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Capítulo VII

A Misericórdia na Vida do Cristão


Alejandro G. Frank

Introdução
Nos capítulos anteriores vimos que existe uma sequência nas bem-aventuranças. As três
primeiras (humildade de espírito, lamento e mansidão) estão associadas ao posicionamento do
crente diante de Deus e dos homens. Isto é, como o crente se vê em relação a Deus e aos
homens. A partir disso, vimos como o crente deve buscar uma solução para sua vida, o que nos
leva à quarta bem-aventurança: a fome e sede da justiça de Deus. Vimos que essa busca pela
justiça de Deus resulta em uma vida de constante busca pela santificação e a aplicação da
vontade de Deus na vida prática, além de resultar em uma espera pelo julgamento do pecado
que há no mundo. Dizemos que o crente não faz justiça própria nem mede com a sua própria
justiça, mas espera a justiça de Deus e avalia tudo conforme aos padrões de Deus. Pois bem,
agora o Senhor Jesus coloca uma nova bem-aventurança que faz um complemento à
característica anterior, mostrando o outro lado do caráter cristão:

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5.7)

Até este ponto temos olhado pelas necessidades do crente, mas agora temos um novo foco
que é como ele se dispõe e como age diante do outros. Esta bem-aventurança tem um foco
muito mais prático do que as outras, é como se fosse o resultado das anteriores, pois ela não
olha apenas o interior do crente, mas olha como ele age como resultado do que há no seu
interior. Neste sentido, a mansidão também tinha algo desta característica. Contudo, quando
abordamos a mansidão, tínhamos visto que ela começa no coração do crente, já que antes de
sermos mansos em relação aos outros, precisamos ser mansos em relação ao que a Palavra de
Deus diz acerca de nós. Assim sendo, a mansidão também estava fortemente centralizada na
nossa situação diante de Deus. Por outro lado, nesta nova bem-aventurança há uma mudança
de foco, agora o Senhor começa a mostrar como um crente é frente ao mundo como resultado
de ser humilde, de se lamentar pelos pecados, de ser manso e de buscar a justiça de Deus. O
Senhor está dizendo aqui que essas características farão com que também sejamos
misericordiosos. Por conseguinte, podemos concluir que, se não entendemos antes as outras
bem-aventuranças que já tratamos, não podemos nunca chegar a ser misericordiosos. Se não
entendemos que não somos nada, que nada merecemos, que temos pecados, que as nossas
melhores obras não são dignas diante dos homens e que somente somos justificados na obra
de Cristo na cruz, não podemos ser misericordiosos. Ou dizendo de outra forma: se não
entendemos primeiro que Deus foi misericordioso, e segue sendo, com nossas vidas, nós
também não poderemos ser misericordiosos com nossos semelhantes. Além disso, o Senhor
está colocando uma característica importantíssima a ser ressaltada depois de ter falado sobre
a justiça, pois facilmente alguns poderiam acreditar na busca pela justiça de Deus através do
julgamento, da punição, da vingança e tantas outras práticas totalmente contrárias a esta nova
bem-aventurança aqui colocada. Desta maneira, com esta nova bem-aventurança, o Senhor
também deixa claro o que a bem-aventurança anterior, a busca pela justiça, não significa
aplicar justiça própria, como pensa geralmente o mundo, mas significa viver conforme à

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vontade de Deus. Tendo considerado isto, a seguir trataremos sobre o que é a misericórdia e
como ela se manifesta nas nossas vidas.

O que significa ser misericordioso


Quando se fala da misericórdia, facilmente pode ser confundida com a complacência, e com
passar por alto os pecados como se eles não estivessem presentes, fazendo “vista grossa”,
como dizemos em nosso país. Porém, não se trata disto e o cristão não deve ser assim. Isto
facilmente fica demonstrado se lembramos de que a misericórdia é um dos grandes atributos
de Deus. Portanto, como disse Lloyd-Jones1: “se eu só posso pensar na misericórdia às custas
da verdade e da lei, então isso não será a verdadeira misericórdia, e, sim, uma falsa
compreensão do termo”. Devemos ser misericordiosos como o é Deus que não transgrede suas
leis e a sua verdade, que condena o pecado, mas que sobre tudo é misericordioso.

Acho muito interessante uma diferenciação que Lloyd-Jones faz entre o conceito de
misericórdia e graça, para uma melhor compreensão. Ele destaca que nas cartas de Paulo a
Timóteo começa dizendo “Graça, misericórdia e paz”, destacando como atributos diferentes e
não iguais. Assim sendo, Lloyd-Jones as diferencia da seguinte maneira: “a graça é
especialmente vinculada aos homens, em seus pecados; mas a misericórdia é especialmente
associada aos homens, em sua miséria. [...] Enquanto a graça condescende diante da questão
do pecado como um todo, a misericórdia contempla especialmente as miseráveis
consequências do pecado. A misericórdia realmente aponta para um senso de compaixão, de
parceria com o desejo de aliviar os sofrimentos”. Desde a perspectiva de Lloyd-Jones,
misericórdia tem a ver com o estado de miséria do transgressor ou inimigo.

Outra ótica acerca da diferença de ambos os conceitos é a que uma vez escutei em uma
pregação de Paul Washer, na qual ele disse que “graça é dar alguém aquilo que não merece,
enquanto misericórdia é não dar, abrir mão de dar, a alguém aquilo que realmente merece”.
Deus nos concede Sua graça, porque nos dá a salvação sem sermos merecedores dela. Por
outro lado, Deus nós concede a Sua misericórdia quando não aplica sua ira sobre nós, não
condenando-nos ao inferno, embora sejamos merecedores disso. São duas perspectivas da
mensagem do Evangelho e dos atributos de Deus que têm que estar presentes também na
vida do crente. Neste sentido, a graça tem um aspecto totalmente positivo e tem a ver com
devolver com bem em qualquer circunstância, como disse Paulo: “Pelo contrário, se o teu
inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber...” (Romanos 12.20). Já a
misericórdia é perdão puro, é ver ao culpado e entender que ele deverá dar conta por isso
diante do Senhor e, portanto, ter pena, compaixão com a situação dessa pessoa, embora
saibamos que ele seja merecedor disso. Portanto, a maneira de sabermos se somos
misericordiosos ou não consiste em considerar como nos sentimos a respeito da pessoa que
nos ofendeu a nós ou a outro. Conseguimos ver o estado de miséria e necessidade dessa
pessoa? Entendemos que ela precisa do perdão de Deus antes do que nosso perdão ou o
perdão de outras pessoas? Sentimos dor por isso? Se não sentimos e entendemos isto, talvez
seja porque não tenhamos entendido bem a essência da misericórdia.

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“Estudos no sermão do monte” (D.Maryn Lloyd-Jones). Editora Fiel

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A essência da misericórdia
Por que é necessário ser misericordioso? Como sê-lo? Porque as pessoas tem tanta dificuldade
com esta questão? Na seção anterior vimos que a misericórdia tem tudo a ver com o perdão,
ela se manifesta no perdão, mas também envolve o sentimento em relação à situação na qual
o culpado se encontra. Então vamos colocar a questão de outra maneira: por que devemos
perdoar e por que temos tanta dificuldade em perdoar e ter compaixão com a situação dos
nossos inimigos? Eu responderia que si temos esta dificuldade provavelmente é porque não
entendemos profundamente como Deus nos perdoou, e como Ele segue nos perdoando.

Em primeiro lugar, precisamos entender que a essência da misericórdia é Deus em si mesmo.


Ele é misericórdia, Ele é misericordioso. O salmo 103.8 nos diz que “O SENHOR é
misericordioso e compassivo; longânime e assaz benigno”. Ou outro salmo (salmo 78.37-38)
mostra o contraste entre Deus e o povo de Israel: “Porque o coração deles não era firme para
com ele, nem foram fiéis à sua aliança. Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade e
não destrói; antes, muitas vezes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação”.
Assim é o Senhor, tão misericordioso que veio ao mundo para nos tirar da nossa vil condição.
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Este texto nos diz “de tal
maneira”, o amor de Deus foi grande demais, o mundo estava perdido, não merecia nada, não
buscava a Deus, estava totalmente perdido, mas Ele veio a buscar o que se havia perdido, pela
sua misericórdia. Eis aqui a chave para entendermos uma doutrina tão difícil de aceitar: a
eleição incondicional de Deus. Não se trata de ser Deus injusto e ter escolhido somente alguns
para serem salvos, mas se trata de que ninguém queria ser salvo por meio de Cristo, todos
rejeitamos a Deus, todos nós estávamos terrivelmente perdidos pela nossa própria escolha,
cegos, errados e totalmente depravados, sem ter a mínima vontade de vir a Cristo (Romanos
3.9-20). Como disse o Senhor aos judeus: “Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida”
(João 5.40). O livre-arbítrio do homem foi sempre a escolha do mal, por própria vontade, por
própria natureza. Por isso é que “de tal maneira amou Deus ao mundo”, pois Ele, na sua
grande misericórdia veio ao mundo e buscou, chamou e atraiu para si a seus eleitos, para tirar-
nos da imundícia do pecado. Ninguém merecia, mas o Senhor teve compaixão do nosso estado
e, na sua misericórdia, alguns foram salvos por graça e amor de Deus. Eis aqui que toda a
glória se manifesta em Deus e aniquila qualquer jactância humana, inclusive a que poderiam
presumir os próprios os crentes no Senhor, pois nada fizemos e nada buscamos, mas foi Ele
quem nos buscou e nos salvou. Se o buscamos foi porque seu Espírito nos despertou e nos
levou a Ele, se nos arrependemos é porque Seu Espírito Santo nos convenceu do mal, se fomos
transformados é porque Seu Espirito Santo nos regenerou. Nada foi de nós, tudo dEle. Tão
grande assim é a sua misericórdia com nossas vidas!

Já deixamos claro que Deus é misericordioso e, portanto, nós também deveríamos ser
misericordiosos, pois, como disse Paulo em Efésios 5.1 “Sede, pois, imitadores de Deus como
filhos amados”. Mas como ser misericordiosos e com quem ser misericordiosos é outra
questão, pois facilmente podemos ser misericordiosos com algumas pessoas e não com outras.
Sobre isto, o Senhor Jesus tratou em uma parábola, mostrando qual é a verdadeira
misericórdia no amor ao próximo. Vejam a parábola do bom samaritano, em Lucas 10.25-37:

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“ E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à
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prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe
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perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de
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todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então, Jesus lhe
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disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se,
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perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem
descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de
tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o
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semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o,
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passou de largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o,
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também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe
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perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos,
aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma
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hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao
hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to
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indenizarei quando voltar. Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que
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caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu-lhe o intérprete da Lei: O que usou de
misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo.”

Vemos que o intérprete da Lei, quem deveria saber quem é o próximo, tentou se justificar. Era
ele quem deveria saber primeiro quem era o próximo e como deveria agir com seu próximo.
Porém, uma coisa ele sabia e estava certo: a essência da lei se ressume no amor a Deus e no
amor ao próximo. Podemos ver aqui que o Senhor Jesus equiparou o amor ao próximo com o
uso da misericórdia para o próximo. A questão toda desta parábola é “quem é o próximo?”.
Facilmente podemos amar e fazer bem a algumas pessoas, mas nem tanto a outras e é isso o
que o Senhor quer nos exemplificar aqui. Vemos que o judeu que foi ferido ficou no lado do
caminho e dois homens representantes da lei e do judaísmo passaram por seu lado: um
sacerdote e um levita, mas nenhum deles se compadeceu (vs.32-33). Mas logo veio um
samaritano que teve compaixão. Ora, precisamos lembrar quem eram os samaritanos para
entender o significado desta parábola. A seguir, destaco um comentário de MacArthur2 acerca
dos samaritanos:

“Os samaritanos eram judeus híbridos, os quais mesclaram-se às nações vizinhas quando
Israel foi levado ao cativeiro em 722 A.C. Eles rejeitaram Jerusalém como centro de
adoração e construíram seu próprio templo sobre o monte Gerizim, em Samaria. O
casamento com estrangeiros e a idolatria constituíam-se em crime tão grosseiro que os
judeus ortodoxos geralmente não se relacionavam com eles de forma alguma. A Samaria
havia se tornado uma nação essencialmente separada, vista pelos judeus como mais
abominável do que os gentios. Esse ódio e amargura entre judeus e samaritanos perdurou
por séculos.”

Assim sendo, o Senhor estava mostrando ao intérprete da lei que aquele homem quem
deveria ser o primeiro em não ter compaixão, aquele que era naturalmente inimigo, parou e se
compadeceu, ajudando àquele que, desde o ponto de vista de um samaritano normal, não
mereceria viver. Isso foi um ato de misericórdia: olhar ao inimigo, àquele que nos despreza,
sentir compaixão por ele, por seu estado (espiritual), perdoá-lo e ainda ajuda-lo para sair desse

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“O Evangelho segundo Jesus” (John MacArthur). Editora Fiel

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estado. Vejam que aqui não se resume em apenas sentir algo, mas também em agir. O
samaritano ajudou a seu inimigo, lhe devolveu com bem. É assim como Deus agiu conosco
quando nos chamou, éramos inimigos dEle, e ele agiu como este samaritano com o judeu.
Assim também devemos agir nós, não apenas com nossos amigos ou seres queridos quando
nos fazem algum mal, mas também com o pior dos inimigos, com aquele que nos odeia.

Então, considerando que a misericórdia se manifesta na compaixão pelo inimigo, no perdão a


ele e no desejo de ajuda-lo, poderíamos ver também como a misericórdia se manifesta nas
anteriores bem-aventuranças. Considerando as bem-aventuranças anteriores (Mateus 5.3-5), o
crente não se ensoberbece diante de alguém que pecou contra ele, pois ele sabe que ele
também peca e que também ofende a Deus (primeira bem-aventurança). O crente não festeja
por saber que seus inimigos deverão dar contas diante de Deus, mas ele se lamenta por isso
sabendo que será uma triste situação para eles (segunda bem-aventurança). Também, o
crente não se vinga, não dá revide, pois ele é manso e tem compaixão sabendo que seu
inimigo já está acumulando juízo sobre si pelos seus atos (terceira bem-aventurança). Por fim,
o crente busca proceder da maneira que agrada ao Senhor, conforme a justiça do Senhor,
sendo benevolente e procurando ajudar seu inimigo para que este saia da sua condição
espiritual (quarta bem-aventurança). Talvez vocês possam achar que isto é teórico demais, que
não é assim como procedemos na prática, mas é assim que o Senhor quer que Seus filhos
vivão nesta terra. Na Bíblia, temos muitos exemplos de servos de Deus que foram
misericordiosos. Podemos ver, por exemplo, Estevão, que foi apedrejado pelos judeus quando
testemunhou de Cristo e antes de morrer orou dizendo: “Senhor, não lhes imputes esse
pecado” (Atos 7.60). Também Paulo, quando foi tratado severamente por alguns irmãos em
coríntios e ele escreveu na segunda carta a essa igreja pedindo que não fossem severos demais
com seu ofensor para que não se entristecesse demais depois de ter se arrependido já pelo
que fez (2.Coríntios 2.5-11). Estes servos de Deus foram misericordiosos e perdoaram porque
entenderam como Deus lhes havia perdoado primeiro. Contudo, o maior exemplo de todos foi
o Senhor Jesus, estando na cruz, pagando o preço dos nossos pecados inocentemente, disse:
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). O Senhor não os via apenas
como culpados, mas ele olhava a cegueira que os homens tinham. Ele via como Satanás, por
meio do pecado, os tinha cegado a tal ponto de cometer essa injustiça. O Senhor não levava
isso para uma questão pessoal, mas via isso como um problema espiritual dos seus inimigos e,
portanto, tinha misericórdia com eles.

Temos dificuldade em perdoar? Não conseguimos dizer o que o Senhor Jesus disse na cruz?
Para isto, o Senhor nos deixou uma boa parábola para refletir, em Mateus 18.23-35:
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Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os
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seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
25
Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a
26
mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo,
27
prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor
28
daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo,
porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e,
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agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo,
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caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto,
31
não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus

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companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu


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senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo
33
malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu,
34
igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E,
indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida.
35
Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu
irmão.

O texto que lemos nos ensina a seguinte lição: “se dissermos que fomos perdoados por Jesus,
mas não houver em nosso coração nenhuma brandura para perdoar os outros, não
receberemos o perdão de Deus” (J.Piper)3. Nestes textos podemos encontrar o exemplo de
perdão que Deus quer que seu povo siga: Ele quer que nós perdoemos da forma em que ele
nos perdoou, isso é uma das manifestações mais claras de que somos cristãos: que perdoamos
porque fomos perdoados. “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado
aos nossos devedores” (Mateus 6.12). Ou como limos na presente bem-aventurança: “bem-
aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5.6). Assim como o
texto citado acima, os outros textos citados aqui também ressaltam que o nosso modelo para
perdoarmos aos outros tem que estar baseado na forma em que o Senhor Deus nos perdoou a
nós e não na medida de culpa do ofensor ou na medida de inocência nossa, mas na forma em
que nós fomos perdoados, é assim que a nossa misericórdia tem que se manifestar. Vemos
aqui novamente que se trata de nos despojarmos do nosso próprio senso de justiça própria, de
deixar de pensar no que o outro merece ou não merece e ao invés de fazer isso sermos
misericordiosos. “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de
misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tiago 2.13).

Aplicações práticas sobre a misericórdia


A bem-aventurança dos misericordiosos tem várias implicações práticas, nas diferentes esferas
da nossa vida. A seguir, quero destacar alguma delas.

A- A misericórdia na Igreja
Primeiro vamos a considerar a vida dos crentes nas igrejas pensando em nós todos como uma
unidade. Neste sentido, uma primeira pergunta que deveríamos nos fazer é: temos
misericórdia como igreja em relação ao mundo? Como vemos o pecado geral do mundo (não
me refiro a uma pessoa em particular que tenha um relacionamento com nós, mas aquelas
pessoas distantes de nós, que nada tem a ver conosco)? Vou colocar um exemplo para ilustrar
esta questão: dias atrás foi assassinado pelo exército dos Estados Unidos um alto líder
terrorista. Podíamos ver através dos meios de comunicação como o povo comemorava por
isso. Mas nós como Igreja, vemos isso como uma alegria ou pensamos em termos de perdição
de mais uma alma que morreu sem Cristo e que estará eternamente condenada ao inferno?
Desçamos agora a um nível um pouco menos distante. Vamos pensar nas prostitutas,
homossexuais e bandidos que andam por nossa cidade. Será que estamos preparados como
Igreja para acolher este tipo de pessoas e trazê-las a Cristo? Será que não agiríamos igual que
os fariseus agiram quando viram ao Senhor comendo e conversando com este tipo de
pessoas? Não estou dizendo que concordemos com os pecados deles, mas eles são os que

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Qual a Base para perdoar outros Cristãos? – John Piper. Postado por Marcos Stockstill no dia 07/2010 em
http://www.ocristaohedonista.com/2010/09/qual-base-para-perdoar-outros-cristaos.html

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precisam do Evangelho e precisam igrejas que preguem a mensagem da salvação de Cristo.


Lembrem que o Senhor disse: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim
chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5.31-32). Contudo, o senso de
justiça própria dos seres humanos é tão tolo que há um desprezo por este tipo de pessoas,
mas somos muitas vezes complacentes tolerando pecados não arrependidos dentro da Igreja
como se fosse apenas uma questão menor, esquecendo o que disse o apóstolo Paulo em
1.Coríntios 5.9-11:
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Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto,
não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou
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idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não
vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou
maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.

Temos colegas de trabalho ou de estudo que vivem no pecado e precisam de Cristo? Qual é a
profundidade da nossa compaixão e misericórdia para com eles? Temos clamado ao Senhor
pela vida deles? Buscamos uma oportunidade para falar de Cristo? Que o Senhor nos dê sua
graça para sermos misericordiosos com os que necessitam do Evangelho, não os condenando,
pois já estão condenados, mas pregando-lhes a Cristo, por se acaso algum deles vier se
arrepender e crer na mensagem do Evangelho!

Mas que o Senhor também nos dê sua graça, para não tolerarmos a indisciplina e o pecado no
seno da própria Igreja entre aqueles que se dizem crentes. Contudo, quando há alguém que é
disciplinado na Igreja, ou se desvia dos caminhos do Senhor, afastando-se da Igreja, e depois
volta arrependido, estamos preparados para aceita-lo novamente como o Pai ao filho pródigo
ou como Paulo ao irmão de Corinto que o havia ofendido? Basta já a suas lágrimas de
arrependimento como para que ainda o sobrecarreguemos com indiferença ou que o
marquemos com um rótulo para sempre. Lamentavelmente isto é muito comum de acontecer
e não deve ser assim, mas: “suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso
alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim
também perdoai vós” (Colossenses 3.13).

B- A misericórdia com nossos inimigos


Acho que este segundo ponto estaria demais, pois já temos falado bastante sobre sermos
misericordiosos com nossos inimigos. Mas quem são os nossos inimigos? Neste ponto quero
abordar um tipo de inimigos: aqueles mais distantes. Digo distantes no sentido de serem os
que “publicamente e abertamente” se declaram nossos inimigos. Não que sejam pessoas que
andam pelas ruas anunciando que tem algo contra nós, mas são aquelas pessoas que por uma
ou outra razão tem alguma ofensa contra nós, estão magoadas, chateadas e não querem nos
ver. Talvez nem precisem nos odiar, mas simplesmente são indiferentes conosco, o que é tão
ruim quanto odiar, pois o segundo mandamento é o amar ao próximo. Bem, nestes casos eu
lhe faria uma primeira pergunta: se você tiver alguma pessoa assim na sua vida, já tentou
solucionar o problema? No caso que nós tivermos feito alguma ofensa contra ele, já pedimos
perdão para ele com o coração contrito? Claro que como crentes esta deve ser a nossa atitude
nesses casos. Mas se foi ele que pecou contra nós, fomos buscar ele para entrar em acordo?
Vejam que o Senhor disse:

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Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a
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teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que,
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pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não
os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e
publicano.

É nosso dever ir buscar nosso irmão. Falar com ele, buscar nos acertar com ele e estar disposto
a perdoá-lo, agindo com misericórdia. Vejam que esta atitude é a que teve Deus conosco.
Fomos nós quem ofendemos Ele, contudo Ele foi a nosso encontro para nos reconciliarmos
com Ele! Isso também é uma atitude de misericórdia: não querer que a parte ofensora fique
nessa situação e buscar a paz com ela, para o bem dela com Deus e para nosso bem também
por reestabelecermos a paz. Mas se essa pessoa não quiser se acertar conosco, o que fazer?
Nesses casos também precisamos ser misericordiosos lembrando o que disse Paulo aos
romanos (Romanos 12.18): se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os
homens. Nestes casos devemos seguir procurando a misericórdia, devolver com bem, e sobre
tudo orar por ele. “Se possível”, temos que procurar tudo o possível. Eu sei que no texto que
limos o Senhor disse: “se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano”,
mas o Senhor não quis colocar o foco principal nesta consideração, isto é um extremo, o
último passo. O que o Senhor quis nos ensinar aqui é que devemos ir até o final pela busca da
paz e do perdão e, somente aí, se não houver arrependimento, é que devemos considerar o
irmão como um gentio e publicano e não como um crente. O problema é que muitas vezes
desistimos bem antes de termos procurado tudo quanto estiver possível da nossa parte. E se
não for possível a reconciliação, precisamos sentir dor pelo estado dessa pessoa, precisamos
chorar por ela, rogando a Deus que lhe abra os olhos, que nos ajude a amá-la a pesar de tudo,
que possamos perdoá-la no nosso coração, embora não tenhamos completado o perdão na
reconciliação.

Precisamos estar em paz com todas as pessoas, precisamos ter misericórdia com aqueles que
nos fazem algum mal, pois somente os misericordiosos alcançarão misericórdia, somente
assim seremos perdoados por Deus quando nós também pecarmos. Como disse Lloyd-Jones:

“Se, quando você pecar, tomar consciência do fato e arrepender-se, dirigindo-se


imediatamente a Deus, para rogar-Lhe perdão, de joelhos, mas então lembrar-se que
ainda não perdoou a alguém, então você não terá confiança na eficácia de sua oração, e
haverá de desprezar a si mesmo”.

C- A misericórdia com nossos seres mais íntimos


Finalmente quero considerar um segundo tipo de “inimigo” se assim posso chama-lo. É o
inimigo próximo e não o distante. Neste caso me refiro a qualquer pessoa com a qual tivermos
um momento de briga ou discussão forte. Neste sentido pode ser nosso próprio cônjuge ou
filho ou amigo/a ou qualquer ser querido com o qual temos uma discussão forte e alguém fica
zangado. Como aplicamos a misericórdia nestes casos? Primeiramente, quando se trata de
perdão temos que agir da mesma maneira que no ponto B que tratamos anteriormente.
Porém, quando se trata de relacionamentos íntimos, próximos, muitas vezes algum problema
pode ficar mal resolvido, pode não haver um arrependimento, pode ficar alguma ferida aberta,
e mesmo assim a relação rotineira segue, embora já não com tanta intensidade e com a alegria
de antes. Somos capazes de sermos misericordiosos nesses casos?

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Tentarei exemplificar o que estou querendo dizer. Vamos supor que você tem uma discussão
com seu cônjuge ou com um amigo por uma atitude que ele teve com você, você tentou
mostrar-lhe o erro, mas ele não enxerga e não se arrepende. Você é capaz de ser
misericordioso e agir com bem, amando-o e mantendo a comunhão que tinha com ele? Neste
sentido, vimos que o Senhor é misericordioso, longânime e paciente. Estes atributos estão
estreitamente vinculados. Ser misericordioso significa também que você é também longânime,
que tem grandeza de ânimo e não se irrita e fica irado facilmente, e que você é paciente com a
situação e com a pessoa, não devolvendo com mal, mas esperando até ela entender o seu
erro. Lembrem como o Senhor foi e segue sendo em muitas circunstâncias da vida paciente,
longânime e misericordioso conosco. Pois bem, assim também devemos ser nós com nossos
próximos, e neste contexto, com essas pessoas bem próximas a nós. Mas não estou querendo
dizer que a outra parte tem a desculpa de ser orgulhosa, de não reconhecer o seu pecado e
que tem direito a exigir que você seja paciente. O que estou dizendo é que isso tem que nascer
de nós e que temos que buscar essa característica cristã. O segredo que está aqui encerrado é
que precisamos descansar na soberania de Deus e na ação do Espírito Santo. Nosso próximo
(refiro-me a pessoas crentes) não enxergará a falta se não houver uma operação do Espírito
confrontando o pecado, então precisamos esperar em Deus. Pode passar minutos, horas, dias,
meses ou até anos até que isto suceda, mas em todo esse tempo a nossa misericórdia tem que
prevalecer por acima de todas as coisas.

Nos iramos facilmente? Conseguimos seguir sendo os mesmos e amando da mesma maneira
depois de uma falta que alguém cometeu? Conseguimos ver que nós também agimos assim
muitas vezes com Deus e demoramos em nos arrepender? Oramos para que a pessoa possa
ver a sua falta? Mas, acima de todas as coisas, oramos para que nós deixemos de ver essas
faltas esquecendo-as e amando da mesma maneira de sempre? Em estas atitudes se reflete a
nossa misericórdia. Aquelas coisas não resolvidas sabemos que o Senhor julgará e disciplinará,
mas o nosso coração sempre deve estar prestes a perdoar e a amar da mesma maneira.

Considerações finais sobre a misericórdia


A grande esperança que há em vivermos desta maneira é que cada bem-aventurança encerra
uma promessa. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”, o
Senhor nos deixa uma promessa. Já temos recebido a misericórdia do Senhor na salvação? Se
assim for, ainda a seguiremos recebendo, a misericórdia do Senhor se renova de dia em dia. O
fato de termos comida, vestimenta e um lar é fruto da misericórdia diária do Senhor. O fato de
termos alguém que lembra de nós e nos ama, de termos amigos, de podermos rir, também é
fruto da misericórdia do Senhor. Tudo o que temos de bom em nossas vidas é misericórdia.
Como diz o salmo 103, que considero ser o salmo da misericórdia divina:

1 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo
nome.
2 Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios.
3 Ele é quem perdoa todas as tuas iniqüidades; quem sara todas as tuas enfermidades;
4 quem da cova redime a tua vida e te coroa de graça e misericórdia;
5 quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua mocidade se renova como a da
águia.
6 O SENHOR faz justiça e julga a todos os oprimidos.

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7 Manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel.


8 O SENHOR é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.
9 Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira.
10 Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas
iniqüidades.
11 Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para
com os que o temem.
12 Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.
13 Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o
temem.
14 Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.
15 Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele
floresce;
16 pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar.
17 Mas a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e
a sua justiça, sobre os filhos dos filhos,
18 para com os que guardam a sua aliança e para com os que se lembram dos seus
preceitos e os cumprem.
19 Nos céus, estabeleceu o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo.
20 Bendizei ao SENHOR, todos os seus anjos, valorosos em poder, que executais as suas
ordens e lhe obedeceis à palavra.
21 Bendizei ao SENHOR, todos os seus exércitos, vós, ministros seus, que fazeis a sua
vontade.
22 Bendizei ao SENHOR, vós, todas as suas obras, em todos os lugares do seu domínio.
Bendize, ó minha alma, ao SENHOR.

Certamente teremos dificuldades para vivermos estas bem-aventuranças. Certamente temos


que buscar em oração e prática diária seguir os caminhos e a vontade do Senhor para nossas
vidas. Mas, como disse Lloyd-Jones: “se eu sentir que embora essas declarações me sondem e
firam ainda assim elas são essenciais e boas para mim, se eu sentir que me convém ser
humilhado, e que me convém ficar frente a frente com esse espelho, o qual não somente me
mostra aquilo que sou, mas também o que sou à luz do padrão divino para o crente, então
terei o direito de sentir-me esperançoso quanto ao meu estado e condição”.

Que o Senhor nos conceda a sua graça, paz e misericórdia!

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