Sunteți pe pagina 1din 1

Público • Sexta-feira 13 Maio 2011 • 39

O nosso maior risco é não mudar por receio da mudança. Dessa paralisia é que devemos ter medo

Portugal e os portugueses são capazes de fazer melhor

U
PATRICIA DE MELO MOREIRA
m fraco rei faz fraca a forte gente, es- monopólio absoluto da prestação de serviços sociais
creveu Luis de Camões. Mal sabia ele e oferecia regimes de protecção tão vantajosos que
como o destino próximo (D. Sebastião) e corroeram a ética do trabalho, pois quase não era
o destino longínquo (a quase bancarrota necessário trabalhar para viver confortavelmente.
de 2011) lhe dariam razão. Mais: como a Até que o país cuja economia mais crescera em todo o
história da Humanidade nestes cinco séculos con- mundo nos 150 anos anteriores entrou em crise, per-
firmaria uma intuição que, mais do que assente na cebeu os limites
José fulanização dos destinos colectivos, permite com-
Em duas décadas a Suécia do seu “Estado-
Manuel preender a importância das instituições e das polí- trocou o seu “Estado- ama-seca” e es-
Fernandes ticas no sucesso e no insucesso das nações. Convém colheu políticos
recordá-lo para recuperarmos a esperança, pois se tutor” por um “Estado que propunham
Extremo não podemos mudar de povo, podemos de hábitos a liberdade de
ocidental facilitador”, reduziu em
e de líderes. escolha entre
Max Weber associou, no princípio do século XX, quase 20 pontos a prestadores de
o sucesso do Ocidente (e o triunfo do capitalismo) serviços públi-
ao tipo de cultura que se desenvolvera na Europa
despesa pública, retomou cos. Em duas
do Norte a partir de Idade Média e ao que designou o crescimento económico décadas a Sué-
de “ética protestante”. Mais recentemente David cia trocou o seu
Landes, em A Riqueza e a Pobreza das Nações, de- e até está a reduzir a sua “Estado-tutor”
senvolveu esse argumento mas reconheceu também dívida pública por um “Estado
a importância das instituições. Por fim, o historiador facilitador”, re-
Niall Fergusson, numa obra acabada de publicar – Se pensarmos que um Mercedes ou um BMW são duziu em quase 20 pontos a despesa pública, reto-
Civilization, The West and the Rest –, chama a aten- fruto da concorrência pela excelência e que um Tra- mou o crescimento económico e até tem conseguido
ção para o facto de, mesmo considerando que as bant representava o maior triunfo do “planeamento reduzir a sua dívida pública.
instituições e as lideranças são fruto da cultura de estatal”, não é difícil transpor para a actualidade a Introduzir mais concorrência em todos os secto-
uma nação, a imposição de instituições erradas po- importância deste primeiro factor identificado por res da nossa vida económica e social, inclusive na
der “tornar fraca a forte gente”. E dá três exemplos Ferguson, até porque ele simboliza bem o que separa- Administração Pública, não requer reformas muito
do século XX: os destinos diferentes dos alemães na va a cultura política da triunfante RFA das opressivas complicadas, mas fará com que todos, mesmo os
RFA e na RDA, dos coreanos do Norte e do Sul e dos regras da RDA. Numa escala diferente, sem sairmos instalados, se sintam menos confortáveis nas suas
chineses na República Popular ou em Hong Kong e da referência central do Estado de direito democrá- inércias e sejam obrigados a trabalhar melhor. A 5
na Formosa. tico, a experiência sueca também nos mostra como a de Junho também temos de fazer essa opção, mes-
Servem estas brevíssimas referências a uma antiga introdução de concorrência na prestação dos serviços mo que isso comporte sempre algum risco. Só que o
discussão – o porquê do triunfo do Ocidente – para públicos permitiu resgatar o Estado social da falên- nosso maior risco é não mudar. Do que devemos ter
sublinhar um ponto que, nestes dias de sombras e cia. Há 20 anos, o Estado sueco ainda assegurava o medo é da paralisia defensiva. Jornalista
de ruínas, tem sido muitas vezes esquecido: Portu-
gal e os portugueses são capazes de fazer melhor.
Os portugueses fazem todos os dias melhor quan-
Estranhos conceitos de democracia
do enquadrados por instituições mais saudáveis e
em ambientes onde os estímulos são os correctos, a O cabeça de lista do PS sinal de degradação dos mais transparência e mais verdade.
como mostram os nossos emigrantes ou como se por Lisboa, Ferro Rodrigues, elementares princípios políticos. O problema dos socialistas é que,
comprova na Autoeuropa (onde o Código do Traba- considerou que todos os partidos Depois porque se pretende que a ao manterem Sócrates na liderança,
lho não é cumprido, mas é cumprido o acordo com da oposição, ao assumirem que escolha das lideranças partidárias colocaram o partido num impasse,
os trabalhadores). E Portugal foi, entre 1960 e 1998, não farão acordos com José seja algo que só tem a ver com os como notou, esta semana, um
um país apontado como exemplo de crescimento e Sócrates, assumem uma “natureza militantes dos respectivos partidos outro socialista, Manuel Maria
rápida modernização, um país que viveu dois booms antidemocrática”. Este raciocínio e não com os eleitores. Porém, Carrilho. Ou seja, os militantes
impressionantes (entre 1965 e 1973 e na segunda me- corresponde a uma total inversão ao votarem conscientemente em do PS escolheram o líder que
tade da década de 1980). de valores. Primeiro porque, ao partidos que manifestaram a sua entenderam escolher, mas com isso
Ou seja, foi e é possível. Desde que os tempos se- esclarecerem os eleitores que não intenção de não fazer coligações colocaram-se de fora de qualquer
jam de mudança. farão acordos com Sócrates, os com Sócrates, os eleitores também acordo com outros partidos. Foi

N
líderes da oposição cumprem o fazem uma escolha democrática a sua escolha, mas não podem
a sua comunicação ao país, o Presidente dever democrático de revelarem as cuja legitimidade, por mais que isso obrigar todos os outros partidos –
da República sublinhou a importância suas intenções antes das eleições. irrite as oligarquias partidárias, incluindo todos os portugueses que
de “aproveitar este tempo difícil” para Bem sei que falar verdade aos tem mais legitimidade do que os apoiam na decisão de ostracizar
“mudar de vida e construir uma econo- eleitores é algo que há muito se as dos militantes reunidos em Sócrates – a engolir o sapo que
mia saudável”. Disse mesmo que não te- perdeu no PS, mas pretender conclaves como o de Matosinhos. ainda consola a alma à entourage do
mos outra opção senão “acabarmos com vícios que que isso é “antidemocrático” é Mais legitimidade, mais Largo do Rato.
afectam o funcionamento do Estado, das empresas
e dos mercados”. O que passa por “trabalhar melhor
e poupar mais”. Resta saber como fazê-lo.
Niall Ferguson procurou, na obra citada, sistemati-
O hábito de mentir torna-se regra na Europa
zar o “conjunto de instituições e de ideias e compor-
tamentos” que permitiram o rápido desenvolvimen- a Na passada sexta-feira os revista alemã Der Spiegel. Porém a financeira, o comportamento
to do Ocidente até uma hegemonia mundial para a correspondentes do Wall Street reunião não só já estava marcada habitual das autoridades europeias
qual, há 500 anos, o milenar Império Chinês parecia Journal em Bruxelas entraram em como se realizou nessa mesma é mentir. Alegadamente para não
mais fadado. E o primeiro factor que identificou foi contacto com o gabinete de Jean- noite. Depois deste episódio, “alimentar a especulação dos
a existência, na Europa, de uma forte concorrência Claude Juncker, o luxemburguês Schuller contactou os jornalistas mercados financeiros”. Mesmo
não só entre Estados, como no interior de cada Es- que preside às reuniões dos para os informar que lhe tinham assim, apesar de achar natural
tado, concorrência essa que potenciou a inovação ministros das Finanças dos pedido para dizer que não havia mentir, Juncker (e a generalidade
e levou a que se procurasse sempre mais e melhor. países do euro, para confirmar a reunião. Ou seja, que lhe tinham da eurocracia) surpreende-se
“Porque é que Vasco da Gama procurava de forma tão realização, nessa noite, de uma pedido para mentir. porque ninguém, nos mercados,
desesperada a riqueza – e matava em nome dela?”, reunião de emergência por causa Este comportamento não “parece acreditar no que
interroga-se Ferguson depois de descrever algumas da crise grega. Guy Schuller, porta- surpreende. Em Abril, o próprio dizemos”. Eu não me surpreendo.
das brutalidades do grande navegador. “Podemos ver voz do presidente do eurogrupo, Juncker disse, numa conferência, Só me surpreendo por tantos
a resposta olhando para o mapa da Europa medie- respondeu taxativamente: não que “quando as coisas começam “europeístas” quererem transferir
val, onde encontraremos centenas de Estados que estava prevista nenhuma reunião, a ficar sérias, tenho de mentir”. ainda mais poderes para este tipo
competiam entre si”. ao contrário do que noticiara a Ou seja, assumiu que, nesta crise de dirigentes.

S-ar putea să vă placă și