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ISSN 1809-9246

VOLUME 10
NÚMERO 2
ABRIL A JUNHO DE 2006

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE


PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA

WORLD CONFEDERATION FOR PHYSICAL THERAPY


ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos,
v. 10, n. 2, p. 137-247, 2006

A Revista Brasileira de Fisioterapia é o veículo da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Fisioterapia (ABRAPG-Ft). Publicada a partir de 1996, adota processo
de revisão por especialistas (peer review), sendo que cada artigo é publicado apenas após a aceitação por no mínimo três revisores, mantidos no anonimato.
The Brazilian Journal of Physical Therapy is published by Brazilian Association for Research and Postgraduate studies in Physical Therapy. Published as from 1996, adopted
a peer review process, each article only being published after being accepted by a minimum of three reviewers, maintained in anonymity.

Missão: publicar artigos científicos relativos ao objeto básico de estudo e campo de atuação profissional da Fisioterapia, veiculando estudos básicos e aplicados sobre a prevenção
e tratamento das disfunções de movimento.
Mission: to publish scientific articles related to the basic objective of study and field of professional activity in Physical Therapy, divulging basic and applied studies on the
prevention and treatment of movement disorders.

Indexação/Indexing:
· LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde/ Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences)
· SPORTDiscus
· SCA (Scientific Cambridge Abstracts)

· SciELO (Scienfific Eletronic Libray Online)

EDITORES/EDITORS
Helenice Jane Cote Gil Coury
Tania de Fátima Salvini
Sérgio Teixeira Fonseca
SECRETÁRIA EXECUTIVA/EXECUTIVE SECRETARY
Dormélia Pereira Cazella
EDITORES ASSOCIADOS/ASSOCIATE EDITORS
Amélia Pasqual Marques Marisa Cotta Mancini
André Luiz Felix Rodacki Rinaldo Roberto de Jesus Guirro
Antonio Fernando Brunetto Rosana Ferreira Sampaio
Aparecida Maria Catai Rosana Mattioli
Débora Bevilaqua Grossi Sara Lúcia Silveira de Menezes
Dirceu Costa Verônica Franco Parreira
Jamilson Simões Brasileiro
CORPO EDITORIAL/EDITORIAL BOARD
Ada Clarice Gastaldi – UNIT - Uberlândia José Rubens Rebelatto – UFSCar – São Carlos
Alberto Carlos Amadio – USP – São Paulo Kenneth G. Holt – Boston University – EUA
Alcimar Barbosa Soares – UFU – Uberlândia LaDora V. Thompson – University of Minnesota – EUA
Ana Cláudia Mattiello-Sverzut – USP – Ribeirão Preto Linda Fetters – Boston University – EUA
Anamaria Siriani de Oliveira – USP – Ribeirão Preto Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela – UFMG – Belo Horizonte
Armele Dornelas de Andrade – UFPE – Recife Marco Aurélio Vaz – UFRGS – Porto Alegre
Audrey Borghi e Silva – UFSCar – São Carlos Nivaldo Antonio Parizotto – UFSCar – São Carlos
Augusto Cesinando de Carvalho – UNESP – Presidente Prudente Paul Hodges – University of Queensland –Austrália
Carlos Eduardo dos Santos Castro – UFSCar – São Carlos Pedro Dall’Ago – FFCMPA – Porto Alegre
Celso Ricardo Fernandes de Carvalho – USP – São Paulo Raquel Rodrigues Britto – UFMG – Belo Horizonte
Chukuka S. Enwemeka – New York Institute of Technology – EUA Regina Heloisa Maciel – UECE – Fortaleza
David J. Magee – University of Alberta – Canada Renato da Costa Teixeira – UEPa – Belém
Edison Sanfelice André – FURB – Blumenau Ricardo Oliveira Guerra – UFRN – Natal
Eliane Mauerberg – UNESP – Rio Claro Richard L. Lieber – Univ. of California and V.A. Medical Centers – EUA
Eloisa Tudella – UFSCar – São Carlos Rik Gosselink – Katholieke Universiteit Leuven – Bélgica
Ester da Silva – UNIMEP – Piracicaba Rosângela Corrêa Dias – UFMG – Belo Horizonte
Fátima V.R. de Paula Lamego Goulart – UFMG – Belo Horizonte Rubens Corrêa de Araújo – USJT – São Paulo
Gert-Ake Hansson – Lund University – Suécia Sandra Olney – Queen’s University – Canadá
Gil Lúcio Almeida – UNAERP – Ribeirão Preto Serge Roy – Boston University – EUA
Herbert Gustavo Simões – UCB – Brasília Shrawan Kumar – University of Alberta – Canadá
Isabel de Camargo Neves Sacco – USP – São Paulo Stela Mattiello Gonçalves Rosa – UFSCar – São Carlos
Janet Carr - University of Sydney – Austrália Vanessa Monteiro Pedro – UFSCar – São Carlos
João Carlos Machado – UFRJ – Rio de Janeiro Vera Maria da Rocha – UFRN – Natal
João Marcos Domingues Dias – UFMG – Belo Horizonte Walter Araujo Zin - UFRJ - Rio de Janeiro
José Ignacio Calvo Arenillas – Universidade de Salamanca – Espanha

Revisão/Review
Bibliotecária/Librarin
Dormélia Pereira Cazella
CRB 8/4334

São Carlos – São Paulo – Brasil


ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos,
v. 10, n. 2, p. 137-247, 2006
ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos, v. 10 n. 2

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Revista Brasileira de Fisioterapia (Brazilian Journal of Physical


Therapy)/Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação
em Fisioterapia. v. 1, n. 1 (1996). – São Carlos: 1996.

v. 10, n. 2 (abr./jun. 2006).


Trimestral
Sumários em Inglês e Português
ISSN 1809-9246

1. Fisioterapia/periódicos I. Associação Brasileira de Pesquisa


e Pós-Graduação em Fisioterapia.

Associação Brasileira
de Editores Científicos

A B E C
Revista associada à/journal associated to

REVISTA BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA


Secretaria Executiva
Universidade Federal de São Carlos
Rod. Washington Luís, km 235, Caixa Postal 676
CEP 13565-905, São Carlos. São Paulo, Brasil
Tel. (0xx16) 3351-8755 Fax: (0xx16) 3361-2081
Aos cuidados da Revista Brasileira de Fiosioterapia

Confecção de gráficos e diagramação/Production of graphs and diagrams: Alexandra Domingues Queiroz

A Revista Brasileira é publicada em convênio com a Universidade Federal de São Carlos sob responsabilidade do Departamento de Fisioterapia.
The Brazilian Journal of Physical Therapy is published by arrangement with the University of São Carlos, under the responsability of the
Department of Physical Therapy.
SUMÁRIO/SUMMARY ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos,
v. 10, n. 2, p. 137-247, 2006

Editorial ................................................................................................................................................................................................................................................................... V

Artigos de Revisão/Review Articles


IMPORTANCE AND CLARIFICATION OF MEASUREMENT PROPERTIES IN REHABILITATION
Importância e Esclarecimentos das Propriedades de Medida em Reabilitação
Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ ............................................................................................................................................................................................................................................ 137

THE CHANGING FACE OF NEUROLOGICAL REHABILITATION


Mudando a Face da Reabilitação Neurológica
Carr JH, Shepherd RB .............................................................................................................................................................................................................................................................. 147

Artigos Científicos/Scientific articles


HEMIPARETIC CEREBRAL PALSY: CLINICAL DATA COMPARED WITH NEUROIMAGING
Paralisia Cerebral Hemiparética: Dados Clínicos Comparados à Neuroimagem
Turolla de Souza RC, Ciasca SM, Maura-Ribeiro MVL, Zanardi VA ................................................................................................................................................................................... 157

COMPARAÇÃO DAS RESPOSTAS CARDIORRESPIRATÓRIAS ENTRE EXERCÍCIO DE CARGA CONSTANTE E INCREMENTAL ABAIXO, ACIMA E NO LIMIAR DE
ANAEROBIOSE VENTILATÓRIO
Comparison of Cardiorespiratory Responses Between Constant and Incremental Load Exercises Below, Above and at the Ventilatory Anaerobic Threshold
Pithon KR, Martins LEB, Gallo Jr L, Catai AM, Silva E ....................................................................................................................................................................................................... 163

AVALIAÇÃO DO ALINHAMENTO POSTURAL E DO DESEMPENHO EM ATIVIDADES FUNCIONAIS DE CRIANÇAS HEMOFÍLICAS EM IDADE INFERIOR A SETE ANOS,
COM E SEM SINOVITE CRÔNICA: CORRELAÇÃO COM A INCIDÊNCIA DE HEMARTROSES
Evaluation of Postural Alignment and Performance in Functional Activities Among Hemophilic Children Under 7 Years Old with and without Chronic Synovitis: Correlation with
Hemarthrosis Incidence
Galante GA, Azevedo CSA, Mello M, Tanaka C, D’Amico EA ............................................................................................................................................................................................... 171

ESTUDO DE CONFIABILIDADE DA APLICAÇÃO DA ESCALA DE FUGL-MEYER NO BRASIL


Reability Study on the Application of the Fugl-Meyer Scale in Brasil
Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento NH, Inoue MMEA, Viana MA ............................................................................................................................................ 177

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR DE LACTANTES DESNUTRIDOS


Neuropsychomotor Development of Malnourished Babies
Mansur SS, Neto FR ................................................................................................................................................................................................................................................................. 185

AVALIAÇÃO DA AMPLITUDE ARTICULAR DO JOELHO: CORRELAÇÃO ENTRE AS MEDIDAS REALIZADAS COM O GONIÔMETRO UNIVERSAL E NO DINAMÔMETRO
ISOCINÉTICO
Knee Joint Range-of-Motion Evalution: Correlation Between Measurements Achieved Using a Universal Goniometer and an Isokinetic Dynamometer
Batista LH, Camargo PR, Aiello GV, Oishi J, Salvini TF ...................................................................................................................................................................................................... 193

ESTUDO DA CONFIABILIDADE DA FORÇA APLICADA DURANTE A MOBILIZAÇÃO ARTICULAR ÂNTERO-POSTERIOR DO TORNOZELO


Reability Study on the Force Applied During Anteroposterior Mobilization of the Ankle Joint
Resende MA, Venturini C, Penido MM, Bicalho LI, Peixoto GHC, Chagas MH ................................................................................................................................................................... 199

ADAPTAÇÃO ENZIMÁTICA DA LDH EM RATOS SUBMETDOS A TREINAMENTO AERÓBIO EM ESTREITA E LASER DE BAIXA INTENSIDADE
Adaptation of LDH Enzyme in Rats Undergoing Aerobic Treadmill and Low Intensity Laser Therapy
Vieira WHB, Goes R, Costa FC, Parizotto NA, Perez SEA, Baldissera V, Munin FS, Schwantes MLB .............................................................................................................................. 205

RELAÇÃO ENTRE INTENSIDADE DE DOR E CAPACIDADE FUNCIONAL EM INDIVÍDUOS OBESOS COM OSTEOARTRITE DE JOELHO
Relationship Between Pain Intensity and Functional Capacity of Obese Individuals with Knee Osteoarthritis
Vasconcelos KSS, Dias JMD, Dias RC .................................................................................................................................................................................................................................... 213

ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) NO PÓS-OPERATÓRIO DE CESARIANA


Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS) Following Cesarean Surgery
Melo de Paula G, Molinero de Paula VR, Dias RO, Mattei K ............................................................................................................................................................................................... 219

INFLUÊNCIAS DE PRÁTICAS MATERNAS NO DESENVOLVEMENTO MOTOR DE LACTANTES DO 6º AO 12º MESES DE VIDA


Influence of Child-Rearing Practices on Infants’ Motor Development Between the Sixth and Twelfth Months of Life
Silva PL, Santos DCC, Gonçalves VMG ................................................................................................................................................................................................................................. 225

PARÂMETROS CINEMÁTICOS DA MARCHA COM OBSTÁCULO EM IDOSOS COM DOENÇA DE PARKINSON, COM E SEM EFEITO DA LEVODOPA: UM ESTUDO PILOTO
Kinematic Parameters for Gait with Obstacles Among Elderly Patients with Parkinson’s Disease, with and without Levodopa: a Piloty Study
Pieruccini-Faria F, Menuchi MRTP, Vitório R, Gobbi LTB, Stella F, Gobbi S .................................................................................................................................................................... 233

Artigo Metodológico/Methodological Article


A PROFISSIONALIZAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM MINAS GERAIS
Professionalization of Physycal Therapy in Minas Gerais
Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC, Figueiredo IM ............................................................................................................................................................................ 241

Normas Editoriais/Editorial Norms


ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos,
v. 10, n. 2, p. 137-247, 2006

EDITORIAL

Revista Brasileira de Fisioterapia na Scientific Electronic Library


Online - SciELO!

É com imensa alegria que comunicamos que a Revista Brasileira de Fisioterapia foi incluída
na Coleção SciELO em junho de 2006! Queremos compartilhar esse momento com todos vocês
que tornaram essa meta uma realidade: editores, revisores, autores e secretaria da Revista! Essa
conquista apenas foi possível pelo trabalho árduo dos autores que submeteram artigos relevantes
e de qualidade científica; revisores que deixaram o seu trabalho individual para efetuarem pareceres
consistentes e úteis na seleção e aprimoramento dos artigos; e editores que contribuíram para
a melhoria contínua da política editorial da Revista! Essa conquista precisa ser também creditada
ao apoio decisivo do CREFITO-3, que viabilizou financeiramente a ampliação de nossa periodicidade,
a versão on-line, e a versão em inglês da Revista.
Essa nova indexação é um passo fundamental na consolidação de nossa Revista, e sinaliza
que nossa empreitada precisa continuar. Nossa próxima meta passa a ser as indexações internacionais
(Medline,ISI) e, para tal, um aprimoramento contínuo da política editorial, assim como, o apoio
financeiro de entidades de classe, torna-se imprescindível.
Convidamos todos a participar com envolvimento crescente nas atividades da Revista Brasileira
de Fisioterapia!

Helenice Jane Cote Gil Coury


Editora
Revista Brasileira de Fisioterapia
Vol.
ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Measurement Properties in Rehabilitation 137
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 137-146
©Revista Brasileira de Fisioterapia

IMPORTANCE AND CLARIFICATION OF MEASUREMENT PROPERTIES IN


REHABILITATION

GADOTTI IC, VIEIRA ER, MAGEE DJ


Faculty of Rehabilitation Medicine, University of Alberta, Canada
Correpondence to: Inae C. Gadotti or Edgar Ramos Vieira, Faculty of Rehabilitation Medicine, University of Alberta, 3-
48 Corbett Hall (mailbox), Edmonton, Alberta, Canada T6G 2G4, e-mail: igadotti@ualberta.ca
Received: 27/01/2006 – Accepted: 07/03/2006

ABSTRACT
Objective: The purpose of this paper was to critically review the concepts and types of measurement reliability, validity, and
responsiveness, and to discuss their implications for rehabilitation research and high-quality clinical practice. Method: A critical
literature review considering the strengths, limitations, and appropriate applications of measurement properties in rehabilitation
was conducted. Results and Discussion: Measurement quality is assessed using criteria such as reliability, validity, and respon-
siveness. Many published studies do not report these measurement properties, which are related, sometimes overlapping, and
are frequently confused. This review paper clarifies the meanings of the concepts and types of reliability, validity, and respon-
siveness. It gives examples that are relevant for the field of rehabilitation. It discusses how the measurement properties interact
with each other and influence the size of the effect and the power of studies. Conclusion: Measurements are essential in reha-
bilitation research and clinical evaluation. Measurement properties should be reported to allow readers to evaluate the quality
of the results presented. The clarification of measurement properties provided in this paper may contribute towards standardizing
definitions and improving the quality of rehabilitation research and clinical practice.
Key words: measurements, reliability, validity, responsiveness, study power.

RESUMO
Importância e Esclarecimento das Propriedades de Medida em Reabilitação
Objetivo: O objetivo do presente artigo foi revisar criticamente os conceitos e tipos de confiabilidade, validade e responsividade
de medidas, e discutir suas implicações para a pesquisa em reabilitação e para a prática clínica de qualidade. Método: Uma revisão
crítica da literatura foi realizada considerando as vantagens, as limitações e o uso adequado das propriedades de medida em
reabilitação. Resultados e Discussão: A qualidade das medidas é avaliada por critérios tais como confiabilidade, validade e
responsividade. Muitos estudos publicados não apresentam estas propriedades de medida as quais estão relacionadas e algumas
vezes sobrepõe-se sendo freqüentemente confundidas. Este artigo de revisão esclareceu os conceitos e tipos de confiabilidade,
validade e responsividade. Exemplos relevantes para a área de reabilitação foram apresentados. Discutiu-se como as
propriedades de medida interagem entre si e influenciam o tamanho do efeito e o poder dos estudos. Conclusões: Medidas são
essenciais na pesquisa em reabilitação e na avaliação clínica. As propriedades de medida devem ser apresentadas para permitir
que o leitor possa avaliar a qualidade dos resultados apresentados. Os esclarecimentos das propriedades de medida apresentados
neste artigo podem contribuir para a padronização das definições e para a melhoria da qualidade da pesquisa em reabilitação
e da prática clínica.
Palavras-chave: medidas, confiabilidade, validade, responsividade, poder do estudo.
138 Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ Rev. bras. fisioter.

INTRODUCTION has been frequently studied, it is used clinically in rehabilitation,


and its outcomes are important to the patient. The Lachman’s
With the increasing awareness of the importance of test was developed to assess anterior knee instability resulting
evidence based practice, researchers and clinicians are from injury to the anterior cruciate ligament4. The test
interested on objective evaluations of the value and evaluates anterior displacement of the tibia in relation to the
effectiveness of rehabilitation assessment and treatment femur. Injuries to the anterior cruciate ligament may cause
techniques. These objective evaluations can only be performed progressive dysfunction leading to rotatory instability, meniscal
by accurately measuring research results and/or treatment tears, articular cartilage degeneration, and possible arthritis5.
outcomes. Thus, meaningful measurement has become an
essential part of the rehabilitation process. Measurement is
MEASUREMENT RELIABILITY
the act or process that allows quantitative comparison of
results. However, the usefulness of measurements in clinical Reliability is defined as the degree to which a measure
research and in the decision making process depends on the is free of random error (measurement mistakes by chance)1.
extent to which one can rely on the data as accurate and It is quantified by the degree to which measurements are
meaningful indicator of behavior, attribute, or phenomena1. consistent (constant/stable) and reproducible (repeatable)6.
The quality of a measurement is often judged by such criteria For example, the measurements performed, before and after
as reliability, validity, and responsiveness. Measurement a treatment, need to be reliable in order to show any
validity, reliability, and responsiveness are important differences pre and post treatment. In this case, if there were
characteristics that should be considered when reading and/ no changes (the treatment had no effect) the measurements
or writing a paper, but often, they are not reported in would be the same. If the reliability of the measurements is
rehabilitation studies. These measurement characteristics are not reported in a study, the consistency of the measurements
related to each other and sometimes overlap. In addition, performed may be questionable and consequently, the results
authors frequently disagree on their definitions and sub- of the study may also be questioned because differences found
classifications. The terms are frequently confused, often used (or the lack of it) in the study could have been caused by
generally (neglecting the sub-classifications) or random measurement errors and not real changes (or the
interchangeably, and sometimes they are used inappropriately absence of it) in the variable been evaluated. Measurements
or incorrectly. Thus, a review and clarification of the concepts that are composed of the true value of the variable being
is important. assessed along with measurement error are not reliable7, unless
Ideally, any measurement should be reliable, valid, one knows what the measurement error is and corrects it.
responsive, practical, and easy to obtain. Thus, a gold standard Thus, reliability is an essential characteristic of a meaningful
measurement should fulfill several requirements in order to measurement because often it is not possible to distinguish
be justifiable and clinically useful. The degree of reliability, between the true value and the amount of measurement error8.
validity, and responsiveness necessary for each study The statistical analysis of measurement reliability is
(experimental or clinical), the applicability of the intended frequently performed using the Pearson correlation coefficient
instrument in each setting, as well as the purposes of the and the intraclass correlation coefficient (ICC). Correlation
research or clinical assessment should be of concern to both values range from -1.0 to 1.0. There is no consensus for
rehabilitation researchers and clinicians in order to choose cut-point values, but it is usually agreed that the values should
the most appropriate measurement in specific situations. Thus, be greater than 0.75 to indicate good reliability and those
the characteristics of a measurement, along with the objectives below 0.75 indicate poor to moderate reliability1. Another
of measuring the event in question, should guide the decision form of statistically testing reliability is the non-parametric
concerning which measurements proprieties or its types, are Kappa test, which is a measure of rater agreement on a
the most important for a specific study2,3. discrete outcome (nominal scale of measurement) such as
The purpose of this paper was to critically review the “yes” / “no” for classifying treatment effect, for example.
concepts and types of measurement reliability, validity, and The Kappa test results range from 0.0 to 1.0. Kappa values
responsiveness, and to discuss the implications of their between 0.61 and 0.80 are considered as demonstrating
inclusion in studies for high quality rehabilitation research “substantial” reliability and values greater than 0.80 are
and clinical practice. It is hoped this paper will contribute considered as demonstrating “almost perfect agreement”9.
to improve the quality of measurements which are There are different types of measurement reliability. They
fundamental for good evidence based practice. Examples are influenced by errors introduced by the tester (e.g. lack
were used to facilitate comprehension of the measurements of proficiency, non-standardization of procedures), the
properties and their sub-classifications. The Lachman’s test instrument (e.g. technical problems), and/or by the subjects
was used in most of the examples to standardize the being measured (e.g. changes in performance, lack of
comparisons. This test was chosen due to the fact that it cooperation or comprehension, and misrepresentation of
Vol. 10 No. 2, 2006 Measurement Properties in Rehabilitation 139

capabilities due to pain, fear, and psychosocial issues)10. The Instrument Reliability
different types of reliability are presented and exemplified Instrument reliability, or test-retest reliability, evaluates
on the following sub-sections. the ability of the measuring instrument or test (e.g. device,
tool, scale, questionnaire, or interview protocol) to give the
Intra-Tester Reliability same consistent measurements or results. It is tested by taking
Intra-tester reliability, or intra-rater reliability, is related repeated measures of the same “thing” using the same
to the repeatability of measurements taken by the same tester instrument or test 10. Low intra-tester reliability can be a
at different times (stability over-time). It demonstrates the confounder for the instrument reliability assessment. Thus,
consistency of the tester to measure the same “thing” high intra-tester reliability is a pre-requisite to assess the
repeatedly2,8. The subject, the performance level (see intra- instrument reliability and vice-versa. For example, Johnson
subject reliability), and the instrument remain the same. For et al.12 evaluated the instrument reliability of the Lachman’s
example, the intra-tester reliability of the Lachman’s test was test. The authors controlled the intra-tester reliability by
assessed on 32 subjects with knee problems11. Each subject repeating the Lachman’s test measurements at least 3 times
was assessed two times. The intra-tester reliability (Kappa or until reaching equal values within the testing session. Two
test) was 0.51. The Kappa value should be at least 0.61 to sessions were performed in different days and the results
be considered reliable. Therefore, Lachman’s test was found were compared. The differences between the measurement
to have low intra-tester reliability in this study. sessions were not significant (p=0.07). For this reason, the
authors considered the instrument (Lachman’s test) reliability
Inter-Tester Reliability to be satisfactory. Many other studies do not report or
Inter-tester reliability, or inter-rater reliability, evaluates consider the intra-tester reliability when assessing the
the reproducibility of measurements taken by different testers. instrument reliability making it impossible to separate the two.
It is used to detect whether the recorded values change when In addition to high intra-tester reliability, high intra-subject
different testers measure the same “thing”1. As in the case reliability is needed to test the instrument reliability with no
of intra-tester reliability, the tester is evaluated as a possible confounders. In other words, if the instrument reliability is
source of bias and error, but in the case of inter-tester the ability of the instrument to replicate its own measures,
reliability, possible differences between testers measuring the consistency of the subject and tester must be ensured.
the same thing are assessed. For example, the inter-tester
reliability of the Lachman’s test was also evaluated by Internal Consistency
Cooperman et al.11. Measures of four testers were compared. Internal consistency reflects the degree to which different
They found Kappa values equal or less than 0.42 (low inter- items or set of questions in a test, scale, questionnaire, or
tester reliability). One of the justifications of the author for interview protocol are associated to each other. Such
the low inter-tester reliability was that the method of instruments are ideally composed of questions or items that
administration of the Lachman’s test was not standardized measure particular parts or attributes of a greater question.
in their study. The most common approach to testing the internal consistency
of questionnaires and interview protocols involves the
Intra-Subject Reliability calculation of the correlation between different items of the
Intra-subject reliability involves the reproducibility of instrument1. In this case, high internal consistency depends
the subjects’ performance. It compares the measures of the on good correlation (r> 0.75) among the items of the
same subject taken at two or more times when the same tester instrument1. For example, the internal consistency of the
performs the measures. In this case, the intra-tester reliability International Knee Documentation Committee Questionnaire
must be high so that any possible variations in the to assess knee function was tested by Irrgang et al.13. The
measurements can be attributed to the subject’s performance results showed that the questionnaire had high internal
variation10. Low intra-tester reliability (<0.75) can be a consistency; meaning the items were highly correlated to each
confounder for the intra-subject reliability assessment and other (r= 0.92).
the reverse is also true. Thus, high intra-tester reliability is
a pre-requisite for testing intra-subject reliability and vice- Parallel Reliability
versa. For example, a possible explanation for the low intra- Parallel reliability, or equivalence reliability, is determined
tester reliability found for the Lachman’s test by Cooperman by comparing the values or results taken by different
et al.11 is a low intra-subject reliability. The subjects may have instruments or tests at the same time. It evaluates whether
been more relaxed or in less pain in one trial than on the other. measurements or results from different devices or tests are
Consequently different levels of muscular activity may have similar or the same2,8. Thus, parallel reliability is used when
occurred around their knee joints during one of the tests one wants to provide an alternative and/or similar measurement
affecting the results. instrument or test10. Therefore, the measures taken should
140 Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ Rev. bras. fisioter.

be highly correlated or not differ significantly when the same The Pearson correlation and ICC tests are statistical
variable is assessed at the same time. It is important to note methods often used to analyse the validity of measurements.
that for the parallel reliability analysis, the referential tool needs The difference between Pearson and ICC is that the latter
to have been previously tested and reliable. For example, the not only tests the correlation between variables, but also the
parallel reliability of the measures of a new device (Rolimeter) agreement between them. If the Pearson correlation is used
to test anterior knee instability and of the Lachman’s test to assess the validity of a measurement, then the regression
measures was assessed using the KT-1000 arthrometer equation that the Pearson correlation coefficient relates to
measures as reference14. Thirty healthy subjects and 30 patients needs to be evaluated to assess possible systematic errors.
with anterior knee joint instability participated in the study. ANOVA and T-tests may also be used to test if there are
No significant differences between the measures of the significant differences between the variables. If there are
Rolimeter and of the KT-1000 arthrometer were found, but significant differences between the variables under study,
significant differences were found between the Lachman’s the measurements are not valid. ICC, T-test, and ANOVA
test measures and the KT-1000 arthrometer measures should only be used when the units (e.g. cm, degrees, kg)
(p<0.05). Therefore, since the KT-1000 was considered the of the variables under study are the same or are normalized.
reference device, the Rolimeter device showed high parallel Meaning that the numbers need to be directly comparable.
reliability, while the Lachman’s test measures presented low
parallel reliability. In other words, given that the measures Face Validity
from the KT-1000 were considered as reference and the Face validity, the lowest level of validity, is related to
measures of the Rolimeter agreed with them, the Rolimeter the intuitive “feeling” that a measurement seems to be valid15.
measures demonstrated high parallel reliability. On the other The evaluator accepts the assumption that the measurement
hand, since the measures of the Lachman’s test did not agree is valid at “face value”. It offers no evidence on which to
with the KT-1000 ones, the former presented low parallel base the assumption. For example, without doing any analysis
reliability. of the test, the measurement of the knee instability obtained
Overall, the inter-tester and the parallel reliability tend using the Lachman’s test seem to be valid (face validity).
to be respectively lower than the intra-tester and the
instrument reliability because the former involve Construct Validity
measurements of different raters or different devices which Construct validity is similar to face validity, but it
are susceptible to grater variation. Confounders, such as includes a theoretical framework and reasoning to support
increased muscle contraction during the Lachman’s test, for that the measurement is valid. Construct validity is divided
example, could affect most of the reliability measures, such into convergent validity and discriminate validity:
as instrument vs. subject reliability, for example, and should Convergent validity
be discussed in the studies. Supports those measurements that are believed to
reflect the same variables that yield similar results and are
MEASUREMENT VALIDITY comparable. For example, since the anterior drawer test, the
Lachman test, and the pivot shift test are three of the most
Validity is a quality that is attributed to those commonly applied tests to determine an anterior cruciate
measurements that quantify what they are supposed to and ligament injury16, their results are expected to be very similar
that provide a true depiction of what is being measured2,10,15. if not the same.
In other words, does the instrument truly measure what it Discriminate validity
says it does? For example, the Lachman’s test is supposed Indicates that measurements that are supposed to assess
to measure anterior knee joint instability. Thus, it needs to different characteristics yield different results and are not
represent anterior knee stability and nothing else. If the validity comparable3. Thus, discriminative validity depends on the
of the Lachman’s test (or any other measurement) is not tested, fact that measurements that lack a relationship should not
the statements made from the results are questionable. When be related. For example, the Lachman’s test is used to
a measurement is valid, the inferences made from the results determine anterior cruciate ligament injuries while the posterior
are appropriate. In other words, a valid measure allows one drawer test is used to determine posterior cruciate ligament
to rely on the study (test) results and interpretations when injuries17. Therefore, if a subject has an anterior cruciate
making clinical decisions. Therefore, validity deals with ligament injury but the posterior cruciate ligament is not injured,
accuracy (correctness), with the ability to make inferences the Lachman’s test should be positive, but the posterior
(conclusions reached on the basis of evidence), and also with drawer test should be negative.
the presence of no systematic errors (lack of consistent
measurement mistakes)2. A systematic error of 15%, for Content Validity
example, occurs when the measurements are consistently Content validity is usually applied to study questionnaires
15% lower than the actual value. rather than to evaluate devices or measurement tools10. It
Vol. 10 No. 2, 2006 Measurement Properties in Rehabilitation 141

deals with the scope of the evaluation method and with how Prescriptive validity
well the information gathered fully reflects the variable under Is related to how appropriate it is to use a measurement
study15. An example of a question that deals with content to recommend a treatment15. It is determined by the positive
validity is “Do the questions in this independence for daily or negative outcome of a prescribed treatment2,3. For example,
activities’ assessment questionnaire fully cover the problems the Lachman’s test was performed immediately before and
that a disable person will face in his/hers daily life activities?” 24 months after anterior cruciate ligament reconstruction in
In this case, the measurements of pain included in the subjects with acute or chronic injury to the anterior cruciate
questionnaire (for example) will have a higher “content ligament confirmed by magnetic resonance imaging and
validity” if the questionnaire includes an assessment of different arthroscopy examination18. Before ligament reconstruction,
characteristics of pain such as location, type, duration, and 72% of the subjects had a moderate or severe Lachman’s
intensity3. test (n=128). Two years after the reconstruction, no patient
had a moderate or severe Lachman’s test. Thus, a moderate
Criterion-Related Validity or severe Lachman’s test seems to have high prescriptive
This type of validity can be determined by comparing validity for success of reconstruction.
a measurement with a particular factor or criterion, and it
can be divided into predictive, concurrent, and prescriptive MEASUREMENT VALIDITY VS. STUDY
validity: VALIDITY
Predictive validity
Can be assessed by determining whether the predictions In addition to “measurement” validity discussed in the
originating from the measurements come true. In this case, previous section, there is another concept called “study”
the outcomes act as the criterion2. The predictive value of validity that is related to the study in general. Study validity
a positive test is the number of true positives divided by the refers to the internal and external validity of the study. The
total number of positive responses (true and false positives). external validity of a study is related to the extent to which
The predictive value of a negative test is the number of true the results of a study can be generalized outside the
negatives divided by the total number of negatives responses experimental situation. In other words, how much the research
(true and false negatives). For example, the predictive validity findings and conclusions of the study on a given sample are
of the Lachman’s test was evaluated by Cooperman et al.11. applicable to a larger population. On the other hand, internal
In this study, the predictive value of a positive Lachman’s validity of a study refers to the degree to which the relationship
test was defined as the likelihood that a subject with a positive between the independent and dependent variables are free
test had an injured anterior cruciate ligament. The predictive from the effects of extraneous factors and/or confounders3.
value of a negative test was defined as the likelihood that a Internal and external validity are related to the study itself
subject with a negative Lachman’s test did not to have an and not specifically to the validity of the measurements taken.
injured anterior cruciate ligament. The authors found 47%
predictive value for a positive test, and 70% predicted value INSTRUMENT RESPONSIVENESS
for a negative test. This means that in less that half of the
cases when the Lachman’s test was positive the subjects had Instrument responsiveness is the ability of the instrument,
an injured anterior cruciate ligament, while in 7 out of 10 cases device, tool, test, or scale to accurately detect meaningful
with negative Lachman’s test the ligament was not injured. changes19. The measurements of an instrument used for clinical
Concurrent validity evaluation needs to identify clinically significant differences
Evaluates whether measurements taken using different between and within patients over time20. For example, the
instruments agree with each other15. It is used to test whether Lachman’s test must detect meaningful changes in knee
a new instrument is interchangeable with an established “gold stability before and after treatment (i.e. ligament reconstruc-
standard”10. Concurrent validity and parallel reliability are tion). The measurements should show changes in the variable
similar. The difference is that concurrent validity requires being assessed, but they should not be influenced by changes
the reference measurements to come from a valid instrument, in other variables if the one under study remains stable (does
while parallel reliability only requires reliable measurements not change)21. Instrument responsiveness includes the concepts
from the criterion instrument8. Thus, reliability is a pre- of sensitivity and specificity.
requisite for validity. For example, the concurrent validity
of the Lachman’s test can be tested using the arthroscopy Sensitivity
examination as a reference to evaluate anterior cruciate ligament The ability of an instrument to detect changes in the
injury because this examination is considered the valid gold variable under study, when they occur, is defined as the
standard, while the parallel reliability of this the Lachman’s instrument’s sensitivity to change. For example, the ability
test can be tested using the Rolimeter because this instrument of the Lachman’s test to detect improvement in the knee
was shown to have high parallel reliability14. instability after anterior cruciate ligament reconstruction in
142 Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ Rev. bras. fisioter.

subjects with acute or chronic injury is a measure of its on approximately 80%, 99%, and 90% of the sample. Thus,
sensitivity18. The Lachman’s test was performed in subject the Lachman’s test was the most sensitive diagnostic test
before and after anterior cruciate ligament reconstruction; with only 1% false negatives.The false negatives in the
no patient presented moderate or severe Lachman’s test after Lachman’s test (n = 2) were explained by arthroscopically
the reconstruction, while 72% of the patients had moderate confirmed combination of firm reattachment of the injured
or severe Lachman’s test before the reconstruction. anterior cruciate ligament to the posterior cruciate ligament
Therefore, the measurements using Lachman’s test is and bucket handle tear of the medial meniscus increasing
considered as having sensitivity because it was able to detect the anterior stability of the knee5. It is important to know
meaningful changes after treatment. that the sensitivity of the tests is decreased when the subjects
are not under anesthesia, due to pain (hamstring muscle
Specificity contraction/spasm). However, in the Donaldson et al.22 study,
The stability or ability of an instrument measure not to these factors did not significantly affect the results of the
change when no changes in the variable under study occur Lachman’s test. They found positive Lachman’s tests on
is defined as the instrument’s specificity. Note that changes 100% and 99% of the sample, respectively with and without
to other variables may happen, but if the variable of interest anesthesia. On the other hand, the authors found positive
remains stable, the measurement taken should not change pivot shift tests on 98% and 35% of the sample, respectively
(specificity). Thus, specificity is related to the actual testing with and without anesthesia22. This means that the Lachman’s
of the discriminate validity of a measure (see construct validity). test was robust to overcome possible confounders presented
In other words, specificity evaluates if the variable under by muscle contraction while the pivot shift test was not.
study is not influenced by changes in other variables. It can Instrument specificity is evaluated by the probability
be considered as the actual analysis of the discriminate validity of a negative test among patients without disease or injury
(see construct validity). For example, the Lachman’s test (true negative test). The specificity of a diagnostic test can
specificity can be analyzed by performing the test in subjects be calculated as true negative tests divided by true negatives
with non-injured anterior cruciate ligament but with injured plus false positives3. For example, when testing for knee
posterior cruciate ligament. The tests’ results would have instability using the Lachman’s test, the specificity is
to be negative because there would be no anterior cruciate represented by the ability of the test to detect negative results
ligament injury and the test is supposed to detect injuries to (normal laxity) in subjects who are normal. Katz and
this ligament and not injuries to the posterior cruciate Fingeroth23 found that the specificity of the Lachman, anterior
ligament17. drawer sign, and pivot shift tests were higher than 95%.
When a study evaluates instrument responsiveness in
Sensitivity and specificity of diagnostic tests a sample of subjects with a disease or dysfunction, only
In studies involving a diagnostic test, such as the sensitivity can be tested because only false negatives can be
Lachman’s test, the assessment of the instrument’s sensitivity found. Without including normal subjects (without the disease
corresponds to the probability that the measures will detect or dysfunction), it is impossible to analyze if the test has false
a positive test among patients with disease or injury (true positives. Both sensitivity and specificity of a test need to
positive test). When a test incorrectly identifies problem as be known because a test should have low frequency of both
positive or negative, this is referred to as a false positive or false positives and false negatives in order to be useful in
false negative respectively. The sensitivity of a diagnostic the decision making process.
test is calculated as true positive tests divided by true positives
plus false negatives3. If the test detects several positive tests INTERACTIONS BETWEEN
in subjects without the dysfunction, the false positives increase MEASUREMENT PROPRIETIES
and consequently, the credibility of the test decreases and
it may not be useful for what it is trying to measure. For The measurement properties can be presented and tested
example, when testing for knee instability using the Lachman’s separately; however, they are inter-related and affect each
test, the sensitivity is represented by the ability of the test other. Table 1 presents the different measurements properties
to detect positive results (abnormal laxity in the anterior and examples for the Lachman’s test. Selected interactions
cruciate ligament) in subjects who have the abnormality. Kim between measurements properties are presented in the
and Kim5 evaluated the sensitivity of diagnostic tests for following sections.
injuries of anterior cruciate ligament. The tests evaluated were
the anterior drawer test, the Lachman’s test, and the pivot Reliability and Validity
shift test. One-hundred forty-seven patients with an injured Reliability is a pre-requisite for validity2. A measure can
anterior cruciate ligament (confirmed by arthroscopy) were be reliable but not valid10,15, however, a measurement cannot
tested under anesthesia before surgery. The anterior drawer, be valid if it is not reliable19. A measurement can only be
Lachman, and pivot shift tests were positive, respectively, considered valid when it has no systematic error or random
Vol. 10 No. 2, 2006 Measurement Properties in Rehabilitation 143

Table 1. Overview of measurement reliability, validity and responsiveness.

CONCEPTS TYPES SUBDIVISIONS EXAMPLES FOR LACHMAN’S TEST CUT-POINT

Intra-tester NA Kappa = 0.5111 > 0.60


11
Inter-tester NA Kappa = 0.42 > 0.60
Reliability
Intra-subject NA NF NA
12
Instrument NA p = 0.07 > 0.05
13
Internal consistency NA r > 0.75 > 0.75
14
Parallel NA p < 0.05 > 0.05
Face NA NA NA
Construct Convergent/Discriminate NA NA
Content NA NA NA
Validity 11
Criterion-related predictive 47% of a positive test, and 70% of a negative test *
concurrent NF NA
18
prescriptive Improvement measured with the test after surgery NA
Responsiveness sensitivity NA 99%5 *
23
specificity NA > 95% *

NA= Not Applicable; NF= Not Found; *The decision of determine these cut-points depend on the importance of these measurement properties
for the study3.

error (reliability). Consistent and reproducible measurements and the measurements captured the change or confounding
do not indicate that the variable of interest is in fact being muscle stabilization.
measured. For example, a questionnaire can have internal According to Portney and Watkins3 and Hays and
consistency (homogeneity among items), but not content Hadorn19, responsiveness is one aspect of validity rather than
validity (the items do not reflect the variable under study). a separate characteristic. Hays and Hadorn19 stated that the
High reliability (low random errors) along with low systematic fact that an instrument’s measurements are responsive to a
error results in validity (assuming that the measurement in clinical intervention supports the hypothesis that the
fact reflects what it is supposed to measure)8,10. It is important instrument’s measurements are valid. The instrument
to note that the measurement properties can be tested responsiveness adds longitudinal information (i.e. the ability
separately, but they depend on each other to provide useful to capture changes over time) into the process of evaluating
measures. measurement validity19. When selecting an instrument for
evaluation, one should extend his or her concern for
Validity and Responsiveness measurement validity beyond the face and construct validity
A measure that is valid at one point in time should also to the discussion of the responsiveness of the instrument3.
be valid at a different point in time. Consequently, in order On the other hand, Guyatt et al.24 proposed that responsiveness
to provide valid measurement, an instrument should be is distinct from reliability and validity. They stated that an
responsive to changes over time19. Thus, a valid measure needs instrument’s measurements can have reliability, but no
to be responsive (and have high reliability as discussed before). responsiveness; have responsiveness, but no validity; and
However, some measures can be valid only at one point in have no reliability, but responsiveness. Despite, all
time. For example, the concurrent validity of the Lachman’s measurement characteristics that may affect the findings
test can be tested in normal subjects using arthroscopy. The should be addressed in a study’s discussion section in order
measures may be responsive and valid, but they may be to provide a full understanding of the strengths and
different if a second Lachman’s test was performed. The weaknesses of the results and conclusions. The measurement
second measure may be different because the knee stability properties may need to be evaluated separately depending on
has changed or was affected by muscle contraction/spasm the objectives of the study.
144 Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ Rev. bras. fisioter.

Reliability and Responsiveness the null hypothesis, or the extent to which the researcher
A measurement can have high reliability (consistency), could be wrong in saying that there are differences. The most
even when the instrument is unresponsive (i.e. not able to common α-level used is 0.05 which means that the researcher
detect meaningful differences). Conversely, a measurement is accepting that he or she could be wrong in rejecting the
can have low reliability, yet the instrument may be responsive24. null hypothesis 5 times out of 100 or 5% of the time.
Both reliability and responsiveness are pre-requisite of validity, Lowering the α-level reduces the chances of a type I error
but responsiveness is not a pre-requisite for reliability. by requiring stronger evidence to demonstrate significant
differences. Increasing the α-level makes it easier to find
IMPLICATIONS OF NEGLECTING differences (it may increase the power), but the probability
MEASUREMENT PROPERTIES that one will find a difference that actually does not exist (type
I error) also increases.
Many published studies fail to report the validity, Variability of the data
reliability, and responsiveness of the measurements taken. The lower the variance, the greater the power. Variance
Some instruments are often used but their measurement is a measure of the variability within the group (e.g. injured
characteristics are frequently overlooked and assumed to vs. non-injured; before vs. after treatment). The ability to
be adequate. However, this may not be true, and the detect a difference between groups is enhanced when the
measurements may have low quality resulting in insufficient groups are distinctly different. When the variability within
statistical power. The power of a study is the extent to which groups is large, the difference between groups will be less
an investigator can detect a difference when a true difference evident because the measurements may overlap. This, in turn
exists. It may also be stated as the probability of correctly will lower the power or the ability to detect a difference25.
rejecting the null hypothesis that “there are no differences” Most of the determinants of power described above
when null hypothesis is false25. Thus, the power of a study depend on the quality of the measurements. If the
relates to how capable the measurement is in detecting measurements’ reliability, validity, and responsiveness are
differences between or within groups. Every study should not adequate the study’s ability to detect the effect of an
have sufficient ability (power) to detect the effect caused independent variable (e.g. treatment) will be low or inexistent.
by the application of an independent variable (e.g. treatment For example, the amount of variation in the scores obtained
technique). It should also have a low probability of a type for a particular sample or group (i.e. the standard deviation)
I (alpha) error, which corresponds to rejecting the null depends on the variation in the scores and the amount of
hypothesis, when it should not be rejected (for example: random measurement error. When the measurement error
finding differences before and after a treatment when, in is big (e.g. the measurements have low reliability), differences
reality, there were no changes). The determinants of the between groups and changes over time may become
power of a study include: undetectable. Thus, the effect size will be small decreasing
Sample size the power of the study27. The responsiveness of a
The larger the sample, the greater the power, because measurement instrument is also related to the effect size and
with a large sample, the general population is more likely to will also influence the power of a study. If the instrument
be represented. This means the study has greater external measures are not precise enough to capture meaningful
validity. Therefore, the results can be generalized to a larger changes (low responsiveness), then the differences may be
population, and the true differences between groups are more too small to be identifiable. This, in turn, will cause the effect
likely to be recognized. size and the power of the study to be small.
Effect size Studies with limited power do not always yield erroneous
The larger the effect size, the greater the power. Effect conclusions but their findings are questionable. The chances
size is the magnitude of the difference before and after that such studies will detect differences rejecting the null
treatment, or between groups25. Thus, the power is influenced hypothesis are small. In other words, studies with low power
by the size of the effect of the experimental variable (e.g. may not be able to identify differences that exist between
treatment). The larger the effect produced by a treatment groups, leading to erroneous results and conclusions. Many
on a given dependent variable (e.g. knee stability), the more studies in the literature fail to achieve statistical significance
likely it is that the differences before and after will be which is often related to the low power of the study and not
statistically significant26. to an actual lack of difference between groups or sample
Statistical significance level used (α-level) populations25. It is relevant to state that the power of the study
The higher the α-level (i.e. higher than 0.05), the may be a problem only when no significant differences are
greater the power, but also the higher the chances of making found between groups. But, the measurements properties
a type I error. The α-level is the probability that the researcher are important even when differences are found because they
is willing to accept that he or she might be wrong in rejecting may be related to inadequate measures. In general, the power
Vol. 10 No. 2, 2006 Measurement Properties in Rehabilitation 145

of a study will be big enough if the statistical techniques, study For example, visual analogue scales have been show to be
design, including sample size and measurements are valid and reliable for some pain measures, but they have not
adequate26,29. Thus, assessing and reporting the measurement been showed to be valid and reliable for many of the other
properties should be a standard procedure in order to increase variables they are purported to measure. Sometimes the
power and to allow readers to rely on the presented results. concepts of measurements properties are incorrectly used
Unfortunately, this procedure is still an exception rather than to define the measurement characteristic being tested. For
the rule in the rehabilitation field. example, reliability and validity, and responsiveness and its
sub-division of sensitivity to change have been used to denote
MEASUREMENT PROPERTIES IN THE the same property.
CRITICAL ANALYSIS OF This review paper clarified the meanings of the concepts
REHABILITATION RESEARCH and types of reliability, validity, and responsiveness. It gave
examples that are relevant to the rehabilitation field. It discussed
A critical analysis of the rehabilitation research found how the measurement properties interact with each other and
common methodological limitations that resulted in weak influence the effect size and power of studies. The authors
studies30. Flaws were found in the experimental design, hope that the presented definitions, explanations, and
measurement techniques, procedures to control for discussions contribute to the dissemination and encourage
confounding variables, sample size, and in the statistical the use of common terminology and meanings for these
analysis of the studies. Thus, there is a need to improve the measurement properties to facilitate improved communication
quality of rehabilitation research studies. The following are between researchers and clinical practitioners. Reporting the
examples of questions that should be asked when designing, measurement characteristics can improve the quality of
presenting and analyzing the quality of published studies. The rehabilitation research and clinical evaluation processes which
answers to these questions are essential if one is to accept are fundamental for ideal evidence based practice.
the results and conclusions of a study.
1) Did the study report the reliability, validity, and Acknowledgments: The authors would like to thank Dr. Sharon Warren
(Faculty of Rehabilitation Medicine, University of Alberta) for reviewing
responsiveness of the measurements used? and making suggestions for early versions of this paper. ICG and ERV have
2) Did the study control the sources of measurement financial support from the Alberta CIHR Training Program in Bone and
error? Joint Health (Canada) and from the Brazilian Government, Education
3) Did the study have sufficient power to detect possible Ministry (CAPES - Brazil, proc.# 1340018).

difference between groups?


REFERENCES
FINAL CONSIDERATIONS
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instrument (other than the gold standard) is important to make plications to practice. 2nd ed. New Jersey: Prentice Hall Health;
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Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 147-156
©Revista Brasileira de Fisioterapia

THE CHANGING FACE OF NEUROLOGICAL REHABILITATION

CARR JH, SHEPHERD RB


School of Physiotherapy, Faculty of Health Science, University of Sydney, Lidcombe, Australia
Correpondence to: Janet H Carr, School of Physiotherapy, Faculty of Health Science, University of Sydney, East St.,
Lidcombe NSW 2141, Australia, e-mail: J.Carr@fhs.usyd.edu.au
Received: 07/02/2006 – Accepted: 15/02/2006

ABSTRACT
Background: Neurological rehabilitation and the contribution of physical therapy have changed considerably over the past
decades as scientific and technological developments have enabled greater understanding of brain reorganization and the
mechanisms of motor control, motor performance, impairments and adaptations. Objective: This paper presents a historical
perspective covering the last half-century. Discussion: Current scientific research, and the subsequent reevaluation of the
functional effects of impairments following an upper motor neuron lesion, is leading to a changing focus in clinical interventions,
with emphasis on optimizing motor performance through task-oriented exercise and training, strength and fitness training.
Findings in both animal and human models suggest that, for rehabilitation to be effective in optimizing neural reorganization
and functional recovery, increased emphasis needs to be placed on challenging, engaging and meaningful task training, to
promote learning. The issues of the intensity of task training and extent of cardiovascular stress during physical activity are
also discussed. Although there is much to become excited about in the findings from clinical research, clinical practice in
neurorehabilitation continues to vary widely and depends largely on the preferred approach of the individual therapist and on
the continuing dominance of therapeutic methods developed half a century ago. Physiotherapists need to embrace the respon-
sibility of using evidence-based, or at least scientifically acceptable, methods of intervention and objective measurements of
outcome.
Key words: neurorehabilitation, functional recovery, task-oriented exercise, training.

RESUMO
Mudando a Face da Reabilitação Neurológica
Introdução: A reabilitação neurológica e a contribuição da fisioterapia mudaram consideravelmente nas últimas décadas, uma
vez que o desenvolvimento científico e tecnológico permitiu uma maior compreensão dos mecanismos de reorganização cerebral
e dos mecanismos envolvidos no controle e desempenho motores, em suas dificuldades e adaptações. Objetivo: Este artigo
apresenta uma perspectiva histórica da segunda metade do século passado. Discussão: Pesquisas científicas atuais e a
subseqüente reavaliação do efeito funcional dos problemas que aparecem pela lesão do neurônio motor superior estão levando
à mudança de foco das intervenções clínicas, com ênfase na otimização motora através de exercícios de tarefas orientadas, de
ganho de força e de treino de desempenho físico. Achados em modelos animais e humanos sugerem que, para que a reabilitação
seja eficiente em otimizar a reorganização neural e a recuperação funcional, uma ênfase maior deve ser colocada em tarefas úteis
que sejam desafios interessantes com um treino que promove o aprendizado. As questões da intensidade do treino de tarefas
e da extensão do estresse cardiovascular durante a atividade física também são discutidos. Embora exista muito que se aprender
em achados de pesquisa clínica, a prática clínica da reabilitação continua ser altamente variada, dependendo largamente do
método preferido pelo terapeuta individual, e com predomínio dos métodos terapêuticos desenvolvidos meio século atrás.
Fisioterapeutas necessitam assumir a responsabilidade do uso de técnicas baseadas em evidências, ou pelo menos usar métodos
de intervenção e medidas objetivas de resultados que sejam cientificamente aceitáveis.
Palavras-chave: reabilitação neurológica, recuperação funcional, exercícios de tarefas orientadas, treinamento.
148 Carr JH, Shepherd RB Rev. bras. fisioter.

INTRODUCTION spasticity and should therefore be avoided. Interestingly, these


approaches paid little attention to developments in
Historical Perspectives neuroscience including those related to the context-dependent
Understanding the history of physical therapy practice nature of movement5.
enables us to reflect on change and development in clinical
practice and to feel more comfortable about the notion that Developments in the 1980s
clinical practice must respond and adapt as new scientific The above therapeutic approaches, particularly those
knowledge emerges. The history of neurological physical of Bobath and Knott and Voss, dominated the second half
therapy exemplifies the process of change. Practitioners early of the 20th century and are still widely used. However, during
in the 20th century used forms of corrective exercise and this time there were newer developments, as physiotherapists
muscle re-education, the latter involving exercises directed and others who had access to the scientific literature sought
at individual muscles, with consideration of the roles of ways of transferring new scientific findings to clinical
synergistic muscles. The knowledge that clinicians applied practice. These developments took advantage of experimental
in their practice reflected an early focus on structural anatomy work that focused on how humans acquire skill in movement
and principles of exercise as understood at the time. Many or motor learning 6,7, on muscle biology and muscle
of those receiving physical therapy were individuals with adaptability8,9, and on psychology10. These developments
muscle weakness and paralysis from poliomyelitis. This reflected to a large extent the increasing opportunity for
emphasis was to shift as the numbers of people acquiring physiotherapists to enroll in postgraduate courses, thereby
poliomyelitis gradually declined with new preventive therapies developing research skills and engaging in intensive study
and, following the second world war, an influx of young adults of specific scientific fields. Not surprisingly, they saw the
with acute brain injury helped drive the development of new clinical implications.
therapies. The early attempts at developing therapy methods to
improve functional movement were largely inductive (seeking
Origins of the neurofacilitation approaches a theoretical explanation for observed events), and this may
In the 1950s, a major conceptual shift in neurological have been partly due to the lack of a relevant scientific body
physical therapy was evident as the neurophysiological or of knowledge on human movement from which clinical
neurofacilitation approaches were developed. The focus implications could be more deductively derived. Over the
changed from the muscle to non-muscle elements. Methods last few decades, however, technological developments
were directed primarily at the nervous system with movement together with changes in the conceptualization of how the
facilitated by stimulation of the nervous system. Major human nervous system might function to produce skilled
influences were the work of the Bobaths1,2, in Bobath Therapy movement, have been producing an increasing volume of
or Neurodevelopmental Therapy (NDT), and of Kabat, Knott movement-related research, in the fields of biomechanics
and Voss3, whose methods of movement facilitation were and neuroscience in particular, that has obvious relevance
referred to as Proprioceptive Neuromuscular Facilitation to clinical practice. Experimental paradigms have shifted from
(PNF). Other therapists also developed their ideas for therapy a reductionist approach, in which the focus was, for example,
around this time, including Rood, Ayres and Brunnstrom. on stretch reflex mechanisms using animal models, to an
These approaches to therapy are often referred to as exploration of mechanisms of movement control in humans
eponymous as they were named after their originators 4. from the perspectives of performance as well as of
Although the originators had different and sometimes physiological mechanisms. Technological developments in
conflicting approaches, their methods reflected their motion analysis and electromyography (EMG) have enabled
interpretations of early neurophysiological writings with studies of actions such as walking, standing up and reaching
experimental paradigms including stimulus-response to pick up an object that demonstrate the kinematics and
mechanisms, many of them based on animal models. kinetics of each action, including the specific postural
Therapeutic methods focused on facilitating movement by adjustments. New brain imaging methods are enabling an
afferent stimulation, specifically of muscle and joint examination of organizational changes occurring within the
proprioceptors and tactile receptors. Their methods were brain itself and of the experiences that might drive them,
based on ideas of the restorative effects of encouraging particularly the effects of patterns of use and learning.
developmental movement patterns, and emphasized postural The increase in clinically relevant research findings
stability and normal movement patterns. The Bobaths held related to movement therefore made possible the development
the view that the normalizing of muscle tone by methods of of neurological rehabilitation by a more deductive process.
inhibiting spasticity (abnormal postural tone) should take place Clinical implications were derived from a theoretical science
before more normal movement could be facilitated. They base, and new clinical methods were developed and tested.
held the view that movements requiring effort would increase As an example, for the action of sit-to-stand, there is now
Vol. 10 No. 2, 2006 The Changing Face of Neurological Rehabilitation 149

a rational biomechanical model that forms the basis for occurring in response both to muscle weakness and to post-
standardized guidelines for training this action11-14. This model lesion inactivity and disuse can impact negatively on the
has also provided methods for measuring performance and potential for regaining function. Soft tissue adaptations include
an increased focus on clinical research is enabling us to test increased muscle stiffness (stiffness is a mechanical response
the efficacy of interventions. to load on a non-contracting muscle), and structural and
functional reorganization of muscle and connective tissue17,18.
Hybridization Muscle weakness arises from two sources, primarily
However, the process of change can be difficult for both from the lesion itself as a result of a decrease in descending
teacher and practitioner and there is a temptation to combine inputs converging on the final motor neuron population and
newer methods with older methods that are still in use. This a resultant reduction in the number of motor units available
can occur even when there is no evidence that the older for recruitment19. In addition, the neural lesion can result in
methods are effective. In the history of scientific endeavor a decreased firing rate of motor units and impaired motor
there have always been attempts (usually unsuccessful) to unit synchronization20. These factors cause disorganization
integrate new methods with old at times of major change15. of voluntary motor output at the segmental level and may
This mixing is called hybridization. underlie the motor control problems exhibited by patients even
The move toward hybridization can be compelling, and when they are able to generate some muscle force14. Loss
“the case for reconciliation of competing paradigms is of the ability to generate power (force X velocity) may be
superficially attractive”15. Hybridization can seem attractive a more significant cause of impaired motor performance than
to a physiotherapist when there is a reluctance to let go of decreased force production21. The ability to generate large
familiar therapeutic methods and move on. However, muscle forces is of little functional benefit if movement occurs
competing paradigms have philosophical and conceptual too slowly to be effective5. Power output after stroke has
differences15, as they are based on different information been shown to be low in a number of studies21-23, and a low
regarding, for example, how the system is organized or the velocity of muscle contraction is evident clinically in the
nature of impairments after a lesion. slowness of movement typical of people after stroke12.
Skeletal muscles adapt to the level of use imposed on
BRIDGING THE GAP BETWEEN SCIENCE them24, and secondary sources of weakness therefore arise
AND CLINICAL PRACTICE as a consequence of lack of muscle activity and immobility25.
Increasingly, evidence is provided of a relationship between
Re-evaluating the Functional Effects of Impairments muscle strength and function26-28.
The need for practice to move on by responding to new The significance of spasticity (defined as velocity-
knowledge is well illustrated by examining research over the dependent stretch reflex hyperactivity29) for the regaining
last few years that is changing the way in which we view of motor function remains equivocal. There is little to support
impairments following a lesion of the upper motor neuron the view that reflex hyperactivity is a significant contributor
system. A re-evaluation of the relative contributions of muscle to movement dysfunction after stroke. Some reports indicate
weakness and adaptive changes in muscles such as increased stretch reflex hyperactivity can develop some time after the
stiffness and spasticity is driving significant changes in clinical lesion, suggesting that it may be an adaptive response to non-
practice. The view that spasticity is the major impairment functional, contracted stiff muscles30. In clinical practice,
underlying movement dysfunction led to the development increased resistance to passive movement is typically referred
of methods based on the premise that spasticity had to be to as spasticity although mechanical and functional changes
decreased or inhibited in order to facilitate more normal to muscle are likely to be major contributors. Clinical tests
movement1,2. This view has been very influential over the past such as the Ashworth Scale that are commonly used in clinical
few decades. Muscle weakness has not been a primary focus research are unable to distinguish the relative contributions
in physical therapy until recently, as spasticity was considered of increased stiffness of muscles and reflex hyperactivity
the cause of weakness and disability. Congruent with this 31
.
view, therapists have avoided exercise that required effort
(as in strength training) since this effort was assumed to Optimizing Motor Performance
increase spasticity. Our own collaborative theoretical and investigative work
Contemporary research findings supporting the view has developed over the years, broadly based on research related
that the major impairments interfering with functional to human movement, and updated as new developments
performance following upper motor neuron lesions are emerge in science, and as evidence of the effects of
paralysis, weakness (absent or reduced muscle force intervention slowly began filtering into the literature from
generation) and loss of dexterity (disordered motor control)16 clinical studies. The principal research areas driving our work
are of major significance in planning interventions. So also include motor control mechanisms, muscle biology,
is our increasing understanding that soft tissue adaptations biomechanics, skill acquisition (motor learning) and exercise
150 Carr JH, Shepherd RB Rev. bras. fisioter.

science13,14,32. One point of interest is that the focus is strongly compared with NDT49, and in chronic stroke compared with
on the importation of theories and data from fields other than sham therapy36,40. However, a closer look at the evidence
physical therapy, illustrating the nature of physical therapy suggests that the key factor in these studies is the presence
as an applied clinical science. of varied and intensive task-oriented practice of locomotor
Our work over the past few decades has focused on activities. There is also evidence of transfer from TT to
the patient as learner and on the need for task-oriented exercise overground walking. In addition, training of overground
and training, together with strength and fitness training, as walking includes walking over obstacles and in different
the means of improving the patient’s capacity to learn motor environments, and with differing cognitive demands.
skills and optimize functional motor performance. An After a series of primate studies, Taub50 described a
increasing number of investigations of this theoretical phenomenon called “learned non-use”, which he proposed
perspective have found positive effects in individuals with may underlie the difficulty some individuals have in using
brain lesions. Improved functional performance suggests the affected upper limb, despite the presence of an apparently
that learning has taken place27,33-44. In addition, training that sufficient level of muscle activity. Constraint-induced
is sufficiently intensive can increase muscle endurance and movement therapy (CIMT) involves restraint of the non-
produce a cardiovascular training effect. Where strength has paretic limb over an extended period with challenging task-
been particularly targeted, findings show increased strength oriented training of the paretic limb51,52. A recent systematic
and, in some cases, improved functional performance. review53 found growing evidence to support the use of CIMT,
Whether or not strength training results in improved function compared with alternative and/or no treatment (see
may, however, depend on the extent of muscle weakness. recommended protocol14). Further evidence comes from
Interestingly, strength training does not result in increased reports of an association between improved motor
resistance to passive movement (hypertonus) or reflex performance, increased use of the limb and brain
hyperactivity (spasticity). reorganization 54. It is critical that effects of particular
It appears that exercise needs to be specific to the task treatments on function include the effect on actual use of
being learned and the context, if performance of that task the limb in daily life (for example: Motor Activity Log or Actual
is to improve45, since muscle strength and motor control are Amount of Use Test 51).
relative to the action being performed and its context. Skilled There is increasing interest in the potential of electrical
performance needs not only the generation of sufficient muscle stimulation (ES) or neuromuscular ES to reduce the
force, but also the grading, sustaining and timing of force development of secondary adaptive changes in muscles, to
from many muscles in order to control body movement initiate activity in denervated or very weak muscles and to
throughout the action. In particular, generation of muscle prevent stretching of rotator cuff muscles and the
force needs to be fast enough to meet task demands. glenohumeral joint capsule. ES enables repetitive muscle
The evidence so far suggests that physical therapy exercise in those individuals who have little active movement
practice should emphasize the need to drive limb use. Training in the acute stage. ES has had a long and varied history in
involves modifying the task and environment to ensure that rehabilitation following stroke. The findings in two
the paretic limbs are actively involved. Training of walking, comprehensive reviews55,56 suggest that the use of ES may
utilizing a treadmill (TT), is a promising method for retraining reduce shoulder subluxation, at least in the short term, and
gait and increasing speed, endurance and cardiovascular may reduce shoulder pain. Combining afferent biofeedback
fitness. Load on the musculoskeletal system can be increased from an EMG signal with ES in individuals who can partially
or decreased by varying body weight support (BWS), and activate paretic muscles but are unable to generate sufficient
walking speed can be controlled. TT facilitates the cyclic muscle contraction for functional purposes may prove to
gait pattern and can induce a shift toward temporal symmetry be an aid to task-oriented training. Both reviews point to the
and increased paretic stance time46. TT, with or without BWS need for further research.
support, is a means of increasing the amount and intensity
of practice. For dependent walkers, TT with BWS may be Neural reorganization and functional recovery
the only means of practicing walking in the early phase of Insight into mechanisms mediating motor recovery after
recovery47. injury to the sensorimotor cortex is now beginning to emerge.
A systematic review of treadmill training with and Neurophysiological and neuroanatomical studies in animals,
without BWS after stroke found a trend toward TT, such and neuroimaging and other non-invasive mapping studies
that BWS was more effective at improving gait speed when in humans, are providing substantial evidence that the adult
speed was aggressively targeted39 than in other interventions, cerebral cortex is capable of significant functional
and significant increases in endurance were evident in several reorganization (for example 57,58). These studies have
studies48. When TT is part of an overall task-oriented training demonstrated plasticity in the functional topography and
regimen, research findings suggest that such a program is anatomy of intact cortical tissue adjacent to the injury and
superior at enhancing walking capacity post-acute stroke, of more remote cortical areas. Of critical importance for
Vol. 10 No. 2, 2006 The Changing Face of Neurological Rehabilitation 151

rehabilitation is that experience, learning and active use of findings with healthy subjects have shown what a difference
the affected limbs appear to modulate the adaptive it can make to performance and skill development if the learner
reorganization that inevitably occurs after cortical injury. From directs attention toward the effect of the movement (an
current research, it seems likely that, for rehabilitation to be external focus) instead of to the movement itself (an internal
effective in optimizing neural reorganization and functional focus) 65 .
recovery, increased emphasis needs to be placed on Skilled performance is characterized by the ability to
challenging, engaging and meaningful task training to promote perform complex movements, with the flexibility to vary
learning (for example54,59,60). In addition, research findings movement to meet ongoing environmental demands with
indicate significant gains and enhanced structural plasticity economy of effort. This applies as much to everyday actions
when therapy is commenced early suggesting that delaying such as walking and standing up from a seat, as it does to
commencement of rehabilitation may reduce the efficacy of recreational, sporting or work-related actions.
treatment61. Skill is task-specific. Although such actions as level
walking and stair walking may share similar biomechanical
Motor learning characteristics, the demands placed on the individual by each
As physiotherapists, we are becoming increasingly aware action are different. The individual learns to reshape and adapt
of patients as active participants in training rather than as the basic movement pattern according to different contexts.
passive recipients of therapy. The idea that motor learning Crossing the street at pedestrian lights may require an increase
research can provide a rich source of scientific information in walking speed, while negotiating a step or obstacles in the
to guide clinical practice has been available to the profession house requires other changes in the walking pattern.
for several decades. Improvement in a particular action therefore requires
Performance of an action that is effective in consistently practice of that action; that is, the learner practices to become
achieving a specific goal with some economy of effort is said effective and efficient in achieving a specific goal. For some
to be skilled. Motor learning itself cannot be directly observed. individuals, speeding up the action and improving power
It is a set of complex internal processes that can only be generation may be major performance goals. However, for
inferred from a relatively consistent improvement in those whose muscle strength and motor control is below a
performance of an action, that is, a relatively stable change certain threshold, such practice may not be possible. Exercises
in motor behavior as a result of practice of that action62,63. to increase strength and control may be necessary, together
To know whether or not performance has improved, the with practice of the action under modified conditions, for
therapist measures the person’s performance at the start of example, standing up from a higher seat which requires less
training, at various stages throughout rehabilitation and muscle force generation. Many repetitions of an action are
periodically after discharge to see whether or not performance required to increase strength and for the patient to develop
gains have been maintained. an optimal way of performing the action66. Physical therapy
For several decades, scientists have investigated the has neglected the repetitive element of both strength training
process of acquiring skill, typically with healthy adults as and skill training that form essential prerequisites in motor
they train to improve a specific skill and increasingly with rehabilitation.
people with motor disability. Gentile64 describes the stages In training functional tasks, the therapist sets the goals
of learning as first getting the idea of the movement, then in consultation with the individual and based on evaluation
developing the ability to adapt the movement pattern to of the person’s capabilities. As the “coach”, the therapist may
environmental demands. In the initial stages the person learns point out how a movement is organized, based on knowledge
to pay attention to the critical features of the action and is of critical biomechanical characteristics; provide
actively engaged in practice. Considering the patient as a learner demonstration, verbal instructions and feedback; direct the
involves setting up environments and methods of delivery person’s visual attention; or highlight regulatory cues in the
that stimulate skill learning. environment (for example, the height of an obstacle). However,
As part of the training process, the therapist may direct it is the patient who must learn to organize movement that
the patient’s focus of attention away from an internal body- matches the environment in order to achieve these goals, and
oriented focus (the feet or upper body movement) to an this is accomplished by physical (and mental) practice.
external focus that is directly related to the goal (avoiding The environment needs to be organized to be functionally
obstacles on the floor). For example, the learner’s focus of relevant by providing meaningful objects of different sizes,
attention can shift as muscle strength, motor control and skill weight and graspability, which allow for different tasks to
increase. In walking it may shift from the feet to the be trained. Goals are concrete rather than abstract: “Reach
surrounding environment; the star billing for sit-to-stand may out and take the glass from the table” rather than “Raise your
change from initial foot placement backward and increasing arm”. “Reach sideways to pick up the glass from the floor”
the speed of forward rotation of the upper body, to the need rather than “Shift your weight over to the left”. Recent research
to steady a glass of water while standing up. Some recent has illustrated well the different outcomes when post-stroke
152 Carr JH, Shepherd RB Rev. bras. fisioter.

individuals work with concrete goals linked to real objects engaging and repetitious. Significantly more improvement
rather than with more abstract goals67,68. Wu et al68 examined in upper limb function has been reported compared with NDT/
a task in which subjects used one hand to scoop coins from Bobath therapy of equal intensity and duration74. In addition,
a table into the other hand. Able-bodied and stroke subjects the rate of recovery when treatment was delivered with RMT
took part, sometimes with coins, sometimes mimicking the was found to be greater in relation to either no treatment or
movement without coins. Both groups of subjects treatment with sling suspension in a single case study75. The
demonstrated faster movements, with smoother and straighter generalizability of RMT and its role in motor learning are yet
reaches, which are characteristics of well-learned coordinated to be tested.
movement, when they scooped the coins rather than when
they mimicked the action. Intensity of skill practice and exercise
Two aspects of therapy for neural lesions that have
Rehabilitation environment received little attention until recently are the intensity of task-
If brain reorganization and functional recovery from oriented training and the extent of cardiovascular stress
brain lesions is dependent on use and activity, then the induced during physical activity. Endurance training, like post-
rehabilitation environment is likely to play an important role stroke strength training, has long been neglected because
in patient outcomes. The rehabilitation environment is made of the dogma related to spasticity. It is not only important
up of the physical or built environment (the physical setting), for patients to practice in order to regain skill in performing
the methods used to deliver rehabilitation (type of intervention, actions, but it is also critical that they regain sufficient
intensity, dosage) and the staff (their knowledge, skill, strength, endurance and fitness to be able to carry out these
attitudes, and their ability to teach). actions. It is well documented that stroke patients have low
Evidence from animal experiments suggests that the physical endurance when discharged from rehabilitation.
nature of the environment and its physical structure, together Deconditioning can occur within the first six weeks
with the opportunities it offers for social interaction and after stroke. In a study that measured exercise capacity in
physical activity, can influence outcome after a lesion. In the early post-stroke period, patients performed incremental
animal research, the aspects of the enriched environment maximal effort tests on a semi-recumbent cycle ergometer76.
that appear to be critical as enhancers of behavior are social Deconditioning may be a consequence of the relatively static
stimulation, interaction with objects that enable physical nature of typical rehabilitation programs and indicates that
activity69, and an increased level of arousal70. intensity of training needs to be addressed specifically and
Observational studies of rehabilitation settings provide early after an acute brain lesion, in an effort to decrease the
insights into how patients spend their days, suggesting that deconditioning effects.
the environment may not be sufficiently geared to facilitating Recently, MacKay and Makrides 77 investigated the
physical and mental activity or social interaction, and that aerobic component of physical therapy and occupational
it may not function as a learning environment71. Other studies therapy for stroke patients by monitoring heart rate (using
suggest that a large percentage of the patient’s day is spent heart rate monitors) and therapeutic activities biweekly over
in passive pursuits rather than in physical activity. The issue a 14-week period. The major finding was that the therapy
of how much time is spent on physical activity, including sessions involved low intensity exercise and activity that did
practice of motor tasks, and how this time is organized, is not provide adequate metabolic stress to induce a training
therefore a critical one for rehabilitation. effect. Although progressively higher exercise intensities might
be expected over time as functional status improves, any
Delivery of physical therapy increase in HR mean and HR peak did not reach statistical
Focusing on intensive task-oriented training has required significance.
some changes in physical therapy practice, not only in the The detrimental effect of low exercise capacity and
methods used but also in delivery. Physiotherapists are muscle endurance on functional mobility and resistance to
exploring different ways of organizing delivery to enable the fatigue can be compounded by the high metabolic demand
patient to be an active learner. They are examining, for of adaptive movements. Stroke patients discharged from
example, the effects of an interactive relationship between rehabilitation showing improvements in gait are not necessarily
patient and therapist, the effects of working in a small group functional walkers but are often unable to maintain their most
during circuit training, and the effects of sessions where efficient walking speed comfortably, thus indicating that the
patients work in partnership with each other72. high energy cost of walking and poor endurance further
In an attempt to increase the time spent practicing, compromise functional performance78,79.
several investigators have reported the development of The calculation of walking speed over 10m, a commonly
technology to provide computer-aided training, for example, used clinical measure of gait, may overestimate locomotor
robot-mediated therapy (RMT)73-75. The focus has been on capacity after stroke. Healthy subjects can walk in excess
movements of the upper extremity that are challenging, of their comfortable speed for at least six minutes. Stroke
Vol. 10 No. 2, 2006 The Changing Face of Neurological Rehabilitation 153

subjects, however, may not be able to maintain their of physical therapy students as well as part of skills upgrading
comfortable speed over that time80. This would prevent them in continuing professional education.
from becoming competent community walkers, and may lead It is a matter of increasing concern that clinical
to increasing handicap. These results emphasize the need to interventions in neurorehabilitation continue to vary widely
train endurance and to measure endurance using a test such and depend largely on the preferred approach of the individual
as the 6-minute walk81. therapist5,91, and on the continuing dominance of therapeutic
Improvements in aerobic capacity in chronic stroke have methods developed half a century ago. Lack of both a rational
been demonstrated with appropriate training such as bicycle theoretical basis for a treatment method and of any evidence
training82, graded treadmill walking83 and combined aerobic of its effectiveness may be no barrier to its continued use.
and strengthening exercises42. As might be expected, the effects To make the change to practice based on evidence and
are exercise-specific. Generalization to everyday life, however, on current theoretical relevance is a large undertaking but
is also reflected in the improvements noted in general health already taking place around the world. A start can be made
and wellbeing. Teixeira-Salmela et al42 assessed their subjects’ in clinical practice by following prescribed guidelines that
general level of physical activity in the Human Activity Profile, are based on available evidence. These are available in texts
a survey of 94 activities that are rated according to their and in other work cited here. Each physiotherapist needs to
required metabolic equivalents. The results indicated that accept the responsibility of using evidence-based (or at least
subjects were able to do more household chores and to increase scientifically acceptable) methods of intervention and ongoing
their participation in recreational activities more than before outcome measurements, including quality-of-life profiles.
the training program. Patients have the right to be part of an up-to-date
neurorehabilitation environment.
CONCLUDING COMMENTS

The regaining of skill in critical tasks requires specific REFERENCES


training, with intensive practice of actions in the appropriate
contexts. In addition, the individual must be fit enough to
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perform the tasks of daily life, including taking part in social
ford: Heinemann; 1965.
and recreational activities. Participation in regular exercise
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No. 2, 2006 Hemiparetic Cerebral Palsy 157
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 157-162
©Revista Brasileira de Fisioterapia

HEMIPARETIC CEREBRAL PALSY: CLINICAL DATA COMPARED WITH


NEUROIMAGING

TUROLLA DE SOUZA RC 1, CIASCA SM 2, MOURA-RIBEIRO MVL 2 , ZANARDI VA 2


1
Serviço de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Hospital das Clínicas, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp,
Campinas, SP
2
Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp, Campinas, SP
Correspondence to: Regina Célia Turolla de Souza, Serviço de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Hospital das
Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, 2º andar, CEP 13083-970, Campinas, SP
e-mail: reginaturolla@yahoo.com.br
Received: 07/10/2004 – Accepted: 21/02/2006

ABSTRACT
Objective: The present study correlated fine motor function (FMF) and sensory function (SF) performance with magnetic reso-
nance imaging classification, in cases of hemiparetic cerebral palsy. Method: Specific protocols were used to evaluate FMF, SF
and brain lesion extent and location in the hemisphere. Forty-six patients were assessed: 23 with hemiparetic cerebral palsy (group
1) and 23 normal individuals (group 2). Their ages ranged from 7 to 16 years, with a mean of 12 years and 8 months. Results: FMF
and SF performance in group 1 was significantly worse than in group 2. Hemiparetic cerebral palsy cases with lesions in only
one brain structure presented better results than those with two or more damaged structures larger than 10 mm. Patients with
unilateral or bilateral cortical and subcortical impairment presented worse performance than those with subcortical lesions.
Conclusion: Motor and sensory dysfunctions need to be identified and understood in order to provide routine training and
special care for such children.
Key words:cerebral palsy, neuroimaging, fine motor function, sensory function.

RESUMO
Paralisia Cerebral Hemiparética: Dados Clínicos Comparados à Neuroimagem
Objetivo: Este estudo correlacionou o desempenho da função motora fina (FMF) e Sensorial (FS) na paralisia cerebral
hemiparética (PC-H) à classificação da ressonância magnética (RM). Método: Utilizaram-se os protocolos específicos para avaliar
FMF, FS e lesões encefálicas quanto à sua extensão e localização no hemisfério. Foram avaliados 46 sujeitos sendo 23 com PC-
H, grupo 1, e 23 crianças normais, grupo 2. A idade variou entre 07 a 16 anos, idade média de 12 anos e 8 meses. Resultados:
O desempenho das FMF e FS demonstrou ser significantemente pior no grupo 1 quando comparado ao grupo controle. PC-H
que apresentavam lesões atingindo uma única estrutura encefálica demonstraram melhores resultados que aqueles com
comprometimento atingindo duas estruturas maiores que 10 mm. O desempenho dos sujeitos com comprometimento cortical e
subcortical, uni ou bilateral, foi inferior quando comparados aos com lesões subcorticais. Conclusão: As disfunções motoras
e sensoriais necessitam ser identificadas e compreendidas para prover melhor treinamento de rotina e cuidados especiais a essas
crianças.
Palavras-chave: paralisia cerebral, neuroimagem, teste de movimentos finos e de sensibilidade.
158 Turolla de Souza RC, Ciasca SM, Moura-Ribeiro MVL, Zanardi VA Rev. bras. fisioter.

INTRODUCTION level of cognitive understanding that could impair the


assessment, and musculoskeletal impairment. (Table 1).
Cerebral palsy is a disorder caused by brain damage The protocol proposed by Beckung13 was partially used
before or during birth, or during the early years of life, that for evaluating fine motor function (FMF) and sensory
results in loss of voluntary muscular control and coordination. function (SF). The results were graded according to the
Although its exact cause is unknown, the apparent following schema: “0” non-functioning, “1” poor, “2” good,
predisposing factors include disease, very low infant birth and “3” normal. The abilities used for evaluating FMF were:
weight, and injury or physical abuse. Maternal smoking, pincer grasp (using finger tips to grasp a pencil, to grasp a
alcohol consumption and ingestion of certain drugs can also cylinder, to grasp with the palm, and to hold a key); to insert
contribute. Many cases are thought to be due to oxygen a coin in a slot; to pin thumbtacks (drawing pins) on a picture;
deficiency during the birth process. The severity of the to pour water from one glass to another; to fasten a nut and
affliction is dependent on the extent of the brain damage. bolt; to put beads on a string; to oppose thumb and finger;
Those with mild cases may have only a few affected muscles, and hand strength (with trial grip) (Figures 1 and 2).
while severe cases can result in total loss of coordination To assess sensory functions the following features were
or paralysis1,2,3,4. used: sense of balance, sensing of vibration, touch, pain,
A child affected by cerebral palsy usually presents some temperature, distinguishing sharp objects, stereognosis,
decrease in muscle strength, sensitivity and coordination in graphesthesia, distinguishing between two points; extinction
the upper limbs5. It is the upper limbs that support fine motor (Figure 3).
capabilities, while they also have an important role in gross The magnetic resonance images were assessed in
motor capabilities6. These capabilities may be changed by accordance with the criteria proposed by Okumura14, 15, as
many factors, such as muscle tone7 and the way in which modified by Piovesana16 according lesion extent and location
sensory information is processed to maintain movements6. in the brain hemisphere.
Hemiparetic cerebral palsy, i.e. paralysis of one complete side
of the body including the arm, trunk and leg, is one of the Lesion extent:
most common types of cerebral palsy referred to in the 1- Only one brain structure smaller than 10 mm affected;
literature and is classified as a subdivision of spastic cerebral 2- Only one brain structure larger than 10 mm affected;
palsy8. 3- Two brain structures larger than 10 mm affected;
The development of neurological imaging techniques 4- Bilateral involvement.
like magnetic resonance (MRI) has allowed the consequences
of brain injury to be studied. Such studies are important Lesion location in the hemisphere:
because they enable correlation between the exact location 1- Subcortical area;
of the lesion and clinical findings9, 10, 11. 2- One restricted brain lobe-cortical area; cortical and
Gaining an understanding of exactly what causes subcortical areas;
neuromotor disturbances is a complex process, because such 3- Subcortical and/or cortical lesions involving both
patients’ disabilities involve several neurological deficits. hemispheres.
Studies on children with cerebral palsy have shown that The Wilcoxon test was used to evaluate related samples,
different lesions give rise to a variety of specific and and also Spearman’s linear correlation and the Mann-Whitney
generalized disorders. and Kruskal-Wallis tests. The statistical significance level
adopted was 5% (p<0.05). Simple percentages were calculated
SUBJECTS AND METHOD and descriptive tables were produced.
The Research Ethics Committee of the School of
This study included twenty-three children aged between Medical Sciences, UNICAMP, gave its approval for this study.
7 years 10 months and 16 years 6 months (mean age of 12 The adults responsible for these children signed a statement
years 8 months), with a diagnosis of hemiparetic cerebral granting their free and informed consent.
palsy of prenatal or perinatal etiology. These children were
selected following MRI assessment, from the data bank of
the cerebral palsy outpatient treatment facility of the Pediatric RESULTS
Neurology Center of the School of Medical Sciences, Fifteen patients (65%) presented hemiparetic cerebral
University of Campinas (UNICAMP). Two groups were palsy on the right side and eight (35%) on the left side; fourteen
constituted: Group 1 (G1), comprised of children with (61%) were females and nine (39%) were males. Prenatal
hemiparetic cerebral palsy, and Group 2 (G 2) with normal and perinatal etiology was observed in eleven patient (48%),
children matched for age and sex with the G1 children. perinatal alone in seven (30%) and prenatal alone in two (9%),
The exclusion criteria included: central nervous system while the etiology was undetermined in three cases (13%).
(CNS) impairment, postnatal etiology, genetic syndromes, Thirteen patients (56%) were born at full term (37 weeks
Vol. 10 No. 2, 2006 Hemiparetic Cerebral Palsy 159

Table 1. Clinical Data, hemiparetic cerebral palsy patients.

Subject Hemiparesis Etiology Length of Lesion extent Location Diagnostic


Gestation hypothesis
1 L Pre + Peri < 34 weeks NL NL NL
2 R Undet Full term 1 structure > 10 mm SC Neuroplastic lesion
3 R Peri Full term 2 structures >10 mm C + SC Encephalomalacia
4 L Pre + Peri Full term 1 structure ≤ 10 mm C + SC CVA
5 R Undet Full term 2 structures >10 mm C + SC CVA
6 L Pre + Peri ≥ 34 weeks Bil disorder SC PVL
7 R Pre + Peri Full term 1 structure > 10 mm SC PVL
8 L Pre + Peri ≥ 34 weeks 2 structures >10 mm C + SC CVA
9 R Pre + Peri < 34 weeks 1 structure > 10 mm SC PVL
10 R Pre + Peri ≥ 34 weeks 2 structures >10 mm C + SC Undet
11 R Peri ≥ 34 weeks Bil disorder Bil C and/or SC Lacunar lesion
12 R Peri < 34 weeks 1 structure > 10 mm C + SC PVL
13 R Pre + Peri Full term 2 structures >10 mm C + SC Lacunar lesion
14 R Pre Full term 1 structure ≤ 10 mm SC CVA
15 L Peri < 34 weeks 1 structure ≤ 10 mm SC PVL
16 L Pre + Peri Full term 2 structures >10 mm C + SC CVA
17 R Peri Full term 2 structures >10 mm C + SC Porencephaly
18 L Peri Full term 1 structure ≤ 10 mm SC CVA
19 R Pre + Peri Full term Bil disorder Bil C and/or SC PVL
20 L Pre Full term 1 structure > 10 mm Bil C and/or SC PVL
21 R Peri < 34 weeks 2 structures > 10 mm SC PVL
22 R Undet Full term 1 structure > 10 mm SC PVL
23 R Peri < 34 weeks Bil disorder SC Bilateral PVL
R: right; L: left; NL: normal; MR: magnetic resonance; C: cortical, SC: subcortical, PVL: periventricular leukomalacia; CVA: cerebrovascular
accident; Pre: prenatal; Peri: perinatal; Undet: undetermined; Bil: bilateral.

The instruments used for evaluating fine motor function and sensory function are presented in Figures 1, 2 and 3.

3 2

6
4
5

Figure 1. Evaluation kit for fine motor function: 1- digital chronometer; Figure 2. Grip test
2- material for evaluation of holding and grasping: ball, screw, key, pencil
and cylinder; 3- counting beads; 4- nut and bolt; 5- coins for inserting
in slot; 6- thumbtacks (drawing pins) on picture.
160 Turolla de Souza RC, Ciasca SM, Moura-Ribeiro MVL, Zanardi VA Rev. bras. fisioter.

Table 2. Fine motor function and sensory function in Groups 1 and


2.

2
Group Variable N Mean SD p-value*

3 G1 FMF 23 2.02 0.41 < 0.0001


G2 FMF 23 2.72 0.10
G1 SF 23 2.81 0.21 < 0.0001
1
G2 SF 23 3.00 0.00
*Wilcoxon test for related samples; SD: standard deviation.

4 5
7
6 Correlation between fine motor function
and sensory function
Figure 3. Sensitivity evaluation kit: 1- blindfold; 2- material for
evaluating stereognosis: matchbox, key, screw, paper clips, coin and
3
small ball; 3- different cups for temperature test; 4- sharp-pointed object;
2.5
5- brush; 6- pins; 7- gapped object (prongs).
2

SF 1.5
1
6 days to 42 weeks), while four (18%) were premature with
0.5
gestation of more than 34 weeks and six (26%) were 0
premature with gestation of less than 34 weeks. The 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3
hemiparetic cerebral palsy patients with gestation less than
34 weeks presented the best performance for fine motor FMF
function, which was significantly different from the others Correlation between FMF and SF (r=0.57382; p=0.0042).
(p = 0.0014; Kruskal-Wallis test).
With regard to the extent of the lesion, eight patients Figure 4. shows that there was a statistically significant correlation
(35%) presented lesions larger than 10 mm, six (26%) between fine motor function and sensory function (r = 0.57382), using
presented two encephalic structures greater than 10 mm, Spearman’s linear correlation.
four (17.5%) presented bilateral injury, four (17.5%)
presented a structure of less than 10 mm, and one was normal
(4%). The hemispheric location involved the subcortical area The fine motor function performance among hemiparetic
in ten patients (43.5%), the cortical and subcortical areas cerebral palsy patients with a lesion in only one brain structure
in nine (39%), and the cortical and/or subcortical areas on was better than among those with lesions in two structures
both hemispheres in three (13.5%), while one case was larger than 10 mm (p = 0.0275; Kruskal-Wallis test).
normal (4%). Lesions in only one lobe were not observed. In correlating the fine motor function and sensory
Significant abnormalities were found on neurological imaging function results with lesion location in the hemisphere, the
of 22 hemiparetic cerebral palsy patients. One of these patients patients with lesion in the cortical and subcortical areas on
showed a normal computed tomography scan (CT) and MRI, one side or both sides presented worse results than those
while presenting a clinical pattern of slight spastic hemiparesis. with lesions only in subcortical areas, for both functions
The diagnosis revealed periventricular leukomalacia (PVL) (respectively, p = 0.0200 and p = 0.0141; Mann-Whitney
in nine children (39 %), cerebrovascular accident (CVA) in test) (Figure 4).
six children (26%) and other categories of hemiparesis in
seven children (31%), while there was one normal case (4%). DISCUSSION
FMF analysis for the two groups gave a mean of 2.02
In this study, the right side was affected in 64% of the
for G1 and 2.72 for G2. The statistical difference in
patients. Right-side hemiparesis is often found, according
performance between G1 and G2 was significant (p<0.0001)
to the literature. Several studies have shown that males are
and showed that the hemiparetic cerebral palsy patients had
more affected but, contrary to the prevailing data in the
worse performance. Sensory function in G1 presented a mean
literature16,17, the present study showed that females were
of 2.81 and G2 presented 3.00. Comparing the performance
more affected. Prenatal and perinatal etiology was found in
of the two groups, the hemiparetic cerebral palsy patients
45% of the patients, while the etiology was perinatal in 32%,
presented worse results (p<0.0001) (Table 2).
Vol. 10 No. 2, 2006 Hemiparetic Cerebral Palsy 161

prenatal in 9% and undetermined in 14%. Piovesana et al.9 Overall, this study achieved its aim of correlating brain
evaluated 175 children and found prenatal etiology in 23%, lesions with neurological motor dysfunctions. The knowledge
perinatal in 18% and undetermined in 5%. that specific brain lesions correlate with specific functions
Two common findings in this study were PVL (45%) in hemiparetic cerebral palsy cases is significant, since sensory
and CVA (27%). The brain pathology types and their relative malfunction needs to be identified and understood in order
frequencies were similar to those found in other hemiparetic to provide better routine training and special care for such
cerebral palsy studies19,18,16,12. In addition, bilateral lesion was children.
found in three out of the 23 patients. This was also reported
by Steinlen et al.9 (8/33 patients) and Niemann et al.10 (8/ 41 Acknowledgments: We wish to acknowledge the assistance provided
patients). by staff within the Children and Adolescent Integration and Development
Program of UNICAMP; the Research and Statistics Committee of the
PVL consists of necrosis of the white matter. It has School of Medical Sciences, UNICAMP; the parents and children who took
characteristic distribution: the dorsal and lateral white matter part in these evaluations and enabled the development of this study; and
surrounds the semi-oval centers of the optic and acoustic especially Professor Dr. Ana Maria Sedrez Gonzaga Piovesana (in
memoriam), who stimulated us to do this work.
radiating centers, toward the external angle of the lateral
ventricle. PVL presents different pathological factors, but
these consist mainly of periventricular focal necrosis and
diffuse lesions in the white matter. Focal necrosis occurs REFERENCES
mainly in the distribution zone where arteries penetrate. The
fibers of the cortical spinal tract that descend to the lower
1. Kuban KCK, Leviton A. Cerebral palsy. N Engl J Med. 1994 Jan
limbs are affected more than the fibers that go to the upper
20; 330(3): 188-95
limbs and face19. This may explain why the best FMF
2. Hagberg B, Hagberg G, Olow I, Von Wendt L. The changing pan-
performance was obtained from patients with subcortical
orama of cerebral palsy in Sweden. VII. Prevalence and origin
injuries. in the birth year period 1987-90. Acta Paediatr Scand 1996
A correlation between FMF and SF performance was August 85(8): 954-60.
found. This finding concords with those from the studies 3. Thickroom GW, Byrnes ML, Archer SA, Nagarajan L, Mastaglia
by Uvebrant17 and Piovesana15. These authors mentioned that FL. Differences in sensory and motor cortical organization
hemiparetic cerebral palsy cases frequently present following brain injury early in life. Ann Neurol 2001 Mar;
disturbances in stereognosis sensitivity that impairs motor 49(3): 320-7.
function. They also reported that children with congenital 4. Rotta NT. Paralisia cerebral, novas perspectivas terapêuticas.
hemiplegia born at full term are more acutely affected than J Pediatr 2002 Jul; 78 (1): 548-54.
those born prematurely. 5. Pierce SR, Daly K, Gallagher KG, Gershkoff AM, Schaumburg
Boyce et al.20 reviewed the figures and features of tools SW. Constraint-induced therapy for a child with hemiplegic
for movement evaluation in cerebral palsy cases. In fact, no cerebral palsy: a case report. Arch Phys Med Rehabil 2002 Oct;
tool is sensitive enough for measuring the performance of 83(10): 1462-3.
such children. Nevertheless, the present case series could 6. Shumway-Cook A, Woollacott MH. 2001. Motor Control (sec-
establish a pattern for FMF deficits presented by hemiparetic tion 1). Lippincott Williams & Wilkins, 2nd ed, Philadelphia,
cerebral palsy, through using such tools. USA.
The present study gives valuable information on 7. Iwabe C, Piovesana AMSG. Estudo comparativo do tono mus-
correlations between FMF, SF and neurological imaging, for cular na paralisia cerebral tetraparética em crianças com lesões
predominantemente corticais ou subcorticais na tomografia
hemiparetic cerebral palsy cases. The tests applied showed
computadorizada de crânio. Arq Neuropsiquiatr 2003 Sep;
correlations between neurological integrity and the types of 61(3A): 617-20.
neurological lesions. Such correlations are important for
8. Piovesana AMSG, Moura-Ribeiro MVL, Zanardi. VA, Gonçalves,
obtaining more accurate prognoses. It is essential to provide VMG. Hemiparetic cerebral palsy: etiological risk factors and
neurological training for professionals involved in caring for neuroimaging. Arq Neuropsiquiatr 2001 Mar; 59(1): 29-34.
such cases, with regard to the relationship between brain
9. Steinlin M, Good M, Martain E, Bnziger O, Largo RH,
lesions and functional losses. Only in this way will it be Boltshauser E. Congenital hemiplegia: morphology of cerebral
possible to establish programs for assisting such patients. lesions and pathogenetic aspects from MRI. Neuropediatrics.
1993 Aug; 24(4): 224-9.
CONCLUSION 10. Niemann G, Krageloh-Mann I, Grodd W, Michaelis R. Congeni-
tal hemiparesis and periventricular leukomalacia: pathogenic as-
The results from this study suggest that there is a close pects on magnetic resonance imaging. Dev Med Child Neurol
relationship between impaired fine motor function and cortical 1994 Nov; 36(11): 943-50.
lesions. Neurological imaging was essential for establishing
correlations between lesion extent and fine motor function.
162 Turolla de Souza RC, Ciasca SM, Moura-Ribeiro MVL, Zanardi VA Rev. bras. fisioter.

11. Humphreys P, Whiting S, Pham B. Hemiparetic cerebral palsy: 16. Goutiéres F, Challamel MJ, Aicardi JE, Gilly R. Congenital
clinical pattern and imaging in prediction of outcome. Can J hemiplegia: semiology, etiology and prognosis. Arch Fr Pediatr
Neurol Sci. 2000 Aug; 27(3): 210-9. 1972 Oct; 29(8): 839-51.
12. Beckung E. Development and validation of a measure of motor 17. Uvebrant P. Hemiplegic cerebral palsy. Aetiology and outcome.
and sensory function in children with epilepsy. Pediatric Acta Paediatr Scand Suppl 1988; 345: 1-100.
Therapy 2000 Aug;(2): 24 35. 18. Kotlarek F, Rodewig R, Brull D. Computed tomographic findings
13. Okumura A, Hayakawa F, Katu T, Kuno K, Watanabe K. MRI in congenital hemiparesis in childhood and their relation to
findings in patients with spastic cerebral palsy. I: correlation etiology and prognosis. Neuropediatrics 1981 May; 12(2): 101-
with gestational age at birth. Dev Med Child Neurol 1997a Jun; 9.
39(6): 363-8. 19. Volpe JJ. Brain injury in the premature infant - from pathogenesis
14. Okumura A, Hayakawa F, Katu T, Kuno K, Watanabe K. MRI to prevention. Brain Dev 1997 Dec; 19(8): 519-34.
findings in patients with spastic cerebral palsy. II: correlation 20. Boyce WF. Measuring quality of movement in cerebral palsy:
with type of cerebral palsy. Dev Med Child Neurol 1997b Jun; a review of instruments. Phys Ther 1991 Nov; 71(11): 813-9.
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15. Piovesana AMSG. Paralisia Cerebral Hemiparética: Aspectos
Evolutivos, plasticidade Cerebral e Especialização Hemisférica
[Doctoral Thesis, UNICAMP] 1999.
Vol.
ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Resposta Cardiorrespiratória ao Exercício em Degrau e Rampa 163
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 163-169
©Revista Brasileira de Fisioterapia

COMPARAÇÃO DAS RESPOSTAS CARDIORRESPIRATÓRIAS ENTRE


EXERCÍCIO DE CARGA CONSTANTE E INCREMENTAL ABAIXO, ACIMA E
NO LIMIAR DE ANAEROBIOSE VENTILATÓRIO

PITHON KR 1, MARTINS LEB 2, GALLO JR L 3, CATAI AM 1, SILVA E 1,4


1
Núcleo de Pesquisa em Exercício Físico, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar,
São Carlos, SP
2
Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP
3
Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão
Preto, SP
4
Laboratório de Pesquisa em Fisioterapia Cardiovascular e de Provas Funcionais, Faculdade de Ciências da Saúde,
Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, SP
Correspondência para: Ester da Silva, Mestrado em Fisioterapia, FACIS - UNIMEP, Campus Taquaral, Rodovia do
Açúcar, Km 156, CEP 13400-911, Piracicaba, SP, e-mail: esilvas@unimep.br e kpithon@ibest.com.br
Recebido: 31/01/2005 – Aceito: 22/09/2005

RESUMO
Objetivo: Aplicar diferentes metodologias de análise aos dados dos testes contínuo em rampa (TCR) e descontínuo em degrau
(TDD) e comparar as respostas das variáveis cardiorrespiratórias. Métodos: 8 homens realizaram teste ergoespirométrico em
bicicleta: TCR com incremento de 20 a 25W.min-1 e TDD em degraus de 15min cada baseado no limiar de anaerobiose ventilatório
(LAV) do TCR, sendo degrau 1 (70%LAV), degrau 2 (100%LAV) e degrau 3 (130%LAV). O LAV foi determinado pela perda do
paralelismo entre consumo de oxigênio ( O2) e produção de dióxido de carbono ( CO2). A freqüência cardíaca (FC bpm), CO2,
O2, (ml.min-1), O2, (ml.kg-1.min-1), ventilação ( E L.min-1) do TCR foram analisadas em médias móveis de 8 ciclos respiratórios,
respiração-a-respiração e pela regressão linear. No TDD, a média foi aplicada do 3o ao 15omin dos degraus. Na análise estatística
foram utilizados o teste de Kolmogorov-Smirnov, ANOVA, post hoc de Tukey-Kramer e regressão linear, p<0,05. Resultados:
No pico do exercício houve diferença estatisticamente significante entre respiração-a-respiração e demais metodologias. Na
comparação de protocolos: O2, CO2, E foram similares entre LAV e degrau 1 (p>0,05), porém O2 relativo foi diferente (p<0,05)
entre LAV e todos os degraus; a FC mostrou diferença (p<0,05) entre LAV e degrau 3, e na análise entre os três degraus houve
diferença (p<0,05). Conclusão: Os resultados indicam que a regressão linear foi eficaz para estimar as variáveis cardiorrespiratórias.
Em relação aos protocolos, verificou-se que para a obtenção no TDD de valores cardiorrespiratórios similares ao LAV do TCR
foi necessário diminuir a potência em 30%.
Palavras-chave: limiar de anaerobiose ventilatório, exercício físico, teste em degrau, teste em rampa, freqüência cardíaca.

ABSTRACT
Comparison of Cardiorespiratory Responses Between Constant and Incremental Load Exercises Below,
Above and at the Ventilatory Anaerobic Threshold
Objective: To apply different analytical methodologies to data from continuous ramp tests (CRT) and discontinuous step tests
(DST), and compare responses from cardiorespiratory parameters. Method: Eight men performed spirometric tests on an
electrically braked cycle ergometer: CRT increasing from 20 to 25 W.min-1 and DST in 15-min steps, each based on the ventilatory
anaerobic threshold (VAT) for CRT. Step 1 was 70% VAT; step 2, 100% VAT; and step 3, 130% VAT. VAT was determined as loss
of parallelism between O2 uptake ( O2) and CO2 output ( CO2). Heart rate (HR, bpm), CO2, O2 (ml.min-1), O2 (ml.kg.min-1) and
ventilation ( E L.min-1) values for CRT were obtained as moving averages of eight breath-to-breath respiratory cycles, using
linear regression. For DST, means were applied from the third to fifteenth minute of the steps. Statistical comparisons utilized
the Kolmogorov-Smirnov test, ANOVA, post-hoc Tukey-Kramer test and linear regression, with significance limit of p<0.05.
Results: At peak exercise, there was a statistically significant difference between breath-to-breath and other methodologies.
Comparing protocols: O2, CO2 and E gave similar results for VAT and step 1 (p>0.05), but O2 was different between VAT
and all steps (p<0.05). HR was different between VAT and step 3 (p<0.05). There were significant differences between the three
164 Pithon KR, Martins LEB, Gallo Jr L, Catai AM, Silva E Rev. bras. fisioter.

steps (p<0.05). Conclusions: The results indicate that linear regression was effective for estimating cardiorespiratory parameters.
Regarding the protocols, it was found that, to obtain cardiorespiratory responses in DST that were similar to VAT from CRT, the
power had to be decreased by 30%.
Key words: ventilatory anaerobic threshold, physical exercise, discontinuous step test, continuous ramp test, heart rate.

INTRODUÇÃO podem resultar em erros na estimativa de valores das variáveis


ventilatórias, inclusive em adultos14.
O limiar de anaerobiose tem sido principalmente Diante do exposto, é importante verificar a intensidade
determinado através do uso de procedimentos invasivos e de exercício que corresponde às adequações das respostas
não-invasivos durante teste incremental. Esse parâmetro de cardiorrespiratórias em homeostase ou não, aplicando uma
capacidade aeróbia tem sido identificado por meio da metodologia que respeite as características fisiológicas das
concentração sangüínea de lactato1,2 pela determinação de variáveis. Isso se torna relevante para prescrever a real
alterações nas trocas gasosas, chamado de limiar de intensidade de treinamento físico com carga constante na
anaerobiose ventilatório (LAV)3,4, pela resposta da freqüência qual o indivíduo pode atingir a mesma resposta das variáveis
cardíaca3,5 e/ou pela eletromiografia de superfície6. cardiorrespiratórias do teste incremental. Assim, os objetivos
Atualmente, os mecanismos fisiológicos que envolvem deste estudo foram: a) aplicar diferentes metodologias de
o limiar de anaerobiose ainda não são totalmente análise das respostas cardiorrespiratórias aos testes contínuo
compreendidos e estão em discussão4,7. No entanto, para uso em rampa e descontínuo em degrau. b) comparar as respostas
prático é útil descobrir como esse parâmetro pode ser das variáveis cardiorrespiratórias durante o teste incremental
utilizado na prescrição de exercício para a população. O limiar tipo rampa com o teste em degraus descontínuos.
de anaerobiose é considerado marcador da transição do
metabolismo aeróbio/anaeróbio e tem sido empregado na Casuística
avaliação da capacidade funcional em níveis submáximos Após terem assinado o consentimento pós-informado,
de exercício. 8 homens com idade entre 20 e 27 anos participaram desse
Na literatura é encontrada uma variedade de estudos estudo. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e
com diversos tipos de protocolos de avaliação da capacidade Pesquisa da Universidade Federal de São Carlos sob no 047/
funcional, tais como, exercício físico dinâmico do tipo 03.
rampa6,8, em degrau9,10 e senoidal11. Cada um destes protocolos A idade e as características antropométricas do grupo
produz repercussões fisiológicas específicas, sendo desta estão expressas em média e desvio-padrão, sendo idade =
forma essencial à caracterização minuciosa de suas respostas 22,75 ± 2,25 anos, massa corporal = 79,33 ± 10,22 kg,
para a compreensão dos mecanismos envolvidos. estatura = 1,82 ± 0,05 m e o índice de massa corporal (IMC)
Poucos estudos 12,13 têm atualmente comparado as = 23,77 ± 2,0 kg/m2. Todos os voluntários realizavam atividade
mensurações das variáveis cardiorrespiratórias obtidas durante física, pelo menos, 3 vezes por semana e não apresentavam
o teste continuo em rampa com aquelas obtidas durante o qualquer evidência de alterações cardiovasculares, como foi
teste descontínuo em degrau em intensidades próximas ao observado por exames clínicos e laboratoriais.
LAV.
Além disso, deve-se ressaltar que a mensuração das
MÉTODOS
variáveis cardiorrespiratórias, respiração-a-respiração apresenta
um erro sistemático que é inerente às metodologias de análise Procedimentos experimentais
dos sistemas automáticos. Tal fato pode ser atribuído às Durante o teste, o consumo de oxigênio ( O2), a
flutuações da respiração. Uma explicação para esse fenômeno produção de gás carbônico ( CO2) e a ventilação ( E) foram
é que em um pequeno intervalo de tempo uma grande coletadas continuamente usando um sistema automático
respiração tende a ser seguida por uma pequena, então um respiração-a-respiração (CPX; Medical Graphics, St Paul,
grande valor de CO2 tende a ser seguido por um pequeno Mn, EUA). O sistema foi calibrado antes de cada teste de
valor. Essas flutuações não ocorrem de forma equivalente acordo com as instruções do fabricante. Inicialmente, o
no O2 e por isso não pode ser explicado por uma regressão oxigênio foi calibrado com o gás de referência na concentração
do CO2 ao O214. As flutuações são mais facilmente de 12% e dióxido de carbono com o gás de referência em
observadas em crianças15 e tem sido considerado como um 5% com balanço de nitrogênio, seguido da calibração de
“ruído” de origem fisiológica e não o resultado de fatores volume, utilizando uma seringa de 3,0 L. Os experimentos
externos como erros de medidas. No entanto, as flutuações foram realizados em laboratório climatizado com temperatura
Vol. 10 No. 2, 2006 Resposta Cardiorrespiratória ao Exercício em Degrau e Rampa 165

média de 22º C, umidade relativa do ar em torno de 50% e Teste contínuo em rampa


pressão atmosférica de 689 mmHg, as quais foram registradas O protocolo consistia de 1 min em repouso com o
no software do sistema CPX/D. voluntário devidamente posicionado na bicicleta, seguido de
Os voluntários foram monitorizados na derivação MC5 aquecimento com potência de 4W por 4 min e posterior
para a captação do sinal de eletrocardiograma utilizando um incremento de potência, que variou de 20 a 25W.min-1,
monitor cardíaco de um canal, modelo ECAFIX TC-500, e segundo a formula proposta por Wasserman4, com objetivo
processado por meio de um conversor analógico-digital, de completar o teste entre 8 e 12 min. O teste seria
modelo Lab-PC+ (National Instruments, Co, Austin, Tx, interrompido quando os voluntários apresentassem fadiga
EUA), o qual apresenta uma interface entre o monitor cardíaco muscular identificada pela perda da manutenção da cadência
e o microcomputador Pentium II. A freqüência cardíaca foi em 60 rpm, ou atingisse a freqüência cardíaca máxima prevista
obtida a partir dos sinais do eletrocardiograma, pelo cálculo para idade (220 - idade)17.
dos intervalos R-R, e mostrada em tempo real, batimento a
batimento, sob a utilização de um software de processamento Teste descontínuo em degraus
digital de sinais16. A intensidade do teste descontínuo em degraus foi
Os testes foram realizados em cicloergômetro de baseada no limiar de anaerobiose ventilatório (LAV) identificado
frenagem eletromagnética (Quinton Corival Ergometer 400, no teste contínuo em rampa, sendo o degrau 1 em 70% do
Groningen, Holanda) com cadência de 60 rotações por min LAV, degrau 2 em 100% do LAV e degrau 3 em 130% do LAV.
(rpm). Todos os experimentos foram feitos no período O teste iniciou com 2 min de aquecimento na potência de 4W,
vespertino para eliminar as possíveis influências do ciclo em seguida houve o acréscimo da potência pré-estabelecida
circadiano sobre as respostas cardiorrespiratórias. durante 15 min e 2 min de recuperação ativa na potência de
20W, entre cada teste foi interposto um período variável de
Protocolo experimental repouso até que a freqüência cardíaca retornasse aos valores
As etapas experimentais realizadas pelos voluntários próximos da condição inicial pré-esforço. A ordem de realização
foram: do teste contínuo em degrau foi sempre do menor valor de
potência para o maior. Na tabela 1 estão apresentados os

Tabela 1. Percentuais dos níveis de potências em Watts (W) em relação ao limiar anaerobiose ventilatório (LAV) dos três testes descontínuos
em degraus realizados pelos voluntários (n=8).

TESTE DESCONTÍNUO EM DEGRAUS

Degrau 1 Degrau 2 Degrau 3


VOLUNTÁRIO
70% LAV 100% LAV 130% LAV

1 56 80 104

2 80 114 148

3 78 112 146

4 62 89 116

5 70 100 130

6 85 122 159

7 74 105 137

8 72 103 134
MÉDIA 72,19 103,13 134,06

DP 9,54 13,63 17,72

DP= desvio-padrão
166 Pithon KR, Martins LEB, Gallo Jr L, Catai AM, Silva E Rev. bras. fisioter.

valores de potência em Watts do teste descontínuo em em relação ao ponto em que foi identificado o LAV, totalizando
degraus. 21 valores também.
A análise em regressão linear foi comparada a médias
METODOLOGIA DE ANÁLISE móveis de 8 ciclos respiratórios e aos dados respiração-a-
respiração no maior valor encontrado no pico do exercício
Análise visual gráfica e no correspondente ao LAV.
O limiar de anaerobiose foi determinado pela análise
visual gráfica realizada por 3 pesquisadores do laboratório. Análise das variáveis cardiorrespiratórias no teste
Anteriormente a análise, os pesquisadores foram familiarizados descontínuo em degrau
com o sistema ergoespirométrico e com o software que Para a realização desta análise foram desprezados os
fornecia os gráficos dos dados das variáveis obtidas durante 5 min iniciais do teste, que correspondia ao aquecimento e
os protocolos experimentais. Os critérios para determinação o início do degrau. Então, foi analisado o trecho do 3o ao 15o
visual gráfica do limiar de anaerobiose ventilatório, assim min do degrau, desse intervalo de 12 min foi calculado a média.
como o padrão de qualidade aceito nos experimentos foram
discutidos e uniformizados para os 3 observadores. ANÁLISE ESTATÍSTICA
Na análise qualitativa, foi levada em consideração a
manutenção da cadência da bicicleta, bem como a presença O teste não paramétrico de Kolmogorov-Smirnov foi
ou não de artefatos que viessem a prejudicar a identificação usado para determinar a distribuição de normalidade das
do LAV. Para a determinação do LAV, foi selecionado o variáveis. A hipótese de normalidade foi aceita para todos os
intervalo da rampa no qual se observou o início da resposta valores. Como todas as variáveis mostraram uma distribuição
das variáveis ao incremento de potência até o ponto de normal, a análise de variância para medidas repetidas (ANOVA)
compensação respiratório, (aumento desproporcional da foi usada para comparar os valores obtidos nos dois protocolos
ventilação em relação à produção de dióxido de carbono) ou de exercício avaliados com post-hoc de Tukey-Kramer. Foi
até o final do exercício, caso não fosse identificado este ponto. considerado nível de significância de 5%.
Assim, o LAV foi determinado pela perda de paralelismo entre
o O2 e CO2 desse intervalo. Esse critério coincide com RESULTADOS
o ponto de inflexão no qual se observa o incremento
desproporcional do CO2 ao O2, pelo método do V-slope4. Os valores das variáveis ventilatórias obtidos a partir
Os valores encontrados pelos 3 observadores foram das análises respiração-a-respiração, médias móveis de 8 ciclos
então confrontados e caso houvesse concordância entre eles respiratórios e pelo ajuste de regressão linear no pico e no
foram aceitos como o limiar de anaerobiose ventilatório. Caso LAV do teste contínuo em rampa para o grupo estudado (n=8)
não fossem concordantes, mas houvesse uma variação de estão sumarizados na tabela 2. Verifica-se que as variáveis
até 1 min nos tempos encontrados seria feita a média desses cardiorrespiratórias, no LAV, não apresentaram diferenças
valores. Se o intervalo de tempo fosse maior que 1 min, um estatisticamente significantes entre as 3 metodologias
quarto observador seria chamado para compor o grupo, o estudadas. No entanto, no pico do exercício, as respostas
que não foi necessário em nenhum dos casos analisados. Esse cardiorrespiratórias apresentaram diferenças estatisticamente
critério foi utilizado para análise dos valores absolutos significantes entre os valores encontrados respiração-a-
respiração-a-respiração e para os valores em médias móveis respiração com os outros 2 métodos. No presente estudo,
de 8 ciclos respiratórios. os valores encontrados a partir do ajuste de regressão linear
ao conjunto de dados das variáveis cardiorrespiratórias do
Análise da regressão linear das variáveis cardiorrespi- teste contínuo em rampa foram usados para comparação com
ratórias os dados do teste em degrau.
Para minimizar os efeitos das flutuações respiração-a- Ainda em relação ao pico do exercício, os voluntários
respiração aos dados cardiorrespiratórios do teste contínuo atingiram a potência de 267,5 ± 33,56 W, a freqüência
em rampa, foi aplicado um modelo de ajuste linear, rotina cardíaca foi submáxima de 179 ± 11 bpm, baseado na
de análise desenvolvida no software S-plus (versão 2000 freqüência cardíaca máxima preconizada por Karvonen et
Professional Release 1)18, que possibilitou a obtenção de al.17 (220 - idade) que seria de 197 ± 2 bpm e O2 relativo
valores referentes a uma região de análise e não somente um de 37,43 ± 4,11 ml.kg.min-1 considerado como capacidade
único ponto. funcional razoável segundo American Heart Association19.
Para a análise dos dados respiração-a-respiração no pico As respostas do O2 relativo (ml.kg.-1min-1), O2 e CO2
de exercício, foram utilizados os 21 últimos valores, ou seja, (ml.min -1), E (L.min-1) e freqüência cardíaca (bpm)
foi levado em consideração o valor pico mais os 20 valores mensuradas no LAV, analisados através da regressão linear,
que o antecederam. Já para os dados no LAV foram con- e no teste descontínuo em degrau em intensidades próximas
siderados os 10 valores anteriores e os 10 valores posteriores ao LAV, estão apresentados na tabela 3. Observa-se que
Vol. 10 No. 2, 2006 Resposta Cardiorrespiratória ao Exercício em Degrau e Rampa 167

Tabela 2. Valores de O2 e CO2 (ml.min-1), O2 relativo (ml.kg.min-1) e Epico (L.min -1) obtidos no pico do teste contínuo em rampa e no
limiar de anaerobiose ventilatório (LAV), analisados em respiração-a-respiração, médias móveis de 8 ciclos respiratórios e pelo ajuste da regressão
linear.

RESPIRAÇÃO-A-RESPIRAÇÃO MÉDIAS MÓVEIS DE 8 CICLOS REGRESSÃO LINEAR

RESPIRATÓRIOS

PICO DO EXERCÍCIO

-1
O2 pico (ml.min ) 3.401,75 ± 407,54 3.031,25 ± 400,06* 2.977 ± 424,84*
-1
O2 relativo pico (ml.kg.min ) 42,75 ± 5,28 38,12 ± 3,87* 37,43 ± 4,11*
CO2 pico (ml.min-1 ) 4.002,75 ± 405,2 3.667 ± 400,62* 3.619,64 ± 454,3*
-1
E pico (L.min ) 119,07 ± 12,82 108,8 ± 9,97* 105,77 ± 11,32*

LAV

O2 LAV (ml.min-1) 1.266,62 ± 272,01 1.228,5 ± 153,51 1.225,15 ± 144,76


-1
O2 relativo LAV (ml.kg.min ) 15,87 ± 4,517 15,37 ± 2,87 15,38 ± 2,88
-1
CO2 LAV (ml.,min ) 1.190,25 ± 252,49 1.147,37 ± 134,3 1.149,98 ± 133,23
-1
E LAV (L,min ) 34,23 ± 7,67 33,35 ± 3,94 33,54 ± 4,0
*p< 0,05, ANOVA, em relação a respiração-a-respiração.

o O2, CO2, e E e freqüência cardíaca não apresentaram o erro nas medidas das variáveis cardiorrespiratórias devido
diferenças estatisticamente significantes entre o LAV e o a esse “ruído”. Se fosse analisado apenas o valor de uma
degrau 1, no entanto, a freqüência cardíaca também não respiração, seria maior a possibilidade de erro, que influenciaria
apresentou diferença estatisticamente significante entre o LAV no resultado do estudo. Assim, os resultados deste estudo
e o degrau 2. Verifica-se ainda que o O2 relativo apresentou mostraram que o aumento da variação inspiração/expiração
diferença estatisticamente significante entre todas as situações no pico do exercício pode ser minimizado.
estudadas. No que se refere às análises entre as variáveis Utilizar recursos como a análise de uma região de pontos
obtidas nos 3 testes descontínuos em degrau observa-se no pico do exercício ou próximo ao ponto de inflexão dos
diferenças estatisticamente significantes entre todas elas. gases, num teste contínuo em rampa favorece a obtenção
de valores de O2, CO2 , E e freqüência cardíaca mais
DISCUSSÃO próximos da condição fisiológica. Como um dos objetivos
foi a comparação das respostas cardiorrespiratórias do teste
Há estudos que tentam classificar a população quanto incremental com as do degrau, a seleção de 21 pontos para
a sua capacidade aeróbia19,20 outros equiparar protocolos5, a análise do teste contínuo em rampa possibilitou maior
porém a utilização de parâmetros diferentes torna difícil a acurácia dos resultados.
comparação entre eles. Então, surge a necessidade de Pela análise do O2 respiração-a-respiração, no pico do
desenvolver metodologias que possam facilitar esse tipo de exercício, os resultados foram semelhantes a trabalhos da
análise. literatura 42,77; 43,7013 e 40,1321 ml.kg-1.min-1. Já pela análise
Nesse estudo foi proposta a utilização de regressão linear das médias móveis de 8 ciclos respiratórios e pela regressão
como ferramenta matemática para a obtenção dos valores linear, os resultados foram inferiores (38,12 e 37,43 ml.kg-
das variáveis cardiorrespiratórias, uma vez que a literatura 1
.min-1, respectivamente). Caso a confrontação desses
tem considerado tanto o O2 máximo ou pico, ou ainda o LAV resultados fosse realizada sem a identificação dos
apenas como um ponto4,21. procedimentos de análise poderia sugerir equiparações
Um fator que se tem observado é que a flutuação da equivocadas. Isto é, a capacidade aeróbia dos voluntários
respiração vem sendo reconhecida como um fenômeno poderia ser considerada como boa, caso fosse levado em
fisiológico14. As variações respiratórias justificariam a aplicação consideração os resultados da análise respiração-a-respiração,
do ajuste por regressão linear pela possibilidade de minimizar
168 Pithon KR, Martins LEB, Gallo Jr L, Catai AM, Silva E Rev. bras. fisioter.

Tabela 3. Variáveis cardiorrespiratórias em média ± DP do grupo estudado (n=8) durante o teste contínuo em rampa (TCR) no limiar de anaerobiose
ventilatório (LAV) e no teste descontínuo em degrau (TDD) nas intensidades pré-estabelecidas.

TCR TDD

LAV Degrau 1 Degrau 2 Degrau 3

O2 relativo

(ml.kg.min-1 ) 15,38 ± 2,90 13,70 ± 2,30* 18,23 ± 3,40*† 23,24 ± 5,0*†‡

O2
-1
(ml.min ) 1.225,1 ± 144,70 1.150 ± 84,10 1.437,10 ± 173,8*† 1839 ± 216,7*†‡

CO2

(ml.min-1) 1.150 ± 645,7 1.099 ± 58 1.383,53 ± 195,2*† 1807 ± 255*†‡

(L.min-1 ) 33,54 ± 4 33,42 ± 3,00 43,15 ± 7,0*† 56,40 ± 11,40*† ‡

FC

(bpm) 110 ± 8,3 101 ± 6,40 118 ± 10,4† 136 ± 17,20*†‡


ANOVA, *p<0,05 em relação a LAV, p<0,05 em relação ao degrau 1, ‡ p<0,05 em relação ao degrau 2.

já pela análise do ajuste de regressão linear eles seriam foi 25% maior no teste contínuo em rampa em relação ao
classificados como razoáveis. teste descontínuo em degrau. Em trabalhos realizados
No que se refere à estimativa do LAV a partir das 3 anteriormente por Kaizer et al.22foram encontrados valores
metodologias de análises, os resultados do presente estudo de potência 20 a 25% inferiores aos testes descontínuos em
foram similares, mostrando que as flutuações da respiração degrau em relação ao teste em rampa para um O2 similar
na região do LAV não interferiram nos resultados. em homens jovens saudáveis. Já Sirol et al.23 verificaram que
Usualmente, a estimativa do LAV tem sido feita a partir homens de meia-idade saudáveis atingiram valores de potência
da análise das variáveis cardiorrespiratórias em teste contínuo de 15% a 20% inferiores no teste descontínuo em degrau
em rampa devido ao menor tempo de teste e em relação ao teste em rampa, para freqüência cardíaca
conseqüentemente de estresse físico. O problema essencial similar.
é definir qual parâmetro medido durante um teste contínuo Um outro fator que deve ser levado em consideração
em rampa pode fornecer valores que correspondam a um ao avaliar a resposta da freqüência cardíaca no teste
teste descontínuo em degrau e otimize a prescrição de descontínuo em degrau foi a similaridade de sua resposta
atividade física. durante os testes do degrau 1 e 2 em relação ao teste em
No presente trabalho o achado mais importante foi o rampa no nível do LAV. Esse resultado deve ser considerado
resultado da comparação das variáveis cardiorrespiratórias ao prescrever a atividade física tendo em vista que as variações
entre o teste contínuo em rampa e o teste descontínuo em do O2, CO2 e E foram similares somente em relação ao
degrau com a utilização de ferramentas matemáticas. Esses degrau 1, que corresponde a 30% abaixo da potência do LAV
resultados são concordantes com Zebalos et al.13, que do teste em rampa. Assim, se o treinamento físico aeróbio
avaliaram indivíduos saudáveis e doentes, e verificaram que for baseado apenas na resposta da freqüência cardíaca o
as respostas cardiorrespiratórias similares ao LAV do teste mesmo estaria sendo realizado em nível acima do LAV para
em rampa ocorrem em torno de 30% abaixo da potência no as demais variáveis.
teste em degrau. Também utilizando protocolo similar, Diante do exposto, verifica-se que é necessário fazer
Matthews et al.12 reportam que ao pesquisar pacientes com os ajustes, na intensidade do exercício em relação as variáveis
doença pulmonar obstrutiva crônica e indivíduos saudáveis, ventilatórias e metabólicas para uma prescrição adequada,
quando comparada à mesma potência de trabalho, o O2 pois caso contrário pode ocorrer uma superestimação nos
Vol. 10 No. 2, 2006 Resposta Cardiorrespiratória ao Exercício em Degrau e Rampa 169

valores dessas variáveis e uma exigência de trabalho maior 10. Saunders MJ, Evans EM, Arngrimsson SA, Allison JD, Warren
dado às características específicas do protocolo de avaliação GL, Cureton KJ. Muscle activation and the slow component rise
in oxygen uptake during cycling. Med Sci Sports Exerc 2000;
e de treinamento, ou uma subestimação da capacidade aeróbia
32(12):2040-5.
do indivíduo.
11. Haouzi P, Fukuba Y, Casaburi R, Stringer W, Wasserman K. O2
uptake kinetics above and below the lactic acidosis threshold
CONCLUSÃO during sinusoidal exercise. J Appl Physiol 1993; 75(4): 1683-90.

Os resultados do presente trabalho indicaram que a 12. Matthews JI, Bush BA, Ewald FW. Exercise responses during
incremental and high intensity and low intensity steady-state
regressão linear apresentou uma melhor acurácia na definição exercise in patients with obstrutive lung disease and normal
das variáveis cardiorrespiratórias, uma vez que essa control subjects. Chest 1989; 96(1): 11-17.
metodologia reduz o erro de medidas referentes às flutuações
13. Zeballos RJ, Weisman IM, Connery SM. Comparison of pul-
fisiológicas da respiração. monary gas exchange measurements between incremental and
Em relação à comparação do teste contínuo em rampa constant work exercise above the anaerobic threshold. Chest
e teste descontínuo em degrau observou-se que para alcançar 1998; 113(3): 602-11.
valores similares de O2, CO2, E e freqüência cardíaca 14. Kelly GE, Thin A, Daly L, McLoughlin P. Estimation of the gas
foi necessário uma redução em 30% na potência de trabalho. exchange threshold in humans: a time series approach. Eur J
Sugere-se, portanto, a adequação dos protocolos de Appl Physiol 2001; 85(6): 586-92.
treinamento do tipo degrau com redução da potência em 30% 15. Potter CR, Childs DJ, Houngton W, Armstrong N. Breath-to-
para se obter uma zona de trabalho em torno do LAV. breath “noise” in the ventilatory and gas exchange responses of
children to exercise. Eur J Appl Physiol 1999; 80: 118-124.

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ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Hemartroses e Alterações Funcionais em Crianças Hemofílicas 171
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 171-176
©Revista Brasileira de Fisioterapia

AVALIAÇÃO DO ALINHAMENTO POSTURAL E DO DESEMPENHO EM


ATIVIDADES FUNCIONAIS DE CRIANÇAS HEMOFÍLICAS EM IDADE
INFERIOR A SETE ANOS, COM E SEM SINOVITE CRÔNICA:
CORRELAÇÃO COM A INCIDÊNCIA DE HEMARTROSES

GALANTE GA 1, AZEVEDO CSA 1, MELLO M 1, TANAKA C 2, D’AMICO EA 3


1
Fisioterapeutas
2
Serviço de Fisioterapia, Faculdade de Medicina, Instituto Central dos Hospital das Clínicas, Universidade de São
Paulo, SP
3
Centro de Hemofilia “Louis Aledort”, Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo, São Paulo, SP
Correspondência para: Gabriela Afonso Galante ou Carolina S. A. Azevedo, Rua Zurick, 1140, apto 1303, Bl. A, Jardim
América, CEP 30460-060, Belo Horizonte, MG, e-mail: gabigalante@hotmail.com ou cafisio20@hotmail.com
Recebido: 31/01/2005 – Aceito: 19/02/2006

RESUMO
Introdução: A sinovite na hemofilia pode induzir às alterações nos receptores sensitivos e proprioceptivos articulares. Tal efeito
favorece a redução de estabilidade e um desalinhamento corporal, podendo comprometer a funcionalidade das crianças
acometidas. Objetivo: Avaliar o alinhamento postural dos membros inferiores e o desempenho funcional de crianças hemofílicas,
relacionando-os com a incidência de hemartroses. Método: Foi avaliado um grupo experimental (GE) de 28 crianças hemofílicas
e um grupo controle (GC) de 20 crianças sem hemofilia. O GE foi dividido de acordo com o grau de comprometimento articular:
16 crianças no grupo sem sinovite crônica (GSS) e 12 no grupo com sinovite crônica (GCS). Cada grupo foi subdividido por faixa
etária: 3-4 anos, 5-6 anos, 7 anos. A avaliação consistiu da análise do alinhamento dos ângulos do joelho e do tornozelo através
do programa Geometer Sketchpad. O desempenho das atividades funcionais foi avaliado através de testes modificados a partir
do Exame Neurológico Evolutivo de Lefévre. Resultados: Foi constatado que a média dos sangramentos dos hemofílicos aumenta
com a idade (p< 0,001) e parece ser relacionada com o grau de comprometimento articular (GCS>GSS), (p< 0,059); o ângulo do
joelho do GCS tende a um menor valor (semiflexão) quando comparado aos outros grupos; e há diferença significativa no
percentual de desempenho nos testes entre grupos na faixa etária de 7 anos (GSS>GC e GSS>GCS), (p< 0,087). Discussão e
Conclusão: Crianças hemofílicas de 7 anos apresentaram menor desempenho funcional quando comparadas aos outros grupos.
Este resultado ressalta a importância da fisioterapia precoce associada à terapêutica médica para evitar comprometimentos
articulares severos.
Palavras-chave: fisioterapia, criança, hemofilia, alinhamento postural, hemartrose.

ABSTRACT
Evaluation of Postural Alignment and Performance in Functional Activities Among Hemophilic
Children Under 7 Years Old With and Without Chronic Synovitis: Correlation With Hemarthrosis
Incidence
Introduction: Synovitis associated with hemophilia may induce abnormalities in the proprioceptive and sensory receptors of
joints. This favors decreased stability and body misalignment and may compromise the functional abilities of children affected
by this condition. Objective: To assess the lower limb postural alignment and functional performance of hemophilic children,
and correlate this with the incidence of hemarthrosis. Method: An experimental group of 28 hemophilic children and a control
group (CG) of 20 children without hemophilia were evaluated. The experimental group was divided according to the degree of
joint involvement: 16 children without chronic synovitis (NCS) and 12 with chronic synovitis (CS). Each group was subdivided
according to age groups: 3-4, 5-6 and 7 years old. The knee and ankle angle alignments were analyzed using the Geometer
Sketchpad program. The children’s performance in functional activities was evaluated using tests adapted from the Lefèvre
evolutive neurological examination. Results: In the experimental group, mean bleeding increased with age (p< 0.001) and seemed
to be related to the degree of joint involvement (CS>NCS) (p< 0.059). In CS, the knee angle tended towards smaller values (semi-
172 Galante GA, Azevedo CSA, Mello M, Tanaka C, D’Amico EA Rev. bras. fisioter.

flexion), in comparison with other groups. There were significant differences in test performance among the seven-year-old groups
(NSC>CG and NSC>CS) (p< 0.087). Discussion and Conclusion: The seven-year-old hemophilic children presented lower func-
tional performance than did the other groups. This result emphasizes the importance of early physical therapy together with
medical treatment, in order to avoid severe joint involvement.
Key words: physical therapy, children, hemophilia, postural alignment, hemarthrosis.

INTRODUÇÃO Vinte e oito crianças hemofílicas constituíram o grupo


experimental (GE), sendo divididas em 2 grupos: grupo sem
A hemofilia é uma doença hereditária, caracterizada por sinovite crônica (GSS) com 16 crianças e grupo com sinovite
hemartroses traumáticas e espontâneas, sendo que 80% destas crônica (GCS) com 12 crianças. A definição da presença ou
são nos membros inferiores1-3. As hemartroses de repetição ausência de sinovite crônica nas crianças hemofílicas foi
originam a sinovite aguda, classicamente descrita por Duthie caracterizada através de avaliação médica e da análise de
(1994) como um aumento de volume residual, calor local, prontuários (incidência e freqüência de hemartroses). Todas
havendo ou não dor e restrição do movimento na articulação as crianças foram divididas novamente em subgrupos de
atingida4. Estas podem resultar em uma sinovite crônica após acordo com a idade (3-4 anos, 5-6 anos e 7 anos). A média
seis meses de evolução, com progressão para “artropatia das idades das crianças está descrita na tabela 2. As crianças
hemofílica”, na qual ocorre disfunção articular grave5-9. Em hemofílicas avaliadas estavam cadastradas no “Centro de
esqueletos imaturos este processo causa aceleração na Hemofilia Louis Aledort” do Hospital das Clínicas da
ossificação e hipertrofia das placas epifisárias, ocasionando Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
deficiências estruturais e limitação da função do segmento (HCFMUSP), na “Unidade de Hemofilia Dr. Otávio Luis
acometido1. Gherardi” do Hospital Brigadeiro e no Serviço de Hemofilia
Quanto mais global e prematuro for a alteração articular do Departamento de Hematologia e Hemoterapia da
no hemofílico, maior a chance de haver prejuízos no Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP).
alinhamento articular, na postura e, provavelmente nas Foram considerados critérios de exclusão para
habilidades funcionais da vida diária10-14. Em 1996, as participação no estudo à existência de alteração no
estatísticas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina desenvolvimento motor normal e de patologias do sistema
da Universidade de São Paulo15demonstravam que havia neurológico. No caso das crianças hemofílicas também foram
comprometimento articular importante em crianças hemofílicas considerados fatores de exclusão a ocorrência de episódio
de 7 a 14 anos, relacionado à incidência prévia de de hemartrose há menos de 15 dias da avaliação podendo
hemartroses. influenciar no desempenho funcional da criança pela presença
Os dados disponíveis acerca da incidência de de dor ou restrição do movimento, limitação articular
hemartroses e do comprometimento articular em crianças importante que comprometesse a realização dos testes e
hemofílicas de 3 a 7 anos são escassos, como também não patologias do sistema nervoso ou outras complicações
há referências na literatura sobre a avaliação do desempenho clínicas.
funcional e alinhamento postural para esta faixa etária.
Buscando uma abordagem preventiva no tratamento de Procedimento
crianças hemofílicas, o objetivo deste estudo foi avaliar o Os responsáveis legais pelas crianças assinaram um
alinhamento postural dos membros inferiores e o desempenho Termo de Consentimento pós-informado aprovado pelo Comitê
funcional de crianças hemofílicas, relacionando-os com a de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
incidência de hemartroses. da Universidade de São Paulo (CAPPESQ) e também
responderam a um questionário com aspectos gerais sobre
MATERIAL E MÉTODO o desenvolvimento motor da criança. No caso dos hemofílicos
o questionário abordava também aspectos específicos da
Sujeitos
evolução da artropatia hemofílica. As crianças foram avaliadas
Sessenta e duas crianças na faixa etária de 3-7 anos de
na instituição ou creche onde estavam cadastradas.
idade foram avaliadas, das quais 14 participaram de um estudo
A duração de cada avaliação foi de aproximadamente
piloto prévio à pesquisa. Quarenta e oito participaram do
40 minutos, sendo dividida em:
estudo final realizado de janeiro a dezembro de 2000.
1) Análise do prontuário das crianças hemofílicas para
Vinte crianças sem hemofilia constituíram o grupo
coleta de dados a respeito da incidência e freqüência das
controle (GC), estas freqüentavam a Creche da Universidade
hemartroses, e a realização ou não de atendimento
de São Paulo e a Escola Municipal do Complexo do Hospital
fisioterapêutico.
das Clínicas.
Vol. 10 No. 2, 2006 Hemartroses e Alterações Funcionais em Crianças Hemofílicas 173

2) Avaliação postural através de fotografias das crianças as necessidades dessa pesquisa, utilizamos dados do estudo
em ortostatismo, vestindo trajes de banho na vista lateral, piloto para padronização da aplicação dos testes funcionais
baseado no trabalho de Takahashi et al.16. No GC, a vista lateral e determinação dos escores dados a cada um desses, de
direita foi escolhida como padrão. No GE a vista lateral foi acordo com seu grau de dificuldade, sem validação prévia.
escolhida de acordo com o hemicorpo mais acometido pelas
hemartroses. Foram fixadas etiquetas adesivas na cabeça do Análise estatística
5° metatarso, maléolo lateral, cabeça da fíbula, trocanter maior Devido ao grau de dificuldade variável dos itens avaliados
do fêmur, espinhas ilíacas ântero-superiores (EIAS) e espinhas em cada faixa etária, foram atribuídos percentuais maiores
ilíacas póstero-superiores (EIPS), possibilitando assim a para os testes mais difíceis, baseados na observação do
análise da angulação tibiotársica e das articulações do joelho avaliador. A partir destes dados foi elaborada uma tabela de
e do quadril. Para tanto, foi utilizado o programa de escores baseada em porcentagens específicas para cada teste
computador Geometer’s Sketchpad. avaliado. Os testes funcionais foram analisados através de

Tabela 1. Descrição dos testes funcionais por faixa etária.

3 - 4 ANOS

1.Andar em linha reta por uma distância de 5 metros.


2.Andar para trás puxando um carrinho por uma distância de 5 metros.
3.Andar na ponta dos pés por uma distância de 2 metros.
4.Correr contornando 4 obstáculos com uma distância de 60 cm entre eles.
5.Chutar uma bola .
6.Subir escada de 5 degraus, sem apoio manual e alternando os pés.
7.Descer escada de 5 degraus, sem apoio manual e alternando os pés.
5 - 6 ANOS
1.Andar para frente colocando o calcanhar de um pé encostado na ponta do outro por uma distância de 2 metros.
2.Andar para trás colocando o calcanhar de um pé encostado na ponta do outro por uma distância de 2 metros.
3.Apoiar um dos pés no chão e com o outro tentar atingir dois alvos de papelão pré-determinados, um na frente e outro atrás da
criança. Somente 2 tentativas.
4.Saltar uma corda na altura dos joelhos estando parado e com os pés juntos.
5.Saltar num pé só, com o pé de preferência.
6.Encostar o calcanhar de um pé nos dedos do outro pé e manter por 10” com os olhos fechados (para 6 anos) e abertos (para 5
anos).
7 ANOS
1.Em bipedestação, apoio unipodálico de preferência. Manter joelho fletido em angulo reto, com as coxas paralelas e braços
relaxados ao longo do corpo. Olhos abertos 10”
2.Parado. Na ponta dos pés. Braços caídos ao longo do corpo. Pés juntos. Olhos abertos 30”
3.Em bipedestação, deslizar um rolinho sobre o pé de preferência por 15”
4.Agachar-se e manter-se agachado por 10” e levantar sem apoio. Membros superiores abertos lateralmente.
5.A partir do decúbito dorsal, sentar-se sem utilização de apoio manual. Voltar à posição inicial.
6.Chutar uma bola em movimento, com a criança correndo.
7.Pular o mais alto que puder e bater palma 2 vezes enquanto estiver com os pés fora de contato com o solo.

3) Avaliação funcional foi baseada no Exame teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, com cálculo das
Neurológico Evolutivo de Lefèvre17, sendo realizados no médias e desvio-padrão; nas medidas das angulações articulares
máximo 7 testes funcionais (Tabela 1) para cada faixa etária. utilizou-se análise de variância, sendo considerado para todos
Para avaliação do desempenho das crianças na execução destes os dados o nível de significância p< 0,1018-20.
testes, foram considerados aspectos como a compreensão O valor de p igual a 0,10 foi estabelecido desde o inicio
da tarefa a ser realizada, a atenção durante sua execução do plano de amostragem no cálculo do tamanho da amostra,
(cognitivo), a coordenação motora e o equilíbrio estático e apesar de possível interferência na validade dos resultados
dinâmico. Como não foi encontrada na literatura científica encontrados. Este parâmetro se fez necessário devido a
nenhuma escala de avaliação já validada que pudesse satisfazer fatores restritivos do plano de amostragem que não poderiam
174 Galante GA, Azevedo CSA, Mello M, Tanaka C, D’Amico EA Rev. bras. fisioter.

ser alterados: número reduzido de crianças hemofílicas na A incidência de hemartroses também foi maior no GCS se
faixa etária selecionada, critérios de exclusão da seleção, comparado com o GSS demonstrando que a sinovite crônica
tempo disponível e custo da coleta. predispõe os novos sangramentos, tornando o ciclo vicioso
descrito acima mais intenso e freqüente6,9.
RESULTADOS Há um grande risco de uma sinovite crônica evoluir para
uma artropatia hemofílica. Desta forma, o tratamento médico
e fisioterapêutico profilático são de extrema importância na
Em relação à incidência de hemartroses observou-se interrupção deste processo. Apesar de não ter sido o objetivo
diferença estatisticamente significante entre as crianças do estudo, foi constatado durante a análise dos prontuários
hemofílicas participantes do GSS e do GCS (p< 0,001) das crianças hemofílicas, um menor número de episódios
(Tabela 2), entre as faixas etárias (p< 0,001) e uma interação de hemartroses no período em que estavam em acompanha-
entre grupos e faixa etária (p< 0,059) (Tabela 2). O GCS mento fisioterapêutico, quando comparado com períodos
apresentou maior número de sangramentos que o GSS, sem essa abordagem. Isso sugere que o tratamento fisio-
especialmente na faixa etária de 7 anos. Também foi terapêutico pode ter uma interferência positiva na redução
constatado que, com o aumento da idade, a média de da freqüência das hemartroses desses pacientes, sendo
hemartroses torna-se maior. necessários estudos mais específicos sobre o assunto para
Em relação à avaliação postural, constatou-se uma tal afirmativa.
diferença limítrofe na medida do ângulo tibiotársico somente

Tabela 2. Média das idades (Desvio-Padrão) em meses das crianças participantes da pesquisa (n=48) e média de hemartroses em relação aos grupos.

GRUPOS 30-54 MESES (3-4 ANOS) 54-78 MESES (5-6 ANOS) 78-90 MESES (7 ANOS) MÉDIA DE HEMARTROSES

GC 44,6 +/- (5,65) 67,4 +/- (6,21) 83,7 +/- (1,51) -


GSS 45,8 +/- (8,79) 66,7 +/- (7,37) 86,2 +/- (4,02) 3,62
GCS 42,8 +/- (5,32) 70,7 +/- (1,53) 88,2 +/- (2,49) 11,67

GC, grupo controle; GSS, grupo sem sinovite crônica; GCS, grupo com sinovite crônica.

entre as idades (p< 0,095) (Figura 1). Foi vista uma diminuição Na avaliação postural, observamos que o GCS apre-
do ângulo tibiotársico com o aumento da faixa etária, sem sentou um maior desvio do ângulo do joelho se comparado
relação direta com os grupos específicos (GC, GSS e GCS). com o GSS. Este achado sugere que a maior incidência de
Evidenciou-se uma diferença significante do desvio do hemartroses nos joelhos pode estar correlacionada com essa
ângulo do joelho entre os grupos GSS e GCS (p< 0,019), alteração postural, já que um posicionamento em semiflexão
tendo o GCS o maior desvio, representando uma maior dessa articulação e um conseqüente desalinhamento dos
semiflexão de joelhos (Figura 2). côndilos femurais/tibiais podem favorecer a uma maior
Em relação ao desempenho funcional relacionamos a sobrecarga articular. O desvio do ângulo tibiotársico apresentou
porcentagem de desempenho nos testes funcionais com os uma diferença limítrofe somente entre faixas etárias, não sendo
grupos e a faixa etária, tendo sido observado uma diferença correlacionado com nenhuma outra informação obtida no
estatisticamente significante entre os grupos da faixa etária estudo.
de 7 anos (p< 0,087) sendo que o GSS apresentou um melhor Apesar de não ter sido evidenciado claramente na
desempenho quando comparado ao GCS (Figura 3). avaliação postural através de fotografias, algumas crianças
sem hemofilia também apresentavam semiflexão de joelhos,
DISCUSSÃO observada durante a avaliação clínica. Porém, esse
posicionamento dos joelhos foi mais discreto e de forma
simétrica entre membros inferiores, em comparação com
Foi observado que a incidência de hemartroses aumenta as crianças hemofílicas que apresentaram tendência para
proporcionalmente com o aumento da faixa etária. Este achado assimetria. Este achado sugere a existência de diferenças
sugere que a intensificação das atividades escolares e posturais sutis entre os grupos e faixas etárias que não foram
esportivas favorece o aumento da ocorrência de sangramentos claramente evidenciadas com o método utilizado.
traumáticos, gerando desequilíbrios articulares que predispõem Cabe ressaltar que os resultados acima descritos não
a novos sangramentos, em um ciclo vicioso de alteração. são conclusivos, pois além de terem uma significância
Vol. 10 No. 2, 2006 Hemartroses e Alterações Funcionais em Crianças Hemofílicas 175

Figura 1. Porcentagem de desvio do ângulo tibiotársico entre grupos e faixa etária.

Figura 2. Porcentagem de desvio do ângulo do joelho entre grupos.

estatística fraca, o método utilizado para avaliação dos ângulos análise da incidência de sangramentos, será importante que
do joelho e tibiotársico não foi submetido a procedimentos os sangramentos musculares sejam considerados, pois estes
de confiabilidade previamente a sua aplicação, o que minimiza também podem interferir no desempenho dos testes funcionais.
sua valiabilidade. Nos questionários realizados antes dos testes funcionais
A maior incidência de hemartroses no GCS pode foram relatadas informações contraditórias da mãe em relação
explicar o pior desempenho deste grupo nos testes funcionais, aos prontuários médicos. Observamos uma tendência das
quando comparado ao GSS. As hemartroses recorrentes mães em desvalorizar os episódios de sangramentos
predispõem à alteração articular e proprioceptiva com evidenciando uma falta de informação em relação à patologia.
conseqüente piora da funcionalidade. Também foi constatada O adiamento ou a falta de seguimento no tratamento médico
a piora do desempenho nos testes funcionais conforme o e fisioterapêutico aumenta a possibilidade de evolução para
aumento da idade das crianças hemofílicas. Esta situação é seqüelas articulares, comprometendo o desenvolvimento
preocupante, uma vez que estas são crianças muito jovens saudável das crianças hemofílicas, maior meta dos centros
para apresentarem distúrbios funcionais. Em uma próxima de hemofilia.
176 Galante GA, Azevedo CSA, Mello M, Tanaka C, D’Amico EA Rev. bras. fisioter.

Figura 3. Porcentagem de desempenho nos testes funcionais entre grupos e faixa etária.

CONCLUSÃO 6. Roosendaal G, Vianen ME, van den Berg HM, Lafeber FP,
Bijlsma JW. Cartilage damage as a result of hemarthrosis in a
human in vitro model. J Rheumatol 1997; 24: 1350-4.
Mesmo considerando as limitações relacionadas à 7. Roosendaal G, Mauser-Bunschoten EP, De Kleijn P, Heijnen L,
confiabilidade da metodologia utilizada, os resultados deste Van den Berg HM, Van Rinsum AC, et al. Synovium in
estudo sugerem que as crianças hemofílicas aos 7 anos podem haemophilic artropathy. Haemophilia 1998; 4: 502-5.
apresentar um maior comprometimento articular que crianças 8. Arnold WD, Hilgartner MW. Hemophilic arthropathy: current
com idade inferior, com conseqüente prejuízo no seu concepts of pathogenesis and management. J Bone Joint Surg
desempenho funcional. Esse acometimento articular precoce Am 1977; 59: 287-305.
deve ser considerado na evolução cronológica da patologia, 9. Nuss R, Kilcoyne RF, Geraghty S, Shroyer AL, Rosky JW,
já que pode interferir negativamente na função em atividades Mawhinney S, et al. MRI findings in haemophilia joints treated
laborativas e cotidianas dos hemofílicos, no futuro. with radiosynoviorthesis with development of an MRI scale
of joint damage. Haemophilia 2000; 6: 162-9.
Agradecimentos: A “Unidade de Hemofilia Dr. Otávio Luis Gherardi” 10. Kendall FP, McCreary EK, Provance PG. Músculos: provas e
do Hospital Brigadeiro e ao Serviço de Hemofilia do Departamento de funções. 4a ed. São Paulo: Manole; 1990.
Hematologia e Hemoterapia da Universidade Federal do Estado de São Paulo
(UNIFESP) pela colaboração e disponibilização de espaço para coletas de
11. Basmajian JV. Muscles alive: their functions revealed by
dados. eletromiography. 3a ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1974.
12. Tanaka C, Farah EA. Anatomia funcional das cadeias musculares.
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No. 2, 2006 Confiabilidade da Escala de Fugl-Meyer no Brasil 177
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 177-183
©Revista Brasileira de Fisioterapia

ESTUDO DE CONFIABILIDADE DA APLICAÇÃO DA ESCALA DE


FUGL-MEYER NO BRASIL

MAKI T 1, QUAGLIATO EMAB 2, CACHO EWA 3, PAZ LPS 4, NASCIMENTO NH 1, INOUE MMEA 5,
VIANA MA 2
1
Departamento de Fisioterapia, Universidade de Mogi das Cruzes, Mogi das Cruzes, SP
2
Setor Distúrbios do Movimento, Departamento de Neurologia, Hospital das Clínicas – Unicamp, Campinas, SP
3
Fisioterapia Aplicada a Neurologia, Unicamp, Campinas, SP
4
Fisioterapeuta
5
Departamento de Fisioterapia, Universidade São Francisco, Bragança Paulista, SP
Correspondência para: Tiaki Maki, Rua Padre Vieira, 970 Apto 44, CEP 13015-301, Campinas, SP,
e-mail: tiaki_maki@yahoo.com.br
Recebido: 04/02/2005 – Aceito: 03/08/2005

RESUMO
Objetivos: Os objetivos do estudo foram realizar uma versão brasileira da escala original de Fugl-Meyer e verificar a confiabilidade
da aplicação inter e intra-observador desta versão em pacientes crônicos pós AVC. Método: Participaram do estudo 50 pacientes
portadores de hemiparesia, os quais foram submetidos a duas avaliações (confiabilidade intra-observador), realizadas por três
fisioterapeutas (confiabilidade interobservador), procedentes de três centros de reabilitação. Resultados: Os resultados
demonstraram alta confiabilidade inter e intra-observador da EFM total (IC = 0,99 e 0,98; respectivamente), assim como para todas
as subescalas (interobservador IC = 0,99 a 0,94; intra-observador IC = 0,98 a 0,87). Conclusão: Conclui-se neste artigo que não
foi verificado conflitos de interpretação na versão brasileira da escala de Fugl-Meyer. Obtivemos alto índice de confiabilidade,
tanto intra como interobservador, permitindo assim seu uso como instrumento de avaliação clínica e de pesquisa no Brasil.
Palavras-chave: confiabilidade, escala de avaliação de Fugl-Meyer, AVC.

ABSTRACT
Reliability Study on the Application of the Fugl-Meyer Scale in Brazil
Objective: The aim of this study was to produce a Brazilian version of the original Fugl-Meyer Assessment Scale and to verify
the intrarater and interrater reliability in chronic post-stroke patients. Method: Fifty hemiparetic patients participated in this study.
The Fugl-Meyer assessment was applied to them twice (intrarater reliability) by three physiotherapists (interrater reliability),
from three rehabilitation centers. Results: The results showed that the whole Fugl-Meyer scale demonstrated high interrater
and intrarater reliability (intraclass correlation coefficient = 0.99 and 0.98, respectively), and high reliability for each subscale
(intraclass interrater = 0.99 to 0.94; intraclass intrarater = 0.98 to 0.87). Conclusion: It was concluded that the Brazilian Portuguese
version of the Fugl-Meyer Assessment Scale did not show any conflicts of interpretation. High intrarater and interrater reliability
rates were obtained, thereby allowing this version to be used as instrument for clinical evaluation and research in Brazil.
Key words: reliability, Fugl-Meyer assessment scale, stroke.
178 Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento NH, Inoue MMEA, et al. Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO 50 pontos indicam um comprometimento motor severo; 50-


84 marcante; 85-95 moderado; e 96-99 leve.
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um importante Estudos prévios, utilizando a EFM, têm identificado
problema de saúde pública que se situa entre as quatro precocemente o comprometimento motor no pós-AVC para
principais causas de morte em muitos países, e é responsável um prognóstico a longo prazo da disfunção 5. Um dos
por um grande número de pacientes com seqüelas problemas encontrados na clínica, para avaliar o efeito de
neurológicas1. intervenções durante a reabilitação, é encontrar avaliações
Nos últimos dezoito anos, várias escalas para avaliar válidas, confiáveis e responsivas8, tendo em vista que
o estado sensório-motor após um AVC têm sido desenvolvidas mensurações válidas e confiáveis para medir o estado sensório-
e usadas2-4. Escalas de avaliação funcionais são usadas na motor são requeridas para decisões clínicas e propósitos de
prática da reabilitação e em pesquisa para diagnósticos, pesquisa14.
prognósticos e resposta a tratamentos5. Mensurações da Os estudos das validações da EFM têm demonstrado,
recuperação do paciente com seqüela a um AVC, normalmente claramente, uma alta confiabilidade intra-observador e
focalizam a independência nas atividades de vida diária (AVDs), interobservadores, tanto em pacientes crônicos (mais de 6
e não são específicas para medir o comprometimento na meses), como em pacientes agudos (menos de 6 meses pós-
função sensório-motora6. AVC) 2,13-15.
Uma mensuração do comprometimento motor e sensorial Tendo em vista que todo instrumento de avaliação deve
seguido ao AVC, conhecida como Escala de Avaliação de Fugl- ser reprodutível através do tempo, ou seja, deve produzir
Meyer (EFM), foi desenvolvida e introduzida, em 1975, por resultados iguais ou muito semelhantes, em duas ou mais
Fugl-Meyer et al.7. Esta escala foi o primeiro instrumento administrações para o mesmo paciente, considerando,
quantitativo para mensuração sensório-motora da recuperação naturalmente, que seu estado clínico geral não tenha sido
do AVC3,8,9 e é, provavelmente, a escala mais conhecida e usada alterado16, e sabendo-se que uma medição não é objetiva, a
para a pesquisa e/ou prática clínica3,4,8. não ser que se demonstre que ela possui níveis adequados
A EFM foi essencialmente desenvolvida com base nos de confiabilidade17, neste estudo, nossos objetivos foram
métodos descritos, anteriormente, por Brunnstrom10 e realizar uma versão brasileira da escala original de Fugl-Meyer
Twitchell11, os quais descreveram as seqüências específicas e verificar a confiabilidade da aplicação inter e intra-observador
da recuperação motora em pacientes pós-AVC, caracterizando desta versão.
o desempenho e as mudanças no comprometimento motor7,12.
As medidas propostas na EFM são baseadas no exame
MATERIAL E MÉTODO
neurológico e na atividade sensório-motora de membros
superiores e inferiores, buscando identificar a atividade seletiva Participaram do estudo 50 pacientes portadores de AVC
e padrões sinérgicos de pacientes que sofreram AVC. Esta crônico (> 12 meses), de ambos os sexos (28 homens e 22
escala foi construída seguindo a hipótese que a restauração mulheres), com hemiplegia direita (29) e esquerda (21), média
da função motora nos pacientes hemiplégicos segue um curso de idade de 58 anos (17 – 81), tempo pós-lesional de 53 meses
definido. Assim, para um paciente com hemiparesia, a volta (13 – 127), e procedentes dos centros de reabilitação da
dos reflexos precede a ação motora voluntária, seguida por Universidade de Mogi das Cruzes, Universidade São
completa dependência de sinergias, e o movimento ativo Francisco e Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
aparecerá sucessivamente menos dependente de reflexos e Foram excluídos do trabalho indivíduos com patologias
reações primitivas. Finalmente a completa função motora prévias que pudessem interferir nas avaliações, como por
voluntária com reflexos motores normais pode ser alcançado7. exemplo, doença reumática severa, amputações, alterações
A EFM é um sistema de pontuação numérica acumulativa ortopédicas ou um AVC prévio, e apresentar déficit cognitivo.
que avalia seis aspectos do paciente: a amplitude de Os pacientes foram esclarecidos previamente sobre os
movimento, dor, sensibilidade, função motora da extremidade procedimentos que seriam realizados. Após tomarem ciência
superior e inferior e equilíbrio, além da coordenação e da pesquisa, os voluntários assinaram um Termo de
velocidade, totalizando 226 pontos. Uma escala ordinal de Consentimento. O estudo foi previamente aprovado pelo
três pontos é aplicada em cada item: 0- não pode ser realizado, Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
1- realizado parcialmente e 2 – realizado completamente13. Médicas da Unicamp (processo Nº 069/04).
Esta escala tem um total de 100 pontos para a função motora
normal, em que a pontuação máxima para a extremidade Tradução da EFM
superior é 66 e para a inferior, 34. A avaliação motora inclui A tradução para o português da EFM foi realizada com
mensuração do movimento, coordenação e atividade reflexa base na versão original de 19757. Esse processo contou com
de ombro, cotovelo, punho, mão, quadril, joelho e tornozelo3. dois tradutores bilíngües qualificados e experientes, e
Fugl-Meyer et al.7 determinaram uma pontuação de acordo posteriormente foi vertida para o inglês por outros dois
com o nível de comprometimento motor, em que menos que tradutores de forma independente, enfatizando-se a tradução
Vol. 10 No. 2, 2006 Confiabilidade da Escala de Fugl-Meyer no Brasil 179

conceitual18-20.. Uma banca examinadora, composta por um foi feita utilizando-se o Coeficiente de Correlação Intraclasses
médico neurologista e dois fisioterapeutas, aplicou a versão (IC). Foi calculada a confiabilidade inter (três avaliadores)
brasileira da escala em cinco pacientes para verificar se havia e intra-observador para a pontuação total da EFM e para a
entendimento dos itens da avaliação20. Após consenso entre escala desmembrada em nove subescalas: movimentação
estes profissionais, a versão final foi estabelecida. passiva, dor, sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva,
Desenvolveu-se, assim um manual de instruções da escala, função e coordenação/velocidade de membro inferior, equilíbrio
detalhando os procedimentos da avaliação e o modelo da escala e função e coordenação/velocidade de membro superior. Foram
com sua pontuação (Anexo 1). analisados, para o cálculo da confiabilidade interobservador,
os dados dos três avaliadores nos dois momentos da avaliação
TREINAMENTO DOS AVALIADORES (teste e reteste). Para verificar o nível de coeficiente de
correlação, adotou-se a seguinte pontuação: IC < 0,40 –
Antes de coletar os dados da escala para o teste de concordância fraca, IC < 0,75 – concordância moderada e
confiabilidade, três fisioterapeutas foram treinados por um IC > 0,75 alta concordância21.
examinador familiarizado com a escala há sete anos. O
treinamento consistiu de aula teórica do manual e treinamento RESULTADOS
prático com pacientes hemiparéticos pós-AVC, que não fizeram
parte do estudo. Durante o treinamento prático, os avaliadores Os coeficientes de correlação da confiabilidade
assistiram a um videoteipe do examinador experiente realizando interobservador analisados estão apresentados na Tabela 1.
o teste, e os mesmos pontuaram independentemente. As Tanto a confiabilidade interobservador da EFM total, como
pontuações foram comparadas entre os avaliadores, e as para todas as subescalas, nos dois momentos das avaliações
divergências foram discutidas com o treinador. Ainda durante (teste e reteste), demonstraram alta concordância (IC > 0,75),
a prática, cada avaliador em treinamento avaliou um paciente com IC de 0,99 para a EFM total. Com relação às subescalas,
e os outros dois pontuaram, independentemente, até que se houve uma variação de 0,94 para coordenação/velocidade
conseguisse 100% de concordância entre os examinadores. de membro inferior, a 0,99 para função de membro superior
O treinamento encerrou-se, quando os examinadores estavam e sensibilidade exteroceptiva.
inteiramente familiarizados com a aplicação dos testes e com Observando-se a confiabilidade intra-observador (Tabela
os procedimentos de pontuação e interpretação. 1) da EFM total dos três avaliadores, obteve-se uma forte
correlação para todos avaliadores (próximo a um). E, quando
Verificação da confiabilidade se verificaram as subescalas, observou-se, também, uma alta
Para obter a confiabilidade intra-observador, cada concordância para todos os itens e para os três avaliadores.
paciente passou por duas avaliações (1ª avaliação – teste, 2ª A função da extremidade superior foi a que obteve os maiores
avaliação - reteste), com os três avaliadores, em um intervalo índices de correlação teste-reteste para os três avaliadores
de dois dias entre as mensurações, haja vista que o intervalo (0,98 para todos). E os menores IC foram obtidos para as
sugerido entre o teste-reteste é de 1 a 3 dias para a maioria tarefas de dor (0,88, para avaliador 1), coordenação/velocidade
das medidas físicas17. Nenhuma mudança relevante no de membro inferior (0,90, para avaliador 2) e sensibilidade
comprometimento sensório-motor desses pacientes crônicos exteroceptiva (0,87, para avaliador 3).
foi esperada entre os intervalos das avaliações. Cada examinador
avaliou o mesmo paciente nos dois períodos de avaliação DISCUSSÃO
(teste e reteste).
A confiabilidade interobservador foi obtida através de O presente estudo analisou os dados de 50 pacientes
uma avaliação administrada por um dos avaliadores, o qual para se obter a confiabilidade interobservador e intra-
aplicava o teste, enquanto os outros dois observavam e observador da EFM, além de uma versão em português, já
pontuavam, independentemente, o desempenho do paciente que a maioria dos instrumentos utilizados para a avaliação
no momento, obtendo-se, assim, três avaliações para cada de pacientes é quase que exclusivamente encontrada na língua
indivíduo. Os examinadores não conversavam durante os inglesa, portanto existe a necessidade de traduzir para a nossa
testes, pois o coeficiente de confiabilidade interobservador língua, utilizando uma metodologia adequada, assegurando
poderia ser artificialmente inflado17. a utilização desta versão por outros profissionais.
Coletou-se o tempo de duração da avaliação de cada A EFM é considerada a mensuração preferida para
paciente. estudos, pois sua validade já foi estabelecida10. A escala obteve
aceitação internacional em razão de sua fácil aplicabilidade
Análise dos dados e apropriada mensuração da recuperação motora na reabilitação.
As medidas de concordância foram expressas em termos As instruções são relativamente diretas e simples e a avaliação
de coeficientes de correlação e a análise estatística dos dados não requer nenhum equipamento especial, em contraste com
outras escalas de avaliação3,13.
180 Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento NH, Inoue MMEA, et al. Rev. bras. fisioter.

Tabela 1. Coeficiente de correlação intraclasse (IC) interobservador para a EFM total e os 9 subitens da primeira (teste) e da segunda avaliação
(reteste), e IC intra-observador no teste-reteste para a EFM total e para as 9 subescalas dos três avaliadores.

CONFIABILIDADE INTEROBSERVADOR CONFIABILIDADE INTRA-OBSERVADOR

Tarefas
Teste Re-teste Av. 1 Av. 2 Av. 3

EFM TOTAL 0,99 0,99 0,98 0,98 0,98


SUBESCALAS:
Movimentação Passiva 0,97 0,97 0,92 0,93 0,90
Dor 0,97 0,97 0,88 0,92 0,90
Sensibilidade exteroceptiva 0,98 0,99 0,89 0,92 0,87
Sensibilidade proprioceptiva 0,97 0,98 0,94 0,94 0,93
Função de membro inferior 0,96 0,98 0,94 0,95 0,93
Coordenação/velocidade MI 0,94 0,97 0,93 0,90 0,88
Equilíbrio 0,98 0,98 0,97 0,97 0,97
Função de membro superior 0,99 0,99 0,98 0,98 0,98
Coordenação/velocidade MS 0,95 0,97 0,94 0,95 0,90

Com relação à versão final da EFM, a banca examinadora moderadamente confiável em uma população de pacientes
não encontrou conflitos de interpretação durante a execução pós-AVC. Sanford et al.14 também observaram alta confi-
dos testes, obtendo-se assim uma escala de fácil compreensão. abilidade para a pontuação total (IC= 0,96) e nas subescalas
O manual de instruções da escala detalha os procedimentos da EFM (membro superior= 0,97; membro inferior= 0,92;
da avaliação, facilitando assim o aprendizado e uma ampla equilíbrio= 0,93; e amplitude de movimento= 0,85), com
aplicação desta avaliação por profissionais que trabalham com exceção da dor (IC= 0,61), durante os primeiros seis meses
pacientes pós AVC. Uma limitação do uso da EFM no Brasil de 12 pacientes pós-AVC.
está na necessidade de uma norma ou um manual de Confrontando os dados dos coeficientes de correlação
administração da escala, pois um estudo relata que isto levaria interobservador da primeira e da segunda avaliação (Tabela
a uma redução de erros durante a utilização deste 1), observa-se que os IC mantiveram ou aumentaram o valor
instrumento14, além disso, a aplicação deste deve ser feita na segunda avaliação. Esta melhor concordância pode ser
por um examinador treinado3. O treinamento dos avaliadores atribuída ao fato de que, na segunda avaliação, a experiência
não apresentou dificuldades com relação ao entendimento pode ter aumentado o desempenho dos avaliadores e os
da escala e do manual de instruções, demonstrando ser uma pacientes podem ter sido mais cooperativos22.
avaliação de fácil aprendizado. Uma alta concordância intra-observador foi igualmente
Os resultados demonstraram uma alta confiabilidade encontrada neste estudo, tanto para EFM total para todos
interobservador tanto para a EFM total (IC= 0,99), como os avaliadores, como para todas as subescalas. Os menores
para todas as subescalas. O menor coeficiente de correlação coeficientes de correlação foram encontrados para a dor,
entre os três observadores nas subescalas ocorreu para as coordenação/velocidade de membro inferior e sensibilidade
tarefas de coordenação/velocidade de membro inferior e su- exteroceptiva. Esses fatores podem ter sofrido interferência
perior (IC= 0,94 e 0,95, respectivamente). Esses achados da própria variação natural de um dia para outro, ou a
estão de acordo com diversos estudos de confiabilidade in- variação da interpretação de um observador com relação ao
terobservadores. Lin et al.15 estudaram 176 pacientes pós- paciente14. Em contrapartida, Lin et al.15, em estudo recente,
AVC, e obtiveram um alto coeficiente de correlação para a demonstraram com relação à sensibilidade um fraco a
pontuação total da EFM (IC= 0,93). Duncan et al.2 verifi- moderado índice de correlação (IC de 0,55 a 0,30), concluindo
caram um alto coeficiente de correlação interobservador em que a mensuração da função sensorial não suporta o uso desta
19 pacientes crônicos para as tarefas de desempenho motor avaliação na clínica de pacientes pós-AVC, sendo necessário
do membro superior e inferior, e concluíram que a EFM é estudos futuros para verificar as propriedades psicométricas
da EFM.
Vol. 10 No. 2, 2006 Confiabilidade da Escala de Fugl-Meyer no Brasil 181

Anexo 1
Escala de Avaliação de Fugl-Meyer em Português

TESTE PONTUAÇÃO
I. Movimentação passiva e dor: Mobilidade:
– ombro: flexão, abdução 90, rot. ext. e int. 0 – apenas alguns graus de movimento
– cotovelo, punho e dedos: flexão e extensão 1 – grau de mobilidade passiva diminuída
– antebraço: pronaç ão e supinaç ão 2 – grau de movimentação passiva normal
– quadril: flexão, abdução, rot. ext. e int.
– joelho: flexão e extensão Dor:
– tornozelo: dorsiflexão e flexão plantar 0 – dor pronuncia da durante todos os graus de movimento e dor marcante no final da
– pé: eversão e inversão amplitude
Pont. máx: (44 mobilidade) 1 – alguma dor
(44 dor) 2 – nenhuma dor
II. Sensibilidade: 0 – anestesia
– Exterocepção: membro superior, palma da 1 – hipoestesia/ disestesia
mão, coxa e sola do pé ( ) Pont. máx: (8) 2 – normal
– Propriocepção: ombro, cotovelo, punho, 0 – nenhuma resposta correta (ausência de sensação)
polegar, quadril, joelho, tornoze lo e há lux ( ) 1 – ¾ das respostas são corretas, mas há difer ença entre o lado não afeta do
Pont. máx: (16) 2 – todas as respostas são corretas
III. Função motora de membro supe rior 0 – sem atividade reflexa
1 – Motricidade reflexa: bíceps/ tríceps ( ) (2) 2 – atividade reflexa presente
2 – Sinergia flexora: e levação, retração de 0 – tarefa não pode ser realizada completamente *
ombro, a bdução + 90, rot. externa, flexão de 1 – tarefa pode ser realizada parcialmente
cotovelo, supina ção ( ) Pont. máx:(12) 2 – tarefa é realizada perfeitamente
3 – Sinergia extensora: adução do ombro, rot.
interna, extensão cotovelo, pronação Pont:(8) *
4 – Movimentos com e sem siner gia: a) *
a) mão a coluna lombar ( ) b) 0 – se o início do mov. o braço é abduzido ou o cotovelo é fletido
b) flexã o de ombro até 90º ( ) 1 – se na fase final do mov., o ombr o abduz e/ou ocorre flexão de cotovelo
2 – a tarefa é realizada perfeitamente
c) 0 – Não ocorre posiciona /o correto do cotovelo e ombro e/ou prona ção e supinação
c ) prono-supinação (cotov. 90º e ombro 0º) ( ) não pode ser realizada comp let/e
1 – prono-supino pode ser realizada com ADM limitada e ao mesmo tempo o ombro
e o cotovelo este jam corr etamente posicionados
2 – a tarefa é realizada completamente
d) abdução ombro a 90º com cotov. estendido e d) 0 – não é tolerado nenhuma flexão de ombro ou desvio da prona ção do a ntebraço no
INÍCIO do movimento
pronado ( ) 1 – realiza parcialmente ou ocorre flexão do cotovelo e o antebra ço não se mantêm
pronado na fase TARDIA do movimento
2 – a tarefa pode ser realizada sem desvio
e ) flexão de ombro de 90º a 180º ( ) e) 0 – o braço é abduzido e cotovelo fletid o no início do movimento
1 – o ombro abduz e/ou ocorre flexão de cotovelo na fase final do movimento
2 – a tarefa é realizada perfeitamente
f) prono-supinação (cotov. estendido e ombro f) 0 – Posição não pode ser obtida pelo paciente e/ou prono-supinaç ão não pode ser
fletido de 30 a 90º ( ) realizada perfeitamente
1 – atividade de prono-supinaç ão pod e ser rea lizada mesmo com AD M limitada e ao
Pont. máx: (12) mesmo tempo o ombro e o c otovelo estejam corretamente posicionados
2 – a tarefa é realizada perfeitamente
5 – Atividade reflexa normal: ( )
bíceps / tríceps/ flexor dedos (avalia-se o 0 – 2 ou 3 reflexos estão hiperativos
r eflexo somente se o paciente atingiu nota 2 1 – 1 reflexo esta marcadamente hiperativo ou 2 estão vivos
para os itens d), e), f) do item anterior) Pont. 2 – não mais que 1 reflexo esta vivo e nenhum esta hiperativo
máx: ( 2)
6 – Controle de punho: a) 0 – o pcte não pode dorsifletir o punho na posição requerida
a) Cotove lo 90º, ombro 0º e pronaçã o, c/ 1 – a dorsiflexão pode ser realizada, mas sem resistência alguma
resistência. (assistência, se necessário) ( ) 2 – a posição pode ser mantida contra a lguma resistência
b) Má xima flexo-extensão d e punho, cotov. 90º, b) 0 – não oc orre mov. voluntário
ombro 0º, dedos fletidos e pronação (auxílio se 1 – o pcte não move ativamente o punho em todo grau de movimento
necessário) ( ) 2 – a tarefa pode ser realizada
c ) Dorsiflexão c om cotove lo a 0º, ombro a 30º e
pronaçã o, com r esistência (auxílio) ( ) c) Idem ao a)
d) Máxima flexo-extensão, com cotov. 0º,
ombro a 30º e pronação (auxílio) ( ) d) Idem ao b)
e ) Circundução ( )
Pont. máx:(10) e) Idem ao b)
182 Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento NH, Inoue MMEA, et al. Rev. bras. fisioter.

7 – Mão: a) *
a) flexão em massa dos dedos ( ) b) 0 - nenhuma atividade ocorre
b) extensão em massa dos ded os ( ) 1 – ocorre relaxamento (liberação) da flexão em massa
2 – extensão completa (comparado com mão não afetada)
c)Preensão 1: Art. metacarpofalangeanas (II a V) c) 0 – posição requerida não p ode ser realizada
estendidas e interfalangeanas distal e pro xi mal 1 – a preensão é fraca
fletidas. Preensão contra resistência ( ) 2 – a preensão pode ser mantida contra considerável resistência
d) Preensão 2: O paciente é instruído a aduzir o d) 0 - a função não pode ser realizada
polegar e segurar u m papel i nterposto entre o 1 – o papel pode ser mantid o no lugar, mas não contra um leve puxão
polegar e o dedo indicador ( ) 2 – um pedaço de papel é seg urado firmemente contra um puxão
e) Preensão 3: O paciente opõe a digital do polegar e) 0 – a função não pode ser realizada
contra a do dedo indicador, com um lápi s interposto 1 – o lápis pode ser mantido no l ugar, mas não contra um leve p uxão
( ) 2 – o lápis é segurado firmemente
f) Preensão 4: Segurar com firmeza um objeto f) 0 – a função não pode ser realizada
cilíndrico, com a superfície volar do primeiro e 1 – o objeto interposto pode ser mantido no l ugar, mas não contra um leve p uxão
segund o dedos contra os d emais ( ) 2 – o objeto é segurado firmemente contra um puxão
g ) Preensão 5: o paciente segu ra com firmeza uma g) 0 – a função não pode ser realizada
bola de tênis ( ) 1 – o objeto pode ser mantido n o lugar, mas não contra um leve puxão
Pont. máx: (14) 2 – o objeto é segurado firmemente contra um puxão

IV. Coordenação/ Velocidade MS: a) 0 – tremor marcante/ 1 – tremor leve/ 2 – sem tremor
a) Tremor ( ) b) 0 – dismetria marcante/ 1 – dismetria leve/ 2 – sem d ismetria
b) Dismetria ( ) c) 0 – 6 seg. mais lento q ue o lado não afetado/ 1 – 2 a 5 seg. mai s lento que o lado não
c) Velocidad e: Index-nariz 5 vezes, e o mais rápido afetado/
que conseguir ( ) 2 – menos de 2 segundos de diferença
Pont. máx: (6)
V. Função motora membro inferior: 0 – sem atividade reflexa
Motricid ade Reflexa 2 – atividade reflexa pode ser avaliada
A) Aquiles ( )B) Patelar ( ) (4) 0 – 2 ou 3 reflexos estão marcadamente hiperativos
1 – 1 reflexo esta hiperativ o ou 2 estão vivos
1 - Motricid ade reflexa: 2 – não mais que 1 reflexo esta vivo
Patelar e aquileu / adutor ( ) (2 )
2 – Sinergia flexora: flexão quad ril, joelho e
d orsiflexão (dec.dorsal) ( ) *
Pont. máx: (6)
3 – Sinergia extensora: exten são de quadril, adução
d e quadril, extensão de joelho, flexão plantar ( ) *
Pont max: (8)
4 – Mov. com e sem sinergias: a) 0 – sem movimento ativo
a) a partir de leve extensão d e joelho, realizar uma 1 – o joelho pod e ativamente ser fletido até 90º (palpar os tend ões dos flexores do joelho)
flexão de joelho além de 90º. (sentado) ( ) 2 – o joelho pod e ser fletido além de 90º
b) Dorsiflexão de tornozelo (sentado)( ) b) *
c) Quadril a 0º, realizar a flexão de joelho mais que c) 0 – o joelho não pod e ser fletid o se o quadril não é fletido simultaneamente
9 0º (em pé) ( ) 1 – inicia flexão de joelho sem flexão d o quadril, porém não atinge os 90º de flexão de
d) Dorsiflexão do tornozelo (em pé) ( ) joelho ou flete o quadril durante o término d o movimento.
Pont. máx:(8) 2 – a tarefa é realizada completamente
d) *
VI. Coordenação./ Velocidade MI: a) 0 – tremor marcante/ 1 – tremor leve/ 2 – sem tremor
a) Tremor ( ) b) 0 – dismetria marcante/ 1 – dismetria leve/ 2 – sem d ismetria
b) Dismetria ( ) c) 0 – 6 seg. mais lento q ue o lado não afetado/ 1 – 2 a 5 seg. mai s lento que o lado afetado/ 2
c) Velocidade: calcanhar-joelho 5 vez ( ) – meno s de 2 seg und os de diferença
(dec. Dorsal) Pont. máx: (6)
VII . Equilíbrio : a) 0 – não conseg ue se manter sentado sem apoio/ 1 – permanece sentad o sem apoi o por
a) Sentado sem apoio e co m os pés suspensos ( ) pouco tempo/ 2 – permanece sentad o sem apoio por pelo menos 5 min. e regula a postura do
b) Reação de pára-quedas no lado não afetado ( ) corpo em relação a gravidade
c) Reação de pára-quedas no lado afetado ( ) b) 0 – não ocorre abdução de ombro, extensão de cotovelo para evitar a queda/ 1 – reação de
d) Manter-se em pé com apoio ( ) pára-quedas parcial/ 2 – reação de pára-quedas normal
e) Manter-se em pé sem apoio ( ) c) idem ao b)
d) 0 – não consegue ficar de pé/ 1 – de pé com ap oio máximo de outros/ 2 – d e pé com apoio
mínimo por 1 min
f) Apoi o único sob re o lad o não afetado ( ) e) 0 – não consegue ficar de pé sem apoio/ 1 – pode permanecer em pé por 1 min e sem
oscilação, ou por mais tempo, porém com alguma oscilação/ 2 – bo m equilíbrio, pode manter
g ) Apoio ú nico sobre o lado afetado ( ) o equilíbrio p or mais que 1 minuto com segurança
f) 0 – a posição não pode ser mantid a por mais que 1-2 seg (o scilação)/ 1 – consegue
Pont. máx: (14) permanecer em pé, com equilíbrio, por 4 a 9 segundos/ 2 – pode manter o eq uilíbrio nesta
posição por mais que 10 segund os
g) 0 – a posição não pode ser mantida por mais que 1-2 segundos (oscilação)
1 – consegue permanecer em pé, com equilíbrio, por 4 a 9 segundos
2 – pode manter o equilíbrio nesta posição por mai s que 10 segund os
Vol. 10 No. 2, 2006 Confiabilidade da Escala de Fugl-Meyer no Brasil 183

A EFM é uma eficiente avaliação que pode ser realizada 7. Fugl-Meyer AR, Jaasko L, Leyman I, Olsson S, Steglind S. The
em, aproximadamente, 30 minutos, segundo Duncan et al.2. post-stroke hemiplegic patient: 1. A method for evaluation of
physical performance. Scand J Rehab Med 1975; 7: 13-31.
Nesse estudo, o tempo médio de administração da escala foi
40 minutos para avaliadores já treinados. 8. Van der Lee JH, Beckerman H, Lankhorst GJ, Bouter LM. The
responsiveness of the Action Research Arm Test and the Fugl-
Meyer assessment scale in chronic stroke patients. J Rehab Med
CONCLUSÃO 2001; 33: 110-113.

Conclui-se que a versão brasileira da EFM não apresentou 9. Duncan PW, Goldsteins LB, Horner RD, Landsman PB, Samsa
GP, Matchar DB. Similar motor recovery of upper and lower
conflitos de interpretação, além de ser uma escala de fácil extremities after stroke. Stroke 1994; 25: 1181-1188.
aprendizado e aplicabilidade.
10. Brunnstrom S. Motor Testing Procedures in hemiplegia. J Am
Obteve-se alto índice de confiabilidade, tanto intra-
Phys Ther Ass 1966; 46: 357-375.
observador como interobservador, garantindo a replicabilidade
11. Twitchell TE. The restoration of motor function following
desta versão brasileira da EFM, permitindo assim seu uso
hemiplegia in man. Brain 1951; 74: 443-480.
como instrumento de avaliação clínica e de pesquisa em nosso
meio. 12. Gowland C. Standardized physical therapy measurements for
assessing impairment and disability following stroke. Neurol
Report 1991; 15: 9-11.
Agradecimentos: Nossos agradecimentos vão, em especial, aos profissionais 13. Fugl-Meyer AR. Post stroke hemiplegia: Assessment of physical
dos centros de reabilitação da Universidade de Mogi das Cruzes: Camila C. properties.Scand J Rehab Med 1980; suppl 7: 85-93.
Reys, Érika M. Siqueira e Vanessa A. Faria e da Universidade São Francisco:
14. Sanford J, Moreland J, Swanson LR, Stratford PW, Gowland C.
Daniele M. Senoni, Camila A. Oliveira, Michelle C. de Moraes, Marcela
S. Miranda, Luciana V. Colucci, Andreia V. Moreira, Vanessa O. Silva, Flávia Reliability of the Fugl-Meyer assessment for testing motor
F. Bueno e Caroline C. Muner, e aos pacientes que tornaram possível esta performance in patients following stroke. Phys Ther 1993; 73:
pesquisa. 447-454.
15. Lin JH, Hsueh P, Sheu CF, Hsieh CL. Psychometric properties
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Copenhagen stroke study. Arch Phys Med Rehabil 1994; 75:
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measures in a clinical study of stroke. Stroke 1990; 21: 731-
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Vol.
ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Desenvolvimento Neuropsicomotor de Lactentes Desnutridos 185
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 185-191
©Revista Brasileira de Fisioterapia

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR DE LACTENTES


DESNUTRIDOS

MANSUR SS, NETO FR


Universidade do Sul de Santa Catarina; Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC
Correspondência para: Samira Schultz Mansur, Rua Antônia Alves, 59, Itaguaçu, CEP 88085-390, Florianópolis, SC
Recebido: 04/02/2005 – Aceito: 24/11/2005

RESUMO
Objetivos: O objetivo deste estudo foi analisar o desenvolvimento neuropsicomotor de lactentes com desnutrição leve e
caracterizar seu perfil nutricional. Métodos: A pesquisa foi do tipo transversal, numa população de 374 lactentes e amostra de
31 desnutridos leve, entre 7 e 24 meses de idade, matriculados em creches municipais. O estado nutricional foi identificado pelo
critério de Gómez e caracterizado por um questionário. Para a avaliação neuropsicomotora utilizou-se a Escala de
Desenvolvimento Psicomotor da Primeira Infância de Brunet e Lézine. Resultados: Os principais resultados do questionário
mostraram: infecções respiratórias (48,4%); diarréias (71,0%); pais em união estável (61,3%); pais com ensino fundamental
incompleto (74,2% das mães, 83,8% dos pais); renda familiar de 1 a 3 salários-mínimos (80,6%); aleitamento materno satisfatório
(67,7%); reação adversa a algum alimento (41,9%). Entre os dados neuropsicomotores, as médias das Idades de Desenvolvimento
da Linguagem (14,45 meses) e da Sociabilidade (14,74 meses) foram as que obtiveram os valores mais abaixo da média da Idade
Cronológica (16,41 meses). Todas as áreas avaliadas obtiveram Quocientes de Desenvolvimento dentro da normalidade, porém,
as áreas da Linguagem e da Sociabilidade foram classificadas em nível “normal baixo” e as outras em nível “normal médio”.
Conclusões: A avaliação neuropsicomotora é instrumento fundamental na assistência ao lactente desnutrido, que tende a
apresentar deficiências nas áreas da Linguagem e Sociabilidade, fornecendo subsídios para observar sua atuação exploratória,
efeito de seu pensamento, e planejar o trabalho intervencionista.
Palavras-chave: desenvolvimento neuropsicomotor, lactentes, desnutrição.

ABSTRACT
Neuropsychomotor Development of Malnourished Babies
Objective: The purpose of this study was to analyze the neuropsychomotor development of babies with slight malnutrition and
to characterize their nutritional profile. Method: This was a cross-sectional survey on a population of 374 babies and a sample
of 31 babies with slight malnutrition, aged between 7 and 24 months, enrolled in municipal day nurseries. Their nutritional status
was identified using the Gómez criteria and characterized using a questionnaire. For the neuropsychomotor evaluation, the Brunet
and Lézine Psychomotor Development Scale for Early Infancy was utilized. Results: The main data from the questionnaire were:
respiratory infections (48.4%); diarrhea (71.0%); parents in stable union (61.3%); parents with incomplete basic education (74.2%
of mothers; 83.8% of fathers); family income between 1 and 3 minimum salaries (80.6%); satisfactory breast feeding (67.7%);
and adverse reaction to some food (41.9%). Among the neuropsychomotor data, the mean ages for language development (14.45
months) and social development (14.74 months) were the measurements furthest behind the mean chronological age (16.41
months). All the characteristics evaluated had development quotients within normal values. However, the language and social
characteristics were classified as “low normal” and the others as “medium normal”. Conclusions: Neuropsychomotor evaluation
is an essential instrument in caring for malnourished babies, who tend to present deficiencies in language and sociability. This
provides backing for observation of such children’s exploratory actions (the consequences of their thoughts) and to plan
interventionist work.
Key words: neuropsychomotor development, babies, malnutrition.
186 Mansur SS, Neto FR Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO Este estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em


Pesquisa segundo as Normas e Diretrizes Regulamentadoras
A desnutrição energético-protéica (DEP) está relacionada da Pesquisa envolvendo Seres Humanos – Resolução CNS
a 40% dos óbitos em crianças menores de 1 ano, sendo os 196/96.
lactentes e os pré-escolares os grupos etários mais atingidos Para a classificação nutricional foi realizada coleta
pela desnutrição apresentando, geralmente, retardo no ponderal a partir do uso de balança analógica de mesa para
desenvolvimento neuropsicomotor1. No Brasil, 32% das bebês; utilizada a tabela de crescimento do National Center
crianças menores de 5 anos apresentam DEP, sendo que 5% of Health Statistic (NCHS); e a relação peso/idade do critério
delas apresentam grau moderado ou grave, predominando, de Gómez1.
em todo o país, as formas leves de desnutrição, com nítidas A caracterização de fatores relacionados ao estado
diferenças regionais1. nutricional dos lactentes foi feita pela aplicação de um ques-
Mesmo crianças que não apresentam seqüelas mais tionário direcionado às mães dos lactentes e realizada no
graves podem apresentar comprometimento em algumas áreas ambiente da creche. Este instrumento é composto por itens
de seu desenvolvimento neuropsicomotor, o que prejudica sobre antecedentes pessoais (consultas pré-natais, refluxo
o funcionamento intelectual2,3. Estudos descrevem que algumas gastroesofágico, diarréias, infecções respiratórias, hospita-
áreas são mais afetadas como a memória, a coordenação lização, sono, calendário vacinal); antecedentes familiares
visomotora e a linguagem, podendo acarretar prejuízo no (escolaridade dos pais, irmão com menos de 5 anos com
rendimento em idade escolar4,5. histórico de desnutrição, situação civil dos pais); antecedentes
Do ponto de vista experimental, é evidente o efeito sócio-econômicos (renda per capita, infra-estrutura básica,
deletério causado pela desnutrição no sistema nervoso em número de pessoas que moram na mesma casa); antecedentes
desenvolvimento, porém, clinicamente ainda persistem alimentares (período de aleitamento materno, tipo de alimen-
questionamentos, já que são poucos os estudos realizados tação atual, tipos de alimentos mais comuns para nutrir a
de forma sistemática que tenham avaliado esta condição6. criança, freqüência com que a criança se alimentava de
Autores comentam que grande parte dos testes psicométricos açúcares e doces, presença de intolerância ou alergia alimen-
fornece dados insuficientes para identificar déficits cognitivos tar). O questionário utilizado obteve como índice de validade
em habilidades específicas, atendo-se à valorização de 0,95 e de clareza 0,98.
quocientes intelectuais7. A avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor foi
Tendo em vista a relevância da nutrição na estrutura realizada com a Escala de Desenvolvimento Psicomotor da
e função do sistema nervoso em desenvolvimento e, por Primeira Infância9, adaptada previamente10. Esse instrumento
conseguinte, na adequação neuropsicomotora, assim como possibilitou avaliar as áreas postural, da coordenação óculo-
de fatores associados ao estado nutricional de lactentes, este motriz, da linguagem e social dos lactentes, obtendo Idade
estudo objetivou caracterizar o estado nutricional de lactentes e Quociente de Desenvolvimento Global e Idades e Quocientes
com desnutrição leve, entre 7 e 24 meses de idade, de Desenvolvimento nas áreas específicas da escala. Os itens
matriculados em creches municipais e avaliar o de avaliação foram realizados por intermédio de testes
desenvolvimento neuropsicomotor da amostra nas áreas propostos com pequenos utensílios e brinquedos e por
postural, óculo-motriz, da linguagem e social. perguntas direcionadas aos pais ou professores. Essa escala
apresenta como índice de validade 0,68 e de fidedignidade
METODOLOGIA 0,85 9.
A partir do uso do software Sistema de Monitoração do
Pesquisa do tipo transversal8 realizada em 8 creches Desenvolvimento Infantil – SIMODE10 foram calculadas a
municipais de Florianópolis (SC) e em 2 creches municipais Idade Cronológica e as Idades e Quocientes de Desenvol-
de São José (SC), no ano de 2004, totalizando, nestas vimento nas áreas específicas do desenvolvimento neurop-
instituições, a população de 374 lactentes, entre 0 e 24 meses sicomotor.
de idade, de ambos os gêneros. Os valores numéricos dos quocientes de desenvolvi-
O processo de amostragem foi do tipo intencional, sendo mento foram relacionados a níveis motores que permitem
constituintes da amostra os sujeitos que, depois de realizada classificar as habilidades estudadas em padrões: “muito
a triagem ponderal, apresentaram desnutrição energético- superior (129 ou mais), superior (119-128), normal alto (109-
protéica. A amostra foi composta por 31 lactentes entre 7 118), normal médio (89-108), normal baixo (79-88), inferior
e 24 meses de idade. Foram critérios de exclusão da amostra (69-78) e muito inferior (68 ou menos)”. Dessa forma, a cada
a presença de prematuridade, baixo peso ao nascer e alterações quociente das áreas específicas do estudo (postural, óculo-
neurológicas, ortopédicas e/ou distúrbios sensoriais (visuais motriz, da linguagem e social) e ao quociente de desenvol-
ou auditivos) evidentes na avaliação do desenvolvimento. vimento global, foi atribuído um padrão motor10.
Vol. 10 No. 2, 2006 Desenvolvimento Neuropsicomotor de Lactentes Desnutridos 187

Tabela 1. Valores descritivos das variáveis idade cronológica, relação peso/idade e déficit ponderal de 31 lactentes com desnutrição leve, matriculados
em creches municipais de Florianópolis e São José (SC), no ano de 2004.

VARIÁVEIS MÉDIA VARIÂNCIA DESVIO- VALOR VALOR MEDIANA


PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO
Idade Cronológica(meses) 16,41 32,71 5,72 7,00 24,00 17,00

Relação peso/idade (%) 82,58 11,04 3,32 76,20 88,60 82,30

Déficit ponderal (%) 17,37 10,97 3,31 11,40 23,70 17,60

RESULTADOS motivos que levaram as mães deste estudo a não


amamentarem foram a rejeição do peito e o fato de uma possuir
Identificação do estado nutricional o vírus da SIDA. O principal motivo do desmame foi a
Foi encontrado o equivalente a 8,28% (31) de lactentes intolerância à lactose pela criança. A totalidade dos lactentes
desnutridos leve no total populacional (374). Na Tabela 1 são deste estudo recebia alimentação artificial/sólida, sendo que
demonstradas as medidas descritivas das variáveis idade 58,1% da amostra possuíam como principais alimentos de
cronológica, relação peso/idade e déficit ponderal da amostra. nutrição “cereais e derivados, frutas, mingaus e sopas”, 25,9%
“frutas, carnes, ovos”, 12,9% “cereais e derivados, mingaus
Formulário do estado nutricional e sopas, leite” e 3,2% “frutas, mingaus e sopas, açúcares e
Quanto ao número de consultas pré-natais, 71,0% das doces”. Foi comum a alimentação com “açúcares e doces”
mães realizaram de 7 a 9 consultas, 25,8% de 4 a 6 e 3,2% (38,7% consumiam de 3 a 4 vezes semanais e 25,8%
de 1 a 3 consultas. Os 77,4% dos lactentes não apresentaram diariamente). Em 41,9% do grupo amostral foi encontrada
refluxo gastroesofágico, enquanto 22,6% possuíam esse reação adversa a algum alimento, sendo que 29,0% das mães
distúrbio. Infecções respiratórias (asma, pneumonia, bronquite) relataram que seus filhos possuíam intolerância à lactose e
estiveram presentes em 48,4% dos lactentes e 51,6% não 12,9% alergia ao leite de vaca.
apresentaram esse tipo de diagnóstico. Diarréias foram
comuns em 71,0% da amostra, contra 29,0% que não as Desenvolvimento neuropsicomotor
apresentaram. 83,9% de lactentes nunca foram hospitalizados, Na Tabela 2 são apresentados os resultados referentes
sendo que 16,1% já foram em algum momento de suas vidas. à idade cronológica, idades de desenvolvimento global,
83,9% das mães caracterizaram o sono de seus filhos como postural, da coordenação óculo-motriz, social e da linguagem
tranqüilo, enquanto 16,1% classificaram como agitado. A e quocientes de desenvolvimento global e nas áreas específicas
totalidade das crianças estava com seus calendários vacinais propostas no estudo, assim como suas variáveis estatísticas.
atualizados. Observa-se que a média da Idade de Desenvolvimento
A escolaridade de 74,2% das mães e 83,8% dos pais Postural (IDP) obteve valor muito próximo ao da média da
foi referente ao ensino fundamental incompleto; um pai Idade Cronológica (IC). A média da IDP foi a única que não
realizou, porém não completou o 3° grau. Quanto à situação esteve abaixo da média da IC, embora tenha sido superior
civil, a maior parcela de pais (61,3%) vivia em união estável, à IC em apenas 9 dias (idade positiva). Quando se verifica
seguidos de pais solteiros (32,3%) e casados (6,5%). Entre o valor mínimo da IDP, observa-se que estiveram 3 meses
a amostra, 6,5% tinham irmão com menos de 5 anos de idade abaixo do mínimo da IC, não ocorrendo diferença em relação
com histórico de desnutrição, contra 93,5%. ao valor máximo.
Entre o grupo pesquisado, 80,6% possuía como renda Entre as médias da Idade de Desenvolvimento da
per capita a quantidade de 1 a 3 salários-mínimos, 16,1% Coordenação Óculo-motriz (IDC) e da IC, verifica-se que
de 3 a 5 e 3,2% menos de 1 salário. 51,6% das famílias o valor nesta área esteve 30 dias abaixo da média cronológica
residiam com 4 ou 5 pessoas na mesma casa, 35,5% com da amostra. O valor mínimo obteve idade negativa de 2 meses,
6 ou 7 pessoas, 9,7% com 3 e 3,2% com 9. Em todas as casas enquanto o valor máximo da coordenação óculo-motriz foi
em que os lactentes residiam, havia água tratada e rede elétrica, o que se encontrou com maior idade negativa entre os valores
sendo que em 71,0% havia rede de esgoto e em 29,0% fossa máximos (3 meses).
como parte do saneamento básico. Observa-se que a média da Idade de Desenvolvimento
O aleitamento materno esteve presente até os 6 meses da Linguagem (IDL) esteve aproximadamente 2 meses (58,8
de idade em 29,0% dos lactentes, até 12 meses em 25,8%, dias) abaixo da IC, sendo a maior idade negativa encontrada
até 3 meses em 25,8%, por mais de 12 meses em 12,9% e entre as médias das idades. Quando se analisa o valor mínimo
6,5% de lactentes nunca receberam essa substância. Os
188 Mansur SS, Neto FR Rev. bras. fisioter.

(3 meses), encontra-se idade negativa de 4 meses, também comportamentos de risco passíveis de serem corrigidos3.
a maior idade negativa entre os valores mínimos. Ao associar o número de consultas pré-natais do estudo e
Entre as médias da Idade de Desenvolvimento da a ocorrência de peso normal ao nascer e nascimento a termo
Sociabilidade (IDS) e da IC, observa-se idade negativa de entre toda a amostra, pode-se compreender a satisfatória
cerca de 1 mês e 20 dias (50,1 dias), sendo a segunda maior assistência pré-natal observada.
idade negativa entre as médias das idades. O valor mínimo A ingestão insuficiente e a perda de nutrientes, através
da IDS foi 3 meses abaixo do mínimo da IC. de regurgitações e/ou vômitos, são responsáveis pelo
Quando se analisa a média da Idade de Desenvolvimento aparecimento de déficits nutricionais, podendo a criança
Global (IDG) e a média da IC, observa-se que a idade negativa apresentar déficit pondo-estatural, anemia, irritabilidade,
alcança o valor próximo de 1 mês (24,9 dias). Assim como distúrbios do sono e sintomas respiratórios13. Neste estudo,
em todos os valores mínimos das idades de desenvolvimento, os lactentes com refluxo gastroesofágico, além de déficit
a IDG também esteve abaixo do mínimo da IC. ponderal, também apresentaram manifestações respiratórias,
Ao observar os quocientes de desenvolvimento, todos sono agitado e intolerância à lactose.
os escores dessas variáveis classificaram as áreas motoras Em estudos com lactentes desnutridos grave,
dentro da normalidade, porém, aos quocientes da postura, encontraram-se casos com manifestações respiratórias,
coordenação óculo-motriz e global foi atribuído padrão motor diarréias e hospitalizações 14,15. Estas ocorrências,
“normal médio” e aos quocientes da linguagem e sociabilidade principalmente casos de diarréia, estiveram presentes nesta
“normal baixo”. pesquisa, podendo-se comentar que se encontram dados
clínicos comuns entre diferentes graus de desnutrição.
DISCUSSÃO O sono da criança foi considerado importante na
pesquisa por ser reconhecidamente uma função vital e, por
Identificação do estado nutricional conseguinte, essencial ao adequado crescimento e
Na Tabela 1, observando o valor mínimo da idade desenvolvimento do lactente. A função cerebral durante a
cronológica, vimos que nenhum lactente esteve abaixo da infância e adultícia é mantida pelo resultado de interações
idade de 7 meses, ratificando com a literatura. Há poucos complexas com o ambiente enquanto estamos acordados16.
dados referentes a crianças desnutridas com menos de 6 Embora o desenvolvimento neuronal seja pré-programado
meses de idade, sendo que a maior freqüência de doenças, geneticamente, conexões neurais e a estabilização dessas
de maneira geral, concentra-se na faixa etária de 6 a 36 meses1, conexões são funções cerebrais, sendo a ativação endógena
11
. neuronal durante o sono em idade precoce, o principal recurso
Observa-se que o mínimo da relação peso/idade esteve na maturação cerebral16.
próximo ao valor que classifica o desnutrido como moderado A totalidade das crianças estava com seus calendários
(61 a 75%), fato que serve como alerta ao desenvolvimento vacinais atualizados. Isso significa que a situação de imunidade
da criança, devendo ser investigados os fatores que a esteve adequada, embora alguns transtornos respiratórios
envolvem, prevenindo complicações futuras. como asma, bronquite e pneumonia foram os principais
Seria ideal que todas as pessoas tivessem, não apenas responsáveis pelas hospitalizações.
durante ciclos de doenças, mas durante todo o ciclo da vida, A nutrição está associada à integridade de células
avaliações do seu estado nutricional12. Isso deve ser mediadoras da imunidade como linfócitos e fagócitos 17.
considerado fundamentalmente na primeira infância, por ser Acredita-se que a atualização do calendário vacinal da criança
um período que compreende a estruturação do sistema se traduz por adequadas condições de imunidade, protegendo
nervoso, alta velocidade de crescimento e aquisições a criança contra doenças. Todavia, a oferta de nutrientes
funcionais. Além disso, a imaturidade biológica da criança essenciais é meritória ao seu estado geral de saúde e é crucial
a torna vulnerável a fatores de risco, cuja possível - associada às vacinas - no estabelecimento da imunidade.
conseqüência é a perda ponderal, que no estudo situou-se Alguns dos fatores de risco para o baixo peso e/ou
na média de 17,37%. prematuridade, são mães não-casadas e com 0 a 7 anos de
estudo3. Nesta pesquisa, houve número considerável de mães
Formulário do estado nutricional com baixa escolaridade (74,2 % com ensino fundamental
No Brasil, a mortalidade neonatal, a prevalência de baixo incompleto), dado que se pode relacionar ao déficit ponderal
peso ao nascer e a prematuridade, estão relacionadas à da amostra.
carência de procedimentos rotineiros e básicos na assistência A desnutrição assume importância junto às crianças que
à gestante12. Estudos referem que o número de consultas pré- vivem em condições socioeconômicas e culturais menos
natais está inversamente relacionado a esses fatores3. favorecidas. Crianças oriundas de classe sócio-econômica
Especificamente, a assistência pré-natal permite o baixa sofrem privação cultural, educacional e afetiva,
diagnóstico e tratamento de inúmeras complicações durante causadora de graves déficits no desenvolvimento intelectual
a gestação e a redução ou eliminação de fatores e
Vol. 10 No. 2, 2006 Desenvolvimento Neuropsicomotor de Lactentes Desnutridos 189

e emocional, que se potencializam quando sobrevêm a o desenvolvimento intelectual pela interferência na saúde, níveis
desnutrição18. de energia, taxas de desenvolvimento motor e crescimento2.
Nos países em desenvolvimento, a desnutrição constitui Por ser a primeira infância período em que se verificam as
a maior causa dos elevados índices de morbimortalidade entre aquisições neuromotoras básicas, a intervenção nutricional
crianças menores de 5 anos19, porém a presença de irmão deve ser completa.
desnutrido em idade precoce não foi comum neste estudo. Na ausência de alimentação adequada durante esse
Em termos epidemiológicos, a prevalência da desnutrição período crítico é possível que a criança não atinja seu
no Brasil evoluiu de modo favorável entre as décadas de 70 verdadeiro potencial genético. Quando uma criança tem fome
e 90, com redução de 60% dos casos20. Essa melhora esteve não saciada, pode perder a motivação para explorar o ambiente
intimamente relacionada à ampliação de serviços de e, assim, ter um atraso na aquisição de certas habilidades
saneamento, saúde, educação e à oferta de programas de cognitivas, indiferentemente se ocorreu lesão cerebral22.
suplementação alimentar ao longo dessas três décadas12. Esse Sabe-se que a qualidade adquirida nos processo de
fato corrobora com o presente estudo ao encontrar condições elaboração nervosa como a complexidade do circuito, a
adequadas de infra-estrutura básica. expansão dendrítica, o número de sinapses, a quantidade de
Famílias de baixa renda têm preferência quanto ao mielina, a ação metabólica, facilitam a velocidade e eficiência
aleitamento materno por ser um fator econômico e conveniente na transmissão de informações cerebrais, possibilitando a
de nutrição21. Supõe-se que a alimentação com leite materno simultaneidade de tarefas23. Isso demonstra que os efeitos
pelos lactentes da amostra, seja devido à baixa renda familiar da desnutrição no cérebro podem conduzir a deficiências no
e também ao incentivo e a valorização que os setores de saúde aprendizado e na elaboração de atividades neuropsicomotoras.
têm dado ao aleitamento materno. Em pesquisa do desenvolvimento neuropsicomotor de
221 crianças de creches municipais10, verificou-se que a média
Desenvolvimento neuropsicomotor da IDP foi a única que obteve valor positivo entre as médias
Os primeiros modelos de desnutrição consideravam das idades, ou seja, foi a única variável que possuiu valor acima
somente deficiências cognitivas como resultado de dano da média da IC, dado igualmente encontrado neste estudo
cerebral, porém, atualmente, sabe-se que a desnutrição altera (Tabela 2).

Tabela 2. Valores descritivos das variáveis neuropsicomotoras obtidos pela aplicação da Escala de Desenvolvimento Psicomotor da Primeira Infância,
entre 31 lactentes com desnutrição leve, matriculados em creches municipais de Florianópolis e São José (SC), em 2004.

VARIÁVEIS MÉDIA VARIÂNCIA DESVIO- VALOR VALOR MEDIANA

PADRÃO MÍNIMO MÁXIMO

Idade Cronológica (meses) 16,41 32,71 5,72 7,00 24,00 17,00

Idades de Desenvolvimento (meses)

Postural 16,71 41,68 6,45 4,00 24,00 16,00


Óculo-motriz 15,41 25,85 5,08 5,00 21,00 15,00
Linguagem 14,45 34,12 5,84 3,00 22,00 15,00
Sociabilidade 14,74 30,46 5,51 4,00 24,00 13,00
Global 15,58 28,91 5,37 5,00 23,00 15,00
Quocientes de Desenvolvimento (valor absoluto)

Postural 99,54 243,18 15,59 67,00 129,00 100,00


Óculo-motriz 94,25 148,26 12,17 79,00 148,00 92,00
Linguagem 86,87 154,58 12,43 66,00 108,00 88,00
Sociabilidade 89,41 147,85 12,15 67,00 121,00 88,00
Global 94,77 100,31 10,01 78,00 130,00 94,00
190 Mansur SS, Neto FR Rev. bras. fisioter.

O controle postural envolve sinergias neuromusculares próprio corpo; a história familiar e a atitude dos pais frente
que permitem adaptações posturais em resposta a diferentes aos filhos, à relação com outras pessoas; a percepção sensorial
tarefas, necessárias para a mobilidade e as habilidades e a capacidade de utilizar os objetos, à relação ambiental7.
manipulativas da criança24. Por meio da gradual aquisição de atividades neuropsicomotoras
Sabe-se que quando há lacunas na evolução do são possíveis às relações pessoais e ambientais da criança.
desenvolvimento da coordenação óculo-motriz, exemplificada
pela preensão, existe a possibilidade da criança apresentar
problemas na escolaridade25. Isso que pode servir de alerta
aos pais e/ou professores de lactentes com desnutrição, mesmo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de grau leve pois, neste estudo, verificou-se que o valor
máximo da IDC (21 meses) esteve 3 meses abaixo do valor 1. Alderete JMS. Desnutrição energético-protéica. In: Issler H,
Leone C, Marcondes E. Pediatria na atenção primária. São
máximo da IC (24 meses), maior diferença quando se
Paulo: Sarvier; 2002. p. 156-161.
comparam os valores máximos de todas as idades de
2. Plaza B, Brito NI, Torrejón HP, Gloor VC, Medina JMJ, Díaz
desenvolvimento.
TT et al. Algunas consideraciones sobre el impacto de la
Vale ressaltar que a exploração das propriedades físicas desnutricion en el desarrollo cerebral, inteligencia y rendimiento
de objetos, estabelecendo certas relações entre eles (bater escolar. ALAN 2001 mar; 51(1).
com um objeto em outro para produzir sons ou 3. Meio MDB, Lopes CS, Morsch DS. Fatores prognósticos para
deslocamentos) ou ainda relacioná-los espacialmente (empilhar o desenvolvimento cognitivo de prematuros de muito baixo
objetos, colocar um dentro do outro) - itens pertinentes a peso. Rev Saúde Pública 2003 dez 2; 37 (3): 311-8.
avaliação da coordenação óculo-motriz deste estudo - significa 4. Horwood LJ, Mogridge N, Darlow BA. Cognitive educational
um grau de evolução maior do que limitar-se a explorar os and behavioral outcomes at 7 to 8 years in a national very low
objetos sem envolver qualquer função entre eles. Isso birthweight cohort. Arch Dis Child Fetal Neonatal 1998; 79: 12-
demonstra a importância da coordenação óculo-motriz nos 20.
processos de pensamento, fazendo o lactente manifestar suas 5. Halpern R, Giugliani ERJ, Victoria CG, Barros FC, Horta BL.
idéias por meio de atividades da motricidade. Fatores de risco para a suspeita de atraso no desenvolvimento
Ao ver a criança brincar, podemos caracterizar, com neuropsicomotor aos 12 meses de vida. Rev Chil Pediatr 2000
certo grau de aproximação, o nível de desenvolvimento set; 7 (6): 421-8.
cognitivo alcançado por ela e relacioná-lo com os problemas 6. Nunes ML. Desnutrição e desenvolvimento neuropsicomotor.
que se observam na área da linguagem, pois o modo de agir J Pediatr 2001; 77 (3): 159-60.
das crianças revela o modo de compreensão de mundo que 7. Rose SA, Feldman J, Jankowski JJ. The building blocks of cog-
elas têm26. Ou seja, na ausência de uma linguagem verbal, nition. J Pediatr 2003: 143 Supl 54-61.
podemos entender a criança a partir de seu comportamento, 8. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia científica. 4ª ed. São Paulo:
como em imitações e gestualizações comuns entre elas, como Makron Books; 1996.
forma de linguagem. 9. Brunet O, Lèzine I. Desenvolvimento psicológico da primeira
A influência do meio chega ao máximo no período entre infância. Porto Alegre: Artes Médicas; 1981.
2 e 4 anos, momento em que a linguagem é o fator principal 10. Souza JM. Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de
de progresso, introduzindo novo plano à mente e renovando crianças entre 06 e 24 meses de creches de Florianópolis – SC.
o estilo dos comportamentos de adaptação9. Considerando [dissertação]. Florianópolis (SC): Centro de Educação Física,
Fisioterapia e Desportos da Universidade Estadual de Santa
esta citação, podemos pensar que o maior déficit adquirido
Catarina; 2003.
entre os lactentes do presente estudo na área da linguagem
– embora tenha obtido valor dentro da normalidade (“normal 11. Grantham-Mcgregor S. A review of studies of the effect of severe
malnutrition on mental development. J Nutr 1995: 125 Supl 2233
baixo”), pode ser revertido em idade futura. Porém, certamente – 8.
que todo tipo de estímulos ambientais e prevenção na presença
12. Monteiro CA, Conde WL. Tendência secular da desnutrição e
de fatores de risco, são meritórios em qualquer fase da vida,
da obesidade na infância na cidade de São Paulo: 1974-1996. Rev
em especial na primeira infância. Saúde Pública 2000: 34 Supl 52-61.
Em estudo sobre o desenvolvimento neuropsicomotor
13. Scalabrin DMF, Moran JR, Ferguson PW, Fagundes Neto U.
de lactentes mal-alimentados, encontraram-se classificações Eficácia de uma fórmula infantil pré-espessada no manejo do
baixas, sobretudo na discriminação e capacidade de resposta refluxo gastroesofágico fisiológico do lactente. Rev Paulista de
a estímulos sensoriais, na habilidade para resolver problemas, Pediatr 2001; 19 (2): 2-6.
na discriminação de objetos e socialização27. 14. Silva SMM. Programa de estimulação precoce para crianças com
A maturação neuromotora, a construção da imagem marasmo na primeira infância: Subsídios para atuação dos
corporal, a psicomotricidade, o desenvolvimento cognitivo professores da equipe de saúde infantil. [tese]. Campinas (SP).
e psicossocial, conduzem às relações da criança com seu Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de
Campinas; 1998.
Vol. 10 No. 2, 2006 Desenvolvimento Neuropsicomotor de Lactentes Desnutridos 191

15. Pires MMS. Repercussões da desnutrição grave no coração da 22. Taner EM, Finn-Stevenson M. Nutrition and brain development:
criança: avaliação ecocardiográfica. [tese]. São Paulo (SP): social policy implications. Am J Orthopsychiatry 2002; 72(2):
Faculdade de Medicina da Universidade do Estado de São Paulo; 182-193.
1997. 23. Andreasen NC, Flaum M, Swayze V, O´leary D, Alliger R, Cohe
16. Mirmiran M, Maas YGH, Ariagno RL. Development of fetal G, et al. Intelligence and brain structure in normal individuals.
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views 2003; 7 (4): 321-34. 24. Shumway-Cook A, Woollacott M. Theoretical issues in assess-
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fancy: the 1921 Aberdeen birth cohort. Arch Dis Child 1999 mar
9; 81: 5-9.
Vol.
ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Amplitude Articular do Joelho 193
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 193-198
©Revista Brasileira de Fisioterapia

AVALIAÇÃO DA AMPLITUDE ARTICULAR DO JOELHO: CORRELAÇÃO


ENTRE AS MEDIDAS REALIZADAS COM O GONIÔMETRO UNIVERSAL E
NO DINAMÔMETRO ISOCINÉTICO

BATISTA LH 1, CAMARGO PR 1, AIELLO GV 1, OISHI J 2, SALVINI TF 1


1
Unidade de Plasticidade Muscular, Laboratório de Neurociências, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal
de São Carlos - UFSCar, São Carlos, SP
2
Departamento de Estatística, UFSCar, São Carlos, SP
Correspondência para: Tania F. Salvini,Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Fisioterapia, Rodovia
Washington Luís, km 235, CEP 13565-905, São Carlos, SP, e-mail: tania@power.ufscar.br
Recebido: 15/02/2005 – Aceito: 30/11/2005

RESUMO
Contextualização: O instrumento mais utilizado pelos terapeutas para mensuração da amplitude de movimento (ADM) articular
é o goniômetro universal. No entanto, há carência de estudos que analisem a confiabilidade das medidas da ADM do joelho
realizadas no dinamômetro isocinético. Objetivo: O objetivo deste estudo foi analisar a correlação entre as medidas de ADM
na articulação do joelho, realizadas com o goniômetro universal e no dinamômetro isocinético. Método: Foram avaliados 38
voluntários saudáveis (27 mulheres, 11 homens), com idade de 36 ± 11 anos, com limitação mínima de 20° na ADM de extensão
do joelho. No membro dominante de cada sujeito foram realizadas três mensurações da ADM do joelho com o goniômetro e três
mensurações no dinamômetro. Resultados: Os resultados deste estudo mostraram que há alto grau de correlação entre as medidas
da ADM do joelho obtidas com o goniômetro universal e no dinamômetro isocinético (Coeficiente de Correlação de Pearson
= 0,90). Conclusão: Com os procedimentos realizados, tanto o goniômetro universal como o dinamômetro isocinético podem ser
utilizados para avaliação da ADM do joelho, pois ambos apresentam mensurações confiáveis.
Palavras-chave: goniômetro, dinamômetro isocinético, joelho, amplitude de movimento.

ABSTRACT
Knee Joint Range-of-Motion Evaluation: Correlation Between Measurements Achieved Using a
Universal Goniometer and an Isokinetic Dynamometer
Background: The instrument most often used by therapists for measuring joint range of motion (ROM) is the universal goniometer.
However, there is a lack of studies analyzing the reliability of knee joint ROM measured by the isokinetic dynamometer. Objective:
The purpose of this study was to analyze the correlation between the knee joint ROM measurements made using a universal
goniometer and an isokinetic dynamometer. Method: 38 healthy volunteers (27 women, 11 men) aged 36 ± 11 years were evaluated.
All of them had a minimum knee extension ROM limitation of 20°. Three knee ROM measurements were made using the universal
goniometer and another three using the isokinetic dynamometer, on each subject’s dominant limb. Results: The results showed
a high degree of correlation between the knee ROM measurements made using the two instruments (Pearson correlation co-
efficient = 0.90). Conclusion: From the procedures performed, both the universal goniometer and the isokinetic dynamometer
can be used to evaluate knee ROM, since they both present reliable measurements.
Key words: goniometer, isokinetic dynamometer, knee, ROM.
194 Batista LH, Camargo PR, Aiello GV, Oishi J, Salvini TF Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO o goniômetro é um instrumento de medida articular mais


confiável16 e válido14 que a estimativa visual.
A medida da amplitude de movimento articular (ADM) A ADM de vários segmentos corporais também pode
é um componente importante na avaliação física, pois ser mensurada no dinamômetro isocinético, um equipamento
identifica as limitações articulares, bem como permite aos computadorizado bastante utilizado para avaliação funcional
profissionais acompanharem de modo quantitativo a eficácia do sistema musculoesquelético. No entanto, há carência de
das intervenções terapêuticas durante a reabilitação. O estudos na literatura que analisem a confiabilidade das medidas
instrumento mais utilizado pelos terapeutas para medir a ADM da ADM realizadas no dinamômetro isocinético.
é o goniômetro universal1. No entanto, há também outros Considerando que a articulação do joelho é uma das mais
instrumentos capazes de mensurar a ADM, como o lesadas no ser humano, diferentes procedimentos para a
dinamômetro isocinético2. Nas últimas décadas houve um mensuração de sua ADM são utilizados. Tais medidas podem
grande aumento no uso deste instrumento em várias áreas, ser realizadas pelo terapeuta utilizando o goniômetro universal
dentre elas a fisioterapia, que tem se beneficiado de forma manual, ou ainda, por meio de instrumentos
particular e significativa desta tecnologia3. Para que o computadorizados, como o dinamômetro isocinético. Assim,
goniômetro universal e o dinamômetro isocinético possam seria importante verificar se as medidas fornecidas por estes
ser correlacionados e utilizados na mensuração da ADM, é dois meios de mensuração apresentam correlação entre si.
necessário que ambos forneçam medidas confiáveis. O objetivo deste estudo foi analisar o grau de correlação
Segundo Dvir3, a confiabilidade de uma medida é a entre as medidas de ADM de extensão do joelho, realizadas
consistência entre as medidas sucessivas da mesma variável, pelo terapeuta com o goniômetro universal, às obtidas com
no mesmo sujeito e nas mesmas condições. O autor cita, o dinamômetro isocinético.
ainda, que há três fontes de erro que podem tornar uma
avaliação não confiável: o instrumento de medida, a pessoa
METODOLOGIA
que ministra a avaliação e as diferentes características dos
voluntários que estão sendo avaliados que é, sem dúvida, a Voluntários
fonte de erro mais difícil de controlar. Considerando-se as Participaram deste estudo 38 voluntários saudáveis, de
diferenças individuais, as medidas obtidas por meio de um ambos os sexos (27 mulheres e 11 homens) com idade de
equipamento podem variar, sendo assim, a confiabilidade destas 36 ± 11 anos. Como critério de inclusão, os voluntários
medidas só será confirmada após a aplicação de testes deveriam apresentar limitação de 20° na ADM de extensão
estatísticos específicos3,4,5. do joelho 17 do membro dominante, mensurado com o
A goniometria, descrita na literatura desde 1914, é goniômetro universal, com o sujeito posicionado em decúbito
amplamente usada, tanto na prática clínica quanto em dorsal e as articulações do quadril e joelho fletidas a 90° 13.
pesquisas científicas, com a finalidade de medir a ADM de Todos os voluntários foram informados sobre os objetivos
diversas articulações. Vários experimentos examinaram o e procedimentos do estudo e assinaram um termo de con-
grau de confiabilidade das medidas goniométricas utilizando sentimento livre e esclarecido conforme resolução 196/96
diferentes procedimentos de medida e demonstraram que a do Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi aprovado pelo
ADM do joelho, medida com goniômetro universal, obteve Comitê de Ética da Universidade para estudos em humanos.
um nível de confiabilidade de bom a excelente6-14. Outros
trabalhos concluíram serem válidas as medidas realizadas Instrumentação
com o goniômetro universal, após terem sido correlacionadas Para avaliar a ADM de extensão do joelho foram uti-
às medidas da ADM obtidas a partir de radiografia, lizados um goniômetro universal de material plástico (Carci)
considerada um padrão de medida bem estabelecido11,12,14. e um dinamômetro isocinético (Biodex Multi-joint System
Sendo assim, o goniômetro universal é um instrumento com 3).
o qual se obtém medidas da ADM do joelho confiáveis e válidas.
Entretanto, Ellis e Bruton15 concluíram que as medidas de ADM Procedimentos
de articulações da mão realizadas com o goniômetro são mais
confiáveis quando somente uma medida é envolvida que Medida da ADM de extensão do joelho com o goniômetro
quando múltiplas medidas articulares são necessárias. universal
Brosseau14 cita que as medidas goniométricas da ADM do Com o objetivo de diminuir possíveis diferenças nas
joelho são mais confiáveis quando realizadas pelo mesmo avaliações pelo terapeuta, duas fisioterapeutas foram
avaliador. Aalto et al.8, em um estudo recente, verificaram previamente treinadas e realizaram todas as avaliações da ADM
que as medidas realizadas na articulação do joelho com o do joelho com o goniômetro universal e no dinamômetro
goniômetro obtiveram baixa confiabilidade, mas em isocinético deste estudo.
contrapartida comentam que o posicionamento utilizado para Inicialmente, com os indivíduos em posição dorsal foi
o teste pode ter contribuído para este resultado. Finalmente, realizado um teste para verificar a presença de encurtamento
Vol. 10 No. 2, 2006 Amplitude Articular do Joelho 195

dos músculos flexores do quadril, como descrito por Kendall17, ao encosto da cadeira do dinamômetro (Figura 2). Este
que pode causar compensações, como a anteversão pélvica, procedimento garantiu que o mesmo posicionamento neutro
e alterar a mensuração da ADM do joelho. Assim, nos da pelve, utilizado durante a avaliação da ADM do joelho com
indivíduos que apresentaram encurtamento dos flexores do o goniômetro, fosse também mantido durante as mensurações
quadril, a articulação do joelho do membro não dominante realizadas no dinamômetro.
foi fletida, com auxílio de almofadas, mantendo a pelve em O voluntário foi estabilizado na cadeira do dinamômetro
posição neutra para evitar compensações (Figura 1). por meio de cintos de contenção sobre o tronco, quadril e
Para a avaliação inicial, o quadril e o joelho do membro na coxa do membro dominante avaliado (Figura 2). A seguir,
dominante foram fletidos a 90° e o pé mantido relaxado13. o eixo mecânico de rotação do dinamômetro foi alinhado com
A partir desta posição, o joelho foi passiva e lentamente o epicôndilo lateral do fêmur e a perna foi fixada ao braço
estendido pelo avaliador 1, enquanto o avaliador 2 certificava- de resistência do dinamômetro, mantendo livre a articulação
se de que não estavam ocorrendo compensações. O voluntário do tornozelo.
foi orientado a relaxar durante a avaliação, particularmente Previamente à realização da avaliação, os voluntários
quando seu joelho estava sendo estendido, e relatar o momento receberam um dispositivo manual ligado ao dinamômetro
em que sentiu o início da tensão nos músculos flexores do (Figura 2), por meio do qual o voluntário poderia iniciar ou
joelho, que foi considerado a posição final (Figura 1). Atingida parar a avaliação passiva que estava sendo realizada. Em
esta posição, o avaliador 1 mensurou o grau de encurtamento seguida, foram orientados a fechar os olhos e se manterem
dos flexores do joelho, ou seja, a extensão do joelho, com relaxados. Após isso, deveriam acionar o dinamômetro, por
o goniômetro universal (Figura 1), conforme descrito por meio do dispositivo, para que o braço de resistência do
Norkin e White1. A extensão completa do joelho foi considerada equipamento começasse a estender o joelho, passivamente,
0° 13 e utilizada como referência para o cálculo do grau de
limitação da extensão articular do joelho.
A medida da ADM extensora do joelho de cada indivíduo
foi avaliada três vezes, sendo utilizada a média aritmética das
três mensurações.

Medida da ADM de extensão do joelho no dinamômetro


isocinético
Para manter o quadril dos voluntários fletido a Û

aproximadamente 90°, um acessório acolchoado foi acoplado


*

Û
Û

j
Posição
Final

*
Figura 1. Avaliação da ADM de extensão do joelho com o goniômetro
universal (indicação com cabeças de seta branca), que indica o grau de
encurtamento dos músculos flexores desta articulação. A mensuração
da ADM foi realizada quando o indivíduo relatou o início de tensão nos Figura 2. Posicionamento do voluntário na cadeira do dinamômetro:
músculos flexores do joelho. Almofada (*) utilizada em indivíduos com cintos de estabilização (Δ), dispositivo (seta) utilizado para iniciar ou
encurtamento nos flexores do quadril do membro contralateral, para finalizar a avaliação passiva, e acessório (*) para manter a articulação
manter a pelve em posição neutra. do quadril a aproximadamente 90° de flexão.
196 Batista LH, Camargo PR, Aiello GV, Oishi J, Salvini TF Rev. bras. fisioter.

a 2°/s de velocidade. Nesta fase, o voluntário deveria manter- RESULTADOS


se totalmente passivo ao movimento. Também foram
orientados a parar o braço de resistência do dinamômetro, Com base nos resultados apresentados na Tabela 1,
por meio do dispositivo, assim que sentissem iniciar a tensão pode-se observar que o CV da primeira mensuração é maior
de alongamento nos músculos flexores do joelho, para que das duas últimas avaliações em ambos os instrumentos
mensuração da ADM extensora dessa articulação. Foram de medida, sendo ligeiramente maior no dinamômetro, embora
realizadas três mensurações consecutivas desse movimento essa diferença não seja significativa. Verifica-se também que,
e sua média aritmética foi utilizada para a análise estatística. de modo geral, os valores do CV referentes às três avaliações
realizadas no dinamômetro isocinético variaram mais que as
Análise estatística realizadas com o goniômetro universal.
O Coeficiente de Variação (CV) foi usado inicialmente Os resultados mostram que o CV intravoluntários obtido
para estimar a porcentagem de variação entre as medidas foi menor que o CV intervoluntários, nos dois instrumentos
realizadas na primeira, segunda e terceira avaliação da ADM de avaliação da ADM articular (Tabela 2).
extensora do joelho obtidas com os dois instrumentos de O Coeficiente de Correlação de Pearson indicou um alto
avaliação utilizados. grau de correlação (0,90; p< 0,05) entre as medidas obtidas
A confiabilidade e a correlação das medidas da ADM com o goniômetro e no dinamômetro (Figura 3).
do joelho, realizadas com o goniômetro e no dinamômetro,
foram analisadas estatisticamente por meio dos testes: DISCUSSÃO
Coeficiente de Variação (CV) e Coeficiente de Correlação de
Pearson (CCP). Considerando as condições experimentais utilizadas,
O CV foi aplicado para obter a variação intervoluntários os resultados do presente estudo revelam que as medidas
e intravoluntários. Para cada instrumento de avaliação, o CV da ADM extensora do joelho realizadas com o goniômetro
intervoluntários foi considerado como referência para o CV universal têm alta correlação às obtidas no dinamômetro
intravoluntários, de acordo com Rothstein9 e Norkin & White1. isocinético. Estudos têm utilizado o goniômetro universal para
Considerou-se que CCP com valores de 0,90 a 0,99 testar a confiabilidade das medidas da ADM, de várias
corresponde à alta correlação, de 0,80 a 0,89 a boa correlação, articulações, utilizando diferentes instrumentos de medida14,19
- 21
de 0,70 a 0,79 a pequena correlação e valores ≤ 0,69 uma , mas não foram encontrados na literatura trabalhos que
baixa correlação18. utilizassem o goniômetro universal para testar a correlação

Tabela 1. Resultados das mensurações da ADM de extensão do joelho realizados com o goniômetro universal e no dinamômetro isocinético, em
38 indivíduos.

GONIÔMETRO UNIVERSAL DINAMÔMETRO ISOCINÉTICO

Mensurações 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª

X ± DP 44,5 ± 12,1° 45,0 ± 11,9° 44,9 ± 11,8° 46,3 ± 15,4° 46,6 ± 13,6° 45,8 ± 14,0°

CV 27,2% 26,4% 26,4% 33,1% 29,2% 30,6%

X = média; DP = desvio-padrão; CV = coeficiente de variação.

Tabela 2. Comparação da avaliação intervoluntários e intravoluntários da ADM de extensão do joelho, obtida com goniômetro universal e dinamômetro
isocinético, em 38 indivíduos.

X DP▲ DP g CV▲ CVg

Goniômetro 44,8° 10,7° 1,8° 23,9% 4,0%

Dinamômetro 46,2° 12,6° 3,7° 27,2% 8,0%


X = média; DP = desvio-padrão; CV = coeficiente de variação; intervoluntários,
„
intravoluntários
Vol. 10 No. 2, 2006 Amplitude Articular do Joelho 197

Goniômetro (graus)
80
60
40
20
0
0 20 40 60 80
Dinam ôm et ro (graus )

Figura 3. Valores do Coeficiente de Correlação de Pearson (0,90) entre as medidas da ADM de extensão do joelho realizadas com o goniômetro
universal e no dinamômetro isocinético, em 38 indivíduos.

das medidas de ADM do joelho realizadas no dinamômetro variação entre as medidas da ADM obtidas neste equipamento,
isocinético. Portanto, segundo nosso conhecimento, o quando comparadas às medidas com o goniômetro universal.
resultado encontrado neste estudo é inédito na literatura. Esse resultado indica a necessidade de um número maior de
Verificou-se que o CV intravoluntários das medidas repetições quando a avaliação da ADM articular for realizada
realizadas tanto com o goniômetro quanto no dinamômetro, no dinamômetro isocinético. Esta sugestão é reforçada pelos
foram menores que o CV intervoluntários. Segundo Rothstein9 resultados da Tabela 1 que mostra o CV das três avaliações
e Norkin e White1, estes resultados indicam que as medidas referentes a cada instrumento de medida. Pode-se observar
da ADM do joelho realizadas em ambos os instrumentos são que a primeira avaliação variou mais que as subseqüentes,
confiáveis. Portanto, há uma alta confiabilidade das medidas independentemente do instrumento utilizado para a mensu-
realizadas tanto manualmente pelo terapeuta, com o goniômetro ração, sendo essa variabilidade maior no dinamômetro iso-
universal, quanto às realizadas no dinamômetro isocinético cinético. Este resultado demonstra a necessidade de realizar
(Tabela 2). familiarização prévia dos voluntários com os instrumentos
No entanto, alguns aspectos observados necessitam ser de medida, particularmente com o dinamômetro.
considerados. Os resultados indicaram que há diferença entre É importante ressaltar ainda que durante a execução do
os CV das medidas realizadas com o goniômetro e no dina- presente estudo, foi verificado que 20% dos voluntários
mômetro (Tabela 2). O CV, intervoluntários e intravoluntários, apresentaram alterações na percepção da tensão dos músculos
das medidas obtidas no dinamômetro foram maiores do que flexores do joelho, com uma variação média de 22° entre as
as realizadas com o goniômetro. Segundo Norkin e White1, medidas realizadas com o goniômetro e no dinamômetro,
vários fatores podem alterar o grau de confiabilidade de uma enquanto que 80% dos sujeitos variaram 4°. Esses voluntários
medida. Tais fatores foram considerados neste estudo para foram reavaliados, utilizando-se a mesma posição de men-
que os procedimentos realizados durante a mensuração da suração, ou seja, tanto as medidas realizadas com o goniômetro,
ADM extensora do joelho no dinamômetro fosse o mais quanto no dinamômetro foram obtidas na posição sentada.
próximo possível dos procedimentos de mensuração com A variação entre as medidas da ADM de extensão do joelho
o goniômetro, são eles: ambos os métodos de medida foram passou de 22° para 6°. Diante deste resultado, pode-se dizer
realizados pelos mesmos avaliadores, as duas formas de que a grande dificuldade de percepção apresentada por 20%
avaliação mantiveram a articulação do quadril fletido a apro- dos voluntários está relacionada à posição de mensuração.
ximadamente 90º, a ADM extensora do joelho foi medida de Sendo assim, deve-se considerar que a posição altera o grau
forma passiva nos dois métodos, e foram mantidos os mesmos de percepção de alguns voluntários e que esta dificuldade pode
números de repetições. Embora todos esses cuidados tenham alterar a análise final das medidas obtidas por estes instru-
sido tomados, com o objetivo de minimizar possíveis diferenças mentos.
nos procedimentos experimentais entre as mensurações nos Com a constatação da confiabilidade das medidas
dois instrumentos de avaliação, observou-se que as mensu- realizadas com ambos os instrumentos, foi possível, então,
rações no dinamômetro isocinético variaram mais, quando correlacioná-las.O valor do Coeficiente de Correlação de
comparadas às do goniômetro universal. Esta variação pode Pearson (CCP) encontrado indicou um alto grau de correlação
ter ocorrido, segundo relato dos voluntários, pela maior entre as mensurações obtidas nos dois instrumentos. Sendo
dificuldade em sentir o início da tensão nos músculos flexores assim, tanto o CV quanto CCP mostraram que há um alto grau
do joelho durante a mensuração da ADM realizada no dina- de confiabilidade das medidas dos dois equipamentos e entre
mômetro. Tal dificuldade, provavelmente, foi a causa da maior eles. Tais resultados não corroboram com os encontrados
198 Batista LH, Camargo PR, Aiello GV, Oishi J, Salvini TF Rev. bras. fisioter.

por Farber et al.21 os quais verificaram que as medidas do 9. Rothstein JM, Miller PJ, Roettger RF. Goniometric reliability
ângulo articular realizadas com um equipamento in a clinical setting: Elbow and knee measurement. Phys Ther
1983; 63: 1611-15.
computadorizado demonstraram ser mais confiáveis que as
obtidas com o goniômetro. 10. Enwemeka CS. Radiographic verification of knee goniometry.
Como em outros trabalhos, alguns utilizando Scand J Rehabil Med 1986; 18: 47-50.
procedimentos diferentes de medida14,22 e outros o mesmo 11. Gogia PP, Braatz JH, Rose SJ, Norton B J. Reliability and va-
procedimento13,23,24, o presente estudo também mostra que lidity of goniometric measurements at the knee. Phys Ther
1987; 67: 192-5.
o goniômetro é um instrumento que pode ser usado para
realizar as medidas de ADM de extensão do joelho. Além disso, 12. Herrmann DB. Validity study of head and neck flexion-exten-
sion motion comparing measurements of a pendulum goniom-
os resultados apresentados aqui demonstraram que o
eter and roentgenograms. J Orthop Sports Phys Ther 1990; 11:
dinamômetro isocinético também é adequado para avaliar 414-20.
a ADM de extensão do joelho.
13. Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The effect of time and fre-
quency of static stretching on flexibility of the hamstring
CONCLUSÃO muscles. Phys Ther 1997; 77: 1090-6.
14. Brosseau L, Balmer S, Tousignant M, O’Sullivan JP, Goudreault
Considerando os procedimentos utilizados neste estudo, C, Goudreault M, et al. Intra and intertester reliability and cri-
tanto o goniômetro universal como o dinamômetro isocinético terion validity of the parallelogram and universal goniometers
podem ser utilizados para avaliação da ADM do joelho, pois for measuring maximum active knee and extension of patients
suas mensurações são confiáveis. with knee restrictions. Arch Phys Med Rehabil 2001; 82(3):
396-402.
Agradecimentos: Esse projeto recebeu apoio financeiro da FAPESP e 15. Ellis B, Bruton A. A study to compare the reliability of com-
do CNPq. Batista LH e Camargo PR receberam bolsa de Mestrado da CAPES, posite finger flexion with goniometry for measurement of range
Aiello GV foi bolsista de Iniciação Científica do PIBIC-CNPq.
of motion in the hand. Clin Rehabil 2002; 16(5): 562-70.
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ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Confiabilidade da Força Aplicada na Mobilização do Tornozelo 199
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 199-204
©Revista Brasileira de Fisioterapia

ESTUDO DA CONFIABILIDADE DA FORÇA APLICADA DURANTE A


MOBILIZAÇÃO ARTICULAR ÂNTERO-POSTERIOR DO TORNOZELO

RESENDE MA 1, VENTURINI C 1, PENIDO MM 1, BICALHO LI 2, PEIXOTO GHC 3, CHAGAS MH 3


1
Departamento de Fisioterapia, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal
de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte, MG
2
Departamento de Fisioterapia, Pontifícia Universidade Católica- PUC, Belo Horizonte, MG
3
Departamento de Esportes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, UFMG, Belo Horizonte,
MG
Correspondência para: Marcos Antônio de Resende, Departamento de Fisioterapia, Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627, São Francisco,
CEP 31270-901, Belo Horizonte, MG, e-mail: mresende@eeffto.ufmg.br
Recebido: 11/04/2005 – Aceito: 18/11/2005

RESUMO
Introdução: Os fatores que contribuem para a eficiência da manobra de mobilização articular são a intensidade e a
reprodutibilidade da força aplicada durante a mobilização, por um ou por diferentes examinadores. Objetivo: Avaliar a confiabilidade
intra e interexaminador da força de mobilização ântero-posterior da articulação do tornozelo, grau III e IV de Maitland. Método:
Os dois tornozelos de 35 voluntários assintomáticos foram mobilizados por dois examinadores experientes com o procedimento.
Uma miniplataforma de força foi posicionada sob a perna do voluntário a fim de captar as forças obtidas durante as manobras
de mobilização e seu sinal foi convertido e armazenado em um software DasyLab4.0, o que permitiu o registro dos picos mínimo
e máximo das curvas da força aplicada. A análise da confiabilidade foi realizada através do coeficiente de correlação intraclasse
(CCI). Para avaliar o erro sistemático das medidas foi utilizado o teste t pareado e o teste t independente, para as condições intra
e interexaminadores, respectivamente. O método de Bland e Altman avaliou os limites de concordância das medidas entre os
examinadores. Resultados: Os dados demonstraram alta confiabilidade intra-examinador. A confiabilidade inter-examinador foi
baixa e moderada para a força máxima e mínima respectivamente, durante a mobilização ântero-posterior da articulação do
tornozelo. Conclusão: Esses dados sugerem que a força aplicada durante a mobilização articular grau III e IV de Maitland no
tornozelo, apresenta alta confiabilidade intra-examinador e baixa para interexaminador.
Palavras-chave: mobilização articular, confiabilidade, miniplataforma de força, articulação do tornozelo, terapia manual, Maitland.

ABSTRACT
Reliability Study on the Force Applied During Anteroposterior Mobilization of the Ankle Joint
Background: Factors that contribute towards the efficiency of joint mobilization maneuvers is the intensity and reproducibility
of the force applied during mobilization, by one or more examiners. Objective: To evaluate the intra and inter-examiner reliability
of Maitland grade III and IV anteroposterior mobilization force on the ankle joint. Method: Two experienced examiners mobilized
both ankles of thirty-five healthy subjects. A force platform was positioned under the calves of these subjects to detect the
forces applied during the maneuvers. The signals were converted and recorded using the DasyLab 4.0 software. The maximum
and minimum peak forces from the curves obtained were then analyzed. The intraclass correlation coefficient (ICC) was used
to assess the intra and inter-examiner reliability. To evaluate any systematic error in the measurements, the paired t-test was
utilized on the intra-examiner data and the t-test for independent samples for the inter-examiner data. The Bland & Altman method
was used to assess the concordance limits for the measurements from the two examiners. Results: The data showed high intra-
examiner reliability. The inter-examiner reliability was low and moderate for the maximum and minimum forces respectively, during
anteroposterior mobilization of the ankle joint. Conclusions: These data suggest that the force applied during Maitland grade
III and IV mobilization of the ankle joint presents high intra-examiner reliability and low inter-examiner reliability.
Key words: joint mobilization, reliability, force platform, ankle joint, manual therapy, Maitland.
200 Resende MA, Venturini C, Penido MM, Bicalho LI, Peixoto GHC, Chagas MH Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO é um parâmetro que garante a padronização do procedimento


na clínica e nos estudos experimentais9. Apesar da grande
Desde a década de oitenta, a terapia manual vem sendo aplicabilidade da mobilização articular periférica na clínica
amplamente empregada no tratamento fisioterápico das fisioterapêutica, alguns estudos avaliaram somente o efeito
disfunções musculoesqueléticas, como nas algias da terapêutico da mobilização nestas articulações, sem contudo,
coluna vertebral1, nas epicondilalgias2 e nas entorses de tor- verificar a confiabilidade da força aplicada durante as
nozelo3-5. manobras de mobilização articular3,4,9.
A mobilização articular refere-se aos movimentos A eficiência da manobra de mobilização articular depende
acessórios passivos que visam à recuperação da da intensidade e da reprodutibilidade da força aplicada durante
artrocinemática, ou seja, dos movimentos de giro, rolamento a mobilização, por um ou por diferentes examinadores9. Dessa
e deslizamento entre as superfícies articulares3,4. O seu forma, o objetivo deste estudo foi verificar a confiabilidade
restabelecimento promove a congruência articular, diminui intra e interexaminador da força aplicada durante a mobilização
o atrito mecânico na articulação3, melhora a dor4, edema4,5 articular ântero-posterior da articulação do tornozelo, grau
e, conseqüentemente, a função do segmento corporal III e IV de Maitland.
comprometido5.
A técnica de mobilização articular proposta por
MATERIAIS E MÉTODOS
Maitland1, baseia-se em um sistema graduado de avaliação
e tratamento, através de movimentos passivos oscilatórios, Voluntários
rítmicos, graduados em quatro níveis que variam de acordo Após aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade
com a amplitude dos movimentos acessórios normalmente Federal de Minas Gerais (COEP-UFMG), foram recrutados
presentes nas articulações. Os graus I e II da mobilização 35 voluntários saudáveis para o estudo dos dois tornozelos,
de Maitland correspondem à aplicação dos movimentos sendo 20 homens e 15 mulheres, estudantes universitários,
oscilatórios, com ritmo lento no início da amplitude do com idade, massa corporal e altura de 25,14 ± 3,15 anos,
movimento acessório da articulação, livre da resistência 67,24 ± 14,50 quilogramas e 1,69 ± 0,10 metros, respec-
oferecida pelos tecidos e são indicados nos casos de tivamente.
processos dolorosos articulares. Estudos de confiabilidade Os critérios de exclusão foram as histórias de entorses
das manobras graus III e IV foram desenvolvidos na do tornozelo nos últimos seis meses, história de cirurgia do
articulação glenoumeral por Hsu et al.6 e na coluna vertebral complexo pé e tornozelo, presença de dor ou alguma patologia
por Harms e Bader7. Essas manobras caracterizam-se por nos tornozelos no momento da avaliação.
movimentos oscilatórios realizados no final da amplitude do Dois examinadores passaram por um período de duas
movimento acessório ou a partir da resistência dada pelos semanas de treinamento com a manobra de mobilização, e
tecidos periarticulares1,8. A carga imposta durante a manobra os voluntários por um processo de familiarização com os
grau III e IV promove a adaptação viscoelástica dos tecidos procedimentos antes de iniciar o estudo. Todos os voluntários
conectivos e, portanto, é indicada para recuperar os foram devidamente informados sobre o estudo e, em seguida,
movimentos acessórios quando existir uma restrição a esse assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.
mesmo movimento1,6.
Maitland desenvolveu seu método, fundamentando-se Equipamento
na regra côncavo-convexa1. Esse princípio aborda a Foi utilizada uma miniplataforma de força, com
combinação dos movimentos que ocorrem nas articulações dimensões de 40 cm de comprimento por 20 cm de largura,
sinoviais conforme a sua superfície4. A superfície convexa composta por duas placas de aço interligadas por quatro
móvel desliza no sentido oposto ao movimento células de força, que se encontram nas extremidades da
osteocinemático. No caso da articulação talocrural, o tálus mesma. Os sinais gerados pelos sensores da miniplataforma
é convexo e a tíbia é côncava4. Durante o movimento de eram conduzidos para um conversor analógico-digital
dorsiflexão do tornozelo, ocorre o deslizamento posterior (NIDAQ-700), e em seguida, transmitidos e armazenados
do tálus em relação à tíbia. A mobilização articular em deslize em um software DASYLab 4.0, que convertia os valores
posterior do tálus, graus III e IV tem como objetivo favorecer de Volts para Newtons (N).
o ganho da amplitude do movimento de dorsiflexão que se
encontra limitado em diferentes situações como é o caso das Procedimento
entorses laterais do tornozelo 3,4. Entretanto, estudos de Para captar a variação da força aplicada sobre a
confiabilidade da mobilização articular nos graus III e IV articulação do tornozelo, os voluntários foram posicionados
foram realizados na articulação glenoumeral6 e na coluna em decúbito dorsal, sobre uma mesa de terapia manual
vertebral7, mas não na articulação do tornozelo. (dimensões: 0,50 cm de altura X 1,40 cm de comprimento
É preciso frisar que, a consistência e a capacidade de e 0,80 cm de largura), com o membro inferior a ser testado
reproduzir a força aplicada durante a mobilização articular, apoiado sobre uma tábua de quadríceps com suporte para
Vol. 10 No. 2, 2006 Confiabilidade da Força Aplicada na Mobilização do Tornozelo 201

o tornozelo. A miniplataforma de força por sua vez, foi A força aplicada durante a mobilização articular foi
posicionada sobre a tábua de quadríceps atrás da região da avaliada considerando-se a força mínima e a força máxima
perna e do tornozelo. A força da manobra foi aplicada de forma gerada em cada oscilação. A força exercida pelo peso da perna
perpendicular a miniplataforma para permitir o registro dos sobre a miniplataforma de força foi deduzida para a avaliação
sinais através do apoio do calcâneo sobre a tábua. Uma espuma dos dados.
de densidade média foi utilizada entre a plataforma e o
calcanhar do voluntário para evitar o desconforto provocado Análise Estatística
por este contato. Para a obtenção dos resultados foram excluídas a primeira
Antes de iniciar o estudo, foi realizada a calibração da curva e as últimas curvas, que apresentavam distorções e
plataforma de força através de cargas previamente conhecidas. poderiam influenciar na análise dos resultados, sendo
Para a realização da manobra, o examinador apoiou a região consideradas somente as oito curvas subseqüentes, isto é,
do espaço interósseo dos dedos I e II da mão direita sobre da segunda à nona curva. Para a análise do coeficiente de
o tálus, enquanto a outra mão era posicionada sobre a primeira. correlação intraclasse (CCI) foi utilizada a classificação descrita
Cada examinador A e B, realizou seis oscilações em deslize por Portney e Watkins11. Na análise da confiabilidade intra-
ântero-posterior em cada tornozelo dos voluntários para examinador, foi utilizado (CCI)3,4, que comparou a média das
permitir uma adaptação dos tecidos periarticulares, conforme primeiras curvas (2 a 5) com a média das curvas (6 a 9), tanto
verificado na figura 1. Em seguida, a manobra foi realizada para a força mínima quanto para a força máxima.

Figura 1. Posicionamento dos voluntários para a manobra de mobilização em deslize ântero-posterior da articulação do tornozelo.

A: tábua de quadríceps adaptada; B: miniplataforma de força; C: manobra de mobilização


articular, grau III e IV de Maitland.

por um período de 30 segundos, primeiro no tornozelo direito, O estudo da confiabilidade interexaminador foi realizado
e depois no tornozelo esquerdo pelo examinador A. através do CCI2,8, considerando as médias das medidas da
Imediatamente após o examinador A ter realizado as manobras, força mínima e máxima de 8 curvas, obtidas com as
o examinador B repetiu o mesmo procedimento para ambos oscilações realizadas pelos examinadores A e B. O método
os tornozelos. A freqüência das oscilações e a amplitude das estatístico de Bland e Altman foi utilizado para estimar a
forças aplicadas durante a mobilização variaram de acordo concordância das medidas12. Com o objetivo de avaliar a
com o examinador. A freqüência de mobilização variou de variação do erro das medidas, realizou-se o teste t pareado
0,4 a 0,5 oscilações/segundo. e teste t independente para as condições intra e
Os dados gerados pela plataforma de força e captados interexaminadores, respectivamente. Foi considerada a
pelo conversor foram armazenados por um terceiro diferença significativa quando p< 0,05. Todas as análises
examinador, sendo que os examinadores A e B não tiveram estatísticas foram realizadas através do software SPSS 11.0
acesso aos resultados durante o procedimento experimental. instalado em ambiente Windows®.
202 Resende MA, Venturini C, Penido MM, Bicalho LI, Peixoto GHC, Chagas MH Rev. bras. fisioter.

Tabela 1. Coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e intervalo de confiança (IC) da força aplicada (N) e a média das medidas para a condição
intra-examinador.

CCI (IC) X ± DP (2 a 5 ) X ± DP (6 a 9) p

Fmin A 0,98 (0,96 - 0,98) 99,13 ± 23,19 104,52 ± 22,68 0,00**

Fmáx A 0,97 (0,97 - 0,99) 204,70 ± 22,46 202,65 ± 21,52 0,051

Fmin B 0,98 (0,98 - 0,99) 86,82 ± 19,99 91,33 ± 19,79 0,00**

Fmáx B 0,98 (0,98 - 0,99) 161,84 ± 21,41 158,77 ± 21,23 0,00**


Fmin = força mínima; Fmáx = força máxima; X± DP (2 a 5) = média ± desvio-padrão das curvas
2 a 5 em newtons; X ± DP (6 a 9) = média ± desvio-padrão das curvas 6 a 9 em newtons.
** Representa diferença estatisticamente significativa quando comparada a media das medidas
da força mínima e máxima das curvas de 2 a 5 com as de 6 a 9 para um mesmo examinador
( p < 0,01 ).

Tabela 2. Coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e intervalo de confiança (IC) da força aplicada (N) e a média das medidas para a condição
interexaminador.

CCI (IC) X ± DP (A) X ± DP (B) p

Fmin 0,58 (0,17- 0,77) 101,82 ± 22,67 89,08 ± 19,48 0,00**

Fmáx 0,19 (-0,23-0,55) 203,66 ± 21,58 160,31 ± 21,12 0,00**

Fmin = força mínima; Fmáx = força máxima; X± DP (A) = média ± desvio-padrão


do examinador A; X ± DP (B) = média ± desvio-padrão do examinador B; N
(Newtons);
**Representa diferença estatisticamente significativa quando comparada a media
das medidas da força mínima e máxima obtidas pelos examinadores A e B (p < 0,01).

RESULTADOS das medidas dos examinadores encontram-se representados


nas figuras 2 e 3.
Os nossos resultados demonstraram alta confiabilidade
intra-examinador para ambos os examinadores, tanto para
DISCUSSÃO
a força máxima quanto para a força mínima aplicada durante
a mobilização ântero-posterior do tálus, conforme a tabela A eficiência da manobra de mobilização articular depende
1. Podemos verificar também na tabela 1, que a média das da intensidade e da reprodutibilidade da força aplicada durante
medidas da força mínima e máxima das primeiras curvas (2 a mobilização, por um ou por diferentes examinadores9.
a 5) quando comparada com a média das medidas das últimas A média da força máxima aplicada pelos examinadores
curvas (6 a 9), apresentaram diferença estatisticamente durante a mobilização em nosso estudo foi de 203,73 N,
significativa, exceto para a força máxima obtida pelo enquanto a média da força mínima foi de 88,64 N. Harms,
examinador A. Innes e Bader13, sugerem que as altas forças exigidas durante
Nossos resultados demonstraram confiabilidade a mobilização graus III e IV, são devido à resistência oferecida
interexaminador (CCI – IC) baixa tanto para a força mínima pelos tecidos conectivos na região linear da curva carga-
quanto para a força máxima aplicada, conforme apresentado deformação, com conseqüente alongamento dessas estruturas
na tabela 2. Quando a média das medidas da força mínima que normalmente resistem ao deslocamento articular.
e máxima obtidas pelos examinadores A e B foram Os resultados obtidos demonstraram alta confiabilidade
comparadas, observamos diferença estatisticamente intra-examinador das forças máxima e mínima, aplicadas
significativa conforme verificado na tabela 2. durante a mobilização articular, grau III e IV de Maitland.
Os dados da dispersão correspondentes à diferença dos De acordo com Portney e Walkins 11, o CCI é considerado
valores obtidos entre os examinadores A e B e das médias
Vol. 10 No. 2, 2006 Confiabilidade da Força Aplicada na Mobilização do Tornozelo 203

120 120

100 100

80 80
DIFERENÇA EXAM . A - EXAM . B (N)

60 60

DIFERENÇA EXAM .A- EXAM.B (N)


40 40

20 20

0 0

-20 -20

-40 -40

-60 -60

-80 -80

-100 -100
-120 -120
140 160 180 200 220 240 260 40 60 80 100 120 140 160 180

MÉDIA (N) MÉDIA (N)


DIFERENÇA EXAM.A e EXAM.B = Diferença entre Examinador A e DIFERENÇA EXAM.A e EXAM.B = Diferença entre Examinador A e
Examinador B; N (Newton). Examinador B; N (Newton).

Figura 2. Dispersão das diferenças entre os valores da força máxima Figura 3. Dispersão das diferenças entre os valores da força mínima
e médias das medidas dos examinadores A e B. e média das medidas dos examinadores A e B.

baixo quando menor ou igual a 0,50, moderado entre 0,50 Além disso, podemos facilmente observar a variação no erro
a 0,75 e alto acima de 0,75. Nossos resultados são semelhantes das medidas, visto o deslocamento da média dos valores da
aos de Harms e Bader7 que encontraram alta confiabilidade diferença entre A e B (Δ A-B), que deveria ocorrer no ponto
intra-examinador em um modelo de mobilização ântero- zero do eixo y. Esses resultados podem ter sido influenciados
posterior da coluna vertebral, e aos achados de Hsu et al.6 pelo tipo de formação do terapeuta manual ou o tempo de
que demonstraram alta confiabilidade intra-sessão na prática do terapeuta. Entretanto, Cook et al.15 em um estudo
mobilização da articulação glenoumeral. Entretanto, quando de mobilização na coluna vertebral, demonstraram que gênero,
nós comparamos as médias das medidas da força máxima idade, anos de prática e diferença na formação profissional
e mínima aplicadas por um mesmo examinador, verificamos não são fatores preditivos para uma fraca consistência nas
uma diferença estatisticamente significativa, indicando variação manobras de mobilização. Esses mesmos autores sugerem
na intensidade da força aplicada ao longo dos 30 segundos que a variabilidade encontrada na força entre os examinadores
de oscilações. Por outro lado, uma fraca confiabilidade foi é devido a algum fator ainda não conhecido, ou a um fator
observada entre as manobras aplicadas pelos examinadores intrínseco aos examinadores.
A e B. Além disso, foi encontrada diferença estatisticamente No presente estudo, é possível que esta variabilidade
significativa entre as médias das forças aplicadas pelos encontrada entre os examinadores seja devido a uma diferença
examinadores, indicando variação na intensidade da força no desempenho da força. O procedimento adotado
aplicada. A esse respeito, Björnsdóttir e Kumar14, compararam compreendeu a aplicação de 30 segundos de mobilização pelo
a confiabilidade de fisioterapeutas experientes em terapia examinador A seguido do examinador B, o que gerou
manual com fisioterapeutas inexperientes, durante a mobilização adaptação dos tecidos periarticulares do tornozelo durante
póstero-anterior da coluna e demonstraram que ambos os a primeira série de mobilização. Provavelmente, a força
grupos obtiveram baixa consistência nas medidas da força solicitada pelo examinador B para mobilizar a articulação
aplicada. talocrural foi menor quando comparado ao examinador A.
Conforme podemos observar nas figuras 2 e 3, ocorreu Este efeito pode ser observado nos dados representados na
grande dispersão em relação ao eixo y, indicando que há uma tabela 1. Segundo alguns autores, a força aplicada durante
baixa concordância entre os dados dos examinadores A e B. a manobra de mobilização, grau III e IV de Mailtand é exercida
204 Resende MA, Venturini C, Penido MM, Bicalho LI, Peixoto GHC, Chagas MH Rev. bras. fisioter.

contra uma resistência mínima e aumentada gradativamente 5. Pellow JE, Brantinghan JW. The efficacy of adjusting the ankle
até encontrar uma resistência máxima8,13,16, promovendo assim in the treatment of subagude and chronic grade I and grade II
ankle inversion sprains. Journal Manipulative and Physiological
uma deformação viscoelástica dos tecidos periarticulares17.
Therapeutics 2001; 24 (1):17-24.
Um dos fatores limitantes deste estudo foi a
impossibilidade de confirmar a calibração do instrumento após 6. Hsu A, Ho L, Chang J, Chang G. Characterization of tissue re-
sistance during a dorsally directed translation mobilization of
cada medida efetuada pelos examinadores, o que poderia the glenohumeral joint. Archives Physical Medicine Rehabilita-
inviabilizar o estudo, dado ao tempo necessário para executar tion 2002; 83:360-6.
este procedimento. Para futuros estudos, é possível propor
7. Harms MC, Bader DL. Variability of forces applied by expe-
novas estratégias para melhorar a consistência das medidas rienced therapists during spinal mobilization. Clinical Biome-
entre os examinadores. Para esse propósito, podemos utilizar chanics 1997; 12 (6): 393-9.
o feedback visual das curvas de força no monitor do 8. Cook CE. Effectiveness of visual perceptual learning on inter-
computador, uma vez que a outra limitação deste estudo foi therapist reliability of lumbar spine mobilization. The Internet
a falta de um mecanismo para controlar a força aplicada pelos Journal of Allied Health Sciences & Practice 2003; 1(2): 1540
examinadores durante as manobras de mobilização articular. – 580.
9. Matyas TA, Bach TM. The reliability of selected techniques in
clinical arthrometrics. The Australian Journal of Physiotherapy
1985; 31(5):175-199.
CONCLUSÕES
10. Nield S, Davis K, Davis K, Latimer J, Maher C, Adams R. The
Os resultados obtidos no presente estudo indicaram alta effect of manipulation on range of movement at the ankle joint.
confiabilidade para a condição intra-examinador e baixa para Scandinavian Journal Rehabilitation Medicine 1993; 25: 161-6.
a condição interexaminador da força aplicada durante a 11. Portney LG, Watkins MP. Reliability. In: Portney LG e Watkins
mobilização ântero-posterior da articulação do tornozelo grau MP, editores. Foundations of clinical research. 2nd ed. New
III e IV de Maitland. Esses dados sugerem que a manobra Jersey : Prentice Hall Health; 2000. p. 61 -75.
de mobilização articular grau III e IV de Maitland, utilizada 12. Bland JM, Altman DG. Statistical Methods for assessing agree-
para a mobilização do tornozelo deve ser realizada apenas ment between two methods of clinical measurement. Lancet
1986: 307-310.
por um examinador nos estudos científicos e no
acompanhamento clínico dos indivíduos. 13. Harms MC, Innes SM, Bader DL. Forces measured during spi-
nal manipulative procedures in two age groups. Rheumatology
1999; 38: 267-74.
14. Björnsdóttir SV, Kumar S. Posteroanterior motion test of a lum-
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2. Paugnmali A, O‘Leary S, Souvlis T, Vicenzino B. Naloxone Fails 2002; 10(4): 2005.
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3. Denegar CR, Hertel J , Fonseca J. The effect of lateral ankle sprain 17. Taylor DC, Dalton JD, Seaber AV, Garrett WE. Viscoelastic
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ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Adaptação da LDH ao LLLT e Treinamento Aeróbio 205
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 205-211
©Revista Brasileira de Fisioterapia

ADAPTAÇÃO ENZIMÁTICA DA LDH EM RATOS SUBMETIDOS A


TREINAMENTO AERÓBIO EM ESTEIRA E LASER DE BAIXA INTENSIDADE

VIEIRA WHB 1, GOES R 1, COSTA FC 1, PARIZOTTO NA 1, PEREZ SEA 2, BALDISSERA V 2, MUNIN FS 3,


SCHWANTES MLB 3
1
Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos - UFSCar,
São Carlos, SP
2
Laboratório de Fisiologia do Exercício, Departamento de Ciências Fisiológicas, UFSCar, São Carlos, São Carlos, SP
3
Laboratório de Evolução Molecular, Departamento de Genética e Evolução, UFSCar, São Carlos, SP
Endereço para correspondência: Nivaldo Antonio Parizotto, Lab. de Eletrotermofototerapia, DeFisio, UFSCar, Via
Washington Luís, Km 235, CP 676, CEP 13565-905, São Carlos, SP, e-mail: parizoto@power.ufscar.br
Recebido: 12/04/2005 – Aceito: 09/03/2006

RESUMO
Objetivo: Verificar a atividade e padrão eletroforético da LDH em resposta ao exercício em esteira em ratos submetidos à
fotoestimulação por laser de baixa intensidade (780 ηm). Método: Foram utilizados nesse estudo 54 ratos machos jovens (30dias),
Winstar, com peso inicial médio de 112 ± 4,7g, os quais foram divididos em quatro grupos: dois permaneceram em repouso, GRC
(grupo repouso controle, n= 9) e GRL (grupo repouso laser, n= 10), sendo o segundo irradiado por laser, e outros dois foram
submetidos ao treinamento aeróbio e testes de esforço crescente em esteira (em degraus descontínuos) visando à determinação
do limiar de anaerobiose (LA) durante 5 semanas, GEC (grupo exercício controle, n= 16) e GEL (grupo exercício laser, n= 19), sendo
o último também irradiado por laser. O laser foi aplicado no quadríceps, glúteo máximo, sóleo e tibial anterior (TA), bilateralmente,
imediatamente após cada sessão de treinamento, usando: 3,8J/cm2, 15mW, 10s, modo contínuo, durante 5 semanas. Amostras
de sóleo, TA e coração foram removidas 48 horas após a última sessão de exercício para análise eletroforética e
espectrofotométrica. A estatística foi realizada através do teste ANOVA e post-hoc de TUKEY. O nível de significância foi
considerado (p≤ 0,05). Resultados: Foram observadas reduções na atividade da LDH causadas pelo laser (de 19% a 30%), exercício
(de 41% a 66%) e as ações combinadas (de 47% a 66%) (p< 0,01). A eletroforese mostrou uma predominância da subunidade B
para o sóleo e coração, e uma predominância da subunidade A no TA. Conclusões: Estes dados sugerem uma melhor resposta
adaptativa dos animais ao treinamento aeróbio associado à terapia laser, no que se refere à otimização da via oxidativa.
Palavras-chave: LDH, Eletroforese, treinamento de endurance, rato, LLLT.

ABSTRACT
Adaptation of LDH Enzyme in Rats Undergoing Aerobic Treadmill Training and Low Intensity Laser
Therapy
Objective: To analyze the activity and electrophoretic pattern of the enzyme LDH in response to treadmill training, in rats
undergoing photostimulation using low-level laser therapy (LLLT) (780 ηm). Method: Fifty-four 30-day-old male Winstar rats
initially weighing 112 ± 4.7g were divided into four groups. Two groups remained at rest: resting control group (RCG, n= 9) and
resting LLLT group (RLG, n= 10). The other two groups underwent a five-week treadmill program of aerobic training and non-
continuous incremental effort tests, with the aim of determining the anaerobic limit. One of the latter was an exercise control
group (ECG, n= 16) and the other was an exercise LLLT group (ELG, n= 19). LLLT was applied to the quadriceps, gluteus maximus,
soleus and tibialis anterior, bilaterally, immediately after each training session, using the following: 3.8 J/cm2; 15 mW; time 10
s; continuous mode. Samples of the soleus, tibialis anterior and heart were removed 48 hours after the last exercise session for
electrophoretic and spectrophotometric analysis. The statistical analyses used were the ANOVA and post-hoc Tukey tests. The
level of statistical significance was set at p≤ 0.05. Results: Reductions in LDH activity caused by laser (from 19% to 30%), exercise
(from 41% to 66%) and combined action (from 47% to 66%) were observed (p< 0.01). Electrophoresis showed predominance of
subunit B in the soleus and heart, and predominance of subunit A in the tibialis anterior. Conclusion: The data suggest that the
animals have an adaptive response to aerobic training with LLLT, towards optimizing the oxidative pathway.
Key words: LDH, Electrophoresis, endurance training, rat, LLLT.
206 Vieira WHB, Goes R, Costa FC, Parizotto NA, Perez SEA, Baldissera V, et al. Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO e metabólicas do tecido muscular, favorecendo o uso da via


aeróbia em detrimento da anaeróbia durante o exercício15,16.
A terapia laser de baixa intensidade (LLLT) é um recurso Assim, a LLLT pode ser uma coadjuvante do exercício
fisioterapêutico que possui propriedades especiais capaz de para o aumento da capacidade aeróbia de indivíduos, tendo
produzir efeitos bioquímicos e fisiológicos nos tecidos1. Dentre em vista que alguns de seus achados sobre a bioenergética
os efeitos pode-se destacar os relacionados com a bioener- das células musculares se assemelham a algumas das adap-
gética, como o aumento na taxa energética e síntese de ATP tações musculares ao treinamento físico, em especial o de
mediante modificações mitocondriais2-10. endurance. No entanto, não há relatos na literatura científica
Alguns estudos sugerem que em células irradiadas, os de estudos in vivo, devidamente controlados investigando
primeiros eventos fotoquímicos e fotofísicos acontecem nas o efeito conjunto do laser e atividade física sobre a performance
mitocôndrias, cujas alterações respiratórias são explicadas aeróbia, especificamente as respostas adaptativas do sistema
como resultado tanto de mudanças estruturais9,10 quanto de isozímica da LDH, tendo em vista que essa é uma área de
alterações químicas (metabólicas) nessa organela citoplas- pesquisa inovadora, e, portanto, ainda pouco explorada.
mática, podendo ocorrer no potencial de membrana5,6 e/ou Portanto, o objetivo desse estudo foi verificar possíveis
em atividades enzimáticas4,7,11,12, todas contribuindo para a adaptações bioquímicas referentes, a atividade enzimática
maior disponibilidade de energia, via metabolismo aeróbio, e padrão eletroforético da LDH em resposta ao exercício em
para ser utilizada na realização das atividades celulares. esteira, em ratos submetidos à fotoestimulação por laser de
No que se refere à atividade enzimática, tem-se que a baixa intensidade (780 ηm) nos principais músculos da
mensuração desta nas fibras musculares fornece uma indicação marcha.
relativa de seu potencial de oxidação, tendo em vista que um
grande número de enzimas é necessário na oxidação de
METODOLOGIA
nutrientes energéticos. O sistema isozímico da lactato de-
sidrogenase (LDH - enzima terminal da glicólise anaeróbia) Animais
se constitui no mais estudado na maioria dos vertebrados, Este experimento foi aprovado pelo comitê de ética em
pois é considerado um dos melhores meios para estudos de pesquisa em animais da UFSCar e seguiu os princípios
ajustes metabólicos (aspectos adaptativos) a variações nos estabelecidos pelo American College of Sports Medicine.
parâmetros externos ou internos das espécies13. Essa enzima Fizeram parte do estudo, 54 ratos jovens (30 dias), Winstar,
aparece no tecido das espécies em, geralmente, cinco formas com peso inicial de 112 ± 4,7g. Os animais foram acondi-
isozímicas/isofórmicas separáveis por eletroforese, as quais cionados em gaiolas coletivas e receberam ração peletizada
são resultantes da associação, ao acaso, de duas subunidades e água “ad libitum”. Além disso, permaneceram em sala com
distintas: A (ou M) e B (ou H), que apresentam características temperatura controlada, na faixa de 22º-27ºC, com fotoperíodo
estruturais e funcionais próprias e são codificadas por dois definido em 12 horas de claro e 12 horas de escuro.
loci diferentes. A associação dessas duas subunidades permite
a ocorrência de, pelo menos, duas isoformas homotetraméricas: Procedimentos
a A4 (M4) ou LDH5, típica de musculoesquelético predomi- Os animais foram aleatoriamente divididos em quatro
nantemente anaeróbio, e B4 (H4) ou LDH1, típica de músculo grupos: 1 – GRC (grupo repouso controle, n= 9) e 2 – GRL
cardíaco, tecido predominantemente aeróbio, bem como, três (grupo repouso laser, n= 10), os quais permaneceram em
isoformas heterotetraméricas, A3B (LDH4), A2B2 (LDH3), AB3 repouso, sendo o segundo irradiado por laser. Os outros dois
(LDH2)14. A isoforma A4 é considerada uma piruvato redutase, grupos, 3 - GEC (grupo exercício controle, n= 16) e 4 - GEL
atuando, pois, na manutenção do balanço redox durante (grupo exercício laser, n= 19), foram submetidos a um
períodos de escassez de O2, sendo encontrada em tecidos protocolo de treinamento aeróbio em esteira realizado 5 vezes
com alto potencial glicolítico. Por outro lado, a isozima B4 por semana (domingo a quinta-feira) durante 5 semanas e
é considerada como lactato oxidase, e assim, “desvia” o a testes de esforço crescente descontínuo em esteira, uma
substrato para o metabolismo aeróbio, evitando que o coração vez por semana, totalizando 5 avaliações, no dia seguinte ao
acumule lactato, sendo encontrada em tecidos com meta- último dia de treinamento semanal (sexta-feira). Durante o
bolismo, predominantemente aeróbio. Uma relação B/A teste foram coletadas amostras de sangue para verificar o
(atividade enzimática em baixa concentração / atividade LA dos animais. O último dia da semana (sábado) serviu de
enzimática em alta concentração de substrato) pode fornecer descanso para os animais.
uma idéia do tipo de subunidade predominante em cada
tecido. Instrumentação
Além dos efeitos do laser sobre o metabolismo O treinamento aeróbio e o teste de esforço crescente
energético, em destaque a atividade de enzimas chaves de foram realizados em uma esteira ergométrica para animais
rotas metabólicas, sugere-se que o treinamento físico aeróbio de pequeno porte, contendo três partes, cada qual com 7 raias
também promova mudanças nas características estruturais individuais, o que permitiu que os animais se exercitassem
Vol. 10 No. 2, 2006 Adaptação da LDH ao LLLT e Treinamento Aeróbio 207

simultaneamente e isoladamente. Para a dosagem do lactato inclinação constante de 10%, segundo teste realizado por
sanguíneo foi utilizado um lactímetro eletroenzimático YSI Langfort et al.18 e Pilis et al.19, cuja velocidade inicial foi de
MODEL I500 Sport Lactate Analyzer. A irradiação foi realizada 13 m/min, seguindo assim, até o momento da exaustão física.
através de um equipamento laser na faixa espectral do Depois, o sangue foi transferido para um tubo de capacidade
infravermelho (GaAlAs), Classe IIIb-CEI-IEC 825-1 (MM de 0,5 ml tipo “ependorff” contendo 50μl de anticoagulante
Optics, São Carlos, Brasil). (fluoreto de sódio). O material retirado foi mantido, durante
o procedimento, refrigerado, sendo em seguida congelado
Adaptação, condicionamento do animal à esteira e em freezer até sua utilização na mensuração do lactato. Essa
treinamento aeróbio determinação do LA por meio da lactacidemia teve o propósito
Todos os animais passaram, primeiramente, por um de caracterizar a predominância, no treinamento utilizado no
período de 6 dias consecutivos de adaptação e condiciona- estudo, do metabolismo aeróbio.
mento à esteira, até atingirem, a partir da progressão da carga
de trabalho (tempo de atividade e velocidade), um máximo Irradiação por laser de baixa intensidade
de 10 minutos de esforço diário e velocidade de 17,5 (m/min) A irradiação por laser foi realizada diariamente, utilizando
no 6º dia que era o grau de esforço preconizado para a fase como parâmetros: Comprimento de onda 780ηm, dose= 3,8
inicial do treinamento. A partir daí, iniciou-se o treinamento J/cm2, potência= 15 mW, no modo contínuo, por 30 dias
aeróbio o qual apresentava um aumento diário na carga de consecutivos, conforme recomendado por Halsberghe20. As
trabalho (2 minutos no tempo e uma progressão variável na aplicações foram realizadas imediatamente após a corrida na
velocidade), até se atingir uma meta pré-determinada para esteira, visando aproveitar as condições de “estresse físico”
o último dia de treinamento semanal (Tabela 1). Esta graduação e conseqüentemente, de alterações metabólicas do animal,
teve o intuito de possibilitar uma boa adaptação dos animais tendo em vista a maior eficácia do laser nessas condições2,21.
ao treinamento e favorecer um predomínio no treinamento As aplicações foram em número de quatro (quadríceps, TA,
aeróbio, conforme preconizado por Moraska et al.17. As ses- sóleo e glúteo máximo), bilateralmente, totalizando oito
sões foram sempre no início do crepúsculo, período do dia aplicações por animal/dia, todas sobre a pele depilada,
em que os ratos naturalmente entram em sua mais alta ati- utilizando-se a técnica pontual. A escolha dos pontos sobre
vidade, por serem animais de hábito noturno. a musculatura das patas traseiras e a quantidade de pontos
teve o objetivo de obter uma resposta mensurável em
Teste de esforço e coleta de amostras de sangue proporções sistêmicas. A depilação foi um meio de minimizar
O teste de esforço para a determinação do LA foi do tipo a reflexão e a refração, e conseqüentemente, aumentar a
em degraus descontínuos com velocidades crescentes em efetividade do laser.
esteira ergométrica. Antes do início do teste de esforço foi
retirada a primeira amostra (linha de base). Em seguida, os Extração de tecidos, análise enzimática e eletroforese
animais foram submetidos a intervalos de esforço físico, com Nas análises enzimáticas foram utilizadas frações de
duração de três minutos, seguidos de intervalos de dois músculo TA, sóleo e cardíaco retiradas 48 horas após a última
minutos a cada bloco de exercício para a coleta de sangue sessão de exercício, com o intuito de garantir que eventuais
diretamente da cauda do animal por meio de um tubo capilar modificações na atividade enzimática fossem decorrentes da
previamente calibrado e heparinizado. A velocidade da esteira aplicação do laser e não do efeito da última sessão de
aumentou em 4 m/min a cada intervalo de exercício, com treinamento. A análise em músculo cardíaco visou identificar

Tabela 1. Valores médios (± DP) das metas semanais das variáveis relacionadas ao programa de treinamento aeróbio.

SEMANAS TEMPO DISTÂNCIA VEL. MÉDIA VEL. MÉDIA

Nº h km km/h m/min

início 0,16 ± 0,03 0,175 ± 0,05 1,09 ± 0,26 17,5 ± 4,14


1 0,30 ± 0,05 0,393 ± 0,09 1,31 ± 0,09 21,0 ± 1,46
2 0,50 ± 0,05 0,781± 0,11 1,56 ± 0,08 25,0 ± 1,28
3 0,66 ± 0,05 1,134 ± 0,11 1,71 ± 0,05 27,5 ± 0,76
4 0,83 ± 0,05 1,504 ±0,12 1,81 ± 0,03 29,0 ± 0,47
5 1,00 ± 0,05 1,906 ± 0,13 1,90 ± 0,03 30,5 ± 0,47
208 Vieira WHB, Goes R, Costa FC, Parizotto NA, Perez SEA, Baldissera V, et al. Rev. bras. fisioter.

possíveis efeitos sistêmicos do laser, tendo em vista que esse ainda são escassas e na maioria das vezes contraditórias, fato
tecido não foi irradiado. As cinéticas enzimáticas foram este que justifica a necessidade e importância da realização
realizadas por meio de espectrofotometria, cujos resultados de pesquisas envolvendo esse recurso fisioterapêutico.
foram expressos em UI/g de tecido-1 (μmoles de substrato. Assim, o presente estudo teve o propósito de investigar
g-1 de tecido fresco.min-1), a 25ºC. Já as eletroforeses foram as possíveis adaptações bioquímicas relativas à atividade da
realizadas em gel de amido e as quantificações das intensidades enzima LDH, que ocupa posição chave no metabolismo
relativas das isoformas da LDH foram obtidas pelo método glicolítico, e ao seu padrão eletroforético, em ratos submetidos
de diluições seriadas de Klebe22. a um treinamento aeróbio em esteira e a fotoestimulação por
laser de baixa intensidade.
Análise estatística Primeiramente, relativo a atividade da LDH, pode-se
Os resultados são apresentados através da média e observar que todos os tecidos estudados (sóleo, TA e coração)
desvio-padrão. Foram utilizados os testes: ANOVA para analisar apresentaram comportamentos semelhantes, no que se refere
a variância entre os grupos, no que se refere à atividade ao padrão de atividade entre os grupos, de modo que foi
enzimática e padrão eletroforético, seguidos do post-hoc de evidenciado uma menor atividade dessa enzima (maior inibição)
Tukey. O LA de cada animal foi determinado por um de todos os grupos em relação ao grupo controle, sendo as
examinador utilizando o modelo bi-segmentado no ponto de menores atividades detectadas nos grupos submetidos ao
inflexão do teste de esforço crescente. O nível de significância laser associado ao exercício (grupo 4), ao exercício (grupo
foi considerado (p≤ 0,05). 3) e somente ao laser (grupo 2), respectivamente. Tal resposta
era de se esperar, tendo em vista os estímulos propostos
RESULTADOS (exercício e/ou laser) visarem respostas aeróbias, em
detrimento de respostas anaeróbias.
Atividade da LDH em 1 e 10 mM de substrato
As atividades mais altas da LDH foram detectadas em
extratos de músculo TA, seguindo-se das em músculo sóleo,
e, as mais baixas no coração. Pode-se observar uma menor
Atividade da LDH

LDH - 1 mM
atividade de todos os grupos (4, 3 e 2) em relação ao controle 200
**
(1) (p< 0,01) para todos os tecidos. Foi possível ainda 150 **
**
identificar uma semelhança no padrão de resposta nas duas 100 ** **
** **
concentrações estudadas, sendo que na menor concentração ** **
50
(1 mM) (Figura 1 a) o nível de atividade foi maior em relação
à concentração maior (10 mM)(Figura 1 b ). 0
Sóleo TA Coração
Razões B / A (atividade LDH em 1 mM / atividade em GRC (1) GRL (2) GEC (3) GEL (4)
10 mM de piruvato)
a
Observaram-se razões B / A maiores que 1 (Figura 2a)
e, conseqüentemente, inibições em alta concentração de
substrato (10 mM) para todos os extratos teciduais, LDH - 10 mM
Atividade da LDH

principalmente para o sóleo e coração (Figura 2b). 120


90 **
Padrão eletroforético ** **
60 **
**
Houve um predomínio da subunidade B para o coração **
**
e sóleo, e um predomínio da subunidade A para o TA (Figura
30 ** **

3). 0
Foi possível ainda identificar aparente ação sistêmica Sóleo TA Coração
do laser baseado na diminuição da LDH em músculo cardíaco
por meio da comparação, principalmente, dos grupos GRC (1) GRL (2) GEC (3) GEL (4)
submetidos ao exercício e laser e seu respectivo controle
b
(grupo 3).

DISCUSSÃO Figura 1. Atividade da Lactato Desidrogenase (LDH) em extratos de


sóleo, TA e músculo cardíaco dos quarto grupos estudados, em 1mM
O laser de baixa intensidade constitui-se, atualmente, (a) e 10 mM (b) de piruvato. Valores são a média ± desvio-padrão.
em uma das modalidades bioestimulantes mais utilizadas na Unidades são micromoles de substrato.minuto.g tecido-1. **significância
reabilitação. No entanto, as evidências científicas e clínicas estatística – p< 0.01.
Vol. 10 No. 2, 2006 Adaptação da LDH ao LLLT e Treinamento Aeróbio 209

metabólico), pois, considerando que o TA possui metabolismo


4 predominantemente anaeróbio24 e a LDH é uma enzima chave
desse tipo de metabolismo, já era de se esperar uma maior
3
atividade nesse tecido.
B/A

2 O teste de esforço crescente para a determinação do


1 LA pode também ser um fator que influencie diretamente o
0 aumento na atividade da LDH, sobretudo, em tecidos com
características fisiológicas predominantemente anaeróbias.
Sóleo TA Coração
Corroborando tal hipótese, autores25, investigando a influência
GRC (1) GRL (2) GEC (3 ) GEL (4) da duração e intensidade do exercício sobre adaptações
bioquímicas do musculoesquelético, evidenciaram um maior
a
estresse metabólico e, portanto, aumentada taxa glicolítica,
durante as maiores velocidades de corrida, atribuindo tal
Inibição da LDH - 10mM
80
% de inibição

60 Coração
2
40 1.6
-1
20 UI/g tecido 1.2
B
0 0.8 A
Sóleo TA Coração 0.4

GRC (1) GRL (2) GEC (3) GEL (4) 0


GRC (1) GRL (2) GEC (3) GEL (4)
a
b
Sóleo
Figura 2. Razão B / A (a) e inibição da LDH em 10 mM de substrato 0.8
(b) em extratos de sóleo, TA e músculo cardíaco dos quatro grupos
-1

estudados. 0.6
UI/g tecido

0.4 B
A
Autores2,7,21,23 sugerem que a magnitude ou eficácia do 0.2
efeito biomodulatório atribuído ao laser de baixa intensidade 0
ao interagir com os tecidos biológicos, é dependente, dentre GRC (1) GRL (2) GEC (3) GEL (4)
outros fatores, das condições metabólicas prévias do tecido,
de tal forma que a resposta tende ser ótima quando o potencial b
redox celular se encontra alterado como, por exemplo, num
quadro de lesão tecidual, cujo ambiente celular apresenta TA
condições (diminuição do pH e do suprimento energético -
3
O2) que favorece a maior interação da radiação com os tecidos,
-1
UI/g tecido

e conseqüentemente, maior resposta biológica final (foto- 2


modulação), diferentemente de quando o ambiente celular
encontra-se em condições de normalidade fisiológica. Assim, 1 B

considerando que a resposta foi maior no grupo submetido A


ao laser mediante exercício físico, provavelmente o “estresse 0
metabólico” proporcionado pelo treinamento pode ter favo- GRC (1) GRL (2) GEC (3) GEL (4)
recido a maior ação do laser e conseqüentemente maior
efetividade da resposta estimulatória do tecido. c
Foi possível identificar também uma ligeira tendência
do músculo TA em apresentar maiores valores de atividade
Figura 3. Padrão eletroforética da LDH, em extratos de sóleo, TA e
em relação ao sóleo e coração. Isso parece estar relacionado
músculo cardíaco dos quatro grupos estudados. Unidades são
com as características fisiológicas desse tecido (perfil micromoles de substrato.minuto (UI). g tecido-1.
210 Vieira WHB, Goes R, Costa FC, Parizotto NA, Perez SEA, Baldissera V, et al. Rev. bras. fisioter.

achado ao maior número do contrações musculares reque- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ridas, principalmente pelas fibras tipo IIb. Isso por sua vez,
1. Ortiz MCS, Carrinho PM, Santos AAS, Gonçalves RC, Parizot-
pode determinar o aumento na atividade de enzimas glicolíticas,
to NA. Laser de baixa intensidade: princípios e generalidades –
como a LDH , principalmente em tecidos que apresentem Parte 1. Fisioterapia Brasil 2001; 2: 221-40.
uma predominância nesse tipo de fibra.
2. Karu TI. Photobiological fundaments of low power laser therapy.
A razão de atividade B/A pode fornecer uma idéia do IEEE J Quant elect QE 1987; 23 (10): 1703-17.
tipo de subunidade predominante em cada tecido, uma vez
3. Karu T, Pyatibrat L, Kalendo G. Irradiation with He-Ne laser
que a isoforma predominante em musculoesquelético de increases ATP level in cells cultivated in vitro. J Photochem
característica anaeróbia (A4 – LDH tipo muscular), possui Photobiol B: Biol 1995; 27: 219-23.
pouca inibição em altas concentrações de substrato quando
4. Morimoto Y, Arai T, Kikuchi M, Nakajima S, Nakamura H. Ef-
comparada à predominante em músculo cardíaco (B4 – LDH fect of Low-intensity Argon Laser Irradiation on Mitochondrial
tipo cardíaco) que é fortemente inibida nessas concentrações. Respiration. Lasers Surg Med 1994; 15: 191-9.
As relações obtidas no presente trabalho sugerem um 5. Passarella S, Ostuni A, Atlante A, Quagliariello E. Increase in
predomínio da subunidade B nos 3 músculos analisados, tendo the ADP/ATP exchange in rat liver mitochondria irradiated in
em vista terem se mostrado maiores que um, principalmente, vitro by helium-neon laser. Biochem Biophys Res Comm 1988;
para os músculos sóleo e cardíaco como era de se esperar, 156 (2): 978-86.
o que impediria o acúmulo de lactato nesses tecidos. Tal achado 6. Passarella S, Casamassima E, Molinari S, Pastore D. Increase
é corroborado tanto pelo maior percentual de inibição à of proton eletrochemical potential and ATP synthesis in rat liver
concentração de 10mM de substrato (51% a 65% em sóleo mitochondria irradiated in vitro by helium neon laser. FEBS 1984;
e 64% a 68% em coração), em relação ao TA cuja inibição 175 (1): 95-9.
variou entre (40% a 45%), bem como pelo predomínio da 7. Wilden L, Karthein R. Import of radiation phenomena of elec-
subunidade B, obtido através do método de diluições seriadas trons and therapeutic low-level laser in regard to the mitochon-
drial energy transfer. J Clin Laser Med Surg 1998; 16 (3): 159-
de Klebe22 nesses tecidos com características aeróbias. Por
65.
outro lado, o padrão eletroforético mostrou um predomínio
da subunidade A para o músculo TA como já era de se esperar. 8. Yu W, Naim JO, Mcgowan M, Kippolito K, Lanzafame RJ.
Photomodulation of Oxidative Metabolism and Electron Chain
No entanto, esse predomínio só ocorreu na forma de Enzymes in Rat Liver Mitochondria. Photochem Photobiol
heteropolímero, e não na isoforma A4 como retrata a literatura 1997; 66 (6): 866-71.
científica. Assim, considerando a divergência de resposta
9. Manteifel V, Bakeeva L, Karu T. Ultrastructural changes in
entre a razão B / A e padrão eletroforético encontrada para chondriome of human lymphocytes after irradiation with He-
o TA, bem como, a falta de um predomínio de homopolímeros Ne laser: appearance of giant mitochondria. J Photochem
A4 em músculo anaeróbio (TA), torna-se necessário ressaltar Photobiol B: Biol 1997; 38: 25-30.
um provável padrão regulatório complexo para as isoformas 10. Bakeeva LE, Manteifel VM, Rodichen EB, Karu T. Formation
da LDH devido a restrição de expressão do locus LDH-A* of giant mitochondria in human blood lymphocytes after He-
nessas espécies de animais (ratos). Ne laser. Mol Biol 1993; 27 (3): 608-17.
Segundo Almeida-val26 o aumento no produto do locus 11. Pastore D, Di Martinho C, Bosco G, Passarella S. Stimulation
LDH-A* em determinado tecido pode estar relacionado a of ATP synthesis via oxidative phosphorylation in wheat mi-
diferentes fatores, em destaque, o aumento da atividade tochondria irradiated with helium-neon laser. Biochem Mol Biol
glicolítica do tecido durante períodos de anaerobiose causada Int 1996; 39 (1): 149-57.
por uma diminuição da oferta de oxigênio no ambiente ou 12. Quarto E, Martino G, Michelin IG, Covello C, Quartle IJ. Suc-
por um “estresse metabólico” decorrente de demandas cinic oxydase activity in He-Ne laser irradiated mitochondria.
Boll Soc Int Biol Sper 1988; 64: 129-33.
energéticas maiores do organismo como no caso de um
esforço intenso. 13. Karu. Primary and secondary mechanisms of action of visible
to near-IR radiation on cells. J Photochem Photobiol B: Biol
Portanto, os dados encontrados nesse estudo sugerem
1999; 49: 1-17.
uma resposta adaptativa dos animais aos estímulos específicos
do treinamento aeróbio e fotoestimulação por laser de baixa 14. Apella E, Markert CL. Dissociation of lactate dehydrogenase
into subunits with guanidine hydrochloride. Biochem Biophys
intensidade, no sentido da otimização da via oxidativa, Comm 1961; 6: 171-6.
verificada pela inibição da LDH.
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No. 2, 2006 Dor e Capacidade Funcional em Obesos com OA de Joelho 213
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 213-218
©Revista Brasileira de Fisioterapia

RELAÇÃO ENTRE INTENSIDADE DE DOR E CAPACIDADE FUNCIONAL


EM INDIVÍDUOS OBESOS COM OSTEOARTRITE DE JOELHO

VASCONCELOS KSS 1, DIAS JMD 2, DIAS RC 2


1
Fisioterapeuta
2
Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais UFMG, Belo Horizonte, MG
Correspondência para: Karina Simone de Souza Vasconcelos, Rua Zenite, 470/101,Caiçara, CEP 30720-530, Belo
Horizonte, MG, e-mail: karinasimone@hotmail.com
Recebido: 03/05/2005 – Aceito: 07/12/2005

RESUMO
Contextualização: A osteoartrite (OA) de joelho é uma doença crônica que acomete a cartilagem articular, provocando alterações
ósseas, dor e rigidez à movimentação. A obesidade é um dos seus principais fatores de risco. As queixas de dificuldades
funcionais são freqüentes, especialmente para a locomoção, que se torna mais lenta. Com os crescentes níveis de obesidade
no Brasil, torna-se importante compreender como a OA de joelho afeta a capacidade funcional humana, a fim de se elaborar
medidas de tratamento e prevenção. Objetivo: Analisar a influência da intensidade de dor, gravidade radiográfica, grau de
obesidade e duração dos sintomas na capacidade funcional de indivíduos obesos com OA de joelho. Método: A intensidade
de dor foi medida pelo questionário Western Ontario and McMaster Universities Index (WOMAC) e durante os testes
funcionais. A gravidade radiográfica foi analisada pela classificação Kellgren-Lawrence e o grau de obesidade pelo índice de
massa corporal (IMC). Foram realizados quatro testes funcionais de velocidade: marcha usual e rápida, subir e descer escadas.
Resultados: A amostra foi constituída de 31 mulheres e 4 homens, com idade média de 51,65 ± 10,72 anos e IMC médio de 41,16
± 8,37 kg/m2. As atividades em escadas estavam associadas a níveis mais intensos de dor. Apenas a intensidade de dor
apresentou correlações significativas com os resultados nos testes de velocidade. Conclusão: A intensidade de dor é um fator
que influencia a realização de atividades funcionais em indivíduos obesos com OA de joelho, mas outros estudos são necessários
para identificar os fatores determinantes de capacidade funcional nesta população.
Palavras-chave: obesidade, osteoartrite de joelho, dor, capacidade funcional.

ABSTRACT
Relationship Between Pain Intensity and Functional Capacity of Obese Individuals With Knee
Osteoarthritis
Background: Knee osteoarthritis is a chronic disease that affects joint cartilage, causing bone structure alterations, pain and
stiffness during movement. Obesity is one of its principal risk factors. Complaints about functional disability are frequent,
especially for locomotion activities, which people with knee osteoarthritis perform slower. With the increasing levels of obesity
in Brazil, it is important to understand how knee osteoarthritis affects human functional capacity, in order to devise treatment
and prevention measures. Objective: To examine the influence of pain intensity, radiographic severity, obesity level and symptom
duration on the functional capacity of obese individuals with knee osteoarthritis. Method: Pain intensity was measured using
the Western Ontario and McMaster Universities Index (WOMAC) questionnaire and during functional capacity tests. Radio-
graphic severity was analyzed using the Kellgren-Lawrence classification and the obesity level was assessed using body mass
index (BMI). Four functional velocity tests were performed: usual gait, fast gait, ascending stairs and descending stairs. Results:
The sample consisted of 31 women and 4 men, with mean age of 51.65 ± 10.72 years and BMI of 41.16 ± 8.37 kg/m2. The greatest
intensity of pain was reported during stair activities. Only pain intensity presented significant correlations with the results from
the velocity tests. Conclusion: Pain intensity is a factor that influences functional activity performance among obese individuals
with knee osteoarthritis. Further studies are necessary for identifying the determining factors for functional capacity in such
populations.
Key words: obesity, knee osteoarthritis, pain, functional capacity.
214 Vasconcelos KSS, Dias JMD, Dias RC Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO METODOLOGIA

A osteoartrite (OA) é uma doença crônica, caracterizada Aprovação


por degeneração da cartilagem articular, dor e rigidez à Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
movimentação1. Estima-se que 4% da população brasileira Pesquisa da Universidade, parecer no ETIC 222/04 de acordo
apresente OA, sendo o joelho a segunda articulação mais com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
acometida pela doença, com 37% dos casos2. Todos os voluntários assinaram e receberam uma cópia do
Um dos principais fatores de risco para esta doença é termo de consentimento livre e esclarecido.
a obesidade3. A associação entre a OA de joelho e a obesidade
também pode gerar maiores níveis de dor4 e de dificuldades Amostra
funcionais5, especialmente nas atividades de locomoção, que A amostra foi selecionada por conveniência, com
exigem movimentação e descarga de peso sobre as voluntários participantes de ambulatórios de tratamento de
articulações afetadas. obesidade ou de serviços de reabilitação de Hospitais
Sabe-se que, no Brasil, o excesso de peso já supera os Universitários e da Santa Casa de Misericórdia da cidade. Estes
níveis de baixo peso em todas as regiões, sendo que 13% participantes eram encaminhados aos pesquisadores
das mulheres e 8% dos homens no país são considerados responsáveis, no Laboratório de Desempenho Motor e
obesos6. Por isso, espera-se um aumento na prevalência e Funcional Humano da Universidade, por profissionais de saúde
nos gastos da saúde pública com as comorbidades associadas que os atendiam e que estavam cientes das condições deste
à obesidade, como a OA de joelho. Por ser uma doença estudo. Uma vez verificados os critérios de inclusão e
incapacitante, a OA de joelho gera gastos aumentados com exclusão, os indivíduos encaminhados eram convidados a
tratamentos, além de uma maior necessidade de suporte social participar deste estudo como voluntários.
e familiar7, incluindo gastos com a Previdência Social8. Foi utilizado como base para a análise estatística do cálculo
Uma das formas de se avaliar os prejuízos funcionais amostral, o desvio-padrão estimado da variável de interesse,
associados à OA de joelho são os questionários, no qual os isto é, a capacidade funcional objetiva, a partir de estudos
indivíduos relatam suas dificuldades. Devido à sua que avaliaram medidas similares de velocidade de atividades
especificidade para a OA de joelho, o questionário Western em escadas11 e de marcha12, com indivíduos com osteoartrite
Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index de joelho. A seguinte fórmula foi utilizada: n= (z α/2 x ∂/ d)2.
(WOMAC)9 é um questionário amplamente recomendado para Onde: n é o tamanho da amostra, Zα/2 é o valor da ordenada
esse fim. Indivíduos com OA de joelho também apresentam da distribuição que deixa abaixo dele área igual a α/2, ∂ é o
alterações funcionais objetivas, sendo mais comuns a menor desvio-padrão da variável de interesse e d é tal que a
velocidade para marcha10 e para subir ou descer escadas11. probabilidade de um desvio d entre a média da variável de
Por isso, testes de velocidade são considerados métodos interesse (obtida no estudo) e a média real seja menor ou igual
confiáveis e simples, com baixos custos, para avaliar estas a α. Determinou-se em 0,05 (α α) esta probabilidade de erro,
alterações objetivas12. considerando-se aceitável um erro (d) menor que 1/3 de um
Além da obesidade, diversos fatores podem influenciar desvio-padrão (∂ ∂ ).
a capacidade funcional em indivíduos com OA de joelho, entre Com base nestes cálculos, foram incluídos 35 volun-
eles a gravidade da doença13, a amplitude de movimento e tários de ambos os sexos, com Índice de Massa Corporal
a força muscular14, a idade e o sexo15. A intensidade de dor (IMC) > 30 kg/m2, com o diagnóstico clínico e radiográfico
é um fator determinante para o relato de dificuldades16 e pode de OA de joelho segundo os critérios de Altman et al.1. Todos
afetar as velocidades usual e rápida de marcha17. apresentavam marcha independente. Foram excluídos indi-
A compreensão do processo de alterações funcionais víduos que apresentassem: dor no joelho ou incapacidade
na OA de joelho pode contribuir para a elaboração de medidas funcional referente a esta articulação devido a lesões liga-
de prevenção e tratamento em populações de risco como os mentares, meniscais ou musculares diversas à OA; prótese
obesos. Este estudo se propôs a analisar como a intensidade total ou parcial em um ou ambos os joelhos ou quadris; artrite
da dor pode influenciar a capacidade funcional objetiva de reumatóide, fibromialgia, lúpus eritematoso sistêmico e doenças
indivíduos obesos com OA de joelho, em um delineamento reumáticas sistêmicas; cardiopatias descompensadas; déficits
transversal e observacional. Também foi analisada a influência auditivos ou visuais que impedissem a realização dos testes
da gravidade dos achados radiográficos, da idade, índice de e medidas; agudização da OA de joelho; doenças neurológicas
massa corporal (IMC) e tempo dos sintomas de osteoartrite que afetassem a locomoção.
na capacidade funcional objetiva. Uma vez que a OA de joelho é uma doença crônica,
alguns voluntários faziam uso de analgésicos ou
antiinflamatórios. Sendo observacional, o objetivo deste estudo
Vol. 10 No. 2, 2006 Dor e Capacidade Funcional em Obesos com OA de Joelho 215

foi retratar a capacidade funcional o mais próximo da realidade


do dia-a-dia. Desta forma, não foi recomendada a interrupção
do uso deste tipo de medicamentos.

Dor
O questionário WOMAC foi aplicado na sua versão
traduzida e validada para o Brasil18 por meio de entrevista
assistida. A intensidade de dor foi representada pelos escores
na seção de dor do questionário, nos níveis: nenhuma, pouca,
moderada, intensa e muito intensa. A mesma escala foi
utilizada para mensurar a dor durante a realização dos testes
de capacidade funcional. Para análise dos dados, estes níveis
foram transformados respectivamente em 0, 25, 50, 75 e 100.

Gravidade radiográfica
Para avaliar a gravidade da OA de joelho através dos
critérios Kellgren-Lawrence19, foram examinadas radiografias
da articulação tibiofemural em imagens ântero-posteriores,
com carga sobre os membros inferiores. Cada radiografia Figura 1. Kit para Avaliação Computadorizada de Rendimento Físico
foi classificada por um examinador que desconhecia o estado Multisprint®, utilizado para avaliar as velocidades de marcha usual e
rápida.
clínico dos voluntários em: grau I = provável diminuição do
espaço articular, com possível osteofitose; grau II = osteófitos
bem definidos e possível diminuição do espaço articular; grau Os voluntários iniciavam os testes ao comando “já” do
III = múltiplos osteófitos, clara diminuição do espaço articular examinador, momento em que era disparado o cronômetro.
e possíveis deformidades nas extremidades ósseas; grau IV A contagem de tempo era interrompida quando se alcançava
= grandes osteófitos, intensa diminuição do espaço articular, o último degrau com os dois pés, sempre olhando para frente.
esclerose grave e extremidades ósseas com deformidades A ordem dos testes foi aleatorizada por sorteio e os
definidas19. voluntários foram instruídos a utilizar um calçado usual, que
considerassem confortável e seguro. Foram realizadas três
Testes de capacidade funcional medidas para cada teste, com intervalo de 15 a 30 segundos
A capacidade funcional objetiva foi avaliada por quatro entre cada medida e 30 a 60 segundos entre cada tipo de
testes de velocidade: marcha usual, marcha rápida, subir teste. A coleta de dados foi realizada em uma única sessão,
escadas e descer escadas. entre às 14 e 17 horas.
Os testes de marcha foram realizados em um corredor
plano e sem obstáculos, com distância percorrida de 25 m. Análise estatística
Os três primeiros e os dois últimos metros foram desprezados Os dados foram analisados com o software SPSS –
como aceleração e desaceleração. Para medir a velocidade Stastitical Package for Social Sciences (versão 11.5). Além
foram utilizadas células fotoelétricas (Kit Multisprint®, Inserra das análises descritivas, foi utilizado o teste de correlação
Indústria Mecânica LTDA, Belo Horizonte, Minas Gerais). não-paramétrico com o coeficiente de Spearman para avaliar
A figura 1 mostra o Kit Multisprint®. Para familiarização, os a relação da intensidade de dor e gravidade radiográfica com
voluntários percorreram o corredor uma vez. Para o teste a capacidade funcional. Para a relação da idade e obesidade
de marcha usual, eram orientados a “caminhar em um ritmo com a capacidade funcional foi utilizado o teste paramétrico
normal”. Para a marcha rápida, a “caminhar o mais rápido com o coeficiente de correlação linear de Pearson. O nível
possível”, com o estímulo verbal “rápido, rápido”. de significância foi estabelecido como α = 0,05.
Os outros testes foram realizados em uma escada
comum de prédio, com corrimão. Para familiarização, os RESULTADOS
voluntários subiram e desceram os seis degraus uma vez.
Para os testes, eles foram instruídos a realizar a atividade “em Amostra
um ritmo normal, da maneira como tivessem costume de fazer A amostra foi constituída por 31 mulheres e 4 homens.
no dia-a-dia”, sendo permitido o uso do corrimão. Também A idade média foi de 51,65 ± 10,72 anos (mínimo de 29,00
era permitido realizar os testes colocando os dois pés em cada e máximo de 67,83). A altura média dos voluntários foi de
degrau, ou alternando o apoio com cada pé em um degrau. 1,57 ± 0,092 metros (m) e o peso médio foi de 102,30 ±
O mesmo padrão quanto ao uso do corrimão e o tipo de apoio 25,037 quilos (Kg). O IMC médio foi de 41,16 ± 8,37 kg/
eram utilizados durante todo o teste. m2.
216 Vasconcelos KSS, Dias JMD, Dias RC Rev. bras. fisioter.

Apenas um voluntário apresentava acometimento escadas (r= -0,308, p= 0,072), ao contrário da velocidade
unilateral da OA de joelho. O tempo médio de início dos de descer escadas (r= -0,346, p= 0,042).
sintomas da OA de joelho foi de 6,47 ± 4,16 anos. Para a intensidade de dor durante os testes, foram
observadas correlações inversas, estatisticamente significan-
Dor tes, com a velocidade de marcha usual (r= -0,351, p= 0,039),
A média do escore total da seção de dor do WOMAC de marcha rápida (r= -0,347, p= 0,041) e para subir escadas
foi de 42,85 ± 17,83. O item de dor caminhando no plano (r= -0,362, p= 0,033). Não houve correlação significante
apresentou valor médio de 33,57 ± 28,40 e o item de para o teste de descer escadas (r= -0,261, p= 0,130).
intensidade de dor subindo ou descendo escadas de 62,14
± 22,98. A tabela 1 apresenta os níveis médios de dor durante Relação entre capacidade funcional e outras variáveis
cada teste de capacidade funcional. Não foram encontradas correlações estatisticamente
significantes entre os resultados dos testes de velocidade e
as de gravidade radiográfica, idade, IMC e tempo dos
Tabela 1. Níveis de dor durante os testes de capacidade funcional.
sintomas da OA de joelho.

TESTE MÉDIA ± DP † DISCUSSÃO

Marcha usual 20,71 ± 25,35 Este estudo procurou compreender como a intensidade
de dor influencia a capacidade funcional de indivíduos obesos
Marcha rápida 26,42 ± 27,74 com OA de joelho. Ambas as variáveis são de grande relevância
Subir escadas 32,14 ± 24,68 clínica, uma vez que os principais alvos do tratamento para
as pessoas que sofrem com a OA de joelho constituem a
Descer escadas 37,14 ± 26,68 redução dos níveis de dor e a melhora na capacidade de

realização das atividades funcionais.
DP= desvio-padrão
Em termos clínicos e radiográficos, pode-se dizer que
a amostra apresentava um acometimento moderado da OA
Classificação Radiográfica de joelho. Os resultados quanto à intensidade de dor mostraram
Para a avaliação radiográfica da OA de joelho, obtivemos altos valores de desvio-padrão, demonstrando a grande variação
33 radiografias. Em caso de discrepância entre os dois joelhos deste sintoma entre indivíduos com OA de joelho. Os maiores
acometidos pela OA, foi considerado o resultado da articulação níveis de dor associados às atividades em escadas, tanto no
com maior grau. A maioria dos voluntários apresentou grau questionário WOMAC quanto na realização dos testes pode
II (11 voluntários) e III (13 voluntários). refletir o maior impacto na articulação do joelho que ocorre
durante estas atividades, em relação à marcha no plano20.
Capacidade Funcional Os resultados deste estudo demonstraram correlações
A velocidade média de marcha usual foi de 1,13 ± 0,21 estatisticamente significantes entre intensidade de dor e
m/s e a de marcha rápida de 1,53 ± 0,25 m/s. Para subir capacidade funcional, apesar de não ter sido controlada a
escadas, a velocidade média do grupo foi de 0,97 ± 0,29 variável referente ao uso de medicamentos. De maneira geral,
degraus/s e para descer escadas de 1,02 ± 0,35 degraus/s. foram encontradas correlações de fraca a moderada inten-
sidade, de forma semelhante aos outros estudos21,22.
Relação entre intensidade de dor e capacidade funcional O escore da seção de dor do questionário WOMAC
O escore total da seção de dor do WOMAC não apre- apresentou correlação significativa apenas com as atividades
sentou correlação estatisticamente significante com a velo- de marcha rápida e descer escadas. Provavelmente estas duas
cidade de marcha usual (r= - 0,180, p= 0,3), nem com a atividades representam maiores desafios à capacidade
velocidade de subir escadas (r= -0,32, p= 0,058). Para a funcional de obesos com OA de joelho. A marcha rápida, em
velocidade de marcha rápida e de descer escadas, foram especial, não era uma atividade comum no dia-a-dia dos
observadas correlações estatisticamente significantes e voluntários deste estudo.
inversas (r= -0,399, p= 0,018 e r= -0,379, p= 0,025, res- Já analisando o nível de dor no item caminhando no
pectivamente). plano, foram observadas correlações moderadas tanto com
A intensidade de dor no item caminhando no plano estava a velocidade de marcha usual quanto com a velocidade de
correlacionada inversamente com a velocidade de marcha marcha rápida. Estes resultados demonstram a especificidade
usual (r= -0,411, p= 0,014) e de marcha rápida (r= -0,591, da dor na OA de joelho e a aplicabilidade do questionário
p= 0,001), ambas estatisticamente significantes. Para o item WOMAC em analisá-la, considerando diferentes atividades
subindo ou descendo escadas, não houve correlação funcionais.
significante entre intensidade de dor e velocidade de subir
Vol. 10 No. 2, 2006 Dor e Capacidade Funcional em Obesos com OA de Joelho 217

Quanto ao nível de dor no item subindo ou descendo sentando, por exemplo, correlação entre o estado da articulação
escadas, houve correlação significativa apenas com a fêmuro-patelar e as amplitudes de flexão realizadas durante
velocidade de descer escadas, o que pode refletir o tipo de as atividades em escadas.
pergunta deste item, que agrega duas atividades: subir e descer Da mesma forma, o tempo dos sintomas, considerado
escadas. Para muitos dos voluntários, a atividade de descer isoladamente como um dos fatores de gravidade OA de joelho
escadas era especialmente mais dolorosa do que a de subir da doença, pode não representar a diversidade entre a
escadas. Ao responder o questionário, é provável que tenham progressão e a capacidade de adaptação entre os indivíduos
associado o maior nível de dor àquela atividade. com a doença.
Para a intensidade de dor durante os testes de capacidade Também é importante lembrar que o IMC representa
funcional, não houve correlação significativa apenas para a apenas uma alteração no equilíbrio energético do indivíduo,
velocidade de descer escadas, diferentemente da relação entre não permitindo análises de alterações metabólicas ou
a dor medida pelo questionário WOMAC e a velocidade para composições de massa gorda ou magra. É possível que estes
descer escadas. A variação da dor na OA de joelho de acordo fatores não englobados pelo IMC tenham maior repercussão
com a atividade funcional realizada pode explicar este na capacidade funcional de indivíduos obesos.
contraste. Ao responder um questionário sobre dor ao descer Este estudo apresentou considerações quanto a obesos
escadas, o voluntário vai se reportar às escadas que utiliza com OA de joelho e seus resultados não podem ser genera-
no dia-a-dia, que variam em largura, extensão, forma e altura lizados para outros grupos com esta doença. O tamanho
dos degraus, disponibilidade de corrimão, etc. Além disso, reduzido da amostra e os altos valores de desvio-padrão podem
as demandas de uma mesma atividade podem variar. Pode ter influenciado a ausência de relação entre algumas variáveis
ser preciso descer vários lances de degraus para alcançar e a capacidade funcional, achados que não podem ser tomados
rapidamente um ônibus, ou descer calmamente três degraus como definitivos. Além disso, a velocidade representa apenas
na porta de casa. Um teste de capacidade funcional é realizado um dos aspectos referentes à realização de atividades fun-
em um ambiente padronizado com demandas específicas, cionais como a marcha e o subir ou descer escadas. A ca-
que pode ou não ser mais desafiador que as atividades pacidade funcional humana é complexa e abrangente,
funcionais do dia-a-dia. É possível que o teste de descer envolvendo diversas outras características além do tempo
escadas deste estudo fosse menos desafiador que as atividades despendido para a realização de uma determinada atividade27.
funcionais dos voluntários, uma vez que era permitido que
o realizassem à sua maneira usual. A única demanda imposta CONCLUSÃO
era chegar ao final da escada. Não havia exigências de tempo,
performance ou outros objetivos. Alguns indivíduos relataram Pode-se concluir que a intensidade de dor está
que poderiam realizar os testes com mais velocidade ou sem relacionada à capacidade funcional objetiva de indivíduos
a ajuda do corrimão, se solicitados, apesar da possibilidade obesos com OA de joelho, de forma moderada. Como a dor,
de sentirem dor mais intensa. Isto demonstra uma capacidade isoladamente, não é capaz de explicar as alterações e prejuízos
de atender a maiores demandas funcionais, apesar de um funcionais associados à OA de joelho, sua redução permanece
estímulo negativo como a dor. Estudos demonstram que como objetivo clínico importante, mas confirmam-se as
indivíduos com OA de joelho, entre eles os obesos, são evidências de que outros recursos de tratamento são
capazes de modificar estratégias de movimento para reduzir necessários para minimizar os efeitos deletérios da OA de joelho
a dor e o estresse articular23,24. É possível, que, nas condições na capacidade funcional e potencializar o uso e a proteção
do estudo, os voluntários tenham se adaptado à tarefa de descer da articulação afetada.
escadas, reduzindo a dor e sua influência na velocidade com
que realizavam a atividade. Por outro lado, o teste de subir REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
escadas parece ter alcançado as demandas funcionais que
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provável o resultado quanto à ausência de correlação entre using the COPCORD approach. J Rheumatol 2004; 31 (3): 594-
a gravidade radiográfica e as medidas de capacidade funcional, 7.
como observado por outros estudos25,26. A incidência radi- 3. Felson DT, Anderson JJ, Naimark A, Walker AM, Meenan RF.
ográfica em perfil não é considerada como mandatória para Obesity and knee osteoarthritis: The Framingham Study. Ann
a classificação de gravidade radiográfica de Int Med 1988; 109:18-24.
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No. 2, 2006 Tens no Pós-Operatório de Cesariana 219
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 219-224
©Revista Brasileira de Fisioterapia

ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) NO


PÓS-OPERATÓRIO DE CESARIANA

MELO DE PAULA G 1, MOLINERO DE PAULA VR 1, DIAS RO 2, MATTEI K 2


1
Departamento de Fisioterapia, Universidade de Rio Verde, Rio Verde, GO
2
Fisioterapeuta
Correspondência para: Gustavo Melo de Paula, Rua Avelino Faria 477, apto 904, Centro, CEP 75900-000, Rio Verde, GO
Recebido: 23/05/2005 – Aceito: 16/11/2005

RESUMO
Objetivo: Verificar o efeito da aplicação da TENS no quadro álgico de pacientes submetidas à cirurgia de cesariana. Método:
Foi utilizada uma amostragem de 30 mulheres, voluntárias, com faixa etária entre 16 e 35 anos, em período imediato de pós-
operatório de cesariana, com a presença de dor abdominal e no baixo ventre, subdivididas em dois grupos A e B, contendo em
cada um deles 15 mulheres, submetidas, respectivamente, à eletroestimulação e ao tratamento placebo por eletroestimulação.
A rotina hospitalar de administração de fármacos não foi alterada e manteve-se similar em ambos os grupos. A corrente utilizada
foi a TENS convencional (F= 100Hz e T= 50μs), com pulso bipolar assimétrico, que foi aplicada através de quatro eletrodos de
borracha siliconada e carbonada, gel e fita adesiva para a fixação dos mesmos de forma peri-incisional em técnica bipolar com
dois pares de eletrodos cruzados, após cessar o efeito da anestesia, por 50 minutos, com intensidade em um nível sensorial forte.
A Escala Visual Analógica (EVA) foi utilizada para a quantificação da intensidade da dor antes e após a eletroestimulação. Para
a análise dos dados foi aplicado o teste t de Student, para amostras pareadas, com um nível de significância de 5%. Resultados:
Foi demonstrada uma diferença estatisticamente significante entre as intensidades da dor, antes e após a aplicação da TENS,
apenas nos indivíduos participantes do grupo A. Conclusão: Levando em consideração as condições experimentais deste estudo,
podemos concluir que a aplicação da TENS pode constituir mais um recurso usado em mulheres submetidas à cesariana.
Palavras-chave: TENS, eletroestimulação, cesariana.

ABSTRACT
Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS) Following Cesarean Surgery
Objective: To investigate the effect of transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS) on pain in patients who underwent
cesarean surgery. Method: A sample of 30 female volunteers aged between 16 and 35 years old was recruited. All were in the
immediate postoperative period following cesarean surgery, presenting abdominal and lower-womb pain. They were divided into
two groups of 15 women (A and B). Group A was treated with electrostimulation and Group B received placebo treatment. The
hospital’s drug administration routine was not altered and remained similar in the two groups. Conventional TENS current
(F= 100Hz and T= 50μs) with an asymmetrical bipolar pulse was applied through four siliconized and carbonized rubber electrodes,
using gel and adhesive tape to attach these electrodes around the incision. The application was bipolar, using two pairs of
crossed electrodes, at a high sensory level for 50 minutes, after interrupting the effect of the anesthesia. A visual analog scale
was used for quantifying pain intensity before and after electrostimulation. For the data analysis, Student’s t test for paired
samples was utilized with a significance level of 5%. Results: There was a statistically significant difference between the pain
intensities before and after TENS application, for the individuals in group A alone. Conclusion: For the experimental conditions
in this study, it can be concluded that TENS application may constitute an additional resource for use on women who have
undergone cesarean surgery.
Key words: TENS, electrostimulation, cesarean.
220 Melo de Paula G, Molinero de Paula VR, Dias RO, Mattei K Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO envolveram a implantação de osteossínteses, em reconstruções


musculares e tendinosas, bem como em cirurgias abdominais
e pélvicas, trata-se de uma terapêutica ainda desconhecida
A utilização de correntes elétricas terapêuticas constitui por alguns profissionais da saúde e que apresenta algumas
um dos vários recursos utilizados na fisioterapia. Uma vez divergências de opinião em relação ao seu poder analgésico5,
moduladas com parâmetros apropriados, estas correntes 6
.
podem atuar em diferentes condições, tais como: promover Hollinger9 realizou um estudo que envolveu 72 mulheres
analgesia, contrações musculares, melhoria do fluxo circu- submetidas à cirurgia de cesariana, sendo que 46 delas
latório local, drenagem de líquidos, tonificação ou relaxamento utilizaram a TENS convencional no período imediato de pós-
muscular, bem como incentivar a regeneração e a cicatrização operatório e as outras 26 não utilizaram. Foi verificado que
de diversos tecidos corporais1. não houve diferença entre os dois grupos no que diz respeito
Rushton2 relatou que uma das principais correntes ao período de permanência hospitalar, no entanto, verificou-
elétricas terapêuticas, utilizada em processos álgicos agudos se uma redução da administração de fármacos analgésicos
e crônicos, chamada TENS, cuja tradução em inglês refere- no grupo experimental.
se a uma estimulação elétrica nervosa transcutânea, é usada Smith et al.10 analisaram 18 mulheres no pós-parto de
com finalidade de influenciar e modular o processo de cesariana, divididas em dois grupos, submetidos à aplicação
neurocondução da dor e atuar sobre a liberação de opióides real e placebo da TENS. Os resultados demonstraram uma
endógenos a nível medular e da hipófise. redução significativa da dor superficial e ao redor da sutura
Este recurso tem sido usado extensivamente em locais cirúrgica apenas no grupo experimental. No entanto, não
de atendimento à saúde para o manejo sintomático de dor verificaram diferença significativa na redução da dor intra-
aguda e dor crônica de origem benigna e também no abdominal, profunda, a qual os autores atribuem ao acúmulo
atendimento paliativo da dor causada por doenças ósseas de gases e à redução do peristaltismo dos órgãos e vísceras
metastáticas e neoplasias3,4,5. abdominais, que costuma ocorrer como resultado dos fármacos
A TENS constitui uma modalidade terapêutica não que são administrados durante a cirurgia.
invasiva, de fácil manejo, que não apresenta efeitos colaterais Reynolds et al.11 estudaram dois grupos de 25 mulheres,
ou interações com medicamentos, sendo utilizada para o alívio submetidas à cesariana, e verificaram que em ambos os
da dor pela estimulação de nervos periféricos, utilizando-se grupos, sendo um deles submetido à aplicação da TENS
de eletrodos a nível da pele, estando baseada na liberação convencional e o outro controle, não houve diferença sig-
de opióides e na teoria do portão, ou também denominada nificativa no período de permanência hospitalar e na quantidade
teoria das comportas medulares de Melzack e Wall6 . de fármacos utilizados no pós-operatório. A quantidade, em
Os autores anteriormente citados propuseram que a média, de meperidina administrada via venosa no grupo
condução das informações de dor aguda e crônica, trans- experimental foi de 511mg em comparação com 456mg
mitidas, respectivamente, pelas fibras A-Delta e Tipo C, ambas utilizada no grupo controle.
de diâmetros estreitos, poderiam ser inibidas pela atividade Lantsev e Smirnov12 analisaram 210 mulheres no pós-
de fibras aferentes periféricas do tipo A-Beta, de diâmetro parto imediato de cesariana, nas quais se aplicou a TENS
largo, ou pela atividade de vias descendentes do cérebro convencional em 160 mulheres e as outras 50, utilizaram
relacionadas com a inibição da dor. apenas medicação analgésica endovenosa. Foi verificado efeito
O estímulo nervoso transcutâneo inclui a transmissão analgésico significativo em ambos os grupos, com uma
de corrente elétrica através da pele, o qual vai atuar sobre proporção de 77,5% de resultados bons e excelentes de
os mecanoceptores periféricos, e, a partir daí, ser conduzido analgesia nas pacientes do grupo submetido a TENS.
pela fibra A-Beta até um conjunto de interneurônios, que por Navarro e Pacheco13 realizaram um estudo que envolveu
sua vez atuam na inibição da retransmissão, a nível medular, 50 mulheres com dor pós-operatória de cesariana, divididas
dos estímulos dolorosos conduzidos pelas fibras A-Delta e em dois grupos. O primeiro foi submetido à aplicação da
Tipo C2,7. TENS convencional, e no segundo, foi utilizado, para controle
Sendo assim, os efeitos analgésicos relacionam-se com da dor, apenas 1 grama de dipirona via endovenosa,
um mecanismo de “fechamento da entrada” nas colunas considerada pelos autores como dose terapêutica. Os
dorsais da medula espinhal e pode estar associada também resultados demonstraram que em ambos os grupos houve
com a liberação de opióides endógenos, uma vez utilizando- a necessidade de administração adicional de medicação
se um nível de intensidade forte de eletroestimulação, a qual analgésica, mas no grupo que usou a TENS, verificou-se uma
vai induzir a liberação destas substâncias a nível encefálico maior redução da intensidade e do período de permanência
e medular2,8. da dor, bem como da quantidade de fármacos adicionalmente
Muito embora a TENS tenha sido estudada desde o final utilizados.
da década de 70, em condições inflamatórias, como método Lianza5 relatou que a dor pós-operatória em região
de analgesia na dor pós-operatória, em situações que abdominal causa um grande desconforto e costuma retardar
Vol. 10 No. 2, 2006 Tens no Pós-Operatório de Cesariana 221

o retorno dos indivíduos às suas atividades de vida diária, para facilitar o posicionamento dos eletrodos e ser efetuada
e sendo assim, os mesmos costumam fazer uso de recursos a aplicação da TENS.
farmacológicos e não farmacológicos apresentando cada um Durante a realização da eletroestimulação, efetuada
deles vantagens e desvantagens. sempre por um único observador, foram utilizados 4 eletrodos
Segundo Polden e Mantle14 a TENS pode ser utilizada de 15cm2 (5cm x 3cm) de borracha siliconada e carbonada,
como recurso coadjuvante na situação específica do trabalho gel condutor e fita adesiva para fixá-los de forma peri-
de parto, com o intuito de facilitar o processo de analgesia incisional em técnica bipolar cruzada na região de baixo ventre
durante e no pós-parto e minimizar o desconforto e as e um eletroestimulador KW modelo “Kinesis New
complicações para os pacientes. Microcontrolled®”, novo e devidamente calibrado pelo
Ferreira e Payno15 relataram ainda que este recurso fabricante.
terapêutico se constitui num método simples, prático, de baixo Foi utilizada a corrente TENS convencional (F= 100Hz
custo e de resolução rápida, sem, no entanto, promover efeitos e T= 50μs) com pulso bipolar assimétrico, aplicada após
colaterais para os pacientes, podendo favorecer ainda a redução cessar o efeito da anestesia, por 50 minutos, sendo o cálculo
e ou até mesmo a eliminação da administração de fármacos feito pelo contador de tempo do aparelho, com intensidade
no pós-parto. modulada em um nível sensorial forte, a qual era modificada
Levando em consideração as vantagens inerentes a constantemente para a manutenção de uma sensação de
analgesia que pode ser produzida pela TENS, baseada na formigamento intenso na região de baixo ventre das
fisiologia da dor a partir da teoria do controle de comportas parturientes, as quais foram esclarecidas previamente sobre
medulares e liberação de opióides endógenos, este estudo teve este processo.
como objetivo verificar o efeito da aplicação real e placebo Para os indivíduos do grupo B, foram adotados os
da TENS no quadro álgico de pacientes no pós-operatório mesmos procedimentos, diferindo-se apenas no que diz
de cesariana. respeito à regulagem da intensidade da corrente, ficando o
aparelho desligado a fim de se proceder com um efeito placebo,
CASUÍSTICA E MÉTODO sendo as parturientes esclarecidas que a sensação inerente
à aplicação deste recurso seria a presença ou ausência de uma
Para a realização deste estudo foi utilizada uma amos- sensação de formigamento na região estimulada.
tragem total de 30 voluntárias, com faixa etária entre 16 e Decorridos 30 minutos após cessar a eletroestimulação
35 anos, em período imediato de pós-operatório, cujos partos, com a TENS convencional no grupo A e TENS placebo no
do tipo cesariana, foram realizados na Maternidade Augusta grupo B, os pacientes novamente pontuavam a intensidade
Gomes Bastos, situada no município de Rio Verde-GO. de suas dores na EVA, tendo como referência a intensidade
Todas as participantes foram esclarecidas quanto aos inicialmente elegida por eles, que lhes eram repassadas pelo
procedimentos experimentais do estudo e após terem con- observador.
cordado em participar, assinaram um termo de consentimento Os procedimentos de rotina adotados pela equipe de
informado segundo resolução CNS 196/1996. saúde, incluindo a aplicação endovenosa de cerca de 400mg
Como critério de inclusão a parturiente deveria apresentar de meperidina, mantiveram-se similares em ambos os grupos.
uma intensidade de dor superior à zero na Escala Visual Com o objetivo de verificar a existência ou não de
Analógica (EVA), com escala numérica respondida verbalmente diferenças estatisticamente significantes entre as intensidades
(0-10) e ser primigesta ou ter sido submetida, no máximo, da dor inicial e após a aplicação de eletroestimulação nos
a dois partos anteriores, para que houvesse, realmente, uma indivíduos do grupo A e tratamento placebo nos indivíduos
situação de dor presente, pois segundo alguns autores16,17 a do grupo B, foi aplicado o teste t de Student com um nível
dor tende a ser minimizada e melhor suportada pelas pacientes, de significância de 5%.
à medida que ocorre mais de dois partos, e isto poderia
interferir nos resultados do estudo. RESULTADOS
A amostragem foi subdividida, aleatoriamente, em dois
grupos A e B. O grupo A constou de 15 mulheres, que foram A amostra constou de 30 mulheres em período imediato
submetidas à eletroestimulação por TENS, e o grupo B, de pós-operatório de cesariana com idade entre 16 e 35 anos,
também com 15 mulheres, foi submetido apenas a um no grupo A (média =2,7 e desvio-padrão (DP) =5,98 anos)
tratamento placebo por eletroestimulação. e no grupo B (média =23,13 e DP =3,66 anos), com peso
Antes da eletroestimulação dos indivíduos do grupo A, entre 60 e 130 Kilogramas (Kg), no grupo A (média =71,23
os mesmos elegiam um número representativo da intensidade e DP =18,86 Kg) e no grupo B (média =62,87 e DP =14,55
de sua dor na EVA, com escala numérica verbal (0-10), e logo Kg).
após, foram posicionados em decúbito dorsal no leito A identificação dos indivíduos participantes do estudo,
hospitalar, com exposição da área abdominal e de baixo ventre, a idade, o peso, o número de partos e o valor numérico
representativo da intensidade da dor, inicialmente, e após a
222 Melo de Paula G, Molinero de Paula VR, Dias RO, Mattei K Rev. bras. fisioter.

eletroestimulação e o tratamento placebo, respectivamente, quatorze mulheres, sendo que, em apenas uma delas, houve
nos grupos A e B, estão descritos nas tabelas 1 e 2. Para aumento da intensidade da dor, a qual nós acreditamos estar
comparar as intensidades da dor no início e após a aplicação relacionada com uma ansiedade intensa apresentada por esta
da TENS convencional e placebo nos grupos A e B, utilizou paciente, atribuída ao choro prolongado apresentado por ela,
- se o teste t de Student (p< 5%), o qual permitiu-nos verificar tanto no pré quanto no pós-parto, o que não foi verificado
uma redução significativa da intensidade da dor somente nos em nenhuma outra parturiente.
indivíduos do grupo A. Na modulação dos parâmetros da corrente utilizada
neste estudo, utilizamos uma modalidade de TENS conven-
DISCUSSÃO cional, com parâmetros de freqüência alta, baixa largura de
pulso e intensidade forte, para permitir uma analgesia rápida
Muito embora alguns autores9,10 não tenham verificado e mais efetiva nas dores agudas das nossas voluntárias,
efetividade da TENS na promoção de analgesia, em condições conforme descrito e aplicado em condições semelhantes às
álgicas diversas, incluindo àquela presente no pós-operatório nossas por Lantsen e Smirnov12 e Navarro e Pacheco13.
de cesariana, os nossos resultados corroboram com os de Em relação à colocação dos eletrodos, seguimos a
Lantsen e Smirnov12, Navarro e Pacheco13, Van de Spank18, metodologia de Navarro e Pacheco13 e os preceitos de Lianza5,
Mendoza et al.19 e Van der Ploeg20 os quais verificaram a o qual considera que a aplicação de uma corrente elétrica
efetividade da TENS, em associação ou não, com outros analgésica, com 4 eletrodos cruzados e dispersos nos
recursos farmacológicos de analgesia, aplicados em situação dermátomos de T11 e T12, situados na região de baixo ventre,
de assistência obstétrica. é mais efetiva para reduzir um quadro de dor presente nesta
É bem interessante observar que neste estudo foi região.
verificado, no grupo submetido à eletroestimulação placebo, Vale ressaltar que para o manejo e a quantificação da
uma regressão da dor em somente dois pacientes, a qual se dor das pacientes que participaram deste estudo foram
atribui à meperidina introduzida via endovenosa, sendo que utilizados recursos simples, sem custos adicionais, efetivos
em dez pacientes, a intensidade da dor manteve-se constante, e de fácil reprodutibilidade, tal qual a TENS, que se mostrou
e em três delas, foi aumentada. bem efetiva no alívio da dor pós-operatória de cesariana, sem
Já no grupo experimental, foi verificada uma regressão apresentar efeitos colaterais ou interação com os
e, até mesmo, eliminação total da intensidade da dor, em medicamentos administrados, e, a EVA verbal, com valores

Tabela 1. Dados relativos aos indivíduos do grupo A (tratado).

Identificação Idade (anos) Peso (Kg) Partos EVA inicial EVA após a

TENS

01 20 79 2 5 0
02 18 58 1 3 0
03 34 59 2 5 0
04 20 68 2 5 2
05 25 67 2 8 5
06 27 95 2 9 8
07 31 65,5 2 7 0
08 20 58 2 10 2
09 16 60 2 5 0
10 19 130 2 7 0
11 26 68 2 5 10
12 17 64 1 9 0
13 27 72 2 10 0
14 28 62 2 9 0
15 18 63 1 8 0
Vol. 10 No. 2, 2006 Tens no Pós-Operatório de Cesariana 223

Tabela 2. Dados relativos aos indivíduos do grupo B (placebo).

Identificação Idade (anos) Peso (Kg) Partos EVA inicial EVA após a

TENS

01 24 70,5 1 5 0
02 23 52 2 5 2
03 20 57 1 7 7
04 23 60 2 5 5
05 19 50 1 5 5
06 16 53 1 10 10
07 22 52 1 4 4
08 22 74 1 10 10
09 35 60 2 9 9
10 25 104 2 5 6
11 23 48 2 5 5
12 23 58 2 8 8
13 21 77 2 8 9
14 31 57 1 6 9
15 25 80 1 10 10

numéricos (0-10), a qual se constitui num método rápido, 3. Johnson MI. Transcutaneous electrical nerve stimulation (TENS)
direto e prático de avaliação da dor, sem sofrer influência de in the management of labour pain: the experience of over ten
thousand women. Ann British Journal of Midwifery 1997; 5:
barreiras lingüísticas e culturais, sem contar que os pacientes
400-5.
não ficam sobrecarregados em preencherem formulários
extensos ou complexos, contendo múltiplas perguntas. 4. Brosseau L, Milne S, Robinson V, Marchand S, Shea B, Wells G,
et al. Efficacy of the transcutaneous electrical nerve stimulation
for the treatment of chronic low back pain. Ann Spine 2002; 27
CONCLUSÃO (6): 596-603.
5. Lianza S. Medicina de reabilitação. 3a ed. Guanabara Koogan. Rio
Levando em consideração as condições experimentais de Janeiro. 2001. P. 200-4
deste estudo, podemos concluir que a utilização da TENS
6. Melzack R, Wall PD. Pain mechanisms: a new theory. Science
pode constituir mais um recurso analgésico, bastante viável,
Nov 1965; 150 (699): 971-9.
pela simplicidade, praticidade e viabilidade econômica, para
7. Greer KR, Hoyt JW. Pain: theory, anatomy, and physiology. Crit
o controle da dor em mulheres submetidas à cesariana.
Care Clin. 1990 Apr; 6 (2): 227-34.
Entretanto, continua havendo a necessidade de inves-
tigações sistematizadas, especialmente através de estudos 8. Ersek RA. Transcutaneous electrical neurostimulations: a new
therapeutic modality for controlling pain. Clin Orthop Relat
clínicos randomizados e controlados, que avaliem a efetividade Res. 1997 Oct; (128): 314-24.
isolada da TENS ou em associação a determinados fármacos,
9. Hollinger JL. Transcutaneous electrical nerve stimulation after
podendo ser aplicada também antecipadamente, durante e
cesarean birth. Ann Phys Ther 1986; 66 (1): 36-8.
no pós-parto.
10. Smith CM, Guralnick MS, Gelfand MM, Jeans ME. The effects
of transcutaneous electrical nerve stimulation on post-cesarean
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ISSN101809-9246
No. 2, 2006 Influência de Práticas Maternas no Desenvolvimento Motor de Lactentes 225
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 225-231
©Revista Brasileira de Fisioterapia

INFLUÊNCIA DE PRÁTICAS MATERNAS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR


DE LACTENTES DO 6º AO 12º MESES DE VIDA

SILVA PL1, SANTOS DCC 2, GONÇALVES VMG 3


1
Departamento de Fisioterapia, Centro Universitário Hermínio Ometto, Araras, SP
2
Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba,
Piracicaba, SP
3
Departamento de Neurologia, Centro de Investigações em Pediatria, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, SP
Correspondência para: Profa. Dra. Denise Castilho Cabrera Santos, Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia –
Bloco 07, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba (FACIS/UNIMEP), Rodovia do
Açúcar Km 156, CEP 13400-911, Piracicaba, SP, e-mail: dcsantose@unimep.br; paulalumy@uniararas.br
Recebido: 03/06/2005 – Aceito: 22/02/2006

RESUMO
Contexto: Práticas maternas são comportamentos específicos, por meio dos quais as mães/cuidadores desempenham suas tarefas
maternais. Estas práticas poderiam influenciar o desenvolvimento motor de lactentes. Objetivo: verificar a influência de práticas
maternas, utilizadas no cuidado diário de lactentes saudáveis, sobre seu desenvolvimento motor do 6o ao 12 o meses de vida.
Método: Selecionados 14 lactentes, nascidos a termo e saudáveis, avaliados longitudinalmente no 6º, 9º e 12º meses de vida,
utilizando-se a Alberta Infant Motor Scale. Em cada avaliação/idade a mãe respondeu a um questionário fechado sobre práticas,
predominantemente adotadas no cuidado diário do lactente durante os períodos de vigília. Considerou-se neste estudo a postura
predominantemente adotada pelo lactente, local preferencial de permanência e a forma de carregar o lactente no colo. Resultados:
No 9º mês de vida o desempenho motor dos lactentes foi influenciado positivamente pela predominância na postura de quatro
apoios, em relação à sentada e prono ou supino e pela permanência no chão em relação ao carrinho de bebê. No 12º mês houve
influência positiva da predominância na postura de quatro apoios e em pé. A postura predominante no 6º mês de vida e a forma
de carregar o lactente no 6º, 9º e 12º meses de vida não influenciaram o desempenho motor do grupo estudado. Conclusão: Os
resultados sugerem que as práticas que estimulam a adoção da postura de quatro apoios e a utilização do chão como local de
permanência influenciam positivamente o desenvolvimento motor de lactentes saudáveis a partir do 6º mês de vida.
Palavras-chave: desenvolvimento motor, lactente, ambiente, práticas maternas.

ABSTRACT

Influence of Child-Rearing Practices on Infants’ Motor Development Between the Sixth and Twelfth
Months of Life
Background: Child-rearing practices are defined as specific behavioral patterns used during maternal duties. These practices
could influence infants’ motor development. Objective: To verify the influence of daily child-rearing practices on the motor
development of healthy infants from their sixth to twelfth months of life. Method: Fourteen healthy full-term infants were selected
and longitudinally assessed at the ages of six, nine and twelve months using the Alberta Infant Motor Scale. At each assessment,
the mothers answered a closed questionnaire about their main daily childcare practices when the infant was awake. The infants’
predominant posture, the places where they were usually kept and how mothers carried the infants in their arms were evaluated.
Results: Motor performance at the ninth month was positively influenced by predominance of the hands-and-knees crawling
posture, in relation to sitting, prone or supine postures, and by staying on the floor in relation to being in a baby buggy. At the
twelfth month, it was positively influenced by hands-and-knees crawling and standing postures. The predominant posture at
the sixth month and the way of carrying the infants at six, nine and twelve months did not influence motor development in the
study group. Conclusions: The results suggest that practices that stimulate adoption of the hands-and-knees crawling posture,
and utilization of the floor as a place to keep the infant, positively influence the motor development of healthy infants from six
months of age onwards.
Key words: motor development, infant, environment, child-rearing practices.
226 Silva PL, Santos DCC, Gonçalves VMG Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO grupo de lactentes saudáveis, sobre seu desenvolvimento


motor do 6o ao 12o meses de vida.
O primeiro ano de vida da criança é caracterizado por Os resultados desse estudo contribuirão para o
grandes mudanças. O termo desenvolvimento, quando conhecimento das características da motricidade dos lactentes
aplicado à evolução da criança, significa constante observação estudados e das práticas maternas que os circundam. Mais
no crescimento das estruturas somáticas e aumento das especificamente pretende-se contribuir para a identificação
possibilidades individuais de agir sobre o ambiente1. O dos fatores ambientais, nomeadamente práticas maternas,
ambiente em que o lactente vive pode dar diferentes formatos que teriam efeito positivo no desempenho motor de lactentes
ou moldar aspectos do seu comportamento motor. O ambiente saudáveis.
positivo age como facilitador do desenvolvimento normal,
pois possibilita a exploração e interação com o meio.
MATERIAL E MÉTODOS
Entretanto, o ambiente desfavorável lentifica o ritmo de
desenvolvimento e restringe as possibilidades de aprendizado Sujeitos
da criança. Paralelamente aos fatores de risco biológicos, Participaram do estudo 14 lactentes saudáveis (seis do
as desvantagens ambientais podem influenciar negativamente sexo feminino e oito do sexo masculino); nascidos a termo
a evolução do desenvolvimento das crianças2,3. com idade gestacional média de 39 semanas (+ 1,11); com
Segundo De Vries as experiências culturais e ambientais peso médio ao nascimento de 2950,71 gramas (+ 356,12);
podem levar os resultados do desenvolvimento para uma ou índice de Apgar médio de 1o e 5o minutos 8,71 (+0,61) e 9,79
outra direção, inúmeras vezes durante os primeiros estágios (+0,58) respectivamente; acompanhados longitudinalmente
da vida, provavelmente promovendo ou inibindo taxas de no 6º, 9º e 12º meses de vida. Critérios de inclusão: gestação
maturação4. de feto único; nascidos a termo com idade gestacional (IG)
Estudos sobre o desenvolvimento motor têm encontrado entre 37-41 semanas 12; índice de Apgar maior ou igual a sete
diferenças nos padrões e épocas de surgimento de certas no 1’ e 5’ minuto de vida; sem intercorrências pré-natais ou
habilidades no primeiro ano de vida da criança. Estas diferenças neonatais. Critérios de exclusão: malformações congênitas
referem-se tanto a grupos culturais distintos como entre (musculoesqueléticas), sinais de comprometimento neuro-
lactentes do mesmo grupo cultural5,6,7,8,9. Possíveis explicações lógico (convulsão, infecções do sistema nervoso, asfixia
para este fato são as diferenças socioeconômicas e culturais neonatal, hemorragias do sistema nervoso), síndromes
entre os grupos estudados, que influenciam o ambiente e as genéticas, alterações sensoriais, portadores de infecções
práticas maternas utilizadas no cuidado de lactentes. congênitas (STORCH-HIV) diagnosticadas no período
Práticas maternas são definidas como comportamentos neonatal.
específicos, com objetivos dirigidos, por meio dos quais as
mães/cuidadores desempenham suas tarefas maternais10. Material
Dentre os fatores ambientais influenciadores do 1. Termo de consentimento livre e esclarecido. 2. Roteiro
desenvolvimento, as práticas maternas empregadas no cuidado de anamnese para dados neonatais, maternos e familiares.
diário de lactentes são uma constante em estudos que 3. Questionário de práticas maternas: foi desenvolvido para
comparam diferentes populações9. esta pesquisa um questionário fechado com questionamentos
Profissionais engajados na intervenção precoce se sobre as práticas predominantemente adotadas no cuidado
preocupam com a relação entre as idéias dos pais sobre diário do lactente durante os períodos de vigília. Considerou-
cuidados com a criança, seus atos e as repercussões no se neste estudo, como práticas maternas, a postura
desenvolvimento. Fisioterapeutas, que atuam com crianças, predominantemente adotada pelo lactente (categorias: prono,
dependem, em alguma extensão, dos pais para promover a supino, deitado de lado, sentado, quatro apoios ou em pé);
saúde e desenvolvimento de seus pacientes11. o local onde a criança permanece a maior parte do tempo
Embora seja evidente que práticas maternas permeiam (categorias: berço, bebê conforto, quadrado, chão, carrinho
e influenciam o desenvolvimento tanto de crianças saudáveis de bebê, cadeira de bebê, andador ou especificar outro local
como das crianças com alguma alteração, pouco se conhece não contemplado no questionário); e a forma predominante
sobre suas especificidades (comportamentos tipicamente de carregar o lactente no colo (na coleta desta informação
empregados no cuidado da criança) e suas influências. Desta levou-se em consideração a postura adotada pela mãe e bebê
forma a identificação dessas práticas e o conhecimento de quando solicitado às mesmas que mostrassem para a
sua influência sobre o desenvolvimento motor de lactentes pesquisadora como costumeiramente carregavam seus filhos
podem ser ferramentas valiosas na direção da promoção do no colo). 4. Ficha de registro da Alberta Infant Motor Scale
desenvolvimento infantil. Com base nesses pressupostos, (AIMS)13. A AIMS avalia o desenvolvimento motor de lactentes
o presente trabalho objetiva verificar a influência de práticas nas posições supino, prono, sentada e em pé. Devem ser
maternas, rotineiramente utilizadas no cuidado diário de um considerados na avaliação a descarga de peso, alinhamento
Vol. 10 No. 2, 2006 Influência de Práticas Maternas no Desenvolvimento Motor de Lactentes 227

postural e movimentos antigravitacionais. Cada item observado carregar no colo (variáveis independentes). A comparação
recebe um crédito, ao final da avaliação é realizada a soma das práticas maternas pesquisadas com o escore motor foi
dos itens observados em cada posição e calculado o escore realizada pelo teste de Mann-Whitney, na comparação de duas
total. Para aplicação foram utilizados brinquedos adequados categorias, e pelo teste de Kruskall-Wallis na comparação de
à faixa etária, colchonete e banco para apoio. três categorias. Adicionalmente esses resultados foram
expressos em gráficos tipos Box-Plot considerando a
Procedimentos distribuição do escore motor pelas categorias das práticas
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa maternas. O nível de significância adotado foi de 5%. O
da UNIMEP (no. 94/03), os pais que concordaram em programa estatístico utilizado foi o Statistical Package for
participar da pesquisa assinaram o termo de consentimento Social Sciencies for Personal Computer (SPSS-PC) versão
livre e esclarecido. Foram coletados, os dados neonatais, 11.0.
maternos e familiares dos lactentes e preenchido o questionário
sobre práticas maternas. Na aplicação deste questionário foi RESULTADOS
solicitado às mães que respondessem a alternativa que melhor
correspondesse à sua realidade e do lactente. Os lactentes apresentaram evolução significativa no
Os lactentes foram avaliados utilizando a AIMS no 6º, desempenho motor de acordo com o aumento da idade
9º e 12º meses de vida considerando a data de aniversário cronológica no decorrer do 6º, 9º e 12º meses de vida (Teste
com variação de 7 dias14. Considerando o intenso ritmo de de Friedman; p< 0,001). A diferença foi significante entre o
mudanças no desempenho motor no primeiro ano de vida, 6º e 9º mês, 9º e 12º mês e 6º e 12º mês de vida (Teste de
essa medida foi importante para assegurar que os participantes Wilcoxon; p< 0,001).
não apresentassem diferenças no desempenho motor por Foram identificadas como práticas utilizadas no cuidado
discrepância em suas idades cronológicas, como recomendado diário dos lactentes estudados as seguintes categorias
por Bayley14. As avaliações foram realizadas no domicílio dos relacionadas às idades:
sujeitos com exceção de dois lactentes de 6 meses avaliados Aos seis meses: as posturas predominantemente adotadas
na Clínica de Fisioterapia da UNIARARAS, sempre na presença foram prono ou supino por 35,7% e sentado por 64,3% dos
da mãe ou cuidador responsável. Antes de iniciar a avaliação, lactentes; os locais preferenciais de permanência foram chão
os lactentes eram despidos pelas mães e colocados sobre o para 28,6% e carrinho de bebê para 71,4% dos lactentes.
colchonete. Em seguida eram posicionados em prono, supino, Aos nove meses: as posturas predominantemente adotadas
sentado e em pé, salvo quando assumissem espontaneamente foram prono ou supino por 14,3%, sentado por 50% e quatro
as posturas, que então eram aleatórias. Durante a avaliação apoios e em pé por 35,7% dos lactentes; os locais preferenciais
as mães poderiam estimular seus filhos por meio de brinca- de permanência foram chão para 71,4% e carrinho de bebê
deiras e brinquedos de forma natural a fim de possibilitar as para 28,6% dos lactentes.
observações. As avaliações duravam cerca de 20 a 30 minutos. Aos 12 meses: as posturas predominantemente adotadas
foram sentada por 21,4%, quatro apoios e em pé por 42,9%
Análise Estatística e em pé por 35,7% dos lactentes; o local preferencial de
Primeiramente foi realizada estatística descritiva, para permanência foi o chão para 100% dos lactentes.
caracterização da amostra, considerando medidas de tendência Foram identificadas duas formas de carregar o bebê no
central (média) e de dispersão (desvio-padrão) para as colo durante o estudo: em pé segurado pelos glúteos com
variáveis contínuas, idade gestacional, peso ao nascer e índice apoio no ombro da mãe e sentado de frente ou de lado. Entre
de Apgar. A identificação das práticas maternas características o 6º e 9º meses de vida, 42,85% eram segurados em pé e
do grupo estudado foi expressa por meio de freqüências 57,15% sentados. Entre o 9o e o 12o meses 21, 43% eram
relativas, para as categorias de postura predominante, local segurados em pé e 78,57% sentados.
preferencial de permanência e forma de carregar o lactente As comparações das categorias de posturas predomi-
no colo. A análise do desempenho motor considerou como nante, local de permanência e forma de carregar no colo com
variável dependente o escore médio obtido pelo grupo na o desempenho motor dos lactentes no 6º, 9º e 12º meses de
avaliação pela AIMS e a idade dos lactentes como variável vida, estão apresentadas nas figuras 1 (A, B e C); 2 (A e B)
independente. Para análise da evolução do escore médio dos e 3 (A e B).
lactentes no 6º, 9º e 12º meses de vida foi utilizado o teste As Figuras 1A, 1B e 1C indicam que o desempenho
de Friedman e para comparação mês a mês foi utilizado o motor do grupo estudado foi positivamente influenciado pela
teste de Wilcoxon. Na análise da influência das práticas adoção predominante de posturas que representam estágios
maternas identificadas sobre o desempenho motor considerou- motores mais evoluídos para cada uma das idades
se o escore médio obtido na AIMS (aos seis, nove e doze pesquisadas. Desta forma, embora sem significância estatística,
meses) como variável dependente, relacionado às categorias os lactentes que aos seis meses de idade adotavam a postura
de postura predominante, local de permanência e forma de sentada apresentaram melhor desempenho motor do que os
228 Silva PL, Santos DCC, Gonçalves VMG Rev. bras. fisioter.

que permaneciam em supino ou prono (Fig. 1A; p= 0,134). 26

Escore AMS - 6 meses


A adoção preferencial da postura de quatro apoios se associou
significativamente ao melhor desempenho motor aos nove
meses de vida, comparada às posturas sentado e supino ou 24
prono (Fig. 1B; p= 0,012). Aos 12 meses a preferência das
posturas em pé ou quatro apoios e em pé também esteve 22
associada ao melhor desempenho motor. Destaca-se que o
máximo valor de escore obtido pelos lactentes que adotavam
20
a postura sentada esteve abaixo do menor escore obtido pelos
que preferiam as posturas em pé ou quatro apoios e em pé
(Fig. 1C; p= 0,018). prono/supino sentado
As Figuras 2A e 2B indicam que a adoção do chão como
local de permanência preferencial do lactente poderia influenciar 1 A - Postura predominante - 6 meses
positivamente seu desempenho motor. Embora sem signi- Mann - Whitney; p= 0,134
ficância estatística, a figura 2A mostra uma tendência dos
lactentes que permaneciam no chão de apresentarem escores
mais altos do que os que utilizavam preferencialmente o
carrinho de bebê, aos seis meses de vida. Aos nove meses Escore AMS - 9 meses 50
essa tendência se confirma e os lactentes que permanecem
no chão apresentam escores significativamente mais elevados 45
que os que utilizam o carrinho de bebê. Nota-se que a mediana
do escore do grupo “chão” está acima do maior valor de
escore obtido pelo grupo “carrinho de bebê” (Fig. 2B; p= 40
0,046). Com 12 meses de vida todos lactentes estudados
permaneciam no chão, portanto, a comparação do local de 35
permanência e desempenho motor não foi realizada.
As Figuras 3A e 3B indicam que não houve influência
da maneira de carregar os lactentes no colo, identificadas 30
neste estudo, e o desempenho motor dos seis aos nove meses
prono/supino sentado quatro apoios
e dos nove aos doze meses de vida. A figura 3A mostra que
os lactentes carregados sentados de frente/lado apresentaram 1B Postura predominante - 9 meses
o valor mediano do escore abaixo do percentil 25 do grupo Kruskall - Wallis; p= 0,012
de lactentes carregados em pé sobre os ombros. Entretanto,
o percentil 75 foi praticamente igual nos dois grupos (p=
0,363). A figura 3B mostra uma tendência dos lactentes que
Escore AMS - 12 meses

* 11
eram carregados sentados de frente/lado em apresentar
escores mais altos, porém as medianas coincidem e não há 55
diferença estatisticamente significante (p= 0,473).
50
DISCUSSÃO

A análise da evolução do desempenho motor e os dados 45


descritivos das características neonatais do grupo estudado
revelam lactentes com desenvolvimento considerado típico,
apresentando diferenças estatisticamente significante entre sentado quatro apoios/ em pé
as idades estudadas. Estes resultados espelham os critérios em pé
de seleção da amostra empregados neste estudo, os quais 1C Postura predominante - 12 meses
buscavam um grupo de estudo saudável, livre de indicadores Kruskall - Wallis; p= 0,018
de risco biológicos e com potencial para apresentar
normalidade em seu desempenho motor. A partir da
caracterização deste grupo, com desempenho motor típico Figura 1. Comparação do desempenho motor e a postura predominante
ou em franca evolução, pôde-se analisar e entender os aos seis meses (1A); Comparação do desempenho motor e a postura
predominante aos nove meses (1B); Comparação do desempenho motor
resultados do desempenho motor avaliado no 6º, 9º e 12º
e a postura predominante aos 12 meses (1C).
meses de vida relacionando-os ás diferentes categorias de
práticas maternas identificadas neste estudo.
Vol. 10 No. 2, 2006 Influência de Práticas Maternas no Desenvolvimento Motor de Lactentes 229

26 50
Escore AMS - 6 meses

Escore AMS - 9 meses


24 45

22 40

20 35

carrinho chão 30

em pé sobre os sentado de frente ou


2 A Local de permanência - 6 meses ombros de lado
Mann - Whitney; p= 0,312
3 A Forma de carregar no colo de 6-9 meses
50 Mann - Whitney; p= 0,363
Escore AMS - 9 meses

45 Escore AMS - 12 meses

40 55
35
50
30
carrinho chão
45
9
2 B Local de permanência - 9 meses
Mann - Whitney; p= 0,046
em pé sobre os sentado de frente ou
Figura 2. Comparação do desempenho motor e o local de permanência ombros de lado
aos seis meses (2A); Comparação do desempenho motor e o local de
permanência aos nove meses (2B). 3 B Forma de carregar no colo de 9-12 meses
Mann - Whitney; p= 0,473

Figura 3. Comparação do desempenho motor e o forma de carregar o


Diversas pesquisas relatam que as diferenças no
lactente no colo do 6o ao 9o mês (3A); Comparação do desempenho motor
desenvolvimento motor de lactentes podem surgir na presença e o forma de carregar o lactente no colo do 9o ao 12o mês (3B).
de variações nas práticas maternas, por sua vez as práticas
maternas se modificam de acordo com o costume ou cultura
de cada local15,16,3,8. O desenvolvimento motor constitui o
resultado do aprendizado e das habilidades adquiridas na precocidade nas habilidades de sentar sozinho e ficar em pé
execução dos atos. A oportunidade para a prática é dada pelos sem apoio e atraso nas habilidades de levantar a cabeça e
pais ou cuidadores do lactente, através de hábitos culturais17, engatinhar, comparados aos americanos. O costume materno
do ambiente onde está inserida ou do treino específico de em estimular a postura sentada favorece o ganho motor nesta
alguma habilidade6. postura, e a falta de costume em posicionar o lactente em
Lactentes nortes americanos gastam mais tempo na prono pode atrasar as habilidades de apoio nas mãos e
posição prono comparados aos lactentes britânicos, que são engatinhar19.
colocados mais freqüentemente na posição supina para De maneira geral os resultados desse estudo indicam
brincar. O tempo gasto em uma determinada postura influência que as práticas maternas pesquisadas influenciaram o
positivamente a aquisição dos ganhos motores naquela postura, desempenho motor deste grupo de lactentes a partir do 9o
enquanto as habilidades em outras posturas podem ocorrer mês de vida. Os resultados encontrados em relação à postura
ligeiramente mais tarde18. Lactentes africanos demonstram predominante do lactente sugerem que as experiências e o
230 Silva PL, Santos DCC, Gonçalves VMG Rev. bras. fisioter.

tempo gasto em uma posição podem influenciar a seqüência de vida. Foram observadas diferenças no 3º, 4º e 5º mês de
e época da aquisição de certas habilidades motoras. Foi vida em favor dos americanos nas habilidades de sentar e
característica do grupo estudado a predominância da adoção de preensão, provavelmente por variações no ambiente e nas
da postura sentada aos seis e da postura de quatro apoios práticas maternas distintas8,9. Lactentes brasileiros apresentaram
e/ou em pé aos nove e 12 meses. desempenho inferior aos canadenses durante o primeiro
Destaca-se que no 6º mês de vida não é esperado um semestre de vida e uma possível explicação para o baixo
controle postural suficiente para permanência na postura desempenho seria a falta de costume materno das brasileiras
sentada sem apoio, o que possivelmente explica o desempenho em posicionar seus filhos em prono20,21.
semelhante apresentado entre os lactentes que permaneciam Não foi encontrada diferença significativa relacionando
em prono/supino e sentado (Fig. 1A). Dos cinco lactentes o escore motor e a forma de carregar lactentes no colo. No
que permaneciam deitados, apenas dois permaneciam em entanto, a variável “tempo carregado” não foi controlada neste
prono. A falta de costume materno de posicionar o lactente estudo. Possivelmente o tempo e freqüência de permanência
em prono foi relatada em estudos anteriores20,21. Uma das no colo sejam mais importantes para o desempenho motor
possíveis razões para a não utilização da posição prono é a do que a forma de carregar o lactente, principalmente após
síndrome da morte súbita do lactente22,23. o 6º mês de vida6.
A variável postura predominante influenciou o
desempenho motor dos lactentes estudados no 9º e 12º meses CONCLUSÃO
de vida. No 9º mês foi considerada positiva para o desempenho
motor a postura de quatro apoios (Fig. 1B) e no 12º mês a Os resultados sugerem que as práticas que estimulam
postura de quatro apoios e em pé (Fig. 1C). Este resultado a adoção da postura de quatro apoios e a utilização do chão
coincide com o predomínio nos lactentes da adoção do chão como local de permanência influenciam positivamente o
como local preferencial de permanência (Fig. 2B). desenvolvimento motor de lactentes. No entanto essas práticas
Possivelmente no 9º mês de vida as mães tenham uma atitude e suas influências positivas só foram evidentes a partir do
menos protetora com seus lactentes e estes por sua vez, pela 9º mês de vida dos lactentes estudados. Estes resultados
própria expressão de seu desenvolvimento, buscam espaço trazem o desafio de conseguir a adesão das famílias, às
para se moverem e dificilmente se deixam restringir por freqüentes orientações sobre a utilização do chão como espaço
carrinhos de bebê ou outro equipamento, por períodos longos enriquecedor para o desenvolvimento de lactentes com
de tempo. Desta forma o desempenho motor dos lactentes alterações no desenvolvimento motor.
que utilizavam o chão como espaço para brincar, manifestou
desenvolvimento motor além dos que utilizavam o carrinho
como local de permanência. No carrinho uma quantidade REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
menor de estímulos é oferecida, além da restrição visual e
movimentação, o lactente pode apoiar-se na parte posterior 1. Vayer P, Roicin C. Psicologia atual e desenvolvimento da criança.
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(2): 138-47.
feedback e feedforward, essenciais para aquisição das
habilidades motoras3. Manter lactentes a maior parte do tempo 3. Barros KMF T, Fragoso AGC, Oliveira ALB, Oliveira ALB,
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No. 2, 2006 Marcha com Obstáculos em Idosos com Parkinson: Levodopa 233
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 233-239
©Revista Brasileira de Fisioterapia

PARÂMETROS CINEMÁTICOS DA MARCHA COM OBSTÁCULOS EM


IDOSOS COM DOENÇA DE PARKINSON, COM E SEM EFEITO DA
LEVODOPA: UM ESTUDO PILOTO

PIERUCCINI-FARIA F 1, MENUCHI MRTP 1, VITÓRIO R 1, GOBBI LTB 1, STELLA F 2, GOBBI S 1


1
Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho -
UNESP, Rio Claro, SP
2
Depto de Educação, Instituto de Biociências, UNESP, Rio Claro, SP
Correspondência para: Lilian Teresa Bucken Gobbi, Av. 5-A, 1225, Vila Bela, CEP13506-795, Rio Claro, SP, e-mail:
ltbgobbi@rc.unesp.br
Recebido: 04/08/2005 – Aceito: 14/12/2005

RESUMO
Contexto: Os efeitos da levodopa na marcha de pacientes com Doença de Parkinson (DP) em terrenos desobstruídos são
conhecidos, mas pouco se conhece sobre seus efeitos na marcha com obstáculos. Objetivo: Este estudo objetivou descrever,
por meio de ferramenta cinemática, o comportamento locomotor de pacientes com DP e verificar as estratégias locomotoras, sem
e sob o efeito da levodopa, durante a ultrapassagem de obstáculos de diferentes alturas. Método: Cinco pacientes com DP
(Hoehn e Yahr= 2±0; idade= 68,4±5,7 anos) percorreram, andando, 10m e ultrapassaram um de dois obstáculos (alto= metade
da altura do joelho e baixo= altura do tornozelo) posicionado no meio da passarela em duas sessões (em jejum e no pico de ação
do medicamento). As seguintes variáveis foram coletadas e analisadas: distância horizontal pé-obstáculo (DHPO), distância vertical
pé-obstáculo (DVPO); distância horizontal obstáculo-pé (DHOP) e velocidades médias, horizontais e verticais, nas fases de
abordagem e aterrissagem (respectivamente, VHAO,VVAO; VHDO,VVDO). Resultados: A ANOVA, por tentativa, revelou efeito
principal de obstáculo para DVPO (F1,49=15,33; p< 0,001), para VVAO (F1,49= 82,184; p< 0,001), para VHDO (F1,49= 15,33; p< 0,001)
e para VVDO (F1,49= 31,30; p< 0,001); e efeito principal de medicamento para DVPO (F1,49= 6,66; p< 0,013) e para VVAO (F1,49=
10,174; p< 0,002). Conclusões: Pacientes foram mais perturbados pelo obstáculo alto. Os sintomas da DP (bradicinesia e
hipocinesia) foram diminuídos com o medicamento, evidenciando aumento geral da velocidade da perna de abordagem e da
margem de segurança sobre os obstáculos. Pacientes com DP, independente da condição de medicamento, apresentaram um
comportamento que garantiu segurança e estabilidade na marcha.
Palavras-chave: Doença de Parkinson, marcha, levodopa, idoso, marcha com obstáculo

ABSTRACT
Kinematic Parameters for Gait with Obstacles Among Elderly Patients with Parkinson’s Disease, with
and without Levodopa: a Pilot Study
Background: The effect of levodopa on the gait of Parkinson’s disease (PD) patients over unobstructed terrain is known, but
little is known about its effect on gait over obstacles. Objective: To describe the locomotor behavior of PD patients by means
of kinematic tools and to verify their locomotor strategies during obstacle avoidance at different heights, with and without the
effect of levodopa. Method: Five PD patients (Hoehn & Yahr= 2 ± 0; age= 68.4 ± 5.7 years old) walked 10m and stepped over
one of two obstacles (high obstacle at half of knee height; low obstacle at ankle height) in two separate sessions: without
medication (fasting) and at the peak of levodopa action. The following variables were collected and analyzed: foot placement
prior to the obstacle (FPPO), leading toe clearance (LTCL), foot placement after the obstacle (FPAO) and horizontal and vertical
mean velocities in the approach and landing phases (respectively, HVAP, VVAP, HVLP and VVLP). Results: ANOVA by trials
revealed that the main effects from the obstacle were on LTCL (F1.49= 15.33; p< 0.001), VVAP (F1.49= 82.184; p< 0.001), HVLP (F1.49=
15.33; p< 0.001) and VVLP (F1.49= 31.30; p< 0.001). Medication had its main effects on LTCL (F1.49= 6.66; p< 0.013) and VVAP (F1.49=
10.174; p< 0.002). Conclusion: Patients were more disturbed by the high obstacle. The PD symptoms (bradykinesia and hypoki-
nesia) decreased under medication, as shown by increases in leading limb velocity and the safety margin over the obstacles.
The patients presented gait patterns that ensured safety and stability, regardless of whether medicated or not.
Key words: Parkinson’s disease, gait, levodopa, elderly, gait with obstacle.
234 Pieruccini-Faria F, Menuchi MRTP, Vitório R, Gobbi LTB, Stella F, Gobbi S Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODO

A doença de Parkinson (DP) ocorre devido à degeneração Participantes: 5 pacientes com DP participaram deste
progressiva de neurônios da pars compacta da substância estudo. Nenhum era institucionalizado e todos faziam atividade
negra1, que é capaz de produzir o neurotransmissor dopamina. física de leve intensidade (caminhadas, exercícios terapêuticos
Apesar das causas não totalmente esclarecidas, sabe-se que na água e alongamento) e apresentavam locomoção
fatores genéticos e/ou ambientais podem provocar a independente na realização de atividades da vida diária. O
neurodegeneração seletiva dos neurônios que fazem conexões participante B obteve 40 pontos na UPDRS e duração da
subcortico-corticais, desencadeando a DP2. A lentidão doença de 17 anos, entretanto, era ativo e independente. O
(bradicinesia) e a diminuição da amplitude movimentos diagnóstico inicial da doença foi realizado por uma médica
(hipocinesia) podem ser provocadas pela perda da capacidade neurologista. Ao chegarem ao laboratório, os participantes
do córtex motor em gerar impulsos motores adequados para foram reavaliados, clinicamente, por um neuropsiquiatra
atingir a meta que foi planejada3. experiente e capacitado para determinar as condições motoras
O uso da dopamina exógena permite que o paciente gerais por meio da Unified Parkinson’s Disease Rating Scale
acometido pela DP normalize parte de sua performance (UPDRS13, Subescala III-Motora; Versão adaptada pela equipe
motora, por aliviar alguns dos sintomas (tremores involun- do Ambulatório de Distúrbios do Movimento/Doença de
tários, rigidez muscular, acinesia, bradicinesia, hipocinesia Parkinson, da FCM/Unicamp, sem data). Como critérios de
e alterações posturais, entre outros). De forma geral, este inclusão, foram considerados: idade igual ou superior a 60
agente melhora, entre outros, o desempenho motor da marcha, anos, os estágios 1 a 3 da Escala de Hoehn e Yahr14 (Versão
enquanto que outros sintomas podem não ser aliviados4-6. adaptada empregada por Schenkman et al.15) e a condição
Na marcha em superfície regular, a Levodopa tem desen- motora/capacidade funcional observada por meio da UPDRS,
cadeado, por exemplo, aumento na amplitude das passadas Subescala III–Motora. A Tabela 1 sumariza as características
atribuído à melhora na modulação muscular para a produção dos participantes.
de força7. Procedimentos Experimentais: A coleta dos dados dos
Neste contexto, pouco é conhecido sobre a interação participantes foi feita pela manhã e em duas etapas: na
entre os efeitos do medicamento e as respostas locomotoras primeira, o paciente deveria estar em jejum do remédio (pela
na marcha com obstáculos, uma tarefa locomotora de maior planilha de ingestão do medicamento de cada paciente, ocorreu
complexidade. Considerando que o desenvolvimento do jejum da Levodopa por 12 horas); na segunda etapa, uma
sistema locomotor ocorre por meio do acoplamento entre hora após a ingestão do medicamento (pico de efeito do
informação sensorial e modulação do sistema efetor8,9, qualquer remédio), o mesmo protocolo foi repetido. O jejum da
possível degeneração dos componentes ou subsistemas Levodopa foi controlado a partir das informações sobre os
comprometeria a ação de ultrapassar obstáculo9,10. Na marcha horários diários de ingestão (última dose do dia às 20:00 horas)
com obstáculo, a perna de abordagem realiza a ação primeiro e confirmado pelos participantes no horário da coleta (8:00
e, normalmente, está posicionada mais distante do obstáculo horas). Todos os procedimentos experimentais seguiram as
antes de perder o contato com o solo. O pé da perna de normas da Declaração de Helsinki e foram aprovados pelo
abordagem é elevado à frente pela flexão simultânea do quadril Comitê de Ética em Pesquisa local.
e do joelho. No momento da ultrapassagem, o centro de massa Cada participante, após assinar o termo de consen-
está se deslocando em direção ao novo ponto de apoio, ou timento livre e esclarecido, foi convidado a realizar o seguinte
seja, movimenta-se de uma base estável para uma posição protocolo: 1) Medidas antropométricas. A massa corporal
ainda instável e próxima do obstáculo10-12. e a estatura foram coletadas usando as técnicas descritas por
Diante do exposto, questionou-se: como idosos por- Alvarez e Pavan16. As alturas do obstáculo foram normalizadas
tadores da DP realizam a ultrapassagem da perna de abor- de acordo com as alturas do joelho e do tornozelo do membro
dagem sobre obstáculos de diferentes alturas? Quais inferior direito (MID), membro que ultrapassou primeiro o
parâmetros espaciais e temporais da perna de abordagem obstáculo, para minimizar os efeitos antropométricos. 2)
seriam modificados quando sob efeito do medicamento? Para Passarela e Obstáculo: A passarela consiste de um corredor
responder a estas questões, os objetivos do presente estudo livre com um carpete de espuma de borracha (10 x 1,42 x
foram: 1) verificar as estratégias motoras utilizadas pelos 0,003m). A figura 1 ilustra a situação experimental. Duas
pacientes durante a marcha com obstáculos com e sem o alturas de obstáculo (baixo = altura do tornozelo e alto =
efeito da levodopa; 2) caracterizar cinematicamente o com- metade da altura do joelho) foram selecionadas e variaram
portamento motor dos indivíduos na mesma atividade motora. para cada paciente. Os obstáculos, de eucadur liso (marca
Eucatex), têm 60cm de largura e possuem um marcador
Vol. 10 No. 2, 2006 Marcha com Obstáculos em Idosos com Parkinson: Levodopa 235

Tabela 1. Características individuais dos participantes (UPDRS III: Unified Parkinson’s Disease Rating Scale – Subescala motora III; D.P.: desvio-
padrão). Todos os participantes encontravam-se no estágio 2 da escala de H&Y.

Idade Gênero Peso Altura UPDRS Tempo da doença Dosagem de L-dopa


Participantes
(anos) (kg) (cm) III (anos) (mg/dia)

A 67 M 68 172 11 2 125

B 60 M 53 163 40 17 500

C 72 F 46 154 15 3 125

D 75 M 72,4 166 18 4 375

E 68 F 74 156 19 4 375

Média 68,4 62,7 162,2 20,6 6

D.P 5,7 12,5 7,4 11,3 5,5


Obs: Todos os participantes apresentaram locomoção independente durante as tentativas e para as atividades
de vida diária, incluindo o participante B apesar dos valores de UPDRS e dos anos com a doença.

passivo fixado na base. 3) Tarefa: cada participante foi Matworks Inc., 1998). A calibração do espaço bidimensional,
instruído a percorrer andando a passarela, na velocidade registrado pela câmera, foi realizada por meio da filmagem
preferida, ultrapassar o obstáculo (posicionado no meio da de um objeto em forma de cruz, com medidas conhecidas
passarela) e continuar andando até o final. Tentativas iniciais de uma extremidade a outra (1m por 1m), posicionada no
sem a presença do obstáculo foram realizadas para ajustar lugar do obstáculo antes que o participante realizasse as
o ponto de partida de forma a garantir que sempre o MID ultrapassagens. Os pontos afixados em cada extremidade deste
ultrapassasse primeiro o obstáculo (perna de abordagem). objeto permitiram delimitar o espaço bidimensional a partir
Este procedimento garantiu precisão na medição, evitando de referências na forma de sistema de coordenadas dentro
a oclusão de alguns marcadores durante a realização da tarefa. do plano cartesiano e, assim, o Dvideow pôde calibrar o
Cada etapa do protocolo experimental consistiu de 10 ten- espaço percorrido pelos participantes na filmagem e reconstruí-
tativas, sendo 5 para cada altura de obstáculo, filmadas no lo em uma matriz bidimensional. Os testes de acurácia e
plano sagital direito do participante. A ordem de apresentação precisão, seguindo os conceitos de Vuolo17, apresentaram
das tentativas foi totalmente randomizada por meio do pro- valores de 0,7 cm e 0,38 cm, respectivamente. Todas as
grama rand.exe (Gait and Posture Lab, University of Waterloo, variáveis dependentes foram coletadas e calculadas a partir
2000). 4) Coleta e análise dos dados: Para registro cinemático da perda de contato do MID com o solo antes do obstáculo
dos dados, 3 marcadores passivos (esferas de isopor de 1,5cm até o contato inicial do pé com o solo após a ultrapassagem.
de diâmetro) foram afixados com velcro, nos seguintes pontos Assim, as variáveis dependentes selecionadas foram: a distância
anatômicos: quinto metatarso, face lateral do calcâneo e horizontal pé-obstáculo antes da ultrapassagem (DHPO:
maléolo lateral. As imagens foram registradas a uma freqüência distância entre a marca do quinto metatarso no momento da
de 60 Hz por uma câmera analógica (marca Panasonic, modelo perda do contato com o solo e o obstáculo); distância ho-
NV-M 9000), gerando dados cinemáticos em 2D. A digita- rizontal obstáculo-pé (DHOP: distância entre o obstáculo e
lização das imagens foi realizada por uma placa de captura a marca do quinto metatarso ao entrar em contato com o solo
de vídeo (marca Pinnacle, modelo Studio DV), acoplada a após a ultrapassagem); variabilidade da DHPO e DHOP
um microcomputador. O procedimento fotogramétrico foi (DHPO_var e DHOP_var: médias dos resultados da trans-
realizado pelo software Digital Vídeo for Windows (Dvideow, formação logarítmica dos desvios-padrão dessas duas va-
Laboratório de Instrumentação em Biomecânica–Unicamp, riáveis, respectivamente); distância vertical pé-obstáculo
1998). Para cálculo das variáveis dependentes e produção (DVPO: distância entre a marca do quinto metatarso e o
de gráficos, os dados foram filtrados pelo filtro digital de obstáculo, no momento em que o pé está sobre o mesmo);
Butterworth de segunda ordem a 5 Hz em rotina Matlab (The e velocidades médias horizontais e verticais em duas fases:
236 Pieruccini-Faria F, Menuchi MRTP, Vitório R, Gobbi LTB, Stella F, Gobbi S Rev. bras. fisioter.

a) abordagem: desde o momento em que o pé deixa o solo quando sob efeito do medicamento (F1,49=6,66; p< 0,013),
até o momento em que a marca do quinto metatarso encontra- independente da altura do obstáculo. Não houve interação
se sobre o obstáculo (VHAO e VVAO, respectivamente entre os fatores para a DVPO. As ANOVAs não revelaram
horizontal e vertical); b) aterrissagem: do momento em que efeitos ou interações entre obstáculo e medicamento para
a marca do quinto metatarso encontra-se sobre o obstáculo DHPO normalizado (respectivamente, F1,49= 0,033; p< 0,856;
até o momento em que ela toca o solo depois do obstáculo F1,49= 0,032; p< 0,571) e para DHOP normalizado (respec-
(VHDO e VVDO, respectivamente horizontal e vertical). A tivamente, F1,49= 0,008; p< 0,929; F1,49= 0,870; p< 0,355).
DHPO e a DHOP foram divididas pelo comprimento do MID

Figura 1. Ilustração da situação experimental do laboratório. A região sombreada delimita a área de captura dos eventos que foram gravados pela
filmadora. As pegadas destacadas pela borda mostram a posição do pé direito em relação ao obstáculo, região onde foram calculadas as variáveis.

para minimizar os efeitos antropométricos, normalizando- Estes resultados evidenciam que não há alteração do padrão
as. locomotor em função do obstáculo ou da condição de
Análise Estatística: Devido à baixa qualidade de algumas medicamento. Entretanto, a análise da variabilidade (trans-
imagens, por problemas no travamento do foco da câmera, formação logarítmica do desvio-padrão) mostrou que os
as análises estatísticas foram realizadas com 53 tentativas, pacientes foram mais estáveis quando sob efeito do medi-
sendo 28 na fase de jejum do medicamento e 25 na fase do camento, tanto antes (DHPO normalizado, F 1,49= 4,323;
pico da ação do medicamento. Foram conduzidas Análises p< 0,043) como depois do obstáculo (DHOP normalizado,
de Variância, por tentativa, tendo como fatores obstáculo F1,49= 3,99; p< 0,051). A transformação logarítmica foi ne-
(baixo X alto) e medicamento (jejum X pico de ação do cessária para que o conjunto de dados, referentes ao desvio-
medicamento) para cada variável dependente. Os dois fatores padrão, se comportassem dentro da curva normal e desta
foram tratados como medidas repetidas dentro das análises. forma pudesse ser inserido na estatística paramétrica, como
Foi mantido o nível de significância de p< 0,05 para todas as demais variáveis. Para as velocidades médias antes do obs-
as análises. táculo, a ANOVA revelou que sob efeito do medicamento (F1,49=
10,174; p< 0,002) e ao ultrapassar o obstáculo alto (F1,49=
RESULTADOS 82,184; p< 0,001), os participantes aumentaram a velocidade
vertical antes do obstáculo. A ANOVA não revelou efeitos
A estatística descritiva de cada variável dependente é de obstáculo e medicamento ou interações para a VHAO. Em
apresentada na Tabela 2. A ANOVA evidenciou que os valores relação às velocidades médias da perna de abordagem depois
médios para DVPO foram maiores para o obstáculo alto do obstáculo, as ANOVAs revelaram que, ao ultrapassar o
(F1,49=15,33; p< 0,001), independente da etapa de coleta, e obstáculo alto, menores valores médios foram observados
Vol. 10 No. 2, 2006 Marcha com Obstáculos em Idosos com Parkinson: Levodopa 237

Tabela 2. Valores das médias e desvios-padrão (entre parênteses). Os asteriscos indicam os valores de significância *p< 0,05; **p< 0,01;
***p< 0,001. DVPO (distância vertical pé-obstáculo); DHPO (distância horizontal pé-obstáculo); DHOP (distância horizontal obstáculo-pé);
DHPO_var (variabilidade da distância horizontal pé obstáculo); DHOP_var (variabilidade da distância horizontal obstáculo-pé); VVAO (velocidade
vertical antes do obstáculo); VVDO (velocidade vertical depois do obstáculo); VHAO (velocidade horizontal antes do obstáculo): VHDO (velocidade
horizontal depois do obstáculo).

Obstáculo Medicamento

Variáveis Baixo Alto Jejum Sob efeito

DVPO (cm) 11,51(±0,91) 14,99(±1,33)*** 12,13(±1,53) 14,37(±1,95)**


DHPO (cm) 92,34(±3,41) 93,95(±3,78) 93,33(±4,40) 92,96(±2,79)
DHOP (cm) 22,69(±0,37) 21,78(±0,04) 22,03(±0,29) 22,44(±0,62)
DHPO_var (logDP) 1,06(±0,11) 1,06(±0,11) 0,94(±0,40) 1,17(±0,27)*
DHOP_var (logDP) 0,64(±0,14) 0,65(±0,06) 0,54(±0,26) 0,74(±0,33)*
VVAO (m/s) 0,66(±0,01) 0,95(±0,08)*** 0,76(±0,11) 0,85(±0,18)**
VVDO (m/s) 0,85(±0,08) 1,17(±0,03)*** 0,95(±0,19) 1,06(±0,13)
VHAO (m/s) 2,11(±0,08)*** 1,04(±0,55) 2,02(±0,01) 2,09(±0,11)
VHDO (m/s) 1,45(±0,45)*** 1,11(±0,01) 1,23(±0,13) 1,33(±0,20)

para VHDO (F1,49= 15,33; p< 0,001) e maiores valores médios facilitar o controle visual 11 em função da forte ou maior
para VVDO (F1,49= 31,30; p< 0,001). dependência que pacientes com DP possuem da visão, causada
por um comprometimento proprioceptivo generalizado20. Para
DISCUSSÃO as velocidades horizontais, ocorreu aumento apenas na fase
de aterrissagem e, ao contrário do esperado, para o obstáculo
A ação motora de ultrapassar obstáculos apresenta um baixo. A pouca demanda motora no sentido vertical para o
risco potencial de tropeço e queda. Nenhum dos participantes, obstáculo baixo permite que o movimento não seja desace-
em nenhuma das tentativas, tropeçou no obstáculo, concor- lerado de forma brusca como é necessário para o obstáculo
dando com estudos realizados com idosos saudáveis11,18. alto.
Os parâmetros espaciais de negociação com o obstáculo
Restrições do Ambiente (altura do obstáculo) refletem a modulação do sistema efetor de acordo com o
Ajustes no padrão locomotor dos pacientes foram julgamento perceptivo das características do obstáculo
observados diante de uma grande perturbação no ambiente (dimensões e localização)12,18,21. Esta modulação ocorre em
(obstáculo alto). O aumento na velocidade vertical antes e relação à tomada de decisões em função da distância de
depois do obstáculo parece refletir a necessidade de ultrapassá- aproximação do obstáculo antes de ultrapassá-lo (DHPO),
lo de forma rápida e segura, diminuindo o tempo de suporte margem de segurança sobre o obstáculo (DVPO) e colocação
simples. Quando os participantes se encontravam em jejum do pé na aterrissagem (DHOP), que são necessárias para
da levodopa, a VVAO foi menor do que quando sob efeito garantir segurança e estabilidade18,22. Como outros estudos
do medicamento. Apesar de parecer uma contradição, pois avaliando a marcha com obstáculos em pacientes com DP
refletiria maior tempo em suporte simples, comprometendo são raros, resultados de idosos saudáveis são utilizados para
o equilíbrio, tal comportamento pode estar relacionado a comparação.
melhorar a precisão na abordagem, diminuindo as velocidades As variáveis DHPO e DHOP, em pacientes com DP,
da perna até a borda superior dos obstáculos. Este compor- mostraram-se resistentes em relação à altura do obstáculo,
tamento ainda favoreceria a utilização da visão para possíveis o que está em concordância com os resultados encontrados
ajustes, garantindo uma margem de segurança ideal entre o em idosos saudáveis22. Desta forma, pode-se especular que
pé e o obstáculo. A bradicinesia pode estar associada a uma a modulação destas distâncias não foi afetada pela DP e sim
estratégia desenvolvida pelo sistema nervoso central para pelo processo de envelhecimento. O aumento da DVPO na
melhorar a precisão dos movimentos3 em uma tarefa que ultrapassagem de obstáculos altos foi revelado e pode ser
demanda mais atenção ao idoso19. A lentidão encontrada no explicado tanto pela capacidade intacta de se variar a resposta
MID, na condição de jejum, pode ser uma estratégia para motora de acordo com a percepção das características dos
238 Pieruccini-Faria F, Menuchi MRTP, Vitório R, Gobbi LTB, Stella F, Gobbi S Rev. bras. fisioter.

objetos no ambiente como pelo fato de que se o obstáculo entanto, algumas estratégias foram reveladas para melhorar
já é alto, elevar a perna além do necessário coloca em risco a precisão na tarefa, o que pôde ser observado na diminuição
o controle do equilíbrio, mas evita-se o tropeço. Para elevar das velocidades vertical e horizontal antes da abordagem dos
mais a perna, o paciente com DP provavelmente realizou uma obstáculos, na condição de jejum da levodopa. Ainda, a
flexão lateral oposta à perna de abordagem, que exige maior levodopa proporcionou um aumento da margem de segurança
controle no sentido médio-lateral. O aumento da VHDO do pé com o obstáculo e facilitou os ajustes no posicionamento
parece refletir a necessidade de se atingir rapidamente um do pé em relação ao obstáculo para a abordagem.
ponto de apoio estável para reduzir o deslocamento médio- Parâmetros importantes revelaram melhora significativa
lateral. Talvez o medo de uma possível queda por tropeço nos sintomas da DP, como a lentidão do MID para abordagem
possa ter provocado o aumento na DVPO. A modulação do ao obstáculo alto e a sua margem de segurança, com o uso
sistema efetor de acordo com a altura do obstáculo, da levodopa. Este comportamento garante maior segurança
especialmente em relação à margem de segurança, não era e estabilidade na marcha com obstáculos. Ainda, os obstáculos
esperada. Estudos com adultos jovens e idosos saudáveis altos revelaram-se mais perturbadores do que os baixos, para
têm revelado que a DVPO é um parâmetro robusto do estes indivíduos, por provocarem um aumento nas margens
planejamento motor que não se altera em relação à altura do de segurança do pé com a sua borda superior.
obstáculo11,21,22.
Agradecimentos: Os autores agradecem a Dra. Elisabete Burigo pelo auxílio
no recrutamento dos pacientes, a Danilla I. Corazza, Andrei G. Lopes, Ana
Restrições do Organismo (Medicamento) Francisca R. Kleiner e Maria Dilailça T. de Oliveira pelo auxílio na coleta
Os pacientes com DP não alteraram a distância de dos dados e às sugestões dos revisores anônimos.
aproximação do obstáculo antes de ultrapassá-lo (DHPO)
e a colocação do pé na aterrissagem (DHOP) entre as
condições de medicamento. Estes resultados podem indicar REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
que estes parâmetros espaciais integram o plano motor da
tarefa de ultrapassar obstáculos e que, provavelmente, ainda 1. Saito M, Marayuama M, Ikeuchi K, Kondo H, Ishikawa A,
não foram afetados pela DP. Entretanto, ocorreu aumento Yuasa T, et al. Autosomal recessive juvenile parkinsonism. Brain
& Dev 2000; 22: 115-7.
da variabilidade nestas distâncias quando sob efeito do
medicamento, indicando que o medicamento favoreceu a 2. Olanow CW, Tatton WG. Etiology and pathogenesis of
Parkinson’s disease. Annu Rev Neurosc 1999; 22: 123-44.
implementação de ajustes na colocação dos pés antes e depois
da ultrapassagem do obstáculo. A margem de segurança sobre 3. Berardelli A, Rothwell JC, Thompson PD, Hallett M. Patho-
o obstáculo apresentou valores médios estatisticamente physiology of bradykinesia in Parkinson’s disease. Brain 2001;
124: 2131-46.
maiores quando os pacientes estavam sob efeito do
medicamento. Este resultado pode ser causado pela melhora 4. Nutt GJ. Motor fluctuations and dyskinesia in Parkinson’s dis-
ease. Parkinsonism Relat Disord 2001; 8: 101-8.
da integração sensorial (informações visuais e cinestésicas),
que subsidia modificações na precisão de parâmetros motores 5. Fahn S. “On-off” phenomena with Levodopa therapy in Par-
espaciais em detrimento das exigências do ambiente, kinsonism. Clinic and pharmacologic correlations and the effect
of intramuscular pyridoxine. Neurology 1974; 24: 431-41.
melhorando os sintomas da hipocinesia DP23-26. A Levodopa
também provocou efeitos significativos na hipocinesia, 6. Fahn S. Is Levodopa toxic? Neurology 1996; 47:S184-95.
corroborando com resultados de outros estudos que avaliaram 7. Blin O, Ferrandez AM, Pailhous J, Serratrice G. Dopa-sensitive
a marcha de pacientes com DP23. and Dopa resistant gait parameters in Parkinson’s disease. J
Neurol Sci 1991; 103: 1-54.
Este estudo piloto possui algumas limitações, como o
tamanho da amostra, a concentração em estágio leve da DP 8. Gobbi LTB, Patla A. Desenvolvimento da locomoção em terrenos
e a ausência de grupo controle, que dificultam a generalização irregulares: proposta de um modelo teórico. In: Pellegrini AM,
organizadora. Coletânea de Estudos: Comportamento Motor I.
dos resultados. No entanto, as diferenças estatisticamente 1 ed. São Paulo: Movimento; 1997. p. 29-44.
observadas nos resultados não são discrepantes daquelas
9. Patla AE. Understanding the roles of vision in the control of hu-
referenciadas na literatura, mesmo não estando especificamente
man locomotion. Gait & Post 1997; 1(5): 54-9.
ligadas à marcha com obstáculos. Assim, este estudo contribui
10. Patla AE. Understanding the control of human locomotion a
para outras observações que venham fortalecer os referenciais
“Janus” perspective. In: Patla AE, editor. Adaptability of Hu-
sobre a temática, que merece ser ainda mais investigada. man Gait. Amsterdam: North Holland; 1991. p. 441-52.
11. Patla AE, Prentice SD, Gobbi LT. Visual control of obstacle
CONCLUSÃO avoidance during locomotion: strategies in young children,
young and older adults. In: Ferrandez A-M, Teasdeale N, editor.
Os participantes foram capazes de ultrapassar, sem Changes in Sensory Motor Behavior in Aging. Amsterdam:
tropeços ou quedas, tanto os obstáculos baixos quanto os Elsevier; 1996. p. 257-77.
altos, mesmo quando estavam em jejum da levodopa. No
Vol. 10 No. 2, 2006 Marcha com Obstáculos em Idosos com Parkinson: Levodopa 239

12. Patla AE, Rietdyk S. Visual control of limb trajectory over ob- 20. Schubert M, Prokop T, Brocke F, Berger W. Visual kinesthesia
stacles: effects of obstacle height and width. Gait & Post 1993; and locomotion in Parkinson’s disease. Mov Disord 2004; 20:
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Vol.
ISSN101809-9246
No. 2, 2006 A Profissionalização da Fisioterapia em Minas Gerais 241
Rev. bras. fisioter. Vol. 10, No. 2 (2006), 241-247
©Revista Brasileira de Fisioterapia

A PROFISSIONALIZAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM MINAS GERAIS

NASCIMENTO MC, SAMPAIO RF, SALMELA JH, MANCINI MC, FIGUEIREDO IM


Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG
Correspondência para: Maria do Carmo Nascimento, Rua Bambuí 788, apto 102, CEP 30310-320, Belo Horizonte, Minas
Gerais, e-mail: carminha_sa@terra.com.br
Recebido: 15/06/2005 – Aceito: 30/11/2005

RESUMO
Objetivo: Com base em estudo qualitativo, utilizando a história oral e a análise de documentos, procurou-se identificar as raízes
da fisioterapia em Minas Gerais, a fim de discutir o processo de profissionalização e o desenvolvimento da identidade do
fisioterapeuta neste Estado. Metodologia: O foco do estudo foi dirigido principalmente a Belo Horizonte, no período
compreendido entre 1950 e 1980. O referencial teórico utilizado foi a sociologia das profissões, e teve como guia os cinco passos
de profissionalização descritos por Wilensky 1 que são a necessidade da ocupação tornar-se de dedicação exclusiva, o esta-
belecimento de procedimentos de instrução e seleção, a formação de uma associação profissional, a regulamentação da profissão
e a adoção do código de ética. Na pesquisa de campo, foram utilizadas entrevistas do tipo semi-estruturada para colher
depoimentos de pessoas consideradas chave, mediante amostragem em série, e o método escolhido foi a análise de conteúdo.
Resultados: Avalia-se que o processo de profissionalização da fisioterapia em Minas Gerais é marcado pela hegemonia médica
na saúde e que a indefinição das atribuições e competências foram os fatores que motivaram os conflitos internos e externos.
Conclusões: Conclui-se que, para a afirmação efetiva da fisioterapia como profissão, torna-se necessária a delimitação das
especificidades do seu saber e do seu fazer (teoria e prática), identificando o papel do fisioterapeuta na equipe multidisciplinar
de saúde.
Palavras-chave: fisioterapia, história da fisioterapia, história oral, profissionalização.

ABSTRACT
Professionalization of physical therapy in Minas Gerais
Objective: To identify the roots of physical therapy in Minas Gerais, in order to understand the professionalization process and
the development of identity among physiotherapists in this state, based on a qualitative approach, oral histories and analysis
of documents. Methods: The focus of this study was primarily Belo Horizonte between 1950 and 1980. The theoretical reference
point utilized was the sociology of professions and the five steps towards professionalization described by Wilensky (1964)
were taken as the guide. These were: the need for exclusive dedication to the profession; the establishment of education and
selection procedures; the creation of a professional association; professional regulation; and the adoption of a code of ethics.
A survey was conducted, utilizing semi-structured interviews to gather statements from key leaders, based on serial sampling
and content analysis. Results: It was found that the process of professionalization within physical therapy in Minas Gerais was
influenced by medical hegemony within the health field. Lack of definition regarding functions and competencies were factors
that had led to both internal and external conflicts. Conclusions: To ensure effective affirmation of physical therapy as a pro-
fession, it is necessary to define the specific limits of its knowledge and skills (theoretical and practical), so as to better identify
the role of the physiotherapist within multidisciplinary health teams.
Key words: physical therapy, history of physical therapy, oral history, professionalization.
242 Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC, Figueiredo IM Rev. bras. fisioter.

INTRODUÇÃO para reunir dados sistemáticos sobre a fisioterapia em Minas


Gerais, o foco deste estudo foi dirigido principalmente para
No Brasil, estudos pioneiros sobre profissões foram a capital e maior cidade do Estado, Belo Horizonte, num
desenvolvidos entre as décadas de 1960 e 1970, propiciados período compreendido entre os anos de 1950 a 1980. Essa
pela intensa expansão que o sistema universitário viveu nesse reconstituição é parcial, orientada pelos interesses já
período2. A estruturação multidisciplinar da área de saúde vem demarcados para a abordagem que aqui se faz desse campo
favorecendo espaço para as discussões dos conceitos de profissional.
profissão3. A intenção deste trabalho é que a análise dos fatos
A princípio, qualquer atividade humana no mundo do ocorridos em Belo Horizonte possa contribuir para o
trabalho pode ser considerada uma atividade profissional. entendimento da profissionalização da fisioterapia em Minas
No entanto, a sociologia enfatiza alguns elementos que Gerais. Cabe destacar que a compreensão das questões
constituem uma profissão: autonomia, adesão ao ideal de levantadas no caso de Belo Horizonte (micro) só pode ser
serviço, forte identidade profissional traduzida pelo código alcançada levando-se em conta o processo estadual e nacional
de ética, e a demarcação do território profissional4. (macro), e que essa divisão da realidade só tem pertinência
Wilensky1 preconiza que, para uma ocupação exercer para uma análise mais aprofundada do tema reconhecendo-
autoridade profissional, ela deve encontrar uma base técnica se que a vida das profissões, assim como a de qualquer
própria e uma jurisdição exclusiva, atrelando habilidade e organização social, não pode ser desconectada de fatores mais
jurisdição a padrões de treinamento, e deve, ainda, convencer gerais que as moldam e a limitam.
o público de que seus serviços são confiáveis. Enfatiza que
o grau de profissionalização é medido não só pelo grau de
METODOLOGIA
competência técnica exclusiva, mas também pelo grau de
aderência ao ideal de serviço e às normas de conduta A metodologia escolhida foi a qualitativa, por ser
profissional. freqüentemente utilizada quando se propõe compreender
Segundo Noronem et al. 3, o debate em torno dos processos que ocorrem em dada instituição, grupo ou
pressupostos filosóficos e teóricos para o desenvolvimento comunidade6. A metodologia qualitativa tem a possibilidade
relevante da prática e da pesquisa em fisioterapia tem sido de utilizar uma variedade de procedimentos e instrumentos
encorajado por vários autores. A fim de definir sua identidade de coleta de dados. Neste estudo, foram utilizadas a análise
e entender a cultura da fisioterapia fazem-se necessárias de documento e a história oral.
informações sobre seu desenvolvimento ao longo do tempo. Os documentos utilizados foram as “Leis e Atos
A produção científica brasileira na área de fisioterapia Normativos das profissões do fisioterapeuta e do terapeuta
tem apontado algumas iniciativas acerca da discussão sobre ocupacional”, publicação do Conselho Regional de Fisioterapia
a profissão, como por exemplo, o trabalho de Rebellato et e Terapia Ocupacional da 4ª região (CREFITO-4); as atas
al.5. Mas a escassez quanto à produção tem repercutido na da Associação Mineira de Fisioterapeutas (AMF); fotografias
dificuldade de se ter à disposição informações que incluam e matérias de jornais da época.
na história da fisioterapia, a discussão do processo de A forma de entrevista escolhida foi a semi-estruturada
profissionalização e o desenvolvimento da identidade do ou entrevista com roteiro, por ser considerada apropriada
profissional dessa área. para a coleta de depoimentos pessoais7. O roteiro foi organizado
Pelo percurso da fisioterapia no Brasil, decidiu-se pela com tópicos ou temas orientadores, seguindo os passos do
utilização do sociólogo Wilensky1, como referência teórica processo de profissionalização de Wilensky1.
para a discussão da profissionalização da fisioterapia no Estado A princípio, foram selecionadas duas pessoas consi-
de Minas Gerais. Com base em um estudo com 18 profissões deradas chave, pessoas que tiveram atuação no surgimento
nos Estados Unidos, este autor identificou cinco passos no do primeiro curso de Fisioterapia de Minas Gerais. A análise
processo de profissionalização: ocupação de dedicação dessas primeiras entrevistas levou a inclusão de outros
exclusiva, estabelecimento de procedimentos de instrução participantes, a fim de explorar novos aspectos relevantes
e seleção, formação de uma associação profissional, regu- ou outros temas do roteiro, caracterizando uma amostragem
lamentação da profissão, elaboração e adoção de um código em série ou em cadeia6,8. Dessa forma, a análise acompanhou
formal de ética. toda a coleta, identificando novas questões que emergiam.
Neste contexto, este estudo buscou na sociologia das O número de entrevistas encerrou quando as informações
profissões subsídios teóricos para discutir a organização e alcançadas foram consideradas suficientes e atingiram a
o processo de profissionalização da fisioterapia em Minas chamada saturação ou exaustão ou ponto de redundância6,
Gerais, por meio do resgate histórico da profissão. Resgatar sendo 12 os entrevistados: 8 fisioterapeutas (E2, E3, E4, E5,
a história da fisioterapia é recuperar sua organização enquanto E6, E7, E9, E11), 2 médicos (E1, E8), 1 enfermeiro (E10)
categoria profissional, e o desenvolvimento de sua identidade e 1 auxiliar de fisioterapia (E12). As entrevistas foram re-
enquanto profissão. Em virtude da dificuldade encontrada gistradas em gravador e posteriormente transcritas, de forma
Vol. 10 No. 2, 2006 A Profissionalização da Fisioterapia em Minas Gerais 243

a recuperar a integralidade dos relatos. Com base na trans- ele e alguns outros [...] fizeram aprendizado na América e
crição, essas se tornaram documento e base de dados para voltaram operando tudo” E8.
a análise9. Dada a necessidade de que aquela ocupação, exercida
O método de análise escolhido foi a análise de por irmãs de caridade e práticos, passasse a ser desempenhada
conteúdo10,11. O processo de categorização, possibilitado pela por pessoal mais qualificado, quem tinha alguma experiência
utilização das entrevistas semi-estruturadas, com o com massagem ou com hidroterapia era aproveitado para as
agrupamento de respostas por afinidade específica, permitiu atividades de reabilitação. Pode-se perceber pelas entrevistas
a organização temática dos resultados das entrevistas12, tendo que a relação entre os médicos e os que seriam os primeiros
como grandes temas os passos de profissionalização de fisioterapeutas mineiros era de cooperação: - “Os médicos
Wilensky1. Essa análise facilitou a utilização do recurso de entravam na piscina de igual para igual” E2.
triangulação ou da prática de confrontar variadas evidências Apesar das dificuldades, o serviço de reabilitação do
sobre o mesmo fenômeno, permitindo a comparação dos Hospital da Baleia passou a ser reconhecido e considerado
relatos uns com os outros e estes com os documentos e as como referência no Estado de Minas Gerais. Valendo-se desse
obras existentes sobre a história da fisioterapia13. reconhecimento, os médicos da área idealizaram um hospital
especializado para o atendimento aos portadores de deficiência
RESULTADOS física, o Hospital Arapiara, e organizaram a capacitação de
pessoal de maneira padronizada, mediante os cursos de
O percurso dos cinco passos para a profissionalização, Fisioterapia e de Fisiatria da Faculdade de Ciências Médicas
considerada por Wilensky1, pôde então ser identificado ao de Minas Gerais – FCMMG. Entrevistados informaram que
ser reconstituída a história da fisioterapia em Minas Gerais, a criação do curso de Fisioterapia por esse grupo de médicos
no período compreendido entre 1950 e 1980. que liderava a área de reabilitação no Estado foi motivada pela
necessidade de mão-de-obra para os serviços por eles
A necessidade da ocupação coordenados. “Eles fizeram fisiatria nos Estados Unidos e
Na década de 1940, as termas mineiras capacitavam voltaram para Belo Horizonte. Sentiram a necessidade de
e absorviam pessoal com experiência em massagem e hidro- criar um curso para suprir a necessidade principalmente dos
terapia. Nessas termas, a concepção de saúde ainda estava hospitais que atuavam” E5.
interligada com a aparência física das pessoas, os hábitos Também pode ser percebido nas entrevistas que houve
saudáveis e a higiene pessoal: “1945. O grande era massagem. um momento em que médicos e futuros fisioterapeutas
As termas recrutavam pessoas com aparência saudável. idealizaram um trabalho em equipe. “A idéia de Márcio de
Era uma exigência” E2. Nesse início, os recursos que Lima Castro era de que o Arapiara fosse um hospital onde
posteriormente seriam identificados como específicos da fi- todos trabalhassem de mãos dadas” E2. Outro ponto a destacar
sioterapia eram utilizados mais para a manutenção da saúde é que, desde o início, a proposta era que o curso de fisioterapia
do que propriamente para o tratamento das doenças. criado pelo Hospital Arapiara estivesse vinculado a uma
Em 1952, foi criado um serviço direcionado ao aten- faculdade. A exigência legal de que houvesse uma fundação
dimento à criança com tuberculose óssea e com poliomielite por trás do convênio entre o Arapiara e a FCMMG é que
em Belo Horizonte, o Hospital da Baleia: “O professor Mata retardou o processo. “Com a idéia do curso, simultaneamente
Machado foi levado pelo professor Baeta Viana, que apro- formaram a Fundação Arapiara. Era uma exigência ser ligado
veitou os conhecimentos que ele adquiriu na América, e a uma fundação” E2. Fato importante, uma vez que demonstra
implantaram a ortopedia na Baleia” E8. Este novo serviço que, apesar de o primeiro curso de Fisioterapia ter sido criado
aumentou a necessidade, principalmente por parte dos médicos por necessidade dos médicos do Hospital Arapiara, a idéia
ortopedistas, de recurso humano qualificado para o atendimento não era manter o curso atrelado ao hospital. Cabe então
em reabilitação. As madres da Congregação Franciscana destacar a importância do Arapiara para o desenvolvimento
Missionárias de Maria, que já trabalhavam na área de enfer- da reabilitação e para o processo de profissionalização da
magem, foram treinadas para realizar o trabalho: “As irmãs fisioterapia no Estado.
aprenderam a lidar com estes pacientes. Eram treinadas e Pode-se então notar que o surgimento da ocupação de
orientadas por ortopedistas”E8. fisioterapia no Estado de Minas Gerais deu-se pela necessidade
Durante a década de 1950, o grupo de ortopedistas do de mão-de-obra especializada para atender a uma demanda
Hospital da Baleia passou a liderar a área de reabilitação em dos profissionais médicos, principalmente ortopedistas, fisiatras
Belo Horizonte, com um modelo de reabilitação pós-guerra, e reumatologistas. Parece que, à medida que se investe em
importado dos Estados Unidos, em que o foco do trabalho determinada área ou ocupação, cria-se um espaço social para
era a recuperação de lesões traumáticas14 : - “Os residentes ela e, a partir daí, a demanda pelo profissional começa a
de ortopedia americanos estavam todos servindo exército, crescer; no caso da profissão aqui estudada, não foi diferente.
na ocasião da guerra. E o José Henrique [da Mata Machado], Esses médicos mineiros, dimensionando a falta do profissional
244 Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC, Figueiredo IM Rev. bras. fisioter.

de reabilitação trouxeram um modelo americano de reabilitação, A associação profissional


uma vez que se especializaram em ortopedia ou fisiatria nos Mobilizados principalmente pelos conflitos internos e
Estados Unidos da América, sendo alguns, como Márcio de externos, em 1968 os profissionais se uniram em uma
Lima Castro, no Instituto de Reabilitação da Universidade associação – Associação Mineira de Fisioterapeutas (AMF)
de New York, dirigido por Howard Rusk14 E1, E5, E8. Na –, considerando que essa seria uma forma de auto-regulação,
época, tais médicos dominavam todos os grandes serviços que serviria para preservar ou melhorar o padrão dos serviços
de saúde que tinham algum vínculo com reabilitação, prestados, aumentar o prestígio profissional e diminuir a
passando, assim, a controlar a formação dos futuros competição externa (médicos) e interna (práticos e auxiliares).
profissionais. Mas a associação mineira era frágil, tinha dificuldades que
iam do financeiro à pouca clareza de seus objetivos, não
A formação profissional conseguindo cumprir, na maioria das vezes, com o papel
Em 1962, teve início o curso de Fisioterapia com a esperado para entidades com essas características.
parceria entre o Hospital Arapiara e a FCMMG. O modelo Alguns autores 1,15 consideram que a fase de formação
de saúde curativo e reabilitador do pós-guerra influenciou de uma associação representa a busca de identidade
a cultura do fisioterapeuta, sendo esse o eixo central do profissional. Um fator que contribui para a formação dessa
processo de formação e instrução da categoria no Estado. identidade é o profissionalismo, que compreende atitudes
Embora a escola representasse o início da profissionalização, como o uso da organização profissional, a crença na auto-
quase todos os professores ainda eram médicos e investiu- regulação, o sentido de vocação e de autonomia16. A idéia de
se em um treinamento de cunho mais prático, mesmo porque, corporativismo, referida por Machado4, como fator também
como apontado em entrevistas: “não tinha muita coisa pra importante para o profissionalismo, pôde ser identificado nas
você estudar” E3. A formação desse profissional atravessada entrevistas, como ao ser citado que naquela época: “a gente
pela medicina parece ter dificultado a autonomia e a vinculação abraçava mesmo” ou “a gente se dava muito as mãos” E4.
do fisioterapeuta com a comunidade, transformando-o em Segundo Noronem et al.3a autonomia pode ficar
um profissional auxiliar, subordinado às regras emitidas pelos comprometida se não houver a definição da especificidade
médicos: “Ficava o médico especializado para prescrever da fisioterapia e uma apropriação por parte do fisioterapeuta.
o tratamento do fisioterapeuta. Você [fisioterapeuta] só podia Neste estudo, foi verificado que a autonomia do fisioterapeuta
atuar, não podia mudar uma vírgula” E2. esteve prejudicada pela medicina em vários momentos.
A partir de 1969, a formação profissional passa a ser Inicialmente, pelo monopólio dos saberes e das condutas no
orientada por parâmetros mais definidos para a fisioterapia, controle e no gerenciamento dos serviços de reabilitação, na
como a ampliação do curso para quatro anos, a contratação prescrição do tratamento, e, mais recentemente, na
de professores fisioterapeutas e a busca por locais de estágio dependência do encaminhamento para o tratamento
não controlados por médicos, como a Santa Casa de fisioterapêutico.
Misericórdia. Apesar do avanço, as dificuldades encontradas Questões relacionadas à denominação parecem ter
na definição das atribuições se complicaram, somando-se dificultado a identificação profissional, como a rejeição do
à hierarquização externa das ações médicas uma hierarquização fisioterapeuta ao rótulo de massagista, denominação percebida
interna, indicando um conflito entre a formação teórica como menos profissional: “nós começamos a mudança da
institucionalizada e o saber prático adquirido. Os conflitos história de deixar de ser massagista pra ser fisioterapeuta”
entre fisioterapeutas e médicos, principalmente fisiatras, e E4.
entre fisioterapeutas e auxiliares foram salientados: “Teve A definição das competências também trouxe conflitos
coisa braba, de rixas, de não aceitação” E4. internos e externos, mesmo porque não existia clareza quanto
De acordo com o desenvolvimento profissional ao modelo a seguir. O desenvolvimento dessas competências
caracterizado por Wilensky1, em outras profissões, como foi-se dando ao longo do tempo pelos próprios conflitos entre
a fisioterapia em Minas Gerais o processo foi semelhante, os profissionais. A divisão do trabalho foi-se estruturando
a saber: os primeiros professores eram os que lideravam a de forma hierárquica, ou seja, as atividades foram transferidas
reabilitação no Estado; o primeiro curso começa vinculado em função da complexidade para os profissionais de acordo
a uma faculdade; o treinamento padronizado passa a ser com a sua qualificação: “Um procedimento que era mais
requisito para ingressar na ocupação e, com base no curso, específico, era a gente [fisioterapeuta] mesmo que fazia.
é criada uma associação profissional. Cabe ressaltar a Mas a coisa mais corriqueira normalmente eles [auxiliar]
importância das primeiras turmas desse curso no faziam” E3.
desenvolvimento da identidade profissional do fisioterapeuta As entrevistas apontaram que o ideal de serviço era
mineiro, quando:”as primeiras turmas têm o grande mérito focado no bem-estar do paciente. Era valorizada a visão do
de ter conseguido a independência da profissão e a indivíduo “como um todo” E3, o poder de cura relacionado
respeitabilidade dela” E4. ao toque, e o fisioterapeuta “que tivesse uma excelente relação
terapeuta/paciente” E5. Nesse período, o contato próximo
Vol. 10 No. 2, 2006 A Profissionalização da Fisioterapia em Minas Gerais 245

do fisioterapeuta com o paciente, “transmitindo aquela articulações políticas – “A gente sempre usa das
vibração que se tem em trabalhar com ele” E2, proporcionada oportunidades” E5, -”A gente procurava alguém que pudesse
pelo “instrumento de cura da fisioterapia - a mão do ajudar, influenciar lá em cima. Influência política, uma
fisioterapeuta” E9 e pelo acompanhamento do processo de influência militar” E3.
reabilitação, geralmente longo, que valorizava mais “a relação A indefinição de suas atribuições levou os fisioterapeutas
terapeuta paciente que a técnica empregada” E9 - , foi a lutar por uma legislação que reduzisse a competição interna,
considerado especificidade e vantagem da fisioterapia. por meio da exclusão dos práticos e auxiliares - “a gente [o
fisioterapeuta] acabou excluindo estas pessoas [auxiliares
A proteção do território ocupacional de fisioterapia e práticos]” E5 -; mas que pouco assegurou
Segundo Wilensky1 a regulamentação da profissão vem com relação à autonomia profissional e ao monopólio do saber
assegurar o monopólio do saber e da prática profissional. Para e das condutas”A profissão realmente tá mais conhecida,
tanto, a especificidade da fisioterapia deveria estar melhor mais divulgada. [...]O fisioterapeuta ainda depende muito
definida, para que tal regulamentação viesse ao encontro da do médico” E6.
real necessidade da categoria.
De acordo com Rebelatto et al.5, um dos primeiros O código de ética
documentos oficiais que definem a ocupação do fisioterapeuta A aderência a um conjunto de normas profissionais, por
é o Parecer nº 388/63 do Conselho Federal de Educação. Esse meio do código de ética, vem assumir um aspecto de controle
parecer representa a força do papel reabilitador do fisioterapeuta e de organização do trabalho, acrescentando um critério distinto
na época; embora tivesse formação de nível superior, ele ainda ao trabalho técnico do profissional, baseado no conhecimento
era denominado técnico. O termo técnico vem marcar a adquirido por um longo treinamento1. Essas regras morais
competência de auxiliar do médico. Esse parecer serviu de vêm com o intuito de eliminar os não qualificados e de reduzir
guia até 1969, quando a fisioterapia é reconhecida como a competição interna, protegendo os clientes e enfatizando
profissão de nível superior. Usando das atribuições em atos o ideal de serviço. A criação do código de ética profissional
institucionais, os Ministros da Marinha de Guerra, do Exército do fisioterapeuta no Brasil deu-se em 1978 21, com a
e da Aeronáutica Militar, em 13 de outubro de 1969, por meio participação das associações profissionais regionais, dentre
do Decreto-Lei nº 93817, reconheceram os fisioterapeutas elas a AMF22. Esse código é centrado na auto-identidade do
diplomados por escolas e cursos reconhecidos pelo MEC profissional e no ideal de serviço, características consideradas
como profissionais de nível superior e tornaram exclusiva comuns naquelas profissões que procuram certo grau de
a execução de métodos e técnicas específicas à categoria18. autonomia. Wilensky1 considera que, na maioria das profissões
Pode-se observar o quanto a legislação era vaga, quando em processo de consolidação, o estabelecimento de um código
não se tem a definição dos métodos e técnicas específicas de ética aparece como o último passo.
ao fisioterapeuta, como apresentado no artigo 3° do Decreto- Esse código21 contém seis capítulos, quais sejam: Das
Lei nº 938: Responsabilidades Fundamentais, Do Exercício Profissional,
“É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos Do Fisioterapeuta Perante as Entidades de Classe, Do
e técnicas fisioterápicas com a finalidade de restaurar, Fisioterapeuta Perante os Colegas e Demais Membros da
desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”17. Equipe de Saúde, Dos Honorários Profissionais e Disposições
Segundo Wilensky1, “quando o conhecimento é geral e vago, Gerais. Nesses capítulos, pode-se observar o enfoque no
ou muito estreito e específico, traz uma base fraca para a profissional indo ao encontro da auto-identidade, e o enfoque
jurisdição exclusiva”. no cliente indo ao encontro do ideal de serviço, como também
Em 3 de dezembro de 1971, é reconhecido o Curso de observou Purtilo23.
Fisioterapia da FCMMG, por meio do Decreto-Lei nº 69.68719, Quanto ao enfoque no profissional, são apontados a
com importante participação da AMF e dos alunos: - “Passava valorização da honra, o prestígio e as tradições da profissão.
fins de semana fazendo levantamento de biblioteca, tratando É afirmada a atribuição de fazer o diagnóstico fisioterápico
dos bichos no biotério pra quando viesse a comissão do MEC” e elaborar o programa de tratamento, e é colocado como um
E4. Após o reconhecimento da profissão no Brasil e do primeiro dever pertencer a uma entidade associativa de classe. Como
curso em Minas Gerais, o próximo passo foi o de direito, a justa remuneração, como necessidade, a
regulamentação da profissão. Em 17 de dezembro de 1975, concorrência leal e o tratamento com respeito entre os
por meio da Lei nº 6.31620, decretada pelo Congresso Nacional colegas21.
e sancionada pelo Presidente da República, General Ernesto Quanto ao enfoque no cliente, são colocados como dever
Geisel, foram criados o Conselho Federal de Fisioterapia e a proteção, o respeito à vida e à intimidade, o poder de decisão
Terapia Ocupacional – COFFITO - e os Conselhos Regionais e o sigilo profissional. Como proibições, negar ou abandonar
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional - CREFITOs. assistência, divulgar terapia cuja eficácia não seja publicamente
Como apontado em algumas entrevistas, a legislação reconhecida ou prescrever tratamento sem examinar21.
se mostrou mais como uma troca de favor obtida mediante
246 Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC, Figueiredo IM Rev. bras. fisioter.

O código de ética vem afirmar a necessidade de aderência material para tal fim. Considerando que grande parte do
do profissional ao ideal de serviço, ao enfocar o cliente até material utilizado neste trabalho foi obtida por meio de
mesmo o protegendo. Vem penalizar ou até eliminar os não- entrevistas, é pertinente lembrar que esta informação
qualificados, com penas disciplinares, e vem reduzir a representa uma percepção social dos fatos, portanto está
competição interna. Apesar de que, no capítulo Disposições sujeita as pressões sociais do contexto em que são obtidas.
Gerais, o art. 3421 trata da possibilidade de alteração do código Por outro lado, destaca-se também que um volume extenso
pelo COFFITO, não houve nenhuma alteração desde que foi da ciência social moderna em antropologia, sociologia,
criado. psicologia e educação é baseado na utilização de entrevistas
Purtilo22 considera que, da década de 1950 até a como dado científico26,27.
atualidade, a ética do profissional fisioterapeuta se encontra Ao acompanhar como se deu a profissionalização da
em um período da identidade focada no paciente, e aponta fisioterapia em Minas Gerais, pôde-se perceber certas
um período futuro emergente quando se estabelecerá uma características também encontradas em outras profissões1.
parceria mais ampla com cidadãos e instituições. A compreensão de como foi definida a necessidade da
fisioterapia no estado, de como ela se organizou, e de como
CONSIDERAÇOES FINAIS se deu a construção da identidade do profissional poderá
contribuir para o entendimento da importância de se definir
Segundo Wilensky1 o futuro do profissionalismo a especificidade da fisioterapia. A continuidade de estudos
depende do desenvolvimento na organização do trabalho e com esse enfoque poderá colaborar para o entendimento da
no conhecimento específico. Já para Machado4 o corpo fisioterapia nas Ciências da Saúde, e para a sua participação
esotérico do conhecimento deve conter os segredos e as integrada na equipe multidisciplinar.
técnicas próprias de cada profissão, assim como visibilidade
social. Para a afirmação efetiva da fisioterapia, como
profissão, torna-se então necessária a delimitação das REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
especificidades do seu saber e do seu fazer (teoria e prática),
com instrumentos próprios de apropriação e intervenção. Assim 1. Wilensky HL. The professionalization of everyone? The Ameri-
como em outras profissões24, também no caso da fisioterapia can Journal of Sociology 1964; 70: 137-58.
deve existir um esforço de se repensar sobre o objeto de 2. Bonelli MG. Estudos sobre profissão no Brasil. In: Miceli S,
trabalho e a metodologia que delimita sua ação, levando ao organizador. O que ler na Ciência Social Brasileira. São Paulo:
afastamento e à diferenciação do modelo médico de trabalho. Sumaré/ANPOCS; 1999. p. 287-30. (volume 2).
É indiscutível o quanto a fisioterapia tem avançado, tanto 3. Noronem L, Widstrom GC. Professional theoretical paper: to-
na produção de conhecimento específico e na implementação wards a paradigm-oriented approach in physical therapy. Physi-
cal therapy Theory and Practice 1999; 15: 175-84.
desse conhecimento na clínica, a chamada prática baseada
em evidências, quanto em programas de pós-graduação lato 4. Machado MH. Sociologia das profissões: uma contribuição ao
debate teórico. In: Machado MH. Profissões de Saúde: uma
sensu e stricto sensu; porém, a socialização necessária para
abordagem sociológica. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1995. p.13-33.
o reconhecimento público ainda não foi alcançada.
Autores como Noronem3 acreditam que, enquanto o 5. Rebelatto JR, Botomé SP. Fisioterapia no Brasil: fundamentos
para uma ação preventiva e perspectivas profissionais. 2a.ed.
fisioterapeuta não identificar o seu papel e ser capaz de falar São Paulo: Manole; 1999.
claramente sobre ele nas equipes multidisciplinares de saúde,
6. Mazzoti AJ, Gewandsznajder F. O método nas Ciências Naturais
a profissão não irá avançar. Machado25 reforça essa questão
e Sociais: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa. São Paulo:
quando coloca que, apesar de o fisioterapeuta ter tradição Pioneira; 1998.
de trabalho, essa é uma profissão nova, com pouca
7. Queiroz MIP. Variações sobre a técnica de gravador no registro
participação nas equipes do Sistema Único de Saúde. da informação viva. São Paulo: T.A.Queiroz; 1991. (Biblioteca
Por fim, cabe destacar a importância de entender e Básica de Ciências Sociais, Série 2. Textos, v.7).
teorizar sobre a história da estruturação do campo da 8. Triviños ANS. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a
fisioterapia, dando visibilidade ao processo ininterrupto das pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1987.
transformações impostas pelos condicionantes de cada
9. Chizzoti A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 6a. ed. São
momento histórico de sua profissionalização. Compreender Paulo: Cortez; 2003.
as raízes da fisioterapia torna-se então fundamental para
10. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70; 1979.
definir quem é esse profissional e para traçar os rumos da
profissão no País. 11. Richardson RJ, et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. São
Paulo: Atlas; 1985.
Para finalizar, algumas questões importantes devem ser
apontadas em pesquisas que utilizam fontes como entrevistas, 12. Colognese AS, Melo JLB. A técnica de entrevista na pesquisa
social. Cadernos de Sociologia 1998; 9: 143-59.
atas de reuniões, leis e outros documentos para reconstruir
e entender fatos históricos, no que se refere ao alcance desse
Vol. 10 No. 2, 2006 A Profissionalização da Fisioterapia em Minas Gerais 247

13. Cortes SMV. Técnicas de coleta e análise qualitativa de dados. 20. Lei n. 6.316, de 17 de dezembro de 1975. Diário Oficial da
Cadernos de Sociologia 1998; 9: 11-47. União, Brasília, DF, 1975.
14. Cassiano JG. Reabilitar para quê? Uma reflexão sobre a história 21. Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupa-
e a prática de terapia ocupacional na reabilitação física em cional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1978.
Minas Gerais [dissertação]. Piracicaba: Universidade Metodista 22. Atas de reunião da Associação Mineira de Fisioterapeutas. Belo
de Piracicaba; 1995. Horizonte: 1968-1980.
15. Elliott P. Sociologia de las profesiones. Madrid: Editorial 23. Purtillo RB. A time to Harvest, a time to Sow: ethics for a shift-
Tecnos; 1975. ing landscape. Physical Therapy 2000; 80 (11): 1112-9.
16. Velandia Mora AL. Futuro e identidad de enfermeria com base 24. Ferreira LC. O sujeito trabalhador na enfermagem: identidade e
en el cuidado: una historia prospectiva del cuidado de enfermeria subjetividade no mundo do trabalho. [Projeto de tese]. Brasília:
en colombia. In: Herrera BS, Afanador NP. Dimensiones del Universidade de Brasília; 2000.
cuidado. Santafé de Bogotá: Unibiblos; 1998. p. 135-51.
25. Machado M H. Formação profissional desestruturada: o desafio
17. Decreto-Lei n. 938, de 13 de outubro de 1969, Diário Oficial da da Saúde Pública. Revista O COFFITO 2004 dez 21; 15-19.
União, Brasília, DF, 1969.
26. Cötê J, Salmela JH, Trudel P, BARIA A, Russel SJ. The coach-
18. Soares LB. Terapia Ocupacional: lógica do capital ou do trabalho? ing model: A grounded assessment of expert gymnastics coaches
Retrospectiva histórica da profissão no Estado brasileiro de 1950 knowledge. Journal of Sport and Exercise Psychology 1995; p.
a 1980. São Paulo: Hucitec; 1991. 1-17.
19. Decreto-Lei n. 69.687, de 3 de dezembro de 1971. Diário Oficial, 27. Miles HB, Huberman AM. Qualitative data analysis. 2a. ed.
Brasília, DF, 1971. Thousand Oaks (CA): Sage; 1994.
ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos,
v. 10, n. 2, p. 137-247, 2006

REVISTA BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA


ISSN 1413-3555
NORMAS EDITORIAIS JULHO 2006
OBJETIVOS, ESCOPO E POLÍTICA

A REVISTA BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA publica relatos originais de pesquisa concernentes ao objeto principal de estudo da
Fisioterapia e ao seu campo de atuação profissional, veiculando estudos básicos sobre a motricidade humana e investigações clínicas sobre
a prevenção, o tratamento e a reabilitação das disfunções do movimento. Será dada preferência de publicação àqueles manuscritos que contribuam
significativamente para o desenvolvimento conceitual dos objetos de estudo da Fisioterapia ou que desenvolvam procedimentos experimentais
novos, não sendo meros repositórios de dados científicos ou de conceitos já consagrados.
Os artigos submetidos à Revista devem preferencialmente enquadrar-se na categoria de artigos científicos (novas informações com metodologia
e resultados sistematicamente relatados).
Artigos de revisão (síntese atualizada de assuntos bem estabelecidos, com análise crítica da literatura consultada e conclusões) são publicados
apenas a convite dos editores estimulando a submissão por autores de reconhecimento internacional. Artigos de revisão passiva não serão
aceitos. Artigos de Revisão Sistemática e Metanálises, Artigos Metodológicos (apresentando aspectos metodológicos de pesquisa ou de ensino)
e Estudos de Caso (acompanhados de breve revisão do assunto e metodologia pertinente) são publicados num percentual de até 20% do total
de manuscritos.
A Revista publica ainda uma Seção Editorial, Resenhas de Livros (por solicitação dos editores) e, eventualmente, Agenda de Eventos
Científicos Próximos e Cartas ao Editor (de críticas às matérias publicadas – com réplica dos autores – referentes a assuntos gerais da Fisioterapia,
publicadas a critério dos editores).
Os autores cujos manuscritos entrarem em processo de revisão receberão uma notificação.
A Revista Brasileira de Fisioterapia publica resumos de eventos como Suplemento, após submissão e aprovação de proposta ao Conselho
Editorial. A submissão de proposta será anual e realizada por edital, atendendo às “Normas para Publicação de Resumos em Suplemento”
que podem ser obtidas no site da Revista (http://www.ufscar.br/rbfisio).
Os artigos submetidos à Revista são analisados pelos editores e pelos revisores das áreas de conhecimento, que estão assim divididas:
Fundamentos e História da Fisioterapia; Anatomia, Cinesiologia e Biomecânica; Controle Motor; Comportamento e Motricidade; Recursos
Terapêuticos Físicos e Naturais; Recursos Terapêuticos Manuais; Cinesioterapia; Prevenção em Fisioterapia/Ergonomia; Fisioterapia nas
Condições Musculoesqueléticas; Fisioterapia nas Condições Neurológicas; Fisioterapia nas Condições Cardiovasculares e Respiratórias; Fisioterapia
nas Condições Uroginecológicas e Obstétricas; Ensino em Fisioterapia; Administração, Ética e Deontologia; Registro/Análise do Movimento;
Fisioterapia nas Condições Geriátricas e Medidas em Fisioterapia.
Cada artigo é analisado por pelo menos três revisores, os quais trabalham de maneira independente e fazem parte da comunidade acadêmico-
científica, sendo especialistas em suas respectivas áreas de conhecimento. Os revisores permanecerão anônimos aos autores, assim como os
autores não serão identificados pelos revisores, por recomendação expressa dos editores. Os editores coordenam as informações entre os autores
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periódico. Quando parte do material já tiver sido apresentada em uma por:
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a submissão do manuscrito. seguintes informações: área principal do artigo e número e nome do
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2) Declaração de responsabilidade de conflitos de interesse. Os e) Palavras-chave: uma lista de termos de indexação ou pala-
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interesse (profissionais, financeiros e benefícios diretos e indiretos) e inglês). A Revista recomenda o uso do DeCS – Descritores em
que possam influenciar os resultados da pesquisa; Ciências da Saúde (http://decs.bvs.br/) para consulta aos termos de
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Revista Brasileira de Fisioterapia, caso o artigo venha a ser aceito pelos portuguesa e língua inglesa. Para os demais países, apenas em língua
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siderado encerrado. Caso o mesmo artigo seja re-encaminhado à Re- separadamente pelos Serviços de Informação, Catalogação e Indexação
vista, um novo processo será iniciado, com data atualizada. A data Bibliográficas, eles devem conter dados suficientemente sólidos para
do aceite será registrada quando os autores retornarem o manuscrito, ser apreciados por um leitor que não teve acesso ao artigo como um
após a correção final aceito pelos Editores. todo.
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quer outras alterações. Manuscritos em prova final não devolvidos Em caso de submissão em língua portuguesa o título, o título
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PC e uma cópia em papel. As figuras e tabelas devem ser colocadas Notas de Rodapé
em folhas separadas, anexadas no final do texto. As notas de rodapé do texto, se imprescindíveis, devem ser
Após publicação do artigo ou processo de revisão encerrado, numeradas consecutivamente em sobrescrito no manuscrito e escritas
toda documentação referente à revisão será incinerada. em uma folha separada, colocada no final do material após as refe-
rências.
Formato do manuscrito
O manuscrito deve ser elaborado na seguinte ordem, com Introdução, metodologia, resultados e discussão
todas as páginas numeradas consecutivamente na margem superior Após o Resumo e o Abstract deve-se incluir em folhas seqüenciais
direita, com início na página de título1. a Introdução, a Metodologia, os Resultados e a Discussão.

Título e Identificação Introdução - deve conter os objetivos da investigação, suas


Página de identificação: relações com outros trabalhos da área e os motivos que levaram o(s)
a) Título do manuscrito em letras maiúsculas; autor(es) a empreender a pesquisa;

b) Autor: nome e sobrenome de cada autor, em letras maiúsculas Metodologia - deve ser escrita de modo a permitir que o trabalho
sem titulação, seguido por número sobrescrito (expoente), identi- possa ser inteiramente repetido por outros pesquisadores. Deve incluir
ficando a afiliação institucional/vínculo (Unidade/Instituição/ todas as informações necessárias – ou fazer referências a artigos
cidade/estado); Para mais que um autor, separar por vírgula; publicados em outras revistas científicas – para permitir a
replicabilidade dos dados coletados;
c) Nome e endereço completo (incluindo número de telefone
e e-mail do autor para envio de correspondência. É de responsabilidade Resultados - devem ser apresentados de forma breve e concisa.
do autor correspondente manter atualizado o endereço e e-mail para É desejável que apresentem resultados de estudos que utilizem grupo
contatos. de controle e tamanho de amostra adequadamente. Tabelas e Figuras
podem ser incluídas, quando necessárias, para garantir melhor e mais
ATENÇÃO: A Revista recomenda fortemente inclusão de no efetiva compreensão dos dados;
máximo 6 (seis) autores em um artigo. Se mais de 6 (seis) autores
forem listados, a carta de encaminhamento do manuscrito deve es- Discussão - o objetivo da discussão é interpretar os resultados
clarecer, detalhadamente, qual a contribuição individual de cada e relacioná-los aos conhecimentos já existentes e disponíveis, prin-
um deles ao manuscrito, o qual será avaliado pelos Editores. Outras cipalmente àqueles que foram indicados na Introdução do trabalho.
Pessoas que contribuíram para o trabalho podem ser incluídas no As informações dadas anteriormente no texto (na Introdução,
item “Agradecimentos”; Metodologia e Resultados) podem ser citadas, mas não devem ser
repetidas em detalhes na discussão.
d) Título para as páginas do artigo: indicar um título curto,
para ser usado no cabeçalho das páginas do artigo (língua portuguesa
e inglesa), não excedendo 60 caracteres;

1
Para informações adicionais consultar “Uniform Requirements for Manuscripts (URM) submitted to Biomedical Journals” (http:www.icmje.org).
Após a Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Confira cuidadosamente cada figura, para certificar-se de que
incluir: não há erros nas legendas e que estão sendo enviadas para a Revista
as figuras mais apropriadas.
Referências Um conjunto adicional de Figuras com legendas em inglês deve
O número recomendado pela Revista é de 30 (trinta) referências ser também incluído para artigos submetidos em língua portuguesa.
bibliográficas e devem ser organizadas em seqüência numérica, de
acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no OUTRAS CONSIDERAÇÕES
texto seguindo os Requisitos Uniformizados para Manuscritos Sub-
metidos a Jornais Biomédicos, elaborado pelo Comitê Internacional Unidades
de Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Usar o Sistema Internacional (SI) de unidades métricas para as
Journal Editors – ICMJE – http://www.icmje.org/index.html). Ver medidas e abreviações das unidades.
exemplos no endereço http://www.ufscar.br/rbfisio. Artigos de Revisão
Os títulos de periódicos devem ser referidos de forma abreviada, São feitos por pesquisadores que tenham dado contribuição
de acordo com a List of Journals do Index Medicus (http://www.index- substancial em suas áreas específicas de conhecimento e são submetidos
medicus.com). As revistas não indexadas não deverão ter seus nomes apenas a convite dos editores estimulando a submissão por autores
abreviados. de reconhecimento internacional. Devem incluir uma seção que descreva
As citações devem ser mencionadas no texto em números so- os métodos empregados para localizar, selecionar, obter e sintetizar
brescritos (expoente). A exatidão das referências constantes no ma- as informações.
nuscrito e a correta citação no texto são de responsabilidade do(s)
autor(es) do manuscrito. Estudos de Casos
Os relatos de casos clínicos não precisam necessariamente seguir
Agradecimentos a estrutura canônica dos artigos científicos, mas devem apresentar um
Quando apropriado, agradeça brevemente as assistências téc- delineamento metodológico o mais exaustivo possível, para permitir
nicas, aconselhamento e assistência de colegas bem como às subvenções a reprodutibilidade das intervenções relatadas. Recomenda-se muito
para a pesquisa e à bolsa de estudo. (Os agradecimentos devem ser cuidado ao propor generalizações de resultados a partir dos estudos
incluídos no final, antes das referências bibliográficas). de casos.

Tabelas Cartas ao Editor


Todas as tabelas devem ser citadas no texto em ordem numérica. Críticas a matérias publicadas, de maneira construtiva, objetiva
Cada tabela deve ser digitada em espaço duplo, em uma página sepa- e educativa, consultas às situações clínicas e discussões de assuntos
rada. As tabelas devem ser numeradas consecutivamente com algarismos específicos à Fisioterapia serão publicados a critério dos editores.
arábicos e inseridas no final. Um título descritivo e legendas devem Quando a carta referir-se a comentários técnicos (réplicas) aos artigos
tornar as tabelas compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto publicados na Revista, esta será publicada junto com a tréplica dos
do artigo. autores do artigo objeto de análise e/ou crítica.
As tabelas não devem ser formatadas com marcadores horizontais
nem verticais, apenas necessitam de linhas horizontais para a separação Conflitos de interesse
de suas sessões principais. Use parágrafos ou recuos e espaços verticais Não é recomendável a utilização de nomes comerciais de equi-
e horizontais para agrupar os dados. pamentos e drogas (marcas registradas). Quando sua utilização for
Para artigos submetidos em língua portuguesa, um conjunto extra imperativa, os nomes dos produtos e de seus fabricantes deverão vir
de Tabelas traduzidas para o inglês precisa ser enviado. entre parênteses, após o nome genérico do tipo de equipamento ou
da droga utilizada.
Figuras
Digite todas as legendas em espaço duplo. Explique todos os Considerações Éticas e Legais
símbolos e abreviações. As legendas devem tornar as figuras Evite o uso de iniciais, nomes ou números de registros hospi-
compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto. Todas as figuras talares dos pacientes. Um paciente não poderá ser identificado em
devem ser citadas no texto, em ordem numérica e identificadas. fotografias, exceto com consentimento expresso, por escrito, acom-
Figuras- arte final panhando o trabalho original. As tabelas e/ou figuras publicadas em
Submeta uma versão original e três cópias, para avaliação dos outras revistas ou livros devem conter as respectivas referências e o
revisores. Para fotografias, inclua cópias de boa qualidade em papel consentimento, por escrito, do autor ou editores.
preto-e-branco. Estudos realizados no homem devem estar de acordo com os
Todas as figuras devem ter aparência profissional. Figuras de padrões éticos e com o devido consentimento livre e esclarecido dos
pouca qualidade podem resultar em atrasos na aceitação e publicação participantes (reporte-se à Resolução 196/96, do Conselho Nacional
do artigo. Prefira produzir a arte final das figuras em computador, de Saúde, que trata do “Código de Ética para Pesquisa em Seres
caso contrário, use papel vegetal/nanquim. Humanos”). Para as pesquisas em humanos, deve-se incluir o número
Use letras em caixa alta (A, B, C, etc.) para identificar as partes do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Pesquisa,
individuais de figuras múltiplas. Se possível todos os símbolos devem a qual seja devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde do
aparecer nas legendas. Entretanto, símbolos para identificação de curvas Hospital ou Universidade, ou o mais próximo da localização de sua
em um gráfico podem ser incluídos no corpo de uma figura, desde que região.
isso não dificulte a análise dos dados. A Revista reserva-se o direito de não publicar trabalhos que não
Cada figura deve estar claramente identificada. As figuras devem obedeçam a essas normas legais e éticas para pesquisas em seres
ser numeradas, consecutivamente, em arábico, na ordem em que humanos. Para os experimentos em animais, considere as diretrizes
aparecem no texto. Não agrupar diferentes figuras em uma única página internacionais (por exemplo, a do Committee for Research and Ethical
Issues of the International Association for the Study of Pain, publicada de serem postadas no correio. Prefira a remessa via Sedex ou carta
em PAIN, 16: 109-110, 1983). É recomendável que estudos relatando registrada.
resultados eletromiográficos sigam os “Standards for Reporting EMG É de responsabilidade dos autores a eliminação de todas as
Data” recomendados pela ISEK. informações (exceto na página do Título e identificação) que possam
identificar a origem ou autoria do artigo. Como exemplo, deve-se
CONSIDERAÇÕES FINAIS mencionar o número do parecer, mas o nome do Comitê de Ética
deve ser mencionado de forma genérica, sem incluir a Instituição
Ao enviar o original e as cópias do trabalho (na versão inicial) ou Laboratório, bem como outros dados. Esse cuidado é necessário
em papel e em formato eletrônico, procure acondicioná-los adequa- para que os assessores que avaliarão o manuscrito não tenham acesso
damente, para evitar rasuras e danos. As ilustrações, principalmente à identificação do(s) autor (es).
as fotografias, devem ser protegidas com material impermeável antes
REVISTA BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA
BRAZILIAN JOURNAL OF PHYSICAL THERAPY
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2 1997/1998 R$45,00 U$90,00 2 1997/1998 R$ 60,00 U$90,00
3(*) 1998/1999 R$30,00 U$45,00 3(*) 1998/1999 R$ 60,00 U$45,00
4(*) 1999/2000 R$30,00 U$45,00 4(*) 1999/2000 R$ 60,00 U$45,00
5 2001 R$60,00 U$90,00 5 2001 R$120,00 U$90,00
6 2002(***) R$60,00 U$90,00 6 2002(***) R$120,00 U$90,00
7 2003 R$60,00 U$90,00 7 2003 R$120,00 U$90,00
8(*) 2004 R$50,00 U$80,00 8(*) 2004 R$100,00 U$80,00
9 2005 R$60,00 U$90,00 9 2005 R$120,00 U$90,00
10+ 2006 R$95,00 U$90,00 10+ 2006 R$190,00 U$90,00
(*) volumes 1.2, 3.2, 4.2 e 4.3; 8.2 esgotados/sould out (**) others countries: tax and shipping included
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ISSN 1809-9246
Revista Brasileira de Fisioterapia ISSN 1809-9246
Rev. bras. fisioter., São Carlos,
ÍNDICE v. 10, n. 2, p. 137-247, 2006

Editorial ................................................................................................................................................................................................................................................................... V
Ensino em Fisioterapia/ Teaching in Physical Therapy
A PROFISSIONALIZAÇÃO DA FISIOTERAPIA EM MINAS GERAIS
Professionalization of Physycal Therapy in Minas Gerais
Nascimento MC, Sampaio RF, Salmela JH, Mancini MC, Figueiredo IM ............................................................................................................................................................................ 241

Fisioterapia nas Condições Cardiovasculares e Respiratórias/ Physical Therapy for cardiovascular and respiratory conditions
COMPARAÇÃO DAS RESPOSTAS CARDIORRESPIRATÓRIAS ENTRE EXERCÍCIO DE CARGA CONSTANTE E INCREMENTAL ABAIXO, ACIMA E NO LIMIAR DE
ANAEROBIOSE VENTILATÓRIO
Comparison of Cardiorespiratory Responses Between Constant and Incremental Load Exercises Below, Above and at the Ventilatory Anaerobic Threshold
Pithon KR, Martins LEB, Gallo Jr L, Catai AM, Silva E ....................................................................................................................................................................................................... 163

Fisioterapia nas Condições Geriátricas/ Physical Therapy for Geriatric Conditions


PARÂMETROS CINEMÁTICOS DA MARCHA COM OBSTÁCULO EM IDOSOS COM DOENÇA DE PARKINSON, COM E SEM EFEITO DA LEVODOPA: UM ESTUDO PILOTO
Kinematic Parameters for Gait with Obstacles Among Elderly Patients with Parkinson’s Disease, with and without Levodopa: a Piloty Study
Pieruccini-Faria F, Menuchi MRTP, Vitório R, Gobbi LTB, Stella F, Gobbi S .................................................................................................................................................................... 233

Fisioterapia nas Condições Músculo-Esqueléticas (Ortopedia e Traumatologia/Reumatologia/ Próteses e Órteses)/ Physical Therapy for Musculoskeletal Conditions
(Orthopedics and Traumatology, Rheumatology, Prosthesis and Orthesis)
AVALIAÇÃO DO ALINHAMENTO POSTURAL E DO DESEMPENHO EM ATIVIDADES FUNCIONAIS DE CRIANÇAS HEMOFÍLICAS EM IDADE INFERIOR A SETE ANOS,
COM E SEM SINOVITE CRÔNICA: CORRELAÇÃO COM A INCIDÊNCIA DE HEMARTROSES
Evaluation of Postural Alignment and Performance in Functional Activities Among Hemophilic Children Under 7 Years Old with and without Chronic Synovitis: Correlation with
Hemarthrosis Incidence
Galante GA, Azevedo CSA, Mello M, Tanaka C, D’Amico EA ............................................................................................................................................................................................... 171

ESTUDO DA CONFIABILIDADE DA FORÇA APLICADA DURANTE A MOBILIZAÇÃO ARTICULAR ÂNTERO-POSTERIOR DO TORNOZELO


Reability Study on the Force Applied During Anteroposterior Mobilization of the Ankle Joint
Resende MA, Venturini C, Penido MM, Bicalho LI, Peixoto GHC, Chagas MH ................................................................................................................................................................... 199

RELAÇÃO ENTRE INTENSIDADE DE DOR E CAPACIDADE FUNCIONAL EM INDIVÍDUOS OBESOS COM OSTEOARTRITE DE JOELHO
Relationship Between Pain Intensity and Functional Capacity of Obese Individuals with Knee Osteoarthritis
Vasconcelos KSS, Dias JMD, Dias RC .................................................................................................................................................................................................................................... 213

Fisioterapia nas Condições Neurológicas (do adulto e da criança)/ Physical Therapy for Neurological Conditions (in adults and children)
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR DE LACTANTES DESNUTRIDOS
Neuropsychomotor Development of Malnourished Babies
Mansur SS, Neto FR ................................................................................................................................................................................................................................................................. 185

HEMIPARETIC CEREBRAL PALSY: CLINICAL DATA COMPARED WITH NEUROIMAGING


Paralisia Cerebral Hemiparética: Dados Clínicos Comparados à Neuroimagem
Turolla de Souza RC, Ciasca SM, Maura-Ribeiro MVL, Zanardi VA ................................................................................................................................................................................... 157

INFLUÊNCIAS DE PRÁTICAS MATERNAS NO DESENVOLVEMENTO MOTOR DE LACTANTES DO 6º AO 12º MESES DE VIDA


Influence of Child-Rearing Practices on Infants’ Motor Development Between the Sixth and Twelfth Months of Life
Silva PL, Santos DCC, Gonçalves VMG ................................................................................................................................................................................................................................. 225

THE CHANGING FACE OF NEUROLOGICAL REHABILITATION


Mudando a Face da Reabilitação Neurológica
Carr JH, Shepherd RB .............................................................................................................................................................................................................................................................. 147

Medidas em Fisioterapia/Measurements in Physical Therapy


AVALIAÇÃO DA AMPLITUDE ARTICULAR DO JOELHO: CORRELAÇÃO ENTRE AS MEDIDAS REALIZADAS COM O GONIÔMETRO UNIVERSAL E NO DINAMÔMETRO
ISOCINÉTICO
Knee Joint Range-of-Motion Evalution: Correlation Between Measurements Achieved Using a Universal Goniometer and an Isokinetic Dynamometer
Batista LH, Camargo PR, Aiello GV, Oishi J, Salvini TF ...................................................................................................................................................................................................... 193

ESTUDO DE CONFIABILIDADE DA APLICAÇÃO DA ESCALA DE FUGL-MEYER NO BRASIL


Reability Study on the Application of the Fugl-Meyer Scale in Brasil
Maki T, Quagliato EMAB, Cacho EWA, Paz LPS, Nascimento NH, Inoue MMEA, Viana MA ............................................................................................................................................ 177

IMPORTANCE AND CLARIFICATION OF MEASUREMENT PROPERTIES IN REHABILITATION


Importância e Esclarecimentos das Propriedades de Medida em Reabilitação
Gadotti IC, Vieira ER, Magee DJ ............................................................................................................................................................................................................................................ 137

Recursos Terapêuticos Físicos e Naturais/ Physical and Natural Therapeutic Resources


ADAPTAÇÃO ENZIMÁTICA DA LDH EM RATOS SUBMETDOS A TREINAMENTO AERÓBIO EM ESTREITA E LASER DE BAIXA INTENSIDADE
Adaptation of LDH Enzyme in Rats Undergoing Aerobic Treadmill and Low Intensity Laser Therapy
Vieira WHB, Goes R, Costa FC, Parizotto NA, Perez SEA, Baldissera V, Munin FS, Schwantes MLB .............................................................................................................................. 205

ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA (TENS) NO PÓS-OPERATÓRIO DE CESARIANA


Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation (TENS) Following Cesarean Surgery
Melo de Paula G, Molinero de Paula VR, Dias RO, Mattei K ............................................................................................................................................................................................... 219

Normas Editoriais/Editorial Norms


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