Sunteți pe pagina 1din 19

UMA CARTOGRAFIA DAS

POÉTICAS DO CIBERESPAÇO
Lúcia Leão

Resumo: Este artigo tem por objetivo traçar uma cartografia da criação no
ciberespaço. Como critério adotado na escolha de obras a serem analisadas,
foram privilegiados trabalhos que se apropriam das redes gerando ou
estimulando práticas colaborativas. O artigo inicia com um panorama
histórico sobre arte telemática e avança na discussão conceitual a respeito
dos termos arte online, net.art e net arte. Em seguida, são propostas três
categorias de experimentação: poéticas da programação, poéticas da
navegação e poéticas dos bancos de dados.

Palavras-chave: ciberespaço, cibercultura, arte telemática, net arte, bancos


de dados.

Abstract: This article traces a cartography of creation in cyberspace. As


adopted criterion in the choice of workmanships to be analyzed they had
been privileged works that appropriate themselves of nets generating or
stimulating practical collaborators. The article initiates with a historical
panorama on “telemática” art and advances in the conceptual quarrel
regarding the terms “art online” and “net. art” terms. Afterwards three
experimentation categories are proposed: data bases, navigation and
programming poetical.

Key words: cyberspace, cyberculture, “telemática” art, art net, data bases.

Lúcia Leão é Doutora em Comunicação e Semiótica. Professora Doutora na PUC/SP e nas Faculdades Senac,
onde coordena o Grupo de Pesquisas em Cibercultura. E-mail: lucleao@lucialeao.pro.br

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 73

capitulo6.pmd 73 24/11/2005, 10:01


INTRODUÇÃO
Muitos projetos criativos investigam e problematizam o ciberespaço. Vários
deles nos oferecem possibilidades interativas e questionamentos quanto à nature-
za das redes informacionais. Muitos dos mais renomados museus e instituições estão
abrindo suas portas e investindo na aquisição de obras de net arte. Bienal de Vene-
za; Documenta de Kassel; Bienal de Whitney e o portal de Net Art da Whitney –
ArtPort; 1 Bienal de São Paulo de 2000 e 2002; 2 SFMOMA – Museu de Arte
Moderna de São Francisco;3 Walker Art Center; 4 Tate Gallery; 5 Museu Gugge-
nheim6 e o MASS MoCA7 (North Adams, EUA) são alguns exemplos.
Entre as exposições que marcaram época, podemos citar a Documenta de
Kassel X, realizada em 1997. 8 Simon Lamunière, curador do projeto Internet, rece-
beu inúmeras críticas quanto à sua iniciativa. Sua resposta se tornou memorável:
“Estou vendendo arte, não a Internet.” Lamunière quis dizer que o seu interesse
foi projetar trabalhos experimentais, e não, tecnologia. Na mostra, estavam presen-
tes: Joachim Blank e Karl Heinz Jeron: “ Without addresses”; Heath Bunting:
“ Visitors guide to London”; Jordan Crandall e Marek Walczak: “Suspension”;
Holger Friese: “unendlich, fast...”; Hervé Graumann: “l.o.s.t.”; Joan Heemskerk e
Dirk Paesmans: “jodi.org”; Felix S. Huber, Udo Noll, Philip Pocock e Florian Wenz:
“A description of the Equator and some OtherLands”; Martin Kippenberger:
“METRO-Net”; Matt Mullican: “Up to 625”; Antoni Muntadas: “On translation”;
Marko Peljhan: “Makrolab” e Eva Wohlgemuth e Andreas Baumann: “Location
sculpture System”.
Por estarmos diante de um território ainda novo e em permanente mutação, é
bastante complicado propor categorias que organizem as múltiplas propostas sem
enclausurá-las em molduras estanques. No entanto, como a necessidade de orga-
nizar acompanha qualquer tentativa de compreensão, iremos avançar sobre esse
desafio. No presente artigo, partimos do pressuposto de que o ciberespaço é um
território tríplice, um território que emerge a partir de agenciamentos entre seres
humanos e sistemas computacionais (hardwarese softwares). Nesse sentido, o con-
ceito de ciberespaço não se reduz ao conceito de internet. (LEÃO, 2003). Como

1
http://artport.whitney.org/
2
www.bienalsaopaulo.terra.com.br/
3
www.010101.sfmoma.org/
4
www.walkerart.org/
5
www.tate.org.uk/netart/default.htm
6
http://www.guggenheim.org/internetart/welcome.html
7
www.massmoca.org/visual_arts/gameshow/
8
www.ljudmila.org/~vuk/dx/

74 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 74 24/11/2005, 10:01


critério adotado na escolha de obras a serem analisadas, privilegiamos trabalhos que
se apropriem das redes gerando ou estimulando práticas colaborativas.

NOMES MÚLTIPLOS E PROPOSTAS MÚLTIPLAS


Net arte, webarte, ciberarte, arte telemática, poética das redes... Muitos nomes
borbulham em torno dos trabalhos que vêm despontando e nos fazendo repensar a
WWW, a internet e por que não dizer, o próprio ciberespaço.
Vamos começar nosso exame a respeito das poéticas das redes falando sobre no-
menclatura. Se olharmos para os vários conceitos que cintilam no mundo da net, nas
listas de discussão e e-zines, veremos que não existe consenso quanto à essa termino-
logia.
Arte telemáticafoi a expressão proposta por Roy Ascott na década de 80 para
as pesquisas artísticas que envolviam arte, telecomunicações e informática. O vo-
cábulo telemática, por sua vez, foi cunhado em 1978 por Simon Nora e Alain Minc.
Em síntese, significa: telecomunicações mediadas por computador, ou transmis-
são automática de informação.
Entre os projetos pioneiros em arte telemática, organizados por Ascott destacam-
se: “La plissure du texte” (1983); “Arte, tecnologia e ciências da computação” apresen-
tado na Bienal de Veneza (1986) e no Ars Electronica (1989); “Aspects of gaia: digital
pathways across the whole Earth”. Para esse trabalho, Ascott convidou artistas, cien-
tistas e músicos do mundo todo para contribuírem na realização de uma representação
digital da Terra-Gaia por meio das redes de telecomunicações.
Em “La plissure du texte”, Ascott revisita os estudos de estrutura narrativa e
morfologia do conto de fadas conduzidos por Vladimir Propp. Nesse projeto, As-
cott convidou artistas de várias partes do mundo para participarem da criação co-
letiva de um conto de fadas. Cada um dos convidados deveria incorporar uma das
dramatis personaeprincipais: o vilão, o doador, o ajudante, a princesa, o mensageiro,
o herói, o falso herói (ou anti-herói), etc. Ascott convidou 11 artistas e o “La plis-
sure du texte” ficou ativo online 24 horas ao dia, durante 12 dias. (ASCOTT, 2004).
Theilard de Chardin, Robert Ornstein, William James, Idries Shah, Jung,
Charles Tart, J. B. Rhine, J W. Dunne, Buckminster Fuller, Ouspensky, Papus, John
Michell são alguns dos pensadores que orbitam em torno dos projetos de Ascott.
Muito avançado em suas propostas, Ascott antecipou questões que devem ser pen-
sadas ao se discutir a criação no ciberespaço. A pergunta inspiradora de Ascott
(1990): “Is there love in the telematic embrace”, 9 por exemplo, semeou muitas re-

9
Veja-se esse artigo no livro com textos de Ascott editado por Edward A. Shanken.

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 75

capitulo6.pmd 75 24/11/2005, 10:01


flexões e projetos poéticos. Entre seus mais radiantes frutos está o projeto curato-
rial de Steve Dietz para a exposição “ Telematic connections:the virtual embrace”10
(2001-2002). A exposição percorreu várias cidades e apresentou projetos que se
tornaram clássicos da arte telemática: Eduardo Kac: “Teleporting an unknown
State”; Paul Sermon: “Telematic vision”; Bureau of Inverse Technology: “Bang-
Bang”; Victoria Vesna: “Community of people with no time”; Steve Mann: “Seat-
Sale” e Maciej Wisniewski: “Netomatheque”.
Façamos, agora, uma investigação sobre os outros termos. O artigo de An-
dreas Brøgger “O que é Net Arte?”, escrito para a revista eletrônica ON OFF, 11 em
2000, fala das diferenças conceituais entre net arte, webarte, arte online e net.art. O
primeiro, net arte, é mais amplo e, muitas vezes, abarca os outros três. Webarte, por
sua vez, relaciona-se aos protocolos da WWW, ou seja, aos browsers(Explorer e
Netscape) e https. Já a expressão arte online confere um sentido mais estrito para as
poéticas das redes, pois coloca a questão de estar online como requisito. Nessa ca-
tegoria, um trabalho só pode receber o título de arte online se sua existência deixa
se ser possível em uma experiência offline. Vários projetos de Mark Napier se en-
quadram nessa categoria à medida que exploram a própria navegação na WWW e
um tipo de interatividade com outros internautas conectados (multiusuários). Tra-
balhos que podem ser experienciados em outros suportes tais como o CD-ROM
ou o DVD não podem receber essa denominação. Quando falamos em net.art –
observem o ponto entre as duas palavras – estamos nos referindo a um tipo parti-
cular de estética que corresponde às primeiras experiências artísticas com a inter-
net.
Conforme nos conta o ativo net.artistaAlexei Shulgin, em dezembro de 1995,
o artista esloveno Vuk Cosic recebeu uma mensagem anônima em seu e-mail.12
Devido a uma incompatibilidade de software, o texto, ao ser aberto, apresentou uma
aparência quase que totalmente ilegível. O único trecho que fazia algum sentido
formava a palavra: net.art. Algo mais ou menos assim:

[...] JB~g#]\|;Net.Art{-^s1{[..}

Alexei fala que Vuk ficou totalmente maravilhado, pois a net, ela mesma, ha-
via dado a ele um nome para a atividade com a qual ele estava envolvido.

10
http://telematic.walkerart.org/
11
http://www.afsnitp.dk/onoff/Texts/broggernetart,we.html
12
História contada por Alexei Shulgin na lista Nettime. Disponível em: http://www.archimuse.com/mw98/
beyondinterface/bi_fr.html e em: http://www.nettime.org/Lists-Archives/nettime-l-9703/msg00094.html

76 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 76 24/11/2005, 10:01


Em texto de 1997, Robert Adrian faz um panorama das discussões que esta-
vam acontecendo na Nettime13 em torno da definição, ou não de um termo para
todas as investigações estéticas que estavam emergindo:

Everybody seems to agree that there is something happening in the networks that is
connected in some way with the art of the 20th Century. Everybody also seems to be
in agreement that, whatever it is and whatever its called, its pretty exciting. Almost
everybody seems to agree that it is not just simulations of things made for virtual ver-
sions of white museum walls.The disagreements seem to begin with the question of
whether it has a name and whether naming would somehow fix it, like a butterfly pin-
ned on a board, as just another “ism” in the art historian’s catalogue.

No site ZKP4,14 estão arquivadas várias das discussões históricas da Nettime


e as respostas de vários net artistas tais como: David Garcia, Olia Lialina, Alexei
Shoulgin, Rachel Baker, Josephine Bosma, Dirk Paesmans e Joan Heemskerk,
Josephine Bosma, Lennart van Oldenborgh, Olia Lialina, Alexei Shulgin, John
Hopkins, Jeremy Welsh e Robert Adrian. Além disso, nesse mesmo endereço,
podemos encontrar o ontológico “What is Net.art :-)?”, de Joachim Blank (1997)
que coloca a questão fundamental da época: definir net arte em oposição a arte na
net (Netart vs. Art on the net).
A importância da Nettime para a efervescência dessas discussões foi crucial. Como
já foi dito por vários críticos, o net artista é antes e acima de tudo um ser apaixonado
pela comunicação. A existência de uma ágora que reúna pensadores é fundamental para
incitar esse tipo de artista a produzir seus inúmeros questionamentos. Nesse sentido, a
Nettime acaba por reatualizar os antigos e estimulantes ambientes dos cafés:

[nettime] is not only a mailing list, but an attempt to formulate an international,


networked discourse, which promotes neither the dominant euphoria (in order to
sell some product), nor to continue the cynical pessimism, spread by journalists and
intellectuals working in the “old” media, who can still make general statements wi-
thout any deeper knowledge on the specific communication aspects of the so-cal-
led “new” media.

Voltando a buscar definições para a net arte, vemos que para Andreas Broe-
ckmann, a principal ferramenta da net.art é o hiperlink e o fato de que um docu-
mento pode se linkar a princípio com qualquer outro da internet.

13
A Nettime é uma das mais antigas listas de discussão sobre estética, política e ética nas redes. Ativa desde
1995, a partir de um projeto que aconteceu durante a Bienal de Veneza, seus arquivos podem ser encon-
trados em: http://www.nettime.org
14
http://www.ljudmila.org/nettime/zkp4/

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 77

capitulo6.pmd 77 24/11/2005, 10:01


No clássico artigo “Introdução à net.art (1994-1999)”, da dupla Alexei Shul-
gin e Natalie Bookchin, temos uma carta-manifesto com os princípios que iriam
nortear e balizar esse tipo de investigação estética. Para a dupla de autores, os para-
digmas da net.art se definem como uma espécie de modernismo definitivo, ou ain-
da, a net.art se configura como um último canto das vanguardas. Essa idéia foi re-
tomada por Lisa Jevbratt.15 Em “Net art and supermodernism”,a net artista confir-
ma e amplia essa discussão, traçando paralelos com as teorias de supermodernismo
de Marc Auge.

ESBOÇOS PARA UMA DEFINIÇÃO


Conforme vimos, as polêmicas que orbitam em torno da nomenclatura são,
ao mesmo tempo, fascinantes e pertinentes. Mas, para avançarmos em nossas dis-
cussões, teremos que delinear o conceito com maior clareza. Rachel Greene, co-
fundadora e editora de uma outra lista de discussão muito ativa e influente, a Rhi-
zome, escreveu um artigo em 2000, que passaria a ser referência. Segundo ela, a
net.art é um termo com uso particular e descreve uma fase específica do início da
arte na internet. As obras desse período se caracterizam por trabalhos criados para
redes de bandas estreitas, em geral apenas com https puros. Entre os artistas dessa
categoria estão os pioneiros Vuc Cosic (eslovênio), Alexei Shulgin (russo), Heath
Bunting (britânico) e a dupla JODI (Dirk Paesman e Joan Heemskerk).
Para o curador Steve Dietz net.art se relaciona a um tipo de expressão artística
na qual a internet é, ao mesmo tempo, condição suficiente e necessária para visuali-
zar, expressar e participar do projeto. Em um outro momento, Dietz (2004) nos fala
das dificuldades de ser um net artista.
Form Art,16 de Alexei Shulgin, por exemplo, é um projeto que subverte os ele-
mentos gráficos comuns em formulários de internet. Em FuckU-FuckMe, 17 Shul-
gin faz uma crítica ácida ao sistema de videoconferência o CU-seeMe.18 Mascara-
do numa interface de site comercial, o projeto de Shulgin, à medida que coloca
potencialidades sexuais em dispositivos tecnológicos, ironiza as possibilidades de
interação a distância.

15
http://cadre.sjsu.edu/jevbratt/presentations/supermodernism.html
16
http://www.c3.hu/collection/form
17
http://www.fu-fme.com
18
“ Vejo você, você me vê.”

78 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 78 24/11/2005, 10:01


Lev Manovich, em “Flash generation”,nos fala que muitos elementos das pro-
postas estéticas da fase net.art foram perdidos e se transformaram a partir da utili-
zação de Shockwave, Javascript, Java ou outros formatos de multimídia para WWW.
Mas voltemos a Rachel Greene. O mapa criado por essa autora nos apresenta
a evolução da net arte de forma clara e paulatina. Entre os trabalhos clássicos da
fase que vai do ano de 94 a 95 estão os sites Irational.org, Jodi.org e äda’web, de
Benjamin Weil.
Em maio de 1996, um grupo de net.artistas se reuniu em Trieste, Itália, em
uma conferência de nome Net.art Per Se.19 O grupo foi formado por: Adele Ei-
senstein, Akke Waggenar; Walter van der Cruijsen; Oliver Frommel; Alexei Shul-
gin, Igor Markovic, Marjan Kokot, Gomma, Andreas Broeckmann, Pit Schultz e
Vuk Cosic. 20
A partir de 1997, a net arte já está bem-estabelecida e com trabalhos que ins-
tigam e problematizam as redes em seu triplo sentido: isto é, como rede de máqui-
nas, de softwarese seres humanos.
Assim, com o amadurecimento, bem como com o amplo território de discus-
são que as poéticas das redes já conquistaram, podemos pensar em net arte como
trabalhos de experimentação poética que investigam e se apropriam das redes como
linguagem. Isso implica olhar para as redes de telecomunicações a partir de uma
perspectiva semiótica.
No amplo panorama da ciberarte proposto por Domingues (2002, p. 103-104),
as propostas criativas que se apropriam das redes de comunicação carregam o lado
antropológico. Para Domingues, a abertura da caixa de Pandora que a internet
possibilitou, nos permitiu visualizar os hiperlinksda nossa existência e estimulou a
efervescência das tribos. Assim, sistemas abertos, sistemas generativos e colabora-
ção são os ingredientes de experiências telemáticas.
Curt Cloninger (2001) nos fala que a “web roda na tecnologia computacio-
nal... mas a web não é tecnologia computacional; a web é formada por pessoas se
comunicando com outras através de tecnologias computacionais”. Ou seja, a web é
um meio emergente de comunicação.
Para adentrar nesse território emergente, Cloninger traça paralelos com as
mídias tradicionais e propõe seis características da web. Já no início de sua argüi-
ção, Cloninger nos adverte que embora essas características não sejam exclusivi-
dade da web, a web é o único meio de comunicação que reúne todas elas de uma só
vez.

19
www.ljudmila.org/naps e www.ljudmila.org/naps/cnn/cnn.htm.
20
http://www.ljudmila.org/~vuk/

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 79

capitulo6.pmd 79 24/11/2005, 10:01


A primeira característica se refere ao fato de a WWW permitir uma rede de
telecomunicações do tipo vários a vários(many to many). A analogia dessa caracte-
rística com as antigas mídias nos remete, entre outras, às teleconferências via tele-
fone. Em segundo, temos a multimídia, que tem como análogo o CD-ROM. Em
terceiro, vemos o conceito de banco de dados. Aqui a relação é com as bibliotecas.
Em quarto, podemos falar em automação, ou programabilidade. Tal característica
já estava presente em vários softwares. Como exemplo de aplicação de automação
na WWW temos desde os tradutores automáticos, como por exemplo, o Babel Fish,
como trabalhos de arte automatizados como o Soda Constructor. Falaremos sobre
esse projeto a seguir. Como quinta característica podemos falar na mudança de
paradigma temporal e no conceito de ao vivo. Tais qualidades estão presentes em
mídias como rádio e TV e se traduzem na WWW na forma de leilões eletrônicos,
entrevistas, conversas em chats, entre outros. Finalmente, para pensarmos na
WWW como mídia, temos que verificar também os aspectos de localização inde-
pendente e/ou equipamento independente. Entre os equipamentos portáteis que
nos oferecem essas qualidades temos celulares, palms, laptops, etc. Na WWW, um
exemplo interessante é o webmail, que permite que se acessem informações de
qualquer computador conectado.
Agora que compreendemos as amplas características que impregnam as re-
des como linguagem, podemos olhar para os trabalhos poéticos que estão emer-
gindo e verificar as interfaces que esses projetos criam com outros territórios de
investigação. Para mapear algumas das propostas estéticas que vêem surgindo, pro-
ponho algumas categorias. Mesmo sabendo do caráter de incompletude que acom-
panha essa empreitada, uma primeira cartografia das poéticas das redes se justifica
pela importância de estar organizando, documentando e analisando obras de ex-
trema ousadia e criatividade. Queremos, ainda, ressaltar que vários dos projetos tran-
sitam por mais de uma categoria.

POÉTICAS DA PROGRAMAÇÃO
Nessa categoria estão trabalhos cujo foco de atenção é o software. Entre os
artistas que atuam nessa abordagem estão os que questionam e ironizam softwares
pré-existentes, revivendo a postura duchampiana em relação aos ready-mades.
Outros atuam diretamente nos códigos de programação, criando aplicativos que
fazem pensar e/ou que estimulam a interatividade e o lado lúdico do usuário.
O primeiro caso tem raízes nas propostas da arte conceitual e também na fi-
losofia hacker. Hackeraqui compreendido como um pensamento que atua nos sis-
temas computacionais e, com isso, critica e revela fragilidades e imposições desses

80 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 80 24/11/2005, 10:01


sistemas. Os hackerstambém trazem à tona questões políticas. Por que precisamos
aceitar um software fechado e, muitas vezes, repleto de bugs? Por que precisamos
comprar pacotes e mais pacotes de aplicativos? Muitos desses artistas/designers/
programadores são árduos defensores do código aberto e contra as leis de copyri-
ghts.
No segundo caso, os artistas, designerse/ou engenheiros geram sistemas com-
putacionais sem vinculação pragmática direta. O usuário pode interagir de forma
criativa com o sistema. A maioria dos projetos é bastante lúdica e funciona como
um tipo de arte potencial onde os elementos constitutivos da obra estão empilha-
dos, e o inter-agente é quem propõe uma configuração provisória. Cada projeto de
software artpermite várias atualizações, e o interesse estético reside na elaboração
do software, nas lógicas operacionais que residem internamente no projeto. Pode-
se dizer que essa linha de investigação tem raízes na arte conceitual e na já citada
arte potencial.21 Além disso, a software artcoloca questões referentes à produção
cultural, autoria, propriedade intelectual, etc.
Conforme nos fala Florian Cramer, se considerarmos software art,tanto a arte
que se foca na escrita formal do código como aquela que propõe uma reflexão cul-
tural sobre o software, muitos trabalhos de net arte podem ser incluídos nessa cate-
goria, a começar pelo JODI. Vejamos agora alguns exemplos interessantes nessa
área.
O mais recente projeto de Alexei Shulgin (2004), “Runme.org - say it with
software art!”22 se propõe a ser uma interface que estimule trocas focadas em sof-
tware arte. Pensado como um grande banco de dados, o runme.orgé um sistema
aberto e moderado, e qualquer pessoa pode submeter trabalhos de software arte.
Assim, esse projeto poderia também ser classificado como uma poética da colabo-
ração.
Soda Construction23 (1999) é um aplicativo que permite a criação de figuras em
wireframesanimados. A interface do projeto é clara, fácil de navegar e repleta de
explicações sobre a maneira de construir elementos dinâmicos. As opções são
muitas: você pode construir seu “soda” com massa fixa, ou não, com músculos, pode
inserir gravidade, etc. Apesar de não ser muito simples construir “sodas” interes-
santes logo de início, com um pouco de prática, vai ficando mais fácil. É possível
conhecer animações criadas pelos usuários na galeria (sodazoo). O site oferece tam-
bém a possibilidade de brincar com “sodas” já prontos (soda play).

21
Para mais detalhes sobre arte potencial, veja-se Leão (1999, p. 34-36).
22
http://www.runme.org/
23
http://www.sodaplay.com/

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 81

capitulo6.pmd 81 24/11/2005, 10:01


Apartment24 (2000), de Marek Walczak e Martin Wattenberg, é um trabalho
que instiga o visitante a criar. Logo ao entrar no site, vemos uma caixa com espaço
para textos. Começamos a interagir e percebemos que, para cada palavra digitada,
um espaço é criado em uma planta baixa. Assim, para a palavra book, vemos surgir
uma library; para milk, surge a kitchen, e assim continuamos as nossas divertidas
descobertas. Baseado em um sistema de associação semântica, uma série de espa-
ços diferentes são criados. Esses apartamentos são depois acoplados a cidades e
podem ser visualizados em 3D.
Vários trabalhos de Mark Napier podem ser classificados como investigações
em software art. Digital Landfill,25 Feed,26 The Distorted Barbie,27 são alguns dos
trabalhos desse inventivo net artista que merecem ser conhecidos.
Amy Alexander, Matthew Fuller, Thomax Kaulmann, Alex, McLean, Pit
Schultz são outros nomes que vêm investigando essas poéticas. Vários festivais de
arte e novas mídias têm dado destaque à software art. O Read_me 1.2, 28 que acon-
teceu em 2002, em Moscou, por exemplo, premiou algumas propostas que valem a
pena ser conferidas: DeskSwap, ScreenSaver e Textension.
DeskSwap29 é um trabalho voyerístico que permite a comparação de desktops
de pessoas em várias partes do mundo. A idéia é discutir globalização e padroniza-
ção estética.
ScreenSaver, 30 de Eldar Karhalev e Ivan Khimin, é um trabalho que ironiza e
questiona as estéticas e os códigos pré-programados. A peça consiste em um tuto-
rial que explica como reconfigurar o sistema de salva-telas do Windows. Nesse sen-
tido, o trabalho se torna pós-moderno e brinca com citações e contaminações.
Enfim, ScreenSaver é um projeto de metasoftware, ou seja, um softwareque deses-
trutura, corrompe e reorganiza um softwarejá existente. E, além disso, ao estimular
que não-programadores passem por uma experiência anárquica, ScreenSaverse trans-
forma, também, em um trabalho político.
Textension,31 de Joshua Nimoy, é um trabalho de grande apelo estético. Inspi-
rado nas antigas máquinas de escrever, a peça é composta por uma coleção de dez
conjuntos de textos dinâmicos com links entre si. Quando digitamos caracteres, o
aplicativo gera textos animados que percorrem trajetórias em forma de bolhas de

24
http://turbulence.org/Works/apartment/
25
http://www.potatoland.org/landfill/
26
http://www.potatoland.org/
27
http://users.rcn.com/napier.interport/barbie/barbie.html
28
International Software Art Festival “read_me 1.2”. Veja-se: http://www.macros-center.ru/read_me/abouten.htm
29
Autor: Mark Daggett. http://www.deskSwap.com
30
http://www.karhalev.net/desoft
31
http://textension.jtnimoy.com/

82 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 82 24/11/2005, 10:01


sabão e estruturas helicoidais. Joshua Nimoy 32 tem vários outros trabalhos nessa
linha de investigação, na qual a interação do usuário gera animações lúdicas.33 Entre
seus trabalhos, se destaca também o N0time.34 Realizado em conjunto com Victo-
ria Vesna, N0time reúne vários conceitos e questionamentos sobre as redes, o tem-
po, os softwaressociais, as comunidades, os memes, etc.
Outro trabalho bastante instigante é Influenza,35 do argentino radicado no
Brasil, Raphael Marchetti Renno. Influenzaé um programa que combina a lingua-
gem XML (Extensible Markup Language) com o formato de vídeo digital movie
(.mov), utilizado pelo QuickTime Player, da Adobe, gerando um skin. A partir desse
skin, a navegação se torna uma experiência totalmente inusitada. Esse trabalho nos
faz pensar em como as navegações, tal como pensamos a partir de softwares con-
vencionais, representam visões de mundo...

POÉTICAS DA NAVEGAÇÃO
Nesse grupo estão projetos que comentam ou se apropriam da navegação para
seus questionamentos. Na crítica especializada em novas mídias, esses trabalhos
são muitas vezes denominados browser art.
O projeto WonderWalker,36 de Martin Wattenberg e Marek Walczak (2000),
é um aplicativo que permite aos usuários selecionar e gravar seus sites favoritos na
forma de ícones. Espécie de bookmark (lista de favoritos), o WonderWalker ainda
permite que os usuários compartilhem suas preferências a partir dos mapas criados.
Outro projeto bastante interessante é o Webstalker (1997), do I/O/D. Esse
trabalho funciona como um browseralternativo. Cada vez que o usuário visita uma
página, o Webstalker oferece várias opções de visualização, entre elas podemos ver
a estrutura de links do site, por meio de um diagrama.37
Shredder,38 de Mark Napier (1998), é um browserque desconstrói as páginas da
WWW. Muito lúdico, nos faz refletir sobre a tão falada “estética da desaparição”.
Babel,39 de Simon Biggs (2001), é um data browserque explora a metáfora do
sistema clássico de indexação das bibliotecas (Classificação Decimal Dewey –

32
http://www.jtnimoy.com/
33
http://www.hvedekorn.dk/2_02/202-joshuanimoya.html
34
http://notime.arts.ucla.edu/notime3/
35
http://www.influenza.etc.br
36
http://wonderwalker.walkerart.org/
37
Para mais detalhes sobre esse projeto, veja-se Leão (2002, p. 83-85). O endereço do projeto é http://
www.backspace.org/iod/.
38
http://potatoland.org/shredder
39
http://www.babel.uk.net/

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 83

capitulo6.pmd 83 24/11/2005, 10:01


CDD). No projeto Babel, temos um espaço de informação 3D multiusuários cons-
truído a partir desse sistema.
The Freud-Lissitzky navigator,40 de Manovich e Norman Klein (1999), é um
protótipo de videogame. O projeto apresenta diferentes interfaces para navegar na
História do século XX. Na opção de navegação pelo game, temos várias fases: Freud
se encontrando com Lissitzky; a fase com Eisenstein; o episódio de Praga, etc. Na
opção de navegar pela narrativa, uma barra lateral esquerda apresenta as datas. Nesse
caso, ao se clicar em uma década, aparece o texto correspondente no frame central,
e o usuário pode ler as passagens do período histórico.
Um outro trabalho que explora as poéticas da navegação é 1:1 (2) ,41 de Lisa
Jevbratt / C5 (1999). No projeto foi criado um banco de dados com os endereços
de IP de todos os servidores da WWW. Cinco interfaces diferentes (Migration,
Hierarchical, Every, Random e Excursion) permitem navegações inusitadas e abs-
tratas, gerando uma outra topologia.

POÉTICAS DOS BANCOS DE DADOS E DOS MAPAS


Lev Manovich tem colocado a questão da estética dos bancos de dados como
fundamental na compreensão da linguagem das novas mídias. Segundo Manovich,
tanto o romance como o cinema privilegiaram a narrativa como a forma-chave de
expressão cultural da era moderna. O computador introduz uma outra forma de
expressão: o banco de dados. A maioria dos objetos em novas mídias não nos con-
ta nenhuma história; não tem começo, nem fim e não se desenvolve tematicamente
como seqüência. O modelo desses objetos se encontra nas bibliotecas. (MANO-
VICH, 2004). Em outros momentos, desenvolvi pesquisas que discutiam o quanto
o ciberespaço estimula a emergência de um tipo de criação labiríntica (LEÃO, 2002)
e uma estética dos mapeamentos. (LEÃO, 2003). Vejamos, agora, alguns traba-
lhos pontuais na estética dos bancos de dados.
File room,42 de Antonio Muntadas (1993), é um grande arquivo que contém
casos de censura cultural enviadas por internautas do mundo todo.
Map of the market,43 de Martin Wattenberg (1998), é um mapa interativo e
dinâmico com informações da Bolsa de Valores dos EUA. A interface é minima-
lista e permite visualizações diversas. É um trabalho que organiza a informação de

40
http://www.manovich.net/FLN
41
http://cadre.sjsu.edu/jevbratt/c5/onetoone/2/index_ng.html
42
http://www.thefileroom.org/F ileRoom/documents/newhome.html
43
http://www.smartmoney.com/marketmap/

84 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 84 24/11/2005, 10:01


forma clara e espacial e, nesse sentido, reatualiza o conceito de mapa de Deleuze e
Guattari.
Anemone44 é um programa que tem por objetivo visualizar as mudanças estru-
turais de um website. O interessante é que, por se tratar de um projeto de informa-
ção orgânica (organic information design), as imagens produzidas lembram formas
da Natureza. Além disso, o software permite que se visualizem as dinâmicas dos
dados. Esse projeto corresponde à parte experimental da tese de mestrado de Ben-
jamin Fry.
Carnivore45 é outro excelente exemplo de estética do banco de dados. Con-
forme nos explica o texto do grupo Radical Software Group(RSG),46 o projeto se
inspirou no programa do FBI com o mesmo nome. No centro do projeto, está um
softwareque monitora o tráfico de internet em uma rede específica. Essa informa-
ção é enviada para clientes, que são as interfaces criativas do projeto. Cada um des-
ses clientes anima, diagnostica e interpreta os dados recebidos de forma variada.
They rule47 também atua como um grande banco de dados com informações
extraídas da revista Fortune. O banco de dados foi criado a partir das cem mais
importantes empresas dos EUA no ano de 2001. Os usuários podem interagir com
esse banco de dados criando mapas e/ou visualizando os criados por outros usuários.
Manovich (2002) percebeu a força política desse projeto. Segundo ele, ao invés de
apresentar uma mensagem empacotada, o grupo Futurefarmers 48 nos deu os dados
para serem analisados. “Eles sabem que somos inteligentes o suficiente para tirar-
mos nossas próprias conclusões.” Assim, o projeto propõe uma “nova retórica da
interatividade”, ou seja, nós nos convencemos não por recebermos uma mensagem
pronta, mas devido a um envolvimento ativo com os dados: “organizando-os, esta-
belecendo conexões e nos tornando conscientes das correlações que existem entre
eles”.
Em “A(s) lógica(s) dos bancos de dados e a arte da paisagem”, o co-fundador
do Electronic Disturbance Theatere membro do grupo C5, Brett Stalbaum, nos fala
a respeito das conseqüências estéticas dos bancos de dados. Segundo Stalbaum,
tais conseqüências estéticas podem ser examinadas em diferentes níveis tais como
os implementados pelos sistemas de Tecnologia da Informação (TI) e pelos Siste-
mas de Informações Geográficas (GIS). Na arte de ecodados proposta pelo grupo
C5, muitas lógicas de mapeamento precisam ser repensadas. (STALBAUM, 2004).

44
http://acg.media.mit.edu/people/fry/anemone/applet/
45
http://rhizome.org/carnivore/
46
Pertence a esse grupo Alex Galloway.
47
http://www.theyrule.net/
48
http://www.futurefarmers.com/

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 85

capitulo6.pmd 85 24/11/2005, 10:01


O projeto Paisagem Zero,49 de Giselle Beiguelman (concepção e direção),
Marcus Bastos (edição) e Raphael Marchetti Renno (tecnologia e design da inter-
face) é uma máquina de samplear que atua na interface da estética do remix, da
colaboração e dos bancos de dados.
O projeto PluralMaps,50 teve por objetivo propor uma grande estrutura labi-
ríntica em VRML para alocar visões da cidade de São Paulo. 51 Pensado como car-
tografia colaborativa coletiva, PluralMaps recebeu mapas e representações de São
Paulo enviados por pessoas de várias partes do mundo. Além disso, sua interface
acoplou links para imagens da cidade enviadas em tempo real a partir de webcams.

OUTRAS POÉTICAS
Como vimos, vários projetos não se fixam em uma só categoria. No Brasil, Lucas
Bambozzi,52 por exemplo, mescla elementos da estética do banco de dados com ele-
mentos que migram da linguagem do vídeo. O projeto de Artur Matuck “Litterater-
ra”,53 caminha pelos exercícios da escrita e da desescritura. O projeto de doutorado
“Assina: do texto ao contexto”, de Cícero Inácio da Silva,54 propõe experimentações
limítrofes com bancos de dados, textos e autorias falsas. Assim, veremos a seguir algu-
mas propostas que avançam por outros caminhos e despontam com novas poéticas.
Communimage55 é um projeto colaborativo que reúne, em um grande banco
de dados, imagens e links enviados por internautas. A idéia principal do projeto é a
geração coletiva de uma escultura virtual, mutante e infinita. Após receber a senha
que permite o acesso, o interator envia uma imagem. A força desse projeto está
principalmente em subverter a lógica do surfe na WWW. Pois, nesse trabalho, a
interação não se resume em navegar na grande escultura efêmera. Muito mais do
que isso, Communimage nos convida a sair da posição passiva de acessar os dados,
a abandonar o papel de clientes. Communimage nos pede que enviemos informa-
ção, pois somos também colaboradores nessa grande escultura.

49
http://paisagem0.sescsp.org.br/
50
www.lucialeao.pro.br/pluralmaps
51
Lúcia Leão (projeto e direção) e Roger Tavares (programação em VRML).
52
www.comum.com/diphusa/meta
53
www.teksto.com.br
54
http://www.pucsp.br/~cicero/
55
http://www.communimage.net/engl/

86 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 86 24/11/2005, 10:01


Na linha de pesquisa que explora modelos híbridos para representação digital
do conhecimento, estão os projetos do grupo austríaco-alemão Knowbotic Rese-
arch. Anonymous muttering,56 de 1996, constrói uma rede complexa de inter-rela-
ções pessoais na qual estão presentes DJs, visitantes de um espaço físico e visitan-
tes da WWW. Em IO_dencies,57 de 1997, aspectos antropológicos, culturais e so-
ciais são postos em questão. O projeto consistiu em um site e em uma instalação.
Mediante uma interface em Java, os visitantes (tanto do espaço físico como da
WWW ) podiam interagir. Essas intervenções se concretizavam no espaço físico,
na chamada zona de efeitos.
Muitos artistas adentram nos territórios das poéticas telemáticas ao explorar
os potenciais de transmissão de imagens a distância em tempo real. São projetos
que inter-relacionam net arte e telepresença. O trabalho de Jeffrey Shaw “Distri-
buted legible city”, de 1998, é uma investigação de net arte que inclui espaços reais
e interação multiusuário. Desenvolvimento da instalação anterior “The legible city”
(1989), na qual apenas um usuário podia interagir com um espaço digital formado
por letras, nesse projeto, Shaw incluiu o elemento net. Assim, a obra possibilita que
usuários pedalem bicicletas em cidades diferentes e se encontrem no espaço virtual.58
Entropy8Zuper59 é projeto no qual as propriedades da telepresença se associam
às das performances. Nesse trabalho, as redes são meios de distribuição de eventos e
elementos que perturbam antigas convenções de tempo e lugar.
Uma outra proposta de apropriação poética das redes de telecomunicações é
“Grandfather gets a house”,60 um trabalho que explora um dos recursos mais usa-
dos da internet: o e-mail. Nesse trabalho, a história de uma artista canadense que
viajou para a Transilvânia é contada na forma de diários que são enviados por e-mail.
As tristezas e dificuldades de uma família pobre cigana são apresentadas de forma
documental. Fotos e registros complementam o projeto que pode ser navegado de
várias maneiras, inclusive, a partir de um banco de dados onde todos os e-mails estão
arquivados.
Caminhando em um terreno próximo da telepresença, mas com característi-
cas próprias, estão os projetos de telerrobótica. Nessas obras, o usuário controla um
robô utilizando-se da internet. As obras de Ken Goldberg 61 (“Telegarden”, entre
outras) são exemplos primorosos desse tipo de investigação.

56
http://www.khm.de/people/krcf/AM/
57
http://io.khm.de
58
Veja-se artigo e biografia de Shaw nessa coletânea.
59
www.entropy8zuper.org/
60
http://www.fishbreath.net/
61
Veja-se artigo de Goldberg nessa coletânea.

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 87

capitulo6.pmd 87 24/11/2005, 10:01


Também nessa linha se destacam os projetos de Rafael Lourenzo-Hammer. O
jovem artista mexicano vem trabalhando com instalações interativas há vários anos. O
projeto “Re:positioning fear, relational architecture n.3”, 62 apresentado na III Bienal
Internationale de Film+Architektur, Graz, Áustria (nov. 1997) envolveu intervenção
em espaço urbano e interação de vários participantes a distância. Os participantes da
WWW discutiam em um chat a respeito dos medos contemporâneos. Os textos
enviados para o chat eram projetados em tempo real nas paredes do Landeszeughaus,
um antigo depósito de arsenal militar.
A série “Alzado vectorial”63 continua a mesma abordagem e permite que usuários
controlem vários canhões de luz dispostos em pontos estratégicos (o primeiro ocorreu
na Praça Zócolo, no centro da Cidade do México, em 2000). O controle dos desenhos
criados pelos canhões de luz é feito a partir de uma interface. No site, é possível ver
imagens das intervenções que já ocorreram.
Uma outra importante linha de investigação associa net arte a projetos de autoria
distribuída. Exquisite corpse64 é um projeto de escrita colaborativa na WWW. Na equi-
pe que criou o projeto estão Sharon Denning e Ken Ficara. A história inicia a partir de
um trecho extraído do livro de Ítalo Calvino Se um viajante numa noite de inverno ... O
usuário tem várias possibilidades de navegação e pode continuar a história de vários
pontos. O trecho criado é publicado, e outras pessoas da www podem continuar a his-
tória.
Na vertente que associa WWW e hipertexto, muitos projetos de net arte se con-
centram em trabalhar com complexas estruturas não lineares e hiperlinks. Outros bus-
cam alternativas hipermidiáticas para suas narrativas. Nessa categoria estão os traba-
lhos de Mark Amerika.65 Filmtext 2.0 (2002); Filmtext 1.1 (2001-2002); Gramma-
tron (1993-1997); Alt-X (1993-Present); PHON:E:ME (1999), entre outras de suas
obras em net art, que propõem narrativas hiperlinkadas, nas quais o sentido emerge
sempre renovado.
Judy Malloy66 é outro nome que atua nessa vertente há vários anos. Sempre sin-
tonizada com questões políticas e com raízes nas tradições do hipertexto, Malloy tem
também vários trabalhos colaborativos como, por exemplo, “Name is scibe”.67

62
http://rhizome.org/object.rhiz?2398 e http://xarch.tu-graz.ac.at/home/rafael/fear/
63
http://www.alzado.net
64
http://www.repohistory.org/circulation/exquisite/ec.php3
65
http://www.markamerika.com/
66
http://www.well.com/user/jmalloy/cyberagora.html
67
http://www.well.com/user/jmalloy/scibe/story.html

88 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 88 24/11/2005, 10:01


Na interface WWW e ciência, temos exemplos notáveis nas pesquisas com vida
artificial de Christa Sommerer e Laurent Mignonneau, “Life spacies”,68 1997; e Ouro-
boros,69 de Domingues e Artecno. Ouroboros também avança ao utilizar robótica e
webcams.
Outros projetos criativos no ciberespaço que devem ser investigados: Sito.org,70
de Ed Stastny, que coleta projetos colaborativos em um imenso banco de dados;
®Tmark, 71 uma sátira sobre projetos, marcas e patentes; Mongrel, de Graham
Harwood72 e grupo, que mescla softwaressociais, ações táticas e práticas colabora-
tivas e nos convida a ser Mongrel; etoy.com e etoy.corporation, um jogo online
fundado a partir de lógicas corporativas e o conceito de capital cultural; na linha do
ciberativismo, o Electronic Disturbance Theater; 73 e Thinking machine 4, 74 de
Martin Wattenberg, com colaboração de Marek Walczak.
A idéia que permeia Thinking machine 4é tornar visível o pensamento. Cons-
truído a partir das lógicas labirínticas que fundamentam o jogo de xadrez, o traba-
lho permite a visualização dinâmica das reflexões abstratas quanto aos movimen-
tos no tabuleiro. Em síntese, esse projeto revela os percursos pensados por um pro-
grama de inteligência artificial. A interface do projeto revela um mapa de centenas
de possibilidades de percursos calculadas pelo programa.
Enfim, nossa cartografia poderia se estender para vários outros territórios, pois
a WWW, a net e o ciberespaço estão constantemente em mudança, e suas trans-
formações geram, ao mesmo tempo em que possibilitam, novos questionamentos
e espaços para a investigação artística.

68
www.ntticc.or.jp/~lifespacies
69
http://artecno.ucs.br/ouroboros
70
www.sito.org
71
http://www.rtmark.com/
72
http://www.mongrelx.org/index.html
73
http://www.thing.net
74
http://turbulence.org/spotlight/thinking

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 89

capitulo6.pmd 89 24/11/2005, 10:01


REFERÊNCIAS
ADRIAN, Robert (1997). Net.art on nettime, an introduction. Disponível em: http://
www.ljudmila.org/nettime/zkp4/37.htm.
ASCOTT, R. Art and telematics: towards a network consciousness. In: GRUNDMANN,
H. (Ed.). Art + telecommunication. Viena: Shakespeare Co., 1984.
______. Telematic embrace:visionary theories of art, technology, and consciousness. Los
Angeles: University of California Press, 2003.
______. Plissando o texto: origens e desenvolvimento da arte telemática. In: LEÃO, Lúcia
(Org.). O chip e o caleidoscópio:estudos em novas mídias. São Paulo: Senac, 2004.
BLANK, Joachim (1997). What is Net.art :-)?. Disponível em: http://www.ljudmila.org/
nettime/zkp4/41.htm.
BROECKMANN, Andreas. Networked Agencies. 1998. Disponível em: http://www.v2.nl/
~andreas/texts/1998/networkedagency-en.html.
BRØGGER, Andreas (2000). Net Art, Web Art, Online Art, net.art.Disponível em: http:/
/www.afsnitp.dk/onoff/Texts/broggernetart,we.html.
CLONINGER, Curt (2001). Understanding the web as media. Disponível em: http://
www.lab404.com/media/.
CRAMER, F lorian; ULRIKE, Gabriel (2001). Software Art. Disponível em: http://
userpage.fu-berlin.de/%. 7Ecantsin/homepage/writings/software_art/transmediale/
software_art_-_transmediale.html.
CRAMER, Florian; ULRIKE, Gabriel; SIMON JR., John & transmediale (2001). Trans-
. Disponível em: http://userpage.fu-berlin.de/
mediale.01 statement of the software art jury
~cantsin/homepage/writings/software_art/transmediale//jury_statement.txt.
CRAMER, Florian (2002). Concepts, notations, software, art. Disponível em: http://
www.macros-center.ru/read_me/teb2e.htm.
DIETZ, Steve (1998). Beyond interface. Disponível em: http://www.walkerart.org/gal-
ler y9/beyondinterface/.
______. (1998). Beyond interface: net art and art on the net I e II. Disponível em: http:/
/www.archimuse.com/mw98/beyondinterface/bi_fr.html.
______. Por que não tem havido bons net artistas. In: LEÃO, Lúcia (Org.). Derivas:
cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume, 2004.
DILLON, George L. Dada Photomontage and net.art Sitemaps. PostModern Culture
10:2., 2000.
DOMINGUES, Diana. Criação e interatividade na ciberarte
. São Paulo: Experimento,
2002.
GREENE, Rachel. Web Work: uma história da Arte na Internet. In: LEÃO, Lúcia (Org.).
Cibercultura 2.0. São Paulo: Nojosa, 2002.

90 Leão, Lúcia. Uma cartografia das poéticas do ciberespaço

capitulo6.pmd 90 24/11/2005, 10:01


JEVBRATT, Lisa (2003). Net Art and Supermodernism. Disponível em: http://
cadre.sjsu.edu/jevbratt/presentations/supermodernism.html.
KAC, Eduardo. Novos rumos na arte interativa. In: LEÃO, Lúcia (Org.). INTERLAB:
labirintos do pensamento contemporâneo. São Paulo: Iluminuras, 2002.
LEÃO, Lúcia. A estética do labirinto. São Paulo: Anhembi-Morumbi, 2002.
______. As complexidades da cibercultura. In: LEÃO, Lúcia (Org.). Cibercultura 2.0.
São Paulo: Nojosa, 2003.
MANOVICH, Lev. Visualização de dados como uma nova abstração e anti-sublime. In:
LEÃO, Lúcia (Org.). Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume, 2004.
______. Flash Generation. (2002a). Disponível em: www.manovich.net/DOCS/gene-
ration_flash.doc.
______. (2002b). Learning from Prada. Disponível em: http://textz.gnutenberg.net/textz/
manovich_lev_learning_from_prada.txt.
MIRAPAUL, Matthew (1999). Museum Puts Internet Art on the Wall. New York Times ,
Arts@Large, Disponível em: http://www.nytimes.com/library/tech/99/09/cyber/artsatlar-
ge/16artsatlarge.htm.
PRADO, Gilbertto. Experimentações artísticas em redes telemáticas e web, INTERLAB:
. In: LEÃO, Lúcia (Org.).São Paulo: Iluminuras,
labirintos do pensamento contemporâneo
2002.
ROSS, David (1999). 21 Distinctive Qualities of Net.Art. Disponível em: http://
switch.sjsu.edu/web/v5n1/ross/index.html.
SHULGIN, Alexei; BOOKCHIN, Natalie. Introdução à “net.art ” (1994-1999). In:
LEÃO, Lúcia (Org.). O chip e o caleidoscópio:estudos em novas mídias. São Paulo: Senac,
2004.
STALBAUM, Brett (1999). Aesthetic Conditions in Art on the Network: beyond represen-
Disponível em:
tation to the relative speeds of hypertextual and conceptual implementations.
http://switch.sjsu.edu/web/v4n2/brett/.
______. A(s) lógica(s) dos bancos de dados e a arte da paisagem. In: LEÃO, Lúcia (Org.).
Derivas: cartografias do ciberespaço. São Paulo: Annablume, 2004.
WEIL, Benjamin. Re: art on net. Nettime, 10 abr. 1997. Disponível em: http://
nettime.org.

Conexão – Comunicação e Cultura, UCS, Caxias do Sul, v. 3, n. 6, p. 73-91, 2004 91

capitulo6.pmd 91 24/11/2005, 10:01

S-ar putea să vă placă și