Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
COCIHTEC/HISTÓRIA
1
terra através da expropriação das populações indígenas, que foram convertidas em
camponeses dependentes dos latifundiários.
Devido às ligações com o capital internacional, os que mais se beneficiavam dessa
estrutura econômico-social eram os grandes proprietários de terras, comerciantes e
banqueiros, em virtude da acumulação de renda no setor exportador.
Outra característica marcante da América Latina no século XIX é o contraste entre a
cidade e o campo. Enquanto que a primeira se modernizou devido aos investimentos
estrangeiros no transporte e nos serviços, o segundo manteve a estrutura aristocrática e
hierárquica baseada na posse das grandes propriedades.
A América recebeu um grande contingente de europeus que se fixaram,
principalmente, nos Estados Unidos, Argentina, Brasil e Uruguai. O trabalho assalariado do
imigrante no campo e na cidade promoveu o desenvolvimento do mercado interno.
A vida política da América Latina foi marcada pelo caudilhismo, fenômeno político
resultante da instabilidade política e da fragmentação econômica.
Os conflitos entre as nações latino-americanas, como a Guerra do Paraguai (Brasil,
Argentina, Uruguai e Paraguai) e a Guerra do Pacífico (Peru, Bolívia e Chile) foram
provocados por disputas territoriais e pelos interesses das potências imperialistas.
Ao lado do imperialismo inglês, o imperialismo norte-americano expandiu a sua ação
na América Latina através de intervenções diretas e investimentos. A guerra contra o México,
que permitiu aos Estados Unidos anexarem o Texas, o Novo México e a Calif6rnia no [mal da
década de 40, e a intervenção na Nicarágua em 1856 comprovam o primeiro caso. Já em
relação aos investimentos, eles foram aumentando no decorrer do século XIX.
Mais uma vez, em função da falta de tempo, restringiremos nossa análise a questão
econômica. Sabemos, no entanto, que ela decisiva para o quadro político e sociocultural que
pode ser entendido a partir dela. Quando se examina a situação econômico-financeira do
Brasil, durante o século XIX, é importante salientar a articulação existente entre o modelo
econômico, herdado do período colonial, e a nova dinâmica do capitalismo internacional que
se afirmava na Europa ocidental, em especial na Inglaterra. A independência não representou
a superação do modelo agrário-escravocrata-exportador. Pelo contrário, reforçou o poder da
própria aristocracia rural que se articula com o capital internacional como fornecedora de
"artigos de sobremesa" (café, açúcar, cacau, etc) e consumidora de produtos industrializados.
A essa situação, acrescente-se a dependência financeira que se traduz empréstimos sucessivos
junto a banqueiros ingleses.
Até por volta de 1830, a situação econômico-financeira é caótica. Assiste-se a uma
crise do modelo agrário-exportador: o açúcar enfrenta a concorrência do açúcar antilhano e a
queda de preços no mercado internacional; o algodão é incapaz de concorrer com o algodão
produzido no sul dos Estados Unidos; o tabaco, utilizado em larga escala na aquisição de
escravos na África é penalizado devido às pressões internacionais contra o tráfico. A
mineração não é nem sombra do que fora durante o século XVIII. A produção industrial
inexiste, em função dos Tratados de 1810 (renovados em 1827), da concorrência industrial
inglesa, da ausência de um efetivo mercado consumidor e de capitais disponíveis. Sem
dúvida, este quadro ca6tico aprofundou a crise política que culminou com a abdicação de D.
Pedro I, em 1831. A partir da década de 1830, gradativamente, o Brasil se reintegra nos
quadros do comércio internacional graças à emergência da economia cafeeira. Produzido, a
princípio, no Vale do Paraíba, a partir da segunda metade do século a cultura cafeeira
direciona-se, aos poucos, para o oeste paulista.
É importante destacar as transformações ocorridas a partir de meados do século XIX
na economia brasileira. Pode-se falar, inclusive, que, a partir de então, verifica-se um primeiro
momento no processo de industrialização do país. Evidentemente algo tímido, uma vez que a
estrutura escravocrata inviabilizava qualquer mudança mais significativa.
De qualquer forma, é indiscutível a existência de um "surto econômico" a partir de
1850. Quanto aos fatores responsáveis, esquematicamente, teríamos:
- fim dos Tratados de 1810, em 1843;
- Tarifas Alves Branco, de 1844, elevando as taxas alfandegárias;
- Lei Eusébio de Queirós, em 1850, proibindo o tráfico negreiro e liberando os capitais
até então aplicados no comércio de escravos, para outros setores da economia;
- início do sistema ferroviário;
- aplicação de capitais ingleses em serviços de infraestrutura (transportes, melhorias
portuárias), mineração, agricultura, atividades financeiras;
- aplicação de capitais oriundos do setor cafeeiro em outras atividades;
- início da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, através do processo
imigratório.
3
Esta modernização da economia brasileira e o "surto industrial", no entanto, não
devem nos levar a posições equivocadas. O Brasil continuava sendo uma economia
essencialmente agrário-exportadora ou, melhor dizendo, primário-exportadora.
Finalmente, deve-se ressaltar a importância da contribuição do imigrante nas
transformações que se verificaram no fim do Império. Desde 1850, com a extinção do tráfico
negreiro, iniciara-se, com o "sistema de parceria", o processo imigratório. A princípio, coube
à iniciativa privada (fazendeiros) estimular a vinda de imigrantes. No entanto, apenas a partir
de 1870, quando o governo toma a si a tarefa de subvencionar a vinda dos imigrantes
europeus, a corrente imigratória ganha fôlego. Basta lembrar que, na última década da
Monarquia (1881-90), mais de 450 mil imigrantes chegaram ao Brasil, a grande maioria
atraída pela miragem de "fazer a América". A realidade, evidentemente, era outra. Fazendas
de café do oeste paulista, num primeiro momento, e, em seguida, as fábricas que começavam
a surgir em São Paulo. De acordo com o Prof. Luiz Roberto Lopez, "conforme dados de 1901
cerca de 90% dos trabalhadores industriais de S. Paulo eram imigrantes. Assim: ao brasileiro
vítima do êxodo rural ou ao ex-escravo 'libertado' pela Lei Áurea sobraram, na cidade, apenas
as tarefas não especializadas e de baixa remuneração. É claro que semelhante quadro serve de
reforço à ideologia colonialista da 'incapacidade' do brasileiro de 'subir na vida' e 'progredir'
através do trabalho, ideologia que, freqüentemente repetida por segmentos da pequena
burguesia atual, colabora para a manutenção de um sistema de dominação social."(LOPEZ,
op. cit., p. 77.)
Bibliografia:
“MARQUES, ADHEMAR MARTINS & BERUTTI, FLAVIO COSTA. HISTÓRIA
(Segundo Grau). Volume I. LÊ.SP. 1989.”