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RESUMO:
A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO NEUROEVOLUTIVO BOBATH NA PARALISIA CEREBRAL:
INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA DOMICILIAR: O propósito dessa pesquisa foi verificar a
eficácia da utilização do Conceito Neuroevolutivo Bobath no tratamento fisioterapêutico domiciliar, nas
desordens sensório-motoras secundárias à paralisia cerebral. Foi realizado um estudo de caso, onde,
para tal contou-se com a amostra de um indivíduo que recebeu intervenção fisioterapêutica domiciliar
diária, durante trinta e uma sessões. Para fins comparativos e evolutivos, foram utilizadas fichas para
avaliação fisioterapêutica, as quais foram aplicadas na primeira sessão e na trigésima primeira,
juntamente com anotações diárias para registro da evolução clínica do paciente, como também um
depoimento dos pais ao final do programa. No processo de análise qualitativa dos dados, observou-
se ao final das sessões uma evolução no desenvolvimento neuropsicomotor do paciente,
principalmente, nos aspectos relacionados ao tônus muscular, equilíbrio corporal, esquema sensorial,
posições adquiridas, controle cervical e de tronco, bem como maior atenção aos estímulos externos e
a participação progressiva da família. Considera-se que a utilização do Conceito Neuroevolutivo
Bobath na forma de intervenção fisioterapêutica domiciliar possibilitam benefícios no processo de
recuperação do paciente. As dificuldades encontradas durante o período de intervenção
fisioterapêutica domiciliar foram as constantes gripes do paciente bem como suas crises de choro,
tendo muitas vezes que interromper a terapia por alguns minutos.
UNITERMOS:
Conceito Neuroevolutivo Bobath, Fisioterapia, Paralisia Cerebral, Intervenção Fisioterapêutica
Domiciliar.
ABSTRACT:
THE USE OF NDT BOBATH CONCEPT ON CEREBRAL PALSY: PHYSIOTHERAPY HOME
ASSISTANCE: The porpouse of this study was verify the NDT concept efficacy in home physiotherapy
treatment in cerebral palsy. It was done a case study, where, for this, there was a sample with one
subject. He was treated everyday, during thirty one days. For comparative and evolve reaches, it was
used the evaluation card, which were applicaed on first and last section. Furthermore, it was done
daily notes about clinic evolution and it got a parent’s testimony. During qualitative data analyze
process, the results showed that the pacient evaluaed mainly in relationship muscle tono, body
balance, cervical and body control, improve skill on positions and more attention and reply to the
outward incentive and family participation. Consider the NDT concept, on home care assistance,
possibility improvement on recovery process of the pacient. The difficulty found in this study were
about unchangeable influenza of the pacient and crying crisis.
UNITERMS:
NDT concept, physiotherapy, cerebral palsy, home care assistance.
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MÉTODO
Conforme Rudio 2000, a amostra desta pesquisa foi classificada como não-probabilística do
tipo intensional, constituindo-se de uma criança portadora da paralisia cerebral, do sexo masculino,
selecionado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Tubarão-SC, após
autorização e consentimento dos pais. A razão pela qual foi escolhida apenas uma criança, foi devido
às características clínicas e particulares do paciente.
Como instrumentos para a coleta de dados da pesquisa foram utilizados:
1) A ficha para avaliação fisioterapêutica do estágio de pediatria do curso de fisioterapia da
Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), elaborada pela professora Fabiana Durante de
Medeiros, baseada em Bobath, como método comparativo da criança, antes e depois do período de
tratamento;
2) A ficha para evolução com o objetivo de armazenar dados evolutivos clínicos diários do
paciente;
3) O depoimento ao final do programa de intervenção fisioterapêutica como forma de verificar a
satisfação do tratamento, sendo direcionado aos pais da criança.
Nesta etapa da pesquisa adotou-se os seguintes procedimentos:
1) Seleção: dentre as crianças atendidas por mim na aula prática da disciplina de Fisioterapia
Aplicada à Pediatria II do curso de Fisioterapia da UNISUL, realizada na APAE, portadora da paralisia
cerebral;
2) Contato direto com a mãe durante os atendimentos, para a proposta do atendimento
domiciliar e logo após a confirmação do conscentimento por telefone;
3) Visita ao domicílio, procurando observar as condições do ambiente, realizando o primeiro
contato domiciliar com o paciente e realização da avaliação fisioterapêutica em 02/03/2002;
4) Seleção dos materiais a serem utilizados para o tratamento: foram aproveitados materiais da
casa como edredom simulando um colchonete, travesseiro simulando rolo terapêutico, banquinho de
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madeira (mandado confeccionar pela família), brinquedos já utilizados pela criança como carrinhos
coloridos e um piano contendo animais diversos que emitem som característico, calça jeans
simulando rolo terapêutico como também apoio para criança na posição sentada e por fim a utilização
do eretor;
5) Tratamento realizado em média cinco vezes por semana, a domicílio, com duração de uma
hora (conforme a disposição e aceitação do paciente), durante o período de março a abril de 2002;
6) Observação e armazenamento dos dados relativos à evolução diária da criança;
7) Reavaliação fisioterapêutica ao final dos atendimentos no dia 20/04/2002;
8) Transcrição da gravação do depoimento dos pais ao final do programa.
Os dados obtidos através da avaliação fisioterapêutica inicial na ficha para avaliação , das
anotações na ficha para evolução clínica diária do paciente e da reavaliação da criança também na
ficha de avaliação, somando aos dados do depoimento dos pais ao final do programa, foram
apresentados e analisados de forma qualitativa, realizando-se considerações a respeito dos mesmos,
de forma a estabelecer a evolução da criança e a resposta da família durante e após o período de
tratamento.
O CASO
Identificação
Nome: D. da S. P. Data de nascimento: 26/10/1996 Data da avaliação: 02/03/2002
Idade cronológica: 5 anos e 5 meses Idade Motora: 2 meses
Sexo: Masculino Cor: Branca
Naturalidade: Tubarão – SC Nacionalidade: Brasileiro
Pai: S. da S. P. Mãe: N. da S. P.
Número de Gestações: 2 Abortos: 0 Número de filhos: 2
Diagnóstico médico: Paralisia Cerebral por alteração metabólica: Acidemia 3 – hidroxi – 3 metil
glutárica (condição autossômica recessiva rara, causando um distúrbio da oxigenação de ácidos
graxos).
História do Nascimento
História Pregressa
O D. nasceu de parto normal, passando bem logo após o parto. Teve seu
desenvolvimento neuropsicomotor normal até quatro meses e seis dias de idade, adquirindo
normalmente as posturas equivalentes em cada mês. Não possuía nenhuma alteração quando no dia
06 de março de 1997 sofreu três crises epilépticas, seguidas por três internações no Hospital Nossa
Senhora Conceição (HNSC) em Tubarão-SC nos dias 06 de março de 1997, 25 de maio de 1997 e 30
de maio do mesmo ano. A primeira crise epiléptica caracterizou-se por hipotonia generalizada, a
segunda caracterizou-se por crises de risos, e a terceira crise epiléptica caracterizou-se por hipertonia
generalizada. A quarta internação no HNSC foi devida uma septicemia no dia 13 de junho de 1997
sendo então transferido no dia 14 de junho para o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) em
Florianópolis-SC logo após a solicitação dos pais da criança.
História do Desenvolvimento
Estado Atual
Problemas Associados
Atividade Reflexa
Padrões Motores
Em posição supina
Em posição prona
Em posição sentada
Assimetria: presente
Transferência de peso: não frente: não direita: não esquerda: não trás: não
Senta com MMII em extensão: sim Eleva as pernas: não
Alcança objetos: não Lança objetos à distância: não
Passa para gatinhas: não Controle de quadril: não
Senta em cadeira: não Apóia-se com as mãos: não
Postura e movimentos de MMSS: permanece inalterada em relação às posições anteriores
Postura e movimento de MMII: permanece inalterada em relação às posturas anteriores
Observação: Adota esta postura somente com auxílio, apoios e/ou suportes.
Paciente não adota esta postura, não sendo possível sua descrição.
Em posição em pé
Assimetria: presente
Fica com apoio: somente com apoio Fica à vontade na posição de pé: às vezes
Posição de marcha: não deambula;
Transferência de peso: frente: não direita: não esquerda: não trás: não
Equilíbrio: ausente Equilíbrio em pé: ausente
Observação: Paciente adota esta postura somente com auxílio manual ou mecânico através do
eretor.
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Estado Físico
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Equilíbrio Corporal
Esquema Sensorial
Posições Adquiridas
Durante a avaliação inicial, identificou ausência de controle motor voluntário cervical para o
posicionamento da cabeça na posição anatômica juntamente com a ausência do controle do tronco.
Na reavaliação, bem como, no decorrer das sessões, o paciente começou a demonstrar
melhor controle cervical, reagindo a estímulos verbais principalmente. Em relação ao tronco, a
melhora foi apresentada e evidenciada nas posições onde exigiam o controle do mesmo.
Segundo Edwards 1999, os movimentos dos membros ficam comprometidos quando a
mobilidade do tronco está reduzida e o tônus muscular inadequado ou impróprio para possibilitar
ajustes proximais efetivos.
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Estímulos Externos
Devido à familiarização do paciente à terapia somado aos estímulos do terapeuta bem como
da família, notou-se, com o passar das sessões, que o paciente começou a demonstrar maior
interesse, chegando em alguns momentos responder e reagir à estímulos verbais e visuais
Foi a partir daí, então, que os melhores resultados da terapia começaram a aparecer, em
virtude às melhores respostas sensório-motoras do paciente.
De acordo com Shepherd 1996, a influência do meio ambiente sobre a criança parece dotada
de importância clínica, sendo assim o potencial da criança para crescer depende da presença de
adultos dedicados e de um meio estimulante.
No início de forma bem tímida, a irmã tentava acompanhar a terapia sendo que ao longo
das sessões passou a acompanhar de forma definitiva. Já, a mãe sempre acompanhou o paciente,
fazendo questão de participar na prática dos atendimentos. Um fator que chamou atenção foi em
relação ao conhecimento e percepção da mãe às reações e necessidades do paciente antes, durante
e após a terapia.
Considera-se que a participação ativa da família é decisiva para o êxito do programa
terapêutico, sendo a participação ativa dos pais fundamental, quando se trata de melhorar o
desempenho motor, visto que, para a criança aprender o funcionamento motor eficiente para as
diferentes tarefas, tais atos precisam ser treinados, sendo necessário que muitas vezes, o foco de
atenção dos pais e suas expectativas se modifiquem, passando de uma atitude de dependência ao
terapeuta para uma atitude que enfatize a necessidade de ajudar a criança a treinar (SHEPHERD,
1996).
Observou-se que, no presente caso, a família tornou-se fator de primordial importância
pelo fato de estar muito próxima no processo de reabilitação, aceitando sempre todas as orientações
terapêuticas e dedicando-se, integralmente, durante essas trinta e uma sessões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base em vários momentos deste estudo, desde a etapa de contextualização do problema,
do referencial teórico, da metodologia do trabalho e análise e discussão dos resultados, tornou-se
possível à obtenção de importantes considerações finais contemplando, principalmente, os objetivos
específicos desta pesquisa. Sendo assim, considera-se que:
Primeiramente, em relação ao esclarecimento aos pais e outros membros da família, foram
necessários esclarecimentos a respeito da paralisia cerebral, conscientizando-os, quanto às possíveis
manifestações clínicas que possam vir a acontecer em ambiente domiciliar, quanto a procedimentos e
condutas da vida diária (higiene, transporte da criança, manuseio, posicionamento, por exemplo),
além da demonstração da importância de se realizar constantemente a parte da estimulação
sensório-motora.
Observou-se, no que se refere ao atendimento em domicílio, que o terapeuta precisou investir
em criatividade tanto em recursos materiais como em ambiente para atendimento terapêutico,
possibilitando que todas as necessidades do paciente fossem atendidas.
De acordo com a comparação da ficha de avaliação com a evolução clínica do paciente,
evidenciaram-se os principais ganhos do paciente com a terapia, como diminuição do tônus muscular,
equilíbrio corporal, esquema sensorial, posições adquiridas, controle cervical e de tronco, bem como
maior resposta aos estímulos externos.
Complementando-se, através da utilização do Conceito Neuroevolutivo Bobath de forma
domiciliar, confirmou-se melhoria do desenvolvimento neuropsicomotor da criança, possibilitando
também contribuições positivas ao crescimento social e físico. Isso pôde ser exemplificado através do
momento em que o paciente não mais esperava o terapeuta deitado no chão de casa, e sim, no sofá.
Nessa circunstância, seguindo uma orientação dada a família como uma forma para melhorar o
controle cervical do paciente.
Ainda sobre o aplicação do Conceito Bobath, destaca-se os resultados e considerável evolução
clínica conquistados em apenas trinta e uma sessões. Sugere-se que isso se deva à eficiência do
método, ao acompanhamento diário do paciente pelo terapeuta, à relação harmônica entre família-
terapeuta-paciente e, somando-se a esses, o fato de o paciente ser atendido em seu próprio
domicílio.
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Sugestões
Sugere-se que esse estudo faça parte do grupo de estudos que estão contribuindo para
a fundamentação científica e implantação de planos e projetos de extensão comunitária universitária
(ou não) de saúde na família e atendimento em domicilio.
Outra observação que se faz, de carácter sugestivo, é que a proposta de atendimento
apresentada no estudo continue sendo aplicada numa amostra maior e de forma permanente. Com
isso, então, será possível um estudo que apresente um tratamento estatístico, com abordagem de
variáveis qualitativas e quantitativas para que se possa novamente e de forma mais abrangente,
comprovarmos os benefícios do Conceito Neuroevolutivo Bobath no tratamento de crianças com
seqüelas sensório-motoras de paralisia cerebral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBATH, B. Hemiplegia em adultos: avaliação e tratamento. 3. ed. São Paulo: Manole, 2001.
BOBATH, B.; BOBATH, K. Desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral.
São Paulo: Manole, 1989.
BOBATH, K. Uma base neurofisiológica para o tratamento da paralisia cerebral. 2. ed. São
Paulo: Manole, SD.
DAVIES, P. H. Recomeçando outra vez: reabilitação precoce após lesão cerebral traumática ou
outra lesão cerebral severa. São Paulo: Manole, 1997.
MARTINS, S. M. da M. Q.; DEL GUIDICE, A. V. Um novo auxílio para tratar a paralisia cerebral.
Fisio & Terapia, cidade a procurar, n. 28, p. 25-27, ago. 2001.
RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 28. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.