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Priscila Campana
Sumário
1. Introdução. 2. Panorama histórico do
surgimento do Direito do Trabalho. 2.1. O direito
trabalhista no Brasil de 1891 a 1930. 3. Do Estado
de bem-estar social. 3.1. Getúlio Vargas e o
surgimento da legislação trabalhista no Brasil.
4. Dos anos setenta ao neoliberalismo: panora-
ma mundial. 4.1. Globalização como um novo
imperialismo. 4.2. Os direitos sociais como
obstáculo à acumulação do capital. 5. Sobre o
neoliberalismo no Brasil. 5.1. Desregulamentação
e ideologia. 6. Considerações finais.
1. Introdução
Este trabalho objetiva uma reflexão
crítica sobre a desregulamentação no Direito
do Trabalho e sua relação com a atual crise
capitalista. Nesse sentido, o tema foi
abordado numa mescla entre aspectos
jurídicos e econômicos nas expressões do
Estado liberal, social e neoliberal.
Nesse contexto, torna-se possível enten-
der o desenvolvimento da regulamentação
dos direitos trabalhistas atrelados ao Estado
social, para finalmente compreender os
porquês das atuais “flexibilizações” norma-
tivas, constatando que o processo globali-
zador de acumulação do capital orienta a
política de um Estado neoliberal.
Dessa maneira, principalmente, é pos-
sível perceber o quanto o processo de
regulamentação, e posteriormente de desre-
Priscila Campana é mestranda em Relações gulamentação desses direitos sociais, está
Sociais/CPGD-UFPR, advogada e professora atrelado ao sistema de produção capitalista,
nas Faculdades Santa Cruz. suas crises e suas adaptações, tendo como
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pano-de-fundo o movimento histórico da lizar-se no século XX, no processo inter-
luta de classes. vencionista 2 do Estado.
As reivindicações das massas urbanas
2. Panorama histórico do surgimento trabalhadoras cresciam associadas às
do Direito do Trabalho representações socialistas e anarco-sindica-
listas, e ao impacto ideológico da Revolução
Historicamente, o campo para o desen-
Russa de 1917.
volvimento do Direito do Trabalho surgiu
Desse momento histórico decorre o
no quadro social da Revolução Industrial,
constitucionalismo social3, afirmando que
no século XVIII, e da razão iluminista, que
o Estado deveria incluir direitos trabalhistas
erigia a garantia da dignidade do homem
e sociais fundamentais na sua Constituição,
trabalhador de indústria1.
pondo o trabalho sob sua proteção, garan-
As massas operárias foram-se formando
tindo a liberdade de associação, fixando
juntamente com crescimento industrial da
salários e condições laborais. Exemplos
cidade – na Inglaterra a mão-de-obra
marcantes desse processo foram a Consti-
provinha principalmente do campo – e
tuição Social Mexicana em 1917, a Declara-
surge a figura do proletário: um trabalha- ção Russa dos Direitos do Povo Trabalhador
dor prestador de serviços em jornadas de 14 e Explorado de 1918 e Constituição de
a 16 horas, habitante nas adjacências Weimar em 1919. Ao final da Primeira
subumanas do próprio local de atividade, Guerra, em 1919, foi criada a Organização
com prole numerosa e ganhador de salário Internacional do Trabalho, consagrando os
em troca da venda da sua força de trabalho. direitos fundamentais dos trabalhadores e
Não havendo regulamentação das rela- criando uma legislação internacional do
ções de trabalho, o livre acordo das partes trabalho4.
acabava por ocorrer injustamente, haja vista O Estado deveria defender os traba-
que era o empregador, pólo mais forte da lhadores pondo o trabalho sob sua proteção,
relação, quem determinava ou modificava a garantindo a liberdade de associação para
jornada, as condições de trabalho e os defesa das condições de trabalho e produ-
salários, conforme suas necessidades. A ção, reafirmando as normas de seguros
inexistência de contratos escritos pressupu- sociais e permitindo a participação do
nha então a falta de garantias mínimas ao trabalhador na empresa fixando salário e
trabalhador. condições laborais.
O liberalismo, embora permitisse a livre- As positivações significaram um efetivo
troca do trabalho por salários e a transfor- avanço na esfera social. E entre as várias
mação da riqueza em capital, pregava que o conquistas, escreve Karl Marx5 que “a regu-
Estado deveria interferir o mínimo nas rela- lamentação da jornada de trabalho se apre-
ções sociais, assegurando a liberdade civil senta, na história da produção capitalista,
e política, mas respeitando a existência de como luta pela limitação da jornada de tra-
uma ordem econômica natural. balho, num embate que se trava entre a clas-
Nesse contexto, quando a organização se capitalista e a classe trabalhadora”.
sindical surgiu estruturando o movimento O Direito do Trabalho, então, esclarece
trabalhista, foi clandestinamente. O reco- Luiz W. Vianna6, representa uma conquista
nhecimento oficial dos sindicatos na da classe trabalhadora
Inglaterra ocorreu somente em 1871 e na “contra o pacto original do libera-
França, em 1884. lismo, impondo limites legais ao
O direito trabalhista, a partir da ação dos homem apetitivo. É com leis de exce-
trabalhadores associados para defesa dos ção, sublinha Marx, que as leis de
seus interesses contra a exploração capita- proteção ao trabalho aparecem duran-
lista, entretanto, somente foi instituciona- te a primeira metade do século XIX,
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criando um ramo do direito ao largo Justamente após a explosão das grandes
das relações privadas, puramente greves de 1917-1919, principalmente em São
mercantis”. Paulo e no Rio de Janeiro, o Congresso
aprova em 1919 a Lei de Acidentes do
2.1. O direito trabalhista no Brasil
Trabalho, sendo criada também a Comissão
de 1891 a 1930
de Legislação Social.
A legislação trabalhista no Brasil foi ter Progressivamente, a Lei Elói Chaves, de
campo para se desenvolver somente com o 1923, criou a caixa de aposentadoria e
início da industrialização 7 do país e a pensões para ferroviários, assim como
expansão da relação assalariada, após a estabilidade para os mesmos trabalhadores
proclamação da República. que completassem dez anos de emprego,
Com a concentração de 30% das indús- sendo a rescisão contratual, nos casos
trias nacionais no Rio de Janeiro e 16% em permitidos, precedida de inquérito. No
São Paulo, a população nessas capitais mesmo ano, é criado o Conselho Nacional
aumentava gradativamente. Havia também do Trabalho, órgão de caráter consultivo dos
diversas oficinas de manufaturas de calça- poderes públicos, em assuntos relativos à
dos, vestuário, móveis, e tintas, embora organização do trabalho e da previdência
geralmente em locais longe de fiscalização. social, sendo composto por operários,
Os trabalhadores eram, na maioria, imigran- patrões e funcionários do Ministério da
tes italianos, portugueses e espanhóis8. Agricultura, Indústria e Comércio.
Entretanto, esse período desconheceu Em 1925, foi reconhecido o direito a
limitações legais à exploração do trabalho férias, com a Lei nº 4.982/25. E, posterior-
humano e as condições de trabalho dos mente, em 1927, editou-se o Código de
operários eram péssimas com salários Menores, introduzindo medidas de assistên-
baixos, elevadas jornadas de trabalho e cia e proteção aos menores de dezoito anos,
ambientes de trabalho insalubres. dispondo sobre o seu trabalho também.
O quadro era coerente ao Estado de
inspiração liberal, pois a sua intervenção
na formação de contratos era vista como
3. Do Estado de bem-estar social
limitação à liberdade dos contratantes. O declínio do Estado liberal teve seu
Contudo, o número de greves, organiza- processamento com a primeira guerra
das pelo movimento dos trabalhadores na mundial e posteriormente com a crise capita-
busca por melhores salários e redução da lista de 1930, o que propiciou o desenvolvi-
jornada de trabalho, começou a se elevar, mento do Estado social, também chamado
passando a ser uma preocupação. de Intervencionista, de Bem-estar ou Provi-
Então, surgem as primeiras normas dência, cuja característica era o dirigismo10.
regulamentadoras da relação de trabalho Com a quebra da Bolsa de Valores em 1929,
nesse período. Em 1891, houve institucio- a recuperação da crise capitalista somente
nalização de fiscalização permanente dos viu solução na política keynesiana11 de
estabelecimentos fabris onde trabalhasse intervenção estatal na economia.
um elevado número de menores. Foi vedado O Estado social vê então campo para seu
o trabalho noturno dos menores de quinze desenvolvimento, sem atingir totalmente a
anos e limitada a sete horas a jornada de autonomia da empresa privada, mas com
trabalho. A menores de doze anos era importante participação na promoção de
proibido o trabalho. As normas sobre benefícios sociais como a execução de
sindicatos foram o Decreto n º 979, de 1903 – programas de moradia, saúde, educação,
sindicatos rurais–, e o Decreto Legislativo previdência social e pleno emprego, por
nº 1.637, de 1907, a respeito dos sindicatos meio da redução da taxa de juros e do
urbanos 9. incentivo a investimentos públicos.
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De outro modo, o Estado social corres- atrelamento ao Ministério do Trabalho, por
pondeu também a um pacto social-demo- exemplo. O objetivo era a contenção do
crata entre capitalistas e trabalhadores movimento dos trabalhadores e, ao mesmo
numa fase expansionista capitalista de 1940 tempo, a criação de mercado consumista
até o final dos anos 60. Esse período de para algumas indústrias nacionais.
crescimento capitalista, marcado por livres Nessa década de 1930 é que, portanto,
movimentos de capital, moedas estáveis e uma “legislação social”15 efetiva teve campo
livre comércio, representado também por para expandir-se, numa política pública
multinacionais e instituições financeiras estatal denominada de trabalhismo16.
americanas instaladas em todos os conti- O trabalhismo getulista vem caracterizar
nentes, é o que Hobsbawn chama de “era de tal período, sintetizando o elo do Estado
ouro” 12. Politicamente, ocorria a atuação social legiferante com a classe operária.
forte do Estado como justificativa também O Estado, desempenhando um novo
de contenção do comunismo, haja vista a papel e influenciado pelo modelo corpora-
disputa pela hegemonia mundial travada tivista 17 italiano, passou a intervir nas
entre os EUA e a URSS. relações de trabalho.
O desenvolvimento maior do direito Tais medidas interventivas, entretanto,
trabalhista veio justamente nesse período, foram aliadas à repressão policial. Ao
nas décadas de 50 e 60, num contexto de mesmo tempo em que surgiram vários
grande desenvolvimento econômico, em institutos previdenciários, construção de
que o Estado de bem-estar investia crescen- hospitais e conjuntos residenciais para os
temente nos benefícios sociais. trabalhadores, as greves eram proibidas.
Entretanto, na crise do Estado social, a Foi sendo estruturada uma gama norma-
partir dos choques econômicos na década tiva: instituiu-se a Carteira Profissional em
de setenta, é que surge o neoliberalismo13, e,
1932, disciplinou-se a duração da jornada
com ele, o discurso sobre a desregulamen- de trabalho do comércio, na indústria, nas
tação dos direitos trabalhistas, como única farmácias, nos bancos, nos transportes
solução possível para a competitividade terrestres e nos hotéis.
das empresas privadas e para os avanços O direito coletivo, por outro lado, teve
tecnológicos. sua instituição legal em 1931. Os sindicatos
3.1. Getúlio Vargas e o surgimento da foram considerados órgãos de defesa dos
legislação trabalhista no Brasil interesses profissionais e dos direitos dos
seus associados, bem como órgãos de
No Brasil, a crise mundial de 1929 “colaboração” do Estado, num cunho
favoreceu o desenvolvimento interno capi- bastante paternalista.
talista do país. A produção antes exportável O período do Estado Novo, situado entre
direcionou-se para o mercado interno e o 1937 e 1945, foi de grande ambiguidade, pois
crescimento industrial projetou então a associava o autoritarismo com o desenvol-
intervenção do Estado no mercado, como vimento econômico e social, principalmente
planejador econômico por meio de atuações por meio da implantação de uma ampla
a favor da burguesia industrial nacional14. legislação trabalhista e de apoio à indus-
Todavia, nesse processo, as greves se trialização, mediante projetos na área
multiplicaram. siderúrgica e petrolífera. O movimento sin-
O governo Vargas, então, procurou dical foi controlado, censurado e reprimido.
também criar elos fortes com a classe O nacionalismo desenvolvimentista foi,
operária, pondo em prática mecanismos de segundo Octávio Ianni, o núcleo ideológico
conquista ideológica e de disciplinamento das políticas de massa, em que a crescente
de suas organizações sindicais, como seu participação estatal na economia foi funda-
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mental: “é nesse contexto que se situam as porou a preocupação de um grupo de
conquistas das classes assalariadas, em políticos, empresários e militares naciona-
especial do proletariado” 18. listas como o planejamento econômico. A
Em 1940, foi criado o salário mínimo, que utilização do pensamento tecnocrático era
objetivava diminuir a pauperização da vista como uma forma de fortalecer o
classe operária, ao mesmo tempo em que controle estatal sobre as decisões político-
ampliava o mercado consumista para as econômicas, sem o que seria inviável o
indústrias de bens de consumo leve. Ou seja, desenvolvimento do capitalismo nacional.
o populismo19 propiciou que fossem conci- De forma genérica, esse período eviden-
liados interesses em benefício da industria- ciou que o Estado intervencionista, desen-
lização e do desenvolvimento nacionalista. volvido a partir de 1930 no Brasil, atrelou-
Nesse mesmo ano de 1940, é criado o se aos projetos de industrialização, culmi-
imposto sindical, e em 1943, posta em vigor nando na ampliação do setor produtivo e
a Consolidação das Leis do Trabalho, num na diversidade de produtos na década de
contexto de resistência patronal às conces- 50, tendo também criado legislação prote-
sões de direitos trabalhistas e subordinação cionista ao trabalhador.
do operariado aos aparelhos corporativos e Entretanto, o Estado social brasileiro não
repressivos do Estado. impediu que o capitalismo, em busca da
As medidas destinavam-se, em síntese, lucratividade, continuasse a exploração ao
a manter as relações de produção em trabalhador. Os direitos trabalhistas positi-
conformidade com as exigências do desen- vados não se efetivavam. Ou seja, apenas
volvimento econômico. na versão econômica keynesiana é que o
Apesar disso, a concretização de uma Estado brasileiro seguiu a política de inter-
legislação visando a garantia de direitos dos venção, com vistas ao aumento de riqueza
trabalhadores significou um avanço social, nacional e na política de emprego22.
resultado de reivindicações, tensões e lutas
operárias. À medida, inclusive, que a 4. Dos anos setenta ao neoliberalismo:
economia nacional se desenvolve e se panorama mundial
diversifica com a industrialização, as greves Num panorama mundial, em face da
são multiplicadas20. crise econômica do sistema a partir da
A partir dos anos 50, a concentração de década de setenta, das altas inflações
multidões nos grandes centros urbanos (sistema superaquecido diz Hobsbawn)23, o
favoreceu as tensões entre a política de Estado social entra igualmente em crise, e a
massas e o programa de industrialização, política neoliberal vem emergir com o
caracterizando o segundo governo de objetivo de garantir a acumulação de
Vargas por mobilizações, como a greve dos capital. A crise petrolífera surgia como
300 mil, em 1954, e que eclodiu em São Paulo agravante, com choques de preços, inflação
durando 29 dias. A industrialização nessa e desemprego.
década de 50 trouxe a modernização21, mas Assim, a doutrina neoliberal de Hayek,
também o agravamento dos conflitos sociais. embora formulada no pós-guerra, foi somen-
Desde a década de 30, com um desen- te ter terreno para se desenvolver no final
volvimento amplo da indústria brasileira, dos anos 70, inaugurada pelo governo
por meio da substituição de importações, o Thatcher em 1979 e o de Reagan em 1980.
Estado passara a intervir na economia, Os neoliberais pregavam que as origens
regulando a acumulação de capital e da crise estavam nos sindicatos e no movi-
investindo em setores básicos. No período mento operário, que prejudicava as bases
de 1950, como demostram os projetos da de acumulação capitalista com suas reivin-
Petrobrás e da Eletrobrás, o Estado incor- dicações sobre os salários e direitos sociais24.
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Nesse sentido, o neoliberalismo defende zação é relacionada à atual expansão capi-
um Estado minimizado em relação aos talista, internacionalizando capitais e sendo
direitos sociais e trabalhistas e, ao mesmo impulsionada por uma revolução tecnoló-
tempo, passivo em relação aos lucros dos gica. Nesse sentido, as empresas transna-
capitalistas e aos interesses do mercado25. cionais alargam suas atividades difundindo
Preconiza liberdade de movimentos para técnicas de produção. E as fronteiras
todos, menos leis, mais espaço para a nacionais deixam de ser limites às ativi-
economia desenvolver-se livremente, mesmo dades do capitalismo29.
desprezando políticas públicas estatais. As implicações decorrentes são grandes
Está, enfim, atrelado a essa nova fase do para o Estado do Terceiro Mundo. De
capitalismo internacional que orienta a maneira geral, e para o que aqui interessa, a
formação de centros econômicos em regiões, “mundialização” provoca crise de regula-
a derrubada de fronteiras comerciais, a livre ção estatal em dois sentidos: primeiro, na
circulação do capital e o fortalecimento de incapacidade do Estado em garantir a
conglomerados transnacionais. segurança dos cidadãos e a integridade
Assim, o Estado deveria parar de inter- territorial e, segundo, na submissão desse
ferir no mercado (opondo limites ao capital) mesmo Estado ao poder de forças econômi-
e na defesa dos direitos sociais. Seu papel cas supranacionais.
passava a ser o de interferir no incentivo Pode-se assim dizer que o processo de
aos processos de oligopolização e nos de globalização é aquele que preconiza regras
avanços da tecnologia26. do mercado capitalista sobrepostas a
Na atual década de noventa, principal- qualquer legislação social, sob controle das
mente após as transformações ocorridas na empresas transnacionais e em prejuízo das
Europa oriental e na União Soviética, regulamentações originadas da soberania
ocorrida de 1989 a 1991, o projeto neoliberal estatal dos países periféricos.
tem avançado 27 , preocupando os seus
opositores com as privatizações das empre- 4.2. Os direitos sociais como obstáculos à
sas estatais e desregulamentações dos acumulação do capital
direitos trabalhistas. Contudo, essa internacionalização do
capital passou a simbolizar modernização,
4.1. Globalização como um novo imperialismo
em meio ao neoliberalismo, e difunde-se a
Na esteira do projeto neoliberal, as concepção de que, para que se possa
últimas décadas têm vivido fenômeno não acompanhar os movimentos globais e
tão hodierno quanto pareça: a globali- permitir o ingresso do Brasil na “moderni-
zação28. O fenômeno não é novo, pois, desde dade”, é necessário um sistema jurídico ade-
que o capitalismo se desenvolveu na Euro- quado à nova economia mundial e um Judi-
pa, sempre apresentou características ciário que se subordine ao mesmo ideário30.
transnacionais, mundiais, desenvolvidas Nessa conjuntura, é possível perceber por
por meio do mercantilismo, colonialismo e que tem-se tornado cada vez mais difícil
imperialismo. fazer valer os direitos sociais (vários deles
Esse “novo imperialismo” significa uma já eliminados da legislação), compreen-
projeção capitalista na tendência de mun- dendo também por que a desregulamenta-
dialização da economia, cujo contexto é o ção no direito trabalhista faz parte da
da introdução de novas tecnologias e alta estratégia neoliberal. O neoliberalismo tem
produtividade. Mostra-se associado ao como objetivo a implementação de enxuga-
projeto neoliberal porque fortifica-se com o mento do Estado e, nesse contexto, de
enfraquecimento dos Estados nacionais desregulamentação dos direitos. Como outra
periféricos. Ou seja, a expressão globali- face da mesma moeda, a globalização
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intensifica a exploração de mercados exis- Uma ampla crise latino-americana,
tentes e explora novos, com o objetivo de principalmente a partir dos anos 80, propi-
perpetuar a lógica capitalista do lucro e ciou e vem mantendo o discurso neoliberal
acumulação31. forte em suas bases 33.
O discurso “modernizador” do neolibe- No plano econômico, a problemática é
ralismo preconiza que o Estado do bem-estar caracterizada pela dificuldade que tem o
social e todos os seus “produtos” sociais, Estado latino-americano em defender
como os direitos sociais, passaram a ser um interesses econômicos nacionais em face da
obstáculo muito grande para a economia onda da globalização. A soberania nacional
globalizada, pois o crescimento econômico é enfraquecida pelas imposições das enti-
do país e a competitividade no mercado dades financeiras internacionais. E, no
nacional ficam prejudicados por causa dos plano político, a crise passa pela incapaci-
direitos sociais e seus “custos” excessivos. dade do Estado em gerenciar suas funções
Nessa lógica capitalista, a prioridade não sociais básicas em nome da coletividade.
deixou de ser o lucro. Para Tarso Genro, o Estado brasileiro
Assim, o receituário neoliberal é imple- realiza um “keynesianismo às avessas”3 4
mentado por meio da flexibilidade no direito porque sua capacidade regulatória está
laboral, além das privatizações das empre- voltada à total submissão do capital finan-
sas estatais e do corte dos gastos públicos ceiro internacional.
sociais. Explicitamente, o Brasil e outros países
Tudo em coerência com a exploração latino-americanos aderiram às políticas
humana em nome do capital, em que o neoliberais depois de 1989, no chamado
neoliberalismo e a globalização, fenômenos Consenso de Washington 35, sucumbindo às
entrelaçados, vão também criando o contin- diretrizes impostas pelo Banco Mundial, FMI
e Banco Interamericano de Desenvolvi-
gente de desempregados 32.
mento. E as diretrizes apontavam para as
Dessa maneira, como doutrina, tem o
neoliberalismo uma grande implicação nas privatizações, para a desregulamentação
áreas política, econômica, social e cultural, dos mercados, redução do Estado e abertura
às importações 36.
mais gravemente sentida nos países de
No governo Itamar Franco, a hiperinfla-
terceiro mundo. Afeta o desenvolvimento
ção mostrou-se conveniente para produzir
industrial, elabora uma política exterior
o espaço em que o projeto neoliberal vinga-
submissa aos interesses econômicos do
ria. Além de indicar a solução para a inflação
capital estrangeiro, sucateia as bases da
educação e saúde pública. Prejudica, alta, os neoliberais passaram a ‘satanizar’
igualmente, o mundo do trabalho, provo- a figura do Estado do bem-estar social como
cando reflexões a respeito do desemprego, e ineficiente e corrupto, diferente do Estado
neoliberal, ágil e eficiente37.
também afeta a legislação social e traba-
Atualmente, no governo Fernando Hen-
lhista, por meio do que se pode chamar de
rique Cardoso, o neoliberalismo é aplicado
flexibilizações no Direito do Trabalho.
integralmente, com contração da emissão de
moeda, aumento das taxas de juros e
5. Sobre o neoliberalismo no Brasil abertura ao mercado internacional, criando
Nos países subdesenvolvidos, com a elevados níveis de desemprego38.
crise a partir de 1970, as dívidas externas Dessa maneira, para os neoliberais,
sofreram aumento, houve baixa dos preços algumas medidas são fundamentais para a
das matérias-primas e produtos agrícolas manutenção dos seus interesses no âmbito
no mercado mundial, elevou-se a taxa de capitalista: desregulamentação completa na
inflação e também do desemprego. economia e no direito, aceleração da com-
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petição em nível mundial e a supressão do cesso na história do direito trabalhista
máximo de entraves, para inserir o Estado brasileiro, indo de encontro ao princípio de
no processo de globalização. proteção ao trabalhador, contido na Consti-
tuição Federal de 198842.
5.1. Desregulamentação e ideologia
Contudo, para entender essa tendência,
Muitos autores fazem a distinção entre o é relevante, enfaticamente, observar o
conceito de flexibilização e o conceito de discurso neoliberal dessa tendência flexibi-
desregulamentação, traçando critérios lizadora das normas fundamentais do tra-
para a sua comparação e elaborando balhador, haja vista a nova ordem interna-
classificações 39. cional de globalização e os projetos econô-
Contudo, como a finalidade a ser alcan- micos “criados” para os países periféricos.
çada aqui é a de trazer o cunho ideológico e Infelizmente, o que muitos autores
político das flexibilizações, as diferenças acabam fazendo quando elaboram as
terminológicas são de menor importância, diferenciações entre desregulamentação e
já que tanto o que seria a flexibilidade quanto flexibilização é apenas mascarar o fator
o que seria a desregulamentação servem ao ideológico desse processo de “retirada dos
mesmo plano neoliberal, fazendo parte, direitos sociais”, sem questionamentos
como um todo, do processo de supressão políticos e filosóficos.
das conquistas obtidas no Estado social. O discurso neoliberal de globalização
Flexibilização, devendo ser percebida, defende a desregulamentação na justifica-
poderia ser definida como a possibilidade, tiva de que deva ocorrer para atender a uma
inserida na própria lei existente, de excetuar crise provisória do capital e que gerará
alguns direitos trabalhistas, tornando-os empregos. Contudo, explica J. C. A. Pereira:
maleáveis, o que já ocorre 40 . E, nessa “o que se constata é uma forma de obrigar
orientação flexibilizadora, pode-se tentar os trabalhadores a cederem seus direitos
conceituar o que seja a “desregulamen- laborais como meio de enfrentar a crise
tação”, como uma segunda etapa do projeto econômica, admitindo a incorporação de
neoliberal, pois a legislação trabalhista não certas formas contratuais atípicas”43.
sofre mais maleabilidade e sim é descartada, Ou, como explica Salete Maccalóz 44, a
em nome de formas autocompositivas de flexibilização é simples reformatio in pejus,
solução de conflitos. criação de novas leis, modificando as
Dessa maneira, até existe a possibilidade existentes para diminuir ou extinguir direi-
de tentar diferenciações entre os vocábulos tos, sendo uma estratégia da globalização
“flexibilização” e “desregulamentação”. Do na livre circulação de capitais e riquezas.
mesmo modo, é possível uma esquemati- Em outras palavras, a flexibilização
zação dos tipos de flexibilização em setores significa a renúncia, pelos trabalhadores, de
na relação de trabalho, como, por exemplo, muitos de seus direitos conquistados e
o da mobilidade do trabalhador, o da positivados.
duração do contrato individual de trabalho Quer dizer, a associação de desregula-
e o setor salarial41. mentação ou flexibilização no Direito do
Entretanto, o importante aqui é a análise Trabalho à modernidade faz parte de um
política e ideológica do que significa a discurso ideológico, instrumento de domi-
tendência de “retirada” de direitos sociais nação que oculta os objetivos do sistema
dos trabalhadores no contexto neoliberal. E capitalista. Explica Marilena Chauí45 que a
o uso do termo “flexibilização” ou de ideologia cristaliza em “verdades” a visão
“desregulamentação” são aqui utilizados invertida do real, fazendo também com que
como sinônimos. Ou seja, de forma ampla, os homens creiam que essas idéias são
ambos os institutos, representam um retro- autônomas (não dependem de ninguém) e
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que representam realidades autônomas e de salários sob as condições ali previstas
(não foram feitas por ninguém)46. (Lei nº 4.923/65).
Efetivamente, a afirmação de que as No mesmo sentido, o ordenamento
desregulamentações no direito trabalhista jurídico constitucional traz alguns dispos-
simbolizam progresso humano esconde, tivos com clara inspiração flexibilizadora:
porque ideológica, os verdadeiros interesses o art. 7º, VI (quanto à irredutibilidade
(que sempre foram atrelados a auferição salarial, salvo o disposto em convenção ou
incessante de lucro) dos grandes banqueiros, acordo coletivo), XII (quanto à compensação
dos industriais, dos conglomerados multi- e redução de jornada, mediante acordo ou
nacionais, do patronato, na atual fase do convenção coletiva), XIV (jornada de seis
neoliberalismo. Oculta o processo de acu- horas para o trabalho realizado em turnos
mulação capitalista e a exploração bárbara ininterruptos de revezamento, salvo nego-
do trabalho humano47. A flexibilização é, ciação coletiva).
portanto, um discurso aparentemente lógico Uma terceira forma que compõe o arca-
e coerente que não traz o questionamento bouço de possibilidades flexibilizadoras
da existência da divisão do trabalho e da reflete-se nas terceirizações, que deixam de
sociedade em classes. Ao contrário, porque vincular diretamente o trabalhador com o
interessa à manutenção do status quo de capitalista. Conseqüência disso acaba sendo
exploração e dominação da classe trabalha- também a desmobilização da classe traba-
dora, esse discurso não mostra verdadei- lhadora na luta por seus direitos.
ramente a quais interesses atende. O argumento principal dos ideólogos
Como a crise do Estado social é acompa- das desregulamentações, e mais precisa-
nhada pela tendência à flexibilização no mente deste projeto, é a geração de empregos,
Direito do Trabalho, não é de hoje que já que, segundo eles, as empresas pagam
existem as flexibilizações legalmente insti- muitos encargos sociais.
tuídas, pelo que se pode depreender dos Contudo, é de se perceber como os
seguintes exemplos: a Lei nº 5.107/66 do aparelhos ideológicos do Estado50 conse-
FGTS, as Leis nº 6.708 e 7.238, o adicional guem convencer a opinião pública de que o
de insalubridade, os incisos VI, XIII e XIV trabalhador é o culpado pela situação de
do art. 7º da Constituição Federal de 1988 e, atraso social em que vive o país. Não
recentemente, a lei que institui o contrato de
obstante receber o menor salário mínimo do
trabalho por tempo determinado.
mundo, o trabalhador brasileiro é o respon-
Exemplo inicial é o do Fundo de Garantia
sável pela crise em que vivemos. Essa
do Tempo de Serviço (FGTS), criado pela Lei
argumentação é utilizada para justificar a
nº 5.107, de 13-9-1966, em paralelo aos
precarização das relações de trabalho,
Capítulos V e VII do Título IV da Consolida-
retirando os direitos colocados. Lauro
ção das Leis do Trabalho, uma opção a ser
Campos lembra que “em países que desregu-
decidida pelo trabalhador, o qual se benefi-
lamentaram o mercado de trabalho, como
ciaria com a patrimonização da antiga
Argentina e Espanha, as taxas de desem-
estabilidade48.
prego estão atualmente entre as mais
A Constituição Federal de 1988 já não
elevadas - respectivamente, 29% e 24%51.
alude à estabilidade do empregado, tão-
somente inseriu, entre os direitos sociais, no
art. 7º, item III, “fundo de garantia do tempo 6. Considerações finais
de serviço”. Ou seja, a lei do FGTS flexi- Historicamente o direito do trabalho
bilizou a garantia de estabilidade do surgiu rompendo o mito da igualdade entre
trabalhador49. as partes numa relação contratual. Trata-se,
Ainda no plano infraconstitucional, há portanto, de um direito especial porque
a antiga lei que prevê a redução de jornada parte da idéia de que a liberdade contratual
Brasília a. 37 n. 147 jul./set. 2000 137
entre as pessoas, com poder econômico implementação do neoliberalismo, cuja
desigual, conduz a diferentes formas de orientação é a defesa de um Estado mínimo,
exploração. Tanto mais, porque o sistema contraponto ao Estado de bem-estar social.
econômico capitalista propicia a tensão O termo flexibilização começou a ser
entre os interesses por lucro dos donos do utilizado no Brasil antes mesmo do Consen-
meio de produção e os direitos de sobrevi- so de Washington, em 1989. Um grupo de
vência dos empregados vendedores de sua advogados patronais nos Congressos de
mão-de-obra. Direito do Trabalho discutiam a “necessi-
Assim, o “moderno” discurso sobre a dade” de flexibilizar as leis sociais porque
flexibilidade do Direito do Trabalho deve ser eram “desatualizadas”: impediam a concor-
inserido num contexto mais amplo, históri- rência dos produtos brasileiros no mercado
co, político e econômico, de crises do sistema mundial, oneravam o empresariado nacio-
e do Estado. nal, geravam desemprego, bloqueavam o
Pode-se dizer que o fundamento da desenvolvimento econômico, violavam a
tendência de desregulamentação da legis- liberdade das partes no contrato de traba-
lação social está na crise do Estado social, lho, afastavam a livre negociação, enfim, a
marcada pela globalização da economia e legislação social passou a ser o problema
seus avanços tecnológicos, e pelo neolibe- causador de todos os males. Procurando
ralismo, fase atual de acumulação capita- modificá-la, retirá-la, flexibilizá-la, a moder-
lista. Efetivamente, foi a partir dos refluxos nidade chegaria ao país e tudo seria possível.
econômicos mundiais capitalistas, a partir O problema todo é que a maioria desses
da década de setenta, que as propostas neo- juristas atrelados à lógica do capital – o lucro
liberais, em oposição ao intervencionismo –, quando definem ou defendem a flexibili-
estatal, mostraram-se como única possibili- zação, igualam esse termo à modernização,
dade de perpetuação do sistema. Entretanto, num cunho essencialmente ideológico de
essa mesma década, marcada pela crise mascarar os verdadeiros objetivos do pro-
econômica, trouxe também desorganização cesso de acumulação do sistema capitalista
dos mercados e o agravamento do processo e suas crises cíclicas.
inflacionário nos países periféricos. É sabido que a legislação trabalhista, no
Com a crise do Estado de bem-estar, entra Brasil, teve sua formação atrelada a governo
em crise também o direito trabalhista, e as autoritário e populista, para o qual convi-
conquistas sociais passaram a ser vistas nha a cooptação da classe operária, espe-
como ônus para muitas empresas. A isso cialmente no referente ao direito coletivo,
acresceu-se o acelerado desenvolvimento para a manutenção da “ordem” social.
tecnológico, num quadro de globalização Entretanto, não se pode negar que houve
em que há unificação de mercados mun- avanços históricos no processo de regula-
diais por meio da articulação das empresas mentação da legislação social brasileira,
multinacionais e organismos financeiros. marcada sobretudo com a mobilização dos
No âmbito das relações de trabalho, trabalhadores, desde o final do século
elevou-se o número de desempregados, o passado, em busca de melhores condições
desenvolvimento do trabalho informal e o de vida e de trabalho. Mesmo que se
subemprego, com incremento de inúmeras restrinjam ao aspecto do direito individual,
formas precárias de contratação e, logica- a legislação trabalhista representou também
mente, o arrocho salarial. uma conquista dos trabalhadores.
Foi assim que, na década de oitenta, Nessas circustâncias, o que os teóricos
começou a ser desenvolvido, na Europa e da flexibilização objetivam é a volta a um
nos EUA, o movimento pela flexibilização Estado de dois séculos atrás: descomprome-
das normas trabalhistas, justamente com a tido com os conflitos sociais provenientes
138 Revista de Informação Legislativa
das relações de trabalho, e que são solucio- zação e domínio da cidade sobre o campo”. In:
nados em base puramente autocompositiva. VESENTINI, Willian. p. 89.
8
No Estado paulista, em 1901, dos 50.000
Esse processo desregulamentador, parte operários existentes, os brasileiros eram menos de
do projeto neoliberal, não traz benefícios 10%. Na capital, entre 7.962 operários, 4.999 eram
para os trabalhadores, ao contrário, significa imigrantes. Em 1912, nas 31 fábricas de tecidos
a volta à exploração de mão-de-obra que dessa capital trabalhavam 10.204 operários, dos
ocorria no século passado, um retrocesso quais 1.843 brasileiros (18%), 6.044 italianos (59%),
824 portugueses (8%) e 3% espanhóis. Conforme
diante de tantas conquistas e lutas pelos NASCIMENTO, Amauri M. p. 39.
direitos fundamentais do homem e sua 9
O artigo 8º desse Decreto dispunha que: “os
positivação. sindicatos que se constituírem com o espírito de
A flexibilização dos direitos sociais, harmonia entre patrões e operários, como os ligados
assim, é mais um mecanismo capitalista de por conselhos permanentes de conciliação e
arbitragem, destinados a dirimir as divergências e
manutenção do sistema de exploração e contestações entre o capital e o trabalho, serão
auferição de lucros às empresas e conglo- considerados como representantes legais da classe
merados econômicos. Flexibiliza-se para a integral dos homens do trabalho (...)”.
manutenção da mais-valia, para o controle 10
Dirigismo é a tendência do Estado intervir
da taxa de lucro. Quanto menos “encargos regulando a economia capitalista, em contraposição
ao Estado liberal. “Sem conduzir necessariamente
sociais” tiver o capitalista, quanto menos à estatização de empresas privadas, a ação
gastar com o trabalhador, melhor gerencia governamental pode existir sob as formas de
seus interesses na busca por acumulação regulamento, participação, controle e planejamento
de capital. da produção. Inclui medidas como tabelamento de
mercadorias, serviços e salários, controle do
comércio exterior, incentivos fiscais e creditícios,
concessão de contratos de fornecimento ao Estado
Notas e execução de obras públicas”. In: SANDRONI,
Paulo (org.). p.100.
1
No contexto desse capitalismo nascente, a 11
Keynes foi economista inglês responsável pela
máquina a vapor e a indústria têxtil-algodoeira teoria que leva seu nome. Na sua principal obra, “A
marcaram a Revolução que ocorria, modificando teoria geral do emprego, do juro e da moeda”,
fortemente as condições trabalhistas por meio da mostrava a inexistência do princípio do equilíbrio
divisão do trabalho e da especialização. automático na economia capitalista, o princípio da
2
Também chamado de dirigismo estatal, “mão invisível” que regularia o mercado. Para que
significa a tendência do Estado em manter uma a economia encontrasse um nível de equilíbrio sem
intervenção reguladora na economia capitalista, em alta taxa de desemprego, o governo deveria intervir
contraposição ao absenteísmo do Estado liberal. com uma política própria de investimentos e
3
In: WOLKMER, Antônio Carlos. p. 18. incentivos que sustentassem a demanda efetiva,
4
A valorização do trabalho humano, criando mantendo altos níveis de renda e emprego, de modo
medidas protecionistas, decorreu, entre outros que, a cada elevação da renda, o consumo e o
fatos, das doutrinas socialistas, com o Manifesto investimento também crescessem. SANDRONI,
Comunista de 1848, bem assim como pelo impacto Paulo (org). p. 184.
das duas grandes guerras mundiais, marcos de 12
Um período em que “isso se deveu basica-
reivindicações dos operários. mente à esmagadora dominação econômica dos
5
In: MARX, apud VIANNA, Luiz Werneck. EUA e do dólar, que funcionou como estabilizador
p. 23. por estar ligado a uma quantidade específica de
6
VIANNA, Luiz Werneck. p. 23. ouro, até a quebra do sistema em fins da década de
7
Industrialização significa processo de criação 60 e princípios de 1970”. HOBSBAWN, Eric.
de uma quantidade cada vez maior de indústrias p.267 e 270.
orientadas para a modernização da economia do 13
No plano teórico, o neoliberalismo nasceu,
país, numa transformação da sociedade, de rural e pode-se dizer, na década de 40, quando Friedrich
agrícola, em urbana e industrial. “Portanto, não se Hayek defendia em suas obras a tese de que
considera como industrialização uma simples qualquer forma de dirigismo econômico e centralista
criação de indústrias isoladas, subordinadas às e o coletivismo levariam à falência econômica. Em
atividades primárias, mas sim um processo 1947, Hayek, Karl Popper, Milton Friedman e outros
irreversível de criação de indústrias, com urbani- reuniram-se na Suíça e instituíram a Sociedade de