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PROCESSOS ROTULADORES QUE INTERFEREM DIRETAMENTE NO

FRACASSO ESCOLAR

Marilene Crist 1

Maria Aparecida da Silva²

Rosilene Campoe Martim³

RESUMO: Historicamente a sociedade humana rotula os indivíduos de acordo com suas aptidões ou
inaptidões, classes sociais ou qualquer outro motivo. O rótulo está tão presente nas relações sociais que na
maioria das vezes se identifica claramente o que é rotular e quais as suas implicações. Quanto de rótulos
são impressos nas crianças todos os dias ao longo dos anos letivos? A rotulação é abordada neste artigo
como subterfúgio para justificar o fracasso dos alunos da Escola Pública, no ensino fundamental. O
professor, nem sempre, está preparado para lidar com as diferenças individuais caracterizadas como falta
de vontade de estudar, falta de criatividade e talento para o ensino escolar. Na sociedade de consumo em
que o mercado dita as regras da qualidade, o rótulo tem sido mais um mecanismo do perverso processo
seletivo escludente que se evidencia no interior das instituições escolares e nega ao aluno pobre, a
oportunidade de ascensão social via conhecimento organizado. E, por se acreditar que rotular também é
levantar hipóteses derrotistas a cerca das potencialidades intelectuais ou sociais de alguém, é possível
identificar que o aluno não fracassa por vocação ou vontade própria. Assim sendo, este estudo identifica
em seu corpo que o rótulo é um dos fatores responsáveis pelo fracasso escolar.

Palavras-chaves: Dificuldades de aprendizagem, Imagem da escola, Criança rotulada.

ABSTRACT: Historically human society labels people according to their skills or lack of skills, social
class or any other reason. The label is so present in social relations that most often is identified clearly
1
Marilene Crist. Graduada em Pedagogia pelo PROHACAP, 2003, Chupinguaia/RO.

² Maria Aparecida da Silva. Graduada em Letras/Português pela UNIR , 2007,


Vilhena/RO.

³Rosilene Campoe Martim. Graduada em Pedagogia pelo PROHACAP, 2003,


Chupinguaia/RO.
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label what is and what its implications. As the labels are printed every day in children over the school
years? The labeling is discussed in this article as a subterfuge to justify the failure of the Public School
students in elementary school. The teacher, not always, is prepared to deal with individual differences
characterized as lack of will to study, lack of creativity and talent to the school. In the society of
consumption where the market dictates the rules of quality, the label has been more a mechanism of
perverse selection process Exclusionary that shows inside the schools and student denies the poor the
opportunity to increase social awareness through organized. And, if it believes that label is also to raise
hypotheses defeatist about the potential social, intellectual or someone, you can not identify the student
fails or vocation by choice. Thus, this study identifies in his body that the label is one of the factors
responsible for school failure.

Key words - Learning difficulties, Image of school, child labeled

1.Introdução

Caracteriza-se que desde o surgimento das primeiras civilizações das


quais se tem notícias. O rótulo apareceu para evidenciar o preconceito que dita normas
sobre quem pode saber das coisas, quem tem capacidade para realizar determinada
atividade, quem é habilitado, quem é mais inteligente para mandar e quem é menos para
obedecer.

O contexto social, via de regra, reflete a herança cultural enquanto fator


determinante da forma de pensar, agir ideologicamente na crença que caracteriza o
tratamento que se é dispensado aos seus semelhantes. Um bom exemplo é o lunático
Hitler com sua teoria sobre a superioridade racial dos arianos que levou muitas pessoas
a serem rotuladas de inferiores, ao Holocausto.

Embora as muitas evidências, a literatura não traz até ao momento


estudos específicos sobre a questão do rótulo, mas, implicitamente são inúmeras as
citações que podem ser interpretadas como referência ao ato de rotular negativamente e
de muitas maneiras, especialmente as crianças da escola pública. Compreender o rótulo
como fator determinante no processo de aprendizagem, talvez seja chave para enfrentar
e diminuir o tão propalado fracasso escolar da maioria da população estudantil.

A história social do Brasil é calcada em uma herança cultural, alienada e


alienante. Primeiro, os índios foram alvo de discriminação ou rótulos de inferiores
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intelectualmente, depois vieram os negros e sofreram com a rotulação que os
transformou em propriedade dos brancos. Hoje são os índios, os negros e os pobres. A
crença em diferenças físicas, raciais e intelectuais entre os indivíduos, particularmente
enfatizada pela antropologia física no final do século passado, aliada à teoria das
seleções dos mais aptos, de Darwin, ofereceu argumentos com os quais se procurou
justificar a variação no ensino recebido por homens e mulheres rotuladas de sexo frágil.

Do mesmo modo, com base nas diferenças em termos de saúde e


desenvolvimento físico, foram chamados a reforçar ou até legitimar distorções
encontradas no rendimento escolar das crianças de níveis sócio-econômico-culturais
distintos.

É mais comum do que se possa imaginar ouvir de pessoas leigas,


expressões do tipo:

Esse menino não aprende nada porque tem QI baixo.

O problema dessa menina é carência afetiva!

Os pais desse menino são garis, coitados!

Numa clara referência ao grau de inteligência das pessoas que exercem


funções consideradas menos qualificadas e associando a capacidade de aprendizagem da
criança à função exercida pelos pais.

Sabe-se que muitas são as questões da escola que solicitam reflexões. Por
exemplo, o Currículo das Escolas Públicas precisa ser repensado com urgência.
Necessita de uma readequação no que é essencial e secundário. A formação do
professorado é outra questão delicada que exige uma análise mais aprofundada. Assim
como as estruturas físicas das escolas. Mas, talvez o contexto cultural seja o maior
responsável por promover ou não às mudanças necessárias para que a instituição escolar
pública atenda com qualidade as necessidades de escolarização dos seus educandos.

Este artigo já se sabe de antemão não dará conta de discutir todas as


questões referentes ao problema do rótulo, que é abrangente. Mas tem a pretensão de
suscitar dúvidas concernentes ao assunto com intuíto de despertar o interesse de outros
pesquisadores a fim de que se possa, numa somatória de esforços, buscar o
entendimento dos processos rotuladores que interferem diretamente no fracasso escolar.
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O estudo pretende ainda responder à seguinte pergunta: o rótulo é um dos
fatores determinantes nas dificuldades de aprender?

Para responder esta questão, faz-se necessário um estudo da escola


enquanto mecanismo de ascensão social e do fazer escolar, buscando entender os
processos que implicam no fracasso escolar. Para tanto, levantou-se dados empíricos
com participação expontânea e aleatória de 30 professores e 30 alunos, em três escolas
numa cidade do interior de Rondônia.

Por rótulo, neste estudo, se entende a ação de rotular, identificar,


limitar, discriminar, estigmatizar, definir. Rotular também é fazer suposições
preconceituosas a respeito da possível incompetência das crianças para aprender algo
(Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa).

2.Desenvolvimento

Rótulo: mecanismo de fracasso ou sucesso? A sociedade burguesa, ao


longo da História, criou um modelo de comportamento social, o seu modelo de certo e
errado, bom e ruim, ético e antiético, moral e amoral. Este modelo deve atender a
códigos sociais que implicitamente atendem seus interesses maiores, a hegemonia do
poder.

Por meio de imagens mentais muito claras, os autores da auto-ajuda vão


contribuindo para a construção de uma auto-imagem positiva de alguém capacitado,
bem amado, inteligente, e bem sucedido. Assim também as escolas particulares agem
com seus clientes-alunos, convencendo-os de sua capacidade intelectual, que é na
verdade, consequência de uma situação finaceira privilegiada.

Paralelamente, a escola pública faz um trabalho voltado para atender a


este modelo, de modo contrário, rotulando seus alunos de coitadinhos, desnutridos,
burros, incompetentes, entre outros adjetivos bastante comuns entre agentes da escola
para o povo.

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É tão comum se ouvir destas escolas colocações, tais como, está criança é
imatura para ser alfabetizada, ou então, que não possuem pré-requisitos: coitada, os
pais dela trabalham na foice, roçando mato, por esta e outras razões que dificilmente,
poderão ter um futuro estudantil melhor.

Não se analisa que o trabalhar na foice não anula a capacidade de


aprendizagem do ser humano. Também não se verifica que as crianças, filhas de
trabalhadores ficam praticamente o dia inteiro sozinhas quando os pais saem antes de
amanhecer e retornam ao anoitecer, exaustos e sem condições de exigirem qualquer
coisa dos filhos, salvo quando os filhos não são levados juntos para auxiliarem no
trabalho.

Esta atitude se dá tão rotineiramente nas escolas públicas que ninguém se


dá conta. É como um gás: incolor, inodoro e insípido e talvez sejam mesmo estas as
causas de tanta repetência e evasão das escolas públicas, que não se percebe as raízes
sociais do fracasso escolar.

Nidelcoff (1978, p. 15) sugere que é importante educar-se no


pluralismo, de confrontar realidades distintas, de respeitar a riqueza do diferente, da
multiplicidade de caminhos (...) Educá-los (e educarmo-nos com eles) em liberdade,
serem livres, amarem a liberdade e aprenderem a descobrir as cadeias.

Por falta de reflexão, os professores da escola pública, na


maioria das vezes, não percebem que são reprodutores de um
modelo injusto e excludente e injusto com as classes
populares. Sem levar em conta que a sociedade atual valoriza
especialmente o sucesso de quem possui bens de consumo, a
escola incentiva a competição burguesa sem respeitar a
cultura individual. Nota-se no Brasil uma valorização
excessiva do que vem de fora da história do país e os pobres
aceitam este valor sem reflexão e consciência da passividade
e alienação as quais estão sujeitos, possivelmente produtos da
escolaridade atual. Neves (1993, p. 108).

Outro rótulo comum é de que seus pais são analfabetos, como prováveis
causas do fracasso dessas crianças na alfabetização. Explicitar estes rótulos em público
é grave e torna o rótulo uma arma poderosa contra o sucesso do aluno. Quando se
imprime um rótulo a alguém se está pré-conceituando, desacreditando e ignorando sua
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capacidade de aprender e não há a preocupação de reverter esta hipótese derrotista
acerca das potencialidades cognitivas do indivíduo. Quando não há expectativas
positivas não há investimento por parte do professor.

Perpassa o comportamento do professor que não se deve investir em um


aluno que de antemão já se sabe não aprenderá?

Deste modo o fantasma do fracasso escolar está cada vez mais presente
nas estatísticas da escola.

A Linguagem popular, a burguesia e o rótulo: com relação à fala dos


alunos pode-se destacar a posição de Luís Carlos Cagliari (1992, p.20). No seu trabalho
sobre Alfabetização e Pobreza faz a seguinte colocação: Os filhos da burguesia quando
dizem certos erros de linguagem, são considerados uma belezinhas que dizem coisas
engraçadas enquanto aprendem, mas os filhos da pobreza, quando dizem a mesma
coisa, são vistos como incapazes, de natureza deficiente.

A partir daí qualquer tentativa de expressão dos alunos é incoveniente e,


portanto ignorada pela escola. Se eles não aprendem com as explicações do professor,
como se pode dar crédito para aquilo que dizem? Mesmo porque além de não
aprenderem o que a escola ensina ainda se expressam mal, de forma errônea.

Como consequência as crianças menos familiarizadas com a linguagem


padrão são classificadas (rotuladas) de débeis mentais, mesmo que apresentem um
padrão de comportamento plenamente adaptado às condições de vida do seu grupo
social. Mas a escola não abre espaço para essa cultura, para essa aprendizagem.

Sobre o sonho de aluno ideal, pode-se tomar como referêncial, o trabalho


de Darcy Ribeiro no seu livro Nossa escola é uma calamidade (1984, p. 38), que faz as
seguintes citações:

Nossa escola é hostil à sua verdadeira


clientela. Estamos diante do fato espantoso de que a escola pública
brasileira de 1º Grau não acolheu, ainda, nem reconheceu como sua
clientela às crianças oriundas das camadas populares, cerca de 80% da
população. Fato escandaloso, mas óbvio, é que nossa escola funciona
como se sua clientela fosse só a classe média, 20% da população com
respeito à qual, inegavelmente, é uma escola, uma vez que consegue

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atender, preparar e promover a maioria das crianças procedentes dos
setores mais abandonados da população. Ela é, pois, uma escola para
20%, não é uma escola para os 80%. Uma escola que vê como
desenvolvimento normal, desejável, e até exigível de toda criança, o
rendimento “anormal” da minoria de alunos que tem quem estude com
eles em casa, mais algumas horas, e que vivem com famílias em que
alguns membros já têm escolarização. Funcionando na base dessa falsa
expectativa, ela é uma escola hostil à sua clientela verdadeira, porque
sendo uma escola pública, a sua tarefa é educar as crianças brasileiras, a
partir da condição em que elas se encontrem.

Não se pode negar que esta forma de organização da escola pública é


preconceituosa e discriminatória e nela estão implícitos todos os rótulos que já foram
mencionados: incapaz, imaturo, filho de analfabetos, quando exige que as crianças de
classes populares ao se apresentarem na escola, com os mesmo pré-requisitos que as de
classe média quando esta escola deveria estar preparada para oferecer às classes
populares, parâmetros e oportunidades de desenvolvimento, de acordo com a
necessidade de cada um dos seus alunos, uma vez que prega esta máxima como
ideologia e objetivo.

A escola neste caso nem se dá conta de que a palavra é expressão da


cultura, da existência do homem e do mundo. O que caracteriza o desenvolvimento
cultural do ser humano é sua criatividade. Como um aluno poderá ser criativo se o seu
professor o admira pela passividade e desânimo?

É assustador constatar que o processo de alienação esteja acontecendo


nos locais onde deveriam acontecer processos de desenvolvimento cognitivo, afetivo e
criativo. Onde deveria ser cultivada a expressividade da criança em todos os sentidos.

Entre tantas formas de rotular aparece ainda o rótulo de hiperativo.


Interessante verificar que muitas vezes até o diagnóstico de profissionais (professores)
desqualificam para esta avaliação e rotulam o aluno de hiperativo como sinônimo de
indisciplinado. Estes profissionais desconhecem as causas da hiperatividade. Segundo
Sucupira (1992, p. 33) a hiperatividade é neurológica, causada por lesões anatômicas
no cérebro, que requer tratamento medicamentoso. É mais cômodo taxar o aluno de
hiperativo, do que investir um pouco em atenção para com este que apresenta péssimo
rendimento escolar, inquietação, desinteresse, ausência total ou parcial de aceitação para

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vestir a armadura imposta pelo sistema de ensino. E esta é, às vezes, a causa e a
consequência do fracasso escolar de muitos gênios que frequentaram as escolas
públicas, que frustados vêm seus sonhos de realizações se evaporarem junto com o
rótulo de hiperativos.

Indisciplinado, outro rótulo para o aluno resistente, ativo? A criança que


renuncia o aprender e se apresenta sempre agitada, inquieta, agressiva diante de
situações que não aceita, é rotulada de indisciplinada.

No ambiente escolar, este comportamento logo é denominado de


indisciplina e não se faz uma análise e reflexão mais profunda para detectar as causas do
desajuste às normas e padrões esperados.

No fazer escolar perde-se muito tempo com questões de comportamento


dos alunos que são agressivos. O tempo de aula, na maior parte, é usado por professores
e pessoal técnicoadministravo, na tentativa de se encontrar fórmulas facilitadoras das
relações destes alunos com a escola. Os meios de comunicação mostram constantemente
desajustes de comportamento de jovens estudantes na escola e fora dela e esta situação
os coloca como vândalos, rebeldes, sem educação e outros adjetivos.

Ocorre, assim, um consenso geral, que determina que um aluno com


comportamento inadequado, rebelde, intransigente, desacatante, desrespeitoso, com as
autoridades, seja passível de convite a se retirar da escola, ou seja, não se ajustou às
normas e regulamentos escolares, é um aluno problema.

Os alunos também rotulam os professores quando são considerados mais


exigentes quanto as responsabilidade do aluno para com a escola e o estudar, de bruxo
(a), general (a), mal-amado (a), solteirão (ona), na maioria das vezes, dificultando o
fazer pedagógico deste profissional. Isto sem qualquer tentativa de se compreender os
processos internos e externos que levam o alunado a um comportamento, que interfere
no processo de aprendizagem.

Esta observação interessante é que para este grupo de alunos rebeldes,


professores bonzinhos e os tiranos (alunos e professores), a disciplina assume conotação
de opressão e enquadramento, servindo, de um lado para justificar práticas despósticas e
de outro, para estimular uma espécie de tirania às avessas, na qual o Projeto Político
Pedagógico da Escola deve ficar submetido a uma das partes (criança, adolescente X
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professores) independentemente da visão da outra parte, ignorando-se assim, as relações
interativas de ensinar e aprender.

Nesta ótica, a escola é vista e tida como instrumento da burguesia que a


conserva e desenvolve como instituição de natureza ideológica e instrumental para a
reprodução de seus interesses, de natureza cultural e material. Identifica-se que os filhos
da burguesia se saem bem nessa escola, o que ratifica que ela além de inculcar as
ideologias que garantem a hegemonia da classe burguesa, produz a consciência e o
treinamento dos trabalhadores ajustados ao modo de reprodução capitalista.

O processo educacional deveria ter como consequência à integração dos


indivíduos em seus respectivos grupos, em vez disso, promove a alienação, através do
processo de reprodução imitativa. Ela se torna sinal da própria fisionomia do grupo em
questão: integra alienando, isto é, estabelece uma relação acrítica entre seus membros
onde se deve dizer amém para tudo.

É isto que ocorre no interior das escolas. A amaioria dos alunos acaba
concordando com todos os desmandos de alguns professores que muitas vezes estão
desmotivados e permanecem na escola por acomodação e garantia de um pequeno
salário num mundo de desempregados.

Consequência: não há o que esperar da escola e como está posta qualquer


proposta para seu fortalecimento, pois, este é um esforço aos interesses de preservação
da proposta burguesa para a sociedade. Mas é claro que se poderá inverter esta
consequência, desde que se pense na escola cuja maior função não seja rotular,
estigmatizar, discriminar, fazer suposições preconceituosas a respeito da possível
incopetência dos alunos para a prendizagem, nem levantar hipóteses derrotistas acerca
das potencialidades cognitivas das crianças. Mas proporcionar ensino de qualidade a
todos.

Mas para que se possa concretizar esta escola é necessário desmistificar


algumas idéias acerca da possível relação entre o analfabetismo dos pais e a suposta
incapacidade de aprender a ler dos filhos.

Ser analfabeto é aquele que não aprendeu a ler e a escrever, deve-se


questionar então, por que isso ocorreu? Se por incapacidade ou por falta de
oportunidade, uma vez que, analfabetismo, já se sabe, não é sinônimo de falta de
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inteligência, a menos que incapacidade tenha sido provocada por algum tipo de
patologia. Este estudo não contempla a análise deste campo, porém pode-se concluir
que não existe nenhuma relação entre analfabetismo dos pais e de dificuldade de
aprendizagem dos filhos.

Sobre a mania de a escola rotular crianças de várias formas, com relação


a sua inteligência há uma citação muito interessante no livro Na vida dez na escola zero
Carraher (1991, p. 174) que se refer aos modelos correntes em Psicologia para medir a
inteligência das crianças: As consequências da rotulação de uma criança com
números referentes ao seu Q.I. ou, seus níveis de desenvolvimento, são sérias demais
para que continuemos usando esses procedimentos na prática, sem necessária
consideração de seu contexto.

O lamentável nisso tudo é que se a escola acredita nessa cultura de


superioridade e inferioridade nas potencialidades das crianças, há que se trabalhar a
desmistificação, para tanto é necessário que se faça uma escola desalienante, para que
os rótulos de filho de boia-fria, filho de analfabetos, e outros, deixem de interferir no
processo de escolarização das crianças em geral.

Em um de seus trabalhos mensuráveis sobre a alfabetização e Pobreza,


Luís Carlos Cagliari (p. 28), se refere à falta de confiança que os professores tem na
capacidade de aprender de seus alunos e que em decorrência disto a escola inventou as
atividades de prontidão. Este também é um rótulo (preconceituoso), mas com relação às
crianças de classes populares, pois se as mesas crianças aprenderam a falar bem antes de
entrarem na escola, e para isso não precisam de treinamento de prontidão e, nem foi a
priori levantada a dúvida quanto a sua capacidade discriminativa, para que começassem
a falar ou não, porque quando chegam na escola precisam provar que estão prontas para
serem alfabetizadas?

Como se vê o problema está na pobreza e estreiteza mental da própria


escola, que não sabe fazer as coisas como deveria, então simplesmente, rotula seus
alunos de coitados, incapazes, sem pré-requisito, filhos disto ou daquilo, dentre outros
pertinentes.

Se a escola um dia resolvesse mesmo que fosse por curiosidade, avaliar


os seus alunos, levando em conta sua cultura, sua bagagem, sua linguagem, teria

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surpresas interessantes sobre potencialidade e capacidade dos seus alunos, que ela
costuma rotular de tantas formas desastrosas o desenvolvimento cognitivo deles. Talvez
assim, se chegaria a uma conclusão quase óbvia, de que há muito português,
matemática, ciências, história, geografia nas escolas formadoras dos professores
alfabetizadores, mas efetivamente, pouco de pedagogia, psicologia, sociologia, filosofia
e até mesmo antropologia, nas escolas que formam os organizadores da sociedade
humana.

A crença nas expectativas positivas ou negativas geradas na relação


aluno e professor fizeram com que se despertasse para a necessidade de ouvir alunos e
professores a respeito de rotulamento. Para esta escuta foram aplicados questionários
(modelo em anexo) com quatorze perguntas abertas e fechadas, visando encontrar no
universo do aluno e na visão do professor a leitura que se faz da escola e que leva o
aluno a se interessas ou não pela educação escolar.

Contribuíram para este estudo professores e alunos de três escolas do


Ensino Fundamental no Município de Chupinguaia/RO. Os professores além de
responderem ao questionário solicitado, permitiram que fossem anotadas suas
observações referentes aos alunos considerados problemas. Porém, para uma maior
confiabilidade nos dados, optou-se por não lhes informar o momento da coleta destes
que aconteceram durante as reuniões pedagógicas e em outras oportunidades como, por
exemplo, em conversas informais na sala do cafezinho.

Muitas são as causas apontadas por eles para o fracasso escolar. Alguns
responsabilizam a política educacional que consideram excludente, outros, indicaram
como principais causas: a desnutrição, desagregação familiar, má distribuiçaõ de renda
e outros. Uns poucos sugerem que o problema está diretamente ligado com a cultura
discriminatória e de exploração da qual muitos são vítimas pela trajetória histórica da
sociedade brasileira.

Deste modo, buscou-se identificar as formas usuais dos professores


rotularem seus alunos, no universo destas três escolas pesquisadas. Analisando as
respostas e os dados obtidos através das falas dos professores identifica-se que eles
ratificam o que está socialmente determinado pela posição econômica dos indivíduos.
E, para a compreensão das colocações presentes nessas falas buscou-se na literatura

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referências às diferentes abordagens encontradas nas suas respostas: psicologista,
biologista e culturalista.

3.Conclusão

Neste estudo se entende a ação de rotular como: identificar, limitar,


discriminar, estigmatizar, adjetivar. Rotular também é fazer suposições
preconceituosas a respeito da possível incompetência das ou das crianças para aprender
algo.

Refletindo sobre a questão do rótulo é possível considerar que há um


forte indício para se acreditar que este é responsável não só por dificuldades de
aprendizagem, mas por boa parcela de fracassos sucessivos de muitos alunos da escola
pública.

O artigo encaminhou-se para estas considerações e muitas são as


pesquisas que tratam do tema fracasso, enfocando a escola, o aluno, o sistema e os
métodos, no entanto, pouco se menciona a palavra rótulo e suas implicações diretas e
indiretas no processo de ensino-aprendizagem.

Na literatura consultada poucas referências foram encontradas da palavra


rótulo propriamente dita, porém, implicitamente a rotulação é elaborada de muitas
maneiras. Todavia, Carraher (1991, p. 174) já citada, usa a palavra rotulação e Jaqueline
Moll em seu livro Alfabetização possível (1997, p. 47) faz uso do verbo rotular quando
afirma: Por desconhecer a criança de classes populares e seu modo de vida a escola
cobra dela, como se fossem naturais, as atividades e comportamentos para ela
incompreensíveis. O que é afinal ser de classe popular? Caracteriza-se, portanto, que
este já é um rótulo.

Uma questão apontada pelo estudo é a visão dos professores que rotulam
os alunos-problemas e os responsabilizam pelo mau desempenho da escola nos
procesos de ensino-aprendizagem e segundo Rosental e Jacobson, citados por Patto em
Introdução à Psicologia Escolar (1989, p. 258) o professor consegue menos porque
espera menos esta é a essência do que se pode chamar de profecias aoto-realizadoras na
sala de aula.

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Outra indicação deste artigo está ligada ao fato de que os professores
entrevistados isentaram a escola da co-responsabilidade pelas dificuldades encontradas
pelos alunos no desempenho escolar e rotularam os alunos de: inaptos, desmotivados,
indisciplinados, irresponsáveis, desinteressados, fracassados, desnutridos, imaturos,
desatenciosos, despreparados, desestimulados entre outros mais, jogando a culpa na
criança, família e sociedade sem considerar a escola mais um espaço onde a criança
desenvolve procesos de vida individual e coletiva.

Para os rotuladores de plantão, os alunos da escola pública não possuem


base cultural alguma, pois a maior parte dos pais não tem instrução completa, muitos
são analfabetos e opor isso, não valoriza a escola, portanto, não possuem condições de
preparar seus filhos com os pré-requisitos necessários para o sucesso escolar.

Falta ao aluno o direito de ser respeitado no seu ritmo de aprendizagem,


na sua cor, na sua classe social, na sua crença. È necessário que ele tenha o direito de
iniciar o processo escolar a partir de seu conhecimento, de sua visão de mundo no início
do ano letivo. É preciso que se pare de culpar somente o aluno pelo seu fracasso com
rótulo de incapaz, preguiçoso, desinteressado, apático, desmotivado, incopetente, e
tantos outros. A responsabilidade maior é dos adultos diretamente envolvidos no
processo educacional e nas instituições: escola, família. Sem mencioanr, todavia, as
políticas educacionais dos governantes, cujo compromisso com a escola é questionável.

Quanto ao professorado, vale lembrar que ele também é preparado em


todo o seu percurso escolar para participar de um sistema autoritário, em que se deve
dar continuidade ao paradigma de alunos desmotivados e já, previamente, rotulados por
esta sociedade capitalista e, portanto, classificatória.

4.Referências Bibliográficas

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Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 1992.

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15
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GARCIA, Regina Leite. Alfabetização de alunos de classes populares: ainda um


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MOLL, Jaqueline. Alfabetização possível: reinventando o ensinar e o aprender.


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NIDELCOFF, Maria Tereza. A escola e a compreensão da realidade. São Paulo:


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trabalhada? In: Ciclo Básico. São Paulo, 1985.

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ROSEMBERG, Lia. Educação e desigualdade social. São Paulo: Loyola, 1984.

SOARES, Magda Becker. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo:
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SUCUPIRA, 1992, p. 33. Xerox (material original não consultado).

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