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Quando obras de arte são arrestadas ou apreendidas definitivamente por autoridades policiais
em cumprimento a mandados judiciais, assistimos frequentemente a intervenções
atabalhoadas, destituídas de procedimentos técnicos adequados, que muitas vezes colocam
em risco um patrimônio que, independendo do titular de posse momentâneo, são peças do
patrimônio de um povo, manifestação de uma cultura. A falta de treinamento específico para
esses casos associada ao modus operandi policial, proveniente da práxis em lidar
cotidianamente com meliantes, faz com que sem se dar conta o policial comum, mais das
vezes, trate a obra de arte apreendida como algo por assim dizer “bandido”. Sem a delicadeza
e atitude protetora que uma obra de arte necessita. O mesmo ocorre com seu depósito judicial
que só passa a oferecer segurança à saúde das obras, quando a justiça as coloca sob a guarda
de museus de arte. Nas mãos de gente especializada.
Como perito em exames de obras de arte, preocupei-me com essa situação e em 2006
apresentei em conferência proferida no Museu de Arte Contemporânea – MAC, da
Universidade de São Paulo – USP, por ocasião do VI Congresso em Estética e História da Arte,
promovido pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte do
MAC/USP, uma Deontologia para o Manejo de Obras de Arte Sub Judice.
1. Introdução geral.
Para a elaboração formal de uma Deontologia para o Manejo de Obras de Arte Sub
Judice, foram examinados outros tratados deontológicos como, por exemplo, o
“Código de Deontologia para Museus do International Council of Museums – ICOM”
e o “Código de Deontologia para Marchands de Bens Culturais”, da Unesco. Este
trabalho está baseado em preceitos museológicos conhecidos e apregoados em
literatura especializada, como por exemplo, no Vade-Mécum da Conservação
Preventiva do Instituto Português de Conservação e Restauro, adequados à questão
da práxis policial e jurídica.
As polícias, por preceito jurídico, lidam apenas com suspeitos. Uma vez exarada a
sentença judicial o suspeito já não estará mais nas mãos do poder executivo:
estará livre se for absolvido ou nas mãos do Poder Judiciário, responsável pelo
sistema prisional, se for condenado. No caso de obra de arte apreendida sob
suspeita de falsificação, até que laudo pericial forense conclusivo seguido de
sentença judicial, confirmando a falsidade, venha à luz, trata-se de obra sub judice
que pode também ser verdadeira. Além disso, muitas obras de arte são
apreendidas por estarem envolvidas em crimes de outra natureza como, por
exemplo, comércio ilegal, roubo ou lavagem de dinheiro. O que em nada diminui
seu valor cultural ou de mercado. Existe também o arresto que é uma providência
cautelar que consiste na apreensão judicial de bens não litigiosos de um suposto
devedor, para garantia de eventual execução que contra ele se venha a promover.
Obras de arte autênticas são arrestadas. Outro aspecto digno de consideração é o
da importância da obra de arte falsa para estudos futuros, inclusive para o próprio
combate ao crime de falsificação de obras de arte.
Nossas mãos por mais higienizadas que estejam possuem na pele uma
proteção natural gordurosa e ácida. Esse material se deposita sobre a obra e
age como bomba de efeito retardado: com o passar do tempo ataca a capa
pictórica das pinturas e outros materiais como a celulose de gravuras e
outras obras sobre papel. Também as esculturas podem sofrer a agressão
dessa substância, especialmente as de pedra como o mármore. As luvas de
algodão requerem atenção especial para que a peça não escorregue das
mãos. Mas, ainda é o material mais indicado para o manuseio de obras de
arte. Em caso de peças grandes e pesadas convém usar luvas de algodão
mais grossas com aplicação de pontos de borracha em suas palmas.
Não se deve colocar as mãos, mesmo com luvas, em contato com as telas.
As telas são feitas de tecidos esticados sobre um chassi de madeira. Quanto
mais antigas, mais ressecadas e frágeis. Muitas vezes um leve toque de
instrumento pontiagudo é suficiente para rasgar uma tela. O toque das mãos
sobre a tela pode provocar deformações e até rasuras no tecido. Deve-se
utilizar o chassi ou a moldura como pontos de apoio para manuseá-las.
Não colar etiquetas diretamente nas obras de arte. Nem etiquetas do tipo
auto-adesivas. As colas comuns e as existentes nas etiquetas auto-adesivas,
não contêm pH neutro2, por isso acabam atacando o material a que são
aplicadas. Além disso, as bordas da etiqueta tornam-se área de adesão para
pó e microorganismos que também atacam as obras. Dificultam a limpeza e
interferem na peça. Existem outros químicos presentes em etiquetas de
papel que podem atacar certas obras como, por exemplo, alvejantes
utilizados para o branqueamento de etiquetas em sua fabricação. Obras de
pintura, gravura e madeira policromada são as mais sensíveis às etiquetas
auto-adesivas ou colas. Caso seja necessário etiquetar a obra, fazê-lo na
molduragem, na parte inferior da base das esculturas ou, em último caso,
em áreas discretas da peça, porém nunca sobre áreas pintadas.
Independentemente do processo de pintura utilizado.
O primeiro princípio a ser observado é que obras de arte não podem ser
amontoadas. Obras amontoadas podem danificar-se entre si, mesmo se
embaladas adequadamente.
2.4.2 Tipos de veículos para transporte
Palavras finais
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Bibliografia
CAVALHEIRO, Pedro Jacintho. Exames Periciais Forenses para Pintura. São Paulo:
Dissertação de Mestrado – ECA/USP, 2005.
MAIOTTI, Ettore. Grande manuale delle tecniche d’arte. Milano: Fabbri Editori,
1993.