21 - 14 - 06 + 01
15º - 101 - 92 - 87 - 86 - 79 - 33 - 34 - 22 - 13 + 07
30º - 108 - 94 - 79 - 80 - 78 - 54 - 53 - 42 - 30 - 10
I 45º - 78 - 66 - 96 - 78 - 71 - 66 - 67 - 61 - 50 - 37
60º - 53 - 49 - 62 - 71 - 56 - 59 - 59 - 61 - 53 - 49
75º - 49 - 46 - 45 - 40 - 51 - 52 - 49 - 49 - 47 - 59
90º - 47 - 45 - 42 - 43 - 64 - 47 - 45 - 42 - 43 - 64
0º - 35 - 35 - 31 - 33 - 58 - 19 - 20 - 16 - 11 - 15
15º - 68 - 67 - 66 - 62 - 62 - 43 - 46 - 39 - 31 - 19
30º - 84 - 82 - 80 - 73 - 56 - 66 - 65 - 60 - 51 - 23
II 45º - 74 - 66 - 84 - 76 - 45 - 69 - 67 - 76 - 63 - 46
60º - 54 - 51 - 62 - 72 - 57 - 54 - 54 - 64 - 61 - 60
75º - 49 - 45 - 47 - 54 - 66 - 50 - 46 - 47 - 50 - 63
90º - 46 - 45 - 46 - 48 - 71 - 46 - 45 - 46 - 48 - 71
0º - 45 - 56 - 79 - 83 - 55 - 34 - 28 - 17 - 07 + 03
15º - 57 - 57 - 74 - 83 - 82 - 38 - 36 - 31 - 20 + 03
30º - 58 - 56 - 62 - 69 - 80 - 53 - 50 - 43 - 30 - 21
III 45º - 41 - 44 - 70 - 56 - 69 - 66 - 64 - 49 - 40 - 38
60º - 31 - 35 - 45 - 51 - 63 - 63 - 63 - 58 - 54 - 54
75º - 35 - 37 - 34 - 39 - 73 - 59 - 64 - 52 - 53 - 67
90º - 47 - 53 - 40 - 50 - 80 - 47 - 53 - 40 - 50 - 80
Figura 2 -- Modelos com parede alta. Ce min em toda a cobertura (zona 1, 2, ou 3)
Figura 3 -- Pontas de sucção no quadrante 1 dos modelos com parede alta (PA)
Figura 4 -- Valores mínimos de ĉ pe (cpe min) em toda a cobertura
5. CONCLUSÔES
Esses ensaios confirmaram resultados anteriores, de vários autores, sobre a diminuição
das forças mais nocivas do vento quando se passa de um telhado a duas águas para um de
quatro águas, mantendo as outras características da construção. Outrossim, mostraram a
influência da altura das paredes e de platibandas, bem como da inclinação do telhado.
Em particular, a existência de uma platibanda pode ser favorável ou desfavorável,
dependendo da altura da parede e da própria platibanda, da inclinação do telhado e do ângulo
de incidência do vento.
Figura 5 -- Curvas isobáricas com vento a 60° -- Modelo com paredes altas -- p/h = 0,05 ;
θ = 15°.
Figura 6 -- Curvas isobáricas com vento a 60° -- Modelo com paredes altas -- p/h = 0,20 ;
θ = 15°.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] DAWLEY, E.R. Wind-pressure tests made on large model building. Engineering
News Record. New York . March 29, 1928, v. 100, n. 13, p. 508-510.
[2] GIOVANNOZZI, R. Studio dell' azione del vento sopra due modelli di edifici.
L'Aerotecnica, v. XV, fasc. 6, 1935, p. 596-651.
[3] FONT, M. Lessons from hurricanes in Porto Rico. Engineering News Record. New
York. Oct. 20, 1932, v. 109, n. 16, p. 470-471.
[4] JENSEN, M. e FRANCK, N. Model-scale tests in turbulent wind. Part II. The
Danish Technical Press, Copenhagen, Holanda, 1965.
[5] BLESSMANN, J. Ação do vento em telhados a quatro águas. In: 31º Jornadas
Sulamericanas de Engenharia Estrutural. Mendoza, Argentina, 2004, 19 p. [Anais
em CD].