Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Análise do Conhecimento das Ciências Atuariais: Uma Pesquisa Empírica nos Cursos de
Ciências Contábeis das Instituições de Ensino Superior nas Capitais do Nordeste
Brasileiro
RESUMO
Desde a antiguidade os seres humanos temem os infortúnios causados por algo imprevisível,
então, por meio da ajuda mútua conseguiu-se minorar as perdas e conseqüentemente satisfazer
as necessidades de segurança do grupo. A prática do mutualismo revelou a essência da
Ciência Atuarial, que estuda os métodos, tais como, seguros, previdência e planos de
capitalização, os quais têm tido grande procura por parte da população, fazendo com que as
instituições que os operacionalizam obtivessem um significativo crescimento nos últimos
anos. O profissional de Contabilidade não dispunha de conhecimentos específicos desta área
nos cursos de graduação, o que dificultava seu relacionamento profissional com estas
instituições. Porém, o Ministério da Educação incluiu no projeto político pedagógico dos
cursos de graduação em Ciências Contábeis, o ensino da Ciência Atuarial. O presente trabalho
tem como objetivo principal verificar o nível de aderência desses cursos nas instituições de
ensino superior nas capitais do nordeste brasileiro à Resolução CNE/CNES 6/2004, quanto ao
conhecimento das Ciências Atuariais. Verificou-se nas grades curriculares das instituições de
ensino superior das capitais do Nordeste do País, que apenas 5 (cinco) destas instituições
(aproximadamente 6% da amostra) oferecem disciplinas relacionadas ao tema.
1. INTRODUÇÃO
Cada vez mais as pessoas sentem necessidade de criar garantias financeiras. Portanto,
são muitos os produtos oferecidos, seja para garantir a renda quando não puder mais trabalhar,
ou garantir a sobrevivência de entes queridos caso haja uma fatalidade, ou até mesmo, se
capitalizar para poder realizar algum projeto de vida, como também proteger um patrimônio
importante. Por isso a tendência de crescimento destes setores é bastante acentuada,
principalmente devido a forte insegurança que se tem nos dias atuais, em relação à falta de
renda ou perda material.
Observa-se, no gráfico 1, a evolução de prêmiosi diretos pagos a empresas de seguros
no Brasil nos anos de 1995 até 2003.
2003 30.717.420.690
2002 23.910.777.068
2001 24.211.621.627
2000 22.898.810.290
Ano
1999 20.358.339.570
1998 19.465.826.389
1997 18.348.197.733
1996 15.308.934.739
1995 12.985.697.344
Prêmios diretos
De acordo com Souza (2002, p. 13), pessoas com baixo poder aquisitivo, após a queda
da inflação, se viram seduzidas por este mercado e as seguradoras perceberam que seguros de
baixo valor apresentavam maiores vantagens que seguros de altos valores, aumentando assim
seu público alvo, com a inclusão das classes de menor poder aquisitivo.
Assim, criou-se uma nova cultura de consumo e de poupança no País,
consequentemente, a maior participação das empresas seguradoras, inclusive empresas
multinacionais, no Produto Interno Bruto (PIB), através de aumento de suas reservas técnicas.
No entanto, a participação destas empresas no PIB do Brasil ainda é muito baixa
comparando com países mais industrializados, de acordo com Souza (2002, p. 15) “Até
mesmo a África do Sul tem 10% do seu PIB vindo do setor segurador.”, enquanto que no
Brasil, segundo Marques (2003, p. 20), esta área [seguros] representa 3% do PIB, ou seja,
ainda tem muito a crescer.
Outro setor que se encontra em forte evidência é o da previdência privada, tendo em
vista que a previdência social, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas
de Previdência Complementar (ABRAPP), (apud Botelho, 2003, p. 19), “[...] não consegue
suprir as necessidades básicas do trabalhador aposentado e tampouco garantir a proteção da
qualidade de vida no decorrer de sua inatividade”, sendo necessário complementar sua
aposentadoria.
Os fundos de pensão têm forte atuação na economia, sua característica de investimento
no mercado de capitais e em títulos do governo, para a formação de suas reservas técnicas,
impulsiona o desenvolvimento da economia, capitalizando a poupança interna de longo prazo.
De acordo com Brady (2002, p. 24):
20,0%
15,8%
16,0%
14,2% 14,0%
12,9% 13,1%
12,0%
10,4% 10,4%
9,6%
8,0%
4,0%
0,0%
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Gráfico 2 – Crescimento dos ativos nas entidades fechadas de previdência complementar em relação
ao PIB – 1996-2003
Fonte: SPC / Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
4
Surge então a necessidade de mais profissionais qualificados para atuar nesta área,
entretanto existem poucos cursos de especialização no Brasil. O profissional de contabilidade
está inserido neste contexto, pois segundo Oliveira (2002, p. 25):
Para que isto ocorra é necessário que o Contador também tenha conhecimento sobre os
dados fornecidos pelo Atuário, para que possa registrá-los devidamente. No entanto, devido
ao currículo atual da maioria dos cursos de graduação do Nordeste, o graduado em
contabilidade não está apto a trabalhar com a complexa contabilidade deste setor, sendo
necessário um conhecimento de Atuária para que não perca seu campo de atuação para outros
profissionais que já perceberam a força deste mercado.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo principal verificar o nível de
aderência dos cursos de Ciências Contábeis das instituições de ensino superior nas capitais do
nordeste brasileiro à Resolução CNE/CNES 6/2004, quanto ao conhecimento das Ciências
Atuariais.
Este estudo foi baseado em consultas à bibliografia especializada, quais sejam: artigos
científicos, livros e publicações, sites da Internet, revistas especializadas etc, com o intuito de
fornecer informações relevantes para elucidar os aspectos teóricos da pesquisa.
A pesquisa se desdobrou em três partes distintas, primeiramente procurou-se
fundamentar teoricamente, através do pensamento, história, regulamentação e mercado de
trabalho, as Ciências Atuariais e seus pontos comuns com as Ciências Contábeis. Na segunda
parte foi feito uma análise a respeito da diretriz curricular do MEC, que recomenda o ensino
da Atuária no currículo dos cursos de Ciências Contábeis. Para isto, verificou-se, através de
um estudo quantitativo, a aplicação da referida diretriz nos cursos de graduação das capitais
da Região Nordeste do Brasil, durante o ano de 2004. Finalmente, a última parte apresenta as
considerações finais que permeiam o assunto estudado.
5
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Desde a pré-história a humanidade tenta se proteger do risco ajudando uns aos outros,
formando uma cadeia chamada de mutualismo. Segundo Souza (2002, p. 4), o mutualismo é
a formação de grupos para constituir uma reserva econômica, dividindo um risco de algo não
previsto.
De acordo com Silva A. (1999, p. 33):
[...] a proibição canônica do empréstimo marítimo com juros, fez com que
os especialistas se esforçassem por formular o seguro do modo mais oposto
possível, aquele contrato; para consegui-lo, a obrigação do segurador se
dissimulava sob a forma de um contrato de compra; o segurador dizia
comprar ao segurado os objetos que queria segurar, e se confessava devedor
do preço estipulado, acordando-se que o contrato seria nulo, se tais objetos
chegassem sãos e salvos ao porto de destino; a indenização pactuada
revestia no contrato, a forma de preço.
Naquela época já existiam os seguros náuticos, que eram feitos pelos navegadores
através de empréstimos a banqueiros, aonde estes empréstimos deveriam ser devolvidos
acrescidos de juros caso a embarcação retornasse sem sofrer danos.
De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999, p. 43), “O uso de sociedades permitia
que os riscos da navegação marítima de longo curso fossem compartilhados e que a riqueza
do capitalista fosse combinada à audácia dos jovens mercadores”.
A Ciência Atuarial teve sua origem após a falência destes sistemas de seguros do
século XV que, por não dominarem as técnicas atuariais, apresentavam dificuldades
financeiras. De acordo com Ramos (2002, p. 7), a partir daí, alguns matemáticos se
interessaram em estudar estes problemas.
Conforme Reis (1998, p. 1), em 1693 foi calculada a primeira tabela de mortalidade
por Sir Edmund Halley, confirmando que os cálculos atuariais remontam ao século XVII, e
em 1760 se obteve o primeiro prêmio anual calculado baseado em experiência de mortalidade,
um marco para a Ciência Atuarial.
No decorrer da história humana a profissão de atuário reuniu diversas funções sem
nenhuma relação entre elas e com muita diferença em relação à sua função atual.
Segundo Souza (2002, p. 142), na Roma antiga o atuário tinha as tarefas de fazer os
discursos no Senado, redigir os atos do Governo, ser cronista dos feitos de guerra, além de
copista, secretário, tabelião, notário e agrimensor. De acordo com a Enciclopédia Britânica
(apud Reis, 1998, p. 1), no Império do Oriente os Atuários eram os oficiais responsáveis por
manter a contabilidade e distribuir os cereais para os soldados.
Segundo Reis (1998, p.1), o primeiro registro da função moderna do Atuário se dá em
meados do século XVIII, no Reino Unido, “quando se sentiu a necessidade de atribuir um
título ao responsável de uma nova organização que vendia seguros de vida”. Porém, a ele era
dada apenas a função de gestor, enquanto que seu assistente calculava os prêmios, desta
forma, este assistente foi o primeiro atuário que exerceu a atividade conforme é hoje
conhecida.
7
1958, quando o então Deputado Federal do Rio Grande do Norte, Aluízio Alves, apresenta o
projeto-de-lei n° 1.250 na Câmara Federal, o qual não logrou êxito.
Somente em 4 de setembro de 1969, através do Decreto lei nº 806/69, se dá o
reconhecimento legal da profissão de atuário, cujas capacidades para exercer a profissão são
dos atuários diplomados através do Decreto 20.158/31; dos bacharéis em Ciências Contábeis e
Atuariais, através do Decreto-lei 7.988/45; dos bacharéis em Ciências Atuariais diplomados
através da Lei 1.401/51; dos diplomados em Ciências Atuariais em Universidades ou
Instituições estrangeiras de ensino superior e aos profissionais em situação regular no país.
A figura 1 mostra os fatos históricos relacionados com a atuária, desde a antiguidade
até a regulamentação da profissão de Atuário no Brasil.
1929
476
1934 – Criação
do DNSP.
Figura 1 – Principais fatos históricos relacionados com a atuária até a regulamentação da profissão
de atuário no Brasil.
Fonte: Elaboração própria.
Este item trata de um estudo nas estruturas das grades curriculares das faculdades de
Ciências Contábeis das capitais Nordestinas, o qual se divide em três partes. A primeira parte
apresenta a resolução do Conselho Nacional de Educação Superior n° 6 de 10 de Março de
2004, que institui as Diretrizes Curriculares do curso superior de Bacharelado em Ciências
Contábeis, no que se refere ao ensino da Ciência Atuarial no curso de graduação de Ciências
Contábeis.
A citada resolução trata do projeto pedagógico que deverá ser adotado em todas as
Instituições de Ensino Superior do País, conforme o Art. 2° da citada Resolução:
A segunda parte da pesquisa identifica, nas faculdades das capitais da região nordeste
do Brasil, quais já aplicam as orientações da referida Resolução, inserindo em sua grade
curricular uma disciplina que introduza o conhecimento de Ciência Atuarial nos cursos de
graduação em Ciências Contábeis.
3.2 A aplicação da resolução CNE/CES n°6, quanto a inserção do ensino das Ciências
Atuariais no Currículo dos cursos de graduação em Ciências Contábeis, nas
faculdades das capitais da região Nordeste do Brasil.
através de, na maioria dos casos, extensões de diversas faculdades, públicas ou privadas, pelo
interior do estado. Sendo assim, seu índice de cursos na capital se aproxima do caso da
Bahia, totalizando 40% de cursos oferecidos em relação ao interior do estado.
População Amostra
Faculdades de
Total de cursos de
Ciências
UF graduação em %
Contábeis nas
Ciências Contábeis
Capitais
em todo o estado
AL 7 6 85,71%
BA 37 14 37,84%
CE 18 13 72,22%
MA 11 7 63,64%
PB 11 7 63,64%
PE 21 11 52,38%
PI 20 11 55,00%
RN 15 6 40,00%
SE 5 4 80,00%
Total 145 79 54,48%
Tabela 1 – Espaço amostral em relação a todos os cursos de
graduação em ciências contábeis da região
nordeste do Brasil.
Fonte: Elaboração própria.
Dessa maneira, através de pesquisa nos sites da internet destas instituições, verificou-
se, dentre as faculdades pesquisadas, quais instituições publicavam sua grade curricular na
rede mundial de computadores. Assim sendo, verificou-se que, de acordo com a tabela 2, a
quantidade de instituições que detalharam suas grades curriculares na internet somam 41
(representando 51,90% da amostra total).
Vale ressaltar que das instituições das capitais nordestinas do Brasil, as que se
encontram na cidade de Maceió, capital do estado de Alagoas, apenas 1 (representando
16,57% da amostra total) publicou detalhadamente a grade curricular do seu curso de
graduação em Ciências Contábeis.
Maceió AL 6 1 16,67%
Salvador BA 14 9 64,29%
Fortaleza CE 13 6 46,15%
São Luís MA 7 4 57,14%
João Pessoa PB 7 4 57,14%
Recife PE 11 6 54,55%
Teresina PI 11 4 36,36%
Natal RN 6 4 66,67%
Aracajú SE 4 3 75,00%
Total 79 41 51,90%
13
46% 6%
Cursos das Capitais sem grade
curricular publicada na Internet
48%
Gráfico 3 – Ensino da atuária nos cursos de graduação em ciências contábeis nas instituições de ensino
superior das capitais do nordeste brasileiro.
Fonte: Elaboração própria.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As instituições que administram os riscos têm crescido de forma espantosa nos últimos
anos, auferindo lucros altíssimos e influenciando sobremaneira na economia do país, no caso
dos fundos de pensão o valor de seus ativos representam 15,8% do PIB, com a tendência de
crescimento para os próximos anos. Daí a existência de uma forte regulamentação sobre o
setor, e de uma fiscalização rígida nos últimos tempos, exigindo que os profissionais ligados à
área estejam sempre atualizados.
Foi de fundamental importância a criação de um curso específico para estudar a
ciência que trata destas instituições, porém, a suspensão completa do ensino das Ciências
Atuariais nos cursos de graduação em Ciências Contábeis no Brasil, após a desagregação dos
cursos, em 1951, prejudicou o ensino e a relação intrínseca destas duas áreas de
conhecimento.
Portanto, após estudos que iniciaram em 1997, relacionados aos projetos político
pedagógicos dos cursos de graduação no Brasil, o Ministério da Educação e Cultura, através
da resolução CNE/CES 6/2004, entre outras orientações, salientou, em diversos artigos, a
importância do domínio atuarial nos cursos de graduação de Ciências Contábeis em todo o
país.
No entanto, apenas 5 (cinco) faculdades das capitais nordestinas se adaptaram a esta
recomendação, visto que o prazo ainda é curto para as devidas adequações curriculares.
Porém, estas instituições de ensino superior já se anteciparam às demais, e estão oferecendo
aos seus estudantes um diferencial importantíssimo para a colocação do profissional de
Contabilidade no mercado de trabalho.
É, portanto, de fundamental importância o conhecimento da Ciência Atuarial para os
Contadores, pois, o mercado de trabalho desta área do conhecimento encontra-se em forte
expansão e necessita de profissionais bem qualificados para poderem atender as necessidades,
financeiras e fiscais do setor.
Desta forma, para os profissionais que se especializam na Contabilidade das
instituições de seguros, previdência e capitalização, existe uma grande possibilidade de
ingressar em uma carreira bastante promissora.
REFERÊNCIAS
Brady vê espaço para rápido crescimento dos fundos até 30% do PIB. Fundos de Pensão. São
Paulo, v. 21, n. 278, p. 23-4, nov. 2002.
15
REIS, Alfredo D. Egídio dos. Ciências Atuariais: Modelos para Seguros. Disponível em: <
http://pascal.iseg.utl.pt/~alfredo/ftp/spm.os>. Acesso em: 10 de outubro de 2004.
16
SILVA, Edna Lúcia da. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3a ed. rev.
atual. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001.
SOUZA, Sylney de. Seguros: Contabilidade, atuária e auditoria. São Paulo: Saraiva, 2002.
i
Parcelas pagas às seguradoras referente ao contrato de seguro.
ii
Relação entre os planos vendidos e a capacidade de pagar as apólices.
iii
Reservas econômicas para garantir a solvência da companhia.