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HISTÓRIA E MEIO AMBIENTE: DESCOBRINDO O PASSADO PARA

VIABILIZAR O FUTURO1-2

Vlademir José Luft3

RESUMO: Falar em história é, antes de mais nada, falar em natureza e por conseqüência em sociedades
humanas. É assim que antes de darmos conta dos grupos sociais com os quais temos nos ocupado, devemos
construir os conceitos a partir dos quais os pensamos. Baseados nisto e de posse de conceitos diversos,
estamos trabalhando no Programa Arqueológico Puri-Coroado, com o intuito de reconstituir as sociedades
indígenas que pela região de Visconde do Rio Branco, Zona da Mata de Mineira, circulavam até meados do
século XIX, quando da chegada, em massa, do elemento branco e da destruição definitiva de sua natureza,
seja a da sociedade, seja a de seu meio ambiente.
PALAVRAS-CHAVE: Arqueologia, História, Meio-Ambiente

Apresentação

Falar em história é, antes de mais nada, e necessariamente, falar em natureza e por

conseqüência em sociedades humanas. É assim que antes de darmos conta dos grupos

sociais com os quais nos ocupamos como objeto de trabalho, alguns dos grupos indígenas

historicamente denominados como Puri, Coroado e Coropó, devemos construir os

conceitos a partir dos quais os pensamos. O primeiro, e principal deles, é o de natureza,

pensado a partir de concepções construídas em Marx4, Engels5, de Kosik6, Whitehead7,

Fleischer8, Jameson9, Habermas10, Morin11, Chartier12 e Quaini13, entre outros, onde o

1 - Este artigo é uma versão revisada do texto apresentado, e não publicado, no XXIII Simpósio Nacional de História, realizado em julho de 2005 em Londrina - PR
2
- Editora UNIVALE – E-Book, História, Natureza e Território. Coletânea de História Ambiental
apresentados nos simpósios temáticos: Historia, meio ambiente e sociedade & história ambiental: balanços e
perspectivas, durante o XXIII Simpósio Nacional de História, da ANPUH, na Universidade Estadual de
Londrina, no período de 17 a 22 de Julho de 2005, tendo como organizadores: Haruf Salmen Espindola e
Gilmar Arruda, disponível em http://www.univale.br/sites/editora/e_books/listar.asp?codgrupo=63
3 - Bahcarel em Arqueologia, Mestre em História do Brasil e Doutor em História Social; Diretor e Pesquisador do Centro Regional de Ensino e Pesquisa Palmyos
Paixão Carneiro; Coordenador do Programa Arqueológico Puri-Coroado, Professor do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos; luft@globo.com -
luft.rlk@terra.com.br
4 - Marx, Karl. Contribuição à crítica da economia política, editora Martins Fontes, coleção Novas Direções, São Paulo – SP, 1983
5 - Engels, Friedrich. A dialética da natureza, editora Paz e Terra, coleção Pensamento Crítico, volume 8, 4a edição, Rio de Janeiro – RJ, 1979
6 - Kosik, Karel. Dialética do concreto, editora Paz e Terra, coleção Rumos da Cultura Moderna, 4a edição, Rio de Janeiro – RJ, 1976
7 - Whitehead, Alfred North. O conceito de natureza, editora Martins Fontes, Coleção Tópicos, São Paulo – SP, 1994
8 - Fleischer, Helmut. Concepção marxista da história, edições 70, coleção Lugar da História, Lisboa – Portugal, 1978
9 - Jameson, Fredric. O marxismo tardio: Adorno, ou a presistência da dialética, editora UNESP, coleção Biblioteca Básica, São Paulo, 1997
homem, fruto de sua “evolução” biológica é capaz de construir-se socialmente e com isso

produzir seu modo de vida, a partir do conhecimento do meio que o circunda. É desta

forma que Marx e Engels14 nos falam de que

“A história pode ser considerada de dois lados, dividida em


história da natureza e história dos homens. No entanto, esses dois
aspectos não se podem separar; enquanto existirem homens, a
história da natureza e a história dos homens condicionam-se
mutuamente.” p. 11

Baseados nesta concepção, ou seja, de que, antes de mais nada, somos um produto

da natureza e de que ao vivermos, vivemos nela e não ela a partir de nós, e de posse de

conceitos como história, dialética, totalidade, patrimônio e natureza, estamos trabalhando,

no Programa Arqueológico Puri-Coroado, em seu projeto Arqueologia e Meio Ambiente15,

de forma interdisciplinar, com o intuito de reconstituir as sociedades indígenas que pela

região de Visconde do Rio Branco, Zona da Mata de Minas Gerais, circulavam até meados

do século XIX, quando da chegada, em massa, do elemento branco e da destruição

definitiva de sua natureza, seja a da sociedade, seja a de seu meio ambiente.

A nossa intenção ao propormos este trabalho no Simpósio História, Meio Ambiente

e Sociedade, coordenado pelo professor Haruf Salmen Espindola, no XXIII Simpósio

Nacional de História, realizado em Londrina – PR em julho de 2005, está suportada

“... pelo fato de considerarem, especialmente o meio ambiente, na


análise das sociedades humana ...”

10 - Habermas, Jurgen. O futuro da naturaza humana, editora Martins Fontes, Coleção Tópicos, São Paulo – SP, 2004
11 - Morin, Edgar. O método – 1. a natureza da natureza, editora Sulina, 2a edição, Porto Alegre - RS, 2003
12 - Chartier, Roger. A história cultural, entre práticas e representações, Difel editora, coleção Memória e Sociedade, Lisboa – Portugal, 1990
13 - Quaini, Máximo. Marxismo e geografia, editora Paz e Terra, coleção Geografia e Sociedade, volume 1, Rio de Janeiro – RJ, 1979
14 - Marx, Karl e Engels, Friedrich. A ideologia alemã, editora Moraes, São Paulo – SP, 1984
15 - deste projeto também fazem parte as professoras Dra. Márcia Gomide da Silva Mello e Ms. Mônica Armond Serrão
conforme o que fazemos e acreditamos, baseados nos autores acima indicados, de que

”fazer” História é antes de mais nada buscar as sociedades e entendê-las em seu meio.

Portanto, vamos aqui propor e questionar alguns procedimentos e entendimentos buscando

a troca de informações e conhecimentos. A respeito disso, vale lembrar das sugestões de

Silva16, onde,

“... cabe ao historiador deixar alguns “pré-conceitos” de lado e


aproximar o meio ambiente das relações sociais por este vincular-
se diretamente às ações empreendidas pelo homem.”,

bem como de que

“... não podemos perder de vista as transformações sofridas pelo


homem no seu fazer histórico, assim como sua relação com a
natureza ao longo do tempo.”

Baseados nesta concepção, conforme já dissemos, percebemos que podem existir

duas formas de ver a natureza. A primeira é pelo fato de a mesma existir, independente da

presença do homem e neste caso somos um sub-produto dela, ou seja, somos um de seus

elementos. Sobre isto, Whitehead17 diz que

“... em determinado sentido, portanto, a natureza independe do


pensamento.” .

16 - SILVA, Andréa Cristina Fontes. Ecossistema como relação social ?, trabalho apresentado no XXIII Simpósio Nacional de História, Londrina – PR, 17 à 22 de julho
de 2005
17 - Op. Cit.
A segunda forma de vermos a natureza é pelo fato de somente existir quando

pensada pelo homem que a esta construindo, histórica e socialmente, no tempo e no

espaço. Neste caso, o mesmo Whitehead18 diz que

“... a natureza é aquilo que observamos pela percepção obtida


através dos sentidos”.

Esta nossa proposta baseia-se, portanto, na preservação do patrimônio cultural e

natural, dentro de uma visão dialética, considerando os seus diversos elementos

constituintes, a partir dos quais acontece a evolução das espécies animais, dentre as quais

está o homem, e vegetais. Para tanto, a conexão com a História e a Arqueologia, através do

“Programa Arqueológico Puri-Coroado”, cujo desenvolvimento esta a cargo do Centro

Regional de Ensino e Pesquisa Palmyos Paixão Carneiro (CREP), com o apoio da

Prefeitura Municipal de Visconde do Rio Branco e do Museu Municipal de Visconde do

Rio Branco, faz-se pela práxis cotidiana, expressa em Quaini19 quando diz que

“... Marx interessa-se pela natureza antes de mais nada como


momento da práxis humana, porque “a natureza tomada
abstratamente, em si, separada do homem, é nada para o
homem.”. Por isto pode afirmar tranqüilamente, como tese
conclusiva do seu historicismo materialista integral, que “ nós
conhecemos uma única ciência, a ciência da história. A história –
continua Marx – pode ser considerada sob dois aspectos distinta
na história da natureza e na ciência dos homens. Contudo os dois
aspectos não podem ser separados; enquanto existirem homens,
história da natureza e história dos homens se condicionarão
mutuamente.”. p. 45

A idéia de relacionar aspectos ambientais, históricos e arqueológicos de uma

mesma região surgiu da necessidade de se demonstrar como a ocupação humana, ao longo

18 - Op. Cit.
19 - Op. Cit.
do tempo, em uma mesma área, pode influenciar na qualidade de vida das comunidades

que ocuparam aquele espaço até os dias de hoje. Dessa forma, buscamos evidenciar como

cada um dos diferentes modos de utilização do espaço esteve, e continua a estar,

diretamente relacionado ao modelo de desenvolvimento econômico, vigente nesta região e

em cada um de seus períodos históricos.

As informações provenientes da História e da Arqueologia, complementadas com

os dados geográficos, ecológicos, sociais, econômicos e culturais, juntos e sistematizados,

fornecerão os subsídios necessários para a elaboração de um diagnóstico, não apenas que

demonstrem o modo de vida, mas a forma como aquele ambiente foi ocupado pelos seus

habitantes. Sobre esta construção, teórica, Quaini20 mais uma vez nos diz que

“... não pode haver análise histórica (digna deste nome) sem
conceituação, isto é, sem teoria, sem tipificação sociológica, em
suma, sem aquelas abstrações empíricas ou científicas, ... Portanto,
não será possível, em conclusão, história sem teoria, isto é, sem
ciência, nem poderá existir, por sua vez, ciência (das disciplinas
“morais”) que não proceda do sentido vivo e marcante da
diversidade das épocas ou que esqueça, de algum modo, as
distinções entre as várias formações histórico-sociais.” p. 21

Entendemos que a História e a Arqueologia, trarão como contribuição, as

informações sobre as populações que utilizaram aquele espaço, em um tempo anterior à

chegada do elemento europeu, permitindo, dessa forma, a compreensão das relações entre

a dispersão e a ocupação humana na região. A ocupação deste espaço, em seus primórdios

ocupado pelos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó, nos apontam para as serras de

Santa Maria, Piedade e São Geraldo, que são uma extensão da serra da Mantiqueira na

Zona da Mata Mineira, e onde estão a maioria dos eventos, históricos e arqueológicos,

localizados até este momento, nos Municípios de Visconde do Rio Branco e São Geraldo.

20 - Op. Cit.
AS TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS AO LONGO DO TEMPO

1 - A ocupação humana

O Município de Visconde do Rio Branco está situado na Zona da Mata Mineira, em

um território montanhoso formado por um braço da serra da Mantiqueira. Um de seus

primeiros habitantes teriam sido, seguramente, os índios Puri, Coroado e Coropó. A

chegada, ou a estada, destes grupos nesta região pode ser vista por duas versões21. Na

primeira delas, os índios Puri e Coroado seriam provenientes do Norte do Estado do Rio de

Janeiro, conhecido como Norte Fluminense, onde, segundo alguns documentos, teriam

fugido do litoral temendo o ataque de outras tribos indígenas, principalmente os Goitacá,

migrando, através do rio Paraíba do Sul e posteriormente o rio Pomba e o rio Muriahé, para

o então sertão22 mineiro, até atingirem as fraldas da Mantiqueira, nas proximidades do rio

Chopotó, tributário da margem esquerda do rio Pomba e que corta o atual Município de

Visconde do Rio Branco. Na segunda versão estes índios teriam como berço estas mesmas

serras e a partir delas feito sua dispersão, chegando a atingir, além do Sudeste do Estado de

Minas Gerais, o Sul do Estado do Espírito Santo, o Norte do Estado do Rio de Janeiro e o

Nordeste do Estado de São Paulo. É com esta segunda versão que trabalhamos.

A partir da metade do século XVIII os primeiros europeus chegaram à calha do rio

Chopotó, fazendo o mesmo caminho que supõe-se para a primeira versão de dispersão dos

índios Puri e Coroado, ali estabelecendo-se e lançando os fundamentos de uma nova forma

de ocupar aquele espaço. As informações históricas indicam que até aquele momento o uso

dos recursos naturais da região baseava-se em um modelo exclusivamente extrativista, isto

21 - LUFT, Vlademir José. Da História à Pré-História: as ocupações das sociedades Puri e Coroado na bacia do Alto Rio Pomba (o caso da serra da Piedade), Tese
apresentada para a obtenção do grau de doutor no Insituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ, 2000
22 - Termo definido e historisizado por Márcia Amantino em seu artigo “O sertão Oeste em Minas Gerais: um espaço rebelde”, publicado pela revista Varia Historia, da
UFMG, número 29, Janeiro 2003, pp. 79-97
é, explorava-se apenas os recursos naturais encontrados no ecossistema florestal, o que não

provocou grandes transformações ambientais naquela área.

É a partir do final do século XVIII, quando se deu uma ênfase à catequese indígena

é que surgem as primeiras lavouras organizadas na região. Portanto, é a partir do século

XIX que se tem, com maior intensidade, as transformações daquele ambiente, antes

coberto por densas florestas que começaram a dar espaço às lavouras de culturas trazidas

pelo elemento europeu. É neste momento que temos, de forma mais sistematizada, o

surgimento das primeiras vilas.

Desde então, as florestas, típicas da Zona da Mata, foram gradativa e

sistematicamente substituídas, principalmente por plantações de cana-de-açúcar, seguidas

de outras culturas de subsistência como o arroz, o milho, o café e as pastagens para o

desenvolvimento da pecuária bovina.

2 – Os problemas ambientais

No século XX, os desmatamentos continuaram e aumentaram na mesma proporção

em que cresceu a população regional. Segundo dados fornecidos pelo censo do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1991, dos 28.451 habitantes de Visconde

do Rio Branco, 74 % estariam vivendo na zona urbana e 26 % na zona rural, valores que se

comparados aos da década de 50, indicam um processo do êxodo rural no município. Fato

talvez explicado pela manutenção de um sistema agrícola baseado na monocultura e na

grande propriedade, onde a cana-de-açúcar, manteve-se como a principal atividade

econômica da região.

Este processo tem levado à região um alto nível de degradação ambiental, o que

entre outras coisas, tem provocado a erosão do solo, dificultando, por exemplo, o trabalho
de pesquisa Arqueológica, principalmente no que diz respeito ao fato de se poder encontrar

os locais com os restos das ocupações humanas anteriores à chegada do elemento europeu.

Isto ocorre devido a retirada da vegetação, principalmente, das encostas, o que provocou,

com a ação do tempo, uma erosão que levou, e continua a levar, os sedimentos e com eles

os restos materiais, que poderiam comprovar as ocupações até as regiões mais baixas da

serras, soterrando os restos ali já existentes e dispersando os que da serra foram trazidos.

Para a Arqueologia isto significa a impossibilidade de encontrar os locais de ocupação. O

que se passa a encontrar, portanto, são materiais diversos e dispersos pelas regiões mais

baixas das serras.

Esses dados iniciais sobre as principais atividades econômicas da região indicam

que o processo de concentração urbana, decorrente de um êxodo rural continuado no

Município, vem se ampliando com o empobrecimento das terras cultivadas, utilizadas

principalmente, até recentemente, para a cana-de-açúcar e pastagens.

Hoje, com terras completamente degradadas, uma política de criação de áreas de

proteção ambiental municipais (APA), de instalação de indústrias que aproveitem a

produção frutífera, da recuperação das nascentes e margens dos rios e riachos que nas

serras da Piedade e Santa Maria nascem, está sendo iniciada. Este processo está sendo

baseado no reflorestamento de uma vegetação nativa e no re-assentamento de uma

população com costumes rurais, onde sua atividade produtiva será calcada na produção

agrícola com base na fruticultura.

3 – Em busca de solução

Diante disso surgem algumas questões:


• Qual o significado da manutenção de um tipo de produção, como a cana-de-açúcar

e o gado, como principal opção econômica da região ?

• Quais os custos ambientais que tais atividades impuseram à qualidade de vida de

sua população ?

• Porque sua população, majoritariamente urbana, ainda tem como principal

atividade econômica a agricultura ?

• Que opções e caminhos poderiam ser trilhados por esta comunidade ?

Essas são questões que talvez possam ser respondidas a partir da análise e

sistematização dos dados obtidos por nossa pesquisa, que tem como objetivo o

levantamento da história da ocupação regional.

Espera-se que a partir do estudo arqueológico das populações ali encontradas,

possam ser resgatadas formas harmônicas de interação com o meio ambiente. Pois, ao

levar em conta as experiências seculares, e até milenares, que esses povos estabeleceram

com o ecossistemas, possamos confirmar a relação de equilíbrio e interação do homem

com o ambiente ocupado, refletindo um conhecimento profundo dos seus habitats naturais.

Com base nos resultados dessa pesquisa, pretende-se fornecer subsídios para que

estratégias de ação em Educação Ambiental possam ser elaboradas junto à comunidade,

principalmente junto às escolas, valendo-se para isso da história e da realidade local.

Ao diagnosticar, em um primeiro momento, e posteriormente divulgar os principais

problemas ambientais do Município, esperamos estar contribuindo para a transformação da

realidade local. Acreditamos que através de atividades educativas, que possibilitem a

percepção da problemática ambiental em todos os seus aspectos, históricos, ecológicos,

sociais, econômicos e culturais, surjam propostas inovadoras para o desenvolvimento local.

Tais propostas, para serem consideradas realmente inovadoras, deverão considerar em suas
atividades a utilização das potencialidades locais, de forma a não causar impactos

ambientais que comprometam a qualidade de vida daquela população.

Este novo modelo de desenvolvimento tem o desafio de conjugar a tradição e a

tecnologia moderna, em uma nova síntese, que utilize as muitas lições que os ancestrais

indígenas ofereceram para a nossa história.

É neste sentido que desde 2001, a partir dos estudos realizados, principalmente

históricos, geográficos e ambientais, cartilhas23 vêm sendo produzidas e distribuídas. O

objetivo destas, é familiarizar e envolver a população local e regional com seu ambiente,

natural e social, e sua história, relacionando-os no sentido de alcançar uma resolução

adequada para os problemas cotidianos vivenciados e com isso propiciar um futuro com

condições, de vida, melhores que as atuais. Além disso, as cartilhas propiciam a

participação efetiva da comunidade, gerando uma maior consciência a cerca de seus

problemas, sua participação na solução dos mesmos, bem como evitando o avanço em sua

“destruição”.

Entendemos que quando da percepção, histórica, dos problemas, a comunidade

acaba por participar ativamente de sua resolução.

É assim que questões como o tratamento do esgoto (de origem sanitária, de cozinha

e de lavanderia); o tratamento d´água (com a preservação das nascentes e margens de

córregos, riachos e rios); o tratamento do lixo (de origem residencial e urbana com a coleta

e o depósito adequado); o tratamento ambiental (com a recuperação de áreas degradadas

pelo uso excessivo e conseqüente abandono); o tratamento histórico (com a preservação de

áreas com restos históricos) e o tratamento econômico (com a criação de condições para

produção econômica adequada às necessidades locais), têm sido tratadas, buscando-se uma

solução com a qual a comunidade possa ter um modo de vida mais apropriado, gerando,
23 - 2001, Arqueologia e Meio Ambiente (Vlademir José Luft); 2002, Xopotó dos Coroados (Theresinha de Almeida Pinto); 2003, Plano Diretor do Comitê Gestor da
Bacia do Xopotó (Marco Aurélio Carone)
por sua interação com o natureza, condições de continuar produzindo e consumindo em

consonância com a seu meio.

O OBJETO DE TRABALHO: OS ÍNDIOS PURI, COROADO E COROPÓ

A - a área de ocupação

Os primeiros europeus chegaram ao vale do rio Chopotó a partir da primeira

metade do século XVIII, fazendo o mesmo caminho que se supõe para uma das versões de

dispersão dos grupos indígenas Puri e Coroado, ou seja, a de que seriam provenientes da

região Norte Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, onde, segundo a documentação

escrita, teriam "fugido" do litoral temendo os ataques de outras tribos indígenas,

principalmente os Goitacá, migrando, através dos rios Paraíba do Sul, da Pomba e

Muriahé, para o "sertão mineiro", até atingirem as "fraldas da Mantiqueira", nas

proximidades do rio Chopotó, tributário da margem esquerda do rio da Pomba, que corta,

entre outros, o atual território do Município de Visconde do Rio Branco. Com isso

estavam estabelecidos e lançando os fundamentos de uma nova forma de ocupação daquela

região.

As informações históricas indicam que até aquele momento, o uso dos recursos

naturais da região baseava-se em um modelo exclusivamente extrativista, isto é,

exploravam-se apenas os recursos naturais encontrados no ecossistema florestal, o que não

teria provocado grandes transformações ambientais naquela região.

É a partir do final do século XVIII, quando se tem uma ênfase na catequese

indígena, que surgem as primeiras lavouras "organizadas". Portanto, é a partir do século

XIX que se tem, com maior intensidade, as transformações daquele ambiente, antes

coberto por densas florestas e que começaram a dar espaço às lavouras de culturas trazidas
pelo elemento europeu. É neste momento que temos, de forma mais sistematizada, o

surgimento das primeiras vilas.

Desde então, as florestas, típicas da Zona da Mata Mineira, foram sistemática e

gradativamente substituídas pela monocultura da cana-de-açúcar, acompanhadas de

culturas de subsistência como o arroz, o milho e o café, além das pastagens para o

desenvolvimento da pecuária.

No século XX, os desmatamentos continuaram, aumentando na mesma proporção

de seu crescimento populacional. Segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística, em 1991, dos 28.451 habitantes do Município de Visconde do Rio

Branco - MG, 74% estariam vivendo na zona urbana, valores que, comparados aos da

década de 50, indicam um acentuado processo no êxodo rural, fato que reforçou a

manutenção da monocultura da cana-de-açúcar como sua principal atividade econômica.

Estes dados indicam que o processo de concentração urbana, decorrente de um êxodo rural

continuado, vem se ampliando juntamente com o empobrecimento das terras cultivadas,

utilizadas, principalmente, para a cana-de-açúcar.

Este processo de degradação ambiental tem provocado uma acentuada erosão do

solo, dificultando, entre outras coisas, até mesmo o trabalho da Arqueologia,

principalmente no que diz respeito a possibilidade de encontrarmos os locais com os restos

das ocupações anteriores à chegada do elemento europeu. Isto ocorre devido a retirada da

vegetação das encostas que provocou, por conseqüência, com a ação do tempo, uma erosão

que retira o sedimento, e com ele os restos de ocupações, levando-o até as regiões mais

baixas, soterrando os restos ali já existentes e dispersando os que da serra foram trazidos.

Dessa forma as possíveis ocupações existentes no sopé das serras estariam soterradas pelo

sedimento que desceu das mesmas devido a erosão, bem como as ocupações existentes nas

encostas estariam destruídas pela erosão e tendo seu material disperso pelos "vales" atuais.
Para a Arqueologia isto significa a impossibilidade de encontrar muitos dos locais

de ocupação indígena. Em nosso caso, esta poderia ser uma das explicação para o fato de

encontramos hoje, dispersos pelas regiões mais baixas, uma quantidade muito grande de

material arqueológico dos mais variados tipos. Sempre isolados e dissociados de qualquer

estrutura arqueológica.

B - o panorama atual na visão da arqueologia

Apresentar um panorama arqueológico atualizado sobre a área de nosso projeto de

trabalho significa, antes de mais nada, falarmos a respeito das pesquisas arqueológicas

realizadas nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, sobre as quais Dias Júnior24,

em meados da década de 70, dizia que ...

“Um problema tem se afigurado ultimamente, o qual ainda


não pode ser plenamente ultrapassado. Trata-se da
necessária relação entre as pesquisas nos Estados de Minas
Gerais e no Estado do Rio de Janeiro, pesquisas estas, até o
momento, efetuadas completamente, isoladas umas das
outras. Na realidade, os limites políticos atuais entre os dois
Estados têm atuado como verdadeira barreira prática.”, (p.
110).

Além disso, devido às especificidades e especificações das pesquisas arqueológicas

realizadas nesta região, dois distintos panoramas foram traçados. O primeiro deles, que

pode ser considerado como de caráter arqueológico, nos mostra os sítios arqueológicos, seu

respectivo material cultural e suas possíveis interpretações e associações. O segundo

panorama, que pode ser considerado como de caráter histórico, antropológico e/ou

etnológico, nos mostra as possíveis associações destes sítios arqueológicos e seu respectivo
26 - DIAS JÚNIOR, Ondemar Ferreira. Evolução Cultural em Minas gerais e no Rio de Janeiro. In: Anuário de Divulgação Científica, Universidade Católica de Goiás
/ Instituto Goiano de Pré-História e Antropolgia, números 3 e 4, Goiânia, 1976 / 1977, pp. 110-130.
material cultural, com os grupos indígenas historicamente, antropologicamente e

etnologicamente registrados para a região.

No que diz respeito ao panorama de caráter arqueológico, apesar de um acréscimo

substancial nas pesquisa realizadas no Brasil, em seus significativos resultados e de 20

anos terem sido passados, pouco de seu panorama, construído em meados da década de 70,

foi modificado no que diz respeito ao Norte do Estado do Rio de Janeiro e ao Sudeste do

Estado de Minas Gerais. É dessa forma que o esboço para a ocupação destes Estados,

traçado por Dias Júnior em 1976-197725; 1978-1979-198026 e 1978-1979-198027 continua

válido. Seu esquema operacional de ocupação foi construído da seguinte forma:

“No Estado do Rio de Janeiro, a evolução cultural pré-


histórica pode ser sumarizada em pelo menos dois grandes
períodos, com sub-divisões. Cada período deve
corresponder a épocas distintas, mas é evidente que
ocorreram variações e interrelacionamentos entre eles ao
longo do espaço fluminense.
O primeiro período, e mais antigo, corresponderia às
comunidades de bando (segundo Service: 1966), onde a
economia deveria ser, no nosso caso, basicamente coletora.
A maior soma de informações se encontra no litoral e aí
podemos ter dois momentos caracterizadores do período. ...
O momento inicial corresponderia à economia sambaquiana
... O seguinte, com uma maior variação econômica e
cultural, ao que denominamos “Itaipu”. ...
O segundo período, que se relaciona aos coletores,
agricultores, também pode ser dividido em dois. Um que
corresponde aos grupos da Tradição local denominada Una
... o outro, Tupiguarani, que sem dúvida resulta da chegada
de novos grupos tribais vindos do Sul e que muitas vezes,
segue caminho para o Norte, ...
Para o território mineiro, frente à vasta área ainda não
pesquisada, esta reconstituição é muito mais difícil. ...
pressupomos que a antigüidade do povoamento poderá

27 - op. cit.
28 - DIAS JÚNIOR, Ondemar Ferreira. O Paleo-Índio em Minas Gerais. In: Anuário de Divulgação Científica, Temas de Arqueologia Brasileira # 1 – Paleo-Índio,
Universidade Católica de Goiás / Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia, número 5, Goiânia, 1978 / 1979 / 1980, pp. 51-54.
29 - DIAS JÚNIOR, Ondemar Ferreira. Os Cultivadores do Planalto e do Litoral. In: Anuário de Divulgação Científica, Temas de Arqueologia Brasileira # 5 – Os
Cultivadores do Planalto e do Litoral, Universidade Católica de Goiás / Instituto Goiano de Pré-história e Antropologia, número 9, Goiânia, 1978 / 1979 / 1980, pp. 15-
74.
atingir escala superior a 20.000 anos. ... O período
cerâmico é representado por três grupos.
Podemos caracterizar os primeiros grupos como ... vindos
do interior, talvez de Goiás, sendo que alguns grupos se
fixaram na região e outros alcançaram o litoral fluminense e
o interior de São Paulo. Trata-se das fases filiadas à
Tradição Una.
Outro grupo, mais recente, mas que conviveu com o
primeiro, ... deixou seus vestígios em grandes sítios de
campo aberto. É bem possível que se relacione às
migrações relatadas pelos cronistas como que vindas do
Norte, subindo o vale sanfranciscano. É possível ainda que
tenha se expandido igualmente para o interior paulista e
muito possivelmente tenha relações com a Tradição Aratu,
de Calderón. Trata-se da Tradição Sapucaí.
O grupo que aparentemente chegou por último é o
tupiguarani. Este se estendeu por todo o vale do São
Francisco, da região da floresta atlântica ao cerrado.
Grosso modo, deve refletir a migração Sul-Norte, mas
também pode estar relacionado aos movimentos costa-
interior referido por alguns autores, entre eles Pierson e
Senna. ...
O Estado de Minas Gerais, pois, ao que tudo indica, foi uma
região de intensa troca de influências culturais, cujo estudo
cada vez mais se reveste de importância e cujos resultados
poderão esclarecer muitos problemas ainda pendentes na
pré-história da região Sudeste e Centro-Oeste.”, (Dias
Júnior, 1978/1979/1980, pp. 124-126)28

Dando continuidade a este esquema operacional de ocupação e reportando-se, desta

vez, especificamente ao Estado do Rio de Janeiro, Dias Júnior & Carvalho29 propõem que .

“Em sístese, pois, a ocupação arqueológica do Estado pode


assim ser sumariamente reconstituída, segundo os dados
disponíveis até o momento:
A – Pré-cerâmico: Grupos de economia coletora,
sambaquianos em toda a costa, num horizonte antigo,
possivelmente superior a 10.000 anos. Em parte
contemporâneo, sucede-lhe o período da Tradição Itaipu,
onde a coleta cede parcialmente a vez à pesca. A caça,
muito provavelmente foi importante nos dois períodos. A
agricultura parece, pelas provas indiretas, surgir no final do

28 - op. cit.
31 - DIAS JÚNIOR, Ondemar Ferreira & CARVALHO, Eliana. A Pré-História Fluminense e a utilização das grutas do Estado do Rio de Janeiro. In: Pesquisas, série
Antropologia, número 31, Instituto Anchietano de Pesquisa, São Leopoldo, 1980, pp. 43-86.
período. No interior, caçadores com pontas de projéteis e
pequenos artefatos. Nenhum dado ainda tecnicamente
comprovado da existência de grupos relacionados ao
horizonte pré-pontas, embora o avanço da pesquisa posa vir
a localizar sítios do tipo em ambas as áreas. Até o
momento, dado ainda à escassez de sítios e aos trabalhos
reduzidos, não dispomos de suficientes informes que possam
nos dar idéias claras sobre as origens e a procedência dos
elementos constituintes do período.
B – Período cerâmico: Provavelmente se desenvolveu
localmente uma ocupação antiga de grupos ceramistas
vinculados à Tradição Una. No litoral central e Norte,
ocupando a planície, os grupos da fase Una; na serra, baixo
e médio curso do rio Paraíba, aqueles da fase Mucuri. No
início da Era Cristã, novas levas, desta vez vinculados à
Tradição Tupiguarani e, provavelmente, oriundas do Sul: na
costa central localizaram-se aqueles grupos denominados
atualmente, dentro da fase Guaratiba, seguidos por aqueles
da fase Sernambetiba, com os quais repartiram a região
durante um certo tempo. Estes se estenderam mais para o
Norte e devem ter mantido contato com os elementos da fase
Una; ao Norte, após a foz do rio Paraíba, localiza-se a fase
Itabapoana, mais recente. No médio curso do rio Paraíba, a
montante da área da fase Mucuri, está situada a fase
Itaocara, com ocupação que se estende até o início do alto
curso daquele rio. Ainda em médio curso e se alongando
em direção à foz do rio, atingindo ainda boa porção de seu
afluente Muriaé, estabeleceu-se, mais recentemente, a fase
Ipuca, com contatos marcantes com a fase Mucuri. É
interessante notarmos que se não podemos observar traços
deste contato na fase Itaocara, eles se materializam na
morfologia cerâmica da fase Ipuca, demonstrando a
existência de um processo de aculturação, que muito
provavelmente foi prolongado, entre grupos pertencentes a
Tradições culturais ceramistas diferenciadas.”, (pp. 56-57).

Para o Sudeste do Estado de Minas Gerais, por sua vez, além de apresentar as

mesmas características arqueológicas, culturais, ambientais, históricas, antropológicas e

etnológicas identificadas nas ocupações do Norte do Estado do Rio de Janeiro, reconhece-

se uma série de fases30 (Piumhi, Unaí, Mucurí e Una, entre outras31) e tradições32 (Una,

32 - Definida por MENDONÇA DE SOUZA, Alfredo Augusto Castro.. Dicionário de Arqueologia, ADESA, Rio de Janeiro, 1997, como: “Qualquer complexo de
cerâmica, lítico, padrões de habitação, etc, relacionado no tempo e no espaço, num ou mais sítios (PRONAPA, 76).”, p. 55.
31 - A fase Unaí, com pontos de contato com a fase Mucuri, no Estado do Rio de Janeiro, possui uma datação de 1.135 DC; localizada inicialmente na bacia do alto rio
Paracatu; possui um sentido de deslocamento que vai de Oeste para Leste, ou seja do interior para o litoral. A fase Piumhi, com sítios arqueológicos localizados
Sapucaí e Tupiguarani, entre outras33) que auxiliam na conformação deste panorama, como

por exemplo o material cultural, provenientes de escavações arqueológicas e identificados

como da fase Mucuri.

A Tradição Una, de definição arqueológica, constantemente identificada e

relacionada, por pesquisadores das mais diversas áreas, aos grupos indígenas Puri e

Coroado, grupos estes que, acrescidos dos Coropó, são o objeto de nosso trabalho, e citada

como uma das principais tradições arqueológicas para o Sudeste brasileiro, é apresentada

por Dias Júnior34 da seguinte forma:

“O material cerâmico da Tradição Una no Estado do Rio de


Janeiro é geralmente de formas simples, vasilhames
globulares, cônicos ou piriformes, de pequenas dimensões,
paredes delgadas, resistentes e de cor predominantemente
escura. As decorações são raras e, quando ocorrem,
geralmente se limitam à área superior das peças e denotam
influência tupiguarani (sobretudo no corrugado e ungulado).
O material lítico de ambas é excepcionalmente pobre, mas,
em compensação, ocorre regular variação em padrões de
sepultamentos.
O mais antigo é o enterramento secundário em urnas,
seguindo-se-lhe o sepultamento secundário, ainda em urnas,
mas sendo estas depositadas em cavernas de difícil acesso.
Finalmente, próximo aos sítios da fase, ocorrem
sepultamentos em cavernas, cujo único acompanhamento
cultural é o “urucum” (Bixa Orellana Linn), em contraste
com os outros tipos de enterramentos onde o
acompanhamento cultural é variado e farto (tecidos, contas

basicamente em cavernas; possui um vasilhame cerâmico de pequeno porte, em formato globular, cônico e piriforme e de cor predominantemente negra; com datação de
110 DC; foi localizada inicialmente na bacia do alto rio São Francisco; possui um sentido de deslocamento que segue do interior para o litoral. A fase Mucuri, com
localização na região da bacia sedimentar de Campos dos Goitacases, possui datações de 520 à 1.230 DC; paupérrima em material lítico. A fase Una, com localização
litorânea, principalmente na área de Cabo Frio, possui uma datação de 890 DC; é possível encontrar seu material cerâmico sobre os sítios arqueológicos da tradição
Itaipú; possui um material lítico vasto e variado e em conformidade com as narrativas de viajantes e cronistas.
32 - Definida por MENDONÇA DE SOUZA, Alfredo Augusto Castro.. Dicionário de Arqueologia, ADESA, Rio de Janeiro, 1997, como: “1 - Grupos de elementos ou
técnicas, com persistência temporal (PRONAPA, 76). 2 - Uma seqüência de estilos ou de culturas que se desenvolvem no tempo, partindo uns dos outros, e formam
uma continuidade cronológica.”, p. 124.
33 - A tradição Sapucaí, associada, por viajantes e cronistas, ao grupos indígenas Cataguá, com sítios arqueológicos de grandes dimensões e associados a ocupações em
campo aberto. Apresenta grande quantidade de material cerâmico, onde o vasilhame, com pouca decoração, quando reconstituido, apresenta um porte que pode variar
de médio a grande. Suas urnas funerárias são geralmente em formato piriforme. Suas principais fase são Ibiraci, Paraopeba e Jaraguá. A tradição Tupiguarani, a mais
recente das ocupações pré-históricas da região, influênciou, provavelmente, vários outros grupos indígenas, fato registrado através da mistura de seu material cultural
arqueológico com o de vários sítios arqueológicos da tradição Una, principalmente em suas fases Piumhi e Mucuri. Não há certeza do momento de sua chegada ao
territ´roio mineiro.
36 - op. cit.
de osso, pingentes e adornos ósseos, cabaças, etc.).” (pp.
117-118).

Schmitz35, por sua vez, diz que a Tradição Una

"Está localizada nos cerrados imediatamente ao Sul da


Tradição Aratu/Sapucaí, estendendo-se numa estreita faixa
desde o Araguaia até o litoral do Rio de Janeiro. No interios
ocupava principalmente áreas acidentadas, onde a
população vivia em abrigos rochosos, com ou sem aldeias
externas complementares; mas em Minas Gerais e no Rio de
Janeiro, em áreas sem abrigos, construía pequenas aldeias a
céu aberto. A cerâmica é simples, de pequeno tamanho e sem
decoração. É a mais antiga do Planalto, recuando em Minas
Gerais talvez a 2.000 anos AC. Os cultivos eram variados:
milho, mandioca, amendoin, feijões, abóboras e cabaças; ao
menos algumas dessas plantas eram ainda bastante
primitivas e incompletamente domesticadas. Frutos do
cerrado e caça completavam sua nutrição.
É possível que essa tradição ceramista tenha nascido no
meio dos caçadores e coletores que moravam nos abrigos,
tocados pelos novos horizontes tecnológicos, portadores
tanto dos cultivos como da cerâmica. As pequenas roças
ficavam na frente mesmo dos alcantilados em que viviam. O
fato de continuarem morando em abrigos naturais até a
chegada do homem branco pode transmitir a impressão de
que aí ficaram como que refugiados, enquanto os terrenos
mais aplainados eram progressivamente invadidos pelos
cultivadores das grandes aldeias da Tradição Aratu/Sapucaí,
de cuja origem talvez sejam corresponsáveis.
Também a Tradição Una certamente é da grande família
lingüística Jê." (p. 41)

Já para Prous36, as manifestações da tradição Una estão

"... espalhadas sobre um grande território (rio de Janeiro,


Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo), enquanto sua duração
parece abranger pelo menos dois milênios, as manifestações
da tradição Una certamente não formam um conjunto
homogêneo. Tentamos no presente trabalho, subdividi-las em

35 - SCHMITZ, Pedro Ignácio. O povoamento do Brasil. In: História Pré-Colonial do Brasil (Coordenado por ALVES FILHO, Ivan), Editora Europa, Rio de Janeiro,
1993, pp. 27-49.
36 - PROUS, André. Arqueologia brasileira, Editora UNB, Brasília, 1992.
duas variedades, sem que que esta operação, prática
didaticamente, talvez não seja justificada pelas pesquisas
posteriores.
A tradição Una variedade "A", definida geograficamente (o
Norte mineiro e Goiás meridional) e cronologicamente, já
que forneceu as datações mais antigas atualmente
disponíveis para a tradição. Parece, portanto que esta
variedade corresponde à zona nuclear a partir da qual a
tradição ter-se-ia espalhado." (p. 333)

"A tradição Una variedade "B", é formada pelos primeiros


sítios encontrados em Minas Gerais, no Espírito Santo e,
sobretudo, no Rio de Janeiro. Ocupam uma posição
periférica em relação ao grupo "A", do qual poderiam ser
oriundos." (p. 338)

Além disso, deve-se mencionar que em termos de pesquisa arqueológica, a região

que engloba o Norte do Estado do Rio de Janeiro e o Sudeste do Estado de Minas Gerais,

que por proposição e trabalho de Dias Júnior, por ter os mesmos problemas e questões,

forma uma área cultural e arqueológica única, possui:

• as pesquisas realizadas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira, com seu Programa de

Pesquisas Grutas Mineiras;

• as pesquisas realizadas pelo Instituto Superior de Cultura Brasileira, com seu Programa

Arqueológico do Norte Fluminense;

• as pesquisas realizadas pelo Setor de Arqueologia do Museu Nacional do Rio de

Janeiro, com seu trabalho na Pedra da Babilônia, Município de Rio Novo – MG;

• as pesquisas realizadas pelo Programa Arqueológico Puri-Coroado, primeiramente com

o apoio institucional da Universidade Estácio de Sá e atualmente do Centro Regional

de Ensino e Pesquisa e do Centro Educacional Palmieri.


Referindo-se aos aspectos da cultura material, Beltrão37 falando sobre o interior, diz

que sua cerâmica

"... ocorre em acampamentos Puri e cemitérios Puri. A


cerâmica Puri, das lapas de Santa Maria Madalena, descrito
por Faria (1942, ms.) apresenta as seguintes características:
"vasos de cor escura; superfície do corpo lisa;. bordo com
ligeiro espessamento na face externa e decoração constituída
de traços inclinados. Observando-se o bordo da peça na
parte fraturada, verifica-se que o espessamento era obtido
pela aposição de novos rolos, nesse caso três. Assim
conseguiam uma espécie de escalonamento, e a cada um
desses rolos correspondia uma faixa de ornatos. Pasta muito
porosa, contendo grande quantidade de areia. Os traços.
incisos no bordo são apenas inclinados mas com uma
regularidade apreciável, de sorte que o conjunto se apresenta
bastante harmonico"." (p. 37)

Por sua vez, sobre a morfologia das populações indígenas, Beltrão38, diz que

"Não puderam ainda ser definidas as características


morfológicas do Puri. Seus esqueletos foram encontrados
nas lapas de Santa Maria Madalena (zona montanhosa do
interior do Estado do Rio de Janeiro). Essa indefinição da
morfologia do grupo Puri (tronco Macro-Jê, família
Coroado) deve-se não só ao reduzido número de esqueletos
até agora encontrados, como também à exiguidade de
informações por parte dos especialistas." (p. 41-42)

Com relação ao segundo panorama, de caráter histórico, antropológico e/ou

etnológico, temos o relacionamento constante e, ao que tudo indica, afirmativo, associado,

principalmente, aos sítios da tradição Una, nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas

Gerais, aos grupos indígenas Puri e Coroado. Apesar dos diversos autores que fazem esta

relação, são nas conclusões de Dias Júnior & Carvalho39 que encontramos as principais

colocações sobre o tema.

37 - BELTRÃO, Maria da Conceição de Morais Coutinho. Pré-História do Rio de Janeiro, Forense Universitária / Instituto Estadual do Livro, Rio de Janeiro, 1978.
38 - op. cit.
41 - op. cit.
“Embora não possamos relacionar com certeza absoluta os
dados etnográficos aos arqueológicos, podemos utilizá-los
como elementos de raciocínio e reconstituição e acreditar
que o povoamento pré-histórico ... , da serra guardou traços
de similaridade com aquele do período histórico e que
existem elementos de coesão entre ambos.
Por outro lado, as provas arqueológicas apontam um
povoamento Tupiguarani (fase Ipuca) para a mesma área
referida pelos cronistas como habitat dos Coroados (rio
Muriaé) e também para o local onde eles foram aldeados no
início do século XIX, em São Fidélis. Embora Métraux, entre
outros, classifique-os como do mesmo grupo lingüístico do
Puri (daí denominá-los Puri-Coroado) e avente a hipótese de
que ambos tenham partilhado um passado comum, a
reconstituição arqueológica não confirma a teoria, pela
existência, até o momento, de vestígios não Tupiguarani na
área designada para os Coroado. Aliás, observando-se
atentamente NeuWied, nota-se que ele aponta diferenças
somáticas e culturais entre os dois grupos, além de se referir à
tradicional inimizade entre ambos. Ele se refere, ainda, ao
uso dos antigos Coroado, de enterrar seus mortos sentados,
isto é, fletidos, em urnas que chamavam "camucis", ... ”, (pp.
75-76)

"Em todo caso, não nos parece haver dúvida de que os dados
arqueológicos confirmam, aqui, o que a tradição etnográfica
indica, de que Guaitacá, Coropó e Puri compartilhavam uma
tradição cultural comum, da qual a evidência mais notada,
além dos artefatos, era a língua aparentada." (p. 77)

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