No artigo anterior falei sobre as correntes teóricas que dão sustentação as
práticas de atenção à saúde. Disse que inicialmente elas eram três, a biomédica (ou biológica), a social e a psicológica. Cada uma destas correntes tem um ponto de vista diferente.
A corrente biomédica acredita que todos os problemas de saúde são
prioritariamente problemas do biológico (ou seja, do corpo) não dá muito importância aos aspectos sociais, culturais e psíquicos do adoecimento. Esta foi a corrente que norteou boa parte da atenção à saúde durante o século XX. Foi ela também que determinou a formação dos profissionais de saúde (entre eles os médicos). Os médicos eram formados para serem bons “mecânicos do corpo”, pois a doença era um defeito da máquina (do corpo humano). As faculdades preocupavam-se com a formação técnica de seus alunos, a formação humanística era relegada a segundo plano. Esta corrente teórica possibilitou uma grande evolução tecnológica, jamais vista em toda história da humanidade, mas como era esperado, perdeu muito no aspecto humanístico. Ganhou muito na técnica, mas perdeu muito na arte.
A crença na tecnologia, nos novos medicamentos e tratamentos era tão grande
que chegou-se a acreditar que por volta do ano 2.000 estaríamos no paraíso tecnológico, a natureza estaria totalmente domesticada e a ciência levaria o bem estar à todos, dando cabo das doenças e da pobreza. Hoje, no início da segunda década do século XXI percebemos o quanto estávamos enganados. Comprendemos que muitos de nossos problemas de saúde tem realmente uma dimensão biológica (corporal), mas apresentam também uma dimensão cultural, por exemplo: doenças que afetam os americamos são diferentes das que afetam os japoneses, pois as culturas (alimentação, hábitos, valores etc) são diferentes. A dimensão social também é importante, observa-se que algumas doenças incidem mais em algumas classes sociais do que em outras. Basta um olhar um pouco mais atento diante das dificuldades de nossos pacientes e verificamos que muitos dos problemas tem origem social. Este olhar mais acurado também vai evidenciar a importância da dimensão psiquica (ou psicológica). Qualquer diabético ou hipertenso sabe que o controle emocional é um fator importantíssimo no equilíbrio de sua doença.
A corrente teórica que de acordo com muitos autores deverá sustentar as
práticas de atenção à saúde no século XXI será a abordagem biopsicossocial. Como disse no artigo anterior esta abordagem busca a inclusão e a articulação de diferentes enfoques e disciplinas. No século XXI as práticas de atenção à saúde vão ter como característica a multidisciplinaridade. Ou seja, além do médico outros profissionais estão sendo chamados para atuar neste contexto, como por exemplo: educadores físicos, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos, terapêutas ocupacionais, fisioterapêutas, psicólogos, dentistas, enfermeiros dentre outros. E o papel que caberá a estes profissionais não será mais o de atores coadjuvantes, como era no enfoque biomédico. Mas, os profissionais estarão preparados para esta atuação? Esta é uma das questões que irei abordar nos próximos artigos desta série onde tento contextualizar algumas das inúmeras mudanças que estão ocorrendo no denominado “setor da saúde”.