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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MATO GROSSO
T VARA - CRIMINAL

PROCESSO N ° : 8941-52.2011.4.01.3600
CLASSE 15203 : PEDIDO DE PRISÃO PREVENTIVA
REQUERENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
REQUERIDO : SIGILOSO

Trata-se de pedido formulado pelo Ministério Público Federal,


requerendo a prisão preventiva de Márcio Fernando de Barros Pieroni e Josino Pereira
Guimarães.

Pondera o MPF, em síntese, que:

a) Denunciou na "data de hoje" (04/05/2011), MÁRCIO


FERNANDO DE BARROS PIERONI, JOSINO PEREIRA GUIMARÃES,
GARDEL TADEU FERREIRA DE LIMA, CLOVES LUIZ GUIMARÃES e
ABADIAS PAES PROENÇA, por terem no âmbito de uma quadrilha armada (art.
288, parágrafo único, do CP), promovido ou colaborado, de forma dolosa, para a
ocorrência de uma série de crimes, entre eles os crimes de violação de sepultura (art.
<
210 do CP); falsidade ideológica (art. 299 do CP); uso de documento falso (art. 304
do CP); desobediência (art. 330 do CP); denunciação caluniosa (art. 339 do CP);
fraude processual (art. 347 do CP), além dos crimes previstos no art. 10, primeira e
segunda parte da Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação telefónica.
l

b) os denunciados se uniram de forma estável e permanente para a


prática de inúmeros crimes, os quais foram devidamente consumados, com a intenção de
falsear o quadro probatório existente em processo judicial em trâmite no juízo da 7a Vara
Federal, o qual apura a responsabilidade do denunciado Josino Guimarães no assassinato
do Juiz de Direito, Leopoldino Marques do Amaral;
c) Mareio Pieroni, valendo-se das prerrogativas do cargo de
Delegado de Polícia, associou-se ao réu Josino Guimarães, com o nítido propósito de
falsear provas que seriam apresentadas aos jurados, quando do julgamento de Josino
Guimarães pelo homicídio de Leopoldino Marques do Amara!;
d) Datam do ano de 2006, as suspeitas de que Márcio Pieroni
interfere e tumultua a instrução do processo criminal que apura a responsabilidade de
Josino Guimarães no assassinato do Juiz Leopoldino Marques do Amaral, utilizando-se do
seu cargo público de Delegado de Polícia. Naquela oportunidade, Márcio Pieroni, teria
sido o responsável pelo depoimento de Beatriz Árias nos autos n.° 070/2000, que tramitou
perante o juízo da 7a Vara Criminal da Comarca de Cuiabá/MT, onde Beatriz Árias teria
dito de forma inverídica, que o Juiz Leopoldino Marques Amaral estaria vivo e vivendo na
Argentina;
e) Em 02/05/2011, Beatriz Árias compareceu voluntariamente, sem
ser intimada, na Procuradoria da República para revelar a farsa empreendida em 2006;
í) As principais informações prestadas por Beatriz Árias e contidas
na peça ministerial podem assim ser resumidas: f.l) no ano de 2006, Márcio Pieroni a
procurou para que fosse prestar um depoimento na Polícia Civil sobre a morte do Juiz
Leopoldino Marques do Amaral, e que referido pedido também fora corroborado pela
esposa de Josino; f.2) o seu depoimento redigido na Delegacia do Meio Ambiente por
Márcio Pieroni, contém informações falsas, especificamente no que diz respeito as
afirmações a ela atribuídas, dando conta de que Leopoldino Marques do Amaral estaria
vivo e morando na Argentina, bem como de que ela já havia tentado várias vezes avisar as
autoridades judiciárias sobre a necessidade de se realizar um novo exame no cadáver d<
ex-Juiz Leopoldino Marques do Amaral; f.3) Beatriz Árias, chegou a comentar que a farsí
não daria certo porque todos os exames periciais já haviam sido realizados, tendo sido]
informado por Márcio Pieroni, que essa parte era de responsabilidade dele; f.5) Beatriz,
Árias só consentiu com a farsa, graças à intervenção do então Desembargador Pau)

W \ArquivoMinutasGABJU 201 hminuta GABJU 1013 doc((


Lessa, que pediu a ela para que assinasse o termo de depoimento sem preocupações; f.5)
Márcio Píeroni estava tão seguro que a sua artimanha daria certo que sem qualquer
cerimónia foi à residência de Beatriz Árias, sem avisá-la, para levá-la ao Fórum de
Cuiabá, após o horário de expediente, com a finalidade de ser ouvida pelo Juiz de Direito,
Pedro Sakamoto, tendo Márcio Pieroni, efetuado várias intervenções durante a audiência;
f.6) Beatriz Árias informa que não fez a afirmação constante do termo de audiência no
sentido de que uo Juiz Leopoldino Marques do Amaral está vivo e morando na
Argentina"; f.7) Beatriz Árias afirma que se sentiu obrigada a cooperar na farsa
empreendida, mas que não auferiu nenhuma vantagem financeira;
g) a decisão que deferiu a exumação do corpo do Juiz Leopoldino
Marques do Amaral, exarada pelo Juiz Pedro Sakamoto, curiosamente determinou que o
denunciado nesta ação, Mareio Pieroni, acompanhasse pessoalmente a exumação, o que só
não ocorreu, face à intervenção do Diretor Geral de Polícia Civil, que nomeou outro
Delegado, uma vez que a diligência escaparia da esfera de atribuição do denunciado
Márcio Pieroni;
h) Naquela oportunidade (2006), o Ministério Público Estadual,
interpôs correição parcial contra a referida decisão judicial, alegando, em síntese, que
Beatriz Árias não foi arrolada por qualquer das partes naquele processo, nem tampouco
como testemunho do juízo, outrossim, suscitou que a apuração do homicídio envolvendo o
Juiz Leopoldino Marques do Amaral seria da competência da Justiça Federal, órgão esse
quem deveria determinar qualquer medida em relação ao caso.
i) desde aquela época, a Promotora de Justiça oficiante já
ponderava da possibilidade das ossadas terem sido substituídas com a finalidade de
satisfazer interesses da depoente ou de outrem;
j) A tentativa de tumultuar o Júri Federal, nos idos dos anos de
2006, restou frustrada, porque o exame do DNA, tal qual o realizado em 1999, atestou que
o corpo era o do Juiz Leopoldino Marques do Amaral;
k) Entretanto, numa tentativa desesperada de livrarem Josinô1
Guimarães da acusação de homicídio, os investigados se articularam para uma montar
uma investigação policial, no bojo do Auto Circunstanciado n.° 4602/2010, que tramitou
perante o Juizado Especial Criminal Unificado de Cuiabá/MT, com o propósito de influ
no Júri Federal;

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1) Não obstante os inúmeros exames médicos-legais que atestam,
sem sombra de dúvida a ocorrência do assassinato do Juiz Leopoldino Marques do
Amaral, os réus tentaram fraudar as provas, acreditando que os seus planos teriam êxito.
Em resumo, as provas que atestam o óbito do Juiz Leopoldino Marques do Amaral são:
1.1) Exame de Arcada dentária realizado ainda no Paraguai quando o corpo foi
encontrado; 1. 2) exame de necropsia; 1.3) novo exame de arcada dentária estes
realizados pelo IML de Mato Grosso; 1.4) reconhecimento pelos familiares; 1.5) exame
papiloscópico positivo, e 1.6) exame de DNA realizado pela UNICAMP tendo como
amostra sete dentes íntegros e o fémur esquerdo, todos estes exames realizados em
1999; 1.7) novo exame de DNA comprovando que o corpo era de Leopoldino Marques
do Amaral;
m) Nos autos em referência, os investigados, praticaram diversos
crimes, entre os quais: m.l) investigação criminal em face de José Roberto para investigar
crime de ameaça, mesmo sabendo da sua inocência; m.2) inserção de informações
inverídicas nos termos de depoimento de Luziane Pedrosa, Abadia e Rosilaine Proença;
m.3) concorrer para a realização de interceptação telefónica com objetivos não autorizados
em lei, é dizer, produzir falsas provas; m.4) quebra de sigilo funcional consistente em
comunicação a terceiros sobre a existência de interceptação telefónica em curso; m.5)
violação de sepultura; m.6) formação de quadrilha, de maneira estável e permanente;
n) As condutas específicas dos corréus Márcio Pieroni e Josino
Pereira Guimarães, que ao ver do MPF, justificam a segregação cautelar dos requeridos,
foram assim transcritas na representação do órgão ministerial:

Com efeito, PIERONI no exercício de sua função pública de Delegado


de Polícia utilizou o estratagema de iniciar e montar toda uma
investigação para produzir provas falsas para auxiliar seu amigo
JOSINO. E mais! Teve o especial cuidado de selecionar os Juízos para
onde seriam apresentados seus requerimentos, tudo isso de forma a
ocultar a sua "investigação" desta Vara Federal, única competente para
o feito, e do Ministério Público, órgão de vocação constitucional para o
controle externo da atividade policial.

Ademais, percebe-se que a experiência de PIERONI foi fundamental


para conferir o manto de falsa legalidade de suas ações. Dissimulou a
existência de uma ameaça para poder dar início a investigação de crime
que em tese seria da competência do Juizado Especial Criminal, quando
na verdade objetivava em "investigar" crime de homicídio, que no casí
é de competência deste Juízo. Em que pese o desiderato inicial d<

W \Arquivo Minutas GABJU 20! Uminula tJAÍUU lOIJdutfCl


requeridos fosse a obtenção de exumação dos restos mortais de
Leopoldino para a produção de um laudo que colocasse em suspeíção a
sua morte, os requeridos tiverem a cautela de providenciar depoimentos
ideologicamente falsos, realizações de perícias duvidosas, inclusive
mediante o pagamento de R$ 2.500,00 a um dos peritos nomeados para
funcionar no caso, para tentar dar um grau de confiabilidade ao pedido
de exumação.

Os requeridos omitiram dolosamente toda e qualquer informação que


pudesse colocar em risco seu plano criminoso como a orientação dos
interlocutores em conversar telefónicas que estavam sendo
interceptadas, posicionamento do diretor do IML acerca do material
objeto de análise nas perícias extra-oficiais realizadas no bojo das
investigações.

P1ERONI se esforçou ao máximo em conferir publicidade à informações


falsas e distorcidas, chegando ao cúmulo de retirar um preso que está
recolhido no presídio Pascoal Ramos somente para conceder uma
entrevista mentirosa a Rede Globo, assim como que compareceu ao
programa de televisão Cadeia Neles para deturpar uma informação
acerca do posicionamento do IML quanto ao resultado pericial que
atestava a morte do Juiz Leopoldino, fato este que inclusive foi objeto
de direito de resposta pelo diretor do IML no dia seguinte no mesmo
programa televisivo.

Há que se recordar que PIERONI não teve pudores em pedir perante o


Juizado Criminal estadual o deferimento de interceptações telefónicas
sob a justificativa de estar investigando crime de ameaça, que é punido
com pena de detenção, contra expressa e saltitante proibição legal, muito
menos de provocar o inusitado e inexplicável redirecionamento do seu
pedido de exumação para a 15a Vara Criminal. Não há que se olvidar
ainda a estratégia dos requeridos em tentar chegar até o fim de seus
planos criminosos consistente em antecipar do dia 09/03/2011 para o dia
02/03/2011, ou seja, poucas horas após a intervenção processual do
Parqueí federal para dar um basta aos desmandos ocorridos em sede
estadual (intervenção ocorrida no período vespertino do dia
01/03/2011), JOSINO e PIERONI se articularam para que a exumação
dos restos mortais de Leopoldino fosse abruptamente antecipada para a
madrugada do dia 02/03/2011.

E ainda há que se mencionar que PIERONI, mesmo sabendo que deveria


apenas encaminhar todo o material no estado em que se encontrava para
a Polícia Federal por ordem deste Juízo, ainda encaminhou relatório
complementar de sua "investigação" para o Juízo estadual poc*-""'
intermédio do ofício 837/2011/DEHPP, falseando fatos e provas com &
finalidade de tentar conferir um grau de cientificidade à sua ,
investigação. | /

Cai a lanço observar a conduta de PIERONI em tentar cooptar Beatriz,


Árias para esse nova farsa, da mesma forma como fizera em 2006.
certo que PIERONI asseverou que esse novo plano daria cei
assegurando que nessa nova exumação, o exame seria negativo, poríue

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ele tinha certeza que as ossadas enterradas no cemitério de Poconé não
seriam do Juiz Leopoldino.

A ousadia dos requeridos impressiona. Se os requeridos foram capazes


de fazer o que fizeram para tumultuar o processo do Júri Federal, resta
evidente que não medirão esforços em tumultuar a atrapalhar o trâmite
processual da presente ação penal.

Além do que, a fama de PIERONI já é conhecida por fabricar provas em


investigações criminais por ele comandadas, sendo de ressaltar que
PIERONI atualmente se encontra indiciado pela Corregedoria-Geral da
Polícia Civil do Estado de Mato Grosso pelo crime de tortura para a
obtenção de confissão no Inquérito Policiai estadual n° 126/2007.

Com efeito, os crimes imputados a PIERONI e JOSINO demonstram


que os requeridos não possuem limites quando se trata em se livrar de
acusações ou obtenção de provas falsas, chegando ao extremo de
utilização de modernas técnicas de tortura, conforme se verifica do
relatório policial do Inquérito Policial no qual PIERONI restou
indiciado.

o) Após a contextuai ização dos fatos e de ter narrado as


condutas dos requeridos, o MPF, fundamentou o seu pedido de prisão preventiva com
suporte na necessidade de se assegurar a ordem pública e por conveniência da instrução
processual. Para não ser repetitivo, transcreve-se novamente, parte da representação
efetuada pelo MPF, ao fundamentar o pedido de prisão preventiva:

A liberdade dos requeridos apresenta um grande atentado à ordem


pública e à instrução processual, vez que soltos poderão dar
continuidade aos seus desideratos criminosos, assim como que
certamente influenciarão nas provas a serem produzidas neste
processo. Veja ,Excelência, que não se trata de um mero temor
infundado e especulativo, mas, sim, de uma conclusão baseada em
fatos concretos regularmente comprovados mediante a obtenção de
robustas provas.

Gize-se, por oportuno, que o requerido PIERONI é Delegado de


Polícia, portanto, a primeira pessoa que devia zelar pela correta
apuração dos crimes. Mas no presente caso, utilizou as prerrogativas
de sua função e a experiência acumulada durantes os anos qi
trabalhou na atividade de segurança pública e de polícia judiciária
para orquestrar e montar uma farsa em grave prejuízo à instrucí
processual em trâmite nesta Vara.

Em que pese conste como denunciados GARDEL, CLOVES e


ABADIA como participantes fundamentais na farsa engendrada, nã(
se vislumbra, por ora, a necessidade suas prisões provisórias, vez
com a segregação dos requeridos, o poder de atuação dos demais r^íías

W \Arquivo Minutas GABJU 2011 \miiiula GAHJU


x

será automaticamente reduzido, não podendo, a prisão preventiva ser


decretada quando não seja estritamente necessária para o
acautelamento das investigações. A prisão provisória não pode servir
como pena antecipada, devendo ser decretada somente em situações
limítrofes e excepcionais.

p) Ao fim, formulou o MPF, o pedido de prisão preventiva dos


requeridos, bem assim, efetuou pedido subsidiário, como se segue:

Deste modo, haja vista que os crimes praticados pelos requeridos


são dolosos e apenados com reclusão e que há fatos concretos e
atuais que permitam concluir com alto grau de probabilidade de
que soltos continuarão a praticar crimes e a tumultuar a instrução
processual o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer:

1) Que sejam decretadas as prisões preventivas de MÁRCIO


FERNANDO DE BARROS PIERONI e JOSINO PEREIRA
GUIMARÃES com a finalidade de assegurar a ordem pública e por
conveniência da instrução processual;

2) Subsidiariamente, requer-se o afastamento cautelar do réu MÁRCIO


FERNANDO DE BARROS PIERONI das funções de Delegado de
Polícia, incluindo a suspensão de todas as prerrogativas de seu cargo,
como porte de arma de fogo, livre ingresso em locais públicos etc, o
recolhimento das armas de fogo eventualmente a ele cedidas pela
Polícia Civil e de sua carteira funcional, materiais estes que devem ficar
acautelados neste Juízo.

Relatados. Decido.

A prisão provisória, hoje em dia, é medida de exceção e só deve


ser decretada quando evidenciada sua necessidade, ou seja, quando demonstrada,
objetivãmente, a indispensabilidade da segregação do investigado, haja vista que não é
castigo, nem sanção ou antecipação da pena. Sua finalidade é assegurar a eficácia da
decisão final ou possibilitar uma regular instrução do processo ou ainda, fazer cessar
uma atividade criminosa nociva ao Estado, garantindo a ordem pública.

Para sua decretação, além da prova da materialidade do crime e


indícios de autoria (fumus boni iuris), deve coexistir um dos fundamentos que autorizai

WAArquivo Minutas UABJU 201 t\minuta GABJU


a decretação da prisão preventiva (periculum in mora), conforme previsto no art. 312,
do CPP:

"Art, 312. A prisão preventiva poderá ser decretada


como garantia da ordem pública, da ordem económica,
por conveniência da instrução criminal, ou para
assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria."

Antes de apreciar a existência da materialidade de tais crimes,bem


assim os indícios de autoria, como pressupostos válidos para decretação da prisão
preventiva, cumpre, por primeiro, resgatar o contexto histórico e processual dos fatos, para
melhor compreensão das condutas imputadas aos requeridos.
É fato público e notório, que em 07 de setembro de 1999, foi
encontrado no vizinho país Paraguai, o corpo do então Juiz Estadual, da Comarca de
Cuiabá/MT, Leopoldino Marques do Amaral. Denunciada e processada, foi Beatriz Árias
levada a Júri Popular, tendo sido condenada como uma das responsáveis pelo homicídio de
Leopoldino Marques do Amaral.
O requerido Josino Pereira Guimarães, foi denunciado e
processado, tendo sido pronunciado pelo Juízo Federal. Recorreu da sentença de
pronúncia, tendo o recurso sido improvido pelo Tribunal Regional Federal da 1a Região,
mantida, portanto, a decisão que determinou fosse o requerido levado a julgamento pelo
Tribunal do Júri Popular, no âmbito federal.
A defesa do requerido, também em sede de recurso, levou a
demanda, ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal-STF, questionando a
competência da Justiça Federal para julgar o caso. Em 16 de novembro de 2010, o STF
manteve a competência da Justiça Federai (HC 100154/MT, DJe-035, 22/02/2011).
Interposto Embargos de Declarações, foram estes rejeitados em 26/04/2011 (HC-ED
100154/MT, Dje n° 83, 05/05/2011), mantendo-se definitivamente a competência/da
Justiça Federal para o julgamento desta demanda.
Ainda no ano de 2006, como bem ressaltou o MPF em
representação, foi deferida pela Justiça Estadual - mesmo não sendo competente
analisar os fatos que circundaram a morte de Leopoldino Marques do Amaral

W \Arquivu Minutas GABJU 201l \minula GABJU !OU doAci


exumação do corpo do mencionado juízo. Tal decisão, segundo o MPF, deu-se em
circunstâncias ainda não esclarecidas, como por exemplo, o fato de ter sido colhido o
depoimento de Beatriz Árias, sem que, previamente, esta sequer tivesse sido arrolada pelas
partes ou determinado o seu depoimento por ordem judicial, repita-se, sempre de forma
prévia, face ao devido processo legal.
Porém, não obstante a forma como foi defenda a exumação,
novamente foi confirmado, por prova cientifica, que o corpo que até aquela data estava
enterrado no cemitério de Poconé/MT, de fato era o de Leopoldino Marques do Amaral.
Processualmente falando, considerando a existência de uma sentença de pronuncia, com
trânsito em julgado, a qual pressupõe a materialidade do crime de homicídio, para todos os
efeitos, Leopoldino Marques do Amaral está morto. É fato sobre o qual não mais é possível
qualquer discussão, no campo processual.
A essa conclusão se chega não só pelo fato de ter sido prolatada
uma sentença de pronúncia, já transitada em julgado. Mas, fundamentalmente, pelas
provas existentes nos autos que possibilitaram a prolação da sentença, e que foram
devidamente mencionadas pelo MPF em sua representação, quais sejam:
1.1) Exame de Arcada dentária realizado ainda no Paraguai quando o
corpo foi encontrado; l. 2) exame de necropsia; 1.3) novo exame de
arcada dentária estes realizados pelo IML de Mato Grosso; 1.4)
reconhecimento pelos familiares; 1.5) exame papiloscópico positivo, e
1.6) exame de DNA realizado pela UNICAMP tendo como amostra
sete dentes íntegros e o fémur esquerdo, todos estes exames realizados
em 1999; 1.7) novo exame de DNA comprovando que o corpo era de
Leopoldino Marques do Amaral.

Mas, ainda que se admitisse, apenas como hipótese de


argumentação, o questionamento processual da morte de Leopoldino Marques do
Amaral, tal questionamento só poderia ser efetuado perante o juízo natural, o
constitucionalmente competente, e sob o crivo do devido processo legal e o amplo
contraditório, e não na surdina, na calada da noite, sem a participação prévia do
Ministério Público Federai e do órgão da justiça federal competente, no caso, hoje, a
Vara Federal da Seção Judiciária de Mato Grosso .

1 Inicialmente o juízo competente era o da 2a Vara Federal da Seção Judiciária de Mato Grosso. Com
especialização das varas e instalação da T Vara Federa!, em 23/11/2010, foi o processo redistribuído pi
este juízo.
W \ArtijivoMminasGABJU2011\miiiulaGABJU ini«*íc{G)
Isso é fato, que todo e qualquer operador jurídico, em início de
carreira, com um mínimo de capacidade jurídica, tem conhecimento. Tratando-se de
advogados, delegados e juizes com vários anos de experiência jurídica, chega até ser
ofensivo dizer, que tais operadores, desse fato não tivessem conhecimento.
E, portanto, sob esse contexto histórico e processual, que devem
ser analisados os crimes imputados aos requeridos, a fim de aferir, se presente está o
fumus boni iuris para a concessão da prisão preventiva, quais sejam, a materialidade e
os indícios de autoria.
Aos requeridos são imputados diversos crimes, praticados no
âmbito de uma organização criminosa, é dizer, de uma quadrilha ou bando nos termos
do art. 288 do CP. A partir dessa organização, teriam os requeridos promovido ou
colaborado, de forma dolosa, para a ocorrência do crime de violação de sepultura (art.
210 do CP); falsidade ideológica (art. 299 do CP); uso de documento falso (art. 304
do CP); desobediência (art. 330 do CP); denunciação caluniosa (art. 339 do CP);
fraude processual (art. 347 do CP), além dos crimes previstos no art. l O, primeira e
segunda parte da Lei 9.296/96, que regulamenta a interceptação telefónica.
A materialidade e os indícios de autoria estão devidamente
comprovados, tanto que ofertada a denuncia em face dos réus, este juízo a recebeu nos
autos n.° 8938-97.2011.4.01.3600. Transcrevo abaixo, parte da decisão prolatada
naqueles autos, no que diz respeito a apreciação da materialidade e dos indícios de
autoria:
A materialidade dos crimes imputados aos acusados está devidamente
evidenciada pelos documentos juntados aos autos, especialmente pelo
comprovante de depósito (extraio bancário) de fls. 09 (Procedimento
Administrativo -PA 1.20.000.000504/2011-42, da Procuradoria da
República em Mato Grosso), bem assim pelos diversos depoimentos
de testemunhas e investigados no referido PA, às fls. 11/25; pelas
inquirições de testemunhas e investigados no Inquérito Policial às fls.
05/10; fls. 43/45; fls. 65/68; e fls. 81/82.
Da mesma forma, os indícios de autoria são evidentes peleis
depoimentos prestados por Abadia Paes Proença, Luziane Pedrosa dá
Silva, José Roberto Padilha da Silva, José Abel Porto de Almeida]
António José Garcia Palma e Cloves Luiz Guimarães nos autos do
IPL 0257/2011 (Processo 8398-97.2011.4.01.3600). A tais
depoimentos acresçam-se os prestados perante os Procuradores da
República (PA 1.20.000.000504/2011-42), por José Roberto Padilha
da Silva, Jorge Barbosa Caramuru, Luciana Dias Corrêa, Luzian
Pedrosa da Silva e Beatriz Árias Paniagua.

W \ArquivoMinutasGABJU201l\minutaGAHJU limdoc(G)
Entretanto, algumas considerações em relação à materialidade e
aos indícios de autoria precisam ser efetuadas.
O comprovante de depósito a que se faz referência, nada mais é do
que o depósito no valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) efetuado na conta do
dentista José Abel Porto de Almeida, por Cíóves Pereira Guimarães, correu e irmão de
Josino Pereira Guimarães. Portanto, o dentista foi pago, não com recursos públicos, mas
sim com recursos privados, e oriundos de pessoas diretamente interessadas no resultado da
perícia.
Consta ainda nos autos o depoimento do também dentista António
José Garcia Palma, onde afirma que apesar de não ter recebido qualquer valor pelos
trabalhos prestados, foi informado por Márcio Pieroni, que os valores seriam pagos "pela
parte interessada".
Corroborando a materialidade e os indícios de autoria, no
depoimento de José Abel Porto, perante a autoridade policial, está consignado que José
Abel Porto reuniu-se, previamente com Cloves Luiz Guimarães e Josino Pereira
Guimarães, onde fizeram tratativas sobre o laudo pericial a ser realizado. E mais, consta do
depoimento de Márcio Pieroni, Cloves Luiz Guimarães e Josino Pereira Guimarães, que
eles se conhecem há muito tempo, tendo sido constituído entre eles, uma relação de
amizade, sendo ademais, a esposa de Josino Guimarães, cliente da esposa de Márcio
Pieroni. Não bastasse a relação de amizade, existe também uma relação comercial, entre as
esposas de dois dos corréus.
Ora, há de se indagar, se a "investigação" que tramitava no bojo
dos Autos Circunstanciados n.° 4602/2010, corria sob segredo de justiça, como é que se
explica o fato de Cloves Luiz Guimarães e Josino Pereira Guimarães, terem tido ciência do
exame a ser realizado na arcada dentária de Leopoldino Marques do Amaral? A única
explicação plausível, para isso, no momento, é que eles tinham total conhecimento da
"investigação" conduzida por Márcio Pieroni.
Relevante destacar, o depoimento de Jorge Barbosa Caramurii,
responsável pelo Instituto Médico Legal - IML, de Mato Grosso, que a um só tempjí),
contradiz duas afirmações de Márcio Pieroni. Primeiro, disse o responsável pelo IML de/
Mato Grosso, que desconhece qualquer suspeita que possa recair sobre o perito do IM]
Célio Spadácio, que o impedisse de realizar a perícia. E ainda, mesmo que fosse o pejfito,

W Wquivo Minutas GABJU 201 l\minula GABJU 1013 .


uma pessoa suspeita, outros peritos daquele órgão, igualmente capacitados, poderiam
realizar o exame necessário. Logo, com suporte no depoimento de Jorge Caramuru,
aparentemente, não havia nenhuma necessidade que se recorresse a dentistas particulares
para fazer exames, tendo como suporte probatório, material já analisado por peritos
oficiais, de diversos institutos, de ilibada credibilidade e idoneidade.
O segundo aspecto, é que Jorge Caramuru, expressamente afirmou
em seu depoimento, que Márcio Pieroni, deturpou suas declarações constantes em oficio,
eis que jamais havia declarado que as provas perícias relativas Leopoldino Marques do
Amaral, efetuadas pelo IML/MT, estariam imprestáveis.
Em outra senda, no depoimento colhido no inquérito policial, do
também correu Abadias Paes Proença, consta que foi informado por policiais civis, que o
telefone de José Roberto Padilha estava "grampeado". E mais, que conversou, ao telefone,
com José Padilha, de "dentro da delegacia de homicídios". Tal fato é ao mesmo tempo
prova da materialidade, bem como indícios de autoria dos crimes previsto no art. 10 da Lei
9.296/96.
No depoimento de Luziane Pedrosa da Silva, há a afirmação que o
correu Gardel Lima, lhe procurou e pediu-lhe que ligasse para o telefone de José Roberto
Padilha, inclusive orientando-a, para que falasse com ele "acerca do assunto envolvendo o
juiz LEOPOLDINO DO AMARAL".
Enfim, não bastasse a decisão que recebeu a denúncia ter
reconhecido a existência da materialidade e de indícios de autoria dos crimes imputados
aos requeridos, as provas acima explicitadas, demonstram não só a existência dos crimes
contidos na denúncia, como também apontam para o fato de que as condutas criminosas, se
deram, no âmbito de uma organização criminosa, uma vez que ficou demonstrado a
participação, em tese, de mais de três pessoas.
Comprovada a materialidade e os indícios de autoria, resta
análise da existência do periculum in mora, sob os fundamentos invocados pelo MPF,
de assegurar a ordem pública e por conveniência da instrução processual.
Da Garantia da Ordem Pública
Tecendo comentários sobre a hipótese da garantia da ordem
pública, Fernando Capez assevera que:
"a prisão cautelar é decretada com a finalidade de impedir que/o
agente, solto, continue a delinqtiir, ou de acautelar o meio soqnal,

W \Arquivo Minutas GABJU 2011 \minuia GAHJU


garantindo a credibilidade da justiça, em crises que provoquem
grande clamor popular. No primeiro caso, há evidente perigo social
decorrente da demora em se aguardar o provimento definitivo, porque
até o trânsito em julgado da decisão condenatória o sujeito já terá
cometido inúmeros delitos. Os maus antecedentes ou a reincidência
são circunstâncias que evidenciam a provável prática de novos delitos,
e, portanto, autorizam a decretação da prisão preventiva com base
nessa hipótese." (CAPEZ, FERNANDO - Curso de processo penal.
12a ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 243) Grifei.

Em outro enfoque, porém, também admitindo e explicitando as


hipóteses em que é cabível a decretação da prisão preventiva, com suporte na
necessidade de se garantir a ordem pública, a jurisprudência do STF, pondera que a
análise se faz para o futuro, não de forma pretérita. Em outras palavras não se tutela a
ordem pública pretérita, mas sim a futura. Se no passado os requeridos conturbaram a
ordem pública, porém, no presente e no futuro já não têm mais esse poder, impossível a
decretação. Nesse sentido HC 84.352-RJ, STF, Min. Marco Aurélio, DJ 05/11/2004.
A organização criminosa tem que ter estrutura e ambiente para
projetar para o futuro, de forma reiterada, aquilo que fez no passado.
Entendo, portanto, presente na espécie, esse pressuposto.
Ora, como bem narrado pelo MPF, a primeira investida praticada
com o intuito claro de interferir no julgamento do Tribunal do Júri Federal, foi em 2006,
e mesmo não tendo êxito material - pois teve exilo processual, com a realização da
exumação dos restos mortais de Leopoldino Marques do Amaral-, no final do ano de
2010, nova investida foi feita, desta feita não obtendo sequer êxito processual, face à
intervenção do Ministério Público Estadual e Federal.
Como se pode observar, houve duas condutas de forma reiterada,
utilizando-se de órgãos do Estado, do Executivo e do Judiciário, sem qualquer
atribuição ou competência constitucional, para apreciar a demanda.
Em 2006, com suporte em um falso depoimento, segundo rela^
Beatriz Árias, forjou-se, no âmbito judicial, a realização da exumação dos restos mortaiJ
de Leopoldino Marques do Amaral. Daquela vez, à frente estava o correu e requerido
Márcio Pieroni, que mesmo sem ser titular da Delegacia competente, obteve a proeza,
de conseguir uma autorização para a exumação. Destaque-se, que de acordo com
depoimento de Beatriz Árias, além de os termos a ela atribuídas, não serem verdadeiras,

13
W \Arquivo Minutas GABJU 201 IXminuta GABJU 101 í doc«j)
^ f EDE^

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V ../
o seu depoimento só foi possível, em função da intervenção do então Desembargador de
Justiça, Paulo Lessa, que a convenceu a prestar o depoimento, mesmo ela não tendo lido
o que havia assinado. E mais, assinou tal termo, após encontro realizado em
circunstância, nada usual, ou seja, encontro realizado com ela, Márcio Pieroni, e o então
Desembargador Paulo Lessa, de madrugada, na sede da Associação Matogrossense de
Magistrados - AMAM.
Ainda nessa época, outro fato pitoresco, que também não é de
praxe no âmbito do Poder Judiciário, não havendo sequer previsão legal para tanto, foi a
colheita do depoimento de Beatriz Árias, nos autos do Processo 070/2000 - 7a Vara
Criminal Estadual da Comarca de Cuiabá/MT -, em audiência presidida pelo Juiz de
Direito, Pedro Sakamoto. Oportunidade na qual, segundo, Beatriz Árias, houve a
intervenção durante a audiência, do correu Márcio Pieroni, fato esse, também não usual
e sem previsão legal, uma vez que o Delegado de Polícia, não possui capacidade
postulatória, isto é não pode se manifestar em audiência judicial, salvo como parte ou
testemunha.
Nesse sentido, importante a transcrição do depoimento de Beatriz
Árias, perante os Procuradores da República, em Mato Grosso, onde ela bem esclarece
os fatos que teriam ocorrido no ano de 2006:

Que no ano de 2006 o Delegado Pieroni procurou o Português de nome


ANTÓNIO LINO DA SILVA PINTO pedindo para que este chamasse
a depoente na empresa do Português; Que nesta empresa também
compareceu o Delegado Pieroni; Que o Delegado Pieroni pediu para a
depoente ratificar o seus depoimento prestado em 1999; (...) Que depois
Pieroni foi à casa da depoente e pediu para que fosse até a Delegacia,
que a depoente disse que não iria à Delegacia pois não havia intimação;
Que o Delegado Pieroni disse que era uma conversa informal e poderia
chamar seu advogado; Que a depoente ligou para seu irmão e pediu
para que ele para seguisse uma camionete preta na qual estavam a
declarante e Pieroni; Que esse fato ocorreu por volta do meio dia; Que
o Delegado Pieroni levou a depoente até a Delegacia do Meio^.
Ambiente; Que na Delegacia do meio ambiente não havia nenl
servidor; Que Pierone disse que logo chegaria a escrivã, que de fa]
ocorreu; Que Pieroni disse que poderia ligar para o Desembargai^
Paulo Lessa, que ele estava fazendo isso a pedido
Desembargador; Que a depoente ligou para o Desembargador
Paulo Lessa; Que o Desembargador disse que poderia confiar nele/
e que era para responder tudo que o Delegado Pieroni perguntas»^;
Que a depoente então ligou para seu advogado Paulo Fabrine e ei
disse que não tinha problema em responder as perguntas, pois esteva

Í/Í4
W \Arquivo Minutas GABJU 201 l\mmu(a GAI3UJ 1013 doc<G|
ocorrendo numa Delegacia; Que o advogado disse que não poderia
comparecer; Que a depoente disse ao Delegado Pieroni que não tinha
nada para acrescentar ao que foi dito em 1999; Que a depoente não
afirmou o que está escrito no depoimento prestado em 2006 para o
Delegado Pieroni de que o Juiz Leopoldino " estava vivo, morando
na Argentina"; Que a depoente também não afirmou para Pieroni
de que "já tentou por várias vezes avisar para as autoridades
judiciais da necessidade de se fazer um novo exame no cadáver do
ex-Juiz Leopoldino, mas que nunca foi ouvida"; Que a depoente
disse a Pieroni que isso não iria dar certo porque já foram realizados
todos os exames periciais em 1999; Que Pieroni disse que essa parte era
com ele e que tinha certeza que o corpo enterrado não era do Juiz; Que
a depoente recusou em assinar o termo pois o advogado não estava
presente; Que então o Delegado Pieroni ligou para o Dês. Paulo
Lessa, o qual teria dito para irem na AMAM; Que isso já era por
volta de uma hora da manhã; Que a depoente foi até a AMAN que
o Dês. Paulo Lessa disse para confiar nele e que poderia assinar;
Que por isso não chegou a ler o termo de declaração, mas que o
Dês. Paulo Lessa leu; Que o Pieroni disse na frente do Dês. Paulo
Lessa que iria ocorrer a exumação e que seria provado que juiz
estaria vivo; Que Pieroni depois a deixou em casa; Que no dia em que
foi ouvida na Justiça Estadual pelo Juiz Pedro Sakamoto, os fatos
ocorreram da seguinte forma: que o Pieroni foi busca-la em sua
casa, por volta das 19 horas, dizendo que era preciso esperar o fórum
fechar, que Pieroni disse que a depoente tinha que ir no Fórum para
falar para o Juiz o que a depoente já havia dito em 1999; que a
depoente não esperava que tinha que ir no fórum e foi se arrumar; que
foi ao fórum por volta das 19 horas, após o seu fechamento, que
estavam na sala o Juiz Pedro Sakamoto, seu filho escrivão, a
Promotora Salete, a Defensora Pública e o Pieroni, que a Dra.
Salete quando da qualificação da depoente, retirou-se da sala de
audiência, dizendo que não iria compactuar com aquilo; Que a
depoente informa que jamais disse, perante o Juiz Pedro
Sakamoto, que "o Juiz Leopoldino Marques do Amaral está vivo e
morando na Argentina"; Que se lembra do filho do Juiz Sakamoto
dizendo que não poderia constar no depoimento da declarante
determinado trecho, o qual a depoente não se recorda, mas o Juiz
Pedro Sakamoto disse que colocaria o trecho no depoimento; Que o
Delegado Pieroni estava presente na audiência e fazia intervenções,
inclusive para constar determinados trechos que a própria
depoente já havia se esquecido; Que a ratificação era das
declarações prestadas perante a Justiça Federal e não na Polícia
Civil; Que após a audiência Pieroni a deixou em casa, e disse qi
com aquele depoimento já era suficiente para exumar o corpo^de
Leopoldino; Que a depoente não tem interesse nenhum em exumar o
corpo de Leopoldino, não tendo recebido nenhum favor, pelo contrário
se sentiu obrigada a cooperar; Que curiosamente após a exumação
Pieroni assumiu a chefia da DEHPP(...)" (Grifei)

Já a reiteração desse fato, se deu no final de 2010 e início


2011, quando também de forma inusitada, novamente se tentou realizar a exumação/do
l/fc>
W \Arquivo Minmas GABJU 201 hininuia GABJU 1013 docf(i)
corpo de Leopoldino Marques do Amaral. À frente das investigações, estava também, o
correu Márcio Pieroni. Como bem ressaltado na representação ministerial, a partir da
investigação de um suposto crime de ameaça, chegou-se à decisão, aparentemente,
objetivada desde o início, qual seja, a exumação do corpo de Leopoldino Marques do
Amaral.
Seguindo os mesmos passos, da tentativa de 2006, as provas
foram produzidas, utilizando-se de um delegado incompetente, bem assim autorizados
por órgãos judiciais, constitucional mente incompetentes. No caso, como bem deixei
consignado, por ocasião da decisão que decretou a nulidade de todas as provas
produzidas no âmbito estadual, aqueles juízos eram totalmente incompetentes (Processo
n 4660-53.2011.4.01.3600):

Feitos esses esclarecimentos, cumpre observar que todas as


decisões proferidas neste incidente processual, no âmbito da justiça
estadual, a teor do que dispõe o artigo 567 do CPP são completamente
nulas, não podendo gerar efeito algum, por terem sido efetuadas por
juízos absolutamente incompetentes.
No que diz respeito às decisões proferidas pelo magistrado do
Juizado Especial da Comarca de Cuiabá, ou seja, as interceptações
telefónicas e a convalidação das diligências tidas como prova pericial,
referente a análise da arcada dentária do falecido Juiz Leopoldino
Marques do Amaral, elas também padecem de outras nulidades.
As interceptações telefónicas são nulas por dois fundados motivos.
O primeiro, porque o suposto crime investigado era o de ameaça, cuja
pena é a de detenção (de um a seis meses de detenção, consoante
determina o art. 147 do Código Penal). Ora é certo que a Lei 9.296/96,
em seu artigo 2°, caput, c/c o inciso III, veda a interceptação telefónica
quando o "fato investigado constituir infração penal punida, no
máximo, com a pena de detenção". Evidente que a medida adotada foi
efetuada em total desrespeito ao comando legal, sendo, portanto,
totalmente nula.
Não bastasse esse fato, a interceptação foi determinada sem a
oitiva prévia do Ministério Público, o que de início irregularidade
alguma teria, desde que posteriormente o órgão ministerial fosse
intimado para acompanhar as investigações e se manifestar, se assim
entendesse, sobre a necessidade da interceptação telefónica. Ocorri
que o ministério público não foi intimado.
E mais, no período entre a autorização inicial (17/11/2010) elo
declínio de competência para a vara especializada (25/02/2011 ),/é
dizer, por mais de 03 (três) meses a interceptação telefónica foi
prorrogada, por diversas vezes, mediante a autorização judicial,
que o Ministério Público fosse intimado. E certo que a interceptaçãc
telefónica há de ser deferida em caráter sigiloso, porém, não ao pon/o
de se ocultar tal fato do próprio Ministério Público. Também neése

,6
W \Arquivo Minutas OABJU 201 l \minulB (lABJU 1011 doUf i)
aspecto é nula toda a interceptação telefónica, por não ter obedecido
aos dispositivos legais, que decorrem dos preceitos constitucionais.
As "análises" das arcadas dentárias do falecido Juiz Leopoldíno
Marques do Amarai são também totalmente nulas, porque sendo fatos
que ensejam complexidade probatória, jamais poderiam ser apreciadas
em incidentes que tramitam no âmbito do juizado especial. Ora, todos
os operadores jurídicos (Juizes, Promotores e Delegados) têm ciência
de que cabe aos Juizados Especiais, no âmbito criminal, tão somente
os crimes de menor potencial ofensivo, assim entendidos aqueles
cujas penas não sejam superiores a dois (02) anos, ou cuja elucidação
não demandem complexidade probatória (art. 77, § 3°, da Lei
9.099/95). É certo que para se aferir a exatidão da arcada dentária de
uma pessoa, há a necessidade de exames complexos, bem assim de
dilação probatória o que não se admite nos Juizados Especiais, sendo
esse mais outro motivo de nulidade, até porque da mesma forma que
as interceptações telefónicas o Ministério Público sequer foi intimado
para se manifestar.
Por fim, já no que diz respeito a eventual material colhido dos
restos mortais do Juiz Leopoldino Marques do Amaral, estes não
possuem qualquer valor probatório, seja por ter sido deferido por juízo
incompetente, seja por ter sido mantida as diligências da exumação
por juiz incompetente, quando esteja sabia ser incompetente, posto
que havia reconhecido a sua incompetência.
Com efeito, o juiz da Vara Criminal Especializada Contra o
Crime Organizado, Contra a Ordem Tributária e Económica e os
Crimes Contra a Administração Pública da Comarca de Cuiabá,
mesmo tendo reconhecido a sua incompetência para processar o
presente incidente, e já tendo sido formulado pedido pelo Ministério
Público Estadual e Federal, para que fosse suspendida exumação,
manteve indevidamente a exumação, mesmo sabendo que não detinha
competência jurisdicional para tanto, ou seja, sabia que era
manifestamente incompetente para apreciar a demanda posta sob a sua
análise.

Como pode se observar, dois foram os órgãos judiciais


pertencentes ao Estado de Mato Grosso, que produziram tais provas nulas, o Juizado
Especial Criminal Unificado, por decisões do Juiz de Direito Mário Kono; e a Vara
Criminal Especializada Contra o Crime Organizado, Contra a Ordem Tributária e
Económica e os Crimes Contra a Administração Pública da Comarca de Cuiabá,
decisão do Juiz de Direito, José de Arimatéia.
Não bastassem tais fatos, nessa nova reiteração, apontada pelo
MPF, surge um novo ingrediente. Segundo afirmou o MPF, quando se tentou captar
informações ambientais de José Roberto Padilha, além de investigadores policiais terei
orientado Luziane Pedrosa da Silva, ex-esposa do correu Abadia Paes Proença, fói
entregue a ela um gravador em forma de chaveiro para gravação da conversa, e quitai
/
17
W \ArqiiivoMinutasGADJU20ll\minulaGABJC U)lJ.doc(G)
ê

equipamento pertenceria ao jornalista de uma determinada emissora desta Capital, por


nome de Jonas Campos.
Ora, quando há o concurso, voluntário ou involuntário,
decorrente de atos praticados por integrantes da Polícia, do Poder Judiciário - no caso,
justiça estadual -, e da imprensa, sendo tais atos direcionados à produção de provas
futuras, caracterizado está o forte abalo à ordem pública. Isso porque, utilizando-se de
órgãos da mais alta credibilidade social, há o perigo imanente e concreto de se produzir
falsamente, provas formais, com aptidão de influenciar o curso da ação judicial, ou
produção de informações subliminares, influenciando o senso comum, acerca da
existência de um fato, ainda que de forma inverídica, principalmente em um processo
judicial, que será julgado por integrantes da comunidade, no caso, o Tribunal do Júri
Popular.
Não se faz aqui, nenhum juízo de valor, a respeito da
participação do jornalista em comento, em função de não se ter no momento, maiores
informações, em relação ao fato ocorrido. O mesmo se diga em relação aos atos
jurídicos produzidos no âmbito da justiça estadual, mesmo porque falece competência a
este juízo para tanto. Porém, não se pode deixar de reconhecer que aqueles atos
jurídicos, produzidos na forma como foram tinham o potencial de abalar a credibilidade
da justiça, sendo, mais um motivo para ensejar a decretação da prisão preventiva dos
ora requeridos.
Resta ainda, a análise do outro fundamento suscitado pelo MPF
para a decretação da prisão preventiva dos requeridos. A necessidade de se garantir a
instrução processual.

Da Conveniência da Instrução Crimina! (Processual):

Também, sob esse fundamento, razão assiste ao MPF.


Com a decisão definitiva efetuada pelo STF, seja em 16
novembro de 2010, seja em 26 de abril de 2011, no HC 100.154/MT, em breve os autos
retornarão a este juízo, para a designação do Tribunal do Júri. Ora, os atos até ent
praticados pelos requeridos, tiveram a nítida intenção de produzir provas, ou inval

18
WAArquivo Minutas GABJU 201 l\minuta GABJU 101.1 doc(Ci)
as já existentes no âmbito do processo 2000.36.00.005959-0 (processo no qual Josino
Pereira Guimarães é réu, e será levado ao Tribunal do Júri).
A instrução processual para o plenário do Tribunal do Júri,
ainda vai se iniciar. Se mesmo antes de se iniciar, os corréus são acusados de integrarem
uma organização criminosa, com o intuito de fraudar a instrução processual - tendo
praticados outros crimes, segundo o MPF, como por exemplo, os crimes de violação de
sepultura (art. 210 do CP); falsidade ideológica (art. 299 do CP); uso de documento
falso (art. 304 do CP); desobediência (art. 330 do CP); denunciacão caluniosa (art.
339 do CP); além dos crimes previstos no art. 10, primeira e segunda parte da Lei
9.296/96, que regulamenta a interceptação telefónica -, há possibilidades concretas, não
baseado em conjecturas, mas em dados e fatos pretéritos, que soltos, poderão intervir
fraudulentamente na instrução processual, seja para tumultuá-la, seja para falsear a
verdade.
Nesse sentido, arrola-se, sumariamente, alguns fatos já
praticados pelos corréus, de acordo com o MPF.
O correu Márcio Pieroni: a) com o intuito de beneficiar Josino
Guimarães, tanto no ano de 2006, quanto em 2010/2011, teria forjado provas, para
falsear a verdade, a respeito da morte de Leopoldino Marque do Amaral; b) teria
simulado um falso crime de ameaça, envolvendo José Roberto Padilha da Silva e
Abadia Paes Proença, com a finalidade exclusiva, de em um momento posterior, obter a
exumação dos restos mortais de Leopoldino Marques do Amaral; c) teria, direta ou
indiretamente, revelado a Abadias Paes Proença, a existência de interceptação
telefónica, envolvendo terceira pessoa, incorrendo no crime previsto no art. 10 da Lei
9.296/96; d) teria tentando cooptar Beatriz Árias, a fim de que produzisse provas falsas;
e) teria, sob falsa alegação, conseguido que dentistas particulares elaborassem pareceres
sobre a arcada dentária de Leopoldino Marques do Amaral; f) teria manipulado órgão
judiciais incompetentes, afim de obter decisões judiciais que favorecessem os seu
intentos; etc.
No que diz respeito à cooptação de Beatriz Árias, colhe-se do
seu depoimento perante os Procuradores da República, alegações que reforçam a tese de,
que soltos, os corréus, colocarão em risco a instrução processual:

19
Que em novembro do ano passado seu LINO ligou para depoente
dizendo que o Pieroni tinha uma coisa muito importante para falar
com ela; (...) Que Pieroni procurou a depoente na empresa de LINO;
Que a depoente estava acompanhada de seu marido; Que o marido da
depoente disse a Pieroni que a depoente não participaria de mais nada,
bem como que Pieroni não iria fazer o que tinha feito quando Pieroni
"sequestrou" a depoente; Que Pieroni mostrou a depoente um vídeo,
no qual ABADIA aparecia; Que Pieroni colocou uma fita de áudio
de gravação telefónica entre ABADIA e JOSÉ ROBERTO para a
depoente ouvir; Que Pieroni ainda mostrou um documento da perícia
da arcada dentária, ficha dentária de Leopoldino e as fotos do
Leopoldino; Que Pieroni que aqueles novos elementos poderia dar
uma reviravolta no caso; Que a depoente não acreditou na afirmação
de Pieroni no sentido de que Leopoldino estava vivo morando com
traficantes e que era bissexual; (...) Que Pieroni disse nessa
oportunidade que o cadáver sepultado não era de Leopoldino e
que já estava tudo acertado para a realização da exumação; Que
todos esses fatos ocorreram em novembro de 2010. (...) (Grifou-se)

O correu Josino Pereira Guimarães: a) principal interessado no


êxito das condutas praticadas por Márcio Pieroni teria, juntamente com sua esposa,
tentado cooptar Beatriz Árias, para lhe favorecer; b) teria se reunido com o seu irmão e
correu, Cloves Luiz Guimarães e o dentista José Abel (dentista da sua família),
previamente à realização do exame na arcada dentária de Leopoldino Amaral, efetuado
por José Abel; c) teria, direta ou indiretamente, sido um dos responsáveis pelo
pagamento a José Abel; d) seria o grande responsável, ao lado de Márcio Pieroni, pela
fraude processual e demais crimes cometidos, com o intuito único de se beneficiar de
forma ilícita.
A intensidade da conduta imputada aos requeridos é tamanha,
que segundo o MPF, mesmo após o Juiz José de Arimatéia, da 15a Vara da Comarca de
Cuiabá/MT, ter reconhecido a sua incompetência para apreciar o pedido de exumação -
embora, contraditoriamente tenha determinado a exumação -, e determinado a remessa
dos autos para Justiça Federal, a exumação que estava originariamente marcada para
09/03/2011, foi "abruptamente" antecipada para o dia 02/03/2011, horas após a
intervenção efetuadapelo Ministério Público Estadual e Federal naquele juízo.
Conforme, consta da denúncia, o MPF e Ministério Public
Estadual solicitaram a suspensão da exumação e o declínio de competência para a
Justiça Federal, no fim do dia 01/03/2011 e a exumação que estava marcada para o di
09/03/2011, fora antecipada para a "madrugada do dia 02/03/2011", com o intuito,
que parece, de burlar a apreciação do feito pela Justiça Federal.
'"20
W \Arquivo Minulas GABJU 2011 \minutaGABJU 1013 doc(G)
Enfim, em permanecendo os corréus soltos, na iminência do
Tribunal do Júri, há sérios riscos deles reproduzirem os fatos, até então lhes imputados,
provocando abalo à ordem pública, afetando a credibilidade do poder judiciário, bem
assim acarretar graves malefícios à instrução processual, como bem já exaustivamente
fundamentado.
Não bastassem os atos já praticados, de acordo com a
representação ministerial, não se pode olvidar, que Márcio Pieroni, é Delegado de Policia
Civil, e conforme por ele mesmo dito, em seu depoimento perante a autoridade policial, no
Inquérito Policial, já exerceu todos os cargos relevantes na Polícia Civil de Mato Grosso,
inclusive o de Diretor Geral, o que demonstra o grau elevado de poder que possui. Tal
poder, em permanecendo o correu em liberdade, pode ser utilizado em prejuízo da
instrução processual, bem assim contribuindo para abalar a ordem pública.
Já Josino Pereira Guimarães, empresário, e acusado no processo
2000.36.00.005959-0 (processo no qual é réu, e será levado ao Tribunal do Júri), detérn
poder e influência económica, como já bem demonstrado não só pelas condutas imputadas
a si e a Márcio Pieroni, para influenciar e prejudicar a instrução processual, bem como para
produzir abalo à ordem pública.
Diante do exposto, com fundamento no artigo 312 do CPP,
especificamente para evitar o abalo à ordem pública e garantir a instrução processual dos
autos 2000.36.00.005959-0, DECRETO-Ar-gRlSÂO PREVENTIVA de MÁRCIO
FERNANDO DE BARROS PIERdNI e JOSINO PEREIRA GUIMARÃES.
Expeçam-se os mandados de prisão preventiva, entregando-os à
autoridade policial, bem como dê-se ciência ao MPF e à autoridade policial do inteiro teor
desta decisão.

Cuiabá/MT, ?de maio de 2011.

PAULO CEZAR ALVES SODRE


liz Federal

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W \Arquivi) Minutas GABJU 201 [\ininutaOABJU lOlJdoc(G)

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