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Universidade de Brasília – UnB

Faculdade de Educação
Departamento de Teoria e Fundamentos
Área de Multiculturalismo, Simbolismo e Identidade na
Educação
Realização: Faculdade de Educação – UnB, Núcleo de Estudos
Afro- Brasileiros – CEM e Secretaria de Educação
Continuada, Alf abetizaç ão e Desenvolvimento - MEC

E DU CAÇ Ã O E RE L AÇ Õ E S É T NI CO – RAC I A I S

Afro - Brasileiros : Todos Nós (?!)

Francisco Aires Afonso Filho

Brasília, dezembro de 2004.


INTRODUÇÃO

O objetivo principal do presente artigo é ter uma visã o


histórica da construção social do Brasil a partir da colonização e
utilizaç ã o da mã o de obra escrava: primeiro do africano
escravizado e depois dos nativos da terra. Porém o foco principal é
explicitar que o africano e seus descendentes não ficaram inertes
na diáspora, terra brasilis.

Contribuíram e muito para a formaç ão do nosso povo, da


nossa identidade, da nossa cultura, da nossa religiosidades e
embora trazidos como escravos, se tornaram brasileiros, afro-
brasileiros e fizeram com que os seus senhores europeus e euro-
descendentes se africanizassem no falar, no comer, no folguear e
no africanizar as geraç ões que mais tarde seriam conhecidas como
brasileiras.

Quem são os afro-brasileiros? É um questão que pretendemos


responder.
I – Africanos no Brasil

A influencia do af ricano em terras brasileira, possivelmente


se deu desde a sua descoberta, uma vez que o tráf ico negreiro
começara em Portugal por volta de 1.444, com a fundação da
Companhia de Lagos, intensif icando-se a tal ponto que em 1530,
estima-se que dez a doze mil af ricanos entravam anualmente o
Tejo, rumo à Lisboa.
Com a colonização do Brasil, automaticamente a presença
africana já era de se notar, mesmo que não fosse expressiva. O
tráfico luso-brasileiro e mais tarde o brasileiro fizeram com que
aqui chegassem africanos de diversas procedê ncias.
Pode-se dividir os africanos importados para o Brasil em duas
grandes categorias, segundo as suas procedê ncias: sudaneses e
bantos.

♠ Sudaneses – Oriundos do Niger (África Ocidental) – trazidos


principalmente para a Bahia e utilizados na lavoura. Suas
principais etnias eram: os nagôs (iorubás) os jejes (ewes) os
minas (this e gá s), os haussás, os galinhas (grú ncis), os tapas,
os boirnuns, etc.

♠ Bantos- Oriundos de Angola, Congo, Moçambique e Cambinda


(Sul da Áf rica) vieram para o Maranhão, Pernambuco, Rio de
Janeiro e em menor escala para Alagoas, litoral do Pará, Minas
Gerais e São Paulo. As suas etnias eram: angolas, benguelas,
moç ambiques, macaus, congos, etc. Para a Bahia també m vieram
muitos bantos.

Também não se pode esquecer das minorias fulas e mandês


(malê s) carregados de forte influê ncias muç ulmanas, responsá veis
por vá rios levantes, como a Revolta dos Malê s em 1835.
O tráfico durou 350 anos até, que sob pressão da Inglaterra
foi promulgada a Lei Eusébio de Queiroz em 1850, proibindo o
trá fico escravagista. Até entã o, já tinham vindo para o Brasil em
torno de 3.600.000 africanos, não se tendo controle a partir de
então devido ao tráf ico ilícito, pois era mais uma lei para “inglê s
ver” . Estima-se um total de 4.000.000 de africanos trazidos para o
Brasil. O que se sabe por certo é que o ú ltimo navio com escravos
africanos chegado ao Brasil f oi em 1857, ou seja, 07 anos apó s a
proibição legal e oficial.
A proibição de importação não significa que o comércio
interno e a escravidã o tenham sido extintas. Somente 21 anos
depois da extinção da importação da africanos é que foram dado os
primeiros passos para a extinção da escravatura, com a publicação,
em 1871, da Lei do Ventre Livre, segundo a qual todos os f ilhos de
escravas eram livres e em 1885 foi promulgada a Lei do
Sexagená rio, dando a liberdade a todos os escravos com mais de 60
anos.
Em 13 de maio de 1888, foi publicada a Lei Áurea, de
libertação dos escravizados.
Naquele momento os escravizados que já tinham sido mais de
60% da população brasileira era, somente, em torno de 05%. A Lei
Áurea resolveu o problema do branco e não do africano ou afro-
descendente, pois se dizia que o escravo precisava de três “ P” ,
“pão, pau e pano”. Era mais barato contratar a mão de obra
assalariada, tanto do ex-escravo e seus descendentes como dos
imigrantes europeus.

O Porto de Salvador na Bahia foi a principal porta de entrada


dos Africanos, tendo recebido pelo menos 1.200.000, seguido pelo
Rio de Janeiro.

Outro dado importante de se registrar é que nã o havia nenhum


rigor no momento de distribuiçã o desses africanos. Nos porõ es dos
navios já havia a mistura das etnias, das línguas e das crenças e, a
partir daí nas senzalas brasileiras e especialmente nas ruas da
Bahia. Portanto a Bahia, tida como a Roma africana, era cantada:

"Formosa filha de África,


Bendita fruto da África,
Bahia de Iemanjá,
Foi com dores e com prantos
Que a África te concebeu.

O pranto de nossas dores


Te encheu de noite de orvalho.
Mas és a rosa querida
Aberta junto ao mar."1

Os africanos e seus descendentes foram a primeira mola de


desenvolvimento do Brasil, pois foram explorados na lavoura da
cana de açúcar, nos engenhos coloniais, nas bandeiras, na caça aos
índios, na mineração e na lavoura do café. Sempre submetidos à
tirania social política dos europeus.
Era a besta de carga. Carregava o preconceito da raç a e a
escravidão, que foi mola de desenvolvimento colonial. Esta
situação tirou do africano todas as possibilidades de
desenvolvimento autô nomo. A escravidã o e não a raça era a causa
da degradaç ã o do negro, mas isso passava despercebido.
De um lado estava a extrema riqueza dos senhores e do outro
lado a desoladora miséria da maioria.
As diferenças eram muitas: o africano era diferente na cor,
falava outra(s) língua(s), adorava outros deuses, tinha outros
costumes e outra organizaç ã o familiar, mas tudo isso era ignorado
pelo branco europeu.

Diante desta situaç ão e à margem da justiç a, o africano sof ria


o b a n z o , d a s a u d a d e d a s u a k w e / n z o / c u b a t a / “ i l u - a i y ê 2” d a s f l o r e s t a s
colossais saltitantes de vida e de liberdade.
1
Estes versos são de “Iemanjá”, poema em que Sosígenes Costa desenvolve a lenda do Coronel Ellis
sobre o nascimento dos Orixás, aproveitando motivos vários do foclore negro da Bahia.
Ao escravizado se impôs muitos males sociais e tropicais,
além dos que já traziam, como por exemplo o amarelão, o bicho-do-
pé , a desinteira mansoniana e alguns mosquitos como o da febre
amarela.

A saudade persistia, como se pode ver no poema “ Negro” de


Raul Bopp:
“Pesa em teu sangue a voz de ignoradas origens.
As florestas guardaram na sombra o segredo da tua história.
A tua primeira inscrição em baixo-relevo foi uma chicotada no
lombo.
Um dia atiraram-te no bojo de um navio negreiro e durante
noites longas e longas viste ouvindo o barulho do mar como um
soluço dentro do porão soturno.
O mar era um irmão da tua raça.
Um dia de madrugada, uma nesga de praia e um porto,
armazéns com depósitos de escravos e o gemido dos teus irmãos
amarrados numa coleia de ferro.
Principiou-se ai a tua história.
O resto, o Congo longínquo, as palmeiras e o mar, ficou se
queixando no bojo do urucungo.”

O negro estava legalmente livre, mas nã o ganhou nada com


isso. A partir daí começa o século XIX, e este foi em todo mundo
o sé culo da burguesia.
O Africano e seus descendentes continuaram explorados.
Agora como proletariados, sob o peso da sociedade oficial e com o
estigma da escravidã o, que tinha acabado, mas continuava pesando
sob os ombros das suas ex-vítimas.
Ao chegarem da Áf rica, como escravos que eram, todos os
seus valores f oram desprezados e como negros que eram, a teologia
cristã os via como não humanos, desalmados.
A é tica cristã/europé ia não via nenhum mal em escravizá-los.
Aos poucos a igreja foi mudando e admitindo a evangelizaçã o dos
africanos ou afro-descendentes, porém, suas igrejas eram separadas
e não tinham acesso aos espaços de culto dos brancos.
Como eram obrigados a cultuar ou respeitar os ritos cristãos,
tiveram que buscar vá rios artifícios, conscientes ou
inconscientemente, para preservarem suas crenças, seus costumes,
e até (re)criar novos sistemas de crenças e novas explicaçõ es a
respeito do universo.

Nesse diapasão, não se pode esquecer, também o artifício da


própria igreja em explorar o sincretismo, com o intuito de
enfraquecer as crenças africanas. Também não pode passar
despercebido a apropriaç ã o dos valores dos seus dominadores. O
sincretismo desenvolvido pelo africano é uma açã o de apropriaçã o
através de uma nova leitura dos valores religiosos do seu
escravizador.
2
Casa , Terra – fon, kimbudo e yorubá, respectivamente.
Como os bantus foram os primeiros a chegar por aqui,
tiveram menos espaç os para f ixar as suas crenças, devido a rigidez
da escravidã o, poré m, influenciaram mais na alimentaç ão, no falar
brasileiro e na cultura como as f estas das congadas, maracatú ,
coroação de reis, a capoeira, o samba, a umbigada etc.

Os nagôs, foram os últimos, alguns puderam voltar à África,


outros fizeram a travessia do atlâ ntico para buscar seus pertences e
objetos rituais, dessa forma influenciaram mais no sistema
religioso afro-brasileiro, já que as tradições do candomblé são
praticadas em uma estrutura quase cem por cento nagô, ate mesmo
onde se cultuam divindades de origem banto.

Esse era o caminho para a resistência cultural e de uma


“consciência negra” na nova terra: os centros religiosos, mais tarde
conhecidos como candomblé e umbanda.

Estes grupos se tornaram nú cleo de resistência. Um meio pelo


qual o negro toma consciência de si e de suas diferenç as culturas,
de suas capacidades e dos caminhos que ele teria para se perceber
como um indivíduo que veio para o novo mundo contra sua
vontade.

Percebeu que teria que lutar com todas as suas forças para
não ser vítima de uma nova dominação, que alcançaria a sua
cultura, sua individualidade, suas crenç as e os seus brios que se
manifestam na cor, no ritmo, na dança e no jeito diferente de
explicar o universo.
II – Afro – Brasileiro: todos nós (?)

Ora, em primeiro momento eram africanos. A primeira


geraç ão que chegava escravizada nos porões dos muitos navios e
durante os trê s sé culos e meio de escravidã o eram africanos. Seus
filhos poré m, já cresciam com o amá lgama cultural que a mistura
é tnica propiciava.

Claro que não temos que ver a escravidã o e o


abrasileiramento com olhos de poetas, nem reforçar o mito (falso)
da “escravidão cordial”, construído durante séculos para justificar
a chamada e irreal “ democracia racial” do Brasil. Esta é a visão da
varanda da casa grade para a senzala.

Escravidão é igual em qualquer parte do mundo. Se não no


modo e comportamento físico, mas na alma e na capacidade de se
sentir ou não autor de seu destino.
Ningué m perguntou ao africano se ele queria vir para as
colônias portuguesas, entre elas o Brasil, para ser a mão de obra do
desenvolvimento colonial.

Foram seqüestrados.

Roubaram seus bens, suas famílias, suas tradições, sua


língua, seus cultos e lhe deram em troca uma língua estranha, a
impossibilidade de formar família e uma terra estranha (usurpada
pelo europeu), para lavrar e produzir bens, não para si ou para sua
comunidade e descendência, mas para aqueles que agora se
intitulavam seus senhores.

Mas a resistência se fez. Se manter africano e depois se


“ abrasileirar” e se “ apropriar” de valores dos seus algozes foi a
estraté gia. Com esta estraté gia deixaram suas marcas, que hoje nos
define a todos como brasileiros. Quer conscientes ou não. Quer
sabendo ou nã o, muitas palavras que adoçam a nossa chamada
língua lusa são na verdade af ricana. Que, a maioria de nó s, mesmo
tendo olhos azuis, se fizermos a nossa á rvore genealógica, vamos
encontrar um antepassado africano ou afro-descente.

A definição de uma sociedade não se dar somente pela


descendê ncia gené tica, mas pela heranç a cultural e pela construçã o
de sua identidade. Nã o se pode negar esta inf luência em todos os
campos de manif estaçã o brasileira. Em alguns mais outros menos,
mas a presença dos nossos antepassados africanos e seus
descendentes, que hoje são considerados heróis, mesmo que
simbolicamente na pessoa de Zumbi dos Palmares, está impressa
em nosso corpo ou em nossa alma, ou em ambos.

Se reconhecer negro ou afro-brasileiro, é uma questão pessoal


e de identidade, mas reconhecer que nã o temos como f ugir dos
traços culturais herdados, que, ou são africanos ou foram recriados
com a visão de africanos na diáspora, é uma questão de
conhecimento de si mesmo como sujeito histórico e resultado de
um processo histórico.

O pertencimento a um grupo étnico é uma questão


diferenciada ao indivíduo que herdou historicamente traços físicos
e/ou culturais de uma e outra etnia.

Se somos também euro-brasileiros? Claros que sim, mas não


somente. Não é uma questão afro-etnocentrica que defendemos.
Não vamos radicalizar. Somos euro-brasileiros na nossa fala, na
nossa dança, na nossa alimentação, na nossa música e dança e
religião, tanto quanto somos, também, afro-brasileiros e nato-
brasileiros (dos chamados indígenas, ou nativos da terra).

Mas a questão de pertencimento ou de predominância na


constituição da nossa identidade é pessoal.

Não adianta olharmos para nós e nos definimos branco ou


negros, ou índios, ou mulatos, ou cafusos, etc. Mas devemos nos
olhar como seres sociais, que vivemos em uma sociedade que
interage e que foi amalgamada em um caldeirão cultural composto
multi-etnicamente. Reconhecer que os valores e referenciais
africanos e fazem presente no nosso dia – a – dia.

Isto é ser brasileiro.


III – Considerações finais.

Nã o podemos negar que somos resultado de desta multi-etnia.


Portanto não podemos alimentar preconceitos ou fechar os olhos
para a segregaç ão racial e para as manif estaçõ es racistas que
existem no Brasil.

Também não podemos esquecer que mais de um século depois


do final of icial da escravidão, as desigualdades geradas naquele
sistema permanecem entre nós e se propagam de geraç ão em
geraç ão.

Claro que o reconhecimento do pertencimento étnico, não é o


passo mais importante, mas faz com nos sintamos responsáveis pela
nossa realidade histórica e pela que queremos construir. Como
també m, nos f az vítimas diretas ou indiretas de todas as diferenç as
que se apresentam até hoje nos indicadores sócio-econômicos entre
brancos e negros. Nos ajudará a termos consciência dos problemas
étnicos raciais e enfrentá-los.

Nos declararmos afros-descendentes ou não, não é o objetivo


maior de toda esta problemática étnico-cultural. Nos declararmos
afros-descendentes é muito mais do que reconhecermos a genética e
o grau de melanina que se propaga em nossas geraç ões ascendentes
e descendentes, mas é uma questão de pertencimento a esta
sociedade constituída por toda esta diversidade.
Claro que somos também euro-descendentes, mas não só. Ser
afro-descente é uma questão de identidade social e de um
reconhecimento histórico da contribuição de um povo que em
primeira mã o se chegaram nestas terras escravizados e seqüestrados
de suas origens.
Esse povo resistiu, mas também se apropriou da terra (um
exemplo foram os quilombos), se apropriou de valores que eram
tidos como exclusivos dos seus escravizadores, se e fez uma
releitura da fauna, flora, cultura, religião e estrutura social.

Por tudo isto, podemos concluir que a chegada do africano na


terra de Santa Cruz, africanizou a alma do f uturo brasileiro.

Africanizou não só a alma, mas a pele, os costumes, a


culinárias, os cultos e tradições. Africanizou tanto que até hoje a
academia, embora resistente, reconhece, ou pelo menos dar os
primeiros passos para reconhecer essa africanização, o que prova
que é algo continuado.

Que a africanização não acabou e nunca vai se dar por


acabada.
Vai sempre avançar.

Por que tem sempre que avançar?


Porque a escravidão e a segregaçã o ainda não acabou. Porque
as contribuições que africano trouxe para o novo mundo ainda não
foram reconhecidas. Isto também é uma forma de escravidã o e de
afirmaç ã o hegemônica de outros grupos. Grupos estes que embora
formadores também da alma e da genética brasileira não são
únicos. Foram minorias na questão totalitária de indivíduos, mas
que sempre detiveram o poder e a dominação.

Porque enquanto os valores afros forem considerados como


algo mau e que devem ser combatidos a escravidã o se refaz e se
reaviva na alma do af ro-descedente.

Afro-descente este que por heranç a ou genética ou cultural


somos todos nós.
BIBLIOGRAFIA

ABRANCHES, Dunshee de – O Cativeiro, Documentos Maranhenses,


São Luís, 1992. Ed. Alumar Cultura

BERKENBROCK, Volney J. – A Experiência dos Orixás, Um estudo


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1998.

CARNEIRO, Ed so n – Re ligiõ es Negras – Ne gro s Ba nto s, 2 ª e d iç ã o .


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CAROSO , Carlos & BACELAR, Jeferson (Organizadores ) – Faces da


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HOLANDA, Sérgio Buarque de – Raizes do Brasil, 21ª edição, Coleção


Documentos Brasileiros, Volume 1, Editora J.O., Rio de Janeiro 1989.

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