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Introdução
As políticas públicas têm o propósito de instituir normas de convívio social para assuntos
emergentes ou emergenciais numa coletividade. Buscam estabelecer os direitos e deveres,
do público e do privado e delimitar os papéis sociais dos indivíduos e instituições. Uma lei
e sua regulamentação via decreto fixam normas, regras, conceitos, princípios e diretrizes
para a coletividade. Estas políticas públicas podem ser autoritárias ou democráticas. Isto é,
podem emanar do poder burocrático vigente com o fim de instituir regras de convívio
social, visando a manutenção velada dos grupos políticos dominantes do poder, se
autoritárias. Se democráticas, podem ser o reflexo legítimo das ansiedades do tecido social
em constante mudança que por meio de embates políticos, vislumbram novas
possibilidades de trajetórias para o crescimento harmonioso da sociedade. Neste caso, estas
políticas democráticas devem, minimamente, apresentar dois fatores: a) atores sociais
representados por variadas entidades que possam abranger o espectro político-ideológico da
matéria tratada; b) instâncias coletivas de negociação dos interesses dos atores sociais
envolvidos no tema (LAYRARGUES, 2002). Segundo este mesmo autor, a Política
Nacional de Educação Ambiental (PONEA) foi precocemente decretada, pelos seguintes
fatos: a) ausência de oposição política no parlamento brasileiro; b) ausência de uma base
social articulada em si e com os educadores ambientais brasileiros; c) inexistência de um
campo teórico estruturado sobre a Educação Ambiental (EA); d) indefinição de um campo
político-ideológico criado em função de modelos pedagógicos possíveis. Considerando,
estes argumentos aquele autor entendeu ser esta política autoritária, retratando as condições
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A PONEA foi criada, como já foi afirmado por PEDRINI (1996), LAYRARGUES
(2002) e VELASCO (2002) de cima para baixo sem o devido estudo e reflexão prévios da
comunidade de educadores ambientais brasileiros. O texto da lei em sua primeira
formulação foi apresentada na Câmara dos Deputados, em 1993, à Comissão de Defesa do
Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, na forma do projeto de Lei 3792 de autoria do
deputado Fábio Feldmann. Foi apresentada informalmente à população por meio de
audiências públicas pouco divulgadas.
Pelos idos de 1995 o projeto ainda tramitava na Câmara, sendo que o relator do projeto
à época era o Deputado José Sarney Filho da base governista. Neste tempo, seus 22 artigos
originais estavam desfigurados e parcialmente mutilados (PEDRINI, 1996). Por insistência
dos organizadores do III Encontro Latino-Americano de Educadores Ambientais o projeto
de lei mutilado foi apresentado no evento que se realizou de 10 a 15 de outubro de 1995 na
cidade do Rio de Janeiro. Com um estudo rápido várias inconsistências foram identificadas
e um documento seguiu para o referido deputado para que fosse concedido mais tempo para
fazer profundas reformulações. No entanto, o relator estava com muita pressa para aprovar
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Sistema Nacional de Meio Ambiente que arrola todos os órgãos e entidades da União, Distrito Federal, dos
estados, dos municípios e pelas fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e
melhoria da qualidade ambiental (vide Decreto 99.274 de 6 de junho de 1990.
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Pela tabela I pode-se inferir que mesmo descaracterizado, o projeto de lei ainda apresentava
pontos importantes para serem aprovados. Um deles, a alocação de verba específica era,
sem dúvida, o grande destaque. Mesmo sendo destinada apenas para o SISNAMA e
SISNAE. No entanto, este ponto foi vetado, inviabilizando a política de ser aplicada de
modo automático. LAYARGUES (2002) aponta este veto como um sinal de que a PONEA
perderia sua autonomia, submetendo seus praticantes a avaliações nem sempre pertinentes.
Ficaria também a PONEA vinculada a subordinação de outras áreas que, em tese,
abrangeriam a EA. No entanto, a EA ainda não consta das tabelas de classificação científica
tanto com especialidade da Educação como uma área independente.
Outro ponto que está sempre sendo questionado na agenda dos educadores ambientais é a
adoção de disciplina de EA nas licenciaturas. VELASCO (2002) salienta que do modo que
a PONEA se expressa contra a criação desta disciplina ela o faz de modo autoritário. Hoje
em dia, várias universidades brasileiras possuem a disciplina na graduação (como na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade Federal do Rio de Janeiro) e a
experiência acumulada tem mostrado excelentes indicadores de que foi uma decisão
acertada, mesmo contrariando a PONEA. Em alguns estados como São Paulo a disciplina
de EA existe no currículo do ensino fundamental, havendo professores exclusivos no tema.
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Ricos relatos vem demonstrando sua adequação, contrariando a imposição de não poder
haver esta disciplina.
Recentemente, a PONEA foi regulamentada pelo Decreto Federal 4281 de 25 de junho de
2002. Nela definiu-se as atribuições do Conselho Gestor (CG) da PONEA, bem como, do
Comitê Assessor (CA). Das onze atribuições do CG destacam-se duas: a) Avaliar e
intermediar programas e projetos em EA, supervisionando os recursos públicos e privados
aplicados na área; b) Estimular o desenvolvimento de instrumentos e metodologias para a
avaliação de projetos em EA. No primeiro caso, este acompanhamento parece utópico, na
medida que as verbas alocadas para a EA são originadas de dispersas fontes de
financiamento, tanto públicas como privadas. No segundo caso, a avaliação sendo contexto-
dependente (PEDRINI, no prelo) ao contrário do que é feito na gestão tradicional de
projetos, precisará de aportes consideráveis de verba e ampla formação e aperfeiçoamento
de recursos humanos para se pensar uma nova maneira de se planejar avaliação de
desempenho. O CA, por outro lado, é composto por uma teia de representantes de
diferentes perfis e que nos parece pouco identificados com a EA. A entidade que
representaria a comunidade acadêmica dos educadores ambientais é a Associação Nacional
de Pesquisa em Educação (ANPED) que atualmente possui em seus grupos de estudos a
EA. Nela, a EA é reconhecida como área científica independente e arrola importantes
educadores ambientais não só de universidades como das redes de EA como a Rede
Brasileira de Educação Ambiental (REBEA). Esta instância de poder representa a quase
totalidade dos educadores ambientais brasileiros e sequer foi lembrada para compor o CA.
Deste modo, a regulamentação da PONEA parece inviável de proporcionar uma imediata
aplicação da PONEA e de operacionalizar suas propostas. Outro fato importante é quem
bancará os custos para que o CA possa se reunir e obter a imensa quantidade de dados que
precisará para operacionalizar a lei.
3. Conclusão e Recomendações
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Pelo que foi brevemente apresentado, pode-se inferir que a PONEA foi imposta aos
educadores ambientais brasileiros. Do modo como está, isto é, sem autonomia financeira,
com conceitos ultrapassados, como os de EA e de Educação Ambiental Comunitária, por
exemplo e imposições autoritárias a PONEA está fadada ao insucesso prático. No entanto,
cabe aos educadores ambientais se organizarem técnica e politicamente para sugerirem aos
parlamentares de suas regiões de atuação a proposição de uma nova PONEA, contendo
conceitos e metodologias avançados de EA. Uma opção seria a aglutinação dos educadores
ambientais à REBEA e a ANPED, com o fim de discutir amplamente a PONEA em todo o
território brasileiro.
4. Bibliografia.
PEDRINI, A de G. O cientista brasileiro é avaliado? São Carlos, RiMa, 2005 (no prelo).
ROCCO, R. Legislação Brasileira do Meio Ambiente. Rio de Janeiro, DP&A, 2002, 283
p.
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