Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Abstract This article presents a synthesis on aging Resumo Este artigo apresenta uma síntese sobre
of the human cerebral cortex, and also a review of o envelhecimento do córtex cerebral humano e uma
the approaches to motor control rehabilitation revisão das abordagens para a reabilitação do con-
following a cerebral vascular accident (CVA). trole motor após o acidente vascular encefálico
Throughout the discussion on the clinical (AVE). Na discussão sobre as implicações clínicas
implications, the author advises the rehabilitation na compensação das perdas, é enfatizado que os
professionals to encourage older patients perform profissionais de reabilitação devem incentivar os
their activities of daily living (ADL) using both pacientes idosos a usarem os dois membros superi-
upper extremities, rather than reinforcing the use ores para a realização das atividades da vida diá-
of the unaffected upper extremity. ria (AVDs) ao invés de reforçarem o uso do mem-
Key words Health of the elderly, Nervous system, bro superior não afetado.
Cerebral vascular accident, Rehabilitation, Neu- Palavras-chave Saúde do idoso, Sistema nervoso,
ronal plasticity Acidente vascular cerebral, Reabilitação, Plastici-
dade neuronal
1
Caixa Postal 166
80011-970 Curitiba, PR
ilkateixeira@netscape.net
2172
Teixeira, I. N. D. O.
de movimentos não sinérgicos, tais como flexão uma mão parética. Os resultados demonstraram
do ombro, extensão do cotovelo e pronação-su- padrões complexos de ativação com variações
pinação do antebraço. O controle da extensão individuais acentuadas.
do punho e dos músculos extensores e flexores Carr e Shepherd26 descrevem algumas teorias
dos dedos é considerado essencialmente desafia- e alguns mecanismos propostos no processo de
dor na recuperação da funcionalidade do mem- reorganização neural após a lesão do SNC:
bro superior parético após o AVE. . Teoria da diásquise de von Monakow. Ocor-
Cauraugh et al.23 explicam que a hemiparesia reria uma interrupção temporária da integração
permanece por períodos longos, havendo um pla- neural como se fosse um “choque funcional” e os
tô em termos de ganho em aproximadamente doze efeitos de processos como edema, por exemplo,
meses. Além disso, 60% dos indivíduos que so- provocariam uma supressão da atividade em
frem AVE ficam com disfunção motora que se áreas distantes do local da lesão. Ocorreriam al-
torna um déficit “permanente” um ano após a terações reversíveis em sinapses íntegras que re-
lesão. Esses problemas resultam em dificuldades sultariam em disfunção temporária do proces-
para a execução dos movimentos funcionais, pre- samento neural seguida da recuperação de algu-
judicando a qualidade de vida individual, princi- mas funções nos estágios iniciais após a lesão.
palmente a independência relativa à realização das . Hiper-sensitividade de denervação. Os axô-
AVDs e ao desempenho ocupacional. nios e os terminais sinápticos degeneram-se após
a lesão. As regiões denervadas das células-alvo
desenvolveriam uma responsividade pós-sináp-
Reorganização neural tica aumentada às substâncias neurotransmis-
após lesão decorrente de AVE soras e se tornariam excessivamente sensíveis aos
impulsos aferentes.
Jones e Pons24 explicam que, após a lesão, ocor- . Teoria da redundância. Algumas regiões do
rem modificações em diferentes regiões do SNC SNC poderiam desempenhar a mesma função
que podem ser decorrentes dos seguintes fato- motora, de forma que uma região do sistema
res: interrupção da aferência aos neurônios, poderia mediar adequadamente a função com-
modificações sinápticas atividade-dependente, prometida. Essa premissa assemelha-se ao
mudanças na excitabilidade das membranas, for- eqüipotencialismo, proposta de que uma função
mação de novas conexões e liberação de cone- específica poderia ser mediada por todos os teci-
xões já existentes. Para minimizar os danos, os dos de uma determinada região. Ocorrendo le-
circuitos motores paralelos poderão ser ativa- são em parte da região, o tecido íntegro rema-
dos, estabelecendo uma via de input alternativa nescente continuaria a mediar a mesma função e
para os motoneurônios espinhais. Esses circui- o efeito da lesão seria mais dependente da quan-
tos paralelos podem ter origem na área motora tidade de tecido poupado do que da recuperação
primária contralateral não lesada, nas áreas bi- da lesão.
laterais pré-motoras, nas áreas motoras suple- . Função vicariante. As regiões íntegras do
mentares bilaterais, nas áreas somato-sensorias SNC estariam latentes em um estado de pronti-
bilaterais, no cerebelo, no gânglio basal e em ou- dão para serem “ativadas” e assumirem as fun-
tras regiões6. ções comprometidas.
Segundo Levy e seus colaboradores25, estu- . Reorganização funcional. O sistema neural
dos usando tomografia por emissão de pósitrons poderia mudar qualitativamente suas funções,
(Positron Emission Tomography - PET) e ima- pois haveria uma via neural que assumiria o con-
gem por ressonância magnética funcional (func- trole motor de funções que em situações nor-
tional Magnetic Resonance Imaging - fMRI) sus- mais não fariam parte de seu repertório.
tentam o princípio da reorganização funcional . Brotamento neural. Duas formas de brota-
do SNC após o AVE. Os autores investigaram a mento neural são propostas: (1) regeneração dos
correlação entre a recuperação do tecido neural e axônios dos neurônios lesados que fariam o pro-
os resultados do fMRI após um programa de cesso de reinervação das áreas denervadas; (2) bro-
reabilitação em dois pacientes, concluindo que tamento colateral ou de neurônios íntegros adja-
ocorreram ganhos funcionais significativos de- centes ao tecido neural lesado, resultando em au-
correntes da plasticidade. Em outro estudo, os mento da efetividade sináptica e substituição das
mesmos pesquisadores analisaram, com o uso sinapses não efetivas. A emergência de novas co-
do PET, a distribuição da circulação sanguínea nexões sinápticas poderia estar associada à sinap-
cortical durante a execução de movimentos em togênese dinâmica que ocorreria continuamente
2175
Referências
1. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação-Sarah. 18. Jacobs B, Scheibel AB. A quantitative dendritic
Acidente Vascular Cerebral. Informações sobre Do- analysis of Wernicke’s area in humans. I. Lifespan
enças Tratadas. [site da Internet]. s.d. Disponível changes. J Comp Neurol 1993; 327:83-96.
em: <http://www.sarah.br/paginas/doencas/PO/ 19. Elbert T, Rockstroh B. Reorganization of human
p_02_acidente_vasc_cereb.htm> Acesso em: 26 cerebral cortex: the range of changes following use
nov. 2004 and injury. Neuroscientist 2004; 10(2):129-141.
2. Kelly M, Shah S. Axonal sprouting and neurologi- 20. Taub E, Uswatte G, Pidikiti R. Constraint-induced
cal connectivity following central nervous system: movement therapy: a new family of techniques with
insult implications for Occupational Therapy. Br J broad application to physical rehabilitation - a cli-
Occup Ther 2002; 65(10):469-475. nical review. J Rehabil R D 1999; 36(3):237-251.
3. Mudie MH, Matyas T. A. Can simultaneous bilate- 21. Shelton F, Reding M. Effect of lesion location on
ral movement involve the undamaged hemisphere upper limb motor recovery after stroke. Stroke 2001;
in reconstruction of neural networks damaged by 32:107.
stroke? Disabil Rehabil 2000; 22:23-37. 22. Stein D. Brain injury and theories of recovery. In:
4. Bonifer NM, Anderson KM. Application of cons- Goldstein L, editor. Restorative Neurology: Advances
traint-induced movement therapy for an individual in Pharmacotherapy for Recovery After Stroke. Ar-
with severe chronic upper-extremity hemiplegia. monk, NY: Futura Publishing; 1998. p.1-34.
Phys Ther 2003; 83:4. 23. Cauraugh J, Light K, Kim S, Thigpen M, Behrman
5. Dromerick A, Edwards D, Hahn M. Does the appli- A. chronic motor dysfunction after stroke: recove-
cation of constraint-induced movement therapy ring wrist and finger extension by electromyogra-
during acute rehabilitation reduce arm impairment phy-triggered neuromuscular stimulation. Stroke
after ischemic stroke? Stroke 2000; 31(12):2984-2988. 2000; 31:1360-1364.
6. Pascual-Leone A, Amedi A, Fregni F, Merabet LB. 24. Jones E, Pons T. Thalamic and brain stem contri-
The Plastic Human Brain Cortex. Annu Rev Neu- butions to large-scale plasticity of primate somato-
rosci 2005; 28:377-401. sensory cortex. Science 1998; 282:1121-1125.
7. Brody H. Organization of the cerebral cortex, III, A 25. Levy CE, Nichols DS, Schmalbrock PM., Keller P,
study of aging in the human cerebral cortex. J Comp Chakeres DW. Functional MRI evidence of cortical
Neurol 1995; 02: 511-556, apud Wong TP. Aging of reorganization in upper-limb stroke hemiplegia tre-
the Cerebral Cortex, McGill J Med 2002; 6:104-113. ated with constraint-induced movement therapy.
8. Wong TP. Aging of the Cerebral Cortex. McGill J Am J Phys Med Rehabil 2001; 80(1):4-12.
Med 2002; 6:104-113. 26. Carr Jh, Shepherd RB. Programa de reaprendizagem
9. Terry RD, Deteresa R, Hansen LA. Neocortical cell motora para o hemiplégico adulto. São Paulo: Mano-
counts in normal human adult aging. Ann Neurol le; 1988.
1987; 21:530-539. 27. Johansson B. Brain plasticity and stroke rehabilita-
10. Haug H, Eggers R. Morphometry of the human tion. Stroke 2000; 31:223-239.
cortex cerebri and corpus striatum during aging. 28. Musso M, Weiller C, Kiebel S, Muller SP, Bulau P,
Neurobiol Aging 1991; 12:336-338. Rinjtjes M. Training-induced brain plasticity. Brain
11. Matsumae M, Kikinis R, Morocz IA, Lorenzo AV, 1999; 122:1781–1790.
Sandor T, Albert MS, McL Black P, Jolesz F. Age- 29. Mathiowetz V, Haugen J. Motor behavior research:
related changes in intracranial compartment volu- implications for therapeutic approaches to central
mes in normal adults assessed by magnetic reso- nervous system dysfunction. Am J Occup Ther 1994;
nance imaging. J Neurosurg 1996; 84:982-991. 48(8):733-745.
12. Gómez-Isla T, Price Jl, Mckeel DW, Morris JC, 30. Keough J. The just right challenge: enabling occu-
Growdon JH, Hyman BT. Profound loss of layer II pations restore motor control following stroke. Adv
entorhinal cortex neurons occurs in very mild Occup Ther Pract 2003;19(23):37.
Alzheimer’s disease. J Neurosci 1996; 16:4491-4500. 31. Liepert J, Bauder H, Miltner WH, Taub E, Weiller
13. Guttmann CR, Jolesz FA, Kikinis R, Killiany RJ, C. Treatment-induced cortical reorganization after
Moss MB, Sandor T, Albert MS. White matter chan- stroke in humans. Stroke 2000; 31:1210-1216.
ges with normal aging. Neurology 1998; 50:972-978. 32. Trombly C, Ma H. A synthesis of the effects of oc-
14. Peters A. Age-related changes in oligodendrocytes cupational therapy for persons with stroke, part I:
in monkey cerebral cortex. J Comp Neurol 1996; restoration of roles, tasks, and activities. Am J Oc-
371:53-163. cup Ther 2002; 56 (3):250-259.
15. Adams I. Comparison of synaptic changes in the 33. Trombly C, Ma H. A synthesis of the effects of oc-
precentral and postcentral cerebral cortex of aging cupational therapy for persons with stroke, part II:
humans: a quantitative ultrastructural study. Neu- remediation of impairments. Am J Occup Ther 2002;
robiol Aging, 1987; 8:203-212. 56(3):260-273.
16. De Felipe J, Farinas I. The pyramidal neuron of the 34. Whitall J, Waller SM, Silver KC, Macko R. Repetiti-
cerebral cortex: morphological and chemical cha- ve bilateral arm training with rhythmic auditory
racteristics of the synaptic inputs. Prog Neurobiol cueing improves motor function in chronic hemi-
1992; 39:563-607. paretic stroke. Stroke 2000; 31:2390.
17. Anderson B, Rutledge V. Age and hemisphere effects
on dendritic structure. Brain 1996; 119:1983-1990.
Artigo apresentado em 23/01/2007
Aprovado em 13/12/2007