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TEORIA DOS UNIVERSOS CIRCUNDANTES

Percepção, espaço e fotografia: uma abordagem metodológica

Mario Bitt-Monteiro

RESUMO:
A Teoria dos Universos Circundantes, constitui-se numa proposta metodológica em nível experi-
mental, com o intuito de fornecer subsídios para o alcance de novos patamares do conhecimento
em Fotografia, tanto nos seus redutos teóricos e artísticos, quanto nas suas aplicações técnicas,
substanciado a partir de conjecturas e reflexões sobre a teorização do espaço, seus atores, atmos-
feras e elementos composicionais. Além disso , procura definir um método experimental normati-
vo também de observação conjugado ao registro fotográfico, adequando, teoricamente, ‘as
estratificações dos universos ou espaços que nos circundam durante nossos deslocamentos coti-
dianos, concomitante ‘as percepções e impressões que, por eles, somos influenciados .

PALAVRAS-CHAVE:
Fotografia; Método de Observação; Método de Registro Fotográfico

1 INTRODUÇÃO

A partir de reflexões sobre minhas expe- como as formas de visualização e memoriza-


riências, vivenciadas no cotidiano em que a ção dos atores e elementos componentes des-
fotografia se transformou no combustível ses espaços. Assim, a análise a seguir terá como
onírico que passou a mover todas as mi- objetos tanto o estudo da figura do sujeito/
nhas ações, há quatro décadas, tanto na es- observador, enquanto ser cognocente/curio-
fera pessoal quanto profissional, decidi reu- so, de um lado, quanto das diferentes nuan-
ní-las neste texto. Isso porque acredito que ces de que se reveste o panorama que consti-
novas leituras podem ser feitas dentro dela, tui o universo cognocível/observável em que
o que me permite registrá-las como uma ele atua, vive, cria e recria.
contribuição pessoal ao desenvolvimento da Eis, em poucas palavras, a síntese daquilo
fotografia enquanto linguagem de comuni- que considero fundamental para a inserção do
cação, muito superior ao caráter de disci- fotógrafo nos novos paradigmas artísticos e
plina instrumental que lhe é ainda atribuído científicos que se abrem no limiar do terceiro
por alguns. milênio, que, superando o reducionismo da
Nessa perspectiva, reuni os resultados da ciência tradicional, cartesiana, buscam rein-
ação acadêmica, seja nas dimensões do ensi- tegrar a arte e a ciência numa teia complexa,
no, da pesquisa ou da extensão universitária onde têm o espaço, a razão e a emoção, a
em que tenho me envolvido, dia após dia, no objetividade e a subjetividade, o amplo e o
Núcleo de Fotografia da Faculdade de Biblio- restrito, sem a rigidez do dogma, como MO-
teconomia e Comunicação (FABICO) da UFR- RIN (1998) tão bem conseguiu sintetizar e
GS, buscando relacioná-los com a teoria exis- que serve de pano de fundo para este traba-
tente. E, dessa união, nasceu aquilo que cha- lho.
mo, provisoriamente, de Teoria dos Univer- Os modos subjetivos de sentir, as maneiras
sos Circundantes. de cada pessoa comportar-se diante e com a
Basicamente, ela teve origem na interação fotografia enquanto meio de leitura e docu-
observada entre o sujeito, na condição de es- mentação dos universos circundantes, são al-
pectador, de observador, e o espaço em que gumas reflexões que faço, fundamentando-me,
ele se insere, em cada momento vivido, bem como já disse, em experiências vivenciadas,
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às quais permiti-me agregar uma análise se- também na geração e divulgação dos novos
miótica. patamares do conhecimento artístico, cientí-
Ao longo de 40 anos de profissão como fico e tecnológico, que, de acordo com o im-
fotógrafo, seja como autor, ou como pesqui- pacto das novas tecnologias, abriram o espa-
sador interessado em enveredar nas experimen- ço para a imagem digital, virtual, desterritori-
tações com usos de novos elementos e pro- alizada.
cessos na obtenção, processamento e pós- Através da integração entre as reflexões
processamento de imagens analógicas e, mais feitas a partir da prática com os elementos
recentemente, digitais, obtive resultados que teóricos buscados na literatura, pretende-se
acredito trarão uma contribuição, que presu- confirmar a hipótese de que há uma correla-
mo ser significativa, para o avanço do conhe- ção direta entre a percepção do indivíduo e
cimento teórico sobre a fotografia. Tal inte- suas relações com diversos tipos de espaços
resse, nos últimos três anos, teve como cená- ou ambientes vivenciados. E, em decorrência,
rio o município de São José dos Ausentes, RS, isso o conduz a experimentar diferenciados
a partir de experiências realizadas em função estímulos sensoriais, onde o indivíduo, tanto
de convênio assinado entre a Universidade e a quanto o ator, o espectador ou observador,
Prefeitura daquele Município. são o epicentro dos universos que o circun-
Lá, verdadeiro paraíso ecológico do plane- dam.
ta, palco de luzes e de sombras indescritíveis Tais reflexões tem o intuito de dar embasa-
ao simples olhar, encontrei, o ambiente, os mento à Teoria dos Universos Circundan-
contrastes e as especificidades que fundamen- tes, que se constitui numa metodologia pró-
taram uma prática que , já delineada pelo pria e diferenciada e abordagem do registro
Núcleo de Fotografia da Faculdade de Biblio- fotográfico e maneiras de observação, seja eles
teconomia e Comunicação da Universidade Fe- artísticos, documentais ou científicos.
deral do Rio Grande do Sul há quase uma dé- Em decorrência, a seguir serão apresenta-
cada, pretendo guindar à condição de refe- dos os resultados dessa análise, buscando ca-
rência teórica. A partir das experiências que racterizar o que constitui a Teoria e como se
vêm sendo realizadas no Núcleo , se conse- concretiza o Sistema dos Universos Circun-
guiu inserir a fotografia como pesquisa na área dantes.
das ciências sociais aplicadas, enquanto lin- Com este trabalho, pretende-se dar uma
guagem, meio e signo de arte e comunicação, contribuição, numa forma de retorno à socie-
com produção intelectual que já se pode con- dade, da fotografia enquanto linguagem in-
siderar muito importante. serida nos espaços de ensino, pesquisa e ex-
Outro ponto a considerar, inicialmente, é tensão da Universidade Federal do Rio Grande
que este artigo tem sua plástica orientada na do Sul. Através dela, avalia-se o trabalho do
forma de bricolagem, ou seja, se constitui na Núcleo de Fotografia da FABICO/UFRGS, en-
colagem de conteúdos interdisciplinares, ex- quanto laboratório de idéias e de criatividade
traídos e integrados em todas as áreas do co- em sua área específica de atuação, numa in-
nhecimento, em consonância com a proposta serção muito mais concreta com o mundo ci-
do Núcleo. Este, pela forma com que foi se entífico do que simples relatórios poderiam
institucionalizando na Universidade, se cons- oferecer.
titui em espaço heterogêneo, multidisciplinar, Para dirigir a análise, serão buscadas res-
que, pelas experimentações já desenvolvidas e postas às seguintes indagações: em que se
relatadas, é já uma verdadeira escola de foto- constitui a percepção espacial do indivíduo
grafia. em sua interação com o ambiente? Que alter-
E, ao se fundamentar numa abordagem ci- nativas e experimentações podem ser levadas
entífica voltada à construção do conhecimen- a efeito para confirmar ou refutar as aborda-
to, se encontra em permanente revisão e gens utilizadas? Que tipo de práticas podem
busca de novas metodologias, tanto no que ser levadas a efeito para integrar a fotografia
se refere ao segmento personalizado de pes- nos novos paradigmas que se abrem para a
quisas da imagem graficamente exposta, como ciência no terceiro milênio?
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2 A PERCEPCÃO ESPACIAL: OS UNIVERSOS REFERENCIAIS E OS UNIVERSOS VISITADOS

Biologicamente, o homem é definido como mentos. Aliam-se a isso as repetições de pos-


um ser vivo de comportamento heterotrófico. turas e as interações com outros elementos e
Isso significa dizer que ele necessita executar com diferentes indivíduos que invariavelmen-
deslocamentos, ou movimentar-se de espaço te compõem o cotidiano desses espaços.
a espaços, para alimentar-se. Assim, essas Com a repetição desse tipo de participação
atitudes instintivas possibilitam [ou impelem] nos universos referenciais pelo indivíduo, a per-
que nós, homens, possamos estar, diariamen- cepção e o detalhamento dos atores com os
te, numa série de espaços diferentes. elementos espaciais com que ele diariamente
Portanto, a nossa tendência para os deslo- convive, sistematizam as emoções, quase que
camentos é natural. Poder-se-ia mesmo dizer bloqueando os gatilhos da percepção observa-
que se trata de um processo comportamental cional, originados de posturas e comportamen-
fisiológico de procura e alcance; sempre na tos que vão se tornando praticamente auto-
busca de algo, em função de alguma coisa, matizados, sem variações.
com níveis de importância variáveis, indo per- Sem dúvida, a partir desse estado quase
manentemente de um ponto a outro, de for- letárgico, o indivíduo, enquanto espectador,
ma quase incessante. instintivamente investe em ações que lhe
Isso faz com que, quando, circunstancial- possibilitam sair desse mundo diário, corri-
mente, estamos parados, sem podermos nos queiro. Isso ele faz adotando uma postura de
locomover, ficamos incomodados. Somos im- observador, indo à busca de novas atmosfe-
pelidos ao ato de nos deslocar mesmo que na ras, cores, formas, movimentações e contatos
maioria das vezes venhamos, com isso, a pessoais.E, assim, consegue estabelecer um
repetir os mesmos espaços ou mesmas situa- novo conjunto de referenciais, tanto sensori-
ções ambientais que diariamente vivenciamos. ais, quanto espaciais ou temporais.
Assim, os movimentos e deslocamentos nos No que se refere ao conceito de tempo, a
dão a personalidade – a marca – como seres imagem faz com que o instante vivido retor-
vivos. Com isso, vamos construindo, trans- ne, faz com que o passado seja reencontrado
formando e adequando o nosso universo diá- e resignificado, registrado como uma marca
rio, a nossa territorialidade o que denomino no tempo - cicatriz temporal - (SAMAIN,1998).
de nosso universo referencial. A imagem traz a possibilidade de desnatu-
As sensações básicas, como o cheiro, as co- ralizar o cotidiano através da qualidade de re-
res, as formas, os sons, o bem ou mal-estar dos flexionar as formas materiais, inclinando o
convívios com outras pessoas ou nossa solidão e espectador para a criação de sentidos ou para
trajetórias existenciais, que são construídas no a reavaliação de sentidos corriqueiros. Além
dia-a-dia das vivências nesse território, formam disso, a imagem também pode ser concebida
uma espécie de matriz sensorial. como uma tecnologia que incrementa a me-
A nossa percepção é forjada e está intima- mória (LÉVY,1993), lhe conferindo novos rit-
mente ligada às experiências, tanto passadas mos e devires.
quanto cotidianas. Por exemplo, uma pessoa Segundo De Certau (1994) o cotidiano con-
que diariamente vivencia os mesmos espaços e figura “ ( . . . ) gestos permanentes ao pensa-
movimentações, como casa > trajetória > traba- mento.” e a imagem pode instaurar uma certa
lho > trajetória > casa, tem sua realidade cotidi- reviravolta no espaço subjetivo. Adequando as
ana nesse espaço ou universo referencial, for- impressões adquiridas em seus deslocamentos
mada também pelo acúmulo das sensações re- eventuais com sua realidade cotidiana, o ho-
cebidas e percebidas durante o tempo de perma- mem adquire, através de conjecturas e discer-
nência ou deslocamentos por esses lugares. nimentos e críticas visuais, a possibilidade de
Isso se dá através da convivência com os alcançar novos patamares em seus níveis de
elementos que compõem tais ambientes, como percepção. As impressões adquiridas em ou-
luz, espaço, forma, cor, sons, cheiros e movi- tros espaços servem, subjetivamente, para a
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construção e reconstrução visual-sensorial de A imagem da “primeira impressão” fica re-
seu mundo diário, onde costumeiramente a gistrada em nossa lembrança, como uma fo-
sua percepção de espaço é menor. tografia atemporal, estática, constituída plas-
A procura instintiva de outros valores ou no- ticamente pelos principais tópicos das luzes,
vos paradigmas espaciais, que quase nos passa do ar, dos cheiros, das cores e de outros ele-
desapercebida, geram as crises, os conflitos ne- mentos que sentimos e visualizamos naquele
cessários para a construção e a formação de nossa momento, permanecendo em nossa memória
percepção, composição e crítica visual. Percebe- como uma sensação da imagem de um lugar
mos algo de forma eventual ou induzida, com já visitado. A lembrança é uma imagem cons-
ou sem propósito, sensibilizados principalmente truída pelos materiais que estão, agora, à nossa
pelo desconhecido, pelo diferente daquilo que disposição, no conjunto de representações que
nós temos como padrão. povoam nossa consciência atual.
Nosso potencial de percepção aguça-se e Essas percepções, memorizações e lembran-
se coloca em alerta quando deparamos com ças acontecem frequentemente, de forma in-
situações diferentes em universos ou espaços consciente. Todavia, na maioria das vezes não
desconhecidos. Eles nos parecem à primeira damos muita importância para os elementos,
vista desinteressantes, sem um ponto de aten- atmosferas e acontecimentos que compõem
ção. Porém, mesmo assim, eles nos levam, os universos visitados (ou vivenciados) no
quase que imediatamente, a um estágio de desenrolar do nosso dia-a-dia. Eles passam
contemplação, para melhor percebermos o como um filme de muitos personagens, sem
objeto em análise. Assim, procedemos a uma protagonistas, ou sem uma atenção especial.
leitura do ambiente, nas suas formas de ma- Se vamos para algum lugar novo, com o in-
neira lenta, induzida inicialmente por uma leve tuito de o conhecer, já condicionamos ou agu-
curiosidade, imperceptível. Mas, num segun- çamos nossa percepção para algo que imagi-
do momento, vamos em busca do conheci- namos ser de uma forma pré-concebida. Mas,
mento ou reconhecimento dos elementos que geralmente, quando chegamos ao local de des-
compõem esse novo universo que está sendo tino encontramos algo totalmente diferente
visitado. daquilo que havíamos premeditado.
Por mais diferente nos pareça este ambien- E é exatamente nessas situações, que os
te, sempre acharemos alguns elementos aná- modos de apreciação e visualização se tornam
logos, similares, aos que já conhecemos ou mais detalhistas, críticos e sensíveis. Detalhistas
vivenciamos, a partir de uma justaposição, porque esperávamos uma coisa, e pode ser ou-
muitas vezes inconsciente, entre os elemen- tra, por menor que sejam as diferenças do espe-
tos constituintes desse espaço desconhecido rado com o encontrado. Críticos porque supú-
em que estamos momentaneamente inseridos, nhamos um ambiente com tal luz, tal paisagem,
com outros aspectos e elementos já conheci- tal atmosfera e etc. e nos defrontamos com ou-
dos. Desse reconhecimento e através da sen- tros aspectos não esperados, sejam eles, no nos-
sação que isso nos provoca, é que se compõe so entender, melhores ou piores daquilo que ima-
o sentido da realidade. Ela resulta da leitura – ginávamos. E sensíveis porque uma nova postu-
ou conhecimento - do novo ambiente, com ra é planejada, preparada para abrir-se ao novo a
os valores memorizados em nosso universo re- reestruturar-se, subjetivamente, na medida do
ferencial. Isso ocorre em frações de segun- encontro, do embate com a cena e talvez da
dos, de forma imperceptível. surpresa.
É o que chamamos de “primeira impres- A visão é a grande protagonista de nosso
são”. E essa impressão não é somente a pri- sistema sensorial, mas, sem os outros senti-
meira, mas acaba se tornando uma personali- dos, torna-se como algo incompleto, sem aca-
zação sensorial – ou marca - que conferimos bamento. É claro que estamos nos referindo
para aquele espaço ou universo, memorizado àquilo que sentimos, percebemos ou que dis-
com os aspectos que nos causaram maior in- para nossos sensores emotivos, onde o con-
teresse, gravado como uma leve marca de junto dos cinco sentidos, supostamente em
intensidade variável em nossa lembrança. harmonia, nos leva aos diferentes estágios de
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percepção, conhecimento ou reconhecimento de nos deslocar ou caminhar para podermos ler
e memorização. ou visualizarmos melhor.
Os cinco sentidos que dispomos, visão, tato, Num primeiro momento, reduzimos nossos
olfato, gustação e audição, são, hipotetica- movimentos, colocando em alerta nossos sen-
mente falando, os componentes primordiais tidos e entramos num estágio de contempla-
ou disparadores de nossos afetos. Por conse- ção, procedendo uma leitura com maior aten-
guinte, eles nos conduzem aos mais variados ção dos assuntos em nossa volta. Já num se-
estágios das nossas percepções emotivas sen- gundo momento, nos aproximarmos, geralmen-
soriais e ambientais. te de forma lenta dos elementos ou dos as-
A percepção está intimamente – ou primaria- suntos que nos causaram maior interesse, en-
mente - ligada a uma imaginação espacial e curtando nossa distância em relação a eles, de
temporal, conduzida através de propósitos se- maneira a vislumbra-los melhor ou até toca-
jam objetivos ou subjetivos, e instrumentalizada los, criando com isso um elo entre a percep-
pelo conjunto dos nossos sentidos, funcionando ção e o conhecimento, ou a percepção e o
isso tudo de forma instintiva e natural. reconhecimento. Disso, resulta um certo grau
Os níveis de percepção estão intimamente de memorização daquele assunto escolhido,
ligados ao interesse e a atenção que damos a o qual faz parte do universo visitado.
algo. Assim, não podem ser medidos ou quan- Esse procedimento é uma ação induzida ins-
tificados, mas estimulados e dirigidos para qual- tintivamente pelos mecanismos dos nossos in-
quer finalidade. Na medida em que o interesse teresses emotivos, sejam subjetivos ou obje-
por algo evidencia-se ou é estimulado, a per- tivos, que ocorrem conosco um sem número
cepção torna-se automaticamente mais viva e de vezes e em curtos espaços de tempo, diari-
aguçada, emocionalmente e cognitivamente di- amente, atuando de forma automática, con-
rigida aos universos e seus elementos que nos forme nossos mecanismos fisiológicos, como
cercam, de modo mais detalhista, com aten- a respiração, por exemplo.
ção mais refinada. Em suma, nosso grau de percepção espacial
Tanto a prática como a leitura da fotografia, está intimamente ligado à curiosidade objeti-
são elementos de indução à observação, o deta- va ou subjetiva, proporcionada pela procura
lhismo e a memorização de fatos – ou eventos - instintiva ou induzida de elementos de co-
que ocorrem nos espaços ou universos visita- nhecimento e reconhecimento encontrados em
dos. Para atingirmos estágios de maior escopo outros universos visitados, e suas compara-
perceptivo, frequentemente mudamos nossos ções com nossos universos referenciais, ou
comportamentos de mobilidade, passando do vice e versa, também como pela maneira com
estado de movimentação ao de estagnação. Ou que nos estruturamos como sujeitos em nos-
seja, de maneira natural instintiva, nós paramos sos espaços ou universos circundantes.

3 A FOTOGRAFIA ENQUANTO ELEMENTO DE MEDIAÇÃO ENTRE O INDIVÍDUO E OS UNIVERSOS CIRCUNDANTES

A fotografia é um qualificado meio de intera- sair em busca do registro de imagens ou situa-


ção entre o indivíduo e seus espaços ou univer- ções, como se fosse um colecionador de frag-
sos referenciais e visitados. Ela é, num primeiro mentos imagéticos e temporais. Como já disse
momento, utilizada no registro de um elemen- Barthes (1977), ser fotógrafo traz a sensação de
to, conjuntura ou espaço, para numa segunda que é uma espécie de “voyeur” do mundo.
circunstância, procedermos sua leitura, no tem- A sensação que um fotógrafo iniciante sente,
po e espaço que desejarmos. em seus primeiros passos ao colocar a câmara
O ato de fotografar é universal, democrático, na altura dos olhos e visualizar através da obje-
sem barreiras acadêmicas. Mesmo uma pessoa tiva, é a de se tornar instantaneamente, de um
inexperiente torna-se fotógrafo de um momen- momento para outro, em diretor de um filme
to para outro; é só utilizar uma câmara foto- sem roteiro. As imagens enquadradas no visor
gráfica automática simples, colocar um filme e parecem estar à nossa mercê . Somos invadidos
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por uma leve, etérea e suave sensação de poder, iriam poluir, ou pelo menos desviar a atenção do
porque temos a possibilidade “cristalizar” o mo- assunto previamente visualizado e escolhido.
mento que quisermos, com a focalização que A fotografia é um instrumento adicional de con-
desejarmos . E o poder se concretiza exatamente templação, registro, memorização e análise. Na
no momento da nossa decisão, do instante em que mesma linha Spencer (1974) trata a fotografia como
determinanos o “click” da tomada fotográfica. uma ferramenta de prospecção e análise, dividindo-
Com a câmara colada no rosto , um olho fe- a em dois grupos. Enquanto primeiro refere-se à
chado e o outro em ativa prospecção, vemos documentação para fins de observação, na demons-
somente uma imagem do universo em que esco- tração ou investigação de assuntos ou ocorrências
lhemos ou estamos inseridos naquele momen- que estejam nos limites dos espectros da visão
to, selecionada no retângulo do enquadramento humana, o segundo relaciona-se ao registro de
do visor. Esse posicionamento nos dá a sensa- assuntos ou fenômenos que estejam aquém ou além
ção de segurança. É uma espécie de refúgio ute- da nossa capacidade visual.
rino, de não sermos notados pelos assuntos ou De acordo com o autor, o segundo grupo é o
pessoas que estão na nossa frente. Mas, infeliz- responsável pelas atuais pesquisas e descobertas
mente, esse é um ledo engano! Isso porque o da fotografia contemporânea. Mesmo sendo uma
fotógrafo geralmente é percebido, mesmo que opinião da década de setenta, continua atual,
não queira, e assim passa a atuar como elemen- uma vez que a fotografia de assuntos fora de
to de interferência nos assuntos ou espaços que nossa realidade espacial, além do nosso alcance
visita. As imagens, as situações, os assuntos, as ou compreensão visual, ou do conhecimento plás-
pessoas, selecionadas e enquadradas no visor da tico de outros espaços, constitui um elemento
câmara pelo fotógrafo, são efetuadas conforme contemporâneo da linguagem fotográfica enquan-
de suas concepções de composição ou corte de to elemento midiático. A partir da objetivação
cena, geralmente sem interferência externa, a ou estímulo às novas descobertas determinadas
não ser que tenha sido previamente dirigido a pela novas tecnologia gráfico-visuais de pon-
isso. ta, a fotografia continua subsidiando a criação
Fotografar é excitar nossos sensores de per- de inovadoras temáticas às teorizações com base
cepção e detalhismo. Atua como forma de de- na semiologia, sobre planos geométricos bidi-
senvolver a nossa noção de espaço com o deta- mensionais e tridimensionais, ambientes virtu-
lhamento dos assuntos, a serem justapostos ais e micros ou macros universos visuais, até há
ou contrapostos em leituras posteriores, em pouco desconhecidos.
instantes fixados pela memória. A fotografia já A fotografia, nesse aspecto, age como uma
processada torna-se elemento de leitura, con- mola propulsora na extensão de nossa visão, como
fronto ou justaposição. Pode-se dizer que a ima- um suporte ou complemento extrasensorial, do
gem fotográfica é uma parcela de memória de conhecimento, contemplação, leitura e memo-
uso tanto pessoal quanto coletivo. rização de eventos, particularidades ou concep-
O fotógrafo, mesmo sem estar com a sua câ- ções visuais, desconhecidas ou não vivenciadas,
mara, é um atento observador do mundo que o vistas ou imagináveis. Ela funciona em nossas
cerca, mais pela exercitação da fotografia, do mentes como uma espécie de passado preserva-
que pela percepção instintiva. A câmara foto- do, lembrança imutável de um certo momento e
gráfica funciona como uma espécie de acessório situação, de uma certa luz, de um determinado
de delimitação dos espaços com seus assuntos e tema, absolutamente congelado contra a mar-
elementos, possibilitando um enfoque e leitura cha implacável do tempo (KOSSOY,1998). Seja
de maior acuidade dos objetos escolhidos. Mes- um suporte, uma linguagem ou um signo, a fo-
mo sem a obtenção da fotografia propriamente tografia e suas ramificações, estão definitiva-
dita, o simples ato de olhar pelo visor da câmara mente ligadas nas inter-relações do homem com
nos conduz a níveis percepção e detalhismo es- seu meio, e em suas percepções, conhecimen-
pacial mais acurado. Sem essa câmara, certa- tos, reconhecimentos, memorizações e críticas
mente teríamos que nos locomover em direção dos assuntos e situações, que ocorrem ou já
àqueles objetos para melhor observá-los, pois ocorreram tanto nos universos que o circundam,
os outros elementos integrantes do espaço visitado quanto no de outros.
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4 A TEORIA DOS UNIVERSOS CIRCUNDANTES

O indivíduo, seja ele um simples passageiro 4.1.1 Tendo como o observador ou o fotó-
ou habitante, ao adotar a postura de um ele- grafo
mentar espectador ou de um observador mais Ele se origina na epiderme do indivíduo,
atento do mundo que o rodeia, esteja parado indo até o limite do seu mínimo foco visual
ou em movimento, sempre estará inserido cir- (este foco mínimo visual varia de indivíduo
cunstancialmente em um ambiente cujas for- para indivíduo, situando-se em torno de 12
mas, sob seu ponto de vista, relacionar-se-ão cm do olho). Neste universo os sentidos como
às de um espaço composto de elementos tri- o tato, olfato, gustação e audição, são pre-
dimensionais, no qual habitam os elementos ponderantes sobre a visão.
referenciais de uma realidade momentânea vi-
sualmente descrita, também denominada de 4.1.2 Tendo como epicentro um assunto,
realidade física. E é exatamente a esse espaço evento ou elemento eleito – escolhido – pelo
que denominamos de universo circundante, observador ou o fotógrafo
conceito que, num sentido figurado, segundo Tem a origem a partir do foco mínimo visu-
Ferreira (1975), é aquilo que se compõe de al do indivíduo observador ou fotógrafo, que
partes harmonicamente encadeadas, como a normalmente situa-se a 12 cm dos olhos, es-
constituição de um todo, mesmo que novo. tendendo-se até o nível molecular do assun-
Partindo dos limiares de suas percepções to, evento ou elemento escolhido.
sensoriais, o sujeito se torna assim o epicen- Característica principal: universo corpóreo.
tro de seus universos circundantes. De acordo Utilização: 4.1.1: integridade física, afeti-
com as posturas que ele assume em relação a vidade e troca (toque)
esses universos, podemos, em tese, fragmen-
tá-los ou seccioná-los em dimensões diferen- 4.1.2: Leitura/estudo da estrutura de su-
ciadas, de acordo com os tipos de comporta- perfície, morfologia e limites do microcos-
mentos deste indivíduo em seus estágios de mos.
contemplação e mobilidade.
Ao se tomar como referência o sentido do 4.2 O Universo Detalhista
indivíduo enquanto epicentro do seu universo Ele se delimita a partir do foco mínimo de
circundante, e ao se utilizar como parâmetros visão, até o alcance do toque da mão, poden-
os seus estados comportamentais e psicológicos do-se inclinar-se para isso, mas sem dar um
de mobilidade e contemplação, podem ser es- passo completo. Possui dimensão variável, com
tabelecidas as seguintes hipóteses: um raio de comprimento entre 12 cm até em
torno de 1,5 metros, para indivíduos de esta-
1 Existem no mínimo quatro tipos de uni-
tura média(1,70 metros).
versos circundantes distintos que interes-
Característica principal: universo da contem-
sam ao olhar do fotógrafo, delimitados a
plação e detalhismo.
partir dos estágios de acuidade visual do
Utilização: leitura, memorização do porme-
sujeito;
nor e interatividade.
2 As denominações e dimensões dos univer-
sos circundantes são definidas a partir e
4.3 O Universo Intermediário
de acordo com a perspectiva de identifica-
É aquele que se estende desde 1,5 metros
ção do indivíduo enquanto epicentro dos
até onde o indivíduo consegue reconhecer uma
universos circundantes.
pessoa (fisionomia conhecida), ou seja até mais
Desse modo, podemos continuar a análise, ou menos 30 metros de distância. Este uni-
tentando dar o significado às duas hipóteses verso da sociabilidade do indivíduo, serve de
acima. referencial para as suas movimentações e des-
locamentos. É também o universo da escolha
4.1 O Micro Universo ou Universo Íntimo dos assuntos para posteriormente efetuar –
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ou não – uma aproximação. O universo inter- Então ele pára e se aproxima. Ao chegar
mediário é o espaço das movimentações, co- mais perto, ele insere em seu universo deta-
nhecimentos e reconhecimentos. lhista o assunto escolhido, dando início a uma
Característica principal: universo de movi- leitura com mais atenção. Indo além, chega
mentação até mesmo a tocar ou cheirar o objeto, esta-
Utilização: sociabilização, referencial do belecendo-se aí uma conexão, direta e pro-
cotidiano e averiguação. funda, com o seu universo íntimo.
Isso ocorre com as pessoas inúmeras ve-
4.4 O Universo Geográfico ou Universo In- zes, dia após dia. No caso dessa pessoa ter
finito um objetivo concreto, definido, os desloca-
Tem sua área inicial a partir da zona limite mentos são mais rápidos, com direcionamen-
do reconhecimento pessoal, em torno de 30 tos mais precisos, a atenção torna-se menor,
metros a partir do observador, estendendo-se apenas com objetivações ambientais, deslo-
até “onde a vista alcança” ou ao infinito. cando-se e tomando como referencia os as-
Característica principal: universo de contem- suntos inseridos nos universos intermediários
plação para melhor movimentar-se, com o intuito de
Utilização: referencial geográfico e tipifi- inserir o mais breve possível, o seu universo
cação ambiental. detalhista no elemento ou assunto que tem
O indivíduo parado ou se deslocando, leva como alvo, para o estabelecimento de um
consigo, de forma virtual, seus universos circun- maior contato. Podemos deduzir que os indi-
dantes. Metaforicamente, isso pode ser compa- víduos, tanto em deslocamentos quanto para-
rado com um antigo disco fonográfico de vinil, dos, com ou sem um objetivos, projetam suas
em que as faixas de música fossem os universos maiores atenções ou referenciais ambientais
e no orifício central deste disco estivesse o indi- nos deslocamentos, aos universos intermediá-
víduo como epicentro. Esse indivíduo, quando rios, que se caracterizam principalmente pela
em deslocamento, caminhando por exemplo, tem movimentação, tanto dos elementos ou dos
sua percepção voltada mais para os dois últimos assuntos, quanto do indivíduo.
universos, o intermediário e o geográfico. É onde o indivíduo escolhe – ou ambienta-
Tendo o universo geográfico como referên- se - aleatoriamente ou vem antecipadamente
cia ambiental e equilíbrio, o intermediário tor- preparado – ou não - para visualizar algum
na-se o alvo, instintivamente, de suas própri- ou aquele assunto. Partido desse princípio,
as atenções em relação a ele. Isso porque o os elementos inseridos em nossos universos
universo intermediário se constitui exatamen- intermediários, além de serem referenciais em
te no universo da averiguação, sociabiliza- nossos deslocamentos, também são os prin-
ção e movimentação, de costumeira ou even- cipais alvos de nossa curiosidade. É onde a
tual passagem. Neste, os assuntos parecem visão reina, soberana, no desenvolvimento de
mover-se enquanto o sujeito se desloca . Em nossas primárias interações com o mundo que
dados momentos, por breves instantes, ele nos cerca. Constitui-se num universo de esco-
percebe algo que reconhece ou desconhece, o lha, de recusa de passagem pelos diversos
que, imediatamente, lhe chama a atenção. espaços do nosso dia-a-dia.

5 MÉTODO DE OBTENÇÃO FOTOGRÁFICA NO SISTEMA DOS UNIVERSOS CIRCUNDANTES

Defina-se o indivíduo como um observa- assunto, evento ou elemento como epicentro


dor-fotógrafo, ou seja, através de um acessó- fotográfico. O indivíduo torna-se, através da
rio, a câmara fotográfica, ele apreende ima- fotografia, o relator de suas próprias impres-
gens percebidas em um, ou mais estágios dos sões dos universos que o circundam. Para o
seus universos circundantes. Ele e este aces- estabelecer o Sistema dos Universos Circun-
sório formam um só meio instrumental que dantes, devemos levar em conta as dimensões
congrega percepção e registro elegendo um dos universos, correlações destes com os equi-
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pamentos para fotografia até hoje desenvolvi- com finalidades fotográficas, colocaremos o
dos e os métodos de registro. fotógrafo como um centro de observação e
registro de um assunto, evento ou elemento,
5.1 Dimensões eleito como epicentro fotográfico, constitu-
Para dimensionar os universos circundantes indo assim:

DISTÂNCIA DO OBSERVADOR/FOTÓGRAFO
UNIVERSO CIRCUNDANTE
EM RELAÇÃO AO ASSUNTO

Universo Íntimo/ Microcosmo 12 cm até o microcosmo do assunto

Universo Detalhista De 12 cm até 1,5 metros

Universo Intermediário De 1,5 metros até 30 metros

Universo Geográfico/Infinito De 30 metros ao infinito

5.2 Correlações como instrumentos de corte de cena, nas vi-


Existem correlações entre os nossos univer- sualizações e prospecções destes universos cir-
sos circundantes e a abrangência das distanci- cundantes. Se tomarmos o formato 35 mm,
as focais das objetivas fotográficas. Estas agem teremos o seguinte:

5.2.1 Objetivas fotográficas

UNIVERSO(S)
TIPOS DE OBJETIVAS DISTÂNCIA FOCAL DE ATUAÇÃO
(preferencialmente)

Intermediário e
Super grande angulares 6,8...17,18 mm geográfico

Grande angulares Intermediário e


21, 24, 28 a 35 mm
geográfico

Normais Detalhista, intermediário


45, 50 e 55 mm
e geográfico

Meias Teleobjetivas Intermediário e


70, 80, 100 e 105 mm
geográfico

Teleobjetivas Intermediário e
150, 200, 300 e 400 mm
geográfico

Super Teleobjetivas 500, 800, 1000mm Geográfico

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5.2.2 Objetivas Especiais

Objetivas Macro 50 e 55 mm Íntimo e detalhista

Objetivas Macro 105 mm Detalhista

Objetivas Zoom 24/70, 24./105, 70/200, Detalhista, intermediário


100/300 mm .... e geográfico

Objetivas Catadióptricas 400, 500, 600, 800, 1000, Geográfico


2000, 3000mm ...

5.2.3 Objetivas fotográficas com acessórios especiais ou com adaptadores de inversão:

Fole de Extensão Munido com objetiva 50 mm Íntimo, Microcosmo

Objetiva invertida 28, 35 e 50 mm Íntimo, Microcosmo

Lente adicional close-up 2, 3, 4 .... dioptrias Detalhista

Anel de extensão com objetivas 50, 55 mm Íntimo, Microcosmo

5.2.4 Câmara fotográfica adaptada em um sistema de prospecção visual diferenciado:

SISTEMA TÉCNICA UNIVERSO

Microscópio óptico Fotomicrografia Microcosmo

Microscópio eletrônico Fotomicrografia Microcosmo e


Inframicrocosmo

Lupa Estereoscópica Fotomacrografia Íntimo e Microcosmo

Telescópio Astrofotografia Infinito

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6 MÉTODO DE OBSERVAÇÃO E REGISTRO FOTOGRÁFICO PELO SISTEMA DOS UNIVERSOS CIRCUNDANTES,
TENDO O INDIVÍDUO OU FOTÓGRAFO COMO EPICENTRO EM RELAÇÃO A UM ASSUNTO, EVENTO OU
ELEMENTO, POR ELE ESCOLHIDO:

Estágio psicológico Estágio comportamental de Equipamento fotográ-


de percepção/ mobilidade para as observa- fico com objetiva(s)
UNIVERSO
atenção ções/obtenções fotográficas mais adequada(s)

Intimo/ Contemplativa/ Em descanso Macro 50mm, com


Microcosmo detalhista fole/anel de extensão

Detalhista Contemplativa/ Em descanso Normais , Macro 105


detalhista e lentes adicionais
de Close-up

Intermediário Alerta a Em descanso, mas também Objetivas normais,


movimentos em movimento grande angulares
Zoons e meias teles
Geográfico Contemplativa/ Em descanso Normais, grande
absortiva angulares, zoons e
teleobjetivas

7 METODOLOGIA DO SISTEMA DOS UNIVERSOS CIRCUNDANTES

7.1 O registro fotográfico no Sistema dos tográfico. Também fica como norma deste
Universos Circundantes, sempre será a partir método, quando o epicentro fotográfico
do ponto de vista do fotógrafo, ou de pré- escolhido for uma pessoa, os universos
via determinação a este; circundantes desta é que o fotógrafo ou
o observador deverá levar em conta nos
7.2 O fotógrafo elegerá o epicentro foto- seus registros;
gráfico. Este estará – ou não - inserido ou
não em seus universos circundantes; 7.4 Ao eleger um objeto, assunto ou even-
to como epicentro fotográfico, o fotógrafo
7.3 O epicentro fotográfico, é o objeto deverá levar em conta o espaço de atuação
de atenção principal do fotógrafo, que ele- ou a territorialidade deste, quanto ao es-
gerá a objetiva ou sistema óptico adequado paço ou ambiente que está inserido. A ter-
para efetuar sua análise ou possibilidade de ritorialidade prevê grau de interferência, tan-
leitura e registro, segundo sua óptica e em to de ordem social, física, química, psicoló-
relação as características de seus próprios gica ou ecológica, no espaço ou ambiente
universos circundantes, que possuam as par- em que este objeto, assunto ou evento ocorre
ticularidades de contemplação, ou de mobi- ou habita. Todos os elementos ou graus de
lidade, para a efetivação de seu registro fo- interferência que este epicentro fotográfi-
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co proporciona, são fotograficamente rele- mem (casa, mangueiras, pomares, animais
vantes e consideráveis aos registros; em galpões etc,) que mudaram a paisagem
natural daquele lugar – universo detalhista
7.5 Existem também os elementos de in- e intermediário do fotógrafo..
terferência no grau de territorialidade do 3 Os agentes intervencionistas no epi-
epicentro fotográfico, que devem ser leva- centro fotográfico, serão definidos pelos as-
dos em conta, desde que não sejam tipifica- pectos climáticos, geomorfológicos e fito-
dos como o principal, e sim como agentes geográficos, que de uma forma ou de outra
intervencionistas. Estes agentes, de qualquer induziram ou proporcionaram o tipo de cons-
ordem ou natureza. São de origem eventual, trução, de cultivares , criação de animais,
como ações do clima, por exemplo. enfim, o tipo de economia daquela fazenda
– universo intermediário e geográfico do
7.6 Nas observações ou nas obtenções fo- fotógrafo.
tográficas deve-se levar em conta, na or-
dem: Modelo 2 – enfoque nos aspectos da
paisagem natural:
a) o epicentro fotográfico, com seus
universos circundantes, constitui-se no 1 A escolha do epicentro fotográfico será
principal; uma hipotética mata de araucárias, supos-
b) os graus de interferência proporcio- tamente à esquerda da sede da fazenda. In-
nados pela territorialidade do epicen- serindo-a nos universos detalhista e inter-
tro fotográfico, nos seus universos cir- mediário do fotógrafo.
cundantes, são relevantes, mas não de-
terminam o principal, apenas compõem 2 Os graus de interferência serão todos
a cena; os elementos oriundos de ações antrópicas,
c) os agentes intervencionistas, são os que transformaram ou interferiram no ecos-
elementos meramente composionais ou sistema da mata de araucária , tornando-se
eventualmente transformadores da assuntos relevantes ‘a observação ou ao re-
cena onde situa-se o epicentro foto- gistro fotográfico.
gráfico, são pouco relevantes , mas
devem ser considerados. 3 Os agentes intervencionistas ficam de-
finidos por ocasionais mudanças que ocor-
EXEMPLO PRÁTICO: ram no aspectos da mata de araucária em
decorrência a alguma ação de origem climá-
FOTOGRAFIA AMBIENTAL: tica.

Se temos como objetivo registrar fotogra- Diagnóstico:


ficamente um assunto rural, uma fazenda e
uma mata de araucárias , como epicentros fo- Método a ser empregado:
tográficos distintos, teremos: O método de registro fotográfico, no pro-
blema acima exposto (modelo 1 e 2), envol-
Modelo 1 – enfoque nos aspectos de pai- verá obtenção de imagens nos universos in-
sagem mista e antrópica: termediários, como principal, e no universo
detalhista, como complemento, com o em-
1 A escolha do epicentro fotográfico será prego de dois tipos objetivas principais de
na sede(casa) da fazenda, inserindo-a no uni- trabalho, possuidoras de distâncias focais
verso detalhista e intermediário do fotógra- de 50 mm e 28 mm (ou 24 mm). Objetivas
fo. fotográficas tipo “ zoom” com distância fo-
cal compreendida entre 21mm-105mm,
2 Os graus de interferência serão todos também podem adequar-se a este traba-
os elementos feitos ou instalados pelo ho- lho.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método de registro fotográfico com a utili- experimental de registro fotográfico. Os traba-


zação da Teoria dos Universos Circundantes lhos ainda estão sendo analisados, mas, pode-se
vem sendo desenvolvido pelo Núcleo de Foto- já afirmar que a aplicação da Teoria dos Univer-
grafia da Faculdade de Biblioteconomia e Comu- sos Circundantes, no registro fotográfico de
nicação, da Universidade Federal do Rio Grande assuntos arqueológicos constituiu-se num dife-
do Sul, desde o segundo semestre de 1997, pro- rencial qualitativo na documentação dos espa-
movendo diversas oficinas teóricas e práticas, ços (universos) do Sítio Arqueológico de Apollo-
na busca de uma maneira mais simplificada de nia . Mesmo em fase experimental, o método de
sua aplicação nos vários estágios e/ou segmen- registro fotográfico com a aplicação da Teoria
tos do registro fotográfico, constituindo-se como dos Universos Circundantes, já é considerado
uma pesquisa de teor experimental. Em agosto como um referencial teórico de grande potenci-
de 1999, o Núcleo coordenou uma equipe com- alidade, tanto nas questões de obtenções foto-
posta por dois alunos de graduação em comuni- gráficas , como também no desenvolvimento da
cação e uma professora de fotografia, na forma- percepção espacial do indivíduo na observação de
ção da 1ª Missão Internacional de Fotografia Ci- assuntos, que requeiram um posterior registro.
entífica da UFRGS, com destino ao sítio arqueo- Na concretização deste artigo, o autor teve
lógico de Apollonia-Herliya em Israel, tendo como decisivas e valiosas contribuições, no âmbito
objetivo a aplicação da Teoria dos Universos das discussões e explanações teóricas, a partir
Circundantes, no Projeto Apollonia (convênio de críticas e ressalvas das professoras: Ana Maria
UFRGS/BRASIL e TAU/ISRAEL). A Teoria serviu Dalla Zen e Suziene David da FABICO/UFRGS, e
como sustentação metodológica nos registros da psicóloga Patrícia Gomes Kirst, mestranda em
fotográficos dos assuntos arqueológicos. Foi a Psicologia Social, pelo Programa de Pós-Gradua-
primeira aplicação, de teor oficial, deste método ção do Instituto de Psicologia da UFRGS.

BILIOGRAFIA CONSULTADA

BARTHES, Roland. The Photographic Messa- NEIVA Jr., Eduardo. A Imagem Fotográfica.
ge. New York: McGraw-Hill , 1977. São Paulo: Ática, 1986.

DE CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidia- SAMAIN, Etienne. Um Retorno à “Câmara Cla-


no. 5.ed. Petrópolis:. Vozes, 2000. ra”. Roland Barthes e a Antropologia Visual.-
O Fotográfico. São Paulo: Hucitec, 1998
FERREIRA, Aurelio Buarque de Holanda. Novo
Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de SPENCER, D. A. Color Photography in Prati-
Janeiro: Nova Fronteira, 1975. p. 1430. ce. Londres: Pitman & Sons, 1974.

KOSSOY, Boris. Fotografia e Memória: recons- SOWERBY, A. L. M. Dictionary of Photogra-


tituição por meio da fotografia – O foto- phy. London: Iliffe & Sons, 1980.
gráfico. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 41.
Publicado em:
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligên- REVISTA DE BIBLIOTECONOMIA & COMUNICAÇÃO da
cia: o futuro do pensamento na era da In- UFRGS - Vol. 8, p. 261-71. Ano 2000. ISSN 0103-
0361.
formática. São Paulo: Ed. 37, 1993.
Autor:
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Consultor em Fotografia da UFRGS e Coordenador-
Chefe do Núcleo de Fotografia da FABICO, UFRGS.
2.ed. Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Site: www.fotografia.ufrgs.br
Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand E-mail: mario.monteiro@ufrgs.br
Russel, 1998.
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