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OSKAR SCHLEMMER.
Das figural Kabinett.
1922.
The Museum of modern art, New York.
The Joan and Lester Avnet Collection.
Sobre um espaço negro encontram-se estampadas sete figuras humanas. No centro de
tudo, no ponto de foco, encontra-se pendurada num fino traço a mais pequena das
figuras.
Nos extremos, situadas em estrita simetria, observam-se duas largas figuras. À direita,
vertidas. A seu lado está uma figura curvilínea assente sobre um único ponto de apoio.
A cada lado da figura central, de novo em simetria, encontram-se mais duas figuras:
uma, preta, com o seu corpo dissolvido entre a cor escura do fundo do quadro; a outra,
Por último, um desconcertante e expandido rosto humano que nos observa de frente
enquanto, debaixo do abrigo do seu nariz, o resto da peça estende-se. O título da peça
informa-nos que a cena decorre num gabinete, um espaço fechado, limitado pelos
Trata-se do “Gabinete figurativo” pintado por Oskar Schlemmer em 1922; há dois anos
que se encontra na Bauhaus onde mais tarde, em 1923 será director do atelier de
teatro. Nesse mesmo ano, é representado pela primeira vez o “Ballet Tríadico”, uma das
Oskar Schlemmer foi um artista “poliédrico” (San Martín, 1954) pintor, escultor,
bailarino, cenógrafo, coreógrafo, teórico de arte. Durante toda a sua vida explorou
escrito, tendo como referência essencial os textos do próprio Schlemmer, vou procurar
Para encontrar a harmonia, o homem precisa que estas forças se encontrem unidas
Schlemmer não hesitou em afirmar o poder total da mecanização sobre a vida da sua
época2. Preocupação que se reflectirá em toda a sua obra pois Schlemmer considera
que a arte tem a obrigação de ser imagem do seu tempo e não pode ignorar as
trabalhador dos tempos modernos que, ao ser mecanizado perdeu o equilíbrio com a
harmonia.
2 “Marque de notre temps ensuite, la mécanisation, processus inexorable qui s´ empare de tous les domaines de la vie
de l´ art. Tout ce qui peut être mécanisé est mécanisé” (Schlemmer, 1978, 29)
conjunção do natural com o artificial, do sentimento com a razão.
que pode implicar a duplicação ou abolição de alguma das suas partes) e, finalmente,
apolliniano, através do símbolo. Assim, deste processo que parte do natural e chega ao
artificial, que representa o natural mediante o artificial, Schlemmer consegue a união
dos elementos enfrentados. As ferramentas do artista plástico para esta tarefa são as
formas e as cores.
se podem apresentar na sua forma intangível (luz) ou tangível (linha). Em qualquer uma
Assim, para obter uma melhor aproximação aos seus objectivos Schlemmer utiliza em
Kabinett a técnica da aguarela sobre papel de calco pois esta permite “colorir a luz,
Com o mesmo intuito, Schlemmer propugna o uso de formas e cores simples e básicos:
3«Il est devenu clair que l´aquarelle, poussée a l´extême, empiete sur le royaunne de la peintura a l´huile qui parait
lourde et épaisse quand par nature elle devrait coller a la lumiere, des tons lumineux et transparents. Venir! ce but qui
reste si loin de moi » (Schlemmer em Diserens 1999: 6)
Nesta procura do elementar, no Kabinett, Schlemmer vai fazer um uso contínuo das
maior parte das figuras. Igualmente, o seu uso da cor, restringe-se à escala cromática
mais básica.
bleu” (Flocon 1989). Assim mesmo, a Bauhaus atribui a cada uma destas formas um
valor simbólico. Sem embargo, Schlemmer, se bem aceita o poder metafísico destas
figuras e cores, não vai conseguir atribuir-lhes um valor simbólico unívoco como
“Sur le triangle jaune tous les savants sont d´accord; mais sur le reste, non.
Inconsciemment, en tout cas, je fais le cercle toujours rouge, le carré bleu. Je ne
connais pas dans le detail les explications de KANDINSKY; mais
approximativement, le cercle: la chose cosmique, l´absorption, la feminité , la
mollese, le carré: l´actif, la virilité. Mes contre- raisons: le cercle ou la sphere
rouge se manifestent activement dans la nature: le soleil rouge, la pomme (l
´orange) rouge, le cercle rouge dans le verre de vin. Le carre n´est pas dans la
nature (elle travaille a la destruction de la ligne droite, Delacroix), mais aussi un
objet metaphysique dont la couleur est bleue. KANDISNKY batit sur son dogme
tout un edifice pedagogique: toute ligne incurvée, comme partie du cercle est
donc a faire en bleu, tout drit en rouge, toute forme pointue en jaune; variée a l
´infini. Pendant, l´exposé, s´éleve timidement la question: pourquoi? (Schlemmer
1926)” (Flocon 1989).
dos inumeráveis eventos que se sucedem no mundo e, destes, vai escolher o homem
como o seu protagonista pois considera que o homem é o evento natural mais5
importante que sucede no mundo, o homem é “la mesure de toute chose” (Schlemmer
1978: 32)
Sendo assim, Schlemmer, tendo como ponto de partida as formas básicas vai
transfigurar o homem orgânico, vai desconstruir a sua estrutura dada (cabeça, tronco,
pernas, pés, etc.), criar um novo conjunto e propor novas relações entre os membros.
incrusta corpos sem cabeça, corpos com a cabeça na metade do tronco, uma figura
com duas cabeças reflectidas num espelho; e, de perfil, um sujeito de mãos gigantes e
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E, é assim como, ao expressar o natural duma forma artificial, Schlemmer consegue re-
mais orgânico do ser humano: o seu próprio corpo (situação que, talvez aconteceu à
Mas Schlemmer não se vai deter nesta conquista, ainda falta um elemento essencial: o
espaço, ao qual Schlemmer lhe vai aplicar linhas geométricas imaginárias e, neste
dependência da relação das figuras com as leis do espaço, Schlemmer vai estabelecer
esféricas, regido pelas leis do corpo humano e o homem-cúbico regido pelas leis do
espaço cúbico que o circunda, cujos membros foram substituídos por construções
cúbicas (efeito que, nas suas criações performativas vai lograr pelo intermédio do uso
“Mais tous les costumes (de scène) ne sont pas en mesure d´abolir la servitude de
la figure humaine: la loi de la pesanteur à laquelle elle est soumise. (…) Le centre
de gravité ne peut etrê abandonné que pour un instant” (Schlemmer 1978: 36)
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Este momento é então quando voltamos de novo a nossa mirada ao Kabinett: um
espaço negro com sete figuras humanas estampadas. No centro de tudo, no ponto de
foco, pendurada num fino traço, a mais pequena das figuras. Sem embargo,
resulta evidente que a sua posição tem que ser o foco de atenção da pintura, pois, é
essa pequena figura a única que logra desfazer -se do domínio da gravidade, o poder
mais forte de todos e percebemos então porque foi esse preciso instante e não outro, o
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Referencias
262.
Eberle, M. (1944). World War II and the Weimar artists : Dix, Grosz, Beckmann,
Flocon, A. (1989). "Correspondances" des choses aux mots et des mots aux
262.
Eberle, M. (1944). World War II and the Weimar artists : Dix, Grosz, Beckmann,
Flocon, A. (1989). "Correspondances" des choses aux mots et des mots aux
musées nationaux.
San Martín, F. J. (1954). Un artista poliédrico. Lápiz. Madrid. 130: 9.
http://www.schlemmer.org/.