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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA, SINTAXE E SENTIDO EM TEXTOS

HUMORÍSTICOS

Ângela Marina Bravin dos Santos (orientadora)


Igor Peron Xavier Zimerer
Márcia Freitas Rios
Ricardo Vinícius de Lima Souza
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso do objeto direto anafórico em
textos humorísticos para investigar a relação entre humor e essa categoria sintática, que pode, no
português brasileiro, realizar-se por meio de um clítico acusativo, do pronome lexical, do objeto
direto nulo e por um SN anafórico (cf. DUARTE, 1996; AVERBUG, 2000). Para a pesquisa,
foram analisadas piadas, charges e frases humorísticas, nas quais se destacam particularidades
em relação ao emprego dessas categorias (como incidência, atuação no humor, estrutura
sintática e etc.). O estudo também se volta para o ensino, na medida em que os recursos
linguísticos dos textos aqui abordados revelam certos dados do funcionamento da língua, no que
diz respeito à sintaxe e sentido, que são pertinentes ao trabalho em sala de aula. Por isso, este
artigo propõe a utilização de textos humorísticos como ferramenta aliada ao ensino da sintaxe
no Ensino Médio. Trata-se de uma pesquisa do Grupo ESAELP (Estudos Sociolinguísticos
Aplicados ao Ensino de Língua Portuguesa), da UFRRJ.

PALAVRAS-CHAVE: Variação. Sintaxe. Humor. Ensino

ABSTRACT: This study aims to examine the use of anaphoric direct object in humorous texts
to investigate the relationship between the humor and this syntactic category, which may, in
Brazilian Portuguese, carried out by an accusative clitic, lexical pronoun, null direct object and
by a NP anaphoric (DUARTE, 1996; AVERBUG, 2000). Jokes, cartoons and humorous phrases
were analyzed, which are highlighted particulaties in relation to application of these categories
(such as incidence, performance in the mood, syntactic structure and so on.). The study also
looks into education, to the extent that the linguistic resources of the texts discussed here show
some data from the operation of the language, with regarding syntax and meaning that are
relevant to the work in the classroom. Therefore, this article proposes the use of humorous texts
as a tool combined with the teaching of syntax in highschool. This is a research of the ESAELP
group (Sociolinguistic Studies Applied to the Teaching of Portuguese Language), of the
UFRRJ.

KEYWORDS: Variation. Syntax. Humor. Teaching

1 Introdução

Possenti (2010) mostra que, de certa forma, não há novidades no que se refere ao
texto humorístico. Parece que tudo já foi explorado a não ser pela proposta do autor de
caracterizá-lo como um campo em “que se praticam gêneros numerosos, da comédia à
charge, passando pelas “crônicas” e narrativas, histórias em quadrinhos...”( 2010, p.
175), alcançando até mesmo os tratados, ensaios, a Bíblia e os romances. Neste
trabalho, parte-se da hipótese de que há, ainda, o que investigar no texto humorístico: o
uso do objeto direto anafórico, sobretudo o do objeto nulo, que, pressupõe-se aqui,
consiste num dos fatores a instaurar o humor em charges, piadas e frases. Este artigo
está assim organizado: na seção dois (2), apresenta-se o conceito de humor considerado
na análise, bem como as variantes do objeto direto anafórico. No ponto três (3), discute-
se a relação entre o uso do objeto nulo e a instauração do humor em piadas, charges e
frases, além da aplicabilidade de uma análise linguística com base nessa relação.

2 Humor, variação e objeto direto anafórico

Segundo Possenti (Ciência Hoje, vol. 30, nº. 176), o humor pode revelar uma
coleção de dados impressionantes no que diz respeito ao funcionamento da língua. E vai
além, dizendo que textos humorísticos – especialmente as piadas – podem servir de
suporte empírico para uma teoria mais sofisticada do caráter sistemático da língua. As
ocorrências de objeto direto anafórico levantadas pelo Grupo de Pesquisa ESAELP
revelam que, no tocante à competição entre as variantes (ver seção 2.2), há uma
sistematização do uso do objeto nulo, exemplificado em (4), nos trechos sobre os quais
recai o traço de humor.

2.1 Humor

Toma-se, neste trabalho, a concepção de humor considerada por Possenti (2010,


p.21). Para ele, os traços humorísticos residem em um “fato ou caso que suscite riso” a
partir de um caráter “específico ou não específico deste fenômeno”. O autor, quando
trata das piadas, também destaca que, “as técnicas humorísticas fundamentais consistem
em permitir a descoberta de outro sentido, de preferência inesperado, frequentemente
distante daquele que é expresso em primeiro plano e que, até o desfecho, parece ser o
único possível” (p.61).

2.2 Objeto direto anafórico


O objeto direto anafórico, de acordo com Cyrino, Nunes e Pagotto (2009), é um
tipo de complemento que retoma um antecedente no discurso, podendo realizar-se no
português brasileiro (PB) por meio de quatro variantes1:

1) Clítico Acusativo

[A moça] estava passando muito mal. Tive que levá-la pro hospital.

2) Pronome Lexical

[A moça] estava passando muito mal. Tive que levar ela pro hospital.

3) Sintagma Nominal (SN) anafórico

[A moça] estava passando muito mal. Tive que levar a moça pro hospital.

4) Objeto direto Nulo (categoria vazia)

[A moça] estava passando muito mal. Tive que levar__ pro hospital.

Estudos sociolingüísticos (DUARTE, 1986; CORRÊA, 1992; CYRINO, 1993;


AVERBUG, 2000, entre outros) demonstram que o uso do objeto direto anafórico, no
português brasileiro, é conseqüência de mudanças linguísticas por que passa essa
variedade da língua portuguesa, estando o objeto direto anafórico nulo e o uso do
pronome de 3ª pessoa, (ele(s), ela(s)), considerado pronome lexical, entre as estratégias
de inovação do português do Brasil.

De acordo com Cyrino, Nunes e Pagotto (2009), o objeto nulo, variante em foco
nesta pesquisa, ocorre no PB mais livremente que no português europeu (PE). Duarte
(1986), numa investigação com textos orais de cinco estudantes de 8ª série do Ensino
Fundamental e quarenta e cinco informantes com idade acima de 22 anos, distribuídos
em três níveis de escolaridade (1º, 2º e 3º graus) e três faixas etárias (22-33, 34-45 e 46
em diante), observou a preferência pelo objeto nulo (62,6%), enquanto os sintagmas
nominais (SNs) anafóricos alcançaram a segunda posição na preferência dos falantes

1
O objeto direto anafórico aparece sublinhado; o antecedente, entre colchetes.
(17,1%), os pronomes lexicais (15,4%), a terceira, ficando o emprego da variante
padrão, o clítico acusativo, em última posição (4,9%).

Na próxima seção, será discutido como o objeto direto nulo instaura o humor e
como se pode analisá-lo em trabalhos sobre sintaxe na sala de aula do Ensino Médio.

3 Humor, objeto direto anafórico e ensino de sintaxe

Quando tratamos de humor, sempre pensamos em seu aspecto informal,


descontraído e até mesmo corriqueiro. Por isso, pensar no humor como algo passível de
análise dentro do ambiente escolar gera, inicialmente, certa desconfiança. Mas, como
supracitado, textos humorísticos podem revelar aspectos linguísticos interessantíssimos,
no que tange à compreensão da estrutura da língua. Assim sendo, a análise do objeto
direto em piadas, charges e frases cômicas pode facilitar a análise sintática, porque se
pode contextualizar os fenômenos, relacionando-os às características dos textos.

Vejamos um exemplo de piada:

Uma loira foi em um bar e pediu uma cerveja long neck, mas ela não tinha a mínima
idéia de como se abria aquilo.

- Garçom, por favor! Como se abre isso? – perguntou a loira

- É só torcer! – respondeu ele.

Então a loira colocou a cerveja em cima do balcão, se concentrou e começou a gritar:

- Eô, eô, long neck é o terror! Eô, eô, long neck é o terror!

http://www.humortadela.com.br/piada

Percebe-se que o sentido da piada reside na ambiguidade causada pelo


esvaziamento do objeto direto que completaria o esquema sintático da forma verbal
torcer. Ou seja: sua ausência instaura, no texto, o duplo sentido. Nesse caso, o verbo
torcer assume duas posturas sintáticas: a de verbo transitivo, com sentido de girar, rodar
algo, e a de verbo intransitivo no sentido de incentivar através de torcida. Enquanto o
garçom interpreta torcer como a ação de girar, “desrosquear” algo, porque tem em
mente o objeto direto uma cerveja long neck, a loira interpreta o segundo sentido do
verbo justamente por conta da categoria do objeto nulo.

Veja que, nesse texto, o professor pode explorar os níveis sintático e semântico
da estrutura projetada pelo predicador torcer, enfatizando a possibilidade do jogo
linguístico em torno de suas potencialidades, que só licenciaram o duplo sentido, porque
a realização do objeto direto consiste num fenômeno variável em que a categoria vazia é
permitida, atuando como variante de realizações lexicais explícitas.

Um exemplo de frase humorística:

“ACM toca trombone e viola”

(Folha de S. Paulo, 23/04/01)

Para a compreensão do humor nessa frase, é necessário destacarmos o contexto


político em que foi produzida. ACM (Senador Antônio Carlos Magalhães), no início do
século XXI, mandou violar o painel do Senado Federal. Assim, esse contexto permite a
ambiguidade do enunciado: a palavra viola adquire duas posturas sintáticas, a de objeto
direto do verbo tocar e a de verbo transitivo, no sentido de violar algo. O humor reside
na tomada da segunda postura sintática da palavra, na qual, embora o objeto direto nulo
(posterior ao verbo violar) não retome um temo sintático expresso anteriormente,
retoma o contexto político em que ocorreu a violação do painel.

Um exemplo de charge:
Nessa charge, a categoria nula do objeto direto anafórico também gera
ambiguidade, mas dessa vez, de uma forma diferente. Quando a menina diz não sei,
pelo fato da suspensão do enunciado, o menino subentende que ela talvez não saiba se
também o ama. Assim, o verbo saber aponta para a frase “se isso é recíproco”. No
entanto, o objeto direto nulo retoma somente a palavra recíproco, da qual a menina
desconhece o significado. A partir daí, pode-se explorar o conceito de oração
subordinada substantiva, o sentido das conjunções integrantes, além das estruturas
sintáticas que poderiam realizá-las para desfazer a ambiguidade: “Não sei se é
recíproco” / “Não sei o que é recíproco”.

4 Conclusão

Este artigo procurou mostrar, em charges, piadas e frases, traços do humor que
recaem sobre estruturas da língua, identificando um dos recursos linguísticos de que se
utilizam os textos humorísticos. O trabalho do grupo de pesquisa ESAELP (UFRRJ)
explorou o fenômeno do objeto direto anafórico a partir da hipótese de que,
especificamente, o uso do objeto direto nulo imprime, aos textos analisados, o caráter de
humor, na medida em que consiste num dos recursos empregados para instaurar a
ambiguidade. A análise, ainda que de forma incipiente, revelou a possibilidade de um
estudo sintático, no Ensino Médio, das diferentes realizações do objeto direto anafórico
e sua aplicabilidade em propostas didáticas que relacionem variação, sintaxe e sentido.

Referências

AVERBUG, M. Objeto direto anafórico e sujeito pronominal na escrita de estudantes.


Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, mimeo.

CYRINO, S., NUNES, J., PAGOTTO, E. “Complementação”In: KATO, M. e


NASCIMENTO, do M. Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas,
SP:Editora da Unicamp, 2009.

CORRÊA, V.R. O objeto direto nulo no português do Brasil. Dissertação de Mestrado,


Unicamp, 1992.
CYRINO, S. „Observações sobre a mudança diacrônica no português do Brasil:objeto
nulo e clíticos”. In: ROBERTS, I. e KATO, M.(orgs). Português brasileiro:uma viagem
diacrônica do português brasileiro, Campinas: Editora da Unicamp,1993.

DUARTE, M.E.L. “Clítico acusativo, pronome lexical e categoria vazia no português


do Brasil” In TARALLO, F. (org.). Fotografias Sociolinguísticas. São Paulo: Pontes:
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1989. pp. 37-52.

POSSENTI, Sírio. Humor, língua e discurso. São Paulo: Contexto, 2010.

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