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RESUMO
Pensar a educação exige um esforço em vários sentidos. Pois, os critérios que
interferem neste problema devem ser analisados em sua totalidade. O problema da
educação deve ser pensado conjuntamente com a realidade política, econômica e social,
que gerencia e promove a manutenção do regime social na forma em que se encontra,
promovendo a exclusão e restringindo o acesso igualitário a um sistema educacional
justo. Cabendo, ainda, uma análise critica do papel desempenhado pela racionalidade
instrumental, na radical transformação do papel exercido pelo educador dentro de uma
sociedade dominada por essa racionalidade.
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Graduando em Filosofia, atua em linhas de pesquisa com ênfase em Filosofia Política e Teoria Crítica.
Email para contato: danielbrumano@hotmail.com
A educação deve ser uma educação para a vida. Um conhecimento e saber
críticos, e não um conhecimento científico/tecnicista, voltado para a aplicação à
indústria e ao comércio, onde os únicos beneficiados são as classes privilegiadas e a
soberania do Estado, eterno protetor de todas as iniqüidades políticas e sociais,
manutensor da ordem dominante estabelecida. Enquanto o “senhor” educa seu filho para
que este desempenhe todas as funções dominantes, como industriais, políticos, líderes
religiosos, juízes, etc. O “escravo” educa seu filho para as funções inferiores, como
proletário ou soldado. Na evolução das formas de dominação, as oligarquias burguesas
vêm desenvolvendo e aperfeiçoando as formas de dominação e domesticação. O
trabalho assalariado teve seu desenvolvimento a partir da contenção da escravatura, que
a seu propósito se contrapunha ao livre processo de crescimento e avanço da sociedade
de mercado, portanto, do projeto de sustentação e avanço da lógica de dominação
burguesa. Uma sociedade de livre mercado pressupõe intensa atividade calibradora do
consumo, que determina seu perfeito funcionamento, o que não seria possível em uma
sociedade onde sua base é a mão-de-obra escrava.
O trabalhador comum, o assalariado segue um plano de vida bem determinado,
mantendo assim, em funcionamento, o processo cíclico da sociedade de consumo.
Trabalho, consumo e diversão, estes são a seu turno o processo de vida do trabalhador.
Trabalhar para consumir, consumir para viver, para satisfazer os anseios existenciais
humanos e seu anseio de fusão e união intersubjetiva, buscando através do consumo
superar o sentimento de isolamento e separação, muitas vezes uma busca por coesão
social. O consumo foi promulgado para ser o subterfúgio, o meio através do qual o
homem transcende seu isolamento, ser cidadão nas sociedades capitalistas
contemporâneas é ser consumidor, àqueles que não consomem não lhes são imputados o
caráter da cidadania. Quando chega a sua casa o trabalhador se presta diante de seu
televisor e é bombardeado por mais de 3.000 anúncios diários, hoje em dia vemos mais
anúncios em um ano do que pessoas há 30 anos viam durante toda a vida. O consumo é
à base de sustentação da economia de mercado. É por meio do consumo que as mega
corporações (que já têm o controle de mais de 50% das 100 maiores economias da terra)
expandem, a cada dia mais seu poderio e controle sob a esfera pública.
Para Marcuse, a dominação funciona como administração total das necessidades
e prazeres, escravizando o homem no trabalho e no lazer, preenchendo o tempo livre
dos indivíduos com programações dirigidas, fabricando uma humanidade pronta para
consumir objetos inúteis, cuja obsolescência fora desejada. A administração da
sociedade unidimensional encarrega-se de gerar o bem-estar, tornando ineficazes os
protestos tradicionais. O homem, segundo Marcuse dispõe de inúmeras opções e
inúmeros inventos, que são todos da mesma espécie, e que as mantém ocupadas e
distraem sua atenção do verdadeiro problema; que é a consciência de que poderiam
trabalhar menos e determinar suas próprias necessidades e satisfações. No mecanismo
de dominação do sistema capitalista, segundo Marcuse:
O homem encontra a natureza tal como é transformada pela
sociedade, sujeita a uma racionalidade específica, que se converteu em um
grau cada vez maior em racionalidade tecnológica e instrumental, subjugada
às exigências do capitalismo. (...) Conquanto seja verdade que as pessoas
devem se libertar da sua servidão, também é verdade que elas devem se
libertar primeiro do que foi feito delas na sociedade em que vivem.
(MARCUSE, 1973)
Rubem Alves pensa em uma mudança no sistema educacional, diferente daquele criado
e manipulado por esta racionalidade instrumental, dentro da ordem estabelecida, onde, o
professor é apenas “funcionário de um mundo dominado pelo estado e pelas empresas.
É uma entidade gerenciada, administrada segundo sua excelência funcional, excelência
esta que é sempre julgada a partir dos interesses do sistema. Pensar em uma melhoria
nesse sentido, só se apresenta como possível a partir do momento em que comecemos a
repensar toda a estrutura social. Com que fins ela trabalha? Sobre que tipos de
interesses? A ordem de quem?
O problema da identificação entre conhecer e pensar, é também reconhecido por
Nietzsche como um fator da decadência do sistema educativo como um todo, pois, o
educando torna-se reprodutor de um conhecimento introjetado nele de forma
programada para a manutenção da ordem estabelecida, o sistema educativo, assim não
perpassa, de forma alguma, o que constitui:
Referência:
CHAUÍ, Marilena. O que é ser educador hoje? Da arte à ciência: a morte do educador.
In: Brandão, Carlos R. (Org.). O Educador: vida e morte 4ª ed. Rio de Janeiro: Graal,
1983.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Crepúsculo dos ídolos, ou, como se filosofa com o
martelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.