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Salvador, 8 de Novembro de 2003

Projeto Cidade ELEA


em Salvador da Bahia

ESTUDO DAS MUDANÇAS


Daniel J. Mellado Paz
ESTUDO DA MUDANÇA

INTRODUÇÃO
O objetivo deste Estudo é entender como o formato do Encontro se altera. Em outro momento
percebemos qual o Desenho e o Cronograma Elementar, aqueles que têm se repetido após muitos
anos, nos Encontros.

Aqui nos interessa o oposto. Ver como se procede essas alterações, com o objetivo explícito de
fornecer aos Organizadores instrumentos para que eles próprios possam optar pela mudança,
permanência ou resgate, como for de sua escolha.

Para a maioria das teses há exemplos. O autor assume toda a responsabilidade por suas opiniões
sobre as edições usadas como exemplos.

1 - A Situação
Como vimos antes (no Estudo das Regras) as “leis” que estruturam os Encontros não estão
escritas, são invisíveis, o que não implica que elas não existam. Da mesma forma, essas leis,
como toda a memória do Encontro, da cidade intangível, está todo concentrado nas pessoas. Pela
rapidez com que os estudantes se sucedem, como então acontece essa retenção da forma-
Encontro?

O olhar está habituado ao status quo. Ele é tido como “natural” e, pior, única alternativa possível
para o estado das coisas. Para o Participante veterano, é impensável outro modo de se fazer,
conduzir e comportar-se no Encontro. Em sua experiência limitada, descarta como impossíveis
mecanismos que ocorrem em eventos similares, de outros cursos de nível superior.

Sobre as dificuldades em se escapar ao costumeiro, ver a Fenomenologia do Pioneiro.

É comum a insatisfação, mas raramente ela vai às profundezas do que existe, às premissas que
sustentam o Encontro como ele é. Prefere-se normalmente ao conhecido do que ao desconhecido,
ainda que o conhecido não esteja do completo agrado. Dentro do quadro de Atores presentes no
Encontro formado por estudantes, a tendência é a inércia estrutural.

2 – As Mudanças Históricas
A partir daqui veremos como se procederam as mudanças nos Encontros, nacionais e latino-
americanos, na tentativa de entender a dinâmica destas, e como reproduzi-las futuramente.

De entrada, assinalamos que há mudanças desconhecidas e as conhecidas.

2.1 – Mudanças Desconhecidas

“Para quem conseguir enxergar as sementes do tempo e saber


quais vão germinar e quais não.”
Fredric Jameson

No primeiro caso, estão aquelas que se julgam serem naturais, quando na verdade são formatos
ou procedimentos novos, traçados na ignorância, ou quando se pretendem como instrumentos de
pequena importância mas, com o tempo, ganham vulto.

A Rádio no Encontro foi inventada no VI ELEA Montevideo (1996) como uma rádio de música
ambiente. Nos Encontros seguintes é que se percebeu o imenso poder de comunicação que a
Rádio tinha (pelos Organizadores) e uma possibilidade quase infinita de brincadeiras e jogos (pelos
Participantes). Hoje em dia é peça fundamental na comunicação dentro do evento, e não se pensa
em um Encontro sem a Rádio.

Observe-se que são imprevisíveis, no sentido de que não cabe aos Organizadores entender
plenamente a abrangência de sua proposta. Ela se desenvolve pelas próximas gerações. Os
Organizadores tiveram o insight de implantar a mudança, mas sem a visão de explorá-la ao
máximo.

O outro lado também acontece: de um evento ter várias destas iniciativas com grande potencial,
que não são percebidas pelas gerações seguintes, e que se perdem.

E, por último, podemos ter retrocessos não percebidos, que frustram processos intencionais.

Ex.: por motivos diversos, o XXIII ENEA Goiânia (1999) opta pela re-concentração de
Atividades, com baixa ocupação da cidade-sede. Com isso, na prática, desfez o esforço de
mais de 4 anos dentros dos ENEAs de fazer o Encontro ocorrer na cidade, que ganha corpo
teórico no XIX ENEA Santos (1995) e vôo maior no XXII ENEA Rio de Janeiro (1998). Desde
então, os ENEAs têm sido modestos em sua dispersão na cidade-sede.

2.2 – Mudanças Conhecidas


São câmbios percebidos claramente pelos Organizadores.

Estas, por sua vez, se dividem em mudanças acidentais e as intencionais.

2.2.1 – As Mudanças Acidentais


Costumam ser as que têm implicações mais profundas. Dão-se por força das contingências da
situação. São verdadeiras “saídas de emergência” das Comissões Organizadores que, de outra
maneira, não as fariam.

Podemos citar vários casos.

O formato do Alojamento distribuído pela cidade e pulverizado em diversas unidades, com


vizinhança de estudantes locais externos ao evento, do XXVII ENEA Ouro Preto (2003), foi uma
contingência da cidade-sede. Observe-se que teve implicações mais profundas e inesperadas na
dinâmica do evento que qualquer outra postura projetada.

No XVI EREA Recife (2001), por falta de um espaço adequado, a Comissão Organizadora se
alojou junto com os Participantes, criando uma situação única na relação entre estes Atores. Nova
revolução, também por força das circunstâncias.

Há um caso curioso a esse respeito: trata-se de interpretar as contingências locais, aparentemente


diferenças graves ao “formato” do evento, como uma potencialidade. Isso garante uma
abrangência melhor da proposta.

Ex.: o caso dos dois ELEAs no Chile (1995 e 2000) revelam isso de um modo geral, pela
singularidade do país. No X ELEA Concepción (2000), a viagem de 6 horas de Santiago
(único aeroporto internacional do país, e chegada obrigatória dos ônibus dos países vizinhos)
tornou-se uma Atividadade oficial, dentro de um trem (independente do que tenha havido de
fato).
2.2.2 – As Mudanças Intencionais
Este caso é aparentemente claro: os Organizadores querem de fato mudar.

Mas há outros dois fatores: poder mudar e saber fazê-lo. Estes dois elementos são importantes.
Em um capítulo à parte trataremos das resistencias, que equivale ao poder efetivo de uma
Comissão Organizadora de efetuar a mudança que deseja.

Aqui trataremos dos distintos níveis do saber mudar, ou sua efetividade.

De entrada, há Comissões Organizadores conservadores de fato, que se assumem como tais.

Ex.: é o caso dos Organizadores do XXV ENEA João Pessoa (2001) e XXVI ENEA Curitiba
(2002). Seu sonho estava em sediar o Encontro, manter uma tradição que se conhece e se
respeita. e tão somente isso.

Um segundo patamar é a melhoria. É o desejo sincero de aperfeiçoar o que já existe. Normalmente


se assume que todas as Comissões Organizadores querem fazer o melhor evento possível, mas
na prática percebe-se que a ótica da melhoria implica em procedimentos ligeiramente diferentes
dos habituais.

Ex.: o caso mais evidente disso foi o XXIII ENEA Goiânia (1999), onde se enfatizou uma
grade de Atividades simples e legível (em contraste com a edição anterior – deste ponto de
vista foi uma revolução, mas voltada para o que se entendia como tradicional em um ENEA),
uma infra-estrutura impecável, um esforço maior na captação de recursos (espaços locados
e patrocínios) e uma parte gráfica desenvolvida com profissionalismo.

Não há mudança estrutural de nenhuma forma. Mas atinge-se um novo patamar de qualidade final
em alguns elementos que até hoje servem como referência.

O terceiro patamar, e é aquele que nos interessa, é a mudança de fato. Ou melhor, a vontade de
mudança.

O Participante ele traz dois vícios que se somam. Um é a ignorância factual do que é de fato
estrutural no Encontro e o que é superficial. Ao assumir a tarefa de organizar o evento, tende a
sobrevalorizar elementos que não são importantes, para a organização e para os Participantes. O
outro é um vício de formação, do arquiteto, que é um formalista por natureza, e se concentra com
mais facilidade naqueles elementos que têm respaldo no seu curso, a ver, os aspectos gráficos e
os discursos teóricos.

É freqüente que os Organizadores imaginem que a raiz das mudanças mais profundas esteja na
discussão temática – o que de fato não acontece.

Neste patamar, os Organizadores debatem intensamente aspectos teóricos do Encontro, mas na


forma do conteúdo das Atividades, não em seu formato. A ironia está em que o formato também
traz em si uma carga ideológica.

Ex.: o formato de uma Palestra baseia-se na idéia de que alguém sabe, e outros não sabem.
O formato de um alojamento em vão livre pressupõe e obriga a igualdade, a simplicidade, e a
solidariedade. E assim por diante.

O debate sobre os conteúdos que não vai até os formatos redunda em perda de tempo. É comum
que se mude somente o nome das Atividades, e não o seu funcionamento ou distribuição.
Ex.: o VII ELEA Asunción (1997) teoricamente trabalhou profundamente as questões da
cultura guarani. Enviaram para os Delegados um belíssimo livro do estudioso Bartolomeo
Meliá, sobre a religiosidade guarani. Na prática, a estrutura do evento foi uma repetição ao
pé da letra do VI ELEA Montevideo (1996), com o nome dos lugares e Atividades em
guarani.

Fato semelhante aconteceu no V EREA Paraty (2002), onde os nomes foram todos
alterados, mas era tudo semelhante ao de sempre.

Outra situação, ainda mais constrangedora, é quando a Comissão Organizadora passa a ler de
outra forma exatamente a mesma coisa. Isto é: na cabeça dos Organizadores, a Atividade mudou
de significado, sem que tenha alterado absolutamente nada. Este é o caso do XXIV ENEA Taubaté
(2000).

O patamar seguinte é a mudança estrutural de algum aspecto do evento. Ou esta se dá por um


profundo conhecimento de causa na dinâmica do evento, ou por algum insight frutífero, com
relativo descaso sobre o que já existe. Veremos que estas mudanças podem se dar com facilidade
ou não a depender do contexto. Esta mudança não se dá no terreno dos textos, mas sim no
formato das Atividades ou no desenho espacial do evento.

Ex.: o V ELEA Valparaíso (1995) apresentou uma estrutura radicalmente nova, com
Alojamento em três núcleos distintos, e uma Atividade central (o Jogo dos Atelieres), feita na
cidade, com modulações de lugar, escala e programa que se sucedia ao longo dos dias.

Do ponto de vista físico, o VI ELEA Montevideo (1996) monta pela primeira vez a figura da
cidade-encontro (chamada de “Encontrópolis”), com centralização de Funções do evento em
um único grande parque.

Um fato importante, principalmente no que diz respeito às Atividades, é que elas não são objetos
que se concluem e se tem como prontos logo no começo do evento. Uma realidade física tem uma
inércia maior. Um Alojamento estranho ainda assim se ocupa; uma Atividade estranha
simplesmente não se realiza.

Isto é: é comum que se delire em um formato de Atividade, que é algo que necessita da
colaboração de outros Atores, principalmente do Participante, sem que ele tenha sido consultado
ou concorde. O resultado é que nada acontece.

Ex.: o X ELEA Concepción (2000) imaginou um complexo sistema para as Festas Culturais,
que são por país, onde cada um deles exploraria um sentido (visão, tato, etc.). Como
obviamente a gestão das Festas passa por outros Atores, e outros princípios que não uma
elaboração poético-abstrata, esse desejo ficou no papel, para frustração da Comissão
Organizadora.

Este é o patamar seguinte: não basta ter a idéia, tem que fazê-la andar. E isso implica em lidar
com os outros Atores do evento, principalmente os Participantes. Ou se aproveita um movimento
“natural” deles para uma ação, ou se entra em um consenso à parte.

Ex.: no caso de aproveitar o movimento natural, citamos o IX ELEA Salvador (1999), onde
após uma Atividade no Pelourinho, se procedeu ao Afoxé Filhos de Gandhi para encerrá-la.
Como este é um bloco que se move, os Participantes seguiram: quando concluiu a música,
percebeu-se que o bloco tinha ido até os ônibus, que estavam partindo.

Ex.: no caso do consenso, citamos o XVI EREA Campinas (2003), que para estabelecer seu
conceito de Oficinas, negociou caso-a-caso com os Oficinantes.
Como se viu, é uma sequencia: é preciso querer mudar, é preciso saber onde mudar, e é preciso
implantar essa mudança, via artimanhas sutis, ou por negociação franca com os outros
interessados.

3 – A Resistência
Qual a natureza da reação? Onde reside a inércia do sistema?

Por motivos óbvios, os potenciais agentes da mudança são a Comissão Organizadora. São os
Atores que se definem primeiro, e que estão 24 horas em função disso. Por outro lado, são a maior
resistência possível. Se algo não for de seu agrado, simplesmente empaca – não se pode forçá-los
a fazer o que não querem.

Dito isto, é preciso observar a topografia das idéias.

A Comissão Organizadora é um núcleo pequeno de pessoas, centrado em um lugar, com nome e


rosto conhecidos. Os outros Atores são pessoas dispersas por todo o país. Sua reação pode vir de
todas as direções, é difusa, não tem homogeneidade e, pela estrutura nacional das coisas,
raramente tem porta-vozes conhecidos.

A proposta é unitária – vem de um grupo coerente. E a resistência é multiforme e capilar – vem de


uma multidão de indivíduos, e se traduz em pequenos gestos, apoios pessoais e rebeldias
ocasionais, sem uma autoridade ou representatividade.

De alguns anos para cá criou-se o espaço virtual do Guestbook da FENEA (que foi estudado com
mais profundidade em outro documento), com a criação de uma espécie de Comunidade Encontro.
Pois este espaço funciona como uma caixa de ressonância. Opiniões contrárias individuais podem
parecer muito maiores do que são, quase consensos, nesse espaço – como se pôde ver no
processo do XXVII ENEA Ouro Preto (2003).

Diferente de um ELEA, onde os interlocutores da Comissão Organizadora são grupos de


estudantes de outros países, centrados, com nome e rosto conhecidos. Eles podem, e são,
resistências mais poderosas, mais rígidas.

De um modo geral, apontamos o medo que há no status quo.

Toda mudança afeta uma realidade conhecida (por mais que indesejada), rumo a uma
desconhecida (por mais que desejada).

E muito do discurso da mudança tem vindo, no caso dos Encontros brasileiros, com um tom de
pré-potência (“eu posso, eu quero”), que contamina as relações futuras. Imediatamente se imagina
que seja essa a tônica da Comissão Organizadora, e a desconfiança se torna maior.

Pela situação no Brasil, não há espaços reais de resistência. Mas a desconfiança se instaura em
outros níveis – principalmente no momento do Encontro, nos grupos de estudantes que co-
gestionam o evento.

De novo: nos ELEAs o caso é distinto. Um elemento que ressalta essa diferença é o fato dos
ELEAs, curiosamente, se terem constituído em uma evolução perceptível, desde o III ELEA
Cordoba (1992) até os dias de hoje, com conquistas gradativas e constantes. Ao contrário dos
ENEAs, que andam a passo de caranguejo.

Mas, para tanto, os ELEAs correspondem a projeto ideológicos concretos. Essas conquistas são
patrimônios coletivos que não se desfazem ao bel-prazer de um grupo de novatos de uma
Comissão Organizadora. Isso é ainda mais forte porque os Delegados de cada país ou são ex-
Comissões Organizadoras (e defendem aquilo porque lutaram) ou serão (e portanto tem interesse
em cada elemento que se discute).

Assim, no Brasil, o quadro é: uma reação amorfa, que não pode ser negociada, e que é ciosa dos
termos e modos com que uma Comissão Organizadora se posiciona (até por traumas passados). E
uma resistência atomizada em indivíduos dentro do Encontro, também incontrolável, visto que não
se assume... a menos que se use de lideranças estrategicamente colocadas, o que não se faz
(talvez por falta de visão da Comissão Organizadora).

E, nos ELEAs, o quadro é de um sistema de núcleos de decisão que deve ser cooptado nas
instâncias deliberativos. Da mesma forma como a resistência é mais rígido, se estes núcleos (as
Representações Nacionais) se posicionarem a favor, serão aliados constantes, com capacidade de
agregar mais gente, até mesmo durante o evento.

Porém, vimos aqui quais os componentes do sistema de forças. Não avaliamos a qualidade das
mudanças.

É comum ao novato, na Comissão Organizadora, re-incidir em erros, na crença de que desta vez
será diferente, sem uma mudança positiva nos procedimentos – ou seja, sem aperfeiçoar os
esforços.

Assim, pode haver uma reação plenamente justificada, com argumentos corretos, que será
interpretada como inércia. Algo do gênero “essa conversa de novo...”, que pode irritar as
Comissões Organizadores, mas que tem fundamento.

Mas precisamos separar o que é a aceitação de uma leitura da mudança antes do evento, que lida
com a Diretoria da FENEA e o grupo de futuros Participantes mais ativos, e a mesma leitura
durante o evento, que lida com os Participantes.

Assim, o recurso às barracas sofreu resistência antes do Encontro, pelos Atores que se
apresentavam, e foram amplamente aceitas durante, pelos Participantes.

Em muitos casos, o Participante é o fiel da balança, e sua aceitação, se generalizada, garante que
a proposta se mantenha na edição seguinte. Pode acontecer ainda desses Participantes se
tornarem os Organizadores dos anos seguintes, o que garante essa continuidade.

4 – Quando as Mudanças São Aceitas


Ao contrário do que se poderia imaginar, as mudanças não são respostas coletivas a necessidades
coletivas. Não é um movimento tão harmônico, nem há um espírito de época. A história dos
homens é a história de cada indivíduo, e de

Quando as mudanças se implantam de fato?

Há duas situações gerais. Uma são mudanças menores. Neste caso:

a. quando são ações localizadas, que afetam poucas pessoas.


Ex.: no X ELEA Concepción (2000) vedou-se a participação de Monitores extrangeiros com
desconto na inscrição. Essa decisão afetou um punhdo de estudantes interessados.

b. quando é apresentada como uma opção a mais, sem excluir as demais e sem maiores
repercussões.
Ex.: as barracas de venda alimentos no XXIII ENEA Goiânia (1999) não substituíam a
alimentação, apenas somava mais uma alternativa ao Participante, sem comprometer as
demais estruturas.

Há, no entanto, mudanças maiores, estruturais. Neste caso:

c. quando é a única opção possível diante de um objetivo.


Ex.: embora seja contra a ideologia dos Encontros, optou-se por abrir as festas noturnas ao
público no XXIII ENEA Goiânia (1999) para tentar cobrir os prejuízos. A ressalva é que a
decisão foi tomada pela Comissão Organizadora e pela Diretoria da FENEA – no entanto se
supõe que nenhum Participante lúcido aceitaria como normal o prejuízo da Comissão
Organizadora. São mudanças de momento. Embora possam ser polêmicas, podem abrir
precedentes, que serão explorados. Este é o caso da limitação de vagas e uso de boletos
bancários – embora desagradável para todos, é um recurso válido, porque tem precedentes.

d. quando atende a um gosto reprimido de uma parcela dos Participantes.


Ex.: é o caso das barracas, que embora repudiado pelas primeiras Comissões
Organizadores que as assumiram por força das circunstâncias (com o primeiro grande boom
no VIII ELEA La Plata), ia ao gosto dos novos estudantes.

e. quando é um ato de força da Comissão Organizadora.


Ex.: algumas decisões do X ELEA Concepción (2000) e do XXVII ENEA Ouro Preto (2003)
foram atos de força.

Esta situação diz respeito à situação institucional: em muitos casos a Comissão


Organizadora estabelece um impasse com suas propostas, irredutível em mudanças. Como
os outros Atores raramente optam pelo poder de veto (cancelar o evento), não é incomum
que a proposta seja de inteira autoria da Comissão Organizadora, sem aprovação real dos
outros Atores. Evidentemente que este processo gera fissuras nas relações, que repercutem
em outros momentos do evento. Pelo desenho institucional da FENEA, e por uma certa
aversão ao uso do veto, este processo é mais comum nos Encontros brasileiros.

5 – Mudanças a Longo Prazo

“Muitas inovações são, na prática, mais mundana e superficiais do que radicais. Dependem mais
da acumulação de detalhes e progressos do que de grandes descobertas tecnológicas. Com
freqüência envolvem idéias que não são ‘novas’, mas nunca foram adotadas com vigor.”
Michale Porter, A Vantagem Competitiva das Nações

As mudanças nos Encontros brasileiros tem sido incrementais, e de ordem técnico-operacional.


Geralmente se avança continuamente nessa “tecnologia do fazer Encontro”. Uma solução é
rapidamente adotada.

São os casos do: rádio oficial (1996), walkie-talkie (1997), cheque-caução (1998), boleto bancário
(1999) e assim sucessivamente.

Pela variedade de Encontros por ano, há espaço para testes de novas tecnologias, no que o Brasil,
no Cone Sul, é a vanguarda nesse sentido.

No entanto, mudanças estruturais são mais raras.

Percebe-se que há um ciclo longo, mais constante, de mudanças de conteúdo dos Encontros, mas
que seguem mudanças reais da formação dos estudantes e da política nacional. Podemos citar a
espetacularização do Encontro, o incremento tecnológico dele, e a desmobilização do formato e
pautas mais politizadas que havia até o começo dos anos 90.

Porém, em um zoom maior, não se vê uma constância dos Encontros. Ao contrário dos ELEAs,
que mostram um progresso linear. Uma iniciativa revolucionária de um Encontro pode ser
abandonado inteiramente na edição seguinte, assim como pode se manter – depende somente da
boa vontade e perfil da Comissão Organizadora seguinte.

O formato de “Encontro voltado para a cidade”, que surge a partir de 1995, já em 1999 foi
abandonado sem que se dessem por conta de sua falta. Muito das experiências ensaiadas no XXII
ENEA Rio de Janeiro (1998) não foram retomadas em nenhum Encontro a partir daí.

Nada garante que o esforço de uma geração se mantenha na seguinte – até por conta da dinâmica
da FENEA, que prima pela extrema rotatividade dos seus quadros (pela extensão curta do tempo
de graduação para os padrões internacionais), pelo abandono das ex-Comissões Organizadoras
do cenário e por uma aversão à permanência de veteranos (inclusive, por parte de si próprios).

Curiosamente, essa aleatoriedade da permanência acontece somente com itens “novos”. Por outro
lado, nos últimos 5 anos os Encontros têm se mostrado conservadores na sua estrutura básica,
não ousando alterações significativas.

Mantém-se o conceito do evento centralizado (Cidade Encontro), sem apropriação oficial da


cidade-sede, com atividades estanques (que mudam de nome, mas se repetem, inclusive nos
horários). De certa maneira, tem valido a lei do menor esforço.

De um ponto de vista linear, temos as possibilidades de mudança e continuidade.

Quando há permanências, ocorrem por repetição. Muitas vezes um formato se desgasta porque se
repete sem que haja o conhecimento do seu porquê.

As mudanças ocorrem também por arranques voluntaristas, e não por um desenho mais específico
do Encontro à cidade-sede – como aconteceu no V ELEA Valparaíso (1995). Ou seja: não é feito
um Encontro levando em conta a paisagem cultural e peculiaridades da cidade-sede. Não é uma
mudança sistemática, orgânica, mas sim esporádica.

Dentro de um horizonte mais amplo, seria possível a idéia de resgate, a retomada de uma boa
idéia de um evento de anos passados.

Porém, o resgate não ocorre, pelas condições já mencionadas, agravadas por uma atitude
endêmica das Comissões Organizadoras (válidas para os ELEAs) de não sondarem a memória
existente, e partirem do zero.

No Brasil, ocorreu um congelamento nos ENEAs de forma mais rígida a partir de 1999 (XXIII ENEA
Goiânia), e nos ELEAs a partir de 1996 (VI ELEA Montevideo). O XXVII ENEA Ouro Preto veio a
quebrar um status quo de maneira ainda imprevisível.

Esse congelamento inibe mudanças por dois motivos: por apresentar-se como algo legitimado pelo
tempo e por ocultar as experiências anteriores, diferentes, no que se tem a impressão de que
nunca houve nada muito diferente daquilo.

Não temos, hoje, instalado um contexto que permita mudanças fluidas no formato do Encontro: não
é isso que os Participantes esperam, nem os respectivos co-Organizadores (FENEA e CoLEA).
Ë possível, entretanto, essa fluidez, essa cultura da mudança. Se observarmos três ELEAs
consecutivos (IV ELEA São Paulo, V ELEA Valparaíso, VI ELEA Montevideo), veremos mudanças
significativas sem que nenhum deles tenha deixado de ser marcante. Assumia-se como normal que
um Encontro fosse específico de cada lugar.

6 - Por uma Metodologia da Mudança


Quem está lendo esta parte, é porque deseja, de fato, mudar algo.

Brindo-vos uma citação:

“É preciso que as coisas mudem para que permaneçam as mesmas.”


Tomasi di Lampedusa, O Leopardo

Ao se tratar de um evento de estudante (ser irreverente e irrequieto por natureza), isso é ainda
mais verdadeiro. Mudar é parte do espírito de toda boa idéia.

E outra:
“Muda a antiga ordem, cedendo lugar à nova;
E Deus sempre se cumpre e diversas maneiras
Para que um bom costume não corrompa o mundo.”
Tennyson, Idílios do Reio

Tudo em um Encontro foi, em sua época, uma mudança, uma revolução. À medida que permanece
sem ser questionado, perde sua razão de ser, vira um apêndice. E o que era um bom costume
“corrompe o mundo”.

Assim, podemos pensar em uma tradição da mudança. E como implantá-la?

Vimos em Estudos anteriores que o que define o horizonte de um Organizador é a sua experiência.
Então, um primeiro ponto é:
a. aumentar a experiência do Organizador.

Indo a mais Encontros, conhecendo os bastidores... e consultando a memória dos Encontros. São
mais de 25 anos, 25 gerações de estudantes, jovens e irrequietos... é muita presunção achar-se
mais original que esse povo todo. Quanto mais se conhece do passado, mais se percebe
- que tudo se pode mudar,
- o que se mudou e o que se manteve,
- o que era cada coisa em sua época, e
- onde os outros erraram ou perderam tempo.

É preciso cometer erros novos.

Um segundo ponto é:
b. conhecer a pré-existência.

Se vou mudar algo, modifica junto uma teia de relações. Em alguns casos, estas não existe. Muda-
se algo e ninguém reage. Em outros, aquele elemento envolve outros Atores, ou tem a sua razão
de ser (que foi esquecida), ou tem ainda outros significados além do original. Ora, é preciso
conhecer isso para poder mudar de forma mais eficiente.

Um crachá era mais que uma peça de identificação: tornou-se um elemento que estimula o
contato. Se for inventado outro sistema (pulseiras, por exemplo) é importante perceber que tem
esse aspecto do contato que pode ser “solucionado” de outra forma.
O terceiro ponto é:
c. não aborte uma idéia só pela execução diferente.

Os métodos existem em função dos fins, e não o contrário. Uma idéia nova frequentemente exige
maneiras novas de se fazerem as coisas. Estes meios devem ser inventados. Verifiquem se a idéia
vale a pena. Os meios vêm depois.

E, por último:
d. trabalhe com os outros Atores.

Eles têm de ser seus aliados e colaboradores. É preciso ter essa leitura múltipla. É interessante
sempre saber como o Participante “normal” lê o Encontro. Ele não está errado: se se quer mudar
algo, é preciso saber como o Participante lê o evento, para se comunicar na sua língua. Não
adianta ter idéias novas, se não se comunica com ninguém, ou se os outros não consentem.

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