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RESENHAS/BOOK REVIEWS

especialmente, a formação do “saber


Saber Ambiental.
ambiental”.
Enrique Leff.
A variedade temática entra em cho-
Petrópolis, Vozes, 343 p., 2001.
que com a complexidade que lhe é ine-
rente e o formato de uma coletânea de
ensaios, por mais que estes tenham sido
SÉRGIO LUÍS BOEIRA*
retrabalhados como capítulos complemen-
tares entre si, impede o autor de dar um
Enrique Leff, doutor em Economia do
tratamento analítico adequado a
Desenvolvimento pela Sorbonne, desde
macroconceitos como “paradigma” e
1986 coordena a Rede de Formação
“globalização”. Apesar desta circunstân-
Ambiental para a América Latina e o
cia – e também do fato de que as teses
Caribe, do PNUMA (Programa das Na-
centrais de Leff aparecem de forma um
ções Unidas para o Meio Ambiente). Leff
tanto quanto redundante em cada capí-
leciona Ecologia Política e Políticas
tulo –, a capacidade de síntese, a perspi-
Ambientais na UNAM (Universidade
cácia e a experiência internacional do au-
Nacional Autônoma do México). Nesta
tor permitem compensar a redundância,
obra, o autor apresenta 23 capítulos que
em vários momentos, com passagens de
tiveram origem em notas, exposições e es-
forte densidade teórica.
critos elaborados nos últimos dez anos. Os
Leff define o ambiente como uma “vi-
textos foram revisados e retrabalhados,
são das relações complexas e sinérgicas
sintetizados ou ampliados para compor um
gerada pela articulação dos processos de
caleidoscópio no qual, como ele mesmo
ordem física, biológica, termodinâmica,
diz, “o conceito de ambiente adquire no-
econômica, política e cultural”. Este con-
vas luzes e matizes, no qual os reflexos de
ceito ressignifica o sentido do habitat como
cada tema sobre os outros vão delinean-
suporte ecológico e do habitar como for-
do novas vertentes e abrindo novos cam-
ma de inscrição da cultura no espaço ge-
pos de aplicação”.
ográfico. A partir deste ponto de vista, o
No subtítulo do livro constam os con-
autor toma uma posição frontalmente
ceitos de sustentabilidade, racionalidade,
contrária ao “fato urbano”, por considerá-
complexidade e poder e, em quase todos
lo insustentável. A cidade, diz Leff, con-
os textos retrabalhados, estes termos rea-
verteu-se, pelo capital, em lugar onde se
parecem. Leff discute temas como
aglomera a produção, se congestiona o
globalização, ambiente e desenvolvimen-
consumo, se amontoa a população e se
to, democracia ambiental, ecologia pro-
degrada a energia. Os processos urbanos
dutiva, ética ambiental, direitos culturais,
se alimentam da superexploração dos re-
modernidade e pós-modernidade, socio-
cursos naturais, da desestruturação do en-
logia do conhecimento e racionalidade
torno ecológico, do dessecamento dos len-
ambiental, psicanálise, interdisciplina-
çóis freáticos, da sucção dos recursos
ridade, educação ambiental, demografia,
hídricos, da saturação do ar e da acumu-
qualidade de vida, desenvolvimento e,
lação de lixo. O autor vê na urbanização
uma expressão clara da acumulação de
*
Doutor em Ciências Humanas pela UFSC e professor
capital e considera a globalização da eco-
de ecologia política na UNIVALI.

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Ambiente & Sociedade - Ano V - No 10 - 1o Semestre de 2002

nomia a maior evidência do contra-sen- ca global, com repercussões nas instânci-


so da ideologia do progresso. Passou-se de as nacionais e infranacionais. A primeira
um processo de geração de estilos de vida caracteriza-se por sua capacidade de des-
para um outro, de acumulação de truição, de entropia, de degradação dos
irracionalidades (tráfico, violência, inse- ecossistemas e da maioria da população,
gurança). A urbanização como via inelu- enquanto a segunda caracteriza-se por sua
tável do desenvolvimento humano é ques- complexidade, por suas inter-relações
tionada pela crise ambiental, que discu- sistêmicas, científicas, econômicas, soci-
te a natureza do fenômeno urbano, seu ais e políticas. Por mais que o autor mos-
significado, suas funções e suas condições tre consciência da complexidade da rea-
de sustentabilidade. Este é um dos lidade, que não se deixa apreender por
posicionamentos mais enfáticos do autor. “lógicas abstratas”, o confronto estabele-
Ele considera a cidade a entidade mais cido entre as duas racionalidades ganha
resistente à reconstrução e relocalização. um contorno um tanto dualista, e talvez
Tecnologias, indústrias, práticas agríco- até reducionista. Leff argumenta, sob a
las se renovam enquanto a cidade torna- perspectiva ambiental do desenvolvimen-
se mais firmemente entrópica, como sin- to sustentável, que as contradições entre
toma das “deseconomias de congestão”. a lógica do capital, os processos ecológi-
Neste sentido, ainda que se concorde em cos e os sistemas vivos “não resultam da
grande medida com o autor, cabe questi- oposição de duas lógicas abstratas; sua
onar a ausência na sua obra de uma solução não consiste em subsumir o com-
temática inerente ao processo entrópico portamento econômico na lógica do vivo
da urbanização, mas com um sinal inver- ou em internalizar – como um conjunto
tido, de neguentropia: as novas tecno- de normas – as condições de susten-
logias de comunicação, com sua revolu- tabilidade ecológica na dinâmica do ca-
ção digital. Não seria a internet uma fer- pital”. Afirma que as contradições entre
ramenta de desconcentração das cidades racionalidade ecológica e a racionalidade
e portanto de sua renovação? De forma capitalista se dão por meio de um con-
mais ampla, se empresas e tecnologias são fronto de diferentes valores e potenciais,
convertidas pelos critérios da ecologia arraigados em esferas institucionais e em
política, não haveria neste processo uma paradigmas de conhecimento, e por meio
conseqüente renovação também das ci- de processos de legitimação com que se
dades? Com efeito, por mais terríveis que defrontam diferentes classes, grupos e
sejam os casos que lembram a cidade de atores sociais. A racionalidade ambiental,
Cubatão (SP), como os de anencefalia, é segundo ele, não é a expressão de uma
plausível compará-los criticamente com lógica, mas o efeito de um conjunto de
os projetos que fizeram de Curitiba uma interesses e de práticas sociais que arti-
cidade-referência no mundo. culam ordens materiais diversas “que dão
Nos textos de Leff, o confronto entre sentido e organizam processos sociais atra-
duas racionalidades, a econômica ou vés de certas regras, meios e fins social-
tecnológica, por um lado, e a ambiental, mente construídos”. A racionalidade
por outro, assumem uma espécie de po- “ambiental” é, afinal, apresentada como
der cognitivo condicionante da dinâmi- “social”. Portanto, não seria o caso de fa-

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lar- se de uma racionalidade “socio- constituídas como um conjunto de espe-


ambiental”? Para Leff, a categoria cializações surgidas da incorporação dos
“racionalidade ambiental” vai além dis- enfoques ecológicos às disciplinas tradi-
so e é construída mediante a “articula- cionais (antropologia ecológica, ecologia
ção de quatro esferas de racionalidade” urbana, engenharia ambiental, etc). O
(que são analisadas no capítulo 9): subs- saber ambiental abre-se para o terreno dos
tantiva, teórica, instrumental e cultural. valores éticos, dos conhecimentos práti-
Este processo de articulação de esferas de cos e dos saberes tradicionais. Emerge do
racionalidade vai legitimando a tomada espaço de exclusão gerado no desenvol-
de decisões, dando funcionalidade à vimento das ciências, centradas em seus
racionalidade ambiental. Desta forma, objetos de conhecimento, e que produz o
conclui o autor, nas práticas de apropria- desconhecimento de processos complexos
ção e transformação da natureza se con- que escapam à explicação dessas disci-
frontam e amalgamam diferentes plinas. Exemplo disso, aponta o autor, é o
racionalidades: a do tipo capitalista de campo de externalidades no qual a eco-
uso dos recursos; a racionalidade ecoló- nomia situa os processos naturais e cul-
gica das práticas produtivas e a dos esti- turais, inclusive a desigual distribuição
los étnicos de uso da natureza. Para ele, de renda. Em síntese, o saber ambiental
a desconstrução da racionalidade capi- é concebido como um processo em cons-
talista requer a construção de outra trução, complexo, por envolver aspectos
racionalidade social. É a partir deste lu- institucionais tanto de nível acadêmico
gar de externalidade e marginalidade que – contrariando os “paradigmas normais”
lhe atribui a racionalidade econômica do conhecimento – quanto de nível
que o paradigma ambiental projeta seus sociopolítico, por meio de movimentos
juízos éticos, seus valores culturais e seus sociais e de práticas tradicionais de ma-
potenciais produtivos sobre os efeitos da nejo dos recursos naturais.
produtividade e do cálculo econômico Na obra não fica clara a distinção en-
guiado pelo “sinal único do lucro”. tre “racionalidade ambiental” e “saber
É na construção da racionalidade ambiental”. Também me parecem um pou-
ambiental desconstrutora da raciona- co ambíguas as abordagens da teoria ge-
lidade capitalista que se forma o “saber ral dos sistemas (Bertalanffy) e do
ambiental”. Este pressupõe a integração paradigma da complexidade (Morin). Leff
inter e trans-disciplinar do conhecimen- usa com freqüência os conceitos de
to, para explicar o comportamento de sis- paradigma e de sistema, mas não entra
temas socioambientais complexos e, tam- no debate conceitual propriamente dito,
bém, problematizar o conhecimento frag- não distingue sua definição destes con-
mentado em disciplinas e a administra- ceitos da que fazem outros autores. Apa-
ção setorial do desenvolvimento. Tudo rentemente, tem uma compreensão uni-
isto para construir um campo de conhe- lateral da teoria geral dos sistemas, limi-
cimentos teóricos e práticos orientado para tada à interpretação funcionalista desta.
a rearticulação das relações sociedade- Quanto ao conceito de paradigma, fica
natureza. O saber ambiental, na visão de subjacente uma compreensão a partir da
Leff, excede as “ciências ambientais”, obra de Thomas Kuhn – Structure of

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Scientific Revolutions. As críticas a Kuhn, medida, o próprio saber ambiental seria


como este reconheceu, foram unânimes impossível caso a modernidade e a
em acentuar o grande número de dife- globalização fossem tão-somente proces-
rentes sentidos em que o conceito foi usa- sos homogeneizadores e unidimensionais.
do na sua obra. Uma abordagem e uma Como conclusão, pode-se dizer que o
definição mais consistentes do que seja pensamento do autor, premido pelo for-
“paradigma” encontram-se no quarto vo- mato do livro, permite compreender a com-
lume da série La Méthode, de Edgar plexidade do saber ambiental, mas não tan-
Morin. Leff tende a diluir a força do con- to a da relação entre este e a modernidade,
ceito, aplicando-o inclusive de forma na medida em que a complexidade desta não
contrária aos sentidos oferecidos por foi examinada em profundidade.
Kuhn. No lugar de um paradigma emer-
gente, complexo, incerto e nunca com-
pleto, que se contrapõe a um paradigma
disjuntor-redutor (conforme a terminolo-
gia de Morin), Leff propõe o conceito de
saber ambiental.
Outro aspecto a ser observado na obra
de Leff é sua inclinação para condenar,
por princípio, a modernidade e o
liberalismo.Ora, para um enfoque críti-
co, a modernidade e o liberalismo con-
têm, em si mesmos, uma complexa varie-
dade de enfoques, tanto entre seus de-
fensores no plano teórico (vejam-se, por
exemplo, Liberalismo e Sociedade Moder-
na, de Richard Bellamy, ou Os Filósofos
do Capitalismo, de Andrea Gabor) quan-
to nas práticas de mercado. Quanto a este
último, faltam às pesquisas ecopolíticas
distinguir os mercados sustentáveis dos
não sustentáveis, e atentar para o fato de
que é crescente a disputa por nichos de
mercado sob os critérios da qualidade e
da responsabilidade socioambiental das
empresas. Há (com crescente evidência)
mais de uma lógica capitalista em jogo e
-, também, múltiplas dimensões da
globalização. As estratégias empresariais
são cada dia mais complexas, ainda que
regidas por uma razão instrumental e pela
busca do lucro, e por isso requerem tam-
bém uma análise complexa. Em grande

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