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Ψ Coletânea de sínteses teóricas

Psicologia V (Psicologia da Gravidez & Maternidade/Paternidade)

Sínteses Teóricas1 da disciplina de Psicologia V


© Celeste Duque, 2007

Índice
I – Gravidez & Maternidade: Perspectivas Históricas ............................................................................... 1
1.1. Gravidez ......................................................................................................................................... 1
1.2. Paternidade ..................................................................................................................................... 1
1.3. Constatação clínica ........................................................................................................................... 1
1.4. Sessões de Grupo ............................................................................................................................ 2
1.5. Atitudes Culturais............................................................................................................................. 2
1.5.1. A Gravidez simboliza ................................................................................................................ 3
1.6. Conclusão ....................................................................................................................................... 4
1.6.1. Reprodução ............................................................................................................................ 4
1.6.2. Fertilidade e Identidade Sexual ................................................................................................. 5
II – Gravidez & Maternidade: Conceitos Gerais ........................................................................................ 6
2.1. Introdução ...................................................................................................................................... 6
2.2. Projecto de maternidade ................................................................................................................... 6
2.3. Representações ............................................................................................................................... 6
2.4. Determinantes das representações de gravidez e maternidade ............................................................... 7
2.5. Factores determinantes das representações ......................................................................................... 7
2.5.1. Factores Genéticos .................................................................................................................. 7
2.5.2. Factores históricos e sócio-culturais ........................................................................................... 8
2.5.3. Factores desenvolvimentais ...................................................................................................... 8
2.6. Relação Conjugal ............................................................................................................................. 9
2.6.1. Representações da Gravidez e Parto .......................................................................................... 9
2.6.1.1. Gravidez e controlo do corpo ........................................................................................ 9
2.6.1.2. Maternidade e Relacionamento conjugal ......................................................................... 9
2.6.1.3. Maternidade e Família de origem................................................................................... 9
2.6.1.4. Maternidade e Relacionamento com o filho ..................................................................... 9
2.6.1.5. Maternidade e Experiências existenciais ........................................................................ 10
2.7. Tarefas desenvolvimentais da gravidez e puerpério.............................................................................. 10
7.1. Tarefas desenvolvimentais da Gravidez ........................................................................................ 10
III – Gravidez & Maternidade: Fase de Desenvolvimento Psicológico .....................................................11
3.1. Maternidade como fase de desenvolvimento psicológico ....................................................................... 12
3.1.1. Gravidez ............................................................................................................................... 12
3.1.2. Maternidade .......................................................................................................................... 12
3.2. Perspectivas Psicológicas.................................................................................................................. 12
3.3. Ciclo vital da mulher ........................................................................................................................ 12
3.4. Conceito de Crise ............................................................................................................................ 13
3.4.1. Gravidez como Situação de Crise .............................................................................................. 14
3.4.1.1. Caso de primípara ...................................................................................................... 14
3.4.1.2. Caso de multípara ...................................................................................................... 14
3.4.2. Paternidade como Situação de Crise.......................................................................................... 14
3.4.3. Redefinição de Papéis ............................................................................................................. 14
3.4.4. Factores socioeconómicos ........................................................................................................ 14
3.4.5. Novos Níveis de Integração ..................................................................................................... 15
3.5. Relação Mãe-Bebé ........................................................................................................................... 15
3.6. Casamento & Gravidez..................................................................................................................... 15
3.6.1. Gravidez como Regressão ........................................................................................................ 16
3.7. Sistema Familiar ............................................................................................................................. 16

1
Não se trata de um texto! Aqui encontram-se compiladas as sínteses teóricas apresentadas em PowerPoint, nos anos letivos de
2003-2004 a 2006-2007, nelas se abordam os conteúdos programáticos referentes à disciplina de Psicologia V (Psicologia da
Gravidez & Maternidade/Paternidade) do 3º ano do curso de Licenciatura em Enfermagem, da Escola Superior de Saúde de Faro
(ESSaF), da Universidade do Algarve (UAlg).

Como referenciar o presente documento:

Duque, C. (2007). Colectânea de sínteses teóricas no âmbito da disciplina de Psicologia V (Psicologia da Gravidez &
Maternidade/Paternidade. Faro: UAlg-ESSaF.

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20


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Psicologia V (Psicologia da Gravidez & Maternidade/Paternidade)

IV – Adolescência & Gravidez .................................................................................................................17

4.1. Adolescência .................................................................................................................................. 17


4.2.Conceito de Crise ............................................................................................................................. 17
4.3. Delinquência na adolescência: .......................................................................................................... 17
4.4. Teorias e modelos sobre Delinquência ................................................................................................ 18
4.5. Tipos de delinquência ...................................................................................................................... 18
4.6. Factores de risco e de equilíbrio ........................................................................................................ 18
4.6.1. Componentes comuns a Programas de Prevenção bem sucedidos ................................................. 18
4.6.2. Os Programas ao nível da Escola devem incluir ........................................................................... 19
4.6.2.1. Família ..................................................................................................................... 19
4.6.2.2. Comunidade .............................................................................................................. 19
4.6.3. Factores de equilíbrio .............................................................................................................. 19
4.6.4. Factores de Risco ................................................................................................................... 19
4.7. Adolescência & Gravidez .................................................................................................................. 19
4.8. Modelo de maternidade adolescente (adaptado de Schellenhach, Whitman, & Borkowski, 1992) ................ 20
4.8.1. Suporte social ........................................................................................................................ 20
4.8.2. Apoio Emocional ..................................................................................................................... 20
4.8.3. Apoio social ........................................................................................................................... 20
4.8.4. Apoio fornecido pelo pai do bebé .............................................................................................. 20
4.8.5. Intervenção junto da família .................................................................................................... 21
4.9. Factores indicadores de risco de gravidez na adolescência .................................................................... 21
4.9.1. Factores individuais ................................................................................................................ 21
4.9.2. Factores familiares ................................................................................................................. 21
4.9.3. Factores relacionais ................................................................................................................ 21
4.10. Associações .................................................................................................................................. 21
V – Ligação afectiva (Attachment) ..........................................................................................................22
5.1. Ligação Afectiva .............................................................................................................................. 22
5.1.1. Comportamentos de ligação afectiva nos primeiros meses de vida ................................................ 22
VI – Ligação Afectiva em Crianças Deficientes ........................................................................................22
6.1. Intervenção.................................................................................................................................... 23
VII – Gravidez: Perdas & Lutos ...............................................................................................................23
7.1. Perdas & Luto ................................................................................................................................. 23
7.1.1. Perdas precoces ..................................................................................................................... 23
7.1.2. Morte Perinatal ...................................................................................................................... 24
7.2. Reacções emocionais ....................................................................................................................... 24
7.2.1. Acontecimentos complexos ...................................................................................................... 25
7.2.2. Acontecimentos multidimensionais ............................................................................................ 25
7.2.3. Morte Fetal ............................................................................................................................ 25
7.2.4. Morte Neonatal ...................................................................................................................... 25
7.2.5. Interrupção da Gravidez .......................................................................................................... 26
7.2.6. Interrupção Espontânea da Gravidez ......................................................................................... 26
7.2.7. Interrupção Médica da Gravidez ............................................................................................... 26
7.2.8. Anomalias Congénitas ............................................................................................................. 26
7.3. Fase de “Desorganização psicológica” ................................................................................................ 27
7.3.1. Fase ou “Estado de elevada activação emocional” ....................................................................... 27
7.3.2. Fase de “Aceitação da situação” ............................................................................................... 27
7.4. Processo de Luto: respostas emocionais ............................................................................................. 27
7.4.1. Manifestações Afectivas........................................................................................................... 28
7.4.2. Manifestações Comportamentais .............................................................................................. 28
7.4.3. Manifestações Cognitivas ......................................................................................................... 28
7.4.4. Manifestações Fisiológicas ....................................................................................................... 28
7.5. Processo de luto ............................................................................................................................. 28
7.5.1. Processo de luto normal (Weiner, 1984) .................................................................................... 29
7.5.1.1. Fase de choque e negação .......................................................................................... 29
7.5.1.2. Fase de desespero e expressão da dor .......................................................................... 29
7.5.1.3. Fase de resolução e reorganização ............................................................................... 29
7.5.2. Processo de luto patológico (Worden, 1991) ............................................................................... 29
7.5.2.1. Luto Crónico.............................................................................................................. 29
7.5.2.2. Luto atrasado ............................................................................................................ 29
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7.5.2.3. Luto exagerado ......................................................................................................... 29


7.5.2.4. Luto mascarado ......................................................................................................... 30
VIII – Competências do Recém-Nascido .................................................................................................30
8.1. Papel dos Pais ................................................................................................................................ 30
8.2. Competências do Recém-Nascido (RN) ............................................................................................... 30
8.2.1. Visão .................................................................................................................................... 31
8.2.3. Audição................................................................................................................................. 32
8.2.4. Tacto .................................................................................................................................... 32
8.2.5. Paladar ................................................................................................................................. 32
IX - Gravidez & Maternidade: Distúrbios psicológicos .............................................................................33
9.1. Aspectos Psicológicos ...................................................................................................................... 33
9.1.1. Costumes, Mitos e Superstições ............................................................................................... 33
9.1.2. Epidemiologia ........................................................................................................................ 34
9.2. Definição de Conceitos ..................................................................................................................... 36
9.2.1. Ansiedade ............................................................................................................................. 36
9.2.2. Depressão ............................................................................................................................. 36
9.2.3. Psicose ................................................................................................................................. 36
9.3. Psicopatologia Gravidez & Puerpério .................................................................................................. 37
9.3.1. Vómitos e náuseas ................................................................................................................. 37
9.3.2. Perturbações Depressivas ........................................................................................................ 37
9.3.3. Perturbações de ansiedade ...................................................................................................... 37
9.3.3.1. Factores predisponentes ............................................................................................. 37
9.3.3.2. Sintomatologia .......................................................................................................... 37
9.3.4. Pós-Parto Blues ou Síndroma do 3º dia ..................................................................................... 38
9.3.5. Depressão pós-parto ............................................................................................................... 38
9.3.5.1. Sintomas .................................................................................................................. 38
9.3.5.2. Tratamento: .............................................................................................................. 38
9.3.6. Psicose Pós-Parto (Puerperal)................................................................................................... 38
9.3.6.1. Sitomas .................................................................................................................... 38
9.3.7. Vivência Paterna .................................................................................................................... 39
X – Bibliografia .......................................................................................................................................39


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I – Gravidez & Maternidade: Perspectivas Históricas

1.1. GRAVIDEZ
A gravidez é simultaneamente uma transformação biológica, social e pessoal que coloca a pessoa em
contacto com os arquétipos universais, i.e., com os sentimentos e comportamentos e significados que
residem na parte mais escondida de todos os seres humanos.
Latentes desde o nascimento e que repentinamente são evocados por uma poderosa mudança física que se
repercute a todos os outros níveis da psiqué.
Pode ser, simultaneamente, gratificante e confusa, mas no seu âmago é criativa, uma vez que no seu termo
existe literalmente um novo ser, uma nova vida, tanto no interior dos pais como o bebé acabado de “vir à
luz”.
As queixas de ansiedade e depressão de uma mulher grávida, a sua frustração com os pais e as dificuldades
com o marido fazem parte de uma situação especial e altamente complexa.
A grávida tem que harmonizar novas questões complexas na sua vida e permanecer aberta à nova
identidade que está a crescer dentro de si:
• Não apenas a identidade do bebé;
• Mas a sua própria identidade como mãe;
• A identidade do seu companheiro como pai;
• A dos seus pais e sogros como avós.

1.2. PATERNIDADE
Actualmente, verifica-se que também os homens sofrem uma transformação psicológica semelhante à que
se observa nas mulheres.
Um homem está “grávido” à medida que o papel de pai cresce dentro de si, tal qual o ser que cresce no
interior do útero da sua companheira.
É relativamente frequente observar-se que o homem acompanha a grávida às consultas de rotina –
envolvendo-se, deste modo, no projecto de gravidez.
Tal como muitos homens acompanham a grávida às aulas de ginástica de preparação para o parto.
Muitos outros tomam a cargo a decoração do quarto do bebé, a compra dos primeiros brinquedos e
algumas vezes de uma ou outra peça de vestuário.

1.3. CONSTATAÇÃO CLÍNICA


Muitas das gravidezes eram descritas como rotina médica e sem complicação, mesmo quando as mulheres
ficavam profundamente deprimidas depois do nascimento dos filhos.
• Como é que isso possível?
• Será que elas mantiveram um equilíbrio estável durante a gravidez até ao parto?
Os registos médicos não faziam qualquer alusão ao stress de um casal ansioso experienciava tal como não
referia as alegrias de casais apaixonados profundamente encantados com o facto de estarem a criar uma
nova vida.
Quer para os casais ansiosos quer para os felizes, a gravidez cria um mundo interior em expansão cheio de:
• Esperança,
• Expectativa,
• Medo e
• Ressentimento
que reflecte a realidade física do alargamento do abdómen e o respectivo crescimento do feto.
Entrar nos novos papéis sociais da condição de ser mãe ou pai suscita ansiedade e desafio.

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Apesar disso, os quadros médicos apenas davam conta do perfil físico da mãe.

1.4. SESSÕES DE GRUPO


Libby Colman e Arthur Colman (1971) estudaram a gravidez como um estádio no ciclo de vida.
Reuniram semanalmente com o grupo de mulheres em início da gravidez, que participavam numa
discussão de grupo, numa clínica pré-natal.
• Estas mulheres falavam sobre as suas experiências, sentimentos e pensamentos.
• Conversavam sobre as transformações e mudanças que ocorriam no seu corpo, acerca de toda uma série de
sentimentos sexuais novos, sobre os maridos/companheiros e sobre os sentimentos para com as outras pessoas
que as rodeavam.
Alguns dos maridos também frequentavam as reuniões ou eram contactados informalmente, tendo acabado
por se envolverem no projecto.
• Com eles Colman e Colman aperceberam-se até que ponto um futuro pai pode ficar “grávido”. Semana após
semana, apercebiam-se das mudanças de atitudes e interesse, à medida que o seu filho crescia no útero
materno.
Gradualmente, viram a experiência da gravidez revelar-se como um padrão de estádios psicológicos
únicos, que envolvia tanto a mulher quanto o parceiro, em emoções e comportamentos anteriormente
desconhecidos.
O grupo continuou depois de as mulheres terem dado à luz e traziam o filho.
• O assunto do debate, para grande surpresa de Colman e Colman, passou de temas internos, subjectivos,
experiências que discutiam enquanto grávidas, para temáticas mais orientadas para o exterior, particularmente
a educação de crianças.
• Toda a ambiência psicológica das mulheres tinha mudado.
 Já não eram tão abertas ao seu meio
 Ou tão sensíveis aos seus sonhos e fantasias

como tinham sido.


• Deixaram de ser previsíveis:
 As Suas Respostas De Extrema Tristeza Face A Pequenas Perdas; Ou
 De Incontida alegria em virtude de sucessos menores.

Tal como a sua silhueta tinha estreitado também a sua abertura psicológica tinha diminuído.
• Parecia ter perdido o contacto com a condição partilhada pouco tempo antes.
• Dificilmente queriam recordar a experiência da gravidez, excepto quando estas recordações se prendiam com
trivialidades gerais, tranquilizadoras.
Será que uma mulher que já teve outro filho reage da mesma forma? (apesar de já se ter adaptado ao stress
do aparecimento de um novo ser)
• A mulher grávida com filhos reentra num estado psicológico e físico que lhe é familiar, cujas consequências
ela não pode esquecer.
• Já não é uma mãe estreante e ingénua, mas a gravidez continua a ser uma alteração exigente na sua vida.

As ansiedades e alegrias parecem voltar a cada gravidez.

1.5. ATITUDES CULTURAIS


A gravidez foi sempre indispensável à vida humana.
Não surpreende pois que tenha sido um dos temas retratados nos artefactos mais primitivos.
Os arqueólogos encontraram, em todo o mundo, estátuas de mulheres fecundas: com grandes seios e
barrigas.
Apesar de muitas mulheres considerarem a gravidez como o momento auge de suas vidas.
A sociedade não venera a mulher grávida como o máximo em termos de poder feminino.

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• Colectivamente, verifica-se uma atitude ambivalente em relação à reprodução.


• Alguns consideram que existem demasiados seres humanos e receiam que os recursos disponíveis comecem a
escassear;
• Outros sentem o mundo como demasiado instável e violento para as crianças.
• Individualmente, somos igualmente ambivalentes.
• A Gravidez, o nascimento, e a maternidade/paternidade distraem, frequentemente, homens e mulheres dos seus
outros objectivos de vida e esgotam as suas reservas emocionais e económicas.
• Estas podem ser razões subjacentes à decisão de interromper uma gravidez já iniciada.
A mulher moderna não é a única a ser ambivalente em relação à gravidez.
Papiros egípcios dão conta receitas e poções capazes de estimular o aborto e descrevem alguns
contraceptivos
• O que demonstra que também as mulheres da antiguidade, tal como hoje, queriam exercer algum controlo
sobre a reprodução.
Quando uma mulher opta por ser fértil e procriar, ela entra num domínio que vai para além da sua
experiência pessoal e que a liga, deste modo, ao colectivo.
Os imperativos biológicos são, frequentes vezes, tão avassaladores que, em alguns momentos, ela pode
sentir que o contacto com a sua consciência individual é apenas superficial;
Pode também sentir que as outras pessoas estão a ver os seus estereótipos de gravidez e não a grávida
como uma pessoa.
Sabe que ainda é ela própria, tem o mesmo nome, conserva as mesmas memórias, provém da mesma
família e tem o mesmo emprego
• Mas por vezes sente que está a ser dominada por algo maior que a transcende, e que, inclusive, por vezes lhe
melhora a vida, outras vezes, em competição com o seu “autêntico” ser.
Uma mulher grávida pode sentir que:
• O seu corpo está ao serviço da espécie,
• Tornou pouco mais que um recipiente para o feto ou
• Uma máquina de leite e de conforto para o bebé.

1.5.1. A Gravidez simboliza


• Fecundidade
• Alimentação
• Amor incondicional e
• Criatividade.
No entanto estes conceitos são, regra geral, mais fáceis de defender quando a gravidez diz respeito aos
outros.
A mulher pode sentir-se arrasada por tentar apenas lidar com a sua vida, não se preocupando com o
significado transcendente que os outros atribuem ao seu estado e quando, por exemplo, os defensores da
vida lhe dizem que:
• Mesmo um embrião de poucas semanas é mais importante que ela.
• Os médicos investigam no seu interior para tentar chegar ao feto, para medir ou verificar os seus cromossomas.
• Os cientistas criam embriões em tubos de ensaio e insinuam que o útero é um recipiente imperfeito e
temporário para o seu produto.
• Qualquer relação levanta a questão:
 Quais as necessidades mais importantes. As tuas ou as minhas?

Normalmente verifica-se compromisso, troca criativa e interdependência generosa.


Na gravidez a pessoa não chega a negociar a questão!
• O feto precisa de ajuda da mãe para sobreviver,
• Precisa, literalmente, do seu sangue (este é-lhe vital).

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A situação é maravilhosa, mas também um pouco ameaçadora.


A mulher descobre que a sua gravidez não é apenas algo que lhe está a acontecer, mas que adquire todo um
significado para os outros, o qual, muitas vezes, nem sequer é compatível com a sua experiência interior de
ser mulher.
• No último mês de gravidez já se permite viver por breves momentos o esquecimento do seu estado
• Sentir-se apenas ela mesma,
• Mas basta que alguém se aproxime e lhe acaricie a barriga
 Para que seja empurrada com toda a violência de novo para a sua condição, momentaneamente esquecida.
Para a outra pessoa ela por ser “uma Mulher Grávida” no entanto para si própria, ela continua apenas a ser
a Maria Aparecida
E a Maria Aparecida pode melindrar-se com o facto de haver estranhos a dar-lhe palmadinhas na barriga e
conselhos que ela não pediu.

1.6. CONCLUSÃO
A gravidez (re)dimensiona os papéis e as relações da mulher num novo contexto
• Torna-a mais dependente da ajuda de um sistema social de apoio,
• E cria-lhe necessidades intensas de apoio afectivo e amoroso,
Mas também de necessidade de aceitação e atenção por parte dos outros.
• O modo como a sociedade a olha pode afectar profundamente a sua experiência e
• As possibilidades são imensas e imprevisíveis.
Por vezes são vistas como:
• Poderosas e férteis.
Outras vezes
• Como frágeis, vulneráveis ou mesmo doentes.
• O significado da gravidez altera-se com a época e tempo no interior de uma cultura.
• Além disso as sub-culturas sustentam significados alternativos dentro de uma sociedade mais ampla.

1.6.1. Reprodução
No séc. XIX, a jovem Americana era educada para acreditar no “imperativo da procriação”.
A cultura dominante difundia a ideia da “realidade do destino, do direito oferecido por Deus” para povoar a
América do Norte de costa a costa.
• No seu livro sobre as perspectivas de mudança da maternidade americana, Maxine Mergolis (1984), cita
Theofore Roosevelt:
• “Se a família média... incluísse apenas dois crianças, a Nação como um todo viveria um decréscimo
populacional tão rápido, que em duas ou três gerações estaria, merecidamente, em vias de extinção. Uma
raça que praticasse tal doutrina, isto é, que praticasse o suicídio da raça, estaria assim a mostrar, de modo
conclusivo, que era inapta para existir” (Mergolis, 1984, p. 47).
Durante a grande depressão dos anos de 1930, a gravidez era frequentemente um fardo financeiro
extremo;
• Embora os valores estivessem orientados para a família, não havia comida ou dinheiro suficiente para
sobreviver;
• As pessoas adiavam o casamento e filos que não podiam sustentar;
• As mulheres eram sobrecarregadas por cada nova criança por muito que a amassem;
• Uma nova gravidez podia ameaçar a vida das crianças já nascidas.

Depois da 2ª Grande Guerra Mundial, ansiava-se por repovoar de novo o país.


• Cansados da morte e destruição, os homens e mulheres voltavam-se para a vida em família, numa economia
em tempo de paz.

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 4


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• Os casais sobreviviam numa fantasia dourada e desenvolveram os subúrbios.


Nos anos 50, cidades inteiras eram constituídas por famílias jovens,
• Os homens saiam para o trabalho todas as manhãs e, as mulheres, ficavam em casa com os seus filhos
pequenos.
• Estes foram os anos do “baby boom”.
• Único período em que as mulheres americanas inverteram a tendência de ter menos crianças e tê-las mais
tarde.
• Durante os anos 50, elas casaram mais novas e deram à luz mais bebés do que em qualquer outra década, desde
o séc. XIX.
A América dos anos 60 foi descrita como uma cultura do narcisismo.
• As mulheres em idade fértil foram incentivadas a permanecer sem filhos;
• Homens e mulheres começaram a ter contacto com novos padrões sociais e a ter controlo sobre as suas vidas
reprodutivas.
 1966, o Verão do Amor,
 1969, o Festival de Woodstock
• Simbolizam uma geração a atingir a maioridade e a entrar na idade adulta e procriação, com sexo, drogas e
rock & roll.
 Por volta de 1970,
 Preocupações ecológicas, “liberdade sexual”, “emancipação da mulher” e “anti-racismo.
 A fertilidade, a gravidez, o parto e a educação das crianças tornam-se questões políticas de grande
interesse público.
• Uma vez conscientes das consequências e perigos da explosão demográfica, muitos consideraram que apenas
era aceitável ter um ou dois filhos.
 O que origina um profundo desconforto, não só na mulher que está em estado avançado da sua terceira
gravidez, como em toda a família e nas relações familiares e sociais.
 A sua fertilidade transforma-se em algo do domínio público e não apenas em algo que apenas lhe diz
respeito.
• A emancipação da mulher teve como consequência, uma preocupação feminista pela igualdade, que avança em
2 direcções contraditórias:
o Aumentou a consciência das tarefas tradicionalmente femininas tais como a gravidez, o parto e a
educação das crianças;
 Deu-lhes tanto valor como às actividades tradicionalmente masculinas.
o O feminismo insistiu (correctamente) em que as mulheres podiam ser tão boas quanto os homens
em esforços tradicionalmente masculinos que exigiam intelecto, lucidez, energia e ambição.
• Infelizmente, este último aspecto tendeu a reforçar posições patriarcais sobre a inferioridade das
actividades tradicionalmente femininas, e a
• Transformar uma mulher emancipada mais num pseudo-homem, do que num ser humano
competente e habilitado
• Que para além de tudo tem ainda a capacidade de gerar e criar filhos.
• Na pior das hipóteses: gravidez, parto e educação infantil eram actividades sem significado que
não deveriam impedir uma “verdadeira” mulher de progredir na vida – isto é, na sua carreira.

1.6.2. Fertilidade e Identidade Sexual


A maioria das mulheres integra a realidade da ovulação, útero e seios na sua auto-imagem positiva.
Numa cultura dominada pelo masculino, aparentemente é uma desvantagem ser mulher – a mulher pode
ser vista como um ser inferior.
Mas o corpo feminino também é frequentemente glorificado, mesmo reverenciado, cuidado, admirado e
desejado.
Em algumas culturas a virilidade do homem dependem única e exclusivamente do número de filhos que
procria, independentemente do seu desempenho sexual ou do destino dessas crianças.
• Existe o relato de uma mulher que contou ao seu médico:
o Não ter planeado uma única gravidez;
o Queixou-se de ter estado a usar métodos contraceptivos na altura em que engravidaram, incluindo o
aparelho intra-uterino e o coito interrompido.

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 5


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oUma vez que já tinha em casa oito crianças, esta última cobrar-lhe-ia a sua força, a sua saúde e o
seu orçamento!
• Quando lhe perguntaram como se sentia em relação à gravidez
o Referiu não estar satisfeita.
• Quando lhe perguntaram o que sentia o marido, disse:
o “Bem ele pode ser maluco, mas está tão orgulhoso quanto um homem pode estar.”

II – Gravidez & Maternidade: Conceitos Gerais

2.1. INTRODUÇÃO
A Gravidez transcende o momento da concepção tal como a Maternidade transcende o momento do parto.
• Mais do que acontecimentos com diferentes durações temporais, a Gravidez e a Maternidade são processos.
• Do ponto de vista psicológico são processos dinâmicos de construção e desenvolvimento.
• Gravidez e Maternidade são realidades distintas, tanto em termos orgânicos como em termos psicológicos. E,
inclusive, podem não ser coincidentes.
• O facto de uma mulher estar grávida não assegura automaticamente que ela se consiga adaptar à fundamental
necessidade de realização das tarefas maternas.
A Maternidade implica que, mais do que desejar ter um filho, se deseje, acima de tudo, ser mãe.
Quando se verifica a existência de um projecto adaptativo de maternidade, a Gravidez transforma-se numa
época que permite a preparação psicológica da mulher para ser mãe.

2.2. PROJECTO DE MATERNIDADE


Permite então:
• Ensaiar os papéis e tarefas maternas, em termos cognitivos (crenças, informação);
• Iniciar o processo de reestruturação de relações afectivas para incluir o novo membro (no grupo familiar);
• Incorporar a nova presença (filho) como uma identidade própria, separada de si mesma;
• Aprender a aceitá-lo e amá-lo como pessoa única, com necessidades, desejos e vida própria.
• E isto, apesar de, num primeiro momento, e dada a enorme imaturidade física deste novo ser, do bebé, obrigar
a uma relação de grande dependência do adulto, por questões de sobrevivência.
• Os nove meses de ensaios, ligação, ansiedade, fantasias e reflexões, irão permitir que o projecto de
maternidade continue, progressivamente, a construir-se e a consolidar-se.

2.3. REPRESENTAÇÕES
A forma como o ser humano age (se comporta) e sente (sentimentos) depende das representações
esquemáticas que formou da realidade.
• Verifica-se uma forte correlação (associação) entre as crenças básicas sobre gravidez e maternidade e a
decisão de se engravidar, assim como todo o comportamento, durante a gravidez, e, posteriormente, o
comportamento materno.
• A experiência da maternidade é variável, mas depende, em larga medida, do significado que lhe é atribuído.

Assim:
• É importante conhecer as representações (o conteúdo dos esquemas cognitivos) acerca de gravidez e
maternidade, para melhor compreender o comportamento de uma mulher grávida ou de uma mulher que é
mãe.
• As representações que cada mulher faz acerca da gravidez e da maternidade, dependem de inúmeros factores,
muitos deles em permanente mudança, até porque o ser humano é um ser em constante construção.

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2.4. DETERMINANTES DAS REPRESENTAÇÕES DE GRAVIDEZ E MATERNIDADE

P P
Factores históricos e R
E
sócio-culturais O Decisão de engravidar:
R
S
O
C
E • Comportamento
S durante a gravidez
N
A S
O
• Comportamento
L materno
Factores genéticos I S
D
A
Representações de C
D Gravidez e O
E Maternidade G
N
I
T
I
Factores associados à história V
pessoal: O
S
• Relação com a mãe

• Experiências prévias de Relações interpessoais


gravidez e maternidade
Relação conjugal
• Profissão

2.5. FACTORES DETERMINANTES DAS REPRESENTAÇÕES

2.5.1. Factores Genéticos


Referem-se às influências de constituição, conceptualizadas como tendências básicas que incluem
capacidades de:
• Percepção,
• Cognitivas,
• Drives fisiológicos,
• Características físicas, e
• Traços de personalidade

As características físicas, anatómicas e funcionais, transformam-se, no caso da gravidez, em pré-


requisitos ou condições necessárias à sua ocorrência.

Apesar disso, não são condição suficiente para uma maternidade devidamente adaptada (adaptativa).

Instinto Maternal
Maternidade natural e “instintiva”

Muitas mulheres sentiram, sentem ou sentirão que ser mãe é fundamental para a sua realização pessoal.

Mulheres que vivem num contexto social que valoriza a maternidade, podem valorizar sobremaneira a
identificação à figura materna. O desejo de ter e cuidar de uma criança pode ser tão forte e natural que
origina a sensação de ser algo de inato.

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A noção de maternidade como sendo “natural e instintiva” não ajuda as mulheres a conceptualizar a
maternidade como um processo de decisão que, independentemente da opção tomada, implica um
crescimento e desenvolvimento pessoal e auto-conhecimento.
As mulheres que escolhem não utilizar a sua capacidade biológica de ser mãe, não são, obviamente, menos
“normais”, “femininas”, “naturais”, maduras” ou mais “egoístas” que as que optam por realizar esse
potencial biológico.
• Ou que sentem de forma particularmente forte a necessidade e vontade de ter e cuidar de um filho.

Considerar o desejo e capacidade de maternidade como critério de definição da condição de ser “mulher
normal” apenas conduz a equívocos.
É confundir normalidade com convencionalidade.


O sentido de normalidade para cada indivíduo deve remeter para aquilo em que acredita e o faz sentir
melhor consigo próprio.
Tirando, assim, mais partido da qualidade dos diversos momentos do seu ciclo de vida.

2.5.2. Factores históricos e sócio-culturais


O acesso aos métodos anticoncepcionais possibilitou a separação entre sexualidade e reprodução, e, de uma
maneira geral, permitiram à mulher um maior controlo sobre o seu corpo e vida.
A flexibilidade de valores e regras de comportamento sobre relações íntimas e realização pessoal e a
modificação de conceitos como “idade adulta” e “feminino” contribuem também para aumentar o número
de possibilidades de vida de uma mulher.
Há mulheres que pertencem ao universo de pessoas com opções, mas cujo contexto sócio-cultural e
relacional contribuíram para a construção de crenças básicas não adaptativas acerca do que uma mulher
deve ser, fazer e sentir, não lhe permitindo utilizar em pleno o seu potencial de liberdade.

2.5.3. Factores desenvolvimentais


Os factores desenvolvimentais dizem respeito à história do indivíduo, aos marcadores das suas
experiências e aprendizagens ao longo do ciclo de vida.
Privilegiam-se marcadores relacionais que, conjuntamente, com os marcadores biológicos, são o mais
importante sistema regulador do desenvolvimento do indivíduo.
Considera-se que a situação de maternidade, enquanto situação relacional, de encontro, as relações
significativas ao longo da vida vão adquirir um peso acrescido na construção de representações sobre a
maternidade.

A relação com a mãe é uma das relações mais importantes na formação de significados sobre a gravidez
e a maternidade.

A forma como a mãe lida com a filha enquanto bebé e depois enquanto criança, constitui uma base de
criação de expectativas sobre:
• O comportamento dos outros,
• Construção do conceito de si própria, e
• Sua própria auto-regulação emocional.
A mãe é para cada mulher, o primeiro e principal modelo de comportamentos e afectos maternos;
• Sendo do mesmo “género”, a forma através da qual vive a sua vida e cuida da sua filha, vai servir de modelo.

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• Comunica verbal e não-verbalmente, o que é ser mãe e, como é que uma mãe sente e se comporta.

A qualidade da relação que a mãe estabelece com os filhos adquirem algum poder de predição, em
termos do desenvolvimento das crianças, no entanto, não são o seu único determinante.
Relacionar-se implica influenciar e ser influenciado e, quanto mais próxima for a relação maior é a
probabilidade do potencial de influência.

2.6. RELAÇÃO CONJUGAL


Quando:
• A gravidez, maternidade e paternidade apresentam significados diferentes ou mesmo antagónicos para o
homem e para a mulher
• A própria relação não permitiu a alteração adaptativa dessas representações

A tomada de decisão poderá vir a corresponder à sobreposição das representações de um dos elementos,
que o outro aceita, apenas porque receia a perda.
Podem originar-se emoções disruptivas que dificultam os inevitáveis processos de adaptação.

2.6.1. Representações da Gravidez e Parto

2.6.1.1. Gravidez e controlo do corpo


A fertilidade é, não raras vezes, perspectivada como a prova de se possuir um corpo que funciona
“normalmente”, um corpo capaz de cumprir todas as funções que lhe estão reservadas.
• A Gravidez adquire aqui a função de “teste à funcionalidade” do corpo feminino.
Há mulheres para quem engravidar é deixar de ter controlo sobre o seu corpo.
• Voltarei a ter o mesmo corpo? – e em que a gravidez é vivida com profunda ansiedade.

2.6.1.2. Maternidade e Relacionamento conjugal


O nascimento de um filho pode ser a:
• Materialização e projecção de um encontro, de uma relação íntima;
• Concretização e testemunho de um enormíssimo amor e profunda compreensão (entendimento);
• Ponte que permite o encontro das duas margens;
• Roubo à relação conjugal – o receio de, com o nascimento de um bebé, não se conseguirem estabelecer e
encontrar equilíbrios conjugais satisfatórios (este medo é manifestado por muitas mulheres).

2.6.1.3. Maternidade e Família de origem


Possibilidade de continuidade de uma família.
Os filhos são a possibilidade de transmissão de diversas heranças:
• Genéticas;
• Costumes;
• Valores e significados;
• Bens materiais;
• Apelido de família.
O nascimento de uma criança pode adquirir um significado de unificação familiar e geracional;
• Ligação irreversível entre duas famílias – criação de laços de parentesco.
• Cada geração da um passo em frente, e este pode ser encarado como
o Continuidade e esperança
o Ou pode significar envelhecimento.

2.6.1.4. Maternidade e Relacionamento com o filho


Gravidez e Maternidade assumem-se como a representando um “encontro”.
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Pela relação de dependência física que a gravidez e os primeiros meses de maternidade sugerem –
Gravidez e Maternidade adquirem, frequentes vezes, o significado de “um desafio à capacidade de se dar,
de se descentrar de si própria.

2.6.1.5. Maternidade e Experiências existenciais


Os argumentos são:
• Postura assumida relativamente a aspectos religiosos, humanos ou à própria vida.
• Aceitação de um destino superiormente oferecido.
• Preservação e continuidade da espécie.
• Continuidade, projecção e reparação pessoal, no futuro, a possibilidade de transcender a dimensão temporal e
enganar a morte, encarada como um fim.
A gravidez e a maternidade como período de desenvolvimento caracterizam-se pela:
• Necessidade de resolver tarefas específicas e
• Viver uma crise própria
• Implica stress, mudança e reorganização.

2.7. TAREFAS DESENVOLVIMENTAIS DA GRAVIDEZ E PUERPÉRIO

Tarefas de Desenvolvimento

1º Trimestre Tarefa 1: Aceitar a gravidez Reavaliar e reestruturar

Gravidez 2º Trimestre Tarefa 2: Aceitar a realidade Tarefa 3: ... a relação com os pais
do feto
3º Trimestre Tarefa 4: ... a relação com o
cônjuge/companheiro

Puerpério (aproximadamente Tarefa 5: Aceitar o bebé como Tarefa 6: ... a sua própria identidade
6 semanas) pessoa separada (para incorporar a identidade materna)

Tarefa 7: ... a relação com o(s)


outro(s) filho(s)

7.1. Tarefas desenvolvimentais da Gravidez


A gravidez e a maternidade como período de desenvolvimento caracterizam-se pela:
• Necessidade de resolver tarefas específicas e
• Viver uma crise própria
o Implica stress, mudança e reorganização.
1ª Tarefa: Aceitar a Gravidez
• Aceitar a gravidez;
• Ambivalência é a atitude característica – ultrapassada aquando da confirmação do estado de gravidez;
• Dá-se início ao processo de identificação materna – procura de referências nos modelos maternos
conhecidos.
2ª Tarefa: Aceitar a Realidade do feto
• Inicialmente, a gravidez é vivida apenas como uma alteração corporal;
• Aceitação do feto (Eco);
• Fantasias relacionadas com o bebé
• Ensaio, em termos cognitivos, das primeiras tarefas de prestação de cuidados.
3ª Tarefa: Reavaliar e reestruturar a relação com os pais
• Reavaliação do relacionamento com os pais;

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• Aumento do número de visitas e telefonemas;


• Após o nascimento pode verificar-se alguma confusão entre as gerações no que diz respeito aos papéis a
desempenhar.
4ª Tarefa: Reavaliar e reestruturar a relação com o cônjuge
• Relacionamento conjugal vai sofrer um desafio;
• Alterações ao nível do relacionamento conjugal, necessárias à entrada (inserção) de uma criança na família:
o Dependem da forma de organização prévia do casal;
o Casal tem de reajustar a sua relação ao nível:
o Plano afectivo;
o Rotina diária; e
o Relacionamento sexual.
• Flexibilizar a aliança conjugal para formar a aliança parental
o Filho como “tábua de salvação” do casamento versus
o Filho como prova de resistência ao relacionamento conjugal.
5ª Tarefa: Aceitar o bebé como pessoa separada
• Último período da gravidez é o período de preparação para a separação que se concretiza com o parto.
• Verifica-se um aumento dos níveis de ansiedade com a aproximação do parto;
o Sentimentos de ambivalência.
 O grande desafio ao nível do desenvolvimento, desta fase, é ser capaz de interpretar e
responder correctamente ao comportamento do bebé.
 A principal tarefa consiste em:
• aceitar que embora a existência do bebé possa ser gratificante para a mãe,
• ele existe para além dela e
• Deve ser aceite enquanto pessoa separada, com características e necessidades próprias.
6ª Tarefa: Reavaliar e reestruturar a sua própria identidade
• Integrar na sua identidade:
o O papel,
o A função e
o O significado
• de ser mãe.
• Verifica-se, a este nível, o grande jogo entre a protecção e a autonomia do filho; a dádiva e o espaço para si
própria.
• Implica:
o Reavaliar as perdas e ganhos que a maternidade introduziu;
o Aceitar as mudanças, que este novo estádio introduziu;
o E adaptar-se, de acordo com a sua prévia identidade.

III – Gravidez & Maternidade: Fase de Desenvolvimento


Psicológico

Como já foi referido a Gravidez transcende o momento da concepção tal como a Maternidade transcende o
momento do parto.
A Maternidade implica que, mais do que desejar ter um filho, se deseje, acima de tudo, ser mãe.
Quando se verifica a existência de um projecto adaptativo de maternidade, a Gravidez transforma-se numa
época que permite a preparação psicológica da mulher para ser mãe.
Permite então:
• Ensaiar os papéis e tarefas maternas, em termos cognitivos (crenças, informação);
• Iniciar o processo de reestruturação de relações afectivas para incluir o novo membro (no grupo familiar);
• Incorporar a nova presença (filho) como uma identidade própria, separada de si mesma;
• Aprender a aceitá-lo e amá-lo como pessoa única, com necessidades, desejos e vida própria.

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• E isto, apesar de, num primeiro momento, e dada a enorme imaturidade física deste novo ser, do bebé,
obrigar a uma relação de grande dependência do adulto, por questões de sobrevivência.

3.1. MATERNIDADE COMO FASE DE DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO


• O conceito de situação de crise, no desenvolvimento psicológico
• Gravidez como situação de crise no ciclo vital da mulher

3.1.1. Gravidez
Importância das equipas multidisciplinares:
• O Psicólogo deve captar as nuances emocionais e as suas manifestações ao nível intra e interpessoal, e ajudar o
obstetra, e os enfermeiros a aprofundar a sua compreensão do funcionamento dinâmico da grávida como um
todo integrado.
A revolução tecnológica da obstetrícia permite a realização de uma assistência pré e perinatal cada vez
mais sofisticada, reduzindo, ao mínimo os riscos maternos e do feto.
• A revolução tecnológica da obstetrícia encerra, no entanto, um grave erro:
o Resultou numa profunda dissociação entre os aspectos somáticos e emocionais no atendimento
clínico, cuja rotina convencional, tanto na gestação quanto no parto e no puerpério imediato,
raramente satisfaz as necessidades psicológicas de mãe e filho!
• Durante a gravidez iniciam-se:
o A formação do vínculo materno-filial e
o A reestruturação da rede de comunicação da família:
 Ponto de partida de um novo equilíbrio dinâmico na unidade familiar.
É sem dúvida um momento que merece a confluência de esforços de prevenção por parte dos obstetras,
enfermeiros e psicólogos que resulte num atendimento mais global e satisfatório para a saúde física e
emocional da mulher e do seu filho.

3.1.2. Maternidade
• A maternidade é um momento existencial fundamental no ciclo de vital feminino.
• Pode proporcionar à mulher a oportunidade de atingir novos níveis de integração e de crescimento
(desenvolvimento) da personalidade.

3.2. PERSPECTIVAS PSICOLÓGICAS


• Contributos da Psicanálise
o Esta corrente teórica é, ainda hoje, considerada a mais importante pois fornece uma explicação clínica
muito completa de como se dá o desenvolvimento da personalidade, embora seja motivo de acérrimas
críticas, dada a grande importância atribuída por Sigmund Freud à sexualidade infantil.
• Contributos da Psicologia do Desenvolvimento
o A tendência da Psicologia do Desenvolvimento na qual se inserem autores como Caplan (1967), Erikson
(1959), Bibring (1961) é a de conceber o desenvolvimento psicológico como um continuum que se
prolonga para lá da adolescência, marcado por vários períodos de crise, que representam verdadeiros
pontos decisivos no crescimento emocional e que determinam, de algum modo, o estado de saúde ou
doença mental.
o O que equivale a afirmar que psicologicamente o indivíduo não cessa de crescer, logo, há sempre a
possibilidade de fazer reestruturações, modificações e reintegrações da personalidade.

3.3. CICLO VITAL DA MULHER


• Podem considerar-se três grandes momentos ou períodos críticos, no ciclo vital da mulher, que se constituem
em verdadeiras fases do desenvolvimento da personalidade e que têm alguns pontos em comum:
o Adolescência
o Gravidez
o Climatério (Menopausa)
• Estes três períodos têm em comum o facto de serem:

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o Períodos de tensão biologicamente determinada;


o Caracterizados por mudanças metabólicas complexas;
o Serem um estado temporário de equilíbrio instável.
• Um estado temporário de equilíbrio instável:
o Que decorre da perspectiva das grandes mudanças envolvidas nos aspectos de:
o Papel social,
o Necessidade de novas adaptações,
o Reajustamentos interpessoais e intra psíquicos e
 Mudança de identidade.

3.4. CONCEITO DE CRISE


Conceito de situação de crise, no desenvolvimento psicológico:
• G. Caplan (1963), considera que crise pode ser definida como um período temporário de desorganização do
funcionamento de um sistema aberto, precipitado por circunstâncias que transitoriamente ultrapassam as
capacidades do sistema para se adaptar interna e externamente.
Conceito de situação de crise, no desenvolvimento psicológico:
• Rapoport (1965), considera que crise pode ser definida de uma forma muito simples, como uma perturbação
temporária de um estado de equilíbrio.
O termo crise, foi inicialmente utilizado por Caplan e Lindemann para designar as reacções de um
indivíduo a eventos traumáticos, tais como morte súbita de uma pessoa amada, o nascimento de um filho
prematuro, desemprego inesperado, etc. (crises imprevisíveis).
• O mesmo termo foi empregue por Eric Erikson para designar as várias etapas do desenvolvimento psicológico
normal, tais como: puberdade, casamento, gravidez, menopausa (crises previsíveis).
• Assim, o termo crise tanto pode ser utilizado para utilizado quando nos referimos aos períodos de transição
inesperados como aos inerentes ao próprio desenvolvimento.
• Uma crise pode ser impulsionada por mudanças Internas:
o Crises normais do desenvolvimento,
o Doenças ou
o Traumas;
• ou Externas:
o Perda ou ameaça de perda de uma fonte de segurança e satisfação;
o Acumular de tensões que ameaçam romper o equilíbrio funcional dos mecanismos adaptativos do ego.
Crise implica sempre um enfraquecimento temporário da estrutura básica do Ego, de tal modo que o
indivíduo não consegue utilizar os seus métodos habituais de resolução de problemas e, como tal, requerem
a mobilização de mecanismos adaptativos do Ego no sentido de procurar novas respostas (anteriormente
inexistentes no reportório do sujeito).
• A estratégia utilizada pelos indivíduos para ultrapassarem as suas crises “existenciais” pode ser saudável ou
doentia:
o Levando o sujeito a experimentar uma “melhoria” (novo nível de integração e maturidade da
personalidade)
o Ou a “piorar” (maior grau de desintegração, de desorganização, e desajustamento da personalidade.
Os momentos ou períodos de crise são, precisamente por isso, ao mesmo tempo, momentos de
oportunidade e de perigo, são verdadeiras encruzilhadas em termos de saúde mental.
• O sujeito em crise tem tendência a, mais facilmente, aceitar a ajuda que lhe é oferecida.
• Por estar num período temporário de equilíbrio instável, em busca de novas soluções, isso significa que a
pessoa fica mais sensível, e vulnerável, mas também mais acessível à ajuda.
o Regra geral é mais fácil ajudar alguém em crise do que alguém que se encontra em períodos de equilíbrio
estável, quando os mecanismo de defesa e de adaptação se encontram mais fortemente estruturados, o
que origina uma maior hesitação para enfrentar a mudança.
o Já uma pessoa em crise, não tem escolha, não lhe resta outra alternativa que não seja a de aceitar a ajuda
e efectuar as mudanças necessárias de forma a reencontrar o seu equilíbrio.
• Caplan e a sua equipa (1964) chegou à conclusão, a partir das suas experiências clínicas em “intervenção na
crise” que:

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o É possível ajudar qualquer pessoa a superar uma crise satisfatoriamente, independentemente das
características de personalidade ou carácter.

3.4.1. Gravidez como Situação de Crise


A Gravidez possui diversas características de uma situação de crise, que se insere num processo normal de
desenvolvimento.
• Envolve:
o Necessidade de reestruturação e reajustamento ao nível de várias dimensões:
o À semelhança do que sucede na puberdade, verifica-se uma mudança de identidade
 E um nova definição de papéis (a mulher passa a ver-se e a ser vista de uma forma totalmente
diferente).

3.4.1.1. Caso de primípara


A grávida passa do papel de esposa (ou companheira) ao papel de mãe.

3.4.1.2. Caso de multípara


Também neste caso se verifica uma certa mudança de papel:
• Ser mãe de um filho não é o mesmo que ser mãe de dois ou mais filhos...
o O que se verifica é que a vinda de mais um filho obriga à alteração da composição da rede de
intercomunicação familiar.

3.4.2. Paternidade como Situação de Crise


Obviamente que o processo de mudança de identidade e de papel se verifica igualmente ao nível do
marido.
• Também a paternidade deve ser considerada como uma situação crítica ao nível do desenvolvimento
emocional do homem.

3.4.3. Redefinição de Papéis


A mulher pode ter desempenhado para além do papel de esposa, até então, o papel de “mãe” ou “filha” do
marido.
• Quando espera o seu próprio filho tem que se adaptar a este novo papel – ser mãe do daquela criança.
• Esta nova definição de papéis faz, não raras vezes, reavivar antigos conflitos de relacionamento.
• A mulher ou o marido podem:
o Querer ser melhores pais que os seus progenitores
o Ser incapazes de competirem com eles
o Encarar o bebé como um irmão mais novo e, como tal, rivalizam pelo afecto do pai ou da mãe;
o Competir entre si pelo afecto do bebé, etc...

3.4.4. Factores socioeconómicos


A complexidade das alterações provocadas pela chegada de um bebé, não se resume às variáveis
psicológicas e bioquímicas.
• Há ainda a considerar as mudanças ao nível dos factores socioeconómicos.
• Vive-se numa sociedade materialista em que a mulher contribui com o seu salário para o rendimento do
agregado familiar;
• Habitualmente trabalha fora;
• E cultiva interesses diversos: profissionais, estudo, carreira, sociais, culturais, etc.
• O facto de esperar um filho acarreta consequências a curto, médio e longo prazo.
• Privações reais sejam afectivas ou económicas:
o Aumentam a tensão;
o Intensificam a regressão e a ambivalência.
• A preocupação com o futuro:

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o Aumenta as necessidades da grávida e intensificam a frustração o que origina, como consequência,


sentimentos de raiva e ressentimento que a impedem de encontrar gratificação na gravidez.

3.4.5. Novos Níveis de Integração


Outra característica:
• Representa uma possibilidade de atingir novos níveis de:
o Integração,
o Maturidade, e
o Expansão
 Da personalidade – tanto na mulher como no homem.
 Ou de adoptar uma solução patológica que predominará ao nível da relação mãe-bebé.

3.5. RELAÇÃO MÃE-BEBÉ


Relação mãe-bebé saudável:
• Implica, em termos gerais, perceber e satisfazer, adequadamente, as necessidades do bebé;
• O bebé é encarado como um ser separado e não simbioticamente confundido com a mãe.
Relação materno-filial patológica ou doentia:
• A mãe é incapaz de perceber e, consequentemente, de satisfazer, adequadamente, as necessidades do bebé;
• O bebé simbioticamente confundido com a mãe (mãe e bebé são uma só e mesma pessoa).
Relação mãe-bebé patológica ou doentia caracteriza-se, ainda, pela expectativa que:
• o bebé preencha certas necessidades neuróticas da mãe como, por exemplo:
o Evitar a solidão;
o Satisfazer-lhe a carência de afecto;
o Fazê-la sentir-se útil.
• Ou então:
o O bebé representa, simbolicamente, uma parte doente da mãe;
o Esta é, frequentemente, a dinâmica subjacente às:
 Incessantes idas aos médicos com o pedido de descobrir “o que há de errado com o bebé”,
quando este é perfeitamente saudável.

3.6. CASAMENTO & GRAVIDEZ


A gravidez pode:
• Levar a maiores níveis de integração e aprofundamento no relacionamento do casal;
Mas, por outro lado, pode:
• Romper uma estrutura frágil e neuroticamente equilibrada.
A mulher que:
• Quer excluir o marido da sua vida;
• Não conseguiu ultrapassar a fase da dependência infantil em relação à sua própria mãe;
• Se sente inferior pelo facto de ser mulher;
a gravidez pode constituir uma ameaça:
• Ao casamento; ou
• Ao equilíbrio pessoal.
Para o homem que:
• Sente intensos ciúmes do filho que vai nascer, assim como sentiu em relação aos irmãos mais novos;
• Inveja o sucesso profissional ou pessoal (em termos familiares ou sociais) da mulher, etc...

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3.6.1. Gravidez como Regressão


Onde predominam:
• As características orais
o Hipersonia;
o Voracidade;
o Protecção.
• Indicam, basicamente, uma identificação básica da grávida em relação ao feto.
Esta identificação regressiva atingiria o seu clímax, segundo Otto Rank (1929), no próprio processo de
parto,
o Altura em que a parturiente revive o trauma do seu próprio nascimento.
Aqui a regressão não é forçosamente um processo patológico.
o Pelo contrário, pode fazer parte do próprio movimento do processo de desenvolvimento.
• Anna Freud (1965) concebe o desenvolvimento como um jogo de regressões temporárias
o A patologia caracteriza-se por regressões permanentes.
o E progressões, utilizando o modelo da espiral
• Este modelo está igualmente implícito na teoria de crise:
o Para atingir um novo nível de organização da personalidade – progressão;
o É preciso passar por um período de relativa desorganização – regressão.
Situar o período gravídico como situação de crise, obviamente não quer dizer que
o O período crítico termine com o parto;
o A maior parte das mudanças, maturativas, ocorrem no período pós-parto.
o O puerpério deve ser considerado como:
• A continuação da situação crítica.
• Implica novas mudanças:
 Fisiológicas
 Consolidação da relação mãe-bebé
• E grandes modificações:
 Das rotinas
 E do relacionamento familiar

3.7. SISTEMA FAMILIAR


De enfatizar que o nascimento de um filho é uma experiência familiar.
o Para se prestar uma assistência pré-natal efectiva é necessário não só apoiar a “mulher grávida” mas
sim a “família grávida”.
• Pode-se considerar que o sistema familiar, como um todo, se compõe de diversos subsistemas que interagem
continuamente entre si.
• Howells (1972) considera a família como um “organismo completo que possui uma unidade própria.
o Tal como o indivíduo, também a família é:
o Um sistema organizado,
o Com uma estrutura peculiar,
o Canais de comunicação e
o Elementos característicos.
• Qualquer evento que ocorre com uma das partes deste sistema atinge todo o sistema.
• Logo, a gravidez é uma experiência que pertence à família como um todo.
o Mesmo numa família composta de pai, mãe e um filho
 Os subsistemas nunca representam uma díade verdadeira, uma vez que,
 Desde o momento que se toma conhecimento da gravidez, e até às primeiras semanas após o parto,
 Quando a interacção entre mãe-bebé é extremamente próxima,
 O marido-pai participa activamente,
 Formando verdadeiramente uma tríade familiar.
o Por exemplo:
 O homem vai reagir às necessidades de maior protecção e cuidado que a mulher precisa

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 Vai assumir um papel protector e


 Vivencia com ela os temores e as ansiedades referentes ao parto e ao puerpério
 Reparte com ela a tarefa de cuidar do bebé,
 Experiencia com ela as expectativas e fantasias em relação ao bebé e,
 Ao mesmo tempo que elabora dentro de si a sua relação com a criança.
Esta primeira tríade familiar continua a manter-se estavelmente, na medida em que existe só um filho.
• Com a vinda de cada novo filho toda a composição da rede de intercomunicação da família se transforma, à
medida que se acrescentam novos subsistemas que actuam dinamicamente entre si.
• É de lamentar que a maioria dos trabalhos de investigação sobre os aspectos psicológicos do ciclo gravídico-
puerperal se foquem basicamente:
o Nas modificações da mulher e
o Dedicam pouca atenção à paternidade, como situação crítica e
o À inter-influência do casal
 Nas respectivas formas de vivenciar a gravidez.
• As reacções (atitudes e comportamentos) do homem, em relação à mulher grávida, influenciam largamente a
sua
o Aceitação ou rejeição da gravidez
o Tal como a forma como vai vivenciar todo um conjunto de outras modificações (e.g., alterações do
esquema corporal).
• As atitudes da mulher, em relação ao marido, também vão influenciar a o homem, nomeadamente:
o Encorajando-o a participar ao máximo durante e após a gravidez.
o Contribui fortemente para atenuar ou intensificar os sentimentos de abandono, ciúmes e rivalidades
para com o bebé
• Nunca será demais enfatizar as interacções de toda a unidade familiar na medida em que cada membro desta
unidade sofre transformações significativas sob o impacto da gravidez.

IV – Adolescência & Gravidez

4.1. ADOLESCÊNCIA
− “período durante o qual, sob o efeito da maturação sexual, nos seus aspectos biológicos,
psicológicos e sociais o indivíduo reformula imagem de si próprio e dos outros e do
sistema de relação do seu Eu com o meio até à organização definitiva da
personalidade...” (Haim, s/d; op. cit. Dias Cordeiro, 1975)

4.2.CONCEITO DE CRISE
− “Toda a situação de mudança a nível biológico, psicológico ou social, que exige da pessoa ou do grupo um
esforço suplementar para manter o equilíbrio”.
Adolescência
• Conceptualizada como uma crise de desenvolvimento
• Decorrente da aceleração do processo de maturação física e sexual.
• O adolescente é confrontado com um conjunto de tarefas de desenvolvimento que deve
realizar para passar com sucesso para a fase seguinte do seu ciclo de vida.
• Ocorrem neste período, diversas transformações, nomeadamente, ao nível:
 Eu físico
 Eu psicológico
 Relação com a família.

4.3. DELINQUÊNCIA NA ADOLESCÊNCIA:


A passagem ao acto
• Marcelli e Braconnier (1989) defendem que o problema da delinquência pode
ser encarado como

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• expressão de um problema mais vasto as perturbações da conduta.

Na Adolescência
• Existem factores internos e factores do meio que exercem influência, no
mesmo sentido. Estão presentes elementos como:
 angústia (descarregada através da acção)
 equilíbrio pulsão/defesa
 conflito actividade/passividade
 modificações do corpo e da linguagem

4.4. TEORIAS E MODELOS SOBRE DELINQUÊNCIA


Teorias do controlo
• As teorias do controlo assumem que a propensão para o anti-social reside no
indivíduo.
Teorias do desvio cultural
• As teorias que propõem que a delinquência juvenil resulta do desejo dos
jovens de adoptarem valores culturais que estão em conflito directo com os da
ordem moral e social.
Teoria da Associação Diferencial
• Defende que o comportamento criminoso é um comportamento aprendido.
• Adolescência
Teoria da Oportunidade Diferencial
• Weiner propõe que o locus da responsabilidade se encontra no indivíduo, defendendo que existem na
sociedade fontes para o comportamento criminal.
• As teorias da transmissão cultural descrevem a delinquência como tradição de grupo transmitida pelos
adolescentes mais velhos aos mais novos, em locais onde a autoridade parental é ineficaz.
Teorias sócio-políticas
• Colocam ênfase nas forças exteriores ao indivíduo como responsáveis pelo comportamento criminal.
Teoria do Rótulo Social
• A associação diferencial e a oportunidade diferencial preocupam-se com a reacção do indivíduo às forças
sociais: Esta perspectiva centra-se na reacção da sociedade face ao indivíduo.

4.5. TIPOS DE DELINQUÊNCIA


• Delinquência socializada
• Delinquência caracterológica
• Delinquência neurótica

4.6. FACTORES DE RISCO E DE EQUILÍBRIO


• Privação precoce na infância
• Factores Psicopatológicos
• Factores cognitivos
• Factores familiares
• Factores Psicossociais

4.6.1. Componentes comuns a Programas de Prevenção bem sucedidos


• Atenção individual intensiva a crianças desfavorecidas
• Intervenções precoces
• Centrarem-se na escola
• Envolverem vários agentes e a comunidade
• Atribuírem aos pais um papel definido

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• Atribuírem aos pares um papel definido


• Treino de competências sociais
• Estabelecerem ligações com o mundo de trabalho

4.6.2. Os Programas ao nível da Escola devem incluir


• caracterização da população pré-adolescente
• integração de conteúdos mais apelativos nos currículos,
• incluindo programas escolares que permitam um contacto prático com os conteúdos a ser aprendidos, tais
como:
• oficinas, laboratórios,
• recorrer à comunidade para complementar o currículo obrigatório das disciplinas.

4.6.2.1. Família
• Nas famílias de delinquentes, habitualmente, encontram-se bem patentes situações
de agressividade e conflito, no relacionamento conjugal,
• Para que esses “maus modelos” sejam erradicados, e assim proporcionar aos
jovens modelos mais saudáveis, há necessidade do recurso à terapia familiar
• Prevenindo assim que se repita na geração seguinte os mesmos comportamentos de
agressividade e violência.
• Outra medida seria o visionamento de vídeos com testemunhos de vítimas de
violência familiar.

4.6.2.2. Comunidade
• Para prevenir que os primeiros comportamentos delinquentes conduzam a uma
carreira de marginalidade e de exclusão social dos pré-adolescentes propõe-se a
integração dos mesmos em actividades que permitam a sua aproximação à
comunidade.
 e.g., divulgação das actividades desenvolvidas pelo grupo, através de
exposições periódicas à comunidade
• Visitas a locais onde se promova o contacto com várias profissões.

4.6.3. Factores de equilíbrio


• Multiplicidade de stress
• Circunstâncias compensadoras fora de casa
• Características temperamentais
• Hereditariedade
• Uma boa relação em casa
• Mudanças nas circunstâncias familiares

4.6.4. Factores de Risco


• São as “características ou condições de vida de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, que as expõem a uma
maior probabilidade de desenvolver um processo patológico ou de sofrer os seus efeitos” (OMS, 1973).
• A Gravidez na Adolescência tem sido considerada como uma situação de risco para a mãe e para o filho.

4.7. ADOLESCÊNCIA & GRAVIDEZ


Modelo de relacional de mães adolescentes com os filhos se
caracteriza por:
• São menos sensíveis; Mais repressivas;
• Recurso, abusivo, de estratégias educativas de punição;
• Menor conhecimento do desenvolvimento da criança;
• Diferenças ao nível do contacto ocular e das trocas verbais;
• Diferenças no contacto físico e ao nível do sorriso na relação
com os seus filhos.
• As mães adolescentes tendem a experiênciar mais stress.

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A gravidez e a maternidade na adolescência são acontecimentos, não normativos, de vida, que obrigam a
uma reorganização pessoal e relacional que garanta novos modelos e formas de expressão e realização,
adequados à nova situação.
 A mãe adolescente não deve ser julgada como “culpada” ou “agente patogénico” dos “fracassos” no
desenvolvimento do filho.

4.8. MODELO DE MATERNIDADE ADOLESCENTE (ADAPTADO DE SCHELLENHACH,


WHITMAN, & BORKOWSKI, 1992)
Nível Sócio-
Económico Saúde
Materna Características
do(a) filho(a)
Contexto Social/ Redes Sociais
de Apoio
História Desenvolvimental

Desenvolvimento
do(a) filho(a)
Maternidade
Adolescente

Recursos Psicológicos da
Adolescente

Competências
Parentais

Idade Competências
Aprendizagem

4.8.1. Suporte social


Constitui-se como essencial para atenuar o stress – efeito amortecedor.

4.8.2. Apoio Emocional


Favorece a adaptação da adolescente à gravidez
• Diminui a ansiedade associada às tarefas parentais
• Aumenta a sensibilidade e expressão de afecto da adolescente para com o filho.

4.8.3. Apoio social


• Mãe da adolescente 1ª fonte de Apoio social
• Serve de modelo positivo de maternidade
• Importante recurso, ao nível da informação e conhecimento sobre a prestação de cuidados
e educação da criança.

4.8.4. Apoio fornecido pelo pai do bebé


• As mães demonstram mais consistência emocional, maior prazer na tarefa parental, interacção mais adequada
com o bebé;
• Menos rejeitantes, menos punitivas.
• Mas o apoio emocional pode interferir com a identificação da adolescente ao papel maternal.

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4.8.5. Intervenção junto da família


• A gravidez na adolescência geralmente é não planeada e pré-conjugal
• 1999 – 7.000 mães adolescentes com menos de 19 anos.
• Mas o apoio emocional pode interferir com a identificação da adolescente ao papel maternal.

4.9. FACTORES INDICADORES DE RISCO DE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

4.9.1. Factores individuais


• As raparigas que engravidam nesta fase do ciclo de vida aparentam ter uma idade superior e caracteres sexuais
secundários bem desenvolvidos.
• Início precoce da actividade sexual
• Maior percentagem na raça negra e cigana – nestes grupos étnicos a gravidez na adolescência é bem aceite e
até desejada.
• Pobreza  é o melhor factor de predição de gravidez na adolescência?  ambiente educativo com baixos
recursos.
• Adolescentes grávidas – grande desvalorização e baixa auto-estima.
• Associada ao abuso de álcool e drogas
• São estudantes com menos sucesso e com menos aspirações académicas.

4.9.2. Factores familiares


• Famílias disfuncionais, numerosas e com problemas socioeconómicos
• Famílias monoparentais
• Ambiente familiar caracterizado por
• Stress, pressão e conflito
• Maior disfuncionalidade e rigidez
• Abuso físico, sexual e emocional
• Baixa qualidade da relação entre pais e filhas
• Filhas e irmãs de mães adolescentes.

4.9.3. Factores relacionais


• Os pais de filhos de adolescentes são, em geral, 2 a 4 anos mais velhos;
• Baixos níveis educacionais e profissões pouco qualificadas (pais)
• Começam a namorar mais cedo e têm um maior número de parceiros (mães)
• Têm uma percepção mais negativa sobre o sexo masculino (mães).
• A maternidade na adolescência pode surgir como um “porto de abrigo” e uma forma gratificante e segura de
dar e receber amor.
As adolescentes que engravidam têm por vezes problemas de identificação com os pares, têm poucos
amigos, tendem a ser submissas nas relações que estabelecem.

A gravidez surge, por vezes, como forma de aceder ao grupo dos adultos

4.10. ASSOCIAÇÕES
• Doenças sexualmente transmissíveis
• IVG
• Vigilância da gravidez inadequada – risco físico e psicológico.

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V – Ligação afectiva (Attachment)


5.1. LIGAÇÃO AFECTIVA
Bowlby (1950) realizou os primeiros estudos sobre os efeitos de privação afectiva nos primeiros anos de
vida a pedido da OMS
• Tendo chamado a atenção para a enorme importância da relação mãe-filho no desenvolvimento saudável da
criança.
• Em 1958, propõe o conceito de ligação afectiva – attachment

Ainsworth & Bell (1970) definiram ligação afectiva como


• “uma ligação que uma pessoa ou animal estabelece com outro significado – um laço que os une no espaço e
que se preserva no tempo”.
Os comportamentos da ligação afectiva constituem tentativas para conseguir e manter um determinado
grau de proximidade para com o “objecto” da ligação.

5.1.1. Comportamentos de ligação afectiva nos primeiros meses de vida


• Sucção;
• Rotação;
• Ajustamentos posturais:
o Quando se pega ao colo;
• Sorriso;
• Choro;
• Vocalizações;
• Aproximar;
• Seguir.
Bowlby defende que a ligação afectiva mãe-filho dá resposta a a funções biológicas importantes as quais
promovem a sobrevivência da espécie.
• A ligação afectiva parece estar relacionada com a sensibilidade da mãe para com as necessidades e sinais da
criança e a quantidade e natureza (qualidade) das inter-relações entre elas.
Bowlby & Ainsworth descreveram 4 fases no desenvolvimento da relação afectiva
• A criança faz movimentos de sucção, sorri, chora e utiliza outras vocalizações para com os objectos do meio
(frequentes vezes para chamar a sua atenção); e estabelece contacto visual com as pessoas.
Por volta dos 3 meses, os bebés já diferenciam as pessoas das figuras inanimadas e tornam-se mais
selectivas nas suas respostas.
• Acontece quando o bebé começa a ser capaz de diferenciar a mãe, e mais uma ou duas pessoas, ao nível do
contacto de proximidade.
• Sucede por volta dos 6 meses, quando a ausência da mãe e a presença do estranho começa a causar ansiedade –
angústia do 8º mês.
• Pode-se identificar no fim do 1º ano de vida, quando o bebé começa a estabelecer uma constância de mãe-
objecto ou permanência de objectos (das pessoas).
• A interdependência com a mãe vai aumentando e complexificar-se até à idade dos 4-5 anos, quando uma
confiança completa é alcançada.
o Esta fase é mais de natureza cognitiva e representativa.

VI – Ligação Afectiva em Crianças Deficientes


Ao ser descrita e comprovada a importância do attachment ou ligação afectiva para o desenvolvimento
saudável e global da criança,
• os investigadores têm demonstrado um interesse crescente pelo estudo do desenvolvimento da ligação afectiva
em crianças deficientes.
A presença de um qualquer handicap (deficiência) sensorial ou outro, pode interferir (ou atrasar) no
estabelecimento dessa dinâmica de relação bidireccional da díada mãe-bebé.
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• Mães, aparentemente sensíveis, que respondem prontamente aos seus filhos, aparentemente “normais” ou
intactos
o Falham em atingir padrões comparáveis, quando os filhos são deficientes.
Por outro lado, os bebés portadores de handicaps falham em atingir níveis ideais de estimulação da mãe,
• o que conduz a mãe a falhar na interacção de resposta para com o seu bebé.
o Comportamento Maternos
o Comportamentos do Bebé
Estudos comparativos entre crianças “normais” e crianças com Síndroma de Down
• Demonstram uma menor frequência de comportamentos de choro e vocalizações, nas crianças com Síndroma
de Down.
Estudos do attachment efectuados em crianças com Atraso Mental
• Sugerem a presença de atrasos e perturbações no desenvolvimento do attachment.
Foram investigados aspectos da relação afectiva, em Crianças Surdas,
• Apesar das dificuldades de comunicação e dos atrasos de linguagem, que estas crianças apresentam, com
frequência, até aos 2 anos,
o Elas são capazes de estabelecer uma relação positiva, segura e recíproca com as mães, à semelhança
das crianças “intactas” em termos auditivos.
Estudos sobre attachment, em Crianças Cegas,
• Documentam que os bebés invisuais demonstram uma ausência de “linguagem visual” criando problemas às
mães na leitura dos sinais,
o O sorriso não é automático ou frequente
o Demonstram um pequeno repertório de sinais de expressões faciais
o Verificam-se diferenças na quantidade e qualidade das vocalizações espontâneas.

Foi estudado o efeito das Deformações Crânio-Faciais, na qualidade das interacções mãe-bebé,
• Concluiu-se que
o Os bebés atraentes constituem um importante factor na qualidade da interacção.

6.1. INTERVENÇÃO
• Valorizar a importância do attachment para o desenvolvimento global, saudável e harmonioso da criança;
• Informar os pais;
• Promover, através do estabelecimento de “comportamentos adaptativos”, competências nos pais que permitam
o Ultrapassar as barreiras criadas pelos handicaps dos filhos
 para, deste modo, maximizar as oportunidades de interacção.

VII – Gravidez: Perdas & Lutos

7.1. PERDAS & LUTO


• Ao longo do ciclo de vida podem acontecer inúmeras perdas.
• Estas têm em comum o facto de implicarem, para quem as sofre, a separação e a privação de algo ou alguém.
• E serem qualitativamente diferentes, na sua natureza e impacto que têm sobre a pessoa que as sofre.
• As perdas que sucedem ao nível de relacionamentos interpessoais significativos
• são as mais dolorosas, do ponto de vista psicológico e
• produzem reacções de luto (e.g., perdas precoces).

7.1.1. Perdas precoces


• Ocorrem durante a gravidez, parto ou puerpério e incluem situações variadas
• Interrupção da gravidez (IVG/IMG)
• Morte perinatal

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• Anomalias congénitas

 Perda psicológica, do bebé normal e saudável, que era esperado

• O impacto de uma perda é habitualmente expresso com


 tristeza e
 revolta
• sentimentos que se incluem nas respostas consideradas normais, ao nível do processo do luto.
• Gravidez – experiência única para a mulher e para o seu companheiro.
• Constitui-se numa época plena de mudanças, descobertas e emoções.
• É durante este período que se começa a formar a ligação afectiva mãe-filho – vinculação pré-natal.
• Esta ligação afectiva vai sendo fortalecida ao longo da gravidez, particularmente, após o 2º trimestres (MAF)
 estes acontecimentos ajudam a construir a identidade do bebé atribuindo-lhe características pessoais – é
activo, irrequieto ou é carinhoso, paciente.
• As reacções a uma perda, por parte da mulher, durante a gravidez ou puerpério dependem
 do grau de ligação afectiva ao bebé e
 do investimento colocado na gravidez,
 não sendo, necessariamente, determinados
 pela idade gestacional ou
 tempo de vida do bebé.
• As reacções de sofrimento e pesar,
 pela morte de um bebé (feto ou RN)
o são uma realidade independente da duração da sua vida,
o de ter ou não problemas de saúde,
o de ser ou não fruto de uma gravidez planeada e/ou desejada.

7.1.2. Morte Perinatal


• Morte Fetal
• Morte à Nascença
• Morte Neonatal
 prematuridade – a maior ameaça
• Cada situação implica reacções emocionais que dependem da interacção entre diversas dimensões
pertencentes a três elementos fundamentais
os pais

o bebé os outros

7.2. REACÇÕES EMOCIONAIS


Nos Pais as reacções emocionais dependem de:
• Personalidade e
• experiências prévias de vida
• Atitudes e expectativas face à gravidez, maternidade/paternidade
• Existência de apoio social e familiar
• Etapa do ciclo de vida em que ocorrem
Pela atribuição de diferentes significados
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 à gravidez e
 maternidade/paternidade
• as perdas são consideradas
 acontecimentos complexos e
 multi-dimensionais.

7.2.1. Acontecimentos complexos


• incluem aspectos ligados à percepção ou à ameaça de perda, quer se trate de uma
• perda física (e.g., gravidez interrompida ou há morte do bebé); e/ou
• perda psicológica (e.g., diagnóstico pré-natal de malformação).

7.2.2. Acontecimentos multidimensionais


Transcendem o sentimento de perda por morte ou malformação do bebé, colocando igualmente em causa
aspectos como
 a relação afectiva dos pais,
 o receio de perda de controlo,
 a (im)possibilidade de uma nova gravidez,
 a alteração do auto-conceito físico e psicológico.

7.2.3. Morte Fetal


• As perdas que ocorrem no último trimestre têm, regra geral, maior impacto do que as sucedem anteriormente.
• A explicação para o facto prende-se com:
• Estreitamento da comunicação mãe-bebé (MAF);
• Maior percepção física do bebé;
• Aumento das expectativas sobre a prestação de cuidados.

7.2.4. Morte Neonatal


• Causas relacionadas com
 prematuridade,
 baixo peso à nascença e/ou
 anomalias congénitas,
 complicações durante o parto.
• No caso de nascimento de bebé pré-termo, há laços afectivos com o bebé que precisavam de amadurecer ao
longo da gravidez e que foram, abruptamente, interrompidos.
• São frequentes, nas mães prematuras, sentimentos de
 impotência e
 incapacidade,
• agravados pelas barreiras físicas ao contacto com o bebé
• que reduzem as oportunidades de interacção.
• Estes pais ainda se encontram em fase de elaboração
 da relação precoce com o bebé e
 de preparação para o parto,
• o que leva a que muitos se sintam indisponíveis para o filho.
• A experiência dos pais que vivem o internamento do seu bebé numa UCI pode comportar diversas perdas:
 Perda de uma gravidez, que se esperava normal;
 Perda de uma criança saudável; e, por vezes,
 Perda do bebé.

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7.2.5. Interrupção da Gravidez


• Interrupção espontânea da gravidez
• Interrupção médica da gravidez
• Interrupção voluntária da gravidez

7.2.6. Interrupção Espontânea da Gravidez


• Perda precoce, repentina e inesperada
• Reacções psicológicas
 Múltiplas;
 não linearmente relacionadas com o tempo de gestação;
 mas sim com o investimento emocional depositado nessa gestação.
Sentimentos
 Tristeza;
 Frustração;
 Desapontamento;
 Revolta;
 Culpabilização.
São frequentes Episódios Depressivos em momentos cronologicamente significativos.
 Depressão pós-parto (DPP);
 Nos anos seguintes, na data do abortamento;
 Após o parto, numa próxima gravidez.
 Também podem surgir Perturbações de Ansiedade, numa gestação subsequente e/ou durante o trabalho
de parto (TP).
Aconselha-se Intervenção Psicológica sempre que se verifica:
• Agravamento das consequências emocionais
• Que perduram no tempo (para além do considerado normal)
• Quando os recursos pessoais se mostram insuficientes ou ineficazes, ou
• Em situações de aborto repetido.

7.2.7. Interrupção Médica da Gravidez


• Até às 24 semanas: doença grave ou malformação congénita
• Até às 16 semanas: crime contra a liberdade e auto-determinação
Há pais que mesmo sabendo da malformação optam por prosseguir a gravidez;
• Para os que decidem interromper
 A culpa sentida
 É um factor a acrescentar à gestão emocional da perda
• À semelhança dos casos de Aborto espontâneo, também aqui podem surgir Episódios ou Crises Depressivas
que podem evoluir para Perturbações Depressivas.
• A maioria das pessoas, dispondo apenas dos
 Recursos pessoais e Relacionais
o adequados consegue alcançar uma melhoria progressiva do estado emocional (reequilíbrio), com
redução da
 Ansiedade, Culpa e Vergonha
♦ e consequente aumento de Auto-estima, e Defesas do Ego.

7.2.8. Anomalias Congénitas


O nascimento de um bebé com uma anomalia constitui
 Uma dura prova para os pais;

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 Uma ameaça às suas crenças expectativas, sobre o bebé


 Que fantasiavam e idealizavam.
 Enfrentam a perda súbita do bebé
Vêem-se, subitamente, confrontados, com
 a perda súbita do bebé idealizado
 Aparecimento de um bebé temido, ameaçador
o Auto-realização de profecias o que mais receavam um “bebé com deficiência” tornou-se realidade
(Efeito de Pigmaleão)
o Gera intensa culpabilidade e pode ser interpretado como um castigo “divino”.
O nascimento de uma criança “diferente” causa elevada
 Sobrecarga emocional e
 Tensão
o desencadeando momentos de crise:
 Desorganização psicológica;
 Estado de elevada activação emocional;
 Aceitação da situação

7.3 SEQUÊNCIA DOS MOMENTOS DE CRISE

7.3.1. Fase de “Desorganização psicológica”


Desencadeia reacções de:
• Choque;
• Descrença; e
• Incredulidade,
• seguida de negação da deficiência.

7.3.2. Fase ou “Estado de elevada activação emocional”


 Culpabilidade;
 Auto-responsabilização;
 Raiva e hostilidade;
o seguido de
o Tristeza e Depressão
o Sensação de perda de controlo e de capacidade em lidar com o filho

7.3.3. Fase de “Aceitação da situação”


Desenvolvimento de mecanismos de coping adequados para lidar com o bebé.
• Estas reacções não seguem uma ordem linear, podendo alternar e ressurgir em momentos chave
o Confirmação do diagnóstico;
o Início da implementação de programas de desenvolvimento precoce;
o Entrada na Escola

• Nesses momentos as reacções de pesar e de tristeza podem acentuar-se e os pais podem rejeitar o bebé ou
negar a deficiência e necessidades especiais.

7.4. PROCESSO DE LUTO: RESPOSTAS EMOCIONAIS


As perdas experienciadas pela mãe/pai geram respostas emocionais específicas, que podem abarcar
diversas manifestações:

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 Afectivas;
 Comportamentais;
 Cognitivas;
 Fisiológicas.

7.4.1. Manifestações Afectivas


− Sentimentos e emoções:
− Tristeza, Raiva, Choque,
− Solidão, Ansiedade, Desespero,
− Culpa, Apatia, Desamparo.

7.4.2. Manifestações Comportamentais


• Agitação,
• Fadiga,
• Choro,
• Isolamento.

7.4.3. Manifestações Cognitivas


− Perturbações ao nível da percepção
 sensação de presença da criança associada a
 alucinações visuais ou auditivas;
 Baixa auto-estima;
 Falta de memória;
 Dificuldades de concentração.

7.4.4. Manifestações Fisiológicas


− Perda de apetite;
− Insónia
− Queixas somáticas.

Este conjunto de respostas emocionais estão associadas ao


 trabalho de luto ou processo de luto
 que implica um trabalho psicológico de elaboração da perda

7.5. PROCESSO DE LUTO


É um processo pessoal de adaptação à perda de objecto
• É uma experiência profunda e dolorosa que implica
 Sofrimento
 Mas também capacidade de encontrar alternativas
 Esperança e conforto
• É através do luto que aprendemos a lidar com a morte, com as perdas e ausências em geral,
 com o sofrimento sofrido.
• O período de dor e sofrimento, que corresponde ao luto,
 não só é necessário e normal,
 como deve ser encarado como um comportamento indicador de saúde mental (i.e., saudável)
 A sua ausência é quase sempre sinónimo de se estar na presença de uma perturbação
psicológica.

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7.5.1. Processo de luto normal (Weiner, 1984)


• Fase de choque e negação
• Fase de desespero e expressão da dor
• Fase de resolução e reorganização

7.5.1.1. Fase de choque e negação


− Surge imediatamente após a perda e tem a duração média de 1 a 14 dias
 O indivíduo não acredita no sucedido
 Sente-se perdida
 Só e apática
 Presentes sintomas fisiológicos como: diminuição de apetite, insónias, náuseas e sensação geral de
desconforto.

7.5.1.2. Fase de desespero e expressão da dor


• Surge habitualmente 2 semanas após a perda
 Desaparece a descrença face ao sucedido, dando lugar à consciência da morte ocorrida
• Acentua-se a:
 sintomatologia depressiva
 ausência de interesse pela actividades vitais e
 alteração dos padrões normais do comportamento,
 são frequentes os pensamentos e sonhos sobre o morto.
− Duração: 6 a 8 meses

7.5.1.3. Fase de resolução e reorganização


• Progressiva recuperação do interesse
 pela vida,
 Pelo trabalho e
 Pelas relações pessoais
• Os padrões de alimentação e sono são restabelecidos.
• O futuro deixa de aparecer com matizes tão pessimistas,
• A perda é aceite atenuando os sintomas depressivos.

7.5.2. Processo de luto patológico (Worden, 1991)


• Luto crónico
• Luto atrasado
• Luto exagerado
• Luto mascarado

7.5.2.1. Luto Crónico


Persiste durante muito tempo e torna difícil o desempenho das tarefas de rotina que integram a vida
normal.

7.5.2.2. Luto atrasado


Quando as respostas são inibidas, suprimidas, adiadas ou não resolvidas.

7.5.2.3. Luto exagerado


Composto por respostas de intensidade excessiva, que incapacitam muito a vida do sujeito.

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 29


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7.5.2.4. Luto mascarado


Sintomas físicos e psicológicos que causam dificuldades ao indivíduo, mas que este não reconhece estarem
ligados à perda.

VIII – Competências do Recém-Nascido

8.1. PAPEL DOS PAIS


Ser pai/mãe é ser agente de continuidade entre as gerações mas é também ser simultaneamente capaz de
assegurar a descontinuidade, os limites e a diferença entre essas mesmas gerações.
Ter filhos é transmitir heranças diversas, desde a genética, às dos costumes, valores e significados mas é
igualmente, num contexto de intimidade, aceitar a diferença da individualidade.

8.2. COMPETÊNCIAS DO RECÉM-NASCIDO (RN)


No decurso das últimas décadas do séc. XX assistiu-se a uma considerável mudança no modo de encarar o
Recém-Nascido.

Ser completamente vulnerável às condições do meio, imaturo e indefeso em todos os domínios.

O bebé com competências comportamentais que lhe possibilitam uma intervenção activa no seu meio
ambiente, logo a partir do nascimento, senão mesmo antes dele.

Os resultados de numerosas pesquisas conduzidas sobretudo a partir da década de 70, evidenciaram uma
concepção do Recém-Nascido que se distanciava do conceito anteriormente proposto:
• “O pobre Bebé RN, como um marinheiro naufragado, rejeitado pelas vagas, repousa nu sobre a praia”
(Gesell, 1950)
As investigações mais recentes demonstraram, inequivocamente que o RN é capaz de:
• Fixar e seguir estímulos visuais e auditivos, animados e inanimados;
• Discriminar estímulos diferentes;
• Utilizar recursos do meio e os seus próprios mecanismos para se organizar face ao stress;
• Controlar as suas respostas motoras e vegetativas;
• Isolar-se de estímulos perturbadores;
• Iniciar e terminar a interacção com a mãe.
Sendo um ser essencialmente social, o RN é não só capaz de se ajustar às condições do meio e interagir
com as pessoas, como também consegue desencadear comportamentos sociais, influenciado a relação que
os outros estabelecem consigo  Mãe – papel mediador entre filho e o mundo
Individualidade – embora todos os RN possuam um repertório comportamental amplo e complexo, cada
um deles contribui para a interacção com os adultos próximos de acordo com um estilo próprio.
No contexto da avaliação comportamental do RN, Brazelton construiu um instrumento capaz de fornecer
informações relevantes sobre o modo de funcionamento do RN
• Escala de Avaliação do Comportamento Neonatal (Neonatal Behaviour Assessment Scale ou NBAS, 1973 – 1ª
edição, 1984 – 2ª edição).
• O principal objectivo da NBAS consiste em documentar o modo particular de interacção de cada RN.
• A escala é aplicada por um período de 30 minutos, durante o qual o examinador recorrendo a uma série de
procedimentos standard, tenta desencadear no RN as melhores respostas que ele é capaz, à medida que o
conduz de estádios de sono ou choro a estádios calmos vigília, de alerta.

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 30


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A criança apresenta desde o nascimento um conjunto de comportamentos sensoriais que reflectem a sua
prontidão para interagir socialmente, utilizando respostas comportamentais para estabelecer os seus
primeiros diálogos.
Estas respostas aliadas ao “aspecto típico” do RN com a sua pequenez e aspecto indefeso, produzem
sentimentos de carinho, protecção e a reaviva, nos adultos, a necessidade de interagirem com a criança.

Estado Características do Estado


Estados de Actividade corporal Movimentos Movimentos Padrão Nível de resposta
Sono oculares faciais respiratório

Sono Quase quieto, Nenhuns Ausência de Superficial e Limiar elevado a


profundo excepto movimentos regular estímulos; somente
estremecimento ou faciais, excepto estímulos intensos
sobressalto movimento e perturbadores
ocasional ocasional de acordam a criança
sucção em
intervalos
regulares
Sono Alguns movimentos Movimento Pode sorrir e Irregular Mais reactivo a
superficial corporais rápido dos emitir alguns estímulos internos
olhos (REM); sons do choro. e externos. Quando
estremeciment estes ocorrem, a
o dos olhos sob criança pode
as pálpebras permanecer em
fechadas sono superficial,
voltar ao sono
profundo, ou ficar
sonolenta.
Estados de Actividade corporal Movimentos Movimentos Padrão Nível de resposta
vigília oculares faciais respiratório

Sonolência Grau de actividade Os olhos Podem Irregular A criança responde


variável; com podem abrir e apresentar a estímulos
pequeno fechar de vez movimentos sensoriais embora
estremecimento de em quando; as faciais; muitas as respostas sejam
tempos a tempos. pálpebras vezes ausência lentas. Com
Os movimentos são pesadas de movimentos. frequência, após o
normalmente fecham com estímulo, verifica-
suaves. facilidade. se mudança de
estado.
Alerta Mínima Olhos abertos Face com aspecto Regular Criança atenta ao
brilhantes radioso. ambiente
concentrando-se
em qualquer
estímulo presente.
Estado óptimo de
vigília.
Alerta activo Actividade corporal Olhos abertos, Movimento facial Irregular Aumento de
intensa; podem com menos intenso; face com sensibilidade a
ocorrer períodos de brilho. aspecto menos estímulos
agitação. radioso. perturbadores
(e.g., fome, fadiga,
barulho,
manipulação
excessiva).
Choro Aumento da Os olhos “Caretas” Mais regular Resposta extrema a
actividade motora, podem estar estímulos internos
com alterações da abertos ou ou desagradáveis.
coloração da pele. cerrados.

8.2.1. Visão
• Logo após o nascimento, as pupilas do RN reagem à luz e o reflexo de “pestanejar” é facilmente observável.

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 31


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• Os RN têm capacidade para fixar momentaneamente um objecto ou pessoa, sendo a distância ideal de cerca de
17 a 20 cm – sensivelmente a distância, a que o RN, se encontra do rosto da mãe quando está a mamar ou a ser
embalado.
• O RN é sensível à luz, preferindo tons suaves e avermelhados relativamente a luzes fortes e brilhantes. Quando
o quarto está em semi-obscuridade, abrem muito os olhos e olham em redor.
O RN tem capacidade para seguir objectos. Se lhe for apresentado um objecto brilhante, mesmo com 15
minutos de vida, ele segue-o com os olhos, podendo inclusive voltar a cabeça. A explicação para este facto
prende-se com:
• Os olhos do ser humano são brilhantes e o RN sente-se atraído por eles.
• Com 2 semanas o RN é capaz de distinguir padrões com riscas de 3mm;
• Prefere objectos brancos e pretos, relativamente a superfícies planas de uma só cor, mesmo que esta seja forte e
alegre.
• Prefere objectos complexos a formas mais simples.
• Logo após o nascimento é capaz de olhar fixamente e contemplar intencionalmente os objectos.
• Contempla o rosto dos pais e responde a alterações da expressão facial, o que permite que pais e criança se
contemplem mutuamente, olhando-se nos olhos  importante e subtil padrão de comunicação.
 O contacto ocular é fundamental na interacção pais/filho.

8.2.3. Audição
• A acuidade auditiva do RN é semelhante à do adulto, logo que o ouvido fica liberto de LA.
• A exposição de sons de alta frequência (> 90 decibéis) induz na criança o reflexo do sobressalto.
• Quando exposto a sons de baixa frequência, como o batimento cardíaco ou uma canção de embalar, a resposta
do RN manifesta-se por diminuição da actividade motora ou do choro.
• A criança responde prontamente À voz da mãe  reconhecimento da vida intra-uterina.
• Escuta selectiva dos sons e ritmos da voz materna durante a vida intra-uterina  prepara o RN para reconhecer
e interagir imediatamente com a mãe desde o primeiro momento de vida.
• O feto está acostumado a escutar o ritmo regular dos batimentos cardíacos da mãe – perante um aparelho que
simule o ritmo cardíaco materno, a criança acalma e relaxa, cessando o choro e a agitação.

8.2.4. Tacto
• O recém-nascido é sensível ao tacto em todas as zonas do corpo.
• Apesar disso, as zonas que aparentemente são mais sensíveis são:
o A face;
o A boca;
o As mãos; e
o As plantas dos pés.
• Podem observar-se alguns reflexos se a criança for tocada de forma mais forte
• As respostas do recém-nascido ao tacto, sugerem um sistema sensorial bem preparado para
o receber e
o processar
 mensagens tácteis.
• A mãe utiliza o tacto como
o Primeiro comportamento da relação, da vinculação
 Toque nos dedos
 Ligeiras palmadinhas na face
 Massagens suaves nas costas.

8.2.5. Paladar
• O recém-nascido tem um sistema gustativo bem desenvolvido
o diferentes sabores desencadeiam diferentes expressões faciais.
 Uma solução insípida não produz qualquer tipo de resposta
 Uma solução saborosa desencadeia movimentos de sucção.
• O recém-nascido utiliza a boca para satisfazer
o As necessidades alimentares
o As necessidades de alívio de tensão
 Chucha no dedo, na chucha, nos brinquedos, etc., para aliviar a tensão

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IX - Gravidez & Maternidade: Distúrbios psicológicos


9.1. ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Nem todos os aspectos são vividos por todas as mulheres ou casais da mesma forma, tal como a
intensidade com que são sentidos é também ela variável.
Existe:
• alguma uniformidade de vivências e temas expressos nos grupos e a
• diferenças mais quantitativas (que qualitativas) entre as vivências presentes na gravidez normal e na
patológica:
o em que patologia tanto se refere a uma gravidez medicamente normal de uma mulher de
personalidade neurótica,
o quanto a uma gravidez medicamente anormal numa mulher razoavelmente bem ajustada.
Se são reconhecidos, pela grande maioria de autores, a existência de estados emocionais peculiares na
gravidez, já o seu aparecimento e origem é muito discutida.
• Face às grandes adaptações provocadas pela gravidez, é fácil supor que todas as mudanças emocionais se
devem à existência de conflitos normalmente presentes neste período.
• É possível que outros factores físicos influam decisivamente na etiologia dos estados emocionais da gravidez.

Benedeck & Rubinstein, em 1942, procederam a investigações feitas com animais e seres humanos e
chegaram à conclusão que
• Hormonas sexuais  comportamento
• Grandes alterações do nível de estrogénio e progesterona  estado psicológico da gravidez
Bibring (1961) e Caplan (1964) sugerem que as oscilações entre as relações do Id e do Ego na crise da
gravidez são responsáveis pelas mudanças emocionais pela maior acessibilidade de material do processo
primário.
Colman (1969) afirma que, nesse período (gravidez) é impossível discriminar as complexas inter-relações
entre os factores hormonais e psicológicos de forma separada.
• As perturbações afectivas que acompanha as mulheres grávidas relacionam-se com alterações corporais e
psicológicas próprias da gravidez e puerpério.
• A maternidade, principalmente uma primeira maternidade, provoca uma crise de identidade que pode, contudo,
ser reforçadora do papel feminino.
A gravidez nem sempre tem um cunho de felicidade e bem-aventurança, e a patologia psiquiátrica existente
nesta fase testemunha-o.
• Para se poder proceder à prevenção de um gravidez de risco, é necessário detectar, tão precocemente, quanto
possível, os factores indicadores:
o História pessoal
o Terreno biológico
o Esrutura (Neurótica, Psicótica) ou Organização (Estado Limite) de personalidade prévia
o Factores situacionais presentes nas relações da mulher com
 o seu ambiente
 Família
 Meio social e cultural
Têm sem dúvida um elevado peso no despoletar das situações patológicas.

9.1.1. Costumes, Mitos e Superstições


Dias Cordeiro (1986), refere que os estudos transculturais dos costumes, mitos e superstições ajudam à
compreensão da psicodinâmica da gravidez.
• Povos primitivos
o É praticada a frugalidade:

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• A mulher grávida come pouco e são contrariados os desejos alimentares.


• Povos ocidentais
o Existe a ideia generalizada de uma boa alimentação:
• Essencial para o bom desenvolvimento do feto e os apetites da grávida são satisfeitos ou mesmo
incentivados.
• Curiosamente, nos povos primitivos em que a regressão oral é contrariada, são raras as náuseas e vómitos.
• Enquanto que nos povos em que a oralidade é estimulada as náuseas e vómitos são muito frequentes e a sua
ausência é objecto de estranheza por parte dos outros.
Na esfera genital sucede precisamente o oposto:
• Nas culturas primitivas existe a ideia de que as relações sexuais durante a gravidez são benéficas para
fortalecer o feto através do sémen.
• Nas culturas ocidentais pensa-se que podem prejudicá-lo.
• Considera-se que o que é importante não é a genitalidade mas a alimentação da grávida
o Esta postura é, não raras vezes, geradora de conflitos conjugais algo perturbadores.
Em relação aos tabus estes abundam nas culturas primitivas.
• Uma das fantasias, em relação à gravidez, é a reivindicação pelo homem não apenas da fecundação mas
também da gestação ao longo de todo o processo.
• Existe a convicção que se o marido não mantiver a actividade sexual com a mulher grávida o seu papel de pai
daquela criança fica comprometido, por não ter participado com o seu sémen na alimentação da criança.
Outra fantasia corresponde a que o parto difícil é sinónimo de adultério da mulher com um antepassado.
• O trabalho de parto prolongado corresponderia à presença no canal vaginal de um antepassado que obstruiria
o nascimento
• Seria uma tentativa de um antepassado impor o seu nome à criança.

Existe também a crença muito divulgada em muitos povos que o feto é a reincarnação do avô.
• Estas crenças estão ligadas a conteúdos de carácter erótico, nomeadamente fantasias de adultério e incesto.
• Nas sociedades ocidentais existe grande relutância em abordar estes temas, logo é mais difícil a sua análise.
• Sendo algumas fantasias como fecundação por via oral ou na banheira após utilização desta por algum familiar,
manifesta referência a fantasia de incesto e adultério.
• As explicações prendem-se com:
o Nas culturas primitivas os tabus, ou seja, o que a grávida deve evitar, são muito mais intensos, o que
corresponderia, segundo alguns autores, à necessidade de criar um “Super-Eu cultural”:
 Esta instância supra-psicológica permitiria controlar o risco de adultério e incesto reactivado pelo
aumento das fantasias na gravidez, associado ao encorajamento da vida sexual na grávida.
• O menor recurso a tabus nas culturas ocidentais dever-se-ia ao reforço cultural da regressão oral e
desinvestimento da genitalidade, na gravidez.

9.1.2. Epidemiologia
As modificações psicológicas e comportamentais, tais como:
• Labilidade emocional;
• Disforia;
• Irritabilidade; e
• Somatizações.
São habitualmente transitórias e breves.
Devem ser distinguidos das “perturbações psicopatológicas” persistentes com eventuais repercussões na
evolução da gravidez e parto.
A incidência de hospitalizações é pouco elevada durante a gravidez.
Alguns autores consideram que a gravidez tem uma influência protectora relativamente a distúrbios
mentais graves.
• A frequência de distúrbios psíquicos ligados ao puerpério foi durante muito tempo sub-estimada.
o As formas graves, geralmente psicóticas, que necessitam de internamento, são relativamente raras
• Com uma incidência de 1 ou 2 por mil partos (segundo alguns estudos americanos e ingleses).
o Enquanto que estados neuróticos ou ansiogénico-depressivos, de ansiedade moderada, são
relativamente frequentes.

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De referir ainda que os estados ansiogénico-depressivos escapam na maior parte à observação médica, ao
o
serem encarados como
• componentes das “contrariedades” da gravidez.

Estados psicóticos 1 ou 2 por mil partos


*
Natureza depressiva , formas moderadas 50%
Natureza depressiva, formas graves 10%
Nota: * Não sendo reconhecida a natureza depressiva pode alterar o funcionamento da mulher em várias áreas e quando se
prolonga no tempo, pode comprometer o desenvolvimento harmonioso das primeiras relações mãe-bebé

Os dados disponíveis apontam para um maior número de hospitalizações nos primeiros meses do pós-
parto, particularmente dos primeiros dois meses, sendo a distribuição mais irregular nos meses seguintes.
1. H. Kaplan refere que
o Das puérperes hospitalizadas:
 50% - são-no na 1ª semana pós-parto;
 25% - entre a 2ª e a 4ª semana
 25% - durante os restantes 11 meses.
2. Segundo Henry Ey, são múltiplos os factores etiológicos dos distúrbios psíquicos na gravidez e pós-parto e
dividi-os em:
o Factores hereditários e constitucionais
o Factores psicossociais
o Factores endócrinos
o Infecção
A situação da mulher relativamente à gravidez e ao parto tem de ser analisada como a confluência de:
• todo o seu passado (biológico, psicológico e social),
• presente (com todas as vivências actuais pessoais, familiares e profissionais),
• situações ocorridas especificamente no decurso da gravidez e puerpério e, finalmente,
• com as perspectivas abertas diante dela pela maternidade.
H. Kaplan refere que independentemente dos investigadores se basearem em conceitos psicanalíticos, eixo
hipotálamo-pituitário-gonadal, neurotransmissores, genética, stress e teorias de suporte social, todos
concordam que, por exemplo,
• A psicose puerperal é duas vezes mais comum em primíparas do que multíparas;
• O risco de desenvolverem um distúrbio pós-parto está aumentado se a mãe teve um distúrbio pós-parto ou se
há história familiar de distúrbio de humor.
• Mulheres com história conhecida de distúrbio bi-polar e que tiveram uma doença psiquiátrica no pós-parto são
as que possuem um risco mais elevado de recorrência noutra gravidez.
Estudos feitos com mulheres primíparas e multíparas, para correlacionar níveis hormonais e humor, em
que se controlaram os factores sociais de stress verificou-se que:
• Um nível elevado de estrogéneos ante e pós-parto está associado a grande irritabilidade;
• Quanto mais elevada for a queda do nível de progesterona, mais deprimidas estão as doentes ao 10º dia;
• Quanto mais baixo estiver o nível de estrogéneos pós-parto mais frequentes são os distúrbios de sono;
Quanto aos factores psicossociais formulações psicanalíticas postularam que:
• O ante e pós-parto são stressantes para a mulher;
• Esse stress leva a regressões que evocam conflitos antigos, especialmente quando há uma história de modelos
maternos inadequados ou de rejeição;
• Igualmente importante é a separação ou o conflito com o pai;
• A depressão pode resultar de conflitos não resolvidos relativamente à maternidade ou papel feminino.

Alguns autores referem que


• mulheres que se classificaram em autoavaliação como mais masculinas tiveram menos sintomas psiquiátricos
durante a gravidez,
• mas mais no pós-parto.

Os autores concordam em que a ambivalência em relação:

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• à manutenção da gravidez e
• os conflitos conjugais
o Estão associados com um aumento de incidência das perturbações pós-parto;
• Não há acordo relativamente ao papel da depressão e ansiedade pré-parto nas perturbações do pós-parto;
• Gotlib, em 1989, verificou que quanto mais baixa for a idade, o estatuto socio-económico e o número de
crianças pequenas em casa, maior é o risco de desenvolver depressão durante a gravidez, mas não influencia a
depressão no pós-parto.
• A perda de suporte afectivo é o factor major do aumento das perturbações pós-parto.
o Suporte afectivo é a variável que a maioria dos autores identifica com maior frequência, e que surge
como moderadora dos efeitos de stress no período peri-natal.
o A percepção da existência do suporte afectivo é mais importante que a real existência do mesmo.
• Outros factores de stress podem relacionar-se com um nível socioeconómico baixo e a legitimidade da
gravidez.

9.2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS

9.2.1. Ansiedade
Ansiedade é a mais universal de todas as emoções.
• Não se pode observar directamente pelo que tem que ser inferida através do comportamento.
• É percebida como um sentimento negativo, extremamente comunicável, não pode ser diferenciado do medo
pela pessoa que a vivencia e ocorre em graus variados.
• É uma expressão abreviada para um padrão de reacções bastante complexo, que se caracteriza por sentimentos
subjectivos de apreensão e tensão associados a um estado de activação fisiológica que envolve o ramo
simpático do sistema autónomo (SNA)
• Catell e Scheier (1958) diferenciam dois tipos de ansiedade:
o Ansiedade traço – referindo-se a características estáveis e relativamente permanentes da
personalidade
o Ansiedade situacional – referindo-se a estados temporários de ansiedade.
Dentro de certos limites,
• a ansiedade preenche a importante função de alertar e mobilizar a pessoa para enfrentar o agente responsável
pela tensão, seja ele uma perda de objecto, uma tarefa de aprendizagem ou uma gravidez.
• a ansiedade flutuante – por ser muito intensa ou crónica – ultrapassa as capacidades adaptativas da pessoa

Resulta em problemas de ajustamento, com consequências graves,


• Especialmente no que se refere ao funcionamento do sistema endócrino.
• A ansiedade e os receios relacionados com o parto ou com o novo papel de mãe, têm sido considerados como
factores contribuintes importantes no parto prolongado ou distócico, em que não se verificam causas
mecânicas ou médicas.

9.2.2. Depressão
A depressão é uma perturbação do humor.
• É a elaboração patológica da tristeza.
• Ao contrário da tristeza a Depressão não é auto-limitada e não melhora sem o auxílio profissional.

9.2.3. Psicose
1. Diagnóstico emocional grave, caracterizado por
• Uma perturbação da personalidade;
• Perda da capacidade para interferir na realidade;
• Mas sem evidência de relacionamento entre o transtorno e os processos físicos do cérebro.
o Apresenta ainda os seguintes sintomas:
 Delírio – o mais frequente, associado às distorções do conteúdo do pensamento.
 O delírio consiste em falsas crenças não condizentes com o nível de conhecimento do
indivíduo ou com o seu grupo de pertença cultural
• A crença é mantida contra a argumentação lógica e apesar das evidências objectivas em contrário.

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9.3. PSICOPATOLOGIA GRAVIDEZ & PUERPÉRIO

9.3.1. Vómitos e náuseas


• Surgem em 70% das mulheres grávidas (funcionais)
• Após eliminar a causa orgânica a origem psicológica (psicogénica) é a mais frequente
• A sua persistência pode levar à desidratação, problemas metabólicos e digestivos, com consequências para a
gravidez e feto;
Tratamento:
• Reposição hidro-electrolítica e intervenção psicoterapêutica.

9.3.2. Perturbações Depressivas


Maioria das Depressões nas grávidas, são de intensidade ligeira ou mediana – isto é, Depressões neuróticas
Caracterizadas por:
• Sentimentos de incapacidade;
• Auto-desvalorização;
• Astenia
• Alterações do sono.
o Síndromas Depressivos Graves observam-se em menor grau – cerca de 10% dos casos.
Oates é de opinião que:
• Uma Depressão de características major pode ser determinada, exclusivamente, pela:

» Existência de privações afectivas e materiais, durante a gravidez.


• Síndromas depressivos do:
• 1º Trimestre apresentam um prognóstico favorável,
o regredindo no 2º trimestre
• 3º Trimestre podem perdurar para depois do parto
o Em 389 mulheres deprimidas no 3º trimestre Verificou-se uma correlação positiva entre a
» Intensidade dos sintomas depressivos e
» Um risco mais elevado de restrição do crescimento fetal e da prematuridade.
9.3.3. Perturbações de ansiedade
A gravidez é um período de ansiedade para a maioria das mulheres, a ser distinguida das “perturbações de
ansiedade” propriamente ditas.
• Os estados ansiosos gravídicos isolados, surgem com maior frequência no 1º e 3º trimestre, em < 15% dos
casos.

9.3.3.1. Factores predisponentes


• Mau ambiente social,
• Problemas profissionais ou familiares.

9.3.3.2. Sintomatologia
Estados de ansiedade permanentes, associados a insónias iniciais e a somatizações várias que interferem
nas actividades quotidianas.
Aumentam as taxas de
• partos prematuros
• Complicações do TP por falta de colaboração materna.
• HTA/pré-eclampsia
• Recém-nascido de baixo peso.

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• Alguns epidemiologistas referem que a mulher durante o primeiro mês após o parto encontra-se em maior risco
de hospitalização psiquiátrica do que durante toda a sua vida.
• Para os estudos epidemiológicos o período pós-parto foi definido como o período decorrente entre as duas
semanas após parto e um ano, embora para os ingleses este se inicie logo após o parto.

9.3.4. Pós-Parto Blues ou Síndroma do 3º dia


Alguns dias após o parto surgem, em 30 a 80% das mulheres, manifestações neuropsíquicas, geralmente
leves, mas, algumas vezes, intensas.
• São episódios benignos, na maioria das vezes, breves – podem durar, apenas, 1 dia. Incluiem:
»Diversos graus de astenia, queixas somáticas, perturbações do sono, crises de choro, e ruminações
pessimistas, ligadas ao “como cuidar” do recém-nascido
• Sensibilidade exacerbada – torna-se susceptível e irritável.

Regra geral o Blues não necessita tratamento específico.

9.3.5. Depressão pós-parto


A sua probabilidade de ocorrência apresenta
• Um pico nos primeiros meses
• Um (segundo) pico entre o 9º e o 15º mês
A sua incidência situa-se entre os 5% e os 10%
• Correspondendo a uma depressão já existente;
• Ao prolongamento de um Blues.

9.3.5.1. Sintomas
A puerpera apresenta:
• frequentes crises de choro,
• sensação de abatimento,
• Incapacidade e impotência
• Irritabilidade a pequenos eventos (e.g., choro do bebé)
• Sente que está mudada,
• tem dificuldade em compreender as suas reacções e
• Sente-se incapaz de cuidar do filho.
• O desinteresse sexual é evidente e tem pesadelos.
• Podem ainda surgir fobias de impulsão – i.e., infligir maus-tratos ao bebé
• Para reduzir a angústia evita (todo) o contacto com ele.
Maioria dos casos evolui, espontaneamente, para a recuperação em semanas ou meses;

9.3.5.2. Tratamento:
É essencial a dimensão psicoterapêutica apoiada na relação mãe-bebé, terapia familiar.
• Terapêutica antidepressiva é, por vezes, útil e necessária

9.3.6. Psicose Pós-Parto (Puerperal)


• Quadro grave, por risco de suicídio e /ou infanticídio, raro;
• Início brutal, geralmente, entre os 8 e os 15 primeiros dias após o parto.

9.3.6.1. Sitomas
Sintomatologia: polimorfa e lábil caracterizada por passar
• da agitação ao estupor,
• da agressividade às condutas lúdicas,
• Humor instável, depressivo e irritável.
• Delírios – usualmente centrados no nascimento e relação com a criança (e.g., negação da gravidez e do
nascimento);

© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 38


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• Atitudes de agressividade com o recém-nascido – manifestas ou mascaradas por indiferença.


Apresenta, no entanto, evolução favorável, após hospitalização prolongada.

9.3.7. Vivência Paterna


Raramente o homem admite, abertamente, que está a atravessar um período de profunda experiência
emocional, durante a gravidez da mulher.
• A resposta de um homem prestes a ser pai não é, nunca, neutra.
• Vários investigadores encontraram uma incidência, estatisticamente significativa (mais elevada) de sintomas
físicos entre os homens com esposas/companheiras grávidas do que no grupo de controlo;
• As perturbações mais comuns são: aumento do peso, vómitos, desconforto gástrico, aumento abdominal.

Estes sintomas alternam com períodos de estabilidade emocional e sensação de bem-estar,


desaparecendo com o nascimento da criança.

Síndroma de Couvade

X – Bibliografia
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© Celeste Duque, 2007 2011-05-20 39

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