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O art. 291, primeiro deste capítulo, manda aplicar aos crimes cometidos
na direção de veículos automotores nela definidos as normas gerais do Código
Penal, bem como a lei 9.099/951, no que couber.
1
A lei 9.099, de 26/9/95, considera infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções e os
crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois (2) anos, cumulada ou não com multa. Para
essas infrações aplicam-se todas as regras da lei 9.099, correndo os respectivos processos perante os Juizados
Especiais Criminais. Essa lei 9.099/95 consagra, ainda, quatro medidas despenalizadoras: a) extinção da
punibilidade em caso de composição civil quando se tratar de crime de ação penal de iniciativa privada ou
pública condicionada à representação (art. 74, parágrafo único); b) transação penal (art. 76); c) alteração da
ação penal, de pública incondicionada para pública condicionada à representação, nos casos de lesões
corporais culposas ou leves (art. 88); d) suspensão condicional do processo nos crimes cuja pena mínima
não seja superior a um ano (art. 89). As duas primeiras são próprias dos delitos de menor potencial ofensivo
(pena máxima não superior a dois (2) anos). A quarta – suspensão condicional do processo – exige que a pena
mínima cominada não seja superior a um ano.
1
Portanto, além das contravenções penais (independentemente da pena
cominada), eram consideradas infrações penais de menor potencial ofensivo
aquelas cuja pena máxima cominada não superasse a um ano.
Esse parágrafo único do art. 2º da lei 10.259/01, por sua vez teve sua
redação alterada pela lei n. 11.313, que também alterou a redação do art. 61 da
lei 9099/95, mantendo como infração de menor potencial ofensivo aquela cuja
pena máxima cominada não ultrasse dois anos.
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ofensivo: a) as contravenções penais: b) os crimes a que a lei comine pena
máxima não superior a dois anos.
No entanto, o art. 291 passou a ter nova redação com a vigência da lei n.
11.705. Foi abolido o parágrafo único, acrescentando-se os §§ 1º e 2º.
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O § 2º, por sua vez, reza: “Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo,
deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação da infração
penal”.
Desta forma, como regra geral, por disposição expressa da lei, aplica-
se ao delito de lesão corporal culposa no trânsito os arts. 74, 76 e 88 da lei n.
9.099.
4
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam
sobre trilhos (ônibus elétrico)”.
5
O sistema do Código de Trânsito Brasileiro prevê que o motorista, depois
de aprovado nos exames de habilitação, recebe um certificado de Permissão
para dirigir, válido por um ano. Vencido esse prazo, se não tiver cometido
nenhuma infração grave ou gravíssima, e não sendo reincidente em infração
média, no período, receberá a Carteira de Habilitação.
Confrontou-se esse art. 292 com a regra do art. 296 que possibilita ao juiz
a aplicação da pena de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir
veículo automotor independentemente das demais aplicáveis em caso de
reincidência.
Estaria, aí, hipótese de aplicação dessa pena mesmo não cominada para o
crime.
6
de obter a permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor a
proibição"4.
4
Crimes de Trânsito, p. 100.
7
Essa penalidade não tem caráter substitutivo, como ocorre com as
penas restritivas de direitos previstas no Código Penal. Sua dosagem, a ser
feita pelo magistrado quando da condenação, deve observar o disposto no art.
68, caput, do Código Penal, variando dentro daqueles limites mínimo e
máximo: dois meses a cinco anos. Também não há qualquer impedimento a
que seja imposta cumulativamente com pena privativa de liberdade. Nesta
hipótese, o início da interdição do direito não ocorre enquanto o condenado
estiver recolhido à prisão (art. 293, § 3º).
8
antecipação de parte do valor devido. Em conseqüência, do valor fixado na
ação indenizatória deve ser descontado o valor da multa reparatória.
9
obra do próprio autor da infração de trânsito. Quando isso ocorrer, estaremos
diante de um concurso material com o crime do art. 311 do Código Penal5.
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motores “envenenados”, com os pneus tala-larga, veículos com frente
rebaixadas. Nos crimes de lesão corporal e homicídio culposos a agravante
somente incide se a circunstância não tiver sido a própria causa do acidente,
hipótese em que sua aplicação autônoma implicaria em dupla incidência.
2.2. Crimes
11
Preocupado com as estatísticas de trânsito, com número elevado de
mortes, resolveu o legislador incriminar, de forma mais grave, o delito de
homicídio culposo na direção de veículo automotor.
Assim, o tipo penal do art. 302 do C.T.B. nada mais é que o homicídio
culposo comum (art. 121, § 3º, do CP), só que cometido na direção de veículo
automotor. Portanto, além daqueles elementos que compõem o tipo comum, o
tipo especial contém um outro elemento: que o fato ocorra na direção de
veículo automotor.
Não basta que o fato tenha ocorrido no trânsito6. Indispensável que o fato
seja imputado a quem esteja no comando dos mecanismos de controle e
velocidade de veículo automotor.
6
Imagine-se um transeunte que, desrespeitando a sinalização, acaba por se chocar com um ciclista, que vem
ao solo e sofre lesões corporais. O fato ocorreu no trânsito, mas o agente, que atuou culposamente – o
pedestre – não estava na direção de veículo automotor. O fato configura o crime do art. 129, § 6º do Código
Penal, e não o do art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro.
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Sujeito ativo da infração pode ser qualquer pessoa, desde que na direção
de veículo automotor. Sujeito passivo é a vítima, ou seja, quem é morto no
acidente.
A ação típica é matar alguém (ou “praticar homicídio culposo”, como diz
a letra do art. 302) culposamente (por imprudência, negligência ou imperícia).
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pode cair e lesionar alguém passa na calçada. Ao dirigir veículos automotores
sabemos que devemos respeitar as regras de trânsito, dirigir com cuidado, com
velocidade moderada, de forma a não ferir ninguém.
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insuficiência de conhecimento. É o que ocorre com o motorista que perde o
controle de seu veículo, permitindo que derrape, vindo a atropelar e matar
transeunte.
O parágrafo único desse art. 302 prevê aumento de pena de um terço até
metade, em quatro hipóteses.
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aplique o aumento de pena, que o socorro seja possível sem risco pessoal para
o agente, e desde que tenha meios para tal. Também não se aplica o aumento
se a vítima foi socorrida, de imediato, por terceira pessoa.
Assim é que o art. 303 define como crime de trânsito “praticar lesão
corporal culposa na direção de veículo automotor”, apenado com “detenção,
de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão
ou a habilitação para dirigir veículo automotor”.
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Art. 121, § 5º: Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências
da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
9
Cf. Victor Eduardo Rios Gonçalves, op. Cit., p. 208.
16
Como se percebe, da mesma forma que ocorre no homicídio culposo na
direção de veículo automotor, o tipo penal, aqui, nada mais é que o tipo penal
do art. 129, § 6º, acrescido da elementar “na direção de veículo automotor”.
Em outras palavras, é a lesão corporal culposa pratica na direção de veículo
automotor.
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No entanto, nas hipóteses elencadas nos três incisos10 deste parágrafo 1º,
não mais se aplica a regra do art. 88, sendo a ação penal pública
incondicionada.
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Porque, em havendo culpa, o delito será de homicídio culposo (art. 302), ou
lesão corporal culposa (art. 303), com a pena agravada (inciso III do parágrafo
único do art. 302, aplicável também ao delito do art. 303, por força do que
dispõe o seu parágrafo único).
11
OMISSÃO DE SOCORRO - Agente que, ao se envolver em acidente automobilístico, que culmina com o
capotamento e morte de ocupante de outro veículo, se exime de prestar socorro à vítima, ainda que não
tenha sido demonstrada sua culpa - Configuração: - Incorre somente nas penas do art. 304 da Lei nº
9.503/97 o agente que, ao se envolver em acidente automobilístico, que culmina com o capotamento e morte
do ocupante de outro veículo, se exime de prestar socorro à vítima, ainda que não tenha sido demonstrada
sua culpa. Apelação nº 1.353.377/1 - Campinas - 11ª Câmara - Relator: Luís Soares de Mello - 16.6.2003 -
V. U. (Voto nº 8.479) (TACrim - Ementário nº 47, NOVEMBRO/2003, pág. 23)
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Quando sejam inviáveis aquelas condutas exigidas, ou porque o agente
está muito lesionado, ou porque há risco à sua integridade física, não se há
falar no crime em questão.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que envolvida em acidente
de trânsito, com vítima, na direção de veículo automotor, sem que tenha agido
com culpa no evento.
20
O parágrafo único do art. 304 estabelece que “incide nas penas previstas
neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por
terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos
leves”.
12
Cf. Victor Eduardo Rios Gonçalves, op. Cit., p. 212.
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estranha, portanto, aos domínios do Direito Penal, como também por impor,
na prática, o dever de auto-incriminação, o que afronta o princípio do “nemo
tenetur se detegere”, ou da não auto-incriminação, ou princípio da
inexigibilidade de produção de prova contra si mesmo13.
A tentativa é possível.
22
2.2.5. Embriaguez ao volante
23
ao argumento que o Código de Trânsito Brasileiro regulou toda a matéria, do
que decorre a revogação tácita daquele art. 34 da LCP.
24
Diversa, no entanto, era a orientação do E. Superior Tribunal de Justiça18.
18
PENAL. RECURSO ESPECIAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CRIME DE PERIGO CONCRETO.
POTENCIALIDADE LESIVA. NÃO DEMONSTRAÇÃO. SÚMULA 07/STJ.
I - O delito de embriaguez ao volante previsto no art. 306 da Lei nº 9.503/97, por ser de perigo concreto,
necessita, para a sua configuração, da demonstração da potencialidade lesiva. In casu, em momento algum
restou claro em que consistiu o perigo, razão pela qual impõe-se a absolvição do réu-recorrente
(Precedente).
II - A análise de matéria que importa em reexame de prova não pode ser objeto de apelo extremo, em face da
vedação contida na Súmula 7 – STJ (Precedente).
Recurso desprovido.
(ACÓRDÃO: RESP 608078/RS (200301810070), QUINTA TURMA, RELATOR: MINISTRO FELIX
FISCHER, FONTE: DJ DATA: 16/08/2004 PG: 00278)
EMENTA
PENAL. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CRIME DE PERIGO CONCRETO. DEMONSTRAÇÃO DA
POTENCIALIDADE LESIVA. INOCORRÊNCIA.
O delito de embriaguez ao volante previsto no art. 306 da Lei nº 9.503/97, por ser de perigo concreto,
necessita, para a sua configuração, da demonstração da potencialidade lesiva. In casu, em momento algum
restou claro em que consistiu o perigo, razão pela qual impõe-se a absolvição do réu-recorrente.
Recurso provido, absolvendo-se o réu-recorrente.
(RESP 515526/SP (200300453124), QUINTA TURMA, RELATOR: MINISTRO FELIX FISCHER, DJ
DATA: 19/12/2003 PG: 00598)
19
Diz ele: ““Em suma, se fosse crime de perigo abstrato, bastaria à acusação a prova da conduta (dirigir
sob a influência do álcool), hipótese em que a situação de risco seria presumida; se fosse crime de perigo
concreto, seria necessário que se provasse que pessoa certa e determinada fora exposta a situação de risco.
Acontece que, sendo crime de efetiva lesão ao bem jurídico (segurança do trânsito), pode-se concluir que
cabe à acusação demonstrar que o agente, por estar sob a influência do álcool, dirigiu de forma anormal,
ainda que sem expor a risco uma pessoa determinada” (Op. Cit., p. 214).
25
manobras arriscadas. Basta, para configuração da infração, a condução nas
condições descritas no tipo penal.
O tipo penal exige, também, que o veículo esteja sendo conduzido em via
pública. Não haverá o crime, portanto, se o fato ocorrer no interior da garagem
particular do agente, no pátio de um posto de gasolina, de um Shopping
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Segundo ele, "não são crimes de perigo abstrato (presumido), tendo em vista que já não existem em nosso
ordenamento jurídico, fulminados pela reforma penal de 1984 e pela CF de 1988. Se entendermos que são
delitos de perigo presumido (abstrato), estaremos reconhecendo grave ofensa aos princípios constitucionais
do estado de inocência, da lesividade, da isonomia entre acusados, da igualdade de armas entre acusação e
defesa, do contraditório, da amplitude de defesa etc e, no campo penal, admitindo sério prejuízo aos dogmas
da tipicidade e da culpabilidade, proibindo a invocação do erro de tipo e de proibição, da ausência de dolo,
da irresponsabilidade criminal por resultado não provocado, da inadequação entre o fato material e os
elemento objetivos do tipo, etc;" (Crimes de Trânsito, Saraiva, 8ª ed., p. 26)
26
Center. Mas, se ocorrer em ruas internas de Condomínio fechado haverá o
crime, pois tais ruas pertencem ao poder público, nos termos da lei 6.766/79.
27
Manteve-se, nesta modalidade, o critério anterior, mais elástico da mera
“influência”, sem o estabelecimento de níveis de concentração sanguínea.
Basta, para configurar essa modalidade, o exame clinico, que poderá ser
completado por outros exames toxicológicos.
21
RHC. CONCURSO DE CRIMES. ARTS. 303 E 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO.
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 DO CTB) SUBSISTENTE. AÇÃO PENAL PÚBLICA.
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. NÃO APLICABILIDADE.
O crime de embriaguez ao volante, definido no art. 306 do CTB, é de ação penal pública incondicionada,
dado o caráter coletivo do bem jurídico tutelado (segurança viária), bem como a inexistência de vítima
determinada.
No princípio da consunção o crime mais leve é absorvido pelo mais grave e não o contrário.
Recurso desprovido.
(RHC 13729/MG (200201613584), QUINTA TURMA, RELATOR: MINISTRO JOSÉ ARNALDO DA
FONSECA, FONTE: DJ DATA: 01/09/2003 PG: 00301 )
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RECURSO ESPECIAL. CRIMES DE TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.
COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM. LEI 10.259/01. MENOR POTENCIAL OFENSIVO.
ALTERAÇÃO DO LIMITE DA PENA MÁXIMA PARA DOIS ANOS. IMPOSSIBILIDADE DE TRANSAÇÃO
PENAL. ART. 291, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N.º 9.503/97.
1. Com o advento da Lei n.º 10.259/01, em obediência ao princípio da isonomia, o rol dos crimes de menor
potencial ofensivo foi ampliado, porquanto o limite da pena máxima foi alterado para 02 anos.
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2.2.5.1. Aspecto administrativo da embriaguez ao volante
29
O parágrafo único deste artigo prevê que “Órgão do Poder Executivo
federal disciplinará as margens de tolerância para casos específicos”.
O decreto n. 6488/08 cuidando da questão, reafirma, em seu art. 1º, a
implantação da “tolerância zero” para a infração administrativa, determinando
que aquelas margens de tolerância para casos específicos sejam definidas em
Resolução do Contran a ser expedida de acordo com proposta formulada pelo
Ministério da Saúde.
No entanto, os §§ 2º e 3º deste art. 1º, estabelece provisoriamente, até a
normatização pelo Contran, que a margem de tolerância será de “duas
decigramas por litro de sangue para todos os casos”, ou de “um décimo de
miligrama por litro de ar expelido dos pulmões”, em caso de aferição por
etilômetro.
Por sua vez, o art. 277 estabelece que “todo condutor de veículo
automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização
de trânsito, sob suspeita de haver excedido os limites previstos no artigo
anterior, será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia, ou
outro exame que por meios técnicos ou científicos, em aparelhos
homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado”.
Foram acrescentados dois parágrafos a esse art. 277. O § 2º está assim
redigido: “A infração prevista no art. 165 deste Código poderá ser
caracterizada pelo agente de trânsito mediante a obtenção de outras provas
em direito admitidas, acerca dos notórios sinais de embriaguez, excitação ou
torpor apresentados pelo condutor”. O § 3º, por seu turno, estabelece: “Serão
aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165
deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos
procedimentos previstos no caput deste artigo”.
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Assim, constitui infração administrativa o simples dirigir sob a
influência de álcool (qualquer que seja sua concentração no sangue) ou de
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. A pena
cominada é de multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por doze
meses. O condutor se sujeita, ainda, à medida administrativa de retenção do
veículo.
Além disso, sempre que houver suspeita de estar o condutor, quando
envolvido em acidente de trânsito, ou abordado em fiscalização de trânsito,
sob a influência do álcool ou de substância psicoativa que determine
dependência, será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia,
ou outro exame que por meios técnicos ou científicos, em aparelhos
homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado.
Se houver recusa a submeter-se a qualquer desses exames o condutor se
sujeita às penalidades previstas no art. 165, ou seja, multa (cinco vezes),
suspensão do direito de dirigir por doze meses, e apreensão do veículo.
Essa regra é de manifesta inconstitucionalidade. Em realidade, o
legislador está criando uma nova infração administrativa “sui generis”. Está
equiparando a negativa de submissão àqueles testes e exames à infração
administrativa do art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro.
Com isso, ofende o princípio da presunção de inocência, consagrado na
Constituição Federal de 1.988, em seu art. 5º, LVII24.
A equiparação da negativa à submissão dos exames à infração
administrativa do art. 165 do CTB (embriaguez ao volante) acarreta presunção
que o condutor estava sob o efeito de álcool. Invertem-se os valores. Ao invés
de se presumir a inocência do motorista, presume-se sua culpa em decorrência
do fato de se negar a submeter-se àqueles exames.
24
“Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória”
31
Há violação, também, do princípio “nemo tenetur se detegere”, ou da
não auto-incriminação, ou princípio da inexigibilidade de produção de prova
contra si mesmo.
Antonio Magalhães Gomes Filho, citado por Alexandre de Moraes,
afirma que “o direito à não-incriminação constitui uma barreira
intransponível ao direito à prova de acusação; sua denegação, sob qualquer
disfarce, representará um indesejável retorno às formas mais abomináveis da
repressão, comprometendo o caráter ético-político do processo e a própria
correção no exercício da função jurisdicional” (Constituição do Brasil
Interpretada, Ed. Atlas, p. 400).
Se a Constituição Federal assegura o direito de não fazer prova contra si
mesmo, como punir a pessoa por exercer tal direito?
Viola-se, com os dispositivos citados, também o princípio da
proporcionalidade ou da proibição de excesso, que a doutrina, de forma
unânime, considera consagrado na Constituição Federal.
Outrossim, expressões do princípio da proibição de excesso (tomado,
neste passo, com limitador do poder normativo do Estado) são os princípios de
adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Porque o
próprio princípio de proibição de excesso pode ser tido como de
proporcionalidade em sentido amplo.
O princípio de adequação exige que toda e qualquer punição, seja ela de
caráter penal, seja de caráter administrativo, apenas possa ser aquela apta para
a tutela do bem jurídico e que a medida adotada seja também adequada à
finalidade perseguida.
O princípio da necessidade, por sua vez, estabelece que as punições
somente sejam aplicadas quando necessárias.
32
Por último, o princípio da proporcionalidade em sentido estrito obriga a
ponderar a gravidade da conduta, o objeto da tutela, e a conseqüência
jurídica.
O princípio dirige-se tanto ao legislador, quando da elaboração da
norma, como ao juiz, no momento de impor a sanção.
33
automotor imposta com fundamento neste Código”. A pena é de “detenção, de
seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo
de suspensão ou de proibição”.
34
O crime se consuma no momento em que o veículo automotor é posto em
movimento pela pessoa sujeita à suspensão ou proibição do direito de dirigir.
35
permissão ou a habilitação, o descumprimento desta ordem não configura o
crime em questão.
O crime, mais conhecido como racha, como descrito no art. 308, consiste
em “participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida,
disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade
competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou
privada”. A pena cominada é de detenção, de seis meses a dois anos, multa e
suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.
36
O tipo penal se refere a disputa, corrida ou competição, pretendendo
abranger as variadas formas de conduta, a saber, tomada de tempo entre vários
veículos, disputa de acrobacias, etc.
Para que o fato configure crime é preciso que ocorra em via pública; que
não haja autorização das autoridades competentes; e que ocorra dano potencial
à incolumidade pública ou privada.
25
Art. 32 – Dirigir, sem a devida habilitação, veículo na via pública, ou embarcação a motor em águas
públicas.
37
O tipo penal está centrado no verbo “dirigir”, que significa conduzir o
veículo automotor. O fato deve ocorrer em via pública. Exige-se, também, que
o condutor não tenha nem Permissão para Dirigir, nem Habilitação para
Dirigir; ou então não tenha sido cassado o seu direito de dirigir. Por último,
exige-se que do fato resulte perigo de dano.
Entendemos que o fato será atípico. É que o objeto jurídico tutelado com
a incriminação do art. 309 é a incolumidade pública no trânsito. Ora, se o
motorista já deu mostras de sua habilitação para dirigir, o fato de estar com a
CNH vencida constitui mera infração administrativa, punível também
administrativamente, de vez que sua conduta não coloca em risco a
38
incolumidade pública. O condutor, repita-se, é habilitado. Apenas está com
sua carteira de habilitação vencida26.
Cremos que o fato será atípico, pois o agente tem habilitação reconhecida
pelo Estado, por força da aprovação no exame respectivo, faltando apenas a
formalização dessa habilitação. Mas a questão não é pacífica.
O art. 141 do CTB não exige habilitação para dirigir ciclomotores27, mas
apenas autorização. Ora, se assim é, não haverá o crime, pois o tipo penal
alude à ausência de Permissão ou Habilitação. Não se refere à ausência de
autorização.
26
Nesse sentido decisão do Superior Tribunal de Justiça, por sua 5ª Turma, no REsp. 1.183.333, rel. o Min.
Gilson Dipp.
27
O Anexo I do CTB define ciclomotor como “veículo de duas ou três rodas, provido de um motor de
combustão interna, cuja cilidrada não exceda a cinqüenta centímetros cúbicos (3.05 polegadas cúbicas) e
cuja velocidade máxima de fabricação não exceda a cinqüenta quilômetros por hora”.
39
agente. Outros sustentam que a hipótese é de crime de perigo abstrato,
bastando a direção sem habilitação, presumindo-se o perigo. A posição
majoritária, no entanto, sustenta que se trata de crime de dano ao bem jurídico
“segurança no trânsito”. Conduzindo sem habilitação, e de forma anormal, o
sujeito ativo viola a expectativa mínima de segurança no trânsito. Há, pois, um
dano efetivo ao bem jurídico tutelado. Não se há falar, portanto, em perigo
concreto, porque o bem jurídico tutelado com a incriminação é coletivo, e não
individual.
28
Como salientam Gustavo Octaviano Diniz Junqueira e Paulo Henrique Aranda Fuller, “o sujeito conduz o
veículo de forma anormal quando emprega excesso de velocidade ao ultrapassar obstáculos, ultrapassa sinal
vermelho, via preferencial, ainda em “zigue-zague”...” (Legislação Penal Especial, Siciliano Jurídico, 2004,
p. 106.
40
O elemento subjetivo é o dolo genérico.
Embora a questão não seja pacífica29, entendo que sim, porque a absorção
decorre da necessidade de se evitar o “bis in idem”. Desta forma, tornando-se
inviável a punição pelo todo por questão processual, deve subsistir a norma
meio, porque desapareceu a causa da absorção (consunção).
41
disso, como a simples consideração para essa conduta pode ser considerada
criminosa, parece-nos, em conseqüência, que a disposição é de manifesta
inconstitucionalidade.
A tentativa é possível.
42
2.2.11. Excesso de velocidade em determinados locais
43