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PARA UMA SOCIOLOGIA DA PRODUÇÃO ESTATÍSTICA:

VIRTUALIDADES DUMA LEITURA SINTOMÁTICA DA


INFORMAÇÃO ESTATÍSTICA

TOWARDS A SOCIOLOGY OF STATISTICAL PRODUCTION:


ADVANTAGE OF A SYMPTOMATIC APPROACH TO STATISTICAL
INFORMATION

Autor: Sérgio Bacelar


Chefe do Serviço de Estudos e Difusão da Direcção Regional Norte do Instituto
Nacional de Estatística
e
Docente de Psicossociologia das Organizações e Comportamento
Organizacional da Faculdade de Economia da Universidade do Porto

SUMÁRIO:
• Resulta claro da relatividade das classificações no âmbito económico e social que as
estatísticas, contrariando a visão positivista dos ‘dados’ estatísticos como simples
imagem tendencialmente adequada a uma realidade socialmente desencarnada,
podem ser lidas não só de uma forma crítica, mas também de uma forma
sintomática, como reflectindo o olhar que em determinado contexto socialmente
definido, a sociedade tem sobre si própria. Com o objectivo de ilustrar esta
proposição, analisam-se as formas de produção da informação estatística oficial,
recorrendo a alguns exemplos ilustrativos, como o das estatísticas do suicídio e do
desemprego.

PALAVRAS-CHAVE:
•Sociologia, estatísticas, suicídio.

SUMMARY:
• It’s clear from the relativity of classifications in social and economic field, that
statistical information, in opposition to the positivistic view of statistical “data” just
as an image, asymptotically adjusted to a socially boneless reality, may be
understood not only from a critical perspective, but also from a symptomatic point
of view, which reflects the way, that in a social defined context, society sees itself.
To illustrate this proposition, we analyse the production methods of official
statistics, using some illustrative examples like suicide and unemployment statistics.

KEY-WORDS:
• Sociology, statistics, suicide.
As ciências sociais estabelecem com a estatística uma relação com dois sentidos:
considerada no seu sentido singular, a ciência Estatística fornece às ciências sociais
todo um instrumental técnico que permite operacionalizar a recolha e o tratamento da
informação, funcionando ainda como um dos meios de prova das hipóteses de
investigação e portanto de validação de teorias. Neste sentido, a Estatística assume um
carácter universalizante, indiciado pela padronização dos conteúdos curriculares e dos
vários manuais de Estatística utilizados pelos estudantes e investigadores nas ciências
sociais.

Num segundo sentido, as estatísticas, no plural, constituem uma das fontes de


observação utilizadas pelos cientistas sociais, quer tenham sido produzidas pelo próprio
investigador e portanto correspondendo ao interesse específico de uma dada pesquisa,
quer tenham sido produzidas com objectivos alheios aos do investigador. Estão neste
caso, evidentemente todas as estatísticas produzidas por outros investigadores ou pelo
aparelho administrativo, no qual se podem enquadrar as estatísticas oficiais.

Nesta segunda perspectiva, as estatísticas constituem resultados de observação,


normalmente designados como dados. Na verdade a estatística só “é uma técnica
universal, a partir do momento em que os dados são dados” (Besson, 1992: 20). Na
realidade, os dados não são dados, os factos são construídos e a observação é um
processo de definição do objecto.

A não consciência do carácter socialmente construído dos dados estatísticos,


ignorando, por exemplo a relatividade das classificações no âmbito económico e social,
costuma andar a par da fixação na questão da exactidão dos mesmos.

A oscilação entre uma concepção empirista ou racionalista da produção de


conhecimentos, traduz-se normalmente em duas concepções das estatísticas:

a) no primeiro caso, as estatísticas são encaradas como medida, isto é, como


uma fotografia quantitativa duma realidade;
b) no segundo, são vistas como observação resultante duma modelização prévia,
quer exista ou não consciência do accionamento de uma determinada grelha
de leitura da realidade.

Neste sentido, costuma afirmar-se que “as estatísticas não reflectem a realidade,
reflectem o olhar da sociedade sobre si própria” (ib.). Esta perspectiva, subvalorizando
a questão da verdade ou falsidade das estatísticas, em nome de algum relativismo,
coloca-nos perante o problema de saber como é que algo que apenas tem um valor
relativo, pode ter alguma utilidade social.

O último Recenseamento da População, realizado em 1991, contou 9 862 540


indivíduos. Dados deste tipo produzem uma falsa ilusão de exactidão. Na verdade,
mesmo os dados provenientes de um recenseamento, exaustivo, por definição, não são
exactos. Existem evidentemente margens de erro, o qual nem sempre é aleatório: certas
zonas e populações, por exemplo imigrantes e sobretudo os ilegais são
reconhecidamente subrepresentadas.

Por outro lado, o erro admissível depende de critérios extra-estatísticos: o erro


resulta duma arbitragem entre a vantagem obtida pelo ganho de exactidão e o seu custo.

Normalmente as ilusões, sobretudo quando persistentes, cumprem funções


sociais ou institucionais nem sempre bem esclarecidas: assim, se por um lado é
fundamental para a sobrevivência da instituição estatística a questão da credibilidade e
seriedade da informação produzida, por outro, esta pode eventualmente funcionar como
um obstáculo à análise do processo de produção da informação estatística, isto é, ao
conhecimento do “laboratório estatístico”.

Trata-se aqui do problema dos bastidores da produção estatística, isto é, da


independência dos organismos produtores de estatísticas com vista a resistir às pressões
políticas para a manipulação dos dados que se tornaram, no mundo actual em “critérios
de avaliação e de apreciação” da acção política (ib., p.37).

Mas se a instituição estatística se esforça por apresentar como credíveis os seus


dados, muitas vezes o simples cidadão tem a impressão que os números são falsos. Este
facto revela uma vez mais, a inconsistência do paradigma da exactidão: apresentar
dados estatísticos, ainda que com uma certa margem de erro, não é o mesmo que
comparar uma fotografia desfocada com a realidade. Tudo depende do ponto de vista:
“As estatísticas são imagens de síntese que representam, não as situações individuais
mas as médias destas situações” (ib., p.32).

O conhecimento corrente é volúvel às armadilhas da subjectividade. Elaborando


generalizações a partir de impressões subjectivas, é marcado pela selectividade do olhar
e pelo efeito da generalização a partir de um número limitado de casos.

Mas se o conhecimento corrente, muitas vezes restringido ao âmbito local,


embora sujeito ao engodo da subjectivismo, produz uma sensação de vivido, com uma
utilidade imediata na acção, “à informação global falta-lhe muitas vezes pertinência”
(ib., p.34).

Esta tensão entre informação local pertinente mas subjectiva e informação


global, não pertinente para o indivíduo, mas validada institucionalmente, actualiza-se a
cada passo no nosso quotidiano: por exemplo, a taxa de desemprego nacional pode
ocultar situações locais (para não dizer individuais) muito contrastadas.

Desta forma, se ao nível global a média é suficiente, a nível local não é. Há


quem afirme que a média, como valor transcendente ao indivíduo, se tornou numa
“formulação cientista do destino” (ib., p.35). Esta perspectiva torna-se aparente se nos
ativermos, por exemplo, à precisão na previsão da taxa de suicídio, ou de nupcialidade.

As necessidades de informação não são idênticas para todos os actores sociais.


Elas correspondem a uma estratificação, na qual o Estado assume um papel particular:
o Estado é um actor global por excelência e portanto, para este faz todo o sentido a
informação de carácter global. As questões que coloca são diferentes das dos
Presidentes duma Câmara Municipal, Presidentes duma Junta de Freguesia ou de um
indivíduo qualquer. Muitas vezes, a diferença dos pontos de vista entre estes actores é
irredutível.

Neste sentido, o processo de produção de informação estatística apresenta-se


como uma troca: perde-se informação para ganhar sentido, através de um efeito de
agregação.

Só uma concepção ingénua das estatísticas poderia admitir que estas permitem
conhecer tudo. Este sonho da transparência generalizada assenta na confusão da
observação estatística com a fotografia (aérea). Tal como a cartografia, a informação
estatística é de natureza estratégica, uma vez que resulta de um processo de
objectivação: a observação transforma o observado em objecto. Constitui uma relação
de poder, real ou simbólica. Este facto permite entender alguns episódios conhecidos de
resistência à recolha de informação estatística. Alguns dos obstáculos colocados pelos
indivíduos aos recenseamentos provêm historicamente das sua consequências fiscais e
militares ou actualmente, da protecção da vida privada.

Na verdade, o comportamento do inquirido face a quem o interroga não é isento


de alcance estratégico. Se responder é expor-se e portanto é correr um risco, por outro
lado esse facto permite ao actor social beneficiar das vantagens morais da
transparência.

Mas nem só a recusa a responder constitui um mecanismo de defesa. Outras


variantes defensivas existem como a da sobreinformação, na qual dificilmente se
distinguirá a informação pertinente do simples ruído.

A discussão sobre o papel que deve desempenhar a estatística nas ciências


sociais, assume intermitentemente o cariz duma disputa entre quantitativo e qualitativo.
A perspectiva qualitativa tem grande dificuldade em admitir o postulado da
comensurabilidade próprio do raciocínio estatístico: as antinomias entre valor de uso e
valor de troca, ou a irredutível singularidade do ser, por comparação com as médias e
totalizações, são exemplos deste facto.

A estatística põe em equivalência. A similitude é a base do raciocínio estatístico.


Mas essa similitude é percepcionada pelo observador de acordo com um determinado
código de leitura através do qual a realidade é filtrada. Desta forma, a
comensurabilidade não é uma propriedade dos objectos, mas uma qualidade que lhes é
atribuida pelo observador.

A simples contagem pressupõe uma definição operatória: neste sentido, qualquer


quadro estatístico tem uma dupla natureza - é qualitativo (porque corresponde a uma
modelização prévia do fenómeno) e quantitativo. A utilização das nomenclaturas na
produção estatística mostra que o facto quantificado é condicionado pela interrogação
de partida.

Conceber o plano do conhecimento como distinto do plano da realidade, permite


entender que as estatísticas apreendem apenas índices da realidade: as estatísticas da
justiça não “capturam” os delinquentes e delitos, mas sim os traços que deixa a
delinquência no aparelho judicial; o consumo é avaliado pelas quantidades consumidas.
“O fetichismo estatístico nasce da confusão entre índice e realidade” - este mal
afecta os que partilham uma concepção absolutista do conhecimento e que desconhecem
as condições correntes da produção estatística - nomeadamente o carácter normal e
inevitável das convenções.

Perante as estatísticas é possível encontrar duas leituras distintas:

a) uma leitura crítica - que toma as estatísticas como meio de conhecimento e


discute a sua exactidão, pertinência, etc.
b) e uma leitura sintomática - que as encara como objecto de conhecimento e
pede-lhes para elas revelarem o olhar da sociedade sobre ela própria.

É que as categorias estatísticas usadas, quer pelos actores sociais, quer pelos
actores institucionais encarregados da produção estatística, “exprimem a priori
baseados num certo consenso a propósito da realidade económica, social, cultural, etc.”
(ib., p.49). Este carácter de construção social das categorias estatísticas permite que o
uso de comparações, no espaço ou no tempo, mostre as variações das noções
estatísticas e portanto a sua contingência.
É também este mesmo carácter que revela que em cada fase do processo de
observação estatística, se insinua o qualitativo: quer nas escolhas relativas à definição
do objecto de observação, ou na redacção do instrumento de notação no qual se
inscreve o compromisso entre as exigências do inquérito e as possibilidades de
compreensão dos inquiridos; nos critérios utilizados na escolha da amostra; na forma de
inquirição, na qual se poderá ponderar as consequências de um questionário por
correspondência, por contraposição ao papel da relação dos entrevistados com os
entrevistadores; e mesmo na fase de codificação, na qual se tenta traduzir uma
linguagem muitas vezes vaga e imprecisa, marcada por múltiplas condicionantes, na
linguagem das nomenclaturas; a própria análise dos dados, a escolha dos cruzamentos,
das variáveis, as sínteses efectuadas, transparecem o qualitativo.

Para que servem as estatísticas?

Considerar as estatísticas como um produto socialmente contingente, pode-nos


encaminhar para o reequacionar do conhecimento proporcionado pela informação
estatística numa óptica relativista.

Na verdade, talvez seja mais adequado pensar este modelo de conhecimento


como marcado pela racionalidade instrumental. Desta forma, do ponto de vista
organizacional, pode-se afirmar que as estatísticas não apreendem as propriedades dos
objectos, mas sómente as qualidades percebidas pela organização. Alguns dos lemas
orientadores das instituições estatísticas, são aliás, reveladores desta orientação
pragmática: “Saber para desenvolver” ou “informar para decidir”.

O conhecimento estatístico não corresponde à realidade, ele convém à


organização. A racionalidade prática não procura o óptimo entre todas as soluções
possíveis. Esta racionalidade limitada opõe-se à racionalidade absoluta. A acção
satisfaz-se com um conhecimento limitado, parcial. Trata-se de um conhecimento que
em relação ao mundo social é “uma representação simplificada, falsa mas operatória
nos limites da acção quotidiana” (ib. p.61).

É verdade que historicamente o conhecimento estatístico se enraiza no


racionalismo do séc. XIX: é marcado pela exterioridade do sujeito em relação ao
objecto; pela possibilidade de conhecimento do objecto; e pelo facto dos conceitos
aparecerem como propriedades da realidade ou aproximações cada vez mais exactas.

Neste sentido, as estatísticas seguem um princípio de ordem e são uma máquina


de produzir (ou simular) ordem. Resta saber se as recentes transformações da
sociedade, produzindo fenómenos aparentemente de complexidade acrescida,
substituindo padrões de comportamento, pensados anteriormente sem grande
dificuldade a partir de estruturas, por modelos mais facilmente pensados em termos de
rede, de carácter transversal ou atípico, são ainda compatíveis com esta concepção.

A análise social do suicídio

A utilização das estatísticas nas ciências sociais corresponde a uma exigência


fundamental de cientificidade: a da ruptura com as evidências do senso comum ou
conhecimento corrente próprio dos actores sociais. No ensino das ciências sociais, o uso
das estatísticas como revelador de regularidades e de singularidades, muitas vezes não
detectáveis na ausência de instrumentos estatísticos, constitui um forte elemento
pedagógico de demonstração da especificidade destas ciências na explicação do social
por recurso a factores de carácter social. Essas regularidades são, por outro lado,
reveladoras da inadequação dos automatismos típicos do conhecimento corrente: a
tendência para naturalizar os fenómenos sociais ou para os explicar recorrendo
exclusivamente a factores de ordem individual.

As estatísticas constituem assim, um meio de objectivação do conhecimento. Um


dos exemplos clássicos da sua utilização nas ciências sociais é o da análise social do
suicídio empreendida pelo sociólogo francês Emile Durkheim. Que virtualidades
apresenta este objecto de análise?

a) em primeiro lugar, a possibilidade de tratar sociologicamente um facto


aparentemente exclusivamente pessoal ou psicológico, parece fundar a
existência dos factos sociais como campo de estudo específico e independente,
por exemplo, da Psicologia.
As estatísticas seriam, neste sentido, “um meio de naturalizar o estudo dos
fenómenos humanos, subtraindo-os a um ponto de vista metafísico ou
espiritualista” (Merllié, 1992: 101). Explicações do suicídio pela acção do
calor ou das variações de temperatura sobre o sistema nervoso, deram lugar a
outras que o ligam à variação da actividade social.
b) em segundo lugar, constitui uma primeira expressão sistemática duma
metodologia quantitativa que faz do tratamento dos dados estatísticos um
meio de prova privilegiado nas ciências sociais.

No entanto, Durkheim nunca se interroga sistematicamente sobre as condições de


recolha dos dados estatísticos. Só posteriormente, outros autores (Cf. Halbwachs
(1930), Les Causes du suicide, Paris, Alcan) se preocuparam com a análise da
organização administrativa responsável pelos dados nos diferentes países. A resposta às
críticas à subrepresentação estatística dos suicídios consistiu na afirmação de que a
subrepresentação era suficientemente constante para não afectar as diferenças relativas.
No entanto, existem estudos (Douglas, J.D. (1967), The Social Meaning of Suicide,
Princeton University Press) que mostram que um certo número de variações
características das taxas de suicídio têm a ver sobretudo com “taxas de registo”
variáveis. A integração social que explica para Durkheim a menor tendência para o
suicídio dos casados e dos católicos, pode significar parcial ou totalmente, uma melhor
protecção não contra o suicídio, mas contra o seu registo estatístico. Nos grupos sociais
com maior integração é mais fácil a ocorrência da dissimulação do suicídio em morte
acidental.

Um caso semelhante sucede no estudo realizado por Eduardo de Freitas (Freitas:


1982) sobre o caso português: a nítida distinção norte-sul das taxas de suicídio, tanto
pode corresponder ao factor de preservação que a religiosidade representa a Norte,
como a uma desigual tendência regional para a dissimulação, explicada, ela própria,
também pela religiosidade.

A construção dos dados estatísticos sobre o suicídio podem relevar de um


conjunto diversificado de processos sociais que implicam interesses diferentes dos do
conhecimento estatístico:

Sociólogos britânicos observaram sistematicamente as práticas dos coroners


(oficiais reais) e dos seus assistentes na classificação dos óbitos susceptíveis de ser
interpretados como suicídios. Trata-se de funcionários que são encarregados de elucidar
os casos de morte “não natural”. O exame desses casos pode resultar após análise,
numa classificação como morte natural, caso contrário haverá necessidade de realizar
um inquérito que com a participação de um júri e com a presença de testemunhas e
após consulta de um dossier, decidirá pela classificação como morte natural ou por um
conjunto de 14 categorias cujas mais importantes são os acidentes, seguida do suicídio e
a dos casos indeterminados.

Este procedimento público tem o interesse de obrigar a um grau suficiente de


explicitação dos critérios de classificação pelos peritos, de forma a que estes sejam
comunicáveis publicamente. Esta situação coloca a questão de saber que critérios é que
os coroners devem partilhar com o vulgar cidadão para poderem convencer um júri.

Um dos critérios para que um caso seja classificado como suicídio, é o de que
este deve assemelhar-se a um suicídio. Isto significa que deve comportar um certo
número de elementos observáveis para se aproximar da ideia profissional ou corrente do
que são os suicídios:

a) Um primeiro conjunto de elementos indiciadores relaciona-se com as


circunstâncias imediatas da morte - por exemplo, com os instrumentos que
causaram a morte.
Assim, enquanto que o enforcamento só raramente é considerado como
acidente, a morte num acidente de viação raramente é suspeita de suicídio. O
afogamento e o envenenamento com medicamentos, mais ambíguos,
necessitam de outros elementos de apreciação, como a estação do ano, o lugar
e outras circunstâncias. A idade e a dose, por exemplo, constituem factores
importantes. As pessoas idosas são mais suspeitas de serem vítimas de
distracção, no caso de morte com overdose. Se a dose não ultrapassar
determinado limite, isso inclina os coroners para a rejeição da tese de
suicídio.
Eis um exemplo de um comentário de um coroner sobre as circunstâncias de
um caso de afogamento num lugar onde isso é comum acontecer:
“O que eu procuro no caso de afogamento, é se as roupas foram deixadas
dobradas. Se elas forem encontradas dobradas com cuidado na praia, isso
significa habitualmente suicídio” (Cf. Merllié, 1992: 110)
b) um segundo conjunto de elementos tem a ver com a biografia do falecido.
Neste sentido, as crianças ou os adolescentes, ou as pessoas muito idosas,
dificilmente são classificadas como suicidas. Daí que por exemplo, no caso
dos jovens, se verifique a tendência para que os enforcamentos sejam
interpretados como jogos que acabaram mal. Por outro lado, pessoas que se
provou terem tido problemas de vários tipos, precedentes médicos e
psiquiátricos ou antecedentes suicidários (tentativas ou ameaças) são bons
candidatos à classificação como suicídio.

Um índice isolado só raramente é conclusivo. No caso de índices muito


divergentes uma forma de não classificação é o open verdict.

Os coroners não se contentam em descrever um comportamento, devem-no


justificar, torná-lo inteligível. A sua representação do suicídio implica a ideia de que ele
deve resultar duma intenção de morrer. Neste sentido, o índice mais determinante é uma
mensagem escrita do falecido qualificando e explicando o seu gesto.

As práticas e declarações dos coroners parecem relevar apenas do bom senso.


Contudo, o que é sociologicamente importante é o carácter simultaneamente social,
interpretativo e teórico da actividade de classificação:

a) tem um carácter social porque a classificação toma sempre uma forma


colectiva posta em cena pelo inquérito. A operação de classificação é objecto
de formas de negociação entre os agentes (inquiridores, médicos, testemunhas,
próximos) cada um manifestando os seus interesses e valores;
b) assume também uma carácter interpretativo porque a classificação não
repousa sómente sobre os factos, mas em intenções a imputar ou a
estabelecer;
c) e finalmente um carácter teórico porque os coroners não dão uma definição
explícita de suicídio, mas põem em prática teorias profissionais que têm
relação com as teorias “científicas” doutros suicidólogos (médicos, psicólogos
ou sociólogos), através da coerência dos índices que eles procuram ou
desvalorizam.

Estas características de classificação têm uma incidência na utilização dos dados


estatísticos como pressupostos ou provas, no quadro de uma teoria do suicídio: ”uma
teoria tem todas as possibilidades de se ver confirmada pelas estatísticas se concordar
com os princípios de selecção dos casos efectivamente classificados como suicídios”
(ib., p. 113).

Criminalidade e desemprego

As estatísticas do suicídio têm um valor simbólico para as ciências sociais. Mas


não têm evidentemente, a exclusividade na revelação do seu carácter socialmente
construído. É sabido que por exemplo, as estatísticas da criminalidade descrevem mais
as variações da actividades da polícia do que as variações da criminalidade objectiva.
Por outro lado, as cifras negras do crime não se repartem igualmente entre as diferentes
categorias de delinquentes ou de infracções: certas populações são mais vigiadas e
portanto a sua criminalidade é mais visível.

No caso das estatísticas do desemprego a resposta para a questão de saber qual é


o verdadeiro número de desempregados depende duma análise das representações
sociais e das práticas institucionais. As definições de desemprego não reflectem o
desemprego mas sim a visão que a sociedade tem do desemprego. Uma análise histórica
permite mostrar a contingência desta noção de desemprego (Cf. Comte, 1992).
Até ao fim do séc. XIX não existiam desempregados, constituindo o desemprego
- toda a privação involuntária e passageira de trabalho qualquer que seja a causa:
doença, acidente, falta de obra, feriados, etc.

O desempregado económico caía no campo dos que não podiam suprir as suas
necessidades. O desempregado era identificado ao indigente e situava-se no campo
assistencial. Por exemplo, no Recenseamento da População de 1890, os desempregados
eram incluidos na classe dos improdutivos com profissões desconhecidas, da qual
faziam parte:

1. Ciganos, mendigos, vagabundos e meretrizes


2. Indivíduos desempregados temporariamente.

Ao longo do tempo a evolução da definição de desempregado foi-se moldando à


visão sobre si própria que a sociedade revelava: por exemplo, só depois da II Guerra
Mundial é que se admitiu que o desemprego não diz respeito apenas aos indivíduos que
já trabalharam. Anteriormente não se reconhecia o desemprego de inserção:
nomeadamente o dos jovens saídos do sistema escolar ou das mulheres em retoma de
actividade.

Contar o número de suicídios, de crimes ou de desempregados é o trabalho do


estaticista. Mas este “só sabe contar o que é previamente definido socialmente”
(Fouquet, 1992: 118). Portanto “contar é, em primeiro lugar codificar”.
Consequentemente quando a norma social muda, acentuando-se a imprecisão das
fronteiras entre as categorias, cria-se uma situação de desconforto.

Algumas codificações são pré-estabelecidas pela lei ou por regulamentos


administrativos, ou por normas internacionais. A codificação jurídica é a mais imediata:
as categorias estão claramente definidas. Não é por acaso que as estatísticas da justiça
são das mais antigas. Na ausência de lei, de regras colectivas, resta ao estaticista a
norma social notoriamente mais imprecisa para estabelecer as fronteiras entre
categorias. Em situações deste tipo o estaticista constitui um intérprete do debate social.
Apoiando-se numa norma que existe muitas vezes de forma tácita, contribui desta
forma para a fixar, ainda que artificialmente.

Um exemplo duma fronteira imprecisa: a actividade das mulheres na agricultura.


Como trabalham em casa, no seio da família, são domésticas como as outras? A
resposta varia com a época e com o que se pretende que o número clarifique. Nesta
temática os estaticistas mudaram a definição de actividade na agricultura durante
recenseamentos sucessivos.

Um outro exemplo em que o estaticista representou o papel de intérprete de um


dado debate social, é o da reivindicação feminista francesa sobre a contabilização do
trabalho doméstico das mulheres.

A questão consistia sobretudo em saber o que é que se poderia incluir no trabalho


doméstico. Como esta questão tinha a ver com a sua valorização monetária, foi possível
definir trabalho doméstico, como as actividades realizadas fora do trabalho profissional
e que podem ser substituidas pelo mercado (trabalho de limpeza, guarda de crianças,
etc.). Esta medida depende evidentemente da organização social prevalecente: a
existência de um substituto mercantil, depende da extensão da esfera mercantil, a qual,
por sua vez, depende do “desenvolvimento” económico e da organização social.

As estatísticas descrevem uma realidade em mutação constante. Quando a norma


social muda, fazendo perder o sentido às categorias legais, o código estatístico tenta
adaptar-se. Tal sucede por exemplo, nas situações de coabitação familiar.

Entre o celibato e o casamento, é normal encontrarem-se numerosas situações


intermédias de duração variável que se concluem ou não no casamento. Na perspectiva
do estaticista o reconhecimento de paternidade e os contratos de copropriedade do
alojamento familiar substituem o casamento, isto é, o estaticista substitui o estado
matrimonial legal pela situação de facto.

Estatística e tradições nacionais

Um outro sintoma da forma como as estatísticas são marcadas pelas


características do meio social onde são produzidas, pode ser visto ao nível da
diferenciação nacional das práticas institucionais (Cf. Desrosières, 1992). Na verdade,
as estatísticas são aproximadamente as mesmas em qualquer lugar (PNB p.c., taxa. de
desemprego, índice de preços) o que supõe como adquirido o facto dos números
medirem a mesma coisa e portanto serem comparáveis. Contra a ideia de que a
produção de estatísticas é uma simples caixa negra, é importante referir que estas são
tributárias das histórias, das culturas e das estruturas administrativas específicas de
cada país que estão longe de ser idênticas. Tudo isto evidentemente, apesar dos custos
de harmonização dos métodos, dos questionários e das nomenclaturas.
A história das instituições e das técnicas estatísticas demonstra simultaneamente
a universalização e a manutenção das especificidades nacionais.

A produção estatística está ligada à organização do Estado: por este motivo o


sonho da padronização não é totalmente realizável - implicaria harmonizar outras
coisas: os sistemas fiscais, a protecção social, as grelhas salariais, as definições de
emprego, etc. A dificuldade deste facto é patente: a harmonização institucional da
Europa é um investimento cujo custo económico, político e social é grande.

Mas a existência de especificidades nacionais, não deve ser vista apenas como
um enviesamento da universalidade da ciência e como um obstáculo à comparabilidade.
É um material original para comparações de tipo diferente, como se revela na análise de
três tradições exemplares na produção de estatísticas: a inglesa, a alemã e a francesa.

No caso inglês, a existência de um Estado não omnipresente travou o


desenvolvimento de estatísticas exaustivas, como as do Recenseamento que no século
XVIII era visto como um atentado à liberdade individual. Por outro lado, permite um
livre desenvolvimento dos métodos científicos estimulados pela vitalidade do mundo dos
negócios, como é atestado pelo facto de ter sido na Grã-Bretanha que nasceram as
principais técnicas de análise estatística, as quais permitiram contrabalançar a ausência
dos recenseamentos.

O empirismo inglês traduziu-se no Sec. XIX numa corrente “melhorista”,


filantrópica e reformadora. As soluções para os problemas sociais eram procuradas no
quadro local, paroquial. O lançamento de inquéritos sobre as condições de vida nas
grandes cidades, permitiram verificar que os problemas da miséria não eram puramente
locais. Nascem assim, o Estado-Providência e as formas de codificação e inquéritos por
sondagem, de base nacional e não local.

Ainda hoje, a Grã-Bretanha não possui um instituto estatístico centralizado. O


Central Statistical Office é um gabinete de coordenação, de síntese e de estudo, o qual
admite, sem a mesma preocupação demonstrada noutros lugares, uma certa diversidade
dos dados produzidos.

A tradição alemã é sobretudo marcada pelo legalismo, fixando a norma jurídica


de forma precisa os direitos e deveres de cada um.

No caso francês, marcado pelo centralismo, as instituições estatísticas têm forte


legitimidade social, sendo desta forma menos contestadas. Possuem um grande número
de competências e assentam na existência de de um corpo profissional: o corpo de
engenheiros do Estado. Trata-se ainda, do único país, cuja instituição estatística
assegura um ensino próprio.

Um dos factos resultantes da existência de diferentes tradições estatísticas


nacionais, traduz-se na dificuldade de tradução de certos items das nomenclaturas
sociais utilizadas na Grã-Bretanha, EUA, Alemanha e França:

Na Alemanha os Angestellten, são empregados das empresas que historicamente


se organizaram de forma autónoma, para se distinguirem do movimento operário; os
professionals anglo-americanos (são definidos por um nível de instrução superior - com
base na competência técnica. Trata-se de uma herança da meritocracia. Corresponde à
denúncia da aristocracia e da superioridade pelo dinheiro da burguesia; finalmente os
cadres franceses são definidos tanto pela competência técnica como pela posição
hierárquica.
Estas diferenças de modos de classificação não devem ser entendidas como
obstáculos ao conhecimento, mas como factos pertinentes a examinar enquanto tais,
uma vez que são reveladoras das diferentes estruturas da sociedade.

Uma realidade fluída

Esta relação umbilical entre as estatísticas e o meio social de que são imagem,
coloca no momento presente algumas perplexidades. Há quem pense que as mutações
recentes da realidade económica e social põem em causa o sentido e a pertinência duma
parte importante das estatísticas (Cf. Comte: 1992).

Qualquer estatística assenta no postulado duma ligação estreita entre o que é


observável (indicador) e o que se quer conhecer. Parece suceder na sociedade actual que
a ligação entre os factos constatáveis e as suas motivações perdeu a sua força.
Anteriormente as sociedades hierarquizadas assentavam em regras de comportamentos:
era aqui possível utilizar índices sólidos de posicionamento social, os quais
funcionavam como bons preditores de comportamento. Pelo contrário, na sociedade
actual a maior parte dos actos da vida quotidiana escapam a uma codificação precisa.
Os comportamentos tornaram-se, de certa forma, oportunistas: cada um regula o seu
comportamento de acordo com as circunstâncias. Os acontecimentos registados pelas
estatísticas ( actos) perdem em parte o sentido.

Esta situação traduz-se parcialmente na dissolução de alguns dos quadros


tradicionais de observação estatística: tomemos o exemplo do agregado familiar e o do
espaço.

A família clássica define-se como um “conjunto de pessoas que residem no


mesmo alojamento e que têm relação de parentesco (de direito ou de facto)”. Trata-se
de um objecto que proporciona grande comodidade estatística, do ponto de vista da
operacionalidade da construção de amostras, do seu seguimento no tempo e da
possibilidade de georeferenciar a recolha de informação.

A utilização desta unidade estatística tem a virtualidade de permitir referenciar


comportamentos à célula principal da vida social.

Trata-se evidentemente de uma entidade marcada pela crise:

a) por um lado, o alojamento familiar já não é uma entidade tão bem definida:
- marcado por divórcios, re-casamentos, coabitações, presença de crianças
‘alternantes’ conduz o estaticista à necessidade de distinguir entre centro e
periferia do agregado familiar.
b) por outro verifica-se um enfraquecimento da homogeneidade interna do
agregado familiar:
- um sintoma desta situação é o facto da satisfação das necessidades
“colectivas” da família se traduzir por um desenvolvimento de consumos
individuais, ilustrados pela posse múltipla de bens (vários automóveis,
aparelhos hi-fi) ou pela individualização crescente do consumo familiar.

No que respeita ao espaço, pode-se afirmar que a divisão administrativa do


território oferecia um quadro preparado à observação estatística: constituia uma
evidência natural.
Também neste aspecto se insinuou uma crise de contornos ainda algo indefinidos:

a) crise essa que resulta de evoluções como a do progresso da interdependência


internacional e a construção comunitária;
b) do facto dos espaços pertinentes poderem não corresponder aos recortes
administrativos (daí a construção de novas divisões espaciais como as bacias
de emprego, de formação, de vida, aglomeração urbana - e não, cidade);
c) fenómeno mais recente é o da tendencial e parcial substituição das ligações
físicas por ligações imateriais (telemáticas). Aqui, o espaço territorial dá
lugar à noção de rede, mais difícil de estudar.

Conclusão

Perante evoluções deste tipo que dificultam o campo estatístico já de si não isento
de dificuldades e de armadilhas, pode-se afirmar, para concluir, que os estaticistas, sob
condição de saberem recusar uma visão ingenuamente positivista da sua actividade,
estão bem colocados para conhecerem os limites da sua própria actividade.

Julgamos ter contribuido para deixar entrever que, de qualquer forma, a


contribuição que a perspectiva própria das ciências sociais pode fornecer para este
tema, não se deve, nem se pode, limitar simplesmente a uma sociologia da produção
estatística.

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