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FRACASSO ESCOLAR
Marilene Crist 1
RESUMO: Historicamente a sociedade humana rotula os indivíduos de acordo com suas aptidões ou
inaptidões, classes sociais ou qualquer outro motivo. O rótulo está tão presente nas relações sociais que na
maioria das vezes se identifica claramente o que é rotular e quais as suas implicações. Quanto de rótulos
são impressos nas crianças todos os dias ao longo dos anos letivos? A rotulação é abordada neste artigo
como subterfúgio para justificar o fracasso dos alunos da Escola Pública, no ensino fundamental. O
professor, nem sempre, está preparado para lidar com as diferenças individuais caracterizadas como falta
de vontade de estudar, falta de criatividade e talento para o ensino escolar. Na sociedade de consumo em
que o mercado dita as regras da qualidade, o rótulo tem sido mais um mecanismo do perverso processo
seletivo escludente que se evidencia no interior das instituições escolares e nega ao aluno pobre, a
oportunidade de ascensão social via conhecimento organizado. E, por se acreditar que rotular também é
levantar hipóteses derrotistas a cerca das potencialidades intelectuais ou sociais de alguém, é possível
identificar que o aluno não fracassa por vocação ou vontade própria. Assim sendo, este estudo identifica
em seu corpo que o rótulo é um dos fatores responsáveis pelo fracasso escolar.
ABSTRACT: Historically human society labels people according to their skills or lack of skills, social
class or any other reason. The label is so present in social relations that most often is identified clearly
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Marilene Crist. Graduada em Pedagogia pelo PROHACAP, 2003, Chupinguaia/RO.
1.Introdução
Sabe-se que muitas são as questões da escola que solicitam reflexões. Por
exemplo, o Currículo das Escolas Públicas precisa ser repensado com urgência.
Necessita de uma readequação no que é essencial e secundário. A formação do
professorado é outra questão delicada que exige uma análise mais aprofundada. Assim
como as estruturas físicas das escolas. Mas, talvez o contexto cultural seja o maior
responsável por promover ou não às mudanças necessárias para que a instituição escolar
pública atenda com qualidade as necessidades de escolarização dos seus educandos.
2.Desenvolvimento
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É tão comum se ouvir destas escolas colocações, tais como, está criança é
imatura para ser alfabetizada, ou então, que não possuem pré-requisitos: coitada, os
pais dela trabalham na foice, roçando mato, por esta e outras razões que dificilmente,
poderão ter um futuro estudantil melhor.
Outro rótulo comum é de que seus pais são analfabetos, como prováveis
causas do fracasso dessas crianças na alfabetização. Explicitar estes rótulos em público
é grave e torna o rótulo uma arma poderosa contra o sucesso do aluno. Quando se
imprime um rótulo a alguém se está pré-conceituando, desacreditando e ignorando sua
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capacidade de aprender e não há a preocupação de reverter esta hipótese derrotista
acerca das potencialidades cognitivas do indivíduo. Quando não há expectativas
positivas não há investimento por parte do professor.
Deste modo o fantasma do fracasso escolar está cada vez mais presente
nas estatísticas da escola.
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atender, preparar e promover a maioria das crianças procedentes dos
setores mais abandonados da população. Ela é, pois, uma escola para
20%, não é uma escola para os 80%. Uma escola que vê como
desenvolvimento normal, desejável, e até exigível de toda criança, o
rendimento “anormal” da minoria de alunos que tem quem estude com
eles em casa, mais algumas horas, e que vivem com famílias em que
alguns membros já têm escolarização. Funcionando na base dessa falsa
expectativa, ela é uma escola hostil à sua clientela verdadeira, porque
sendo uma escola pública, a sua tarefa é educar as crianças brasileiras, a
partir da condição em que elas se encontrem.
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vestir a armadura imposta pelo sistema de ensino. E esta é, às vezes, a causa e a
consequência do fracasso escolar de muitos gênios que frequentaram as escolas
públicas, que frustados vêm seus sonhos de realizações se evaporarem junto com o
rótulo de hiperativos.
É isto que ocorre no interior das escolas. A amaioria dos alunos acaba
concordando com todos os desmandos de alguns professores que muitas vezes estão
desmotivados e permanecem na escola por acomodação e garantia de um pequeno
salário num mundo de desempregados.
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surpresas interessantes sobre potencialidade e capacidade dos seus alunos, que ela
costuma rotular de tantas formas desastrosas o desenvolvimento cognitivo deles. Talvez
assim, se chegaria a uma conclusão quase óbvia, de que há muito português,
matemática, ciências, história, geografia nas escolas formadoras dos professores
alfabetizadores, mas efetivamente, pouco de pedagogia, psicologia, sociologia, filosofia
e até mesmo antropologia, nas escolas que formam os organizadores da sociedade
humana.
Muitas são as causas apontadas por eles para o fracasso escolar. Alguns
responsabilizam a política educacional que consideram excludente, outros, indicaram
como principais causas: a desnutrição, desagregação familiar, má distribuiçaõ de renda
e outros. Uns poucos sugerem que o problema está diretamente ligado com a cultura
discriminatória e de exploração da qual muitos são vítimas pela trajetória histórica da
sociedade brasileira.
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referências às diferentes abordagens encontradas nas suas respostas: psicologista,
biologista e culturalista.
3.Conclusão
Uma questão apontada pelo estudo é a visão dos professores que rotulam
os alunos-problemas e os responsabilizam pelo mau desempenho da escola nos
procesos de ensino-aprendizagem e segundo Rosental e Jacobson, citados por Patto em
Introdução à Psicologia Escolar (1989, p. 258) o professor consegue menos porque
espera menos esta é a essência do que se pode chamar de profecias aoto-realizadoras na
sala de aula.
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Outra indicação deste artigo está ligada ao fato de que os professores
entrevistados isentaram a escola da co-responsabilidade pelas dificuldades encontradas
pelos alunos no desempenho escolar e rotularam os alunos de: inaptos, desmotivados,
indisciplinados, irresponsáveis, desinteressados, fracassados, desnutridos, imaturos,
desatenciosos, despreparados, desestimulados entre outros mais, jogando a culpa na
criança, família e sociedade sem considerar a escola mais um espaço onde a criança
desenvolve procesos de vida individual e coletiva.
4.Referências Bibliográficas
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 1992.
CARREHER, Terezinha Nunes e outros. Na vida, dez na escola zero. São Paulo,:
Cortez, 1991.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio: o dicionário da
Língua Portuguesa. 4ª ed. Revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SOARES, Magda Becker. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo:
Ática, 1986.
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