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Não obstante não existir nenhum outro animal com uma comunicação tão complexa quanto a
nossa, há animais que possuem métodos de comunicação sofisticados e que perduram no
tempo. Não será muito arriscado dizer que, das cerca de um milhão de espécies de animais
descritas, quase todas, numa ou noutra fase da sua vida, necessitam de comunicar.
Existem alguns processos de comunicação tão óbvios que por vezes nos esquecemos
deles mas, tal como nós, também muitos animais os utilizam. A simples aparência de
um animal desempenha um importante papel na escolha de parceiro para acasalar ou no
estabelecimento de hierarquias, em insectos, aves, mamíferos, moluscos e muitos outros
animais. Apesar deste ser um assunto bastante estudado, ainda hoje permanecem por
explicar alguns dos processos que levam à selecção de um parceiro.
Em muitos animais são os machos que competem para conseguirem uma fêmea para
acasalar. Do seu poder de persuasão vai depender a capacidade de desaconselhar outros
machos de lhe fazerem frente e de seduzir a fêmea pretendida. Neste caminho vai haver,
necessariamente, muita comunicação. A aparência de um animal, como o brilho das
suas penas, a cor do seu pêlo ou a dimensão das suas hastes, provavelmente não vai ter
uma implicação directa na sua eficácia como progenitor, mas o seu aspecto físico é um
reflexo da sua condição fisiológica. Os outros machos evitarão combater um
aparentemente mais forte, poupando energias a ambos, e as fêmeas, sejam elas de uma
pequena ave, de um veado ou de um primata, estão interessadas em acasalar com o
macho mais apto que lhes for possível encontrar. Por isso, mesmo em muitas espécies
em que os machos não lutam entre si, mostrando a sua força, exibem perante a fêmeas a
sua habilidade a construir ninhos, a conseguir alimentos ou noutra actividade
fundamental no decurso da reprodução. No fundo, o que eles de uma ou de outra forma
estão a dizer é: “eu serei um bom pai para os teus filhos”.
A linguagem gestual não está de forma alguma reservada aos animais superiores. As
abelhas, no interior das suas colmeias, executam movimentos complexos, que lhes
permitem comunicar pormenorizadamente, por exemplo, a localização de determinada
zona onde existe alimento.
A linguagem sonora, que usamos a toda a hora quando falamos, é igualmente utilizada
por muito animais. Também aqui a complexidade das mensagens vai variar entre
espécies, mas a eficácia da comunicação sonora deve-se, em grande parte, ao facto de
permitir a transmissão de uma mensagem a uma longa distância. Algumas baleias
fazem-se ouvir a 80 km de distância; muitas aves podem ser ouvidas pelas suas
congéneres a vários quilómetros e mesmo alguns insectos, como os grilos e as cigarras,
fazem-se ouvir a muitas centenas de metros.
A diversidade de mecanismos utilizados para produzir sons é imensa, desde insectos
que fazem vibrar as asas friccionando-as uma na outra, passando pelas cordas vocais de
muitos mamíferos, até ao complexo canto das aves ou à percussão de infinitos materiais.
Se existem alguns animais com uma comunicação sonora muito simples, que
praticamente se limita a assinalar a sua presença, há outros com um vocabulário
extensíssimo. Hoje sabemos que os golfinhos detêm uma linguagem extremamente
complexa, que lhes permite, por exemplo, chamar um indivíduo em particular. Também
alguns primatas e aves têm gritos de alarme que remetem para uma ameaça específica.
Para além disso, o canto de muitas aves tem, por exemplo, um “sotaque” da região de
onde provêm, e os progenitores sabem reconhecer mutuamente o chamamento dos seus
parceiros e o das suas crias.
Uma outra forma de comunicação, a que somos por ventura menos sensíveis, mas que
para muitos animais é extremamente importante, é a comunicação química ou por
odores. Esta forma de comunicação pode não permitir a troca de uma mensagem a uma
distância tão grande quanto as mensagens sonoras, mas tem a vantagem acrescida de
permitir que a mensagem se mantenha por um longo período de tempo. Alguns
mamíferos possuem territórios tão extensos que seria impossível defenderem as suas
fronteiras vocalizando a partir do centro. Neste caso, eles marcam o território
recorrendo a substâncias de odor intenso, que podem permanecer durante semanas. Por
outro lado, da mesma maneira que muitas aves podem distinguir os membros da sua
família ou grupo pelas características do canto, alguns mamíferos, como os texugos,
fazem-no através do odor.
Para além de utilizarem o odor das suas fezes e urina para marcar o território, ou para criar um
odor corporal característico e diagnóstico de cada indivíduo, muitos animais, incluindo diversas
espécies de antílopes, estão dotados de glândulas produtoras de substâncias de odor intenso.
Sabe-se que é através do odor que muitos animais reconhecem quando é que o parceiro está
receptivo para acasalar e pensa-se que alguns antílopes libertem determinados odores em
situações de perigo, lançando um subtil alerta que provavelmente só será entendido pelos
seus pares. Alguns antílopes têm também glândulas nas patas, que deixam no terreno o rasto
da passagem de cada indivíduo.
Mais uma vez, não são só os animais superiores que recorrem a estas estratégias. As
formigas, em caso de ataque ao formigueiro, lançam feromonas como quem soa um
alarme, ao qual as demais acorrem imediatamente em socorro.
Se prestarmos atenção ao mundo que nos rodeia, ao canto das aves, ao coaxar das rãs, ao
odor dos mamíferos e ao zumbir dos insectos, mesmo que não saibamos o significado das
mensagens, poder-nos-emos aperceber da quantidade de mensagens e da dimensão da
comunicação que permanentemente ocorre no mundo natural. Afinal, aquilo que promove a
comunicação entre os animais silvestres não é assim tão diferente do que nos motiva a faze-lo
com os nossos pares. Como diz o ditado: “a falar é que a gente se entende…”
A comunicação entre os animais