Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
para o Desenvolvimento de
Empreendimentos de Engenharia Civil
Júri
Presidente: Prof. António Heleno Domingues Moret Rodrigues
Orientador: Prof. José Álvaro Antunes Ferreira
Co-Orientador: Prof. Luis António de Castro Valadares Tavares
Vogais: Prof. Francisco Afonso Severino Regateiro
Outubro de 2010
Agradecimentos
A presente dissertação tornou-se possível devido ao apoio de diversas pessoas e entidades a quem
se deixa aqui o mais sincero agradecimento.
Em primeiro lugar ao Prof. Luis Valadares Tavares pela orientação e visão que me transmitiu,
permitindo-me alcançar com maior profundidade os objectivos propostos.
Também quero agradecer a toda a equipa da empresa ASEP, Associação de Engenheiros, Lda. por
ter disponibilizado a informação do Empreendimento - Centro de Saúde Tipo, com vista à modelação
e análise no âmbito do presente trabalho.
Resumo
A presente dissertação procura analisar algumas das ferramentas existentes em termos de Building
Information Modeling e Plataformas Colaborativas, aplicando-as à realidade actual da fase de
formação de contrato, no âmbito de um procedimento para a execução de uma empreitada pública.
Neste sentido, analisaram-se as potencialidades já existentes nas aplicações informáticas das
famílias Revit, Archicad e VICO Software, com vista a realização de actividades correntemente
executadas pelo concorrente, no âmbito de medições automatizadas, detecção de erros e omissões,
calendarização, orçamentação, preparação da empreitada e da gestão da cadeia de fornecimentos e
subcontratação. Foi igualmente testada a plataforma Asite em relação à sua interoperacionalidade
com as aplicações.
Para ensaio das tecnologias utilizou-se um empreendimento denominado por “Centro de Saúde Tipo”,
correspondendo a uma unidade de saúde fictícia.
2
Abstract
Recently, new technologies and tools on software and Internet have emerged, in the area of
information systems integrated with building design, that focus the Civil Engineering project
management applied throughout its complete lifecycle. Contractor entities have currently the challenge
to implement and adapt themselves to these new technologies, preparing for a future reality in the
medium to long term.
This dissertation seeks to analyze some of the existing tools as regards of Building Information
Modeling and Collaborative Platforms, applying them to the current reality of the contract formation,
within the context of a procedure in order to perform a public contract. In this sense, it was analyzed
the potential of the existing software applications of Revit, Archicad and VICO Software families,
carrying out activities currently performed by the Contractor, related to quantities take-off, detection of
errors and omissions, scheduling, budgeting, construction preparation and supply chain management
and outsourcing. It was also tested the Asite portal in relation to its interoperability with applications for
eCollaboration.
To test the technologies it was used a construction project called "Centro de Saúde Tipo",
corresponding to a fictitious health care center.
3
Abreviaturas e Siglas
2D Representação bidimensional
3D Representação tridimensional
AATAE Associação dos Agentes Técnicos de Arquitectura e Engenharia
ACEPE Associação Industrial do Poliestireno Expandido
AECOPS Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas
AGC Associated General Contractors
AIA American Institute of Architects
AIA CC American Institute of Architects California Council
AICCOPN Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas
AICE Associação dos Industriais da Construção de Edifícios
ANEMM Associação Nacional das Empresas Metalurgicas e Metalomecânicas
ANEOP Associação Nacional de Empreiteiros de Obras Públicas
ANET Associação Nacional dos Engenheiros Técnicos
ANIPC Associação Nacional dos Industriais de Produtos de Cimento
APAE Associação Portuguesa dos Avaliadores de Engenharia
APCMC Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção
APEB Associação Portuguesa das Empresas de Betão Pronto
APFAC Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas de Construção
APFTV Associação Portuguesa dos Fabricantes de Tintas e Vernizes
API Application Programming Interface
APIEE Associação Portuguesa de Industriais de Engenharia Energética
APIRAC Assocação Portuguesa da Indústria de Refrigeração e Ar Condicionado
APORBET Associação Portuguesa de Fabricantes de Misturas Betuminosas
APPC Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores
ASSICOM Associação da Industria e da Construção da Madeira
ASTM American Society for Testing and Materials
B2B Business-to-Business
BCIS Building Cost Information Service
BIM Building Information Modeling
CAD Computer Aided Design
CCP Código dos Contratos Públicos
EN European Norm
HTML HyperText Markup Language
IAI International Alliance for Interoperability
IDM Information Delivery Manual
IFC Industry Foundation Classes
IFD International Framework for Dictionaries
INCI Instituto da Construção e do Imobiliário
IPD Integrated Project Delivery
ISO International Organization for Standardization
ISP Internet Service Provider
LBS Location Breakdown Structure
LOD Level Of Detail
MDB Microsoft Access Database
MPS Model Progression Specification
NP Norma Portuguesa
OE Ordem dos Engenheiros
ODBC Open Data Base Connectivity
PDF Portable Document Format
ProNIC Protocolo para a Normalização da Informação Técnica na Construção
RSS Really Simple Sindication
SDK Software Development Kit
SQL Structured Query Language
STEP Standard for the Exchange of Product model data
XML Extensible Markup Language
WBS Work Breakdown Structure
4
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................10
2. DESENVOLVIMENTO DO EMPREENDIMENTO...........................................................12
2.1. FASES DE DESENVOLVIMENTO DO EMPREENDIMENTO ..................................................................... 12
2.2. INTERVENIENTES NO DESENVOLVIMENTO DO EMPREENDIMENTO ..................................................... 13
2.3. DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DO EMPREENDIMENTO .................................................................. 15
6. EXPERIMENTAÇÃO ......................................................................................................47
6.1. ERROS E OMISSÕES DAS PEÇAS DO PROCEDIMENTO ...................................................................... 47
6.1.1. TRÂMITES DOS ERROS E OMISSÕES DAS PEÇAS DE PROCEDIMENTO ............................................ 47
6.1.2. VISUALIZAÇÃO 3D E PROCESSOS AUTOMÁTICOS DE VERIFICAÇÃO ................................................ 48
6.1.3. LISTAGENS DE ERROS E OMISSÕES ............................................................................................. 52
6.1.4. CONFRONTAÇÃO COM AS CONDIÇÕES DO LOCAL DE EXECUÇÃO ................................................... 54
6.2. MEDIÇÕES AUTOMÁTICAS .............................................................................................................. 56
5
6.2.1. CRITÉRIOS DE MEDIÇÃO ............................................................................................................. 56
6.2.2. MEDIÇÃO AUTOMÁTICA ATRAVÉS DE APLICAÇÕES DA VICO SOFTWARE ......................................... 58
6.3. ORÇAMENTAÇÃO........................................................................................................................... 63
6.3.1. ORÇAMENTO E ESTRUTURA DE CUSTOS ...................................................................................... 63
6.3.2. ORÇAMENTAÇÃO ATRAVÉS DE APLICAÇÕES DA VICO SOFTWARE ................................................. 64
6.4. CALENDARIZAÇÃO......................................................................................................................... 67
6.4.1. CALENDARIZAÇÃO ATRAVÉS DE APLICAÇÕES DA VICO SOFTWARE ................................................ 67
6.5. PREPARAÇÃO DA EMPREITADA ...................................................................................................... 69
6.5.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ........................................................................................................... 69
6.5.2. PLANO DE ESTALEIRO ................................................................................................................. 69
6.5.3. PLANO DE COFRAGEM E BETONAGEM .......................................................................................... 72
6.5.4. VERIFICAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS DO MODO DE EXECUÇÃO DOS TRABALHOS .............................. 73
6.6. CADEIA DE FORNECIMENTOS E SUBCONTRATAÇÃO ........................................................................ 76
6.6.1. ANÁLISE DA CADEIA TRADICIONAL ............................................................................................... 76
6.6.2. BIM SUPPLY CHAIN MANAGEMENT .............................................................................................. 78
6.6.2.1. Catálogos electrónicos.......................................................................................................... 79
6.6.2.2. Controlo de Execução........................................................................................................... 83
6.6.2.3. Racionalização dos Processos de Decisão .......................................................................... 83
6.7. INTEROPERACIONALIDADE COM A PLATAFORMA ASITE.................................................................. 85
6.7.1. EXPORTAÇÃO DO MODELO EM BIM ............................................................................................. 85
6.7.2. PLATAFORMA ASITE .................................................................................................................... 90
7. CONCLUSÕES ...............................................................................................................95
8. BIBLIOGRAFIA ..............................................................................................................98
6
ÍNDICE DE QUADROS
ÍNDICE DE FIGURAS
7
Figura 15 - Processo de colaboração em contrato Concepção-Concurso-Construção (Autodesk,
2010b) ................................................................................................................................ 39
Figura 16 - Revit Arch. 2010 - Vista geral do modelo (“renderizado”) ................................................. 40
Figura 17 - Revit Arch. 2010 – Terreno do Centro de Saúde Tipo ...................................................... 40
Figura 18 - Revit Arch. 2010 – Estrutura do Centro de Saúde Tipo .................................................... 41
Figura 19 - Revit Arch. 2010 – Estrutura do Centro de Saúde Tipo .................................................... 41
Figura 20 - Exemplo da estrutura de um Plano de Conteúdo (VICO, 2008a) ..................................... 42
Figura 21 - ArchiCAD 13 – Janela de abertura de itens de biblioteca ................................................. 43
Figura 22 - ArchiCAD 13 – Janela de exportação de objectos da biblioteca....................................... 43
Figura 23 - Revit Arch. 2010 – Janela de abrir família........................................................................ 44
Figura 24 - Revit Arch. 2010 – Janela de edição da família ............................................................... 44
Figura 25 - Revit Arch. 2010 - Imagem do modelo sobreposta com imagem de planta em DWG (azul)
........................................................................................................................................... 45
Figura 26 - Navisworks – Vista geral do modelo do Centro de Saúde Tipo ........................................ 49
Figura 27 - Navisworks – Verificação de interferências entre o terreno escavado e as sapatas ........ 50
Figura 28 - Navisworks – Resultado da verificação do tipo hard clash entre pilares e portas ............ 51
Figura 29 - Navisworks – Verificação da falta de ligação de um pilar à fundação............................... 51
Figura 30 - Navisworks – Pesquisa de portas num caminho de evacuação com a propriedade C.F. 52
Figura 31 - Navisworks – Relatório de interferências .......................................................................... 53
Figura 32 - Revit Arch. 2010 - Fichas de identificação dos erros e omissões ..................................... 53
Figura 33 - Acrobat – Listagem de erros e omissões .......................................................................... 54
Figura 34 - Sketchup – Implantação do modelo com as referências do Google Earth ....................... 55
Figura 35 - Google Earth – Verificação das interferências no local..................................................... 55
Figura 36 - Capa do livro de Regras de Medição na Construção (Fonseca, 2006) ............................ 57
Figura 37 - Estrutura de dados da Receita .......................................................................................... 58
Figura 38 - Esquema da Receita do elemento pilar (VICO, 2008a) .................................................... 59
Figura 39 - Estimator – Janela de definição da estrutura de classificação das Receitas.................... 59
Figura 40 - Estimator – Janela de associação das propriedades das Receitas .................................. 61
Figura 41 - Estimator – Janela de associação das propriedades dos Métodos .................................. 62
Figura 42 - Constructor – Janela de associação das Receitas aos objectos ...................................... 62
Figura 43 - Constructor – Medição automática da movimentação de terras ....................................... 63
Figura 44 - Estimator – Janela de gestão da base de dados dos Recursos ....................................... 65
Figura 45 - Estimator – Janela de gestão da base de dados dos Métodos......................................... 65
Figura 46 - Estimator – Janela de gestão da base de dados das Receitas......................................... 66
Figura 47 - Estimator - Lista de Preços Unitários ................................................................................ 66
Figura 48 - Constructor – Criação da WBS.......................................................................................... 67
Figura 49 - Control – Janela do Diagrama de Gantt ............................................................................ 68
Figura 50 - Control – Janela do Flowline View..................................................................................... 68
Figura 51 - Constructor – Estaleiro do Centro de Saúde Tipo ............................................................. 71
Figura 52 - Constructor – Estaleiro de argamassas do Centro de Saúde Tipo ................................... 71
8
Figura 53 - Planta do Estaleiro do Centro de Saúde Tipo ................................................................... 72
Figura 54 - Constructor – Modelo da cofragem de uma laje................................................................ 72
Figura 55 - Constructor – Simulação da betonagem de pilares........................................................... 73
Figura 56 - Navisworks – Simulação 4D da execução do empreendimento ....................................... 74
Figura 57 - Navisworks – Identificação da interferência entre o edifício e o estaleiro......................... 74
Figura 58 - 5D Presenter – Silumação 4D ........................................................................................... 75
Figura 59 - Comparação da produtividade da construção com industrias não agrícolas.................... 77
Figura 60 - Ciclo de Vida dos Objectos Inteligentes (CAT-E, 2010).................................................... 80
Figura 61 - Catálogo Autodesk Seek ................................................................................................... 81
Figura 62 - Estrutura do Catálogo ArchiCAD Talk ............................................................................... 82
Figura 63 - Estrutura arborescente ...................................................................................................... 84
Figura 64 - ArchiCAD - Janelas de opções e gestão de propriedades dos objectos do modelo IFC.. 86
Figura 65 - Revit Arch. 2010 – Janelas de gestão de propriedades IFC (exportação e importação,
respectivamente................................................................................................................. 87
Figura 66 - 1º Exemplo – ArchiCAD 13 – Modelo simplificado exportado para IFC............................ 87
Figura 67 - 1º Exemplo - Revit Arch. 2010 – Falha na interpretação da topografia do terreno........... 88
Figura 68 - 1º Exemplo - DDS CAD Viewer – Centro de Saúde Tipo com a topografia...................... 88
Figura 69 - 2º Exemplo – Revit Arch. 2010 - Modelo original exportado para IFC ............................. 88
Figura 70 - 2º Exemplo – ArchiCAD 13 – Importação IFC considera terreno como objecto ............... 89
Figura 71 - 2º Exemplo – DDS CAD Viewer - Centro de Saúde Tipo com a topografia...................... 89
Figura 72 - DDS CAD Viewer – Propridades ifcElementQuantity da laje do piso 1 ............................ 90
Figura 73 - Interoperacionalidade da plataforma Asite (2010)............................................................. 91
Figura 74 - Integração das ferramentas da plataforma Asite (2010) ................................................... 92
Figura 75 - Asite 3D Viewer – Vista geral do Centro de Saúde Tipo................................................... 93
9
1. Introdução
A presente dissertação tem como objectivo identificar oportunidades para a utilização de ferramentas
da geração Building Information Modeling (BIM) e plataformas colaborativas para o estabelecimento
de metodologias interdisciplinares e interactivas de realização de empreendimentos.
Pretendeu-se em primeiro lugar analisar o potencial das ferramentas informáticas da geração BIM,
quando utilizadas pelo concorrente a uma empreitada pública. Este interveniente inicia as suas
acções na fase de Concurso, com a preparação da proposta, a partir da recepção do projecto de
execução através das plataformas de concursos públicos, nos formatos digitais que forem
disponibilizados pela Entidade Adjudicante.
Para o efeito foi modelado em BIM um empreendimento denominado “Centro de Saúde Tipo”, com os
seguintes elementos:
1. O terreno de implantação, escavação geral, topografia, arranjos exteriores, arruamentos;
2. A estrutura do edifício, incluído fundações, muros da cave, lajes, pilares, vigas, escadas;
3. As paredes exteriores e interiores, incluindo vãos, portas e janelas;
4. Coberturas e acabamentos de terraços.
10
1. Estaleiro de apoio, incluindo, vedações, portaria, equipamentos sociais e equipamentos
principais de apoio à obra;
2. Cofragens de pilares e de lajes em betão armado;
3. Estaleiro de fabrico de armaduras;
4. Estaleiros de fabrico de argamassas;
5. Operação de betonagem;
6. Zonas de armazenamento de materiais de construção.
No final foi também analisada a potencialidade da plataforma colaborativa Asite, no que se refere à
interacção com as ferramentas BIM avaliadas.
O presente documento encontra-se dividido em mais seis capítulos, cuja breve descrição se
apresenta seguidamente.
11
2. Desenvolvimento do Empreendimento
12
Figura 1 - Ciclo integrado de desenvolvimento do empreendimento (adaptado de Costa, 2010)
O Project Management Institute (PMI) alarga o âmbito desta definição, através do conceito de partes
interessadas (“stakeholders”). Por partes interessadas define quaisquer indivíduos ou organizações
que sofram influência devido ao desenvolvimento do empreendimento e possam ter impacto no seu
sucesso (PMBOK, 2008). Nestes termos, a identificação dos intervenientes e partes interessadas
trata-se de um processo específico de cada projecto. Na normalização relacionada com a qualidade,
13
nomeadamente, na NP EN ISO 9004, está definido o conceito de partes interessadas de forma
semelhante.
14
Segundo Frederick Gould et al. (2003) este modelo de contratação potencia a falta comunicação
entre os responsáveis da concepção (Projectistas) com a Entidade Executante (Empreiteiro Geral),
estando essa eficiência dependente da interligação do Dono da Obra, que não raramente chega a
ser o único interlocutor entre algumas das partes. Este facto, em conjunto com a existência de
dificuldades na interpretação ou à falta de qualidade (erros e omissões) dos documentos do
projecto ou ao conflito de interesses entre as partes, são algumas das principais causas para a falta
de qualidade da execução do empreendimento.
As curvas referentes ao esforço são obtidas a partir da comparação entre o processo tradicional de
Concepção-Concurso-Construção com o processo IPD. O American Institute of Architects California
Council procedeu à análise dos principais momentos de desenvolvimento do empreendimento,
classificando-os por Quem, O Quê, Como, Realização (“Who, What, How, Realize”), e identificou
15
aqueles em que os principais intervenientes se envolvem no mesmo (AIA CC, 2007). A Figura 5
representa a esquematização da comparação referida.
Pode ainda comparar-se a relação entre as fases da metodologia tradicional e da metodologia IPD,
ficando evidente a economia do prazo e custo de desenvolvimento do empreendimento que se
consegue atingir com a segunda metodologia.
16
A metodologia tradicional caracteriza-se por cada fase de desenvolvimento do empreendimento
possuir uma relação de fim-início e desfasamento nulo com a fase sucessora. Relativamente ao IPD,
as relações entre as fases continuam a ser do tipo fim-início, mas admite-se que não é necessário a
conclusão de todas as componentes do projecto para que se inicie a fase seguinte, o que permite a
existência da sobreposição entre fases, permitindo um ganho de tempo e valor no desenvolvimento
do empreendimento (ver Figura 6).
Deste modo, percebe-se que os princípios da metodologia IPD têm alguma aplicabilidade às
metodologias de contratação de Concepção-Construção ou das Concessões, definida no CCP,
contudo, ultrapassando a metodologia de contratação de Concepção-Concurso-Construção, devido à
rigidez dos trâmites desta última, por imposição legal do procedimento para a realização do contrato.
Contudo, com o desenvolvimento da tecnologia BIM, prevê-se que a integração dos processos e o
envolvimento dos intervenientes, incluindo a Entidade Executante nas fases de concepção do
empreendimento, venha, no futuro, a tomar uma posição de relevo na metodologia de contratação.
17
3. Desenvolvimento de Plataformas Colaborativas
O ano de 1999 marca o início em Portugal dos grandes grupos de telecomunicações e de media na
Internet. Na mesma altura, surgem os primeiros portais especializados no sector da Engenharia Civil,
podendo destacar-se o Econstroi.com, especializado na divulgação de um directório de empresas do
sector e em eProcurement, a Construlink, especializada na divulgação de informação, sistemas e
produtos para a construção (eCatalogue) e na divulgação de um directório de empresas do sector, e
o Portal da Construção, especializado na divulgação de informação, sistemas e produtos para a
construção e na divulgação de um directório de empresas do sector.
As associações profissionais relacionadas com o sector da Engenharia Civil têm também criado as
suas plataformas, essencialmente vocacionadas para a divulgação de informação relacionada com o
sector, destacando-se, as associações de industriais de construção (AECOPS, AICCOPN, AICE,
ANEMM, ANEOP, ASSICOM, APIRAC, APIEE), associações de fabricantes (APFAC, APORBET,
APCMC, ANIPC, ACEPE, APEB, APFTV), e as associações profissionais (OE, ANET, AATAE, APAE,
APPC).
18
Estas plataformas tecnológicas não assumem funções de ferramentas tecnológicas, mas antes,
constituem foruns de discussão no domínio técnico-científico em que se propõem (INCI, 2010). Neste
âmbito, identificam-se, título exemplificativo, a Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção, a
Plataforma para a Construção Sustentável e a Plataforma Tecnológica da Água e Saneamento.
Estas plataformas fornecem igualmente uma infra-estrutura que facilita a comunicação e colaboração
entre os vários intervenientes, num ambiente de trabalho, com vista a atingir objectivos comuns. Os
serviços centrais das plataformas colaborativas são o correio electrónico (email, calendarização,
contactos), colaboração em equipa (partilha de ficheiros, ideias, notas, wiki, gestão de tarefas e
pesquisa de texto), colaboração e comunicação em tempo real (presença, mensagem instantânea,
conferência Web, partilha de aplicativos e desktop, conferência de áudio e vídeo) e ferramentas de
computação social (blog, wiki, tagging, RSS, partilha de marcas) (Wikipédia, 2010).
Este tipo de plataformas cria um novo conceito de interacção via Internet dentro do tipo B2B
designado por eCollaboration. No sector da Engenharia Civil, internacionalmente, identificam-se
alguns portais desta natureza, a título de exemplo, a BuildOnline, 4Projetcs, BIW, Aconex e Asite.
19
O CCP continua a possibilitar os modelos tradicionais para o estabelecimento de contratos de
desenvolvimento de empreendimentos, nomeadamente, Concepção-Construção, e Concepção-
Concurso-Construção, trazendo algumas novidades no âmbito de novos modelos associados,
sobretudo, a contratos de concessão, estando relacionados com técnicas especiais de financiamento,
designadamente, project finance, acquisition finance e asset finance. Contudo, é de prever que a
metodologia de Concepção-Concurso-Construção continue a ser a predominante no âmbito da
contratação pública no futuro próximo.
Neste âmbito, actualmente encontram-se certificadas pelo Centro de Gestão da Rede Informática do
Governo oito plataformas de contratação pública: acinGov, anoGov, comprasgov.forumb2b.com,
Plataforma de Compras Públicas, Infosistemas DL – Compra AP, Tradeforum, bizGov e VortalGov
(Base, 2010).
De modo genérico, estas plataformas são o suporte de gestão dos procedimentos para a formação
dos contratos públicos, desde a fase do Anúncio até à Contratação da Execução. Através das
mesmas, a Entidade Adjudicante disponibiliza os documentos respectivos a cada procedimento, que
podem ser obtidos pelos interessados, e recebe as propostas dos candidatos para a execução das
empreitadas. Outras importantes funcionalidades correspondem à gestão cronológica de todo o
processo, à gestão de esclarecimentos, à gestão dos erros e omissões identificados em fase de
concurso e à notificação oficial dos interessados dos resultados das várias comunicações ou das
fases do processo.
20
referidas constituem essencialmente infra-estruturas de gestão de documentos, dado que a
visualização e edição dos documentos é realizada off-line.
21
4. Building Information Modeling (BIM)
O Building Information Modeling (BIM) corresponde a uma tecnologia emergente que se propõe
revolucionar o modo de projectar e desenvolver os empreendimentos.
Segundo Charles Eastman (1999), “BIM is a digital representation of the building process to facilitate
exchange and interoperability of information in digital format”. Esta representação digital do
empreendimento é composta por um conjunto de objectos que o constituem, de modo geral, em
representação tridimensional (3D), aos quais se agrega um conjunto de informação em base de
dados, sendo designados por “objectos inteligentes” (Hardin, 2009), integrados num único ficheiro
fonte.
Têm surgido novos léxicos, promovidos pela indústria de software, à medida que mais informação é
integrada nos modelos: “modelação 4D”, que geralmente se designa “modelação 3D +
calendarização” ou “5D”, que geralmente se designa “4D + custo”. Contudo, existe no âmbito de um
empreendimento muito mais informação que importa agregar e que consta geralmente de
documentos que acompanham a sua execução ou a sua utilização, nomeadamente, nas Cláusulas
Técnicas dos Cadernos de Encargos, nas Fichas Técnicas dos materiais e produtos, nos Relatórios
de Ensaios, nos certificados, nas garantias, nas fotografias recolhidas, nos Manuais de Instruções e
22
em muitos outros documentos. Assim, segundo Dana K. Smith et al. (2009), o desafio do BIM
corresponde em criar um compêndio de toda essa informação, que seja em algum momento
necessária durante o ciclo de vida do empreendimento, sendo muito mais útil estar a visualizar um
modelo “nD”.
Deste modo, o BIM propõe-se como uma ferramenta de substituição das tradicionais ferramentas
CAD em 2D. O Quadro I resume as principais diferenças entre os dois métodos de desenvolvimento
do empreendimento (AGC, 2008). Segundo a AGC (2008) trata-se de uma oportunidade que ao nível
das Entidades Executantes importa não descurar.
As oportunidades das ferramentas BIM encontram-se, mesmo que realizando a conversão a partir
das representações em 2D, com os recursos próprios da Entidade Executante (“in-house”). Esta
conversão significa o “desenvolvimento do modelo” abrindo os desenhos 2D no software 3D e
desenhando o modelo de forma sobreposta sobre os primeiros (AGC, 2008).
23
execução, na documentação das telas finais, na calendarização dos trabalho, na sequencialização
das operações, na coordenação de operações e no treino e comunicação com os intervenientes
(AGC, 2008).
Para a implementação destas tecnologias, segundo Dana K. Smith et al. (2009), o primeiro passo
corresponde à avaliação crítica das principais competências da organização e dos objectivos do
negócio, seguindo-se o desenvolvimento da estratégia de selecção da tecnologia apropriada de modo
a substituir os tradicionais processos de produção e mecanismos de tomada de decisão, associados
a actividades e serviços de baixo valor acrescentado, em direcção a actividades e serviços de alto
valor acrescentado.
A chave para a utilização das tecnologias BIM em aumentar o lucro da organização, não se foca no
aumento das margens sobre os produtos realizados, mas antes centra-se na redução dos ciclos de
tempo do trabalho e no incremento do valor do produto criado. Isto implica uma mudança de
percepção das Entidades Executantes dos seus serviços baseadas no custo de produção para o
valor da produção (Dana et al., 2009).
No caso da Autodesk, da Graphisoft e da VICO Software, três empresas cujas aplicações têm tido
grande implementação em Portugal, foi possível aceder às aplicações com licenças educativas, com
uma validade limitada, mas com as funcionalidades completas. Durante a presente dissertação serão
apresentadas e analisadas algumas das funcionalidades de vários softwares pertencentes a estas
três famílias.
Realça-se ainda que, associados aos principais softwares, existe um número significativo de
empresas que desenvolvem componentes (“add-ons”), que estendem as potencialidades dos
mesmos, ou facilitam a troca de informação com outros softwares do âmbito da Engenharia Civil,
como por exemplo, com o Microsoft Project, frequentemente utilizado no planeamento.
24
Empresa Software Utilização
Arktec Tricalc Modelação de Estruturas
Gest Gestão de Obra
Autodesk Revit Architecture Modelação de Arquitectura
Revit Structure Modelação de Estruturas
Revit MEP Modelação de Redes Técnicas
Navisworks Verificação e Simulação
Bentley Architecture Modelação de Arquitectura
Building Electrical Systems Modelação de Sistemas eléctricos
Building Mechanical Systems Modelação de Sistemas mecânicos
Facilities Gestão do Edifício
Structural Modeler Modelação de Estruturas
Graphisoft ArchiCad Modelação de Arquitectura
MEP Modeler Modelação de Redes técnicas
EcoDesigner Análise de Desempenho Energético
ArchiFM Gestão do Edifício
Nemetschek VectorWorks Modelação de Arquitectura
Allplan Modelação de Arquitectura
Solibri Solibri Model Checker Verificação
Tekla Tekla Structures Modelação de Estruturas
Vico Software Constructor Modelação
Estimator Orçamentação
Control Calendarização
Cost Manager Controlo de Custos
5D Presenter Simulação
Existe ainda a possibilidade de cada utilizador desenvolver as suas próprias componentes. No caso
da Autodesk, distribui com as suas versões Revit um Kit de Desenvolvimento de Software (SDK),
permitindo criar rotinas ou programar em Visual Basic ou em C++. Também foi possível obter de
forma gratuita da Graphisoft o respectivo Application Programming Interface (API), que funciona com
a linguagem C++, para o desenvolvimento de novas componentes.
Refere-se ainda o caso das aplicações da VICO Software, onde se identificou que o software base do
Constructor 2008 corresponde à versão 11 do ArchiCAD. O mesmo contém extensões e
funcionalidades associadas à gestão da construção, que não se encontram no software original. Mas
relativamente às funcionalidades de modelação verificou-se que são, de modo geral, as mesmas.
4.3. Interoperacionalidade
25
que não existe nenhum agente que necessite de toda a informação necessária disponível sobre o
mesmo, para se proceder a uma intervenção sobre o mesmo é frequentemente necessário analisar
várias especialidades e vários componentes.
Contudo, na actual situação do sector da Engenharia Civil, cada interveniente possui ferramentas
digitais próprias com as quais cria a sua informação, procurando estabelecer com cada um dos
intervenientes com quem se relaciona e a partilha o necessário acordo relativamente aos formatos
dos ficheiros que são disponibilizados. De modo geral, os formatos definidos pelos agentes que
intervêm mais a montante no ciclo de vida do empreendimento, acabam por ser os predominantes.
O quadro seguinte apresenta alguns formatos mais correntes de troca de informação gráfica das
aplicações informáticas utilizadas no sector da Engenharia Civil (Eastman et al., 2008):
Formatos de Imagem
JPG, GIF, TIF, BMP, PIC, PNG, RAW, TGA, Formatos raster variando em termos de compactação,
Formatos 2D Vectoriais
DXF, DWG, AI, CGM, EMF, IGS, WMF, DGN Formatos vectorizados variando em termos de
compactação, espessura de linhas e controlo de
padrão, cores, camadas e tipo de curvas suportadas
Formatos 3D de forma e superfície
3DS, WRL, STL, IGS, SAT, DXF, DWG, OBJ, Formatos 3D de forma e superfície variam de acordo
DGN, PDF (3D), XGL, DWF, U3D, IPT, PTS com os tipos de superfícies e fronteiras representadas,
em função de representarem superfícies e/ou sólidos,
qualquer propriedades de materiais das formas (cor,
bipmap de imagem, mapa de textura) ou informação
de ponto de visualização.
Formatos SIG
O conceito da interoperacionalidade faz parte integrante do conceito BIM, procurando mudar a visão
tradicional do fluxo de trabalho de “1 x n”, em que cada um dos interlocutores se relaciona com “n”
intervenientes, para a visão do fluxo de trabalho de “n x 1”, em que cada um dos “n” interlocutores
incorpora um conjunto de informação num único modelo partilhado (ver Figura 7).
Pode assim compreender-se que o fenómeno “nD” é já parte integrante do conceito BIM e não algo
que o ultrapassa. Traduz-se como correspondendo à completa interoperacionalidade de todos os
intervenientes no desenvolvimento do empreendimento, criando apenas um único acordo de formatos
de entrega da informação digital à qual todos ficam vinculados.
26
Figura 7 - BIM – Visão da interoperacionalidade
Existem basicamente quatro maneiras diferentes de trocar dados entre dois aplicativos BIM (Eastman
et al., 2008): ligação directa, formato de arquivo de troca de proprietário, formatos de arquivo de
domínio público e formatos de troca baseados em XML. O primeiro acontece quando ocorre uma
ligação directa de aplicativos, utilizando um formato binário de interface (exemplo: GDL, MDL). O
formato de arquivo de troca proprietário são formatos desenvolvidos por organizações comerciais
para estabelecerem interface entre artigos diferentes (exemplos: DXF, 3DS). Os formatos de arquivos
de trocas de domínio público envolvem um padrão aberto de modelo de construção. Estes carregam
propriedades de objectos, materiais, relações entre objectos, além das propriedades geométricas.
São interfaces essenciais para o uso de aplicativos de análise e gestão da construção (exemplos:
IFC, CIS/2). Os formatos de troca baseados em eXtensible Markup Language (XLM) são extensões
do formato HTML, que é a língua base da Web. (Andrade et al., 2009). Permitem a criação de
esquemas definidos pelo utilizador (exemplos: gbXML).
27
Em que IFC representa Industry Foundation Classes, IFD representa International Framework for
Dictionaries e IDM representa Information Delivery Manual. Esta definição também tem também
servido de referência para as empresas de desenvolvimento de software da geração BIM criarem as
tecnologias de interoperacionalidade entre os vários aplicativos da sua família. Estas empresas têm
procurado desenvolver as suas próprias componentes de interoperacionalidade, de modo geral,
baseados na lógica de ligação directa de ficheiros.
Com vista a potenciar esta interoperacionalidade, em 1994 foi criado um protocolo designado Industry
Foundation Classes (IFC). Este formato tem sido promovido pela buildingSMART - International
Alliance of Interoperability (2010a) e encontra-se em processo de se tornar a norma internacional
ISO/IS 16739.
Trata-se de um formato digital orientado para objectos associado a um conteúdo de dados, que se
propõe facilitar a interoperacionalidade na industria da construção, nomeadamente, para utilizar em
BIM. A figura seguinte apresenta a evolução das várias versões publicadas desde a sua origem até
2010 (IAI, 2010b).
Pode verificar-se que a maior parte dos softwares referidos estão habilitados a criarem, com algumas
excepções, e a editarem modelos em formato IFC.
28
Software Versão Empresa 1º Passo 2ºPasso Comentário
Allplan 2006.2, 2008 Nemetschek Jun 06 Mar 07
ArchiCAD 11 Graphisoft / Nemetschek Jun 06 Mar 07
Bentley Architecture 8.9.3 Bentley Jun 06 Mar 07
Revit Architecture 6.4 Autodesk Jun 06 Mar 07
TEKLA Structures 13.0 TEKLA Jun 06 Mar 07 Sem 2D
Active3D v4.0 Archimen Jun 06 Mar 07 Apenas importação
Solibri Model Checker Solibri Jun 06 Mar 07 Apenas importação, sem 2D
AutoCAD Architecture 2008 Autodesk Nov 07 Mar 07
House Partner 6.4 DDS Mar 07 Mar 07
MagiCAD Progman Mar 07 Mai 07
Facility Online Vizelia Mai 07 Mar 07
SCIA-ESAPT SCIA / Nemetschek Mai 07
VectorWorks Nemetschek NA Mai 07
IFC3DX NorConsult Mai 07 Apenas importação
Outra componente que está a ser promovida pela buildingSMART corresponde ao International
Framework for Dictionaries (IFD). O IFD pretende ser a biblioteca internacional de referência para
suporte da interoperacionalidade na industria da construção civil, permitindo a ligação entre o modelo
e diversas bases de dados com a informação do projecto e dos produtos da construção (IAI, 2010d).
Esta componente permitirá aos fabricantes de produtos para a construção, divulgar os seus produtos,
com a necessária informação para integrar no modelo de um empreendimento em BIM, cabendo aos
restantes intervenientes a selecção ou comparação dos mesmos, em função dos objectivos que se
pretendem atingir.
Enquanto a norma IFC descreve os objectos, a forma como eles estão conectados e a forma como a
informação deve ser trocada e armazenada, a norma IFD descreve unicamente o que são os objectos,
quais as suas componentes, propriedades, unidades e valores que possuem. O IFD disponibiliza o
dicionário, a definição de conceitos, que permite a comunicação necessária dentro do BIM (IAI,
2010d).
29
garantir que os softwares sejam capazes de identificar a informação recebida, percebendo
exactamente o que o texto significa. Assim, o IFD descreve a semântica que permite aos softwares
realizarem a referida interpretação.
A buildingSMART desenvolveu ainda outra nova componente associada ao BIM com o objectivo de
suportar a descrição e apresentação da informação requerida para o projecto, construção e operação
do empreendimento, a que designou Information Delivery Manual (IDM). O IDM pretende facilitar a
relação entre os softwares e o desenvolvimento do empreendimento através da definição dos seus
processos de criação (workflows), detalhando as especificações de como a informação deve ser
integrada no modelo, identificando os respectivos intervenientes responsáveis por essa acção, em
cada momento da sua fase de desenvolvimento. O IDM pretende ainda identificar a criação de um
conjunto de funções associadas ao modelo que poderão ser utilizadas durante o desenvolvimento ou,
posteriormente, pelos utilizadores do empreendimento (IAI, 2010e).
Associada à metodologia IDM, foi recentemente publicada a norma internacional ISO 29481-1:2010 -
Building information modeling - Information delivery manual - Part 1: Methodology and format. Estão
em desenvolvimento as segunda e a terceira parte desta norma internacional, relacionadas com a
“gestão da comunicação” e com as “definições de visualização do modelo”, respectivamente. A
buildingSMART divulga toda a informação relacionada com o estado de desenvolvimento desta
componente no sítio da Internet: www.iai.no/idm.
30
4.3.4. Interoperacionalidade nos Softwares Autodesk
A empresa Autodesk, comercializa uma ferramenta informática Buzzsaw que permite a sincronização
em rede e através da Internet de toda a informação relacionada com um projecto, sem a interrupção
do trabalho. O mesmo software permite a centralização de modelos para futura análise e a gestão de
permissões, relativamente ao acesso ou edição dos ficheiros (Autodesk, 2010a).
Também é possível encontrar na Internet uma quantidade significativa de objectos para a utilização
no Revit. Estes objectos constituem ficheiros de extensão RFA, que podem ser geridos e arquivados
normalmente através da estrutura de ficheiros do sistema operativo ou através de bibliotecas
centralizadas ou sincronizadas. Seguidamente apresenta-se uma lista não exaustiva de endereços da
Internet de onde podem ser encontrados objectos para a biblioteca do Revit:
- http://www.revitobjects.com
- http://www.revitcity.com
- http://www.arcat.com
- http://smartbim.reedconstructiondata.com
- http://seek.autodesk.com/
O Revit Architecture permite a criação de origem ou a edição dos objectos inteligentes já existentes, a
utilizar no modelo do empreendimento. A cada tipo de objecto, a que se designa “família”, podem ser
associados os parâmetros de dados que se pretenderem (ver Figura 10).
31
Assim, está aberta a disponibilidade para, de uma forma semelhante ao IFD, poder ser definido e
agregado ao objecto um conjunto parâmetros de informação necessários para a sua caracterização,
quando utilizado em projecto. Presentemente já existem componentes desenvolvidas e
comercializadas com a função que permite fazer a gestão das propriedades agregadas aos objectos,
como são os exemplos do RvtMgdDbg e do RevitLookup. Estas extensões utilizam drivers que
permitem a comunicação com bases de dados em formato MDB ou ODBC. Dado que o software
possui a componente de programação, já referida, também é possível a utilizadores-programadores
desenvolverem as suas ferramentas de interoperacionalidade dentro do conceito que se definiu.
Pode, igualmente, encontrar-se na Internet uma quantidade significativa de objectos para utilização
na modelação, identificando-se igualmente aqueles que são disponibilizados por fornecedores de
produtos de construção e outros disponibilizados livremente por utilizadores. Estes objectos são
disponibilizados em ficheiros de formato GSM e podem, também, ser geridos através da estrutura de
ficheiros do sistema operativo ou através de bibliotecas centralizadas ou sincronizadas.
Seguidamente, apresenta-se uma lista não exaustiva de endereços da Internet onde podem ser
obtidos os referidos objectos:
- http://archicad-talk.graphisoft.com/object_depository.php
- http://www.archicadwiki.com/LinkCollection/GDL%20Object%20Downloads
32
Como já se referiu, o ArchiCAD 13 possui um API que permite o desenvolvimento de novos
componentes. Igualmente possui o driver ODBC, para comunicação com bases de dados.
A VICO Software (2008) descreve este procedimento como sendo iterativo, entre as várias fases de
desenvolvimento do empreendimento. A figura seguinte esquematiza de forma simplificada o referido,
decompondo-o em três fases:
33
Figura 13 - Representação esquemática do processo iterativo de desenvolvimento do empreendimento (VICO, 2008a)
Cada uma das aplicações foi desenvolvida de forma a dar resposta às necessidades de cada fase de
desenvolvimento do empreendimento, bem como aos passos do procedimento de construção virtual
apresentados, complementando-se entre si. A figura seguinte representa a visão completa do
Processo de Construção Virtual:
Cada um dos passos referidos do procedimento pode ser relacionado com os momentos relevantes
da intervenção de uma Entidade Executante, no âmbito da candidatura a uma empreitada pública. As
aplicações em questão mostram-se adequadas para a criação de diversos documentos utilizados na
relação entre a Entidade Executante e o Dono da Obra, nomeadamente: a apresentação da proposta,
os controlo de custos, o planeamento, o controlo de prazos e preparação da empreitada.
Para efeitos internos da Entidade Executante, também se identificam diversas utilidades para estas
aplicações, nomeadamente: a reorçamentação, controlo de fornecimentos, controlo de sequência das
actividades e desempenho financeiro do desenvolvimento da empreitada.
34
5. Desenvolvimento do Modelo
a) Programa Preliminar
b) Programa Base
c) Estudo Prévio
d) Anteprojecto
e) Projecto de Execução
f) Assistência Técnica
Realça-se o facto do conceito de “Telas Finais” encontrar-se também definido na Portaria, estando a
sua elaboração integrada na Assistência Técnica, nos termos da alínea c) do nº 3 do Artº 9º.
35
5.1.1. Metodologia do American Institute of Architects (AIA)
Os Quadros V e VI, seguintes, apresentam a descrição do nível de detalhe associado a cada LOD:
36
Quadro 6. - Nível de Detalhe – Exemplo (AIA CC, 2008a)
A AIA divulga abertamente a sua especificação sobre a progressão do modelo (“Model Progression
Specification” – MPS) em www.ipd-ca.net (AIA CC, 2008a). A análise comparativa da mesma com a
taxionomia da Portaria permite uma associação com as fases do projecto. Seguidamente, apresenta-
se a equivalência que se deduz dessa análise:
LOD
Fase do Projecto 100 200 300 400 500
Programa Preliminar
Programa Base
Estudo Prévio
Anteprojecto
Projecto de Execução
Assistência Técnica
Também no LOD 400 pode considerar-se existirem elementos que não constam geralmente no
Projecto de Execução. A título de exemplo referem-se o plano de cofragens, os esquemas de
fabricação de caixilhos, carpintarias, cantarias ou serralharias. Este trabalho é geralmente
37
desenvolvido pelo Empreiteiro Geral ou pelos subempreiteiros posteriormente contratados, na fase de
execução.
Outro aspecto importante a realçar é que a diferença entre as duas taxionomias corresponde ao facto
da Portaria focar principalmente os modelos de contratação Concepção-Concurso-Construção ou
Concepção-Construção e a AIA, por outro lado, definir os níveis LOD associados ao conceito de
contratação designado por Desenvolvimento do Projecto Integrado (“Integrated Project Delivery” –
IPD).
No entanto, entende-se que a metodologia proposta pela AIA não é rígida, sendo por isso adaptável à
taxionomia da Portaria. Caberá aos responsáveis pela gestão de cada empreendimento definir os
limites, as responsabilidades e as intervenções de cada actor do processo.
Neste guia estão previstos os três principais tipos de métodos de contratação: IPD, Concepção-
Construção e Concepção-Concurso-Construção. Na Figura 15 apresenta-se o processo de
colaboração proposto para o método de contratação Concepção-Concurso-Construção.
Relativamente ao nível de detalhe, o referido formulário define os quatro seguintes níveis (Autodesk,
2010b):
L1 – O modelo incluí as formas básicas que representam aproximadamente o tamanho, a
forma e a orientação dos objectos.
38
Figura 15 - Processo de colaboração em contrato Concepção-Concurso-Construção (Autodesk, 2010b)
O formulário prevê ainda a existência de um modelo de telas-finais (“as-built model”), que deve ser
criado na fase de encerramento do empreendimento. Assim, entende-se que esta definição de nível
de detalhe é em todo semelhante à apresentada pela AIA.
39
Figura 16 - Revit Arch. 2010 - Vista geral do modelo (“renderizado”)
Em cada um dos softwares indicados foi feito o detalhe do Modelo que se considerou adequado com
vista à realização dos ensaios nos restantes softwares da família experimentados. Relativamente aos
componentes integrados no Modelo, o seu nível de detalhe desenvolvido variou entre o LOD 200 e o
LOD 400. Neste Modelo não foram introduzidas as redes técnicas do edifício. De forma resumida
apresentam seguidamente as partes constituintes do modelo.
40
Na modelação do edifício pode distinguir-se a topografia do terreno, incluindo as infraestruturas
rodoviárias, passeios e lagos artificiais e bacias de retenção (ver Figura 17).
Foram também modeladas as paredes exteriores, as paredes interiores, portas interiores, vãos de
fachada, fachadas envidraçadas, equipamentos de elevadores, pavimentos, entre outros. Estes
elementos correspondem a composições de vários materiais, definidos através das bibliotecas de
objectos (ver Figura 19).
41
5.3. Desenvolvimento do Modelo a partir das Peças do Procedimento
Cada software é acompanhado de uma biblioteca de objectos significativamente variada. Como já foi
referido, também existem disponíveis na Internet um significativo número de objectos, tanto
disponibilizados por fabricantes como por outros utilizadores das mesmas ferramentas.
Contudo, a selecção dos objectos a partir das peças do procedimento está condicionada às
características dos mesmos definidas no Caderno de Encargos e nos Mapas de Quantidades de
Trabalho. Nesta fase de desenvolvimento das ferramentas, identificou-se o facto de muitos dos
produtos da construção a serem utilizados no empreendimento ainda não estarem disponíveis como
objectos digitais.
A VICO Software (2008) propõe que o início da modelação seja realizado através a preparação do
Plano de Conteúdo (“Content Plan”). Nesta fase do empreendimento, o facto das características dos
materiais de construção estarem já definidos permite, com maior facilidade, a definição e selecção
dos materiais e equipamentos digitais. No entanto, requer um esforço inicial importante, desde o
estudo e análise do Caderno de Encargos, identificação dos objectos, pesquisa de objectos digitais
existentes (na biblioteca própria ou on-line) e a criação de objectos não modelados.
ArchiCAD
1. O ArchiCAD não identifica o objecto como item de biblioteca em formato IFC.
42
Figura 21 - ArchiCAD 13 – Janela de abertura de itens de biblioteca
REVIT
1. Na opção de abrir itens de família, não reconhece ficheiros em formato IFC.
43
Figura 23 - Revit Arch. 2010 – Janela de abrir família
3. Não se conseguiu criar uma família de objectos em formato RFA a partir do objecto IFC.
44
disponibilizam peças desenhadas mas que não se encontrou a disponibilidade da funcionalidade
corresponde ao formato PDF.
Figura 25 - Revit Arch. 2010 - Imagem do modelo sobreposta com imagem de planta em DWG (azul)
A funcionalidade, quando utilizada com formatos vectorizados, demonstrou ser bastante facilitadora
do trabalho de modelação, dado que os softwares reconhecem individualmente as linhas dos
desenhos, possibilitando a função de snap (que identificam os seus pontos finais, intersecções,
pontos médios, etc.), servindo de referência para a introdução dos novos objectos. Igualmente,
permite uma permanente comparação entre os elementos adicionados ao modelo com os desenhos
originais.
2. Os critérios para a definição dos objectos e do modelo podem também ser influenciados
pelas soluções descritas nos pormenores do projecto de execução, cláusulas técnicas do
caderno de encargos, mapa de quantidades de trabalho ou outras peças escritas.
45
4. A modelação pode também ser influenciada por questões relativas aos objectivos a que se
destina o modelo, nomeadamente medições, orçamentação, calendarização,
interoperacionalidade com terceiros, detecção de erros e omissões, etc, devendo haver uma
percepção das funcionalidades dos programas complementares a serem utilizados.
46
6. Experimentação
O Código dos Contratos Públicos define, em vários artigos, o prazo mínimo para a apresentação de
pedidos de esclarecimentos, em função do tipo de procedimento seleccionado pela Entidade
Adjudicante. No âmbito da presente dissertação ter-se-á em consideração os prazos mínimos para a
apresentação das propostas dos concursos públicos, onde se distinguem duas situações, função do
montante do Valor do Contrato, que obriga ou não a publicidade internacional do mesmo:
Realça-se o facto deste prazos serem contados de forma contínua, nos termos do nº 3 do Art. 470º
do CCP.
No âmbito dos erros e omissões, estes podem ser apresentados até “ao termo do quinto sexto do
prazo fixado para a apresentação das propostas”, nos termos do nº 1 do Art. 61º do CCP. Este
mesmo artigo identifica o tipo de situações que podem constituir erros e omissões, nomeadamente:
Desde a publicação do CCP, a Entidade Executante está sujeita a um novo conceito de partilha de
risco relativamente à identificação de erros e omissões em fase de concurso. Nos termos do nº 3 do
Art. 378º, “o empreiteiro é responsável pelos trabalhos de suprimento de erros e omissões cuja
detecção era exigível na fase de formação do contrato”.
Apenas ficam excluídos os erros e omissões que “hajam sido identificados pelos concorrentes na fase
de formação do contrato mas que não tenham sido expressamente aceites pelo Dono da Obra”, nos
termos do nº 3 do Art. 378º, e “os erros e omissões que os interessados, actuando com diligência
objectivamente exigível em face das circunstâncias concretas, apenas pudessem detectar na fase de
execução do contrato” , nos termos do nº 2 do Art. 61º do CCP.
47
Neste sentido, entende-se que o modelo desenvolvido a partir das peças do procedimento, nos
prazos referidos, deve possuir da forma mais completa possível as seguintes características:
Tendo em consideração a limitação dos prazos indicados para a apresentação de erros e omissões, a
Entidade Executante deve a definir a estratégia, as prioridades e o níveis detalhe de informação
relativamente a cada um dos aspectos referidos, referente a cada fase intermédia da formação
contrato. Esta estratégia será dependente do tipo de empreendimento em questão, pelo que deve ser
estabelecida caso a caso.
As ferramentas BIM trazem um conjunto importante de vantagens, respectivamente a cada uma das
alíneas referidas no CCP, que seguidamente se apresentam:
48
Nas tradicionais ferramentas CAD, a análise é frequentemente efectuada através da sobreposição
das camadas (“layers”) do projecto das diversas especialidades. A criação de um modelo 3D e a
respectiva possibilidade de visualização, através das ferramentas BIM, incluído o tradicional
representação em 2D, alarga a potencialidade de detecção de erros e omissões das interacções
entre os vários elementos do projecto.
Ressalva-se o facto de, apesar das potencialidades das ferramentas, a percepção do erro depender
sempre da intervenção do modelador, dos critérios de modelação e dos procedimentos que possam
ser criados para a análise visual. A título de exemplo, identifica-se a confrontação e verificação do
modelo com as originais peças desenhadas que acompanham o projecto de execução, que é um
trabalho que acompanha o desenvolvimento do modelo desde o início.
49
desenvolver os seus procedimentos de verificação de modo a conseguir facilmente interpretar os
resultados obtidos. Brad Hardin (2009) recomenda ainda que, no âmbito de uma equipa de projecto,
seja criada uma matriz de responsabilidades de detecção de interferências. Num projecto de maior
dimensão, em que a Entidade Executante possa envolver entidades exteriores também se considera
esta recomendação desejável.
Uma opção que se mostrou eficiente foi a de individualizar partes do modelo em diversos ficheiros de
formato NWC: terreno, sapatas, vigas, colunas, lajes, paredes exteriores, paredes interiores, portas,
janelas, estrutura, arquitectura. Este método, também se mostrou adequado para a integração das
várias especialidades do Projecto de Execução.
O Navisworks faz a agregação das várias partes do modelo e produz os resultados gravando num
ficheiro de formato NWF. Identificadas as interferências, deve voltar-se ao modelo para fazer as
correcções, bastando posteriormente substituir o ficheiro correspondente em formato NWC das partes
que foram alteradas. Apesar das mudanças de ficheiro, o Navisworks vai reconhecendo as
correcções que foram feitas.
Existem três opções principais referentes ao tipo de interacção espacial que os objectos podem ter:
hard clash, clearence clash e duplicates. A opção hard clash identifica a intercepção de dois
componentes 3D. A opção clearance clash identifica os objectos que se encontram integrados
noutros. A opção duplicates identifica objectos que estejam duplicados (Hardin, 2009).
50
Figura 28 - Navisworks – Resultado da verificação do tipo hard clash entre pilares e portas
A utilização das funcionalidades do software de search set e selection set alargam ainda mais as
potencialidades da verificação de interacção entre elementos. Neste caso, podem ser criados filtros
relacionados com as características e propriedades dos objectos. O software permite identificar quais
os objectos com a propriedade de um determinado valor e através do search set, criar um grupo de
selecção, através do selection set, e utilizar esse grupo para verificar a interferência com outros
grupos.
51
da criação no modelo de um objecto do tipo “Massa”. Na figura seguinte consegue identificar-se que a
verificação efectuada distinguiu a porta com a propriedade incorrecta (a vermelho) da porta com a
propriedade correcta (a verde):
Figura 30 - Navisworks – Pesquisa de portas num caminho de evacuação com a propriedade C.F.
Com vista à criação das listagens de erros e omissões, conforme referido no nº 1 do Art. 61º do CCP,
os softwares testados, apresentam, essencialmente, a potencialidade de enriquecer essas mesmas
com informação gráfica mais detalhada.
52
Figura 31 - Navisworks – Relatório de interferências
O formato PDF tem ainda a possibilidade, através do software Adobe Acrobat Professional, de
acrescentar anotações (“markup”), correspondendo a setas, formas, caixas de texto, entre outros, que
evidenciem e descrevam os respectivos erros e omissões. A cada anotação criada é possível
adicionar um comentário e criar automaticamente a respectiva listagem.
53
Figura 33 - Acrobat – Listagem de erros e omissões
O ficheiro criado pode acompanhar, como anexo, a notificação realizada pela Entidade Executante ao
Adjudicante, e ser enviada através das plataformas de gestão de procedimentos.
Uma das tarefas mais relevantes no início da preparação da proposta corresponde à recolha de
informação relativa ao local de execução do empreendimento. Alguns aspectos relevantes a conhecer
sobre esse local, que podem ajudar a identificar aspectos ou dados que se revelem desconformes
com a realidade, são apresentados seguidamente:
54
A confrontação com as condições do local foi testada através da importação da forma do modelo para
o Google Earth. Deve ter-se em consideração que a fotografia aérea disponibilizada pelo Google
Earth pode possuir um significativo atraso relativamente ao momento da realização do
empreendimento.
O ensaio começou pela exportação do modelo a partir do Revit para o formato DWG. Seguidamente,
através do Sketchup (software de edição de imagem 3D de distribuição gratuita), procedeu-se à
importação do modelo em DWG e à implantação sobre a imagem do local fictício para a localização
da obra, referenciada no Google Earth (ver Figura 34).
55
identificação de condicionantes a confirmar durante essa visita. As visualizações e os resultados das
interferências, obtidas em 3D, são de grande utilidade para enriquecer de informação as notificações
de erros e omissões, enviadas através da plataforma.
“Cláusula 26.ª
...
3 — A realização das medições obedece aos seguintes critérios [indicar, se for caso disso, métodos e
critérios a adoptar para realização das medições].
[Ou, em alternativa] Os métodos e os critérios a adoptar para a realização das medições
respeitam a seguinte ordem de prioridades [indicar outros critérios, se for o caso]:
a) As normas oficiais de medição que porventura se encontrem em vigor;
b) As normas definidas no projecto de execução
c) As normas definidas pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil;
d) Os critérios geralmente utilizados ou, na falta deles, os que forem acordados entre o dono
da obra e o empreiteiro.”
Relativamente à alínea b), cabe ao projectista definir quais os critérios de medição a fixar. Da
experiência no sector da Engenharia Civil, não são raras as situações em que o projectista não define
quaisquer critérios. Contudo, na prática, identifica-se que muitos projectistas procuram resolver a
situação referenciando como critério de medição o Curso sobre Regras de Medição na Construção
(Fonseca, 2006). A figura seguinte apresenta a capa da 14ª Edição da referida publicação:
56
Figura 36 - Capa do livro de Regras de Medição na Construção (Fonseca, 2006)
Assim, a alínea d) acaba por referenciar a cultura do sector da Engenharia Civil ao referir “critérios
geralmente utilizados”, ou, na sua ausência, os que forem acordados entre o Dono da Obra e o
empreiteiro. Este caso permite o surgimento de uma significativa heterogeneidade de critérios
acordados entre os vários intervenientes.
Estes sistemas de classificação, de modo geral, caracterizam-se por definir uma estrutura de
classificação e decomposição de um empreendimento até ao nível dos trabalhos de construção civil,
em condições de serem quantificados, através de medições, e identificados os recursos necessários
e respectivos rendimentos de execução e determinados os custos de produção.
57
6.2.2. Medição automática através de aplicações da VICO Software
As bases de dados SOLID correspondem a uma estrutura de base de dados criada pela Solid
Information Technology. Este tipo de tecnologia permite a consulta de informação de forma acelerada
comparativamente com as bases de dados tradicionais utilizadas em discos rígidos. Utiliza a
linguagem familiar SQL, comum em vários tipos de bases de dados informáticas.
A estrutura da base de dados do Estimator é composta por três níveis: Receitas (“Recipe”), Método
Construtivo (“Method”), Recursos (“Resource”) (VICO, 2008a):
58
Figura 38 - Esquema da Receita do elemento pilar (VICO, 2008a)
Por defeito, o Estimator disponibiliza a estrutura de base de dados associada à classificação da BCIS.
Contudo, em Portugal não existe uma estrutura de classificação oficial, sendo apenas do
conhecimento de alguns casos de empreitadas que estão a utilizar o ProNIC. Assim, a maior parte
das empreitadas tem tido uma estrutura de classificação que foi definida pelo projectista,
identificando-se no sector da Engenharia Civil, uma significativa diversidade de estruturas entre obras
diferentes.
Verificou-se no Estimator existir a possibilidade de cada Entidade Executante poder gerir e definir a
classificação de recursos, métodos construtivos e natureza de trabalhos em função das metodologias
internas da empresa, e também adaptando-se à estrutura que for definida nas Peças do
Procedimento.
59
Relativamente aos critérios de medição, a VICO Software disponibiliza um manual (Vico, 2008b) onde
se podem identificar, para cada tipo de objecto, quais as propriedades disponíveis para o cálculo
automático das medições. As tabelas seguintes identificam algumas propriedades para a
determinação de grandezas genéricas, áreas de cofragens, volumes de betão, áreas e volumes de
paredes e revestimentos, quantidades de vãos e volumes de movimentos de terras:
Quadro 8. - Propriedades dos objectos para a medição de grandezas genéricas e de cofragens (VICO, 2008b)
Quadro 9. - Propriedades dos objectos para a medição de volume de betão (VICO, 2008b)
60
Quadro 10. - Propriedades dos objectos para a medição de alvenarias, revestimentos, área de vãos e volumes de
movimentos de terras (VICO, 2008b)
Assim, para cada Receita criada através do Estimator devem ser definidas as propriedades
relevantes para a respectiva medição (ver figura 40):
61
Figura 41 - Estimator – Janela de associação das propriedades dos Métodos
Concluída a associação das Receitas aos objectos ficam disponíveis as respectivas quantidades já
determinadas. Renovando-se a sincronização com o Estimator, as quantidades determinadas ficam
disponíveis nesse software para efeitos de orçamentação. A imagem seguinte apresenta a janela do
Constructor em que se apresentam as quantidades calculadas para a movimentação de terras:
62
Figura 43 - Constructor – Medição automática da movimentação de terras
6.3. Orçamentação
De modo resumido, na apresentação de uma proposta para a execução de uma empreita, cabe à
Entidade Executante elaborar o orçamento em função dos custos necessários para a sua realização.
Deste modo, envolve a recolha da informação disponível e pertinente relacionada com a finalidade do
projecto, consumo esperado de recursos e alterações futuras no custo destes recursos (Reis, 2005).
No caso da celebração do contrato se efectivar, o Orçamento corresponderá a uma peça fundamental
do mesmo com vista à gestão da produção e da facturação.
Uma estrutura de custos é processo de dividir os diversos encargos que a empresa de construção
civil tem de modo a facilitar a elaboração do respectivo orçamento (Faria, 1987).
63
De modo geral, a Entidade Executante deve ter em consideração para a elaboração da sua proposta
os seguintes aspectos:
VVenda = CD + CI + CNI + MC
O Preço Unitário (Pu) de cada actividade tem relação com o Valor de Venda através das seguintes
expressões:
VVenda = CD x (1 + k)
Pu = CDu x (1 + k)
em que CDu representa o Custo Directo Unitário de cada trabalho e k o coeficiente a multiplicar pelo
Custo Directo Unitário de cada trabalho para o Preço Unitário ter em consideração todos os restantes
encargos.
A título de exemplo apresenta-se o caso dos pilares da estrutura, onde é corrente identificar nos
mapas referidos artigos distintos para os trabalhos de cofragem, de armaduras e de betonagem.
Através do Estimator é perfeitamente possível distinguir estes preços individualmente. Contudo,
verificou-se que a interligação do software ao modelo no Constructor é mais adequada à criação de
preços compostos para os objectos pilares, onde já estão incluídos os três componentes.
64
Assim, através das bases de dados de Recursos, Métodos e Receitas consegue-se determinar os
Custos Directos dos objectos.
Na base de dados de Métodos faz-se a composição dos Recursos necessários para realização de
cada um, tendo a possibilidade de identificar rendimentos, factores de desperdício, relação entre as
unidades de medida (1 m2 de parede necessita de 17 tijolos de 30x20x11), custos auxiliares não
identificados como recursos, entre outros.
Na base de dados de Receitas faz-se a composição dos Métodos necessários para a realização de
cada uma, tendo a possibilidade de identificar factores de desperdício e relação entre unidades, entre
outros aspectos.
65
Figura 46 - Estimator – Janela de gestão da base de dados das Receitas
A definição dos restantes Custos Indirectos, Custos Não Industriais e Margem de Contribuição é
efectuada a através da definição de valores monetários ou percentagens sobre os Custos Directos. O
software permite ainda incluir o Imposto Sobre Valor Acrecentado (“Value-Added Tax” – VAT).
Posteriormente, a aplicação permite a emissão de vários tipos de relatórios e exportação da
informação para ficheiros em formato XLS, nomeadamente, listagem de preços secos, listagem de
composição de preços e listagem de preços unitários.
Os documentos extraídos através do software são úteis tanto para utilização interna da Entidade
Executante, como para incluírem na proposta a apresentar à Entidade Adjudicante.
66
6.4. Calendarização
O primeiro passo corresponde à criação da Work Breakdown Structure (WBS) que é efectuado no
Constructor, através do WBS Manager. A cada pacote de trabalho são seguidamente associadas as
respectivas medições, devendo ser realizada previamente a sincronização com o Estimator.
O Control permite uma outra forma de representação da calendarização, a que se designa “Flowline
View” (ver Figura 50). Esta representação baseia-se na decomposição das actividades na designada
“Location Breakdown Structure”, relacionando as actividades de construção com o local onde estas
são desenvolvidas. A título de exemplo, apresenta-se na figura seguinte a decomposição efectuada
por cada piso do edifício. A escala vertical representa a localização, enquanto a escala horizontal
67
representa o tempo. As actividades são representadas pelas linhas do gráfico tendo em consideração
a sua duração.
68
para ter em conta “as actividades simultâneas ou incompatíveis que decorram no estaleiro ou na sua
proximidade”.
O trabalho desenvolvido para o efeito da preparação da empreitada deve ter os seguintes objectivos:
Tal como na criação do modelo, também as diversas fases de desenvolvimento da empreitada podem
ser modeladas em 3D, através da introdução dos respectivos objectos de construção. Também da
mesma forma que foi feita a verificação do modelo, pode agora ser feita a verificação de
interferências tendo em consideração a sequência da execução dos trabalhos, uma vez que o modelo
já possui associada a informação da calendarização.
a) Vedações
b) Portaria
c) Escritório
d) Dormitório
e) Instalações sanitárias
f) Refeitório
g) Armazéns de materiais
69
h) Ferramentaria
i) Estaleiro de preparação de armaduras
j) Estaleiro de preparação de cofragens
k) Estaleiro de preparação de argamassas e betões
l) Equipamentos de apoio fixo
m) Parque de estacionamentos móveis
n) Parques de materiais
o) Redes provisórias de água, esgotos e electricidade
p) Recolha de lixos
q) Circulações internas
r) Outros equipamentos
70
Verificado o espaço de implantação e escolhidos os equipamentos, pode ser começada a modelação
do Plano de Estaleiro, em representação 3D, através da introdução de objectos que representem
esses equipamentos. Neste sentido, identificou-se na biblioteca do VICO Constructor a existência de
uma gama muito variada de objectos relacionados com a empreitada, entre outros, gruas, camiões,
autobetoneiras, betoneiras, autobomba, contentores de escritório, contentores de casas de banho e
vedações.
Assim, para além dos fabricantes dos produtos da construção, também se identifica interesse em que
os fabricantes de máquinas e equipamentos de estaleiro desenvolvam os seus “objectos inteligentes”
(ver Figura 51).
Tal como num projecto real, todas as peças e pormenores do estaleiro podem ser convertidos a 2D
(ver Figura 53):
71
Figura 53 - Planta do Estaleiro do Centro de Saúde Tipo
72
Na pesquisa efectuada, não se encontraram extensões de software, nem para o Revit nem para o
ArchiCAD, relativas ao dimensionamento das cofragens. Os fabricantes de equipamentos de
cofragem têm aberta a possibilidade de desenvolverem “objectos inteligentes” e componentes BIM de
verificação estrutural dos respectivos elementos, para as acções que forem definidas através do
modelo de cada edifício.
Como resultado deste trabalho podem ser extraídos do modelo medições e peças desenhadas que
dêem resposta às necessidades da obra e dos respectivos responsáveis das equipas. Pode
igualmente ser feita a verificação de interferências dos planos com o empreendimento em execução.
O Navisworks potencia este tipo de detecção, ao associar aos elementos do modelo um Timeliner.
Este Timeliner corresponde uma tabela de actividades de construção, as quais estão associados aos
elementos do modelo e estão definidas as datas relativamente ao início e à conclusão das mesmas.
Esta informação pode ser criada directamente no software ou estar associado a um ficheiro externo
em formato do Microsoft Project, Primavera Project Management ou uma tabela em formato CSV.
73
Pode-se em primeiro lugar realizar uma simulação 4D, correspondente à visualização da evolução do
empreendimento.
74
Figura 58 - 5D Presenter – Silumação 4D
Brad Hardin (2009) apresenta o caso de sucesso da utilização destas ferramentas, recentemente,
durante a renovação da Oakland Bay Brigde – São Francisco. Esta ponte possui um tráfego diário de
cerca de 300.000 veículos. Neste âmbito, foi criado um modelo 4D no Autodesk Navisworks,
correspondente à ligação das componentes do modelo 3D com a calendarização elaborada no
software da família Primavera. Este modelo possibilitou as seguintes vantagens:
75
6.6. Cadeia de Fornecimentos e Subcontratação
76
Na óptica da Entidade Executante pretende-se seleccionar e executar os respectivos elementos de
construção de forma a que cumpram os requisitos do Projecto de Execução e do Caderno de
Encargos e garantir o preço mais económico, o fornecimento atempado e a garantia legal ou
acordada com o Dono da Obra.
Para efeitos de subcontratação, de modo geral, o Empreiteiro Geral realiza consultas a entidades
habilitadas para os trabalhos em questão, podendo este acto realizar-se ainda em fase de concurso
ou já na fase de realização do empreendimento. Para o efeito, a Entidade Executante decompõe o
Projecto de Execução e o Caderno de Encargos nas parcelas correspondentes às subempreitadas a
contratar, servindo de base para a apresentação das propostas das entidades consultadas, bem
como, para o posterior contrato a celebrar. A selecção dos subempreiteiros a utilizar na obra assenta
principalmente no factor preço, sendo também influenciada por factores de garantia de qualidade e
cumprimento de prazos de execução.
Esta metodologia tem-se mantido ao longo dos últimos anos e não tem trazido benefícios de
produtividade para o sector da construção, essencialmente por falta de comunicação e de
colaboração entre os intervenientes (Hardin, 2009).
77
Acrescenta-se ainda que as metodologias da construção actualmente realizadas podem caracterizar-
se por possuir muitas actividades que (Eastman, 2008):
78
para conseguir a optimização do valor acrescentado dos processos e reduzir o número de actividades
sem valor acrescentado.
O conceito de produção LEAN baseia-se nos princípios do trabalho em equipa, comunicação, uso
eficiente dos recursos, eliminação dos desperdícios e melhoria contínua. Segundo Koskela et al.
(2002), existem onze princípios heurísticos para o projecto e melhoria do processo, que têm servido
de base à Construção Civil, denominado por LEAN Construction:
No âmbito do BIM Supply Chain Mangement identificam-se três áreas que importa destacar:
79
• Ferramenta de Marketing tecnologicamente avançada
• Facilidade de utilização e de aprendizagem
• Suporta a maior parte de formatos CAD
• Integra-se no modelo segundo a lógica de objecto virtual (“drag and drop”)
• Inclui especificações dos fabricantes
• Publicação rápida das actualizações
• Poupança de catálogos em papel
• Catálogo de soluções e serviços
• Poupança de tempo e de custo
A Figura 60 apresenta o ciclo de vida do objecto virtual, podendo identificar-se as matérias com que
cada componente se relaciona com o ciclo de vida do empreendimento, nomeadamente, a análise e
desenvolvimento das soluções do empreendimento, potenciação das ferramentas BIM, Gestão da
Utilização do Empreendimento e Garantia de Qualidade e Ambiente.
80
• Facilidade na realização de consultas para efeitos de fornecimentos e subempreitadas;
• Potenciação da utilização de ferramentas mais aprofundadas e complexas para o apoio à
tomada de decisão;
• Maior transparência na informação disponibilizada à Fiscalização com vista à aprovação das
soluções propostas;
• Facilidade de comunicação aos restantes intervenientes (Dono da Obra, Projectistas,
Utilizadores, etc.) do impacto das soluções propostas no empreendimento em construção;
Como foi referido, a utilização de catálogos electrónicos revela-se essencialmente apta para a
apresentação de componentes produzidas para stock ou para encomenda. No caso das
componentes projectadas, a solução mais adequada será utilizando as funcionalidades de
interoperacionalidade do modelo BIM, através de um trabalho colaborativo entre o Empreiteiro Geral
e o respectivo fornecedor e subempreiteiro. Chuck Eastman et al. (2008) apresenta o caso de
sucesso de como foram projectados módulos prefabricados de instalações de canalização,
electricidade e AVAC, para posterior instalação em obra. Os módulos foram inicialmente modelados
em BIM, criados protótipos, ensaiados e finalmente aplicados.
81
nos softwares respectivos. Alguns dos catálogos consultados estão ainda integrados com
ferramentas de gestão e sincronização com as bibliotecas dos utilizadores.
O desenvolvimento do International
Framework Dictionaries (IFD) e de catálogos
electrónicos interligados com as ferramentas
de softwares da geração BIM irão alargar as
metodologias de comparação e selecção.
82
6.6.2.2. Controlo de Execução
Brad Hardin (2009) enquadra o processo virtual de construção em BIM com as metodologias do Lean
Production, apresentando as seguintes vantagens:
83
Segundo Tavares et al. (1996) é possível identificar as principais propriedades dos problemas de
decisão, nomeadamente:
Como organização, a Entidade Executante também possui a sua estrutura de valores própria,
implícita na missão, na estratégia e nos objectivos da empresa, e que transmite à sua equipa
envolvida na realização do empreendimento, através dos objectivos que estipula para os
responsáveis da mesma.
Critério
Para cada atributo deve ser definida uma função-valor que quantifique a utilidade que o decisor atribui
ao mesmo. No caso de fenómenos que impliquem aleatoriedade pode ainda associar-se a cada
84
ramo a função probabilística que o caracteriza. O resultado calculado para cada alternativa
relativamente ao critério adoptado será obtido através da agregação dos resultados das funções-valor,
ponderados das relações de importância relativa entre esses valores.
• em primeiro lugar, da identificação mais alargada e detalhada das alternativas possíveis, por
exemplo, através da filtragem de componentes disponibilizados no catálogo electrónico;
• em segundo lugar, da identificação mais detalhada de critérios de avaliação e atributos a
ponderar, associando-os aos parâmetros e propriedades que acompanham os objectos
inteligentes;
• em terceiro lugar, da criação de aplicações com interfaces que permitam facilmente definir as
funções-valor e as ponderações entre os atributos, referentes às metodologias de
comparação multicritério;
• em quarto lugar, da hierarquização das alternativas em função do cálculo automático do valor
respectivo.
Durante o estudo que envolveu a presente dissertação, foram utilizados os seguintes softwares: Revit
Architecture 2010, ArchiCAD 13, Contructor 2008, Estimator 2008, Control 2008, 5D Presenter,
Navisworks Manage 2010, Adobe Acrobat, Sketchup, Google Earth, AutoCAD e DDS CAD Viewer.
85
Relativamente aos softwares de modelação, a transferência do modelo 3D em formato IFC produziu
falhas de integração da informação. Diversos autores e investigadores encontrados, entre outros,
Andrade et al. (2009), Plume et al. (2007), Pazlar et al. (2008) têm analisado o desempenho dos
vários softwares relativamente à interoperacionalidade, identificando as falhas neste formato de
transmissão de informação. No caso do Modelo presente também não foi excepção.
Figura 64 - ArchiCAD - Janelas de opções e gestão de propriedades dos objectos do modelo IFC
2. Na família Autodesk REVIT, por defeito, nem o projecto nem os objectos possuem as
propriedades relativas à estrutura IFC. A Autodesk disponibiliza um template apropriado em
http://revit.autodesk.com/LIBRARY/HTML/, em que estão incluídas as propriedades IFC. Este
template deve ser utilizado para a exportação de modelos criados de origem no Revit, em que
se prevê a necessidade de intercâmbio do modelo em formato IFC, bem como para a
importação de modelos em formato IFC, recebidos de outros membros da equipa.
86
Figura 65 - Revit Arch. 2010 – Janelas de gestão de propriedades IFC (exportação e importação, respectivamente
3. Quando se abre o mesmo modelo IFC, ou seja, o mesmo ficheiro em softwares distintos, os
resultados são também diferentes, o que permite deduzir que a interpretação que cada
software faz do modelo é um factor relevante a controlar.
87
Figura 67 - 1º Exemplo - Revit Arch. 2010 – Falha na interpretação da topografia do terreno
Figura 68 - 1º Exemplo - DDS CAD Viewer – Centro de Saúde Tipo com a topografia
b. No segundo exemplo, a exportação do modelo em IFC foi feita a partir do Revit 2010
e a importação foi feita pelo ArchiCAD 13, interpretando o terreno como um objecto
rígido. Igualmente, o DDS CAD Viewer interpreta a topografia do terreno do modelo.
Figura 69 - 2º Exemplo – Revit Arch. 2010 - Modelo original exportado para IFC
88
Figura 70 - 2º Exemplo – ArchiCAD 13 – Importação IFC considera terreno como objecto
Figura 71 - 2º Exemplo – DDS CAD Viewer - Centro de Saúde Tipo com a topografia
Assim, deduz-se que as falhas da interpretação entre o ArchiCAD 13 e o Revit Architecture 2010
ocorrem quando cada um dos softwares, ao importar o modelo IFC, procura identificar qual o objecto
a que pode associar-se a topografia do terreno, para permitir a sua edição. Dado não ter havido uma
uniformização dos parâmetros IFC na exportação, os softwares interpretam o terreno como objectos
genéricos, provocando as falhas na interpretação da informação.
89
medições nem custos aos objectos do modelo 3D, de modo a que esse modelo fique enriquecido com
essa informação.
Uma forma de testar essa situação foi através da exportação do modelo para formato IFC, tendo-se
verificado a ausência das respectivas propriedades no DDS CAD Viewer. Este aspecto permite
identificar as limitações das funcionalidades BIM das aplicações, faltando ainda incluir componentes
de interoperacionalidade.
A forma que se percebe ser possível para integrar e gerir a informação gerada pelas aplicações,
corresponde à programação adequada de componentes e extensões dos softwares, que permitam
capturar a informação das bases de dados externas SOLID, OCBD ou MDB e agregá-la no modelo
IFC. Diversos autores, nomeadamente, Thomas et al. (1999), Weise et al. (2009), têm analisado os
parâmetros relacionados com a gestão de projectos e comparado as versões IFC que têm sido
disponibilizadas. As aplicações testadas ainda não tiram partido da estrutura IFC disponível para
agregação da informação.
90
Figura 73 - Interoperacionalidade da plataforma Asite (2010)
Para o efeito, a Asite disponibiliza um conjunto de ferramentas integradas que permitem a gestão do
processo relacionado com a realização empreendimento, tendo em conta as suas diversas fases de
desenvolvimento e os respectivos intervenientes. As principais ferramentas que se podem utilizar
neste espaço de trabalho (“workspace”) destinam-se à (Asite, 2010):
A Asite possui ainda outras ferramentas de desenvolvimento (AppBuilder), que permitem adaptar e
alargar as funcionalidades do espaço de trabalho, disponíveis para os utilizadores desenvolverem as
suas componentes apropriadas, ferramentas de eLearning para apoiar na formação dos vários níveis
de utilizadores e intervenientes, ferramentas de relatórios para a verificação das actividades
91
desenvolvidas nos espaços de trabalho, e o Asite Navigator que consiste num aplicativo a instalar nos
computadores dos membros da equipa e que permite gerir a sincronização dos ficheiros partilhados
com a plataforma, identificando as versões em utilização.
Da análise efectuada, verifica-se que a Asite se encontra especialmente vocacionado para o ciclo de
criação do empreendimento. Relativamente à fase de utilização do empreendimento (“Facility
Management”), identificam-se algumas ferramentas também são bastante úteis, nomeadamente, as
de gestão de documentos e informação do empreendimento (Document Manager, Forms Manager).
92
Através da plataforma é ainda possível a visualização de ficheiros em diversos formatos,
nomeadamente, DOC, XLS, PRJ, DWG, DWF, DXS, DGN, PLT, não sendo necessário ao utilizador
possuir os respectivos softwares no seu computador (Asite, 2010).
93
• Finance Manager
• Risk Manager
O envolvimento dos fornecedores e fabricantes pode ser potenciada através do cSIM – Colaborative
Supplier Information Management, que corresponde a um base de dados para troca de informação,
propostas, contratação e controlo de despesas.
Neste âmbito, identificou-se que a plataforma possui forma de trocar objectos inteligentes, em formato
de ficheiro, acompanhada por informação externa aos mesmos, em outros formatos, nomeadamente,
PDF, DOC ou XLS. Actualmente, muita da informação digital correspondente aos produtos da
construção circula nestes formatos, pelo que se torna especialmente útil enquanto os objectos não
forem totalmente “inteligentes”, ou seja, enquanto não agregarem de forma completa os respectivos
dados técnicos. Contudo, as funcionalidades disponibilizadas/desejadas caracterizam-se
essencialmente por se tratar de um espaço de partilha de ficheiros, não correspondendo ainda a um
catálogo electrónico dos objectos inteligentes, como se referiu sobre o IFD.
O NEC Manager constitui uma ferramenta para gerir as notificações entre os intervenientes,
permitindo controlar os prazos de resposta.
O Finance Manager constitui uma aplicação com vista ao controlo de custos de cada contrato,
envolvendo todos os intervenientes que necessitam de colaborar para o controlo dos custos do
empreendimento.
94
7. Conclusões
No presente estudo identificaram-se várias funcionalidades nas ferramentas BIM, disponíveis para
serem utilizadas pelas Entidades Executantes. Focou-se essencialmente o tradicional método de
contratação de Concepção-Concurso-Construção, na respectiva fase de formação do contrato.
Também surgiram dificuldades associadas a versões dos ficheiros, o que identifica que a evolução
dos softwares é relativamente rápida quando comparada com o ciclo de vida do empreendimento.
Neste sentido, identifica-se que a aposta deve ser realizada em formatos normalizados, quando se
pretenda garantir a integridade do modelo BIM para o futuro. Em cada momento do ciclo de vida do
empreendimento, pode considerar-se que não existe nenhum agente que necessite de toda a
informação necessária disponível sobre o mesmo. Contudo, é necessário garantir que um utilizador
no futuro possa utilizar o modelo sem preocupações com a compatibilidade com a versão do software
que esteja a utilizar no momento respectivo. Trata-se de dar a garantia de interoperacionalidade do
modelo no período de vida útil do empreendimento.
Neste sentido, conclui-se que com as aplicações testadas ainda não há a possibilidade de agregar
num único ficheiro a informação geométrica com a informação de dados, conforme o conceito de BIM
referido, sem recorrer à criação de extensões aos softwares.
95
como maior eficiência e eficácia os objectivos e os valores integrados no empreendimento, mas
também os objectivos e os valores da sua própria organização.
Na fase formação do contrato, na criação do modelo a partir das peças do procedimento a partir dos
formatos tradicionais, não se poderá ainda contar com a existência de um IDM. Contudo, não isenta a
criação por parte da Entidade Executante do seu Plano de Conteúdo. Entende-se que a experiência
conseguida obter, a partir da criação de procedimentos próprios será futuramente compensada pela
maior facilidade de adaptação às exigências que surgirem quando a criação dos empreendimentos
utilizando o BIM envolver todo o seu ciclo de vida.
Deste modo, percebe-se que as organizações que pretendam iniciar-se nas ferramentas BIM e nas
plataformas colaborativas, para além dos investimentos em aplicações e formação de técnicos
relativamente à utilização das aplicações, devem possuir a capacidade de desenvolver as suas
próprias componentes de integração, podendo não existir no mercado ainda soluções que integrem
as ferramentas BIM mais adequadas à sua actividade com as actuais aplicações que possuam. Tanto
os softwares como a plataforma testada possuem a mais valia de permitir esse desenvolvimento
individual de extensões.
A utilização destas aplicações ainda passa por desafios de maturidade que importa referir,
nomeadamente, a necessidade de avaliar o desempenho das tecnologias:
96
O conceito das Concessões de Empreendimentos, definido no Código dos Contratos Públicos,
corresponde ao cenário ideal para a utilização destas tecnologias. O âmbito da intervenção da
entidade concessionária engloba o ciclo completo do empreendimento, desde, a concepção,
avaliação e projecto, a contratação da execução e a gestão do empreendimento. Constitui igualmente
o cenário adequado para desenvolver e utilizar os fluxos de trabalho aplicáveis à nova metodologia
de contratação de Desenvolvimento Integrado do Empreendimento. No âmbito das concessões, o
conjunto de intervenientes reúne-se segundo os princípios de parceria e partilha de benefícios
conjuntos. Este ambiente potencia a utilização das tecnologias BIM e Plataformas Colaborativas,
dado que as relações entre parceiros estão assentes na lógica de ganhar/ganhar.
97
8. Bibliografia
AGC - Associated General Contractors of America. (2008). "The Contractors Guide to BIM." Edition 1.
Obtido em 2 de Setembro de 2010, de http://www.agcnebuilders.com/documents/BIMGuide.pdf.
AIA - American Institute of Architects National, et al. (2007 Version 1). "Integrated Project Delivery." A
Guide. Obtido em 1 de Setembro de 2010, de
http://www.aia.org/aiacump/groups/aia/documents/pdf/aiab082423.pdf.
AIA CC - American Institute of Architects California Council. (2007). "Integrated Project Delivery."
Working Definition. Obtido em 1 de Setembro de 2010, de http://www.ipd-
ca.net/images/Integrated%20Project%20Delivery%20Definition.pdf.
AIA CC - American Institute of Architects California Council. (2008a). "Organizing the Development of
a Building Information Model." Obtido em 1 de Setembro de 2010, de
http://www.aecbytes.com/feature/2008/MPSforBIM.html.
AIA CC - American Institute of Architects California Council. (2008b). "Integrated Project Delivery."
Frequently Asked Questions. Obtido em 1 de Setembro de 2010, de http://www.ipd-
ca.net/images/Integrated%20Project%20Delivery%20Definition.pdf.
ANDRADE, MAX LIRA VERAS X. DE, et al. Interoperacionalidade de aplicativos BIM usados na
Arquitectura por meio de formato IFC. Gestão & Tecnologia de Projectos. 2009. ISSN
19811543.
Autodesk. (2010b). "Autodesk BIM Deployment Plan." A Practical Framwork for Implementing BIM.
Obtido em 4 de Setembro de 2010, de
http://usa.autodesk.com/adsk/servlet/item?id=14652957&siteID=123112.
98
COSTA, ANTÓNIO AGUIAR, et al. (2010). PLAGE. Plataforma Electrónica para a Contratação e
Gestão Integrada e Sustentável de Empreendimentos.
DIAS, LUIS M. ALVES. Organização e Gestão de Obras. Lisboa. Secção de Folhas - Associação dos
Estudantes do Instituto Superior Técnico, 1996.
EASTMAN, CHARLES. Building Product Models: Computer Enviroments, Supporting Design ang
Construction. 1999. ISBN 9780849302596.
EASTMAN, CHUCK, et al. BIM Handbook: A Guide to Building Information Modeling for Owner,
Managers, Designers, Engineers, and Contractors. 2008. ISBN 978-0-470-18528-5.
FARIA, JOSÉ MANUEL. Custos e Orçamentos: Cálculos de Preços de Venda. Porto. Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, 1987.
FONSECA, M. SANTOS. Curso sobre Regras de Medição na Construção. 14ª Edição. Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, 2006. ISBN 972-49-1739-9.
FROESE, THOMAS, et al. Industry Foundation Classes for Project Management. ITcon. 1999. ISSN:
1874-4753.
GOULD, FREDERICK E., et al. Construction Project Management. Prentice Hall, 2003. ISBN 0-13-
048054-8.
HARDIN, BRAD. BIM and Construction Management: Proven Tools, Methods, and Workflows. 1st ed.
Indiana. Wiley Publishing Inc., 2009. ISBN 978-0-470-40235-1.
IAI - International Alliance for Interoperability. (2010a). "Model - Industry Foundation Classes (IFC)."
buildingSMART. Obtido em 31 de Agosto de 2010, de http://www.buildingsmart.com/bim.
IAI - International Alliance for Interoperability. (2010b). "Summary of IFC Releases." buildingSMART.
Obtido em 31 de Agosto de 2010, de http://www.iai-tech.org/products/ifc_specification/ifc-
releases/sumary.
IAI - International Alliance for Interoperability. (2010c). "IFC2x3 Certification Results." buildingSMART.
Obtido em 31 de Agosto de 2010, de http://www.iai.hm.edu/how-to-implement-
ifc/certification/ifc2x3-certification-results.
99
IAI - International Alliance for Interoperability. (2010d). "International Framework for Dictionaries
(IFD)." buildingSMART. Obtido em 31 de Agosto de 2010, de
http://www.buildingsmart.com/content/ifd.
IAI - International Alliance for Interoperability. (2010e). "Information Delivery Manual (IDM)."
buildingSMART. Obtido em 31 de Agosto de 2010, de
http://www.buildingsmart.com/content/process.
INCI. (2010). "PTPC - Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção." Obtido em 31 de Agosto
de 2010, de http://www.inci.pt/Portugues/iniciativasprogramas/Paginas/PTPC.aspx
KOSKELA, L., et al. “The Foundations of Lean Construction.” Design and Construction: Building in
Value, R. Best, and G. de Valence, eds., Butterworth-Heinemann, Elsevier, Oxford, UK. 2002
LINDON, DENIS, et al. MERCATOR XXI - Teoria e Prática do Marketing. 2004. ISBN
9789722027441.
NEPAL, M.N., et al. (2008). Deriving Construction Features from a IFC Model. CSCE Annual
Conference. Canadian Society for Civil Engineering. Québec, Canadian Society for Civil
Engineering.
PAZLAR, TOMAZ, et al. Interoperability in Practice: Geometric Data Exchange Using the IFC
Standard. ITcon. 2008. ISSN 1874-4753.
PEREIRA, TELMO, et al. Gestão da Construção: Um guia prático para construir com segurança e
qualidade. Verlag Dashofer, 2003. ISBN 972-98385-9-3.
PLUME, JIM, et al. Collaborative design using a shared IFC building model - Learn from experience.
Automation in Construction. 2006. ISSN: 0926-5805.
PMI. PMBOK: Project Management Body of Knowledge. 4th Edition. PMI - Project Management
Institute, 2008. ISBN 978-1-933890-51-7.
REIS, A. CORREIA. Organização e Gestão de Obras. Lisboa. Edições Técnicas, 2005. ISBN 972-
99731-0-5.
100
SMITH, DANA K., et al. Building Information Modeling: A Strategic Implementation Guide for
Architects, Engineers, Constructors, and Real Estate Asset Managers. 2009. ISBN 978-0-470-
25003-7.
TAVARES, LUIS VALADARES, et al. Investigação Operacional. Amadora. Editora Mcgraw-Hill, 1996.
ISBN 972-8298-08-0
TAVARES, LUÍS VALADARES. A Gestão das Aquisições Públicas: Guia de Aplicação do Código dos
Contratos Públicos. Lisboa. OPET - Observatório de Prospectiva da Engenharia e Tecnologia,
2008. ISBN 978-989-95697-4-4.
VICO Software (2008a). Virtual Construction 2008 User Guide: A Guideline for the Vico Virtual
Construction Process.
VICO Software (2008b). Virtual Construction 2008 User Guide: VC 2008 Properties.
WEISE, M., et al. IFC Support for Model-based Scheduling. CiBW78. 2009.
101