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A. Águas superficiais. Pequena fração da água total que constitui boa parte da água
utilizável pelo homem. Vários campos do conhecimento tratam da água na superfície
em função de seu uso como Engenharia Hidráulica, Engenharia Sanitária, Limnologia,
Engenharia Agrícola, etc.
Medição da água superficial consiste basicamente de: (1) medição da profundidade e área
de escoamento de rios, canais e reservatórios, e (2) medição de vazão em rios, reservatórios
e pequenos canais.
1. Nível de água. A forma mais simples de se medir vazão num canal é medir a
altura (nível) acima de uma determinada referência. Normalmente as palavras
cheias (dentro do curso d’água) e inundação (transbordamento) estão
relacionadas ao nível d’água atingido. Estacas pintadas ou escalas verticais
(vistas a partir de pontes ou bancos de areia) podem ser usadas para medir o
nível. As vezes, o nível máximo deixa marcas que permitem sua identificação.
Estimativas de altura de inundações recentes podem muitas vezes serem obtidas
de marcas em pontes e árvores (sobretudo nas partes contra corrente). Galhos
finos e arbustos não são confiáveis porque sua altura poder variar sob efeito das
correntes.
Instrumentos baseados em mecanismo de relojoaria são usados para registrar o
nível d’água ao longo do tempo. Os mais recentes usam mecanismos de
conversão analógico-digital de forma que o nível é gravado em gráficos e
posteriormente transferidos para fitas magnéticas. O nível d’água, ou carga
hidráulica (h) é parte da informação necessária para calcular a vazão (Q) de um
curso d’água em volume por unidades de tempo (L3T-1).
2. Hidrógrafa , (ou Hidrograma), é a representação gráfica da variação da vazão
(Q) ou da carga (h) ao longo do tempo (minutos, horas, dias). Da análise das
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Vazão de pico
Tempo de
subida
desc
ida
Vazão (m3/min)
Fluxo superficial
d
subi
rafa
hidróg
ntecede
nte
a r ação da
Fluxo a Li n h a d
e s e p
ria)
(arbitrá
Tempo (horas)
Figura 7.1. Diagrama definindo os termos de uma hidrógrafa associada a um evento de
chuva de 4 horas.
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Re sposta Hidrológica = Qs Pg
_______
Re sposta média R = Qs Pg
Chuvas menores que 25,4 mm produzem poucos danos de forma que em geral a
resposta hidrológica média é computado apenas para chuvas superiores a 25,2 mm.
A figura 7.2 mostra que, dentro de uma bacia, a resposta média varia dentro de
limites fisiográficos. Na média, no leste dos USA, a resposta média é 0,20, isto é,
em torno de 20% de uma chuva típica transforma-se em escoamento superficial. A
resposta varia com a declividade, textura e profundidade do solo, e a ocorrência de
camadas de impedimento. A resposta hidrológica é controlada mais pela geologia
que pelo uso da terra.
4. Medida de vazão. Bernoulli demonstrou que o fluxo volumétrico em canais é dado por:
Q = AV unidades: L3T-1 [7.1]
Não é simples de se medir velocidade média num curso d’água. A velocidade é máxima na
superfície no meio do canal e no fundo do rio a velocidade é nula devido a fricção. O raio
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________
Qs Pg = R
Resposta hidrológica
( Pg ≥ 25mm)
Limite fisiográfico
Figura 7.2. Exemplo de como a resposta hidrológica varia com os limites fisiográficos de
uma bacia
hidráulico de um rio é definido como a razão entre a secção transversal (A) e o perímetro de
contato com a água no fundo do rio (perímetro molhado, Wp).
A
r= [7.2]
Wp
Métodos de medida. Para um fluxo constante (steady state), escolhe-se uma parte reta do
rio de 20 a 30 m na qual o fluxo pode ser considerado uniforme, isto é, a secção de fluxo a
montante e a jusante é igual àquela que queremos medir. A figura 7.3 mostra como Q e h
____
são relacionados num canal estável. O produto AV aumenta à medida que o nível se eleva
e decresce à medida que o nível diminui, de forma que há um único valor de Q para cada h.
A Figura 7.4 mostra um medidor de velocidade (medidor de corrente) adaptado para
pequenos cursos d’água em que um molinete dá a velocidade local da água através da
medida do número de rotações da hélice. A secção é normalmente dividida em 10
subsecções e a velocidade é medida de acordo com a regra 0,2 + 0,8 da profundidade (para
secções mais profundas que 0,3 m) ou 0,6 da profundidade para secções menos profundas
que 0,3 m (ver Figura 7.3).
V na superfície
Profundidade
V a 0.2 profundidade
V a 0.6 profundidade
V a 0.8 profundidade
__
( L1 )(d1 )(V1 ) = Q1 __
V0.2 + V0.8
__ V≈ ≈ V0.6
( L2 )(d 2 )(V2 ) = Q2 2
__ Boa aproximação regular
( Ln )(d n )(Vn ) = Qn
soma = Q
Figura 7.3. Diagrama mostrando o fluxo em um canal e como e a aproximação usada na sua
medida.
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Considera-se uma boa medida por este método se o erro estiver entre 5 e 10 %, e excelente
se menor que 5%. Num riacho, um método prático (de precisão pobre com erros entre 20 e
25%) é medir a velocidade de deslocamento de um “galhinho” no meio do riacho e
multiplicar por 0,75 (regra) para se obter a velocidade média e medir a seção com uma
trena.
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Registro de nível
Nível h
Vazão Q
tempo Nível h
Hidrógrafa de vazão
t =n
Vazão Q
tempo
Figura 7.5. Computação da vazão por períodos de chuva ou por períodos de tempo a partir
dos registros do nível de água e da curva de calibração Q x h.
1 2 3 12
Q= Ar s [7.3]
n
Q é a vazão em m3/s, A é a secção transversal em m2, r é o raio hidráulico em m, s é o
gradiente de declividade (adimensional ou m/m) e n é o fator de rugosidade de Manning em
unidades TL-1/3. Este fator varia de 0,02 em canais lisos a 0,15 para canais bastante rugosos
com fundo cheio de raízes e vegetação. Em geral estes valores são em encontrados em
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A = h 2 tan(90 o / 2) [7.4]
ou seja:
A=h2 [7.5]
Abrigo de
Sistema de medição
dissipação
Bacia de
estabilização
Vertedouro 90
a
roch
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Registrador
do nível d’água
vertedouro bóia
h
Poço de
estabilização
dutos comunicantes
Figura 7.6. Vista de um vertedouro triangular típico para medição precisa de vazão de
pequenos cursos d’água.
1. Classificação dos componentes de fluxo. É óbvio que nem toda a precipitação escoa
imediatamente para fora de uma dada bacia. Parte da água escoa muito rapidamente,
parte é armazenada temporariamente e outra fração nunca escoa para fora sendo re-
evaporada para a atmosfera ou percolada para aqüíferos subterrâneos profundos. Os
seguintes termos são usados para classificar e descrever o processo complexo de
runoff.
Vazão do canal (Q) é a taxa de descarga de um dado canal natural obtida numa
estação de medição. É a soma de todos os termos acima:
Q = Cp + Rs + Ri + Rg [7.9]
Fluxo abaixo do leito do canal (U) é também fluxo não medido que ocorre em
sedimentos de vales e material carreado e depositado no fundo.
Coleta de Água (WY) de uma bacia é a água total coletada num dado período de
tempo. É igual a diferença entre a precipitação total e a soma da evapotranspiração e
da variação de armazenamento:
WY = Pg − Et − ∆S [7.10]
WY = Q + U ± L [7.11]
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Precipitação no canal
1% 21%
Escoamento lateral
no solo 8%
1%
Escoamento superficial
Escoamento básico
Escoamento subsuperficial
Tempo de residência
Figura 7.8. Partição (em %) da precipitação anual de áreas úmidas do leste dos EUA e sua
relação com o tempo de residência das componentes de vazão de saída. Escoamento
superficial pode deixar microbacias em minutos enquanto escoamento básico pode ser
originado de água armazenada no regolito durante anos.
Umidade do Solo pode ser separada em água detida (pequenos períodos) e água
retida na manta de solo. Quando a zona de aeração é profunda, o estoque de
água na manta de solo desempenha papel muito importante na quantificação e
“timing” tanto de deflúvio quanto de escoamento básico.
Estoque do canal é a água contida no canal num dado instante, variando bastante
durante e após as chuvas, e seu efeito sobre a hidrógrafa de pontos a jusante é
dominante.
Em resumo, dois conjuntos de fatores controlam a hidrógrafa de uma bacia: fatores físicos
(morfologia e propriedades físicas dos solos) e meteorológicos (total de chuva por evento,
intensidade de chuva (cm/hr), duração da chuva (horas, dias, semanas), distribuição da
chuva na bacia e temperatura (regiões de alta latitude)).
Rio Salt
Rio Manistee
Tempo (meses)
dos runoffs diretos são iguais; 2) Duas chuvas de mesma duração, mas com volumes
escoados diferentes, resultam em hidrógrafas cujas ordenadas são proporcionais ao
volume escoado, e 3) Considera-se que as precipitações anteriores não influenciam a
distribuição no tempo do runoff direto. Com base nisto L.K. Shermam publicou em
1932 um método chamado “Hidrógrafa unitária” que é uma ferramenta útil na
transformação de dados de chuva em dados de vazão. A hidrógrafa unitária de cada
bacia representa a capacidade média da bacia de drenar a água da chuva. Na definição
de Sherman : “Se uma chuva de um dia produz um runoff direto de 1 polegada, a
hidrógrafa produzida por este evento é a hidrógrafa unitária da bacia”.
Chuva total = 6 cm
infiltração
Chuva (cm/h)
4 horas
40
35
Vazão atual
vazão (m3/hr x 102)
30
25 Hidrógrafa unitária
20
15
10
5
0
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
tempo (horas) a partir de t0
2 cm em 1h 1 cm + 1cm na 2 h +0.5 cm na 3h
vazão (runoff direto)
1 cm + 1 cm defasado de 1h
Hidrógrafa unitária
1 cm em 1 h
0 3 6 9
A entrada (I) é o influxo médio na entrada do lago, e a saída (O) é a taxa média de
fluxo pela secção de controle e a mudança de estoque é o ganho ou perda de água
pelo lago. Neste exemplo o intervalo de propagação é de 1 h, e os subscritos 1 e 2
referem-se ao início e fim do intervalo. Assim:
I1 + I 2 O1 + O2
= + ( S 2 − S1 ) [7.12]
2 2
I1 = O1 = S1 = 0
e também que I2 será o fluxo dado pela hidrógrafa unitária ao final da 1a hora (4
m3/h, às 9h00, figura 7.9). Re-arranjando 7.12 de forma que as variáveis conhecidas
fiquem à esquerda e as desconhecidas à direita, segue:
I1 I 2 O O
+ + S1 − 1 = S 2 + 2 [7.13]
2 2 2 2
I Secção de
S controle
Estoque inicial
O
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e
10
oqu
st
.e
vs
Saída do lago (m3/h x 102)
)
/2
8 íd
+O
Sa
(S
.
vs
ída
Sa
6
0
0 10 20 30 40 50
(S+O/2) em m /h x 10
3 2
Figura 7.10. Diagrama da curva saída versus estoque desenvolvido para um lago de 1 ha
com determinada capacidade hidráulica do canal de saída (secção de controle).
102. Entre este valor em S1 as 9h00, que será o estoque inicial no início da segunda
iteração. Compute o novo (S+O/2) e continue até que toda enchente seja escoada. O
pico cai pela metade e a duração do escoamento extende-se por aproximadamente 6
horas (neste exemplo).
25
20
vazão (m3/h x 102)
15
10
0
5 10 15 20 25
hora
Figura 7.11b. Representação gráfica das vazões de entrada e saída da figura 7.11a. Vê-
se como o pico da enchente é achatado e atrasado no tempo pelo estoque.
3. Curvas de runoff. Estimativas de chuva excedente (que não infiltra) são baseadas
nas curvas de capacidade de infiltração. A maioria dos tipos de solo é classificada
em quatro grupos do ponto de vista de capacidade de infiltração:
( P − 0,2S ) 2
Q= [7.15]
P + 0,8S
5
1000
4 No. da curva = 10 + S
Runoff direto (pol)
90
80
0
3
70
10
60
50
2
40
1
30
20
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Precipitação (pol)
chuva
Capacidade de
armazenamento
Estoque atual
5. Fórmula índice R. Hewlett at al. (1977) desenvolveram fórmulas para estimativas (com
a finalidade de planejamento) de runoff direto e vazão de pico para florestas do leste
dos EUA, usando a resposta hidrológica média da figura 7.2.
1, 5
Qs = 0,35RPg [7.16]
1, 6
Q p = 3,4 RPg [7.17]
AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL
1,0 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,5 1,4 1,3 1,2 1,1
Uma condição de aplicação da fórmula 7.16 é que Qs não pode ser maior que Pg.
Diferenciando 7.16, verifica-se que quando Pg atinge 3,6/R2, qualquer chuva suplementar
torna-se runoff, o que não é problema a menos que Pg seja maior que 30 cm e R maior que
0,35, como mostra a tabela abaixo:
Quando R = 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50
Limite de Pg 360 160 90 58 40 30 23 18 14
(cm) =
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Por exemplo, se R=0,45, qualquer chuva acima de 18 cm vai diretamente para runoff pois a
capacidade de armazenamento foi atingida (o vaso do modelo está “cheio”).
Exemplo: Quantos m3 de água são adicionados num lago de 1 ha na saída de uma bacia de
100 ha de Piedmeont, USA (R=0,16), se uma chuva de 25 cm ocorre em março?
Qs = 0,35(0,16)251,5 = 7 cm
Aplicando o ajuste:
ra so
Solo
t0 t1
t2 t3
Figura 7.12. Este exemplo mostra como a vazão aumenta enquanto a área de
contribuição se estende para dentro de brejos, solos rasos e canais efêmeros. O processo
se reverte quando a vazão diminui. Neste exemplo, a superfície contribuindo para o
fluxo de drenagem varia de 1% do total em eventos de chuva reduzida até 50% em
condições de tempestade pesada.
Chuva nova
última chuva
Figura 7.13. Uma secção transversal idealizada de fluxo numa bacia, mostrando a
superfície fonte variável de contribuição para a vazão (runoff direto) e a fonte de
escoamento básico defasado.
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ãe
ha m
Roc
Concentração no escoamento básico
evapotranspiração precipitação
interceptação
Áreas
impermeáveis
Armazenamento
camada inferior
Escoamento básico
Armazenamento
lençol freático
Escoamento no
canal
evapotranspiração precipitação
interceptação
Escoamento superficial
Áreas
impermeáveis
in f
iltr
açã
o
Rotina
defluxo Precipitação de canal
subsuperficial Zo
n
de a va Fluxo subsuperficial
sat riáv
ura
ção el
Escoamento básico
Escoamento no
canal