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Elaborado em 12/2002.
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Gustavo de Resende Raposo
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O objetivo deste trabalho é apresentar uma perspectiva descritiva da
temática da educação na Constituição Federal de 1988, analisando a inserção do
direito à educação no rol dos direitos sociais, buscando avaliar a atribuição de
direitos subjetivos ao cidadão.
1.Toda pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos
técnico e profissional deve ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a
tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o
Artigo 26º
Introdução
Direito. Na verdade, é a própria Constituição Federal que a enuncia como direito de todos, dever do
Estado e da família, com a tríplice função de garantir a realização plena do ser humano, inseri-lo no
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educação na Constituição Federal de 1988, analisando a inserção do direito à educação no rol dos
importante elemento de afirmação dos direitos do cidadão frente ao Estado, garantindo em última
Por fim, analisamos dois casos atuais relacionados ao direito à educação, que têm
repercussão constitucional: o acesso ao ensino superior de estudantes que não concluíram o ensino
médio e a adoção do sistema de cotas de acesso ao ensino superior para minoria afro-descendente.
Com maior ou menor abrangência e marcadas pela ideologia de sua época, todas
universidades.
União legislar sobre o ensino superior enquanto aos Estados competia legislar sobre ensino
secundário e primário, embora tanto a União quanto os Estados pudessem criar e manter
instituições de ensino superior e secundário. Rompendo com a adoção de uma religião oficial,
brasileira, na medida em que se dedica a enunciar normas que exorbitam a temática tipicamente
como direito de todos, correspondendo a dever da família e dos poderes públicos, voltada para
competência do Conselho Nacional de Educação para elaborá-lo, criação dos sistemas educativos
nos estados, prevendo os órgãos de sua composição como corolário do próprio princípio federativo
concurso.
educação a valores cívicos e econômicos. Não se registra preocupação com o ensino público,
União em relação às diretrizes e bases da educação nacional, sem referência aos sistemas de
competência dos Estados é garantida pela competência residual, como também pela previsão dos
educação pública, a despeito de franqueada à livre iniciativa. São definidos princípios norteadores
do ensino, entre eles ensino primário obrigatório e gratuito, liberdade de cátedra e concurso para
seu provimento não só nos estabelecimentos superiores oficiais como nos livres, merecendo
substituição do ensino oficial gratuito por bolsas de estudo; necessidade de bom desempenho para
garantia da gratuidade do ensino médio e superior aos que comprovarem insuficiência de recursos;
e valores. Conforme registra Herkenhoff (1987, p.8), "educação não é um tema isolado, mas decorre
Nesse contexto, mais do que em virtude de constituir um direito ou por ter valor em
modelo econômico, como também por constituir eficiente mecanismo de ação política (Ranieri,
2000, p. 37).
Constituição Federal de 1988, não só pela expressa definição de seus objetivos, como também pela
social no artigo 6º; especifica a competência legislativa nos artigos 22, XXIV e 24, IX; dedica toda
uma parte do título da Ordem Social para responsabilizar o Estado e a família, tratar do acesso e da
1988 em relação ao direito à educação decorre de seu caráter democrático, especialmente pela
preocupação em prever instrumentos voltados para sua efetividade (Ranieri, 2000, p. 78).
humanos. São direitos que encontram seu fundamento de validade na preservação da condição
humana. São direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico como indispensáveis para a própria
fundamentais ou direitos humanos são direitos históricos, ou seja, são fruto de circunstâncias e
conjunturas vividas pela humanidade e especificamente por cada um dos diversos Estados,
Federativa do Brasil, bem como com os seus objetivos, especificamente: a construção de uma
ligado à busca do ideal de igualdade que caracteriza os direitos de 2ª dimensão. Os direitos sociais
abarcam um sentido de igualdade material que se realiza por meio da atuação estatal dirigida à
garantia de padrões mínimos de acesso a bens econômicos, sociais e culturais a quem não
conseguiu a eles ter acesso por meios próprios. Em última análise, representam o oferecimento de
condições básicas para que o indivíduo possa efetivamente se utilizar das liberdades que o sistema
lhe outorga.
(1998, p. 152), consiste na "possibilidade que tem o titular (...) de fazer valer judicialmente os
poderes, as liberdades ou mesmo o direito de ação ou às ações negativas ou positivas que lhe
foram outorgadas pela norma consagradora do direito fundamental em questão". Essa perspectiva
tem como referência a função precípua dos direitos fundamentais, que consiste na proteção do
indivíduo.
ordenamento jurídico e que fornecem diretrizes para os órgãos legislativos, judiciários e executivos"
(Sarlet, 1998, p.140). Transcende-se a dimensão de proteção do indivíduo, implicando nova função
coloca-se como elemento condicionante do exercício de direitos fundamentais. Daí decorre inegável
limitação dos direitos fundamentais em sua perspectiva individual quando contrapostos ao interesse
apontando Sarlet (1998, p.145/147) como principais corolários a sua eficácia irradiante, ou seja, a
oponibilidade de direitos fundamentais não só frente ao Estado, mas também nas relações privadas;
individuais; criação de um dever geral de proteção do Estado voltado para o efetivo resguardo dos
direitos fundamentais em caráter preventivo, tanto contra o próprio Estado, como contra particulares
ou mesmo outros Estados e, finalmente, a função dos direitos fundamentais de atuar como
exigibilidade direta pelo cidadão e no plano objetivo solidifica-se o dever do Estado em promover
"(...) princípios são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma
possível, de acordo com possibilidades fácticas e jurídicas. Os princípios não proíbem, permitem ou
exigem, proíbem ou permitem algo em termos definitivos, sem qualquer excepção (direito
definitivo)". A conjugação de princípios e regras é percebida por Canotilho (1999, p.1124) que
Sem dúvida alguma, das normas que tratam da educação na Constituição Federal
previsão do ensino fundamental obrigatório e gratuito, inserta no inciso I do artigo 208, cujo
parágrafo primeiro garante não só a imediata aplicabilidade e eficácia da norma, como também a
forma de princípios. E isso se justifica, pois se por um lado a Constituição ao enunciar direitos
sociais impõe obrigações de fazer para o Estado, por outro essa imposição de obrigações de fazer
não é detalhada ao ponto de instituir normas do tipo regra, prescrevendo objetivamente condutas e
suas conseqüências.
Campello (2000, p.9) ao afirmar que "na norma educacional não têm sido encontradas, amiúde,
sanções que caracterizem punições ou que estabeleçam um grau elevado de coercitividade para
irradiação de efeitos por todo o sistema normativo, "compondo-lhe o espírito e servindo de critério
para sua exata compreensão e inteligência (...)", conforme salienta Bandeira de Mello
constitucional. O modelo principiológico, se por um lado não esgota ou não encerra em termos
definitivos o tratamento jurídico de determinada questão, por outro confere abertura para solução de
conflitos através da ponderação de valores. Este é o caminho que se apresenta para composição de
conformação jurídica dos direitos sociais, ou seja, as possibilidades de caracterização dos direitos
voltada à idéia de pressão de natureza política sobre os órgãos competentes. Como normas de
com capacidade de vinculação também limitada ao plano político. A idéia de garantias institucionais
está dirigida ao respeito e à proteção de determinada instituição social, que por sua natureza está
sociais como direitos subjetivos públicos estatuem direitos fruíveis diretamente pelo cidadão e