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Introdução
Breve resenha histórica
Os aços-ferramenta são uma gama de aços extremamente antiga que constitui provavelmente a forma mais antiga de
utilização dos metais ferrosos. A descoberta dos aços remonta a 1000 a.C., datando de então a constatação do efeito
endurecedor assegurado não só pela absorção de carbono pelo ferro, mas também pela acção do aquecimento seguido de
arrefecimento brusco (têmpera).
Cerca de 350 a.C. surge na Índia, e talvez ainda antes na China, o ferro de fusão: ferro extraído do minério por meio de
fornos cujo funcionamento era semelhante ao dos actuais altos-fornos. O bloco esponjosos obtido era martelado para libertar as
escórias sendo depois refundido em pequenos cadinhos que se deixavam arrefecer lentamente.
Os aços de Damasco eram já verdadeiros compósitos formados de camadas alternadas de aço duro e aço macio ligadas
entre si por soldadura e forjagem.
Na Idade Média sofreu-se um retrocesso e fabricava-se de novo o aço aquecendo-se o ferro em contacto directo com
materiais carbonados. O enriquecimento em carbono tinha lugar unicamente à superfície. Para se obterem materiais duros com
um certo volume forjava-se em conjunto uma grande quantidade de pequenos bocados de aço enriquecido em carbono.
Só em meados do século XVII (1740) é que Huntsman redescobriu a fusão do aço. Fundindo num cadinho pequenos
pedaços de ferro enriquecido em carbono obtém então um bloco de aço homogéneo e que endurece uniformemente.
No início do século XIX apareceu pela primeira vez a elaboração por mistura em cadinho, antes da fusão, de ferro materiais
carbonados e, mais tarde, de guza. No entanto, só em 1820 é que Karsten mostrou que a diferença entre ferro, aço e guza(ferro
fundido) residia no teor em carbono.
Em 1868 R. Mushet descobriu que a adição de tungsténio ao aço permitia endurecê-lo após aquecimento sem que houvesse
necessidade de o temperar. Depressa se reconheceu que este tipo de aço resistia muito melhor ao desgaste e que, no caso das
ferramentas de corte, mantinha o fio de corte mesmo depois de tempos de serviço mais longos. Foi, no entanto, necessário
esperar mais vinte e cinco anos para se constatar que este aço (com uma composição aproximada de 2% C, 2,5% Mn e 7% W)
tinha uma dureza a quente muito mais elevada e que suportava um aumento sensível das velocidades de corte. Tinha então
surgido o primeiro aço rápido.
A ideia da adição de crómio ocorreu a Holtzer em 1878, mas muito havia ainda a fazer no domínio dos tratamentos
térmicos. Julgava-se então que este aço não suportaria o aquecimento acima de 900 ºC; foi com as experiências de Taylor no
final do século XIX que se descobriu que este aço ao crómio em vez de ver as suas propriedades degradarem-se a altas
temperaturas, melhorava de tal modo as suas características que permitia atingir velocidades de corte consideradas muito
elevadas para a época (10 m/min).
No início do século XIX Taylor e White recomendavam um aço com 1,85% C, 4% Cr e 8% W para logo a seguir
aconselharem uma descida do teor em carbono para 0,7% acompanhada de um aumento do teor em tungsténio para 14%.
Estava assim criada a base dos aços rápidos actuais.
Depois de 1900 os progressos efectuados no domínio dos aços rápidos estenderam-se a todos os aços-ferramenta. Em 1920,
o número de qualidades disponíveis nos Estados Unidos era igual a 12 e a maior parte de entre elas continuam ainda hoje a ser
fabricadas. É o caso particular dos aços de trabalho a quente contendo crómio ou tungsténio bem como dos aços de trabalho a
frio contendo manganés, tungsténio, crómio e vanádio. No caso dos aços rápidos a dureza a quente aumentou
significativamente através da adição de cobalto em quantidades que podem ir até cerca de 10%.
De entre as evoluções importantes por parte da composição química após a Primeira Guerra Mundial é de assinalar a
introdução do molibdénio nos aços com 5% de crómio para satisfazer os problemas de temperabilidade e aparecimento dos
aços grafíticos e dos aços com endurecimento estrutural para resolver problemas de maquinabilidade. É igualmente de
salientar, durante este período, a utilização cada vez maior do molibdénio em substituição do tungsténio nos aços rápidos. Esta
tendência que se acentuou no decurso da Segunda Guerra Mundial devido às dificuldades de aprovisionamento em tungsténio,
foi facilitada pelos progressos entretanto alcançados no domínio dos tratamentos térmicos graças à generalização da utilização
de banhos de sais.
Após 1950 os progressos realizados nos aços-ferramenta situam-se sobretudo ao nível das condições de elaboração e de
transformação para afinar a estrutura dos produtos obtidos. Assinale-se igualmente a incorporação de enxofre para responder
aos problemas de maquinagem, estado da superfície das ferramentas e a introdução das qualidades de aços rápidos ditos de alto
carbono, com elevados teores em vanádio e cobalto.
O desenvolvimento rápido da mecanização e a diversificação dos meios empregues para transformar os diferentes materiais
alargaram o domínio de aplicação dos aços-ferramenta o que levou os fabricantes de aços a criar um grande número de
qualidades para responder às solicitações industriais. Esta diversificação não sendo alheia à evolução tecnológica, fica também
a dever-se ao facto de o aço-ferramenta ser usado num grande número de situações, desde as ferramentas manuais, até às
ferramentas de trabalho a quente e às ferramentas de corte.
Na década de 70 identificavam-se as seguintes variedades de aços-ferramenta:
- 76 nos Estados Unidos (norma AISI),
- 82 na Alemanha (documento Werkstoffblätter),
- 87 em França (norma NF A 35-590).
Re = Re0 + ke ⋅ d −1/ 2
põe em evidência a importância do tamanho de grão sobre o limite de elasticidade Re (sendo Re0 o limite de elasticidade
de um monocristal, ke uma constante, d o diâmetro médio dos grãos):
- a lei de variação da temperatura de transição dúctil-frágil Tc em função do tamanho médio dos grãos d :
− 12
Tc = k − β ⋅ d
Sumário
Na exposição que se segue procurar-se-à pôr em evidência os aspectos de natureza estrutural que mais fortemente
condicionam as propriedades dos aços-ferramenta e o seu posterior comportamento em serviço.
Comeca-se por uma abordagem muito genérica de aspectos que se prendem com a Metalurgia Física dos aços. A análise das
transformações alotrópicas do Ferro terá como intenção a apresentação das diferentes estruturas cristalinas do elemento base
das ligas ferrosas com especial ênfase para o problema da variação volúmica associada às transformações estruturais. Passar-se-
à em seguida ao diagrama Fe-C (mais propriamente ao diagrama meta-estável Fe-Fe3C que é o que interessa ter em conta no
estudo das transformações mais relevantes no domínio dos aços); este diagrama permitirá apresentar as diferentes formas
micro-estruturais de equilíbrio (ou próximas do equilíbrio) possíveis de ser encontradas. As transformações em condições não
de equilíbrio, tão importantes para a grande maioria dos tratamentos térmicos, serã tratadas de modo a conduzir à introdução
dos diagramas TTT; a fechar este capítulo é feita uma breve descrição dos principais métodos de detrminação de diagramas
TTT.
Na sequência desta abordagem dos aspectos de natureza micro-estrutural, passa-se a um capítulo sobre a temperabilidade
dos aços. O conceito de temperabilidade será então definido e apresentar-se-ão os principais métodos de quantificação deste
parâmetro. Analisar-se-à o efeito dos elementos de liga sobre a temperabilidade de modo a poder compreender o papel que a
composição química desempenha relativamente à reacção dos aços aos tratamentos térmicos. A terminar este capítulo surge
uma apresentação de modelos que permitem melhor compreender os factores mais determinantes nas diferentes transformações
de fases, ao mesmo tempo que se ganha alguma capacidade de prever os resultados de certos tratamentos.
O terceiro e último capítulo diz respeito aos tratamentos térmicos mais frequentemente utilizados nos aços-ferramenta:
recozimentos, têmpera e revenido. São depois apresentados os meios técnicos mais frequentemente utilizados em tratamentos
térmicos para o aquecimento e arrefecimento; é também feita uma apresentação genérica dos aspectos mais relevantes sobre a
transmissão de calor em tratamentos térmicos. Dada a importância de que se revestem são em seguida descritos os estados de
tensões e de deformações bem como os mecanismos que estão na sua origem. Este capítulo termina com uma referência aos
principais tipos de problemas em tratamentos térmicos de aços-ferramenta, com indicação das suas possíveis origens bem como
das eventuais medidas preventivas e/ou correctivas.