Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
^r
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MATO GROSSO
T VARA - CRIMINAL
PROCESSO N ° : 8941-52.2011.4.01.3600
CLASSE 15203 : PEDIDO DE PRISÃO PREVENTIVA
REQUERENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
REQUERIDO : SIGILOSO
Relatados. Decido.
1 Inicialmente o juízo competente era o da 2a Vara Federal da Seção Judiciária de Mato Grosso. Com
especialização das varas e instalação da T Vara Federa!, em 23/11/2010, foi o processo redistribuído pi
este juízo.
W \ArtijivoMminasGABJU2011\miiiulaGABJU ini«*íc{G)
Isso é fato, que todo e qualquer operador jurídico, em início de
carreira, com um mínimo de capacidade jurídica, tem conhecimento. Tratando-se de
advogados, delegados e juizes com vários anos de experiência jurídica, chega até ser
ofensivo dizer, que tais operadores, desse fato não tivessem conhecimento.
E, portanto, sob esse contexto histórico e processual, que devem
ser analisados os crimes imputados aos requeridos, a fim de aferir, se presente está o
fumus boni iuris para a concessão da prisão preventiva, quais sejam, a materialidade e
os indícios de autoria.
Aos requeridos são imputados diversos crimes, praticados no
âmbito de uma organização criminosa, é dizer, de uma quadrilha ou bando nos termos
do art. 288 do CP. A partir dessa organização, teriam os requeridos promovido ou
colaborado, de forma dolosa, para a ocorrência do crime de violação de sepultura (art.
210 do CP); falsidade ideológica (art. 299 do CP); uso de documento falso (art. 304
do CP); desobediência (art. 330 do CP); denunciação caluniosa (art. 339 do CP);
fraude processual (art. 347 do CP), além dos crimes previstos no art. l O, primeira e
segunda parte da Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação telefónica.
A materialidade e os indícios de autoria estão devidamente
comprovados, tanto que ofertada a denuncia em face dos réus, este juízo a recebeu nos
autos n.° 8938-97.2011.4.01.3600. Transcrevo abaixo, parte da decisão prolatada
naqueles autos, no que diz respeito a apreciação da materialidade e dos indícios de
autoria:
A materialidade dos crimes imputados aos acusados está devidamente
evidenciada pelos documentos juntados aos autos, especialmente pelo
comprovante de depósito (extraio bancário) de fls. 09 (Procedimento
Administrativo -PA 1.20.000.000504/2011-42, da Procuradoria da
República em Mato Grosso), bem assim pelos diversos depoimentos
de testemunhas e investigados no referido PA, às fls. 11/25; pelas
inquirições de testemunhas e investigados no Inquérito Policial às fls.
05/10; fls. 43/45; fls. 65/68; e fls. 81/82.
Da mesma forma, os indícios de autoria são evidentes peleis
depoimentos prestados por Abadia Paes Proença, Luziane Pedrosa dá
Silva, José Roberto Padilha da Silva, José Abel Porto de Almeida]
António José Garcia Palma e Cloves Luiz Guimarães nos autos do
IPL 0257/2011 (Processo 8398-97.2011.4.01.3600). A tais
depoimentos acresçam-se os prestados perante os Procuradores da
República (PA 1.20.000.000504/2011-42), por José Roberto Padilha
da Silva, Jorge Barbosa Caramuru, Luciana Dias Corrêa, Luzian
Pedrosa da Silva e Beatriz Árias Paniagua.
W \ArquivoMinutasGABJU201l\minutaGAHJU limdoc(G)
Entretanto, algumas considerações em relação à materialidade e
aos indícios de autoria precisam ser efetuadas.
O comprovante de depósito a que se faz referência, nada mais é do
que o depósito no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) efetuado na conta do
dentista José Abel Porto de Almeida, por Cíóves Pereira Guimarães, correu e irmão de
Josino Pereira Guimarães. Portanto, o dentista foi pago, não com recursos públicos, mas
sim com recursos privados, e oriundos de pessoas diretamente interessadas no resultado da
perícia.
Consta ainda nos autos o depoimento do também dentista António
José Garcia Palma, onde afirma que apesar de não ter recebido qualquer valor pelos
trabalhos prestados, foi informado por Márcio Pieroni, que os valores seriam pagos "pela
parte interessada".
Corroborando a materialidade e os indícios de autoria, no
depoimento de José Abel Porto, perante a autoridade policial, está consignado que José
Abel Porto reuniu-se, previamente com Cloves Luiz Guimarães e Josino Pereira
Guimarães, onde fizeram tratativas sobre o laudo pericial a ser realizado. E mais, consta do
depoimento de Márcio Pieroni, Cloves Luiz Guimarães e Josino Pereira Guimarães, que
eles se conhecem há muito tempo, tendo sido constituído entre eles, uma relação de
amizade, sendo ademais, a esposa de Josino Guimarães, cliente da esposa de Márcio
Pieroni. Não bastasse a relação de amizade, existe também uma relação comercial, entre as
esposas de dois dos corréus.
Ora, há de se indagar, se a "investigação" que tramitava no bojo
dos Autos Circunstanciados n.° 4602/2010, corria sob segredo de justiça, como é que se
explica o fato de Cloves Luiz Guimarães e Josino Pereira Guimarães, terem tido ciência do
exame a ser realizado na arcada dentária de Leopoldino Marques do Amaral? A única
explicação plausível, para isso, no momento, é que eles tinham total conhecimento da
"investigação" conduzida por Márcio Pieroni.
Relevante destacar, o depoimento de Jorge Barbosa Caramurii,
responsável pelo Instituto Médico Legal - IML, de Mato Grosso, que a um só tempjí),
contradiz duas afirmações de Márcio Pieroni. Primeiro, disse o responsável pelo IML de/
Mato Grosso, que desconhece qualquer suspeita que possa recair sobre o perito do IM]
Célio Spadácio, que o impedisse de realizar a perícia. E ainda, mesmo que fosse o pejfito,
13
W \Arquivo Minutas GABJU 201 IXminuta GABJU 101 í doc«j)
^ f EDE^
/ \4
V ../
o seu depoimento só foi possível, em função da intervenção do então Desembargador de
Justiça, Paulo Lessa, que a convenceu a prestar o depoimento, mesmo ela não tendo lido
o que havia assinado. E mais, assinou tal termo, após encontro realizado em
circunstância, nada usual, ou seja, encontro realizado com ela, Márcio Pieroni, e o então
Desembargador Paulo Lessa, de madrugada, na sede da Associação Matogrossense de
Magistrados - AMAM.
Ainda nessa época, outro fato pitoresco, que também não é de
praxe no âmbito do Poder Judiciário, não havendo sequer previsão legal para tanto, foi a
colheita do depoimento de Beatriz Árias, nos autos do Processo 070/2000 - 7a Vara
Criminal Estadual da Comarca de Cuiabá/MT -, em audiência presidida pelo Juiz de
Direito, Pedro Sakamoto. Oportunidade na qual, segundo, Beatriz Árias, houve a
intervenção durante a audiência, do correu Márcio Pieroni, fato esse, também não usual
e sem previsão legal, uma vez que o Delegado de Polícia, não possui capacidade
postulatória, isto é não pode se manifestar em audiência judicial, salvo como parte ou
testemunha.
Nesse sentido, importante a transcrição do depoimento de Beatriz
Árias, perante os Procuradores da República, em Mato Grosso, onde ela bem esclarece
os fatos que teriam ocorrido no ano de 2006:
Í/Í4
W \Arquivo Minutas GABJU 201 l\mmu(a GAI3UJ 1013 doc<G|
ocorrendo numa Delegacia; Que o advogado disse que não poderia
comparecer; Que a depoente disse ao Delegado Pieroni que não tinha
nada para acrescentar ao que foi dito em 1999; Que a depoente não
afirmou o que está escrito no depoimento prestado em 2006 para o
Delegado Pieroni de que o Juiz Leopoldino " estava vivo, morando
na Argentina"; Que a depoente também não afirmou para Pieroni
de que "já tentou por várias vezes avisar para as autoridades
judiciais da necessidade de se fazer um novo exame no cadáver do
ex-Juiz Leopoldino, mas que nunca foi ouvida"; Que a depoente
disse a Pieroni que isso não iria dar certo porque já foram realizados
todos os exames periciais em 1999; Que Pieroni disse que essa parte era
com ele e que tinha certeza que o corpo enterrado não era do Juiz; Que
a depoente recusou em assinar o termo pois o advogado não estava
presente; Que então o Delegado Pieroni ligou para o Dês. Paulo
Lessa, o qual teria dito para irem na AMAM; Que isso já era por
volta de uma hora da manhã; Que a depoente foi até a AMAN que
o Dês. Paulo Lessa disse para confiar nele e que poderia assinar;
Que por isso não chegou a ler o termo de declaração, mas que o
Dês. Paulo Lessa leu; Que o Pieroni disse na frente do Dês. Paulo
Lessa que iria ocorrer a exumação e que seria provado que juiz
estaria vivo; Que Pieroni depois a deixou em casa; Que no dia em que
foi ouvida na Justiça Estadual pelo Juiz Pedro Sakamoto, os fatos
ocorreram da seguinte forma: que o Pieroni foi busca-la em sua
casa, por volta das 19 horas, dizendo que era preciso esperar o fórum
fechar, que Pieroni disse que a depoente tinha que ir no Fórum para
falar para o Juiz o que a depoente já havia dito em 1999; que a
depoente não esperava que tinha que ir no fórum e foi se arrumar; que
foi ao fórum por volta das 19 horas, após o seu fechamento, que
estavam na sala o Juiz Pedro Sakamoto, seu filho escrivão, a
Promotora Salete, a Defensora Pública e o Pieroni, que a Dra.
Salete quando da qualificação da depoente, retirou-se da sala de
audiência, dizendo que não iria compactuar com aquilo; Que a
depoente informa que jamais disse, perante o Juiz Pedro
Sakamoto, que "o Juiz Leopoldino Marques do Amaral está vivo e
morando na Argentina"; Que se lembra do filho do Juiz Sakamoto
dizendo que não poderia constar no depoimento da declarante
determinado trecho, o qual a depoente não se recorda, mas o Juiz
Pedro Sakamoto disse que colocaria o trecho no depoimento; Que o
Delegado Pieroni estava presente na audiência e fazia intervenções,
inclusive para constar determinados trechos que a própria
depoente já havia se esquecido; Que a ratificação era das
declarações prestadas perante a Justiça Federal e não na Polícia
Civil; Que após a audiência Pieroni a deixou em casa, e disse qi
com aquele depoimento já era suficiente para exumar o corpo^de
Leopoldino; Que a depoente não tem interesse nenhum em exumar o
corpo de Leopoldino, não tendo recebido nenhum favor, pelo contrário
se sentiu obrigada a cooperar; Que curiosamente após a exumação
Pieroni assumiu a chefia da DEHPP(...)" (Grifei)
,6
W \Arquivo Minutas OABJU 201 l \minulB (lABJU 1011 doUf i)
aspecto é nula toda a interceptação telefónica, por não ter obedecido
aos dispositivos legais, que decorrem dos preceitos constitucionais.
As "análises" das arcadas dentárias do falecido Juiz Leopoldíno
Marques do Amarai são também totalmente nulas, porque sendo fatos
que ensejam complexidade probatória, jamais poderiam ser apreciadas
em incidentes que tramitam no âmbito do juizado especial. Ora, todos
os operadores jurídicos (Juizes, Promotores e Delegados) têm ciência
de que cabe aos Juizados Especiais, no âmbito criminal, tão somente
os crimes de menor potencial ofensivo, assim entendidos aqueles
cujas penas não sejam superiores a dois (02) anos, ou cuja elucidação
não demandem complexidade probatória (art. 77, § 3°, da Lei
9.099/95). É certo que para se aferir a exatidão da arcada dentária de
uma pessoa, há a necessidade de exames complexos, bem assim de
dilação probatória o que não se admite nos Juizados Especiais, sendo
esse mais outro motivo de nulidade, até porque da mesma forma que
as interceptações telefónicas o Ministério Público sequer foi intimado
para se manifestar.
Por fim, já no que diz respeito a eventual material colhido dos
restos mortais do Juiz Leopoldino Marques do Amaral, estes não
possuem qualquer valor probatório, seja por ter sido deferido por juízo
incompetente, seja por ter sido mantida as diligências da exumação
por juiz incompetente, quando esteja sabia ser incompetente, posto
que havia reconhecido a sua incompetência.
Com efeito, o juiz da Vara Criminal Especializada Contra o
Crime Organizado, Contra a Ordem Tributária e Económica e os
Crimes Contra a Administração Pública da Comarca de Cuiabá,
mesmo tendo reconhecido a sua incompetência para processar o
presente incidente, e já tendo sido formulado pedido pelo Ministério
Público Estadual e Federal, para que fosse suspendida exumação,
manteve indevidamente a exumação, mesmo sabendo que não detinha
competência jurisdicional para tanto, ou seja, sabia que era
manifestamente incompetente para apreciar a demanda posta sob a sua
análise.
18
WAArquivo Minutas GABJU 201 l\minuta GABJU 101.1 doc(Ci)
as já existentes no âmbito do processo 2000.36.00.005959-0 (processo no qual Josino
Pereira Guimarães é réu, e será levado ao Tribunal do Júri).
A instrução processual para o plenário do Tribunal do Júri,
ainda vai se iniciar. Se mesmo antes de se iniciar, os corréus são acusados de integrarem
uma organização criminosa, com o intuito de fraudar a instrução processual - tendo
praticados outros crimes, segundo o MPF, como por exemplo, os crimes de violação de
sepultura (art. 210 do CP); falsidade ideológica (art. 299 do CP); uso de documento
falso (art. 304 do CP); desobediência (art. 330 do CP); denunciacão caluniosa (art.
339 do CP); além dos crimes previstos no art. 10, primeira e segunda parte da Lei
9.296/96, que regulamenta a interceptação telefónica -, há possibilidades concretas, não
baseado em conjecturas, mas em dados e fatos pretéritos, que soltos, poderão intervir
fraudulentamente na instrução processual, seja para tumultuá-la, seja para falsear a
verdade.
Nesse sentido, arrola-se, sumariamente, alguns fatos já
praticados pelos corréus, de acordo com o MPF.
O correu Márcio Pieroni: a) com o intuito de beneficiar Josino
Guimarães, tanto no ano de 2006, quanto em 2010/2011, teria forjado provas, para
falsear a verdade, a respeito da morte de Leopoldino Marque do Amaral; b) teria
simulado um falso crime de ameaça, envolvendo José Roberto Padilha da Silva e
Abadia Paes Proença, com a finalidade exclusiva, de em um momento posterior, obter a
exumação dos restos mortais de Leopoldino Marques do Amaral; c) teria, direta ou
indiretamente, revelado a Abadias Paes Proença, a existência de interceptação
telefónica, envolvendo terceira pessoa, incorrendo no crime previsto no art. 10 da Lei
9.296/96; d) teria tentando cooptar Beatriz Árias, a fim de que produzisse provas falsas;
e) teria, sob falsa alegação, conseguido que dentistas particulares elaborassem pareceres
sobre a arcada dentária de Leopoldino Marques do Amaral; f) teria manipulado órgão
judiciais incompetentes, afim de obter decisões judiciais que favorecessem os seu
intentos; etc.
No que diz respeito à cooptação de Beatriz Árias, colhe-se do
seu depoimento perante os Procuradores da República, alegações que reforçam a tese de,
que soltos, os corréus, colocarão em risco a instrução processual:
19
Que em novembro do ano passado seu LINO ligou para depoente
dizendo que o Pieroni tinha uma coisa muito importante para falar
com ela; (...) Que Pieroni procurou a depoente na empresa de LINO;
Que a depoente estava acompanhada de seu marido; Que o marido da
depoente disse a Pieroni que a depoente não participaria de mais nada,
bem como que Pieroni não iria fazer o que tinha feito quando Pieroni
"sequestrou" a depoente; Que Pieroni mostrou a depoente um vídeo,
no qual ABADIA aparecia; Que Pieroni colocou uma fita de áudio
de gravação telefónica entre ABADIA e JOSÉ ROBERTO para a
depoente ouvir; Que Pieroni ainda mostrou um documento da perícia
da arcada dentária, ficha dentária de Leopoldino e as fotos do
Leopoldino; Que Pieroni que aqueles novos elementos poderia dar
uma reviravolta no caso; Que a depoente não acreditou na afirmação
de Pieroni no sentido de que Leopoldino estava vivo morando com
traficantes e que era bissexual; (...) Que Pieroni disse nessa
oportunidade que o cadáver sepultado não era de Leopoldino e
que já estava tudo acertado para a realização da exumação; Que
todos esses fatos ocorreram em novembro de 2010. (...) (Grifou-se)
21
W \Arquivi) Minutas GABJU 201 [\ininutaOABJU lOlJdoc(G)