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Educação Unisinos

13(3):246-254, setembro/dezembro 2009


© 2009 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2009.133.07

As implicações da pesquisa como espaço


formativo para compreender a prática docente

The implications of research as a formative


space to understand the teaching practice

Maria de Fátima Barbosa Abdalla


mfabdalla@uol.com.br

Resumo: Desenvolvido em três fases distintas, este estudo pretende refletir sobre as
implicações da pesquisa para compreender a prática docente. A primeira fase indica como os
estagiários de diferentes Licenciaturas (Pedagogia, Letras, Matemática e Geografia) puderam
efetivar a formação inicial por meio de projetos de pesquisa. A segunda fase, ao investigar
o percurso de professoras em um Programa de Educação Continuada/PEC, assinala até que
ponto os projetos de pesquisa/ação colaboraram com a formação continuada. A terceira
fase, realizada com professores formadores, destaca a pesquisa como espaço efetivo para
compreender a prática docente. Conhecer as necessidades dos estagiários e professores,
considerando as implicações da pesquisa neste processo é o objetivo que norteia essas etapas.
Do ponto de vista metodológico, foi elaborado um mapeamento dos estagiários/professores,
das escolas-campo e dos projetos; foram selecionados projetos que privilegiaram a pesquisa
como princípio formativo; e foram coletados depoimentos sobre estes processos. Como
resultados parciais, detectaram-se efeitos de (co)formação e/ou princípios de composição: a
pertinência da teoria para a revisão da prática; novo significado para o pensar relacionalmente;
a escuta sensível para afirmar a coerência do pesquisador e implicá-lo epistemologicamente;
a teorização para engajar o pesquisador coletivo; e o fortalecimento da autonomia em relação
às tomadas de posição, possibilitando ampliar as formas de poder, participação e ação na
comunidade escolar.

Palavras-chave: pesquisa como espaço formativo, prática docente, princípios de composição.

Abstract: Developed in three different phases, this study aims at reflecting on what the
implications research has to offer on the understanding of the teaching practice. The first
phase indicates how interns from different undergraduate courses (Education, Letters,
Mathematics and Geography) were able to achieve solid educational backgrounds through
research projects. The second phase, which investigated the course followed by teachers
in a Continued Education Program, points out to what extent research/action projects
contribute to the continued education process. The third phase, which included professors,
focuses the research as an effective space to understand the teaching practice. To get
to know the needs of interns/teachers and regarding the implications of research in this
process is the main intention of these phases. From the methodological viewpoint: interns
and teachers were mapped to identify the field schools and the projects; projects that
emphasize research as a formative principle were selected; statements were gathered
in these processes. As partial results, a few co-formation effects were detected as the
principles of composition: the pertinence of theory for practical reviews; new meaning
to thinking relationally; a sensitive listening to claim researcher coherence and to imply
As implicações da pesquisa como espaço formativo para compreender a prática docente

the researchers epistemologically; the theorization to engage the collective researcher;


strengthening autonomy for position-taking; allowing the forms of power, participation,
and action to be enhanced in the school community.

Key words: research as formative space, teaching practice, principles of composition.

Introdução em formação. Essas questões dão Quando pensamos na reconstru-


significado ao papel da pesquisa, ção dos eixos acima, entendemos
Este trabalho apresenta reflexões especialmente da pesquisa-ação, na que: (i) o conhecimento prático
sobre a importância da pesquisa análise da prática de ensino. possui algum tipo de estrutura, uma
como um espaço formativo para a E, por último, são apresentados vez que o professor trabalha em um
prática docente. O tema se inscreve alguns princípios de ação e de campo de poder estruturado por um
dentro do projeto Formação e Pro- pesquisa - da pesquisa-ação - que, espaço de relações de forças; (ii) este
fissão: compreendendo os saberes embora não esgotem toda a discus- conhecimento se configura em sua
que fundamentam a prática docente são, podem contribuir para ilustrar prática: em suas experiências e nos
cujo objetivo é captar as representa- sua importância na orientação da conhecimentos em situação; e (iii)
ções que alunos/professores têm a prática docente. existe uma maneira de ser e de estar
respeito da profissão. na profissão: um habitus – “prin-
Na medida em que as reflexões Os contextos formativos: cípio gerador de práticas distintas
são amplas e complexas, são tratadas os resultados da pesquisa e distintivas”, conforme Bourdieu
aqui a problemática da pesquisa e as (1997, p. 22). Este habitus traduz
suas implicações na prática docente No cenário atual, sabemos pouco o modo como o professor orienta e
nos diferentes contextos de forma- sobre o conhecimento prático dos pro- estrutura a sua prática, mobilizando
ção: da universidade à escola. fessores. Como qualquer profissional, um capital de saberes, de saber-fazer
Nessa perspectiva, em primeiro o professor tem de dispor de saberes/ e de saber-ser.
lugar, contextualizamos brevemen- conhecimentos organizados em di- Partimos, assim, do pressuposto de
te o Projeto de Pesquisa junto aos versas dimensões e delimitados por que existe um processo de aquisição
estagiários de uma universidade critérios de profissionalidade. A sua de conhecimento prático diferencia-
particular (primeira fase, 2003) e função dimensiona-se num contexto do de acordo com os contextos de
às alunas-professoras de um Pro- sociocultural, institucional e didático, formação: da universidade à escola.
grama de Educação Continuada pois, segundo Mialaret (1988), o Nesse sentido, julgamos importante
de uma universidade pública em professor estabelece relações com a investigar em que medida a orga-
parceria com a rede municipal de sociedade, a cultura, o saber, a prática nização pedagógico-administrativa
ensino (segunda fase, 2004-2005). profissional e o saber pedagógico. da universidade/escola influencia a
Estes dados serviram de base à ter- Compreendemos, também, que formação/desenvolvimento profis-
ceira fase (2006-2007), desenvol- o processo de aprendizagem do sional do professor; quais elementos
vida com professores formadores conhecimento profissional envolve são fundamentais para organizar seu
desses respectivos contextos de a aprendizagem de estruturas com- conhecimento prático; como esses
produção docente. plexas que só poderão ser explicita- elementos possibilitam a construção
Em segundo lugar, centramos a das quando as formas de aquisição da identidade profissional; e até que
reflexão em duas questões introdu- de conhecimento prático, ao longo ponto a profissionalidade do professor
zidas pela pesquisa: (i) nas neces- de todo o processo de formação, pode nutrir novas práticas e, com isto,
sidades e perspectivas dos alunos- forem analisadas. Assumimos ainda uma cultura escolar mais inovadora.
estagiários, das alunas-professoras que este processo se organiza, mi- É, então, mais do que necessário
e dos professores formadores na nimamente, em forma de conceitos, obter respostas para as seguintes
compreensão dos saberes que fun- esquemas ou redes de proposições questões: como é que o professor
damentam a prática docente; e (ii) (León, 1995); regras, princípios e aprende a ensinar? De que forma
nos indicadores para caracterizar imagens (Elbaz, 1981); orientações o professor constrói o seu modelo 247
o processo de aquisição do conhe- (Rubalcava, 2000); estrutura, prática de formação? Como evoluem o
cimento prático do aluno/professor e habitus (Abdalla, 2003, 2006). pensamento e a ação do professor

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em formação? Que necessidades Definimos, como pressuposto, periência pedagógica, os aspectos


formativas os professores eviden- que deveríamos partir de experiên- negativos – dificuldades ocorridas
ciam mais? Como se caracteriza cias positivas, para discutir melhor a em qualquer etapa do trabalho (pre-
o processo de aquisição de conhe- integração teoria e prática e o papel paração, execução e avaliação), a
cimento prático? Quais aspectos da universidade e da escola atual na apreciação dos recursos didáticos e
do contexto de trabalho poderiam formação de futuros professores. materiais utilizados e a avaliação dos
explicar a evolução (ou não) da Assim, as professoras selecionaram participantes e dos estagiários a res-
carreira docente? Que perspec- os cursos de Letras, Matemática, peito de todo o projeto de pesquisa.
tivas possuem os estagiários, os Geografia e Pedagogia, enfatizando A partir da apreciação dos proje-
professores principiantes e os mais que: (i) estes cursos desenvolviam tos e das entrevistas semiestrutura-
experientes sobre a sua formação e projetos apreciados, de modo posi- das com cinco estagiários (dois da
desenvolvimento profissional? tivo, pelos alunos e professores; (ii) Pedagogia, e um dos demais cursos
As questões arroladas indicam mantinham parceria com as escolas, – Letras, Matemática e Geografia),
o problema central da pesquisa: as contribuindo, assim, para uma boa destacamos o papel do estágio na
representações/manifestações dos formação; (iii) seus professores compreensão dos saberes que funda-
alunos/professores a respeito da supervisores eram bem comprome- mentam a prática docente, especial-
profissão e dos saberes fundantes tidos e engajados com a elaboração, mente deste estágio que tem como
da prática docente. A partir desta execução e avaliação de projetos suporte e orientação um projeto de
problemática, a seguir, contextu- interdisciplinares, atendendo às pesquisa, envolvendo a parceria
alizamos brevemente as três fases necessidades e/ou características da universidade e escola.
da pesquisa, destacando aspectos turma com a qual trabalhavam e de Da análise e interpretação dos
que nos fizeram compreender a im- cada meio específico investigado. dados coletados foi possível iden-
portância da pesquisa como espaço A equipe procedeu à coleta de tificar quais aspectos enfatizaram a
formativo para a prática docente. dados, baseada: (i) no mapeamen- contribuição da pesquisa para que os
to dos estagiários dos respectivos estagiários pudessem compreender
O papel dos estágios Cursos de Licenciatura, nos últimos
melhor por que e como estavam
(Primeira Fase) três anos; (ii) na identificação dos
aprendendo a profissão professor.
projetos realizados, que permitiram
Assim, seriam capazes de consta-
Construir um ambiente de ensino buscar experiências positivas junto
tar, conforme epígrafe citada nesta
não é tarefa fácil, pressupõe uma aos estágios; (iii) na catalogação das
educação democrática, ou seja, saber seção, que “construir um ambiente
escolas-campo em que os estagiá-
ouvir, saber contestar e ceder. De de ensino não é tarefa fácil, pres-
rios desenvolveram a sua formação
todas essas habilidades, ouvir talvez supõe uma educação democrática,
inicial; e (iv) no acesso a alguns
seja uma das mais difíceis, pois as ou seja, saber ouvir, saber contestar
divergências podem ser valorizadas
relatórios elaborados por alunos e/ou
com argumentos e ceder”. Estes as-
quando há respeito e consciência de professores que estavam articulados
pectos, entre outros elucidados pela
que a formação também se dá com com os projetos.
pesquisa, permitiram contribuições
a contribuição do outro (entrevista, Para acompanhar os estagiários,
para a prática docente e tornaram-se
Estagiária de Pedagogia). selecionamos nove projetos e seus
respectivos relatórios envolvendo melhor compreendidos com o avan-
Com o objetivo de iniciar a primei- todos os cursos mencionados. Após ço para a segunda fase da pesquisa.
ra fase da pesquisa, que se relaciona a leitura e análise de todo o material,
com O papel dos estágios na compre- elaboramos quadros-síntese, identi- De aluna à professora:
ensão dos saberes que fundamentam ficando: (i) o projeto e sua contex- os primeiros anos na
a prática docente, fizemos reuniões tualização; (ii) os executores: alunos profissão (Segunda Fase)
constantes com o grupo selecionado, estagiários, professores responsáveis
Insistimos: antes, nós nos atínhamos
constituído por uma aluna (auxiliar e alunos da educação básica; (iii)
muito à questão do conteúdo, estar
de pesquisa) e duas professoras cola- os objetivos; (iv) os procedimentos
sempre atualizando, renovando...,
boradoras, coordenadoras do Setor de metodológicos; (v) os resultados, mas não é só isso. É o todo... tem
Estágios e do Curso de Pedagogia da ainda parciais, mas que incluíam o
248 Universidade Católica de Santos. Es- interesse dos alunos nas atividades
que estar presente para esse olhar
para o todo, para se obter um real
tas reuniões tinham por finalidade ex- da classe, o grau de participação, aprendizado (entrevista, Grupo de
plicitar e acompanhar todo o projeto. os aspectos positivos quanto à ex- alunas-professoras).

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As implicações da pesquisa como espaço formativo para compreender a prática docente

Esta segunda fase teve como compreenderem o significado e a neira unilateral, mas estabelecer a
intenção acompanhar um grupo de importância da pesquisa-ação. relação teoria/prática, de forma a
professoras em um Programa de Segundo Thiollent (1997, p. 36), esclarecer melhor o movimento do
Educação Continuada/PEC - For- a pesquisa-ação pressupõe uma que se aprende na universidade e na
mação Universitária, oferecido pela concepção de ação, a qual “requer, escola; e contribuir para a emanci-
Faculdade de Educação da Univer- no mínimo, a definição de vários pação das alunas-professoras, de
sidade de São Paulo em parceria elementos: um agente (ou ator), um forma a fazê-las compreender o
com a Secretaria de Educação do objeto sobre o qual se aplica a ação, significado de se implicarem com
Município de Santos (SP). um evento ou ato, um objetivo, suas realidades, assumindo suas
Investigamos o percurso pessoal um ou vários meios, um campo ou próprias ações.
e profissional das professoras de domínio delimitado”. Entre os ele- Essa escolha foi precedida da
Educação Infantil e das primeiras mentos, destacamos como agentes seguinte meta: identificar, desde o
séries do Ensino Fundamental. O (ou atores) a tutora e a professora início, quem era a aluna-professora,
desafio maior consistia em mostrar orientadora (esta pesquisadora), as qual sua formação, atuação profis-
ao grupo participante meios de quais conduziram o processo de sional, suas experiências no interior
se tornarem capazes de respon- formação de 21 alunas-professoras da sala de aula e da escola. Era
der com maior competência aos que desenvolveram seus projetos, preciso encontrar condições para
problemas vivenciados, experi- definindo, também, seus objetos realizar uma leitura teórica de sua
mentando soluções no caminho de pesquisas, as questões-pro- identidade e pensar, coletivamente,
de diretrizes para uma ação mais blema, os objetivos e meios para em seu projeto de formação como
traduzi-los nos diferentes contextos interface de ação, mudança e inter-
transformadora, em função das
de trabalho. venção na realidade.
formas de poder, do grau de par-
Por outro lado, a pesquisa-ação O entendimento dessas questões
ticipação e da especificidade das
também pressupõe uma concep- exigiu, também, um processo de
formas de ação (Thiollent, 1997,
ção de pesquisa inserida na ação, amadurecimento de todos, desde as
1998) dos sujeitos interessados.
de acordo com Desroche (1990), proposições do projeto de formação/
A reflexão sobre este real apren-
acentuando simultaneamente três ação:
dizado ajudou-nos a compreender,
funções ou características: (i) re-
desde a primeira fase da pesquisa,
flete sobre os atores sociais, suas  a necessidade de construir uma
que adotar a pesquisa-ação como
ações, transações e interações, trajetória equilibrada na seleção dos
concepção metodológica é a me-
objetivando a explicação; (ii) temas e na orientação dos projetos
lhor forma de apreender a realidade
serve para dotar de uma prática de pesquisa, propiciando uma
como um todo, pensar na fluidez racional as práticas espontâneas, compreensão maior do processo de
de seu processo e, principalmente, destacando a finalidade da apli- aprendizagem profissional;
possibilitar o envolvimento ativo cação; e (iii) constitui-se por, ou  a apreensão desses projetos
das professoras na realidade a ser melhor, pela ação assumida por como um dos fios condutores a
investigada. De modo semelhante, seus próprios atores, tanto em suas estruturar os encontros, estimu-
os estagiários, ao desenvolverem concepções como em sua execução lando as trocas de experiências e
junto à comunidade escolar os seus e seus acompanhamentos, que tem aprimorando o desenvolvimento de
diferentes projetos de pesquisa, tam- por meta a implicação (Desroche, competências e saberes relativos aos
bém adquiriram tal compreensão. 1990, p. 98). processos de produção, apreciação e
A diferença, nesta fase, é nossa Para efetivar a compreensão da investigação;
pretensão de conduzir este pro- pesquisa como espaço formativo,  o entendimento do caminho
cesso de pesquisa e olhar para retomamos esses três aspectos – a metodológico traçado (a obser-
este todo junto com os sujeitos pesquisa sobre/para/por ou pela vação participante e seus regis-
pesquisados. Desse modo, a pes- –, e acrescentamos um elemento tros: o uso do diário reflexivo; as
quisa-ação oferece ferramentas fundamental: desenvolver uma entrevistas semiestruturadas; os
para compreender a prática e pesquisa-ação com as alunas- relatos autobiográficos), para com-
questioná-la, exigindo formas de professoras, tendo como objetivos preender a relação teoria/prática
ação e tomada consciente de deci- não só explicar a realidade, mas, e os tipos de conteúdos em jogo 249
sões. É preciso, então, compreen- sobretudo, compreendê-la; não só nas diferentes situações de ação/
der e fazer as alunas-professoras aplicar os conhecimentos de ma- pesquisa e aprendizagem.

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O que dizem os lizada pelas interações simbólicas p. 270): a autenticidade por parte
professores formadores dos grupos sociais com os quais do professor e seu autocontrole, na
(Terceira Fase) lidamos (sejam eles os estagiários, medida em que o professor domina
as alunas-professoras e/ou os pro- seus conteúdos e formas didáticas,
Todos os trabalhos em sala de aula, fessores formadores), que delimita escolhe estratégias, segue as regras
que pressupõem uma investigação, tais regras, princípios e imagens, se estipuladas, é consciente de sua con-
são críticos, e é isso que é o mais im- os sujeitos envolvidos consideram duta e de suas implicações junto aos
portante. Esta criticidade começa já a a pesquisa como um espaço forma- alunos. Em relação a estes dois últi-
partir da intenção de pesquisa. O que
tivo. Nesse sentido, vejamos o que mos aspectos, vejamos o depoimento
é necessário é fazer deste trabalho de
investigação um espaço formativo
os professores dizem para cada um a seguir, o qual traz à tona, também,
para todos nós, alunos e professores destes indicadores. os princípios da autenticidade e do
(entrevista, Prof. C., Geografia). Quanto às regras, os professores autocontrole mencionados acima:
formadores estão cientes de que, ao
Nesta terceira fase, foram entre- desenvolverem as práticas de sala de [...] a falta de fundamentação do alu-
vistados 11 professores formadores aula, tendo como suporte a pesquisa, no, a falta de preparo, efetivamente, é
dos estagiários da primeira etapa tiveram que esclarecer melhor como um problema que nós estamos enfren-
os estagiários e as alunas-professoras tando. Estão se formando professores
(Pedagogia (3), Letras (1), Geografia
tinham que lidar com os seus proble- que não têm essa fundamentação
(1) e Matemática (1)) e daquelas necessária para a base necessária.
alunas-professoras da segunda mas de pesquisa. As regras assumiam,
Por outro lado, é um professor que,
(5). De todos os questionamentos portanto, uma dimensão valorativa,
até pela questão de nossa sociedade
que fizemos e, tendo em vista que na medida em que o professor tinha atual, ele não está envolvido. Por
estes professores eram aqueles que que lembrar, a todo o momento, o ser uma profissão tão desvalorizada,
haviam desenvolvido uma prática quanto era importante refletir sobre porque o grupo não tem vontade,
de investigação, tanto na formação a prática (destruindo, assim, muitas enfim, esse terreno está tão minado
inicial, quanto nas ações de forma- das resistências); e uma dimensão por questões adversas a nossa vonta-
avaliativa, uma vez que o professor de, esta rotina desgastante... Então,
ção continuada, destacamos, aqui,
apresentava como deveriam descre- quando temos alguma possibilidade
alguns dos resultados relativos à de abraçarmos algum projeto dife-
seguinte questão: em que medida a ver, analisar e interpretar os dados
coletados, no sentido de produzir rente, em um trabalho coletivo, a sala
pesquisa pode ser considerada como de aula pode virar outro espaço. E a
espaço formativo? Agrupamos estes conhecimentos. Este era o contrato
pesquisa, nesse sentido, está sendo
resultados em dois grandes eixos: a didático, que, de certa forma, está uma possibilidade de formação me-
organização e o funcionamento da registrado na fala dos professores das lhor (entrevista, Prof. B, Pedagogia,
duas fases da pesquisa: primeira fase).
aula que desenvolve uma prática de
investigação e as perspectivas teó-
A aula precisa ter essa configuração Quanto às imagens, era importante
rico-práticas que fundamentam esta de trabalho, de estudo, de leitura, de
prática como estratégia de formação. saber, segundo Elbaz (1981, p. 61),
troca, de integração, de questiona-
mento, de, é claro, reflexão a partir, quais seriam as percepções dos pro-
Eixo I: Organização e o especialmente, dos dados coletados fessores formadores sobre suas expe-
funcionamento da aula no processo de pesquisa... (entrevista, riências e de que forma as viveram.
Prof. A, Matemática, primeira fase). Para esses professores, foi desafiante
Em relação a este eixo, destaca- e gratificante desenvolver o trabalho
mos, de acordo com Elbaz (1981), [...] é preciso mostrar, a todo mo- docente, articulando o ensino com a
mento, que existe um “contrato” de
que o professor, para organizar o seu pesquisa. Eles consideram a pesquisa
trabalho e de pesquisa... É preciso
espaço de aula e a si próprio, reve- envolvê-las, apesar de toda a resis-
como espaço de formação, pois abre
lando sua identidade profissional, tência em relação às suas próprias possibilidades de intervenção na
estabelece para ele e para os outros práticas (entrevista, Prof. P, Pedago- realidade, traz sentido/significado ao
com quem se relaciona determinadas gia, segunda fase). currículo da instituição formadora e
regras, princípios e imagens. Tam- da escola, fortalece as relações em
bém partimos do pressuposto de que Em relação aos princípios, foi rede, possibilitando um trabalho mais
250 existe uma estrutura organizativa de possível perceber que existiam, reflexivo e prazeroso. Nesse sentido,
aula, administrativa e pedagógica pelo menos, dois daqueles citados verifiquemos algumas das falas dos
(Abdalla, 2006, p. 72-74), mobi- por Connors (in Rubalcava, 2000, professores:

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As implicações da pesquisa como espaço formativo para compreender a prática docente

As perspectivas de ordem pessoal e/ou “diários reflexivos”, dos relatos


Quando retornei à minha rotina, senti revelam as experiências que os pro- e das “teorizações” realizadas. Além
um misto de frustração e ansiedade
fessores tiveram (ou não) em sua for- disso, o trabalho possibilitou-lhes
por mudanças. Eu vi que com investi-
mento e seriedade é possível construir
mação. A totalidade dos professores uma melhor compreensão do proces-
uma educação de melhor qualidade. entrevistados considerou necessária so de tomada de decisões para cada
Senti a necessidade de interferir mais a prática de ensino fundamentada na nova situação a ser enfrentada. Esses
na educação (entrevista, Prof. L., investigação, embora nunca tenham professores também reafirmaram
Letras, primeira fase). tido oportunidade de desenvolver o entendimento que assumiam no
este tipo de prática, como alunos, coletivo quanto às contradições a
Começamos a nos conhecer, a ter
uma ideia de rede. Houve consensos em sala de aula. respeito do cotidiano, das próprias
e dissensos, mas o produto foi uma No âmbito da perspectiva social, crenças e representações dos dife-
alteração significativa no currículo consideraram que a pesquisa é uma rentes conhecimentos possíveis para
vigente (entrevista, Prof. A., Mate- maneira de melhor descrever os con- resolver a situação-problema e/ou os
mática, primeira fase). textos, atender às demandas sociais, desafios a serem enfrentados.
Foi um processo dialético entre a
compreender as necessidades e os Esboçadas as proposições e re-
introspecção, que propicia a reflexão, problemas, procurando superá-los. vistos alguns elementos no processo
e o exterior: pessoas, contextos e pro- Em relação às perspectivas te- de execução e acompanhamento das
cessos que nos envolveram ao longo óricas, os professores destacaram diferentes fases desta investigação,
de nossas existências (entrevista, que as diferentes experiências com consideramos importante acentuar,
Prof. P., Pedagogia, segunda fase). o ensino e a pesquisa permitiram ainda, até que ponto a perspectiva da
Mais do que um trabalho, foi um compreender melhor a relação teoria pesquisa (e da pesquisa-ação) eman-
processo prazeroso e necessário que e prática, buscando teorizar sobre cipa os estagiários, as alunas-profes-
prova que a reflexão é tão importante a prática. Serviram, também, para soras e os professores formadores
como o conhecimento científico. entender “como o professor usa o co- na condução de sua prática docente.
É ela que dá o diferencial à prática nhecimento teórico; que teorias acei- Isso significa pensar, em especial,
docente, portanto, deve ser exercitada ta voluntariamente e como constrói nas implicações epistemológicas
no dia a dia da docência (entrevista, seu conhecimento em relação com
Prof. C., Geografia, segunda fase).
(Barbier, 2002, p. 100-102), ou me-
a teoria” (Rubalcava, 2000, p. 273). lhor, em como os nossos sujeitos de
As imagens que acompanham es- Quanto às perspectivas situacio- pesquisa se fortalecem na interação
tas palavras revelam as experiências nais, os professores confirmaram, com o mundo, no sentir, pensar e agir
positivas que viveram e que puderam nas entrevistas realizadas, a im- a fim de oportunizar um espaço de
imprimir novos habitus (Bourdieu, portância da pesquisa como espaço tomadas de posição mais reflexivo,
1997; Abdalla, 2004, 2006), na formativo para a compreensão da crítico e autônomo. Tudo isso nos
medida em que construíram e socia- prática docente. A situação de in- leva a perguntar: qual é, enfim, a
lizaram conhecimentos. vestigar sobre a prática permitiu aos contribuição da pesquisa, e, mais
alunos e professores confrontar teo- particularmente, da pesquisa-ação
Eixo II: As perspectivas ria e prática mediante a observação, para a prática docente e sua análise?
teórico-práticas para comparação, análise e interpretação
fundamentar a pesquisa dos dados relacionados aos projetos O papel da pesquisa
como estratégia de de pesquisa desenvolvidos, tendo na prática de ensino
formação em vista o processo de ação e de
formação das diferentes equipes: Ao analisarmos os principais
Com o objetivo de sistematizar na primeira fase, com os cursos de efeitos da pesquisa na prática de
essas perspectivas, tomamos por Licenciatura; e/ou na segunda fase ensino, mais dois aspectos nos
empréstimo o que Rubalcava (2000, da pesquisa, com o PEC/Forma- chamaram a atenção. Primeiro, era
p. 272-273) denomina como orien- ção Universitária. Os professores preciso esclarecer as necessidades e
tações com as quais o professor se formadores compreenderam a im- perspectivas dos estagiários, das pro-
ocupa ao ensinar. Para nós, estas portância do trabalho coletivo, do fessoras iniciantes e dos professores
orientações se desenvolvem como caminho metodológico traçado, que formadores (sujeitos da pesquisa) – o
perspectivas teórico-práticas e são se estruturou a partir dos projetos de que envolve meditações teóricas e 251
de ordem pessoal (de sua experi- pesquisa, das trocas de experiência, testemunhos da prática cotidiana no
ência), social, teórica e situacional. dos registros nos diários de campo decorrer do processo de pesquisa e

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de ação (de ensino). E, segundo, era atuações como alunos/professores; da ação, da pesquisa e da pesquisa-
necessário ter condições de enunciar como ressignificaram a escola e a ação, desde a formação inicial até
indicadores para caracterizar o pro- universidade como objeto social as ações de formação contínua, de
cesso de aquisição do conhecimento e científico - “campo das práticas modo a colaborar com uma nova
prático do professor em formação – sociais educativas” (Canário, 1996, postura: de professor-pesquisador e
que significa revelar os resultados da p. 137) -, em que é necessário de- de pesquisador-professor.
pesquisa e problematizá-los. senvolver “atividades investigativas A terceira dimensão formativa
pertinentes”, para dar um sentido à está articulada com a análise do
Esclarecendo as “novas” ação docente; modo de estimular a capacidade de
representações  profissional – na medida em ação/intervenção do (futuro) profes-
que refletiam sistematicamente sor e do professor formador em sua
Na verdade, ao falarmos em no- sobre suas práticas, utilizando os prática pedagógica, na tentativa de
vas representações cabem algumas resultados da reflexão para melhorar reconstruir permanentemente a sua
indagações quanto às necessidades/ a qualidade de sua atuação. identidade e a da instituição onde
perspectivas dos estagiários, das pro- Estas dimensões permitiram trabalha.
fessoras iniciantes e dos professores com-preender melhor quais indi- No contexto da escola, se pu-
formadores no decorrer da pesquisa, cadores caracterizam o processo de déssemos traduzir as impressões
e quanto à possibilidade de esclare- aquisição do conhecimento prático/ dos estagiários e dos professores,
cimento destas novas representações profissional. diríamos que as imbricadas questões
no enfrentamento dos desafios do epistemológicas/metodológicas e
cotidiano da escola e da sala de aula. Enunciando indicadores a diversidade dos enfoques e das
A possibilidade de participar para caracterizar realidades estimularam uma melhor
destes três momentos de pesquisa o processo de aquisição organização dos saberes relaciona-
levou-nos a compreender melhor a do conhecimento prático dos à prática profissional, desen-
problemática da análise das neces- volvendo uma nova compreensão
sidades/perspectivas na formação Há vários modos de tratar esta do saber-fazer didático que valorize
docente, como afirmam Rodrigues e questão. Propomos enunciar estes a ação de teorizar sobre a realidade:
Esteves (1993). Neste estudo, obser- indicadores, tendo como eixos de re- a teorização.
vamos que as necessidades/perspec- ferência os contextos da universida- No caso dos estagiários, a possi-
tivas dos sujeitos envolvidos deram de e da escola, privilegiando, assim, bilidade de teorizar sobre a realidade
origem às novas representações, o espaço social do conhecimento. teve lugar a partir da participação
configurando também algumas di- No contexto da universidade, o nos diferentes projetos que o Setor
mensões (Abdalla, 2003, p. 83-84): pensar de forma diferente a prática de Estágios mantinha em parceria
 pessoal – na medida em que os (esta mudança de representações), com as escolas-campo. Segundo o
estagiários, as professoras iniciantes configurou, para nós, três dimensões depoimento dos cinco estudantes en-
e os professores formadores reve- formativas. A primeira relaciona-se trevistados, os projetos de pesquisa
laram suas necessidades pessoais ao próprio processo de aquisição, oportunizaram:
e os saberes de suas experiências, pelo estagiário, pela professora
ampliando o conhecimento prático/ iniciante e pelo professor formador, (i) uma maior vivência do cam-
profissional, construindo, assim, de alguns conhecimentos que os po profissional (conhecer melhor
uma identidade mais autônoma, fizeram repensar suas aprendiza- o currículo como possibilidade de
disposta a superar-se a si mesmo; gens profissionais, redefinindo-os intervenção; a tarefa de ensinar,
 didática – quando enfrentaram como professores. Esta aquisição assumindo a pesquisa como suporte
os desafios das situações pedagógi- passa, especialmente, pela ressigni- desta tarefa);
cas e das questões metodológicas ficação do conceito de necessidade/ (ii) uma compreensão mais apurada
provocadas pela pesquisa e, com perspectiva como prática de definir da importância das relações interpes-
isto, organizaram o trabalho em objetivos de ação e mudança ou soais, da interação e do convívio das
grupos, criando uma cultura mais direção desejada (Rodrigues e novas tecnologias na condução das
profissional e coerente; Esteves, 1993, p. 17-18; Abdalla, atividades propostas;
252  institucional/organizacional – 2003, p. 75-80). A segunda dimensão (iii) um olhar diferenciado para
compreendendo o quanto a cultura e refere-se à reflexão que se tem feito o contexto escolar e para a sala
o clima institucional afetavam suas para integrar os diferentes momentos de aula;

Educação Unisinos
As implicações da pesquisa como espaço formativo para compreender a prática docente

(iv) uma escuta mais sensível (i) houve um redimensionamento Em conclusão:


dos problemas referentes à falta de da organização e do funcionamento dos princípios da pesquisa
interesse, à indisciplina e à agressi- do processo ensino-aprendizagem: para orientar a prática
vidade na sala de aula; os dados coletados (por intermédio docente
(v) conhecimento e análise das das entrevistas semiestruturadas e
formas didáticas por que passam os de observação de aulas) mostraram Daí, a antinomia da pedagogia da pes-
diferentes conteúdos; como o trabalho de grupo, coordena- quisa: ela deve transmitir ao mesmo
(vi) discussão das possibilidades do pelo professor formador, tendo a tempo instrumentos de construção da
e dos limites de ser um profissional pesquisa como uma estratégia de for- realidade, problemáticas, conceitos,
técnicas, métodos, e uma formidável
professor. mação, favoreceu uma incorporação
atitude crítica, uma tendência para
de saberes ao habitus, delineando pôr em causa esses instrumentos [...]
De acordo com as professoras- novas maneiras de aprender a ver a (Bourdieu, 1998a, p. 45, grifo nosso).
alunas (as professoras iniciantes), situação didática;
a pesquisa-ação, como forma de (ii) se desenvolveu uma relação Nessa linha de raciocínio, o exer-
compreender a realidade, possibi- crítica com o conhecimento, fortale- cício de descrever, ou melhor, de pôr
litou distinguir alguns aspectos em cendo, assim, uma formação teórica, em causa a prática, possibilitou uma
torno do conhecimento profissional/ metodológica e epistemológica, troca de experiências sobre o registro
prático. Entre estes, destacaram-se: capaz de apontar, como princípio e dos contextos significativos, exigin-
horizonte, a prática docente; do de todos uma postura de inves-
(i) a aprendizagem da profissão (iii) se permitiu uma avaliação tigadores da prática, ou melhor, de
torna-se mais consciente e coerente, crítica da situação didática: para teóricos da ação (Bourdieu, 1997).
quando se tenta enfrentar as questões os professores formadores, isso Os dados e as reflexões apresen-
do contexto de trabalho de uma forma significou (a) pensar em uma inter- tados expressaram a importância da
coletiva, com base nas diferentes tro- venção mais efetiva na realidade, pesquisa não só como método de
cas de experiência; cuja perspectiva é reconstruir seus investigação, mas, principalmente,
(ii) há a necessidade de se re- significados, de maneira detalhada, como estratégia do conhecimento ao
fletir sobre o objetivo da pesquisa- profunda e analítica; (b) deixar de conhecimento capaz de contribuir para
ação, que é o de provocar transfor- ser um espectador passivo, para, a a compreensão do problema do bem
mações: pensar a escola, contínua partir de seu trabalho investigativo, pensar (Morin, 1999, p. 37); em espe-
e coletivamente, como objeto de chegar a ser o espectador ativo – ator cial, do bem pensar a prática docente.
reflexão para que se efetivem mu- social; (c) compreender, analisar, Sabemos que muitos dos pontos
danças qualitativas em seu cotidia- interpretar todo este processo de levantados são discutidos pelos que
no. Mas estas transformações só se formação; e (d) corrigir os percursos lutam pela qualidade de ensino e
realizam pela própria pessoa e de desta formação, por meio de um de pesquisa em nossas instituições.
acordo com as situações concretas acompanhamento compromissado Nossa intenção era apenas salientar,
vivenciadas; em relação à pesquisa como estra- diante do desafio do bem pensar, pelo
(iii) é preciso desenvolver com- tégia de formação. menos, três aspectos, mostrando o
petências para o desempenho de nosso modo de conhecer e conceber.
uma nova postura profissional que Constatamos que a pesquisa, e, em O primeiro era saber em que me-
se alimente não só do aprender so- especial, a pesquisa-ação pôde aproxi- dida a pesquisa contribui para ver/
bre a realidade educacional, mas o mar os dois contextos formativos (da escutar, de forma mais sensível, o
aprender na, da e com a realidade, universidade e da escola), reduzindo “universo afetivo, imaginário, cogni-
para que se reinventem imagens um pouco as diferenças, porque, como tivo do outro” (Barbier, 2002, p. 94).
profissionais e sociais de melhoria os sujeitos de pesquisa revelaram, O segundo era colocar o acento na
e de mudança. permitiu-se fazer a leitura do real: questão da coerência, tentando veri-
uma real leitura capaz de “devorar” o ficar como a pesquisa contribui para
Os professores formadores enun- significado do contexto de formação escolhas e decisões mais consistentes
ciaram que a pesquisa aguçava, para e de produção docente. O importante, e pertinentes, ajuizadas, segundo
eles e para seus alunos, um olhar nesta leitura, foi a forma de produzir Freire (1997, p. 25). E o terceiro,
mais crítico sobre as possibilidades pensamento sistemático mais elabo- indicar até que ponto a pesquisa é, 253
da formação (tanto inicial, quanto rado sobre/para o ensino/pesquisa, de fato, um instrumento de análise e
continuada), na medida em que: independente dos contextos. avaliação da prática docente e, nesta

volume 13, número 3, setembro • dezembro 2009


Maria de Fátima Barbosa Abdalla

perspectiva, um espaço formativo mento da autonomia em relação às BOURDIEU, P. 1998b. A economia das
para sua compreensão. escolhas e às tomadas de posição, e trocas simbólicas. 5ª ed., São Paulo,
Perspectiva, 361 p.
Diante do exposto, era preciso mesmo quanto às coerções, à medida
CANÁRIO, R. 1996. Os estudos sobre a
pensar bem o caminho metodológico que se desenvolve um mercado de escola: problemas e perspectivas. In: J.
assumido: o estabelecimento dos eixos bens simbólicos (Bourdieu, 1998b, BARROSO (org.), O estudo da escola.
temáticos, as “razões práticas” dos p. 192), que possibilita ampliar as Porto, Porto Editora, p. 121-149.
diferentes sujeitos de pesquisa que os formas de poder, participação e ação DESROCHE, H. 1990. Entreprendre
qualificaram e a reflexão metodológi- na comunidade escolar. d’apprendre: d’une autobiographie
ca que alinhavou uma ação recíproca Encontramos, aqui, a razão de raisonnée aux projets d’ une recherche-
entre as categorias teóricas enunciadas action. Paris, Editions Ouvrières, 140 p.
ser da pesquisa como instrumento
ELBAZ, F. 1981. The Teachers’s Practical
e as observações da realidade concre- de análise e avaliação da prática Knowledge: report of a case study. Cur-
ta, de forma processual e em espiral docente. Esta não surge só como riculum Inquiry, 11(1):43-71.
(Barbier, 2002, p. 121-125). método de investigação, mas como FREIRE, P. 1997. A importância do ato de
Para nós, este pensar bem sig- espaço formativo para se compre- ler: em três artigos que se complementam.
nificava pensar relacionalmente ender a realidade. Surge, também, 33ª ed., São Paulo, Cortez, 49 p.
(Bourdieu, 1998a, p. 23-73) os como estratégia de conhecimento LEÓN, G.M. 1995. La representación del
efeitos e as implicações da pesquisa conocimiento del profesor tutor acerca de
teórico-prático capaz de ampliar
la integración escolar y los niños con ne-
e da pesquisa-ação nas formas de o nível de conscientização: a ca- cesidades educativas especiales. Revista
poder, de participação e de ação que pacidade incessante que temos de de Educación, 1(307):340-359.
os estagiários, as alunas-professoras captar a realidade e expressá-la em MIALARET, G. 1988. Reflexions personelles
e os professores formadores desen- proposições teóricas, transformando sur lê choixde quelques objectifs pour la
volviam nos contextos de formação o desconhecido em conhecido. formation des enseignants. Revista Portu-
e de trabalho. Na prática, não é fácil mobilizar guesa de Educação, 1(1):45-62.
Esses efeitos/implicações permi- MORIN, E. 1999. O Método 3: o conhe-
alunos e professores em torno de
cimento do conhecimento. Porto Alegre,
tiram, então, dar um novo sentido uma pedagogia da pesquisa, porque Sulina, 309 p.
ao que Barbier (2002, p. 123-124) ela demanda uma formidável atitude RODRIGUES, A.; ESTEVES, M. 1993. A
considerou como “efeitos de (co) crítica (Bourdieu, 1998a, p. 45). Mas, análise das necessidades na formação de
formação”. Neste caso, eles puderam à luz da análise precedente, pensamos professores. Porto, Porto Editora, 158 p.
encarnar alguns princípios gerado- que a prática docente, quando posta RUBALCAVA, A.E.F. 2000. Una alternativa
res ou “princípios de composição” em causa pela pesquisa, torna-se para la evaluación de la enseñanza en
(Bourdieu, 1998b, p. 63). Dentre educación superior desde la perspectiva
mais significativa para aqueles que
esses princípios, distinguimos: (a) de los profesores. In: M.R. BELTRÁN;
vivem e/ou pretendem dar vida a seus F.D.B. ARCEO (orgs.), Evaluación de la
a pertinência da teoria para que a projetos profissionais e de formação. docencia: perspectivas actuales. México,
prática seja constantemente revista; Paidos, p. 255-282.
assim como a pertinência da prática Referências THIOLLENT, M. 1997. Pesquisa-ação nas
para “ajuizar” a teoria; (b) a questão organizações. São Paulo, Atlas, 164 p.
da coerência entre o discurso e a ABDALLA, M.F.B. 2003. O senso prático de THIOLLENT, M. 1998 Metodologia da pesqui-
prática, intensificando o significado ser e estar na profissão: das necessidades da sa-ação. 8ª ed., São Paulo, Cortez, 108 p.
do “pensar relacionalmente”; (c) a prática. In: A.J. MARIN; A.M.M. SILVA;
M.I.M. SOUZA (orgs.), Situações didáti- Submetido em: 07/10/2008
necessidade da escuta sensível para
cas. Araraquara, JM Editora, p. 71-97. Aceito em: 13/08/2009
afirmar a coerência do pesquisador
ABDALLA, M.F.B. 2004. En las redes de la
(Barbier, 2002, p. 94) e implicá-lo profesión: resignificando el trabajo do-
epistemologicamente, “clareando”, cente. Revista Mexicana de Investigación
assim, sua “postura” e emancipando- Educativa, IX(20):159-181.
o; (d) a possibilidade da teorização ABDALLA, M.F.B. 2006. O senso prático
- enquanto “ato de palavra” e “ato de ser e estar na profissão. São Paulo,
de decisão”, dialetizando “mudanças Cortez, 120 p.
BARBIER, R. 2002. A pesquisa-ação. Bra- Maria de Fátima Barbosa Abdalla
individual e coletiva” e “realizando Universidade Católica de Santos -
sília, Plano Editora, 157 p.
a interpretação” (Barbier, 2002, p. UniSantos
254 108), para acolher e engajar o “pes-
BOURDIEU, P. 1997. Razões práticas: sobre a
teoria da ação. Campinas, Papirus, 224 p.
Rua Dr. Carvalho Mendonça,
144, 3º andar
quisador coletivo”, tão necessário BOURDIEU, P. 1998a. O poder simbólico. 2ª 11070-906, Santos, SP, Brasil
no espaço escolar; e (e) o fortaleci- ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 314 p.

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