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AGONIZA
A JUSTIÇA
JUSTI
IÇA AGONIZA
Um quarto de século na
magistratura não produz
nenhuma realização pífia na
vida burocrática; não produz a
consternação pelo tempo de
silêncio, ou de gritos roucos,
para ouvidos moucos; esse
tempo não sepulta senão a
quem no passar dele construiu
a sua sepultura.
A JU STI Ç A AGON I ZA
Ensai o so bre a p er da do vigor, da função
e do s ent ido da just iça no Pod er Judi ciár io
© Copyright: Luiz Fernando Cabeda, 1999
99-4560 CDU-342.56(81)
ISBN 85-87293-10-9
Apresentação ......................................... 6
I. Os Juriscidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
V. A Justiça Agoniza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
APRESENTAÇÃO
I – A CRÍTICA SISTEMATIZADA
II – A JUSTIÇA DA CRISE
I – DOUTRINA E JUSTIFICAÇÃO
V – AS DEFORMAÇÕES CIRÚRGICAS
VI – O LEGADO IRREMOVIDO
I – PORQUE LEMBRAR
II – O QUE REDIVIVE
IV – O QUE MATA
(...)
“As declarações das já mencionadas testemunhas são
de molde a provar as afirmativas feitas no pedido ini-
cial. Konder não se submeteu ao crivo do contraditó-
rio. Markum, depois de detido, foi liberado por vinte
e quatro horas (fls. 418); Wejs disse que foi ameaçado
de violências, mas que não as sofreu (fls. 430); Antho-
ny nada esclarece e, quando prestou declarações no
inquérito, se encontrava em liberdade (fls. 416).
Estrada também nada esclarece, em relação a...(Her-
zog)... (fls. 410/412). Isto sem falar que três dessas
testemunhas, pelos menos, como...(Herzog)... se sub-
metiam ou haviam se submetido a tratamento com
psicanalistas.
Podem, tais testemunhos, prevalecer sobre a afirmati-
va de médicos legistas idôneos, que não constataram
sinais de maus tratos? Sobre depoimento de..., que
declarou no inquérito (fls. 165) que ‘passou a proce-
der, com mais dois auxiliares e um amigo da família
do morto à ‘tahara’, que ao proceder à ‘tahara’ —
‘pôde verificar que o corpo de...(Herzog)... estava
isento de qualquer marca, equimose, que revelassem
sinais de violência...?’
Registre-se que esta testemunha é israelita, como o
era...(Herzog)... Tais declarações são confirmadas pe-
la testemunha Léo, contraparente de..., amigo da fa-
mília (fls. 176).”
I – INTRODUÇÃO
II – DESTROÇAMENTO DA CARREIRA
Esta, em seu artigo 93, inciso I, alínea “b”, dispõe que a ati-
vidade correicional é privativa dos tribunais, que devem ve-
lar para que seja exercida em secretarias e serviços auxiliares.
Todavia, corregedores imperiais intervêm na atividade ju-
risdicional dos magistrados, editam regras administrativas
que atentam contra suas garantias e carreiras. Em Tri-
bunais de Justiça é comum que os Corregedores-Gerais re-
crutem juízes corregedores auxiliares, afastando-os da ju-
risdição em prejuízo do povo e investindo-os de um poder
inquisitório que não receberam por concurso ou mandato.
Não raro, criam-se ali grupos de disputa e o arrivismo é fér-
til. Foi perdida a noção crítica, a ser recuperada com ur-
gência, de que esse espírito demiurgo das Corregedorias
tem origem em uma suposta prestação de contas às autori-
dades de outros Poderes (não à população), ou aos pares
do mesmo tribunal, para o fim de angariar prestígio e no-
vas comissões para outros cargos de administração, ou ain-
da para acesso aos Tribunais Superiores. Bom exemplo dis-
so são os casos de verdadeira devassa relatados no livro, de
resto medíocre, Da Função Corregedora, de Barata Silva.
As Corregedorias converteram-se em órgãos de inter-
venção na atividade jurisdicional, à margem da Constitui-
ção, e exercem seu arbítrio sob o jugo do poder de inicia-
tiva disciplinar que se outorgaram. Elas hoje guardam a
feição de agentes de um rei que não existe, como se atuas-
sem na Colônia. Ao mesmo tempo, mostram-se totalmen-
te incapazes de cumprir seu encargo mais nobre, conferi-
do pela Carta Magna, de coletar dados objetivamente e
transmiti-los aos integrantes dos tribunais sobre a seguran-
ça e rapidez nas deliberações judiciais, como sobre o aper-
feiçoamento técnico dos juízes, matéria que informa o cri-
tério objetivo que deveria ser obedecido (e não o é) nos
processos de promoção. As Corregedorias funcionam co-
mo órgãos de dissolução interna. Se atuassem para resol-
ver distorções, estas não seriam tão gritantes. No quadro
de desvirtuamento da sua competência, não poderia ser
diferente. A função de corregedor é seguidamente atri-
84 A JUSTIÇA AGONIZA
“Crime premiado
O juiz (...) acaba de receber uma homenagem. Seu
nome foi usado para batizar o prédio novo do fórum
do município de (...), na região metropolitana de Sal-
vador, Bahia. Nada mau para quem há sete meses pro-
tagonizou um episódio pouco elegante para um ma-
gistrado. Dirigindo bêbado, (...) congestionou o
trânsito ao estacionar em local proibido para conver-
sar com um conhecido e foi repreendido por um poli-
cial. Para se livrar da multa, além de usar o velho ‘sa-
be com quem está falando?’, ele ameaçou o PM de
prisão. O tenente que deu o azar de cruzar com o juiz
foi punido e obrigado por seus superiores a pedir des-
culpa a (...), filho do presidente do Tribunal de
Justiça da Bahia. A homenagem transgride a Consti-
tuição baiana, que proíbe que pessoas vivas dêem no-
me a prédios e logradouros públicos.”
IV – FORMAÇÃO DO MAGISTRADO
mar a si mesmo nec plus ultra, com tudo isso, são lançados
a rodo livros jurídicos como se fossem especializados em
especialidades inexistentes. Qual é a especificidade que
tem o mandado de segurança na Justiça do Trabalho? A
mesma do Habeas Corpus na Justiça Militar, ou a das ações
cautelares na Justiça Federal. Isto é, nenhuma. Trata-se de
uma fraude de objeto. A par disso, os cursos do tipo Cen-
tro de Convenções Rebouças de dois ou três dias consti-
tuem uma divulgação cara de novidades jurídicas, quer
elas aconteçam ou não, como se o sistema fosse fugidio, e
recomposto a cada momento pelas edições do Diário Ofi-
cial. Assim, divulgam-se sandices como o fim da liquidação
por cálculos na Justiça do Trabalho, quando a alteração
havida no Código de Processo Civil copiou do processo
trabalhista seu modelo pré-executório.
Na verdade, foi descoberto um grande negócio que é
indicar qual é o Direito aplicável, no desconcerto da or-
dem jurídica nacional, para o que os principais guardiães
dessa ordem — que são os juízes — colaboram com as
confusões que fazem, e impõem sob o Führerprinzip. Coin-
cidentemente ou não, partem logo para divulgar suas te-
ses raquíticas que duram um verão, o suficiente para algu-
mas conferências em cursos de fim de semana, onde
incautos neófitos pensam receber os cânones de Moisés.
Se é verdade que ainda agora se escrevem livros co-
mo “A Revogação da Sentença”, de Moacyr Lobo da Cos-
ta, obra-referência pela erudição e síntese objetiva, tam-
bém é verdade que eles se salientam pelo contraste com
os usuais. Enquanto isso, a pompa dos acadêmicos — pois
pululam as academias cuja inutilidade é proporcional-
mente inversa a tudo quando se possa entender por méri-
to — rivaliza com o verdadeiro despejo de comendas que
alguns tribunais, como o TST, faz a esmo todos os anos,
encontrando grã-cavaleiros aqui, destinatários de grã-cruz
ali, de modo que, constrangida dentre tantos honrados,
quem tudo perde é a palavra honra; sua distinção, seu sen-
A JUSTIÇA AGONIZA 105
VII – O NEPOTISMO
SALA FALCONE-BORSELLINO
1998 — Centenário do “J’Accuse...”
Por que o Judiciário se transformou em uma
catedral de papel do século XX?