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Alterações da Afetividade

Incluído em 16/02/2005

A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as


emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar
sentimentos e emoções. A Afetividade é quem determina a atitude geral da
pessoa diante de qualquer experiência vivencial, promove os impulsos
motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível,
confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos
que oscilam entre dois polos, a depressão e a euforia.

Desta forma, a Afetividade é quem confere o modo de relação do indivíduo à


vida e será através da tonalidade de ânimo que a pessoa perceberá o mundo e
a realidade. Direta ou indiretamente a Afetividade exerce profunda influência
sobre o pensamento e sobre toda a conduta do indivíduo.

O estado psíquico global com que a pessoa se apresenta e vive reflete a sua
Afetividade. Tal como as lentes dos óculos, os filtros da Afetividade fazem com
que o sol seja percebido com maior ou menor brilho, que a vida tenha
perspectivas otimistas ou pessimistas, que o passado seja revivido como um
fardo pesado ou, simplesmente, lembrado com suavidade. Interfere assim na
realidade percebida por cada um de nós, mais precisamente, na representação
que cada pessoa tem do mundo, de seu mundo.

Podemos pensar na Afetividade como o tônus energético capaz de impulsionar


o indivíduo para a vida, como uma energia psíquica dirigida ao relacionamento
do ser com sua vida e o humor necessário para conferir uma determinada
valoração às vivências. A Afetividade colore com matizes variáveis todo
relacionamento do sujeito com o objeto, faz com que os fatos sejam
percebidos desta ou daquela maneira e que despertem este ou aquele
sentimento.

Estado Afetivo (momentâneo)


Há sempre um ESTADO AFETIVO MOMENTÂNEO para cada pessoa, um tônus
afetivo neste exato momento atribuindo os devidos valores às vivências, seja a
tristeza na tragédia ou a alegria na comédia, em condições normais. Este
estado afetivo momentâneo é variável de momento para momento numa
mesma pessoa; ora o humor está mais elevado, ora mais rebaixado. Um
mesmo fato que nos parece demasiadamente desagradável no meio do dia
poderá parecer muito mais ameno à noite, ou uma mesma brincadeira que nos
fez rir ontem poder nos irritar hoje. Nestes casos não estaria havendo variação
ou mudança nos fatos, mas sim na representação deles, segundo os "filtros"
do afeto.
O desenho abaixo (Figura 1) simboliza um túnel onde a Afetividade
Momentânea oscila entre as posições a, b e c, ou seja, respectivamente entre
estar o afeto rebaixado (deprimido), normal e elevado (eufórico),
respectivamente. Entretanto, essa oscilação dá-se dentro de determinados
limites (as paredes do túnel). Esse túnel, mais precisamente o seu diâmetro
representa a Tonalidade Afetiva Básica. No Transtorno Afetivo Bipolar esse
túnel teria um diâmetro muitíssimo grande, ou seja, permitiria que o afeto
oscilasse entre o estado profundamente deprimido e exageradamente eufórico.

Figura 1

Dentro da Tonalidade Afetiva (túnel do desenho da Figura 1) podem haver


variações quantitativas da Afetividade Momentânea mas, em condições
normais, essas variações não são infinitas numa mesma pessoa, ou seja,
haverá variações dentro de limites estabelecidos por um determinado perfil
constitucional. Em decorrência deste perfil constitucional, cada indivíduo terá
suas possibilidades individuais de variação, de tal forma que o entusiasmo
maior de uns não corresponde ao mesmo entusiasmo máximo de outros, ou o
abatimento máximo de uns será diferente do abatimento máximo de outros.

Tonalidade Afetiva (básica)


Se fosse possível representar graficamente a Tonalidade Afetiva Básica e o
Estado Afetivo Momentâneo das pessoas, seria algo parecido como a figura de
túneis, representando a Afetividade Básica, dentro de cujos limites oscilaria a
Afetividade Momentânea. Esta poderia em determinados momentos situar-se
na parte mais rebaixada do túnel e, em outros, na parte mais elevada, porém,
sem abandonar os limites estabelecidos por este túnel. Cada indivíduo tem seu
túne" situado mais alto ou mais baixo, ou seja, para uma personalidade cujo
túne" encontra-se num nível superior, caso sua Afetividade Momentânea esteja
a mais rebaixada possível, mesmo assim não será tão baixa quanto a
afetividade de uma outra personalidade cujo túne está situado em posição
mais inferior. Para melhor entendimento vejamos o exemplo gráfico a seguir,
onde há túneis de grande diâmetro, ou seja, que permitem uma oscilação
extremada da Afetividade, e outros situados em diferentes níveis.
Figura 2

Este perfil de possibilidades de variação da Afetividade, estipulado pelas


características da personalidade de cada um, pode ser entendido como a
"marca registrada" da Afetividade Básica do indivíduo e é chamada de
TONALIDADE AFETIVA BÁSICA. Resumindo, podemos dizer que a Afetividade
Momentânea é a afetividade variável, dentro dos limites estabelecidos pela
Tonalidade Afetiva Básica de cada um.

Podemos perceber as características da Tonalidade Afetiva se tomarmos como


referência, por exemplo, um dos traços da personalidade: a introversão ou a
timidez. As pessoas que conhecemos como introvertidas ou tímidas
dificilmente se nos apresentarão, um belo dia, completamente desinibidas e
expansivas. Poderão estar, dependendo das circunstâncias vivenciais e de sua
Afetividade Momentânea, mais tímidas ou menos tímidas, extrovertidas,
porém, nunca. Da mesma forma os extrovertidos ou expansivos poderão,
dependendo do momento, apresentar-se mais eufóricos ou discretamente
aborrecidos, muito depressivos jamais. Há, por outro lado, situações peculiares
de personalidade que permitem oscilações extremadas da Afetividade, tal qual
nos indivíduos chamados ciclotímicos.

Os afetos expressam todas as nuances do desejo, do prazer e da dor e todas


estas nuances permeiam nossa experiência sensível, sob a forma daquilo que
chamamos sentimentos vitais, humor e emoções.

O humor ou tonalidade afetiva momentânea (ou afetividade momentânea),


consiste na soma total dos sentimentos presentes na consciência em dado
momento acompanhando os processos intelectuais (percepções,
representações, conceitos) neste determinado momento e que varia de acordo
com as circunstâncias. Os estados de consciência estão a todo instante
impregnados por esta tonalidade afetiva, pois todo ato psíquico encerra desde
a sua origem numa tonalidade afetiva. No estado de ânimo há a confluência de
uma vertente somática e de uma vertente psíquica, que se unem de maneira
indissolúvel para dar, como conseqüência, um colorido especial à vida psíquica
momentânea.

p>O estado afetivo momentâneo da pessoa, como por exemplo a alegria, o


bem estar, júbilo, felicidade, inquietação, angústia, tristeza, desespero etc.,
depende das circunstâncias pessoais da vida, dos desejos atuais, das
inclinações etc., e especialmente da saúde física. Muitas alterações
desfavoráveis do estado afetivo são perfeitamente compreensíveis e refletem
respostas adequadas aos motivos psicológicos causais, como, por exemplo, a
morte de um parente, uma enfermidade grave, um acidente, um rompimento
amoroso e assim por diante.
Sentimentos
Segundo Kurt Schneider, um dos componentes principais do estado de ânimo é
o sentimento geral de maior ou menor vitalidade que se encontra ligado a
múltiplas sensações subliminares procedentes de diferentes órgãos ou regiões
do corpo. O humor é vivido corporalmente e está unido à própria
corporalidade. É exemplo disso o humor eufórico do paciente maníaco, o qual
sente o seu próprio corpo como flutuante, infatigável e cheio de vigor,
enquanto o depressivo sente-o como apagado, pesado, fraco, decaído e
murcho. O estado de ânimo depende consideravelmente das condições
vegetativas do organismo e, de modo especial, de uma função que tem o seu
centro no diencéfalo, à qual se dá o nome de função tímica.

Enquanto o humor tem uma representação corpórea mais pronunciada, o


sentimento aparece como um estado afetivo mais atenuado, estável,
duradouro e organizado com maior riqueza e complexidade. Kurt Schneider
considera os sentimentos como estados do eu que não podem ser controlados
pela vontade e que são provocados por nossas representações, pelos estímulos
procedentes do mundo exterior ou por alterações sobrevindas no interior do
organismo. Uma classificação dos sentimentos com base em sua estratificação
foi estabelecida por Max Scheler, que os diferencia em quatro grupos:

1) sentimentos sensoriais;
2) sentimentos vitais;
3) sentimentos anímicos ou psíquicos, considerados como sentimentos do eu;
4) sentimentos espirituais ou da personalidade.
Os sentimentos sensoriais se encontram muito próximos da corporalidade,
estão localizados em determinadas partes sensíveis do corpo e se representam
tais como a dor e o prazer. Esses sentimentos são mais abrangentes e não
devem ser confundidos com as sensações simples dos cinco sentidos. Os
sentimentos sensoriais têm algumas características especiais: atualidade,
localização, funcionam como sinal, no sentido de que algo está ocorrendo, não
têm duração definida e falta-lhes a intencionalidade, o que não ocorre com os
sentimentos superiores.

Os sentimentos vitais, tais como o bem-estar e o mal-estar, o sentimento de


saúde ou de enfermidade, os sentimentos de vida ascendente ,ou
descendente, a calma e a tensão, a alegria, a tristeza e a angústia não
espiritual, pertencem ao organismo como totalidade. Ao contrário dos
anteriores, os sentimentos vitais não estão localizados corporalmente, neles
existe continuidade, duração e intencionalidade.
Os sentimentos anímicos ou psíquicos pertencem ao eu e são formas
sentimentais reativas diante do mundo exterior. A tristeza e a alegria
intencionais e reativas são claramente formas de sentimentos anímicos. A
pessoa pode tornar-se triste ou alegre em conseqüência de uma notícia, o que
demonstra, neste caso, a participação ativa do eu. Os sentimentos anímicos,
então, não estão ligados à percepção, mas sim ao sentido, ao significado e
representação daquilo que é percebido. Tristeza e alegria são uma modalidade
do eu, e são sentimentos vitais, quando provenientes do fundo endotímico ou
afetivo.

Por último, os sentimentos espirituais. Trata-se de sentimentos relativos ao


núcleo da personalidade e à sua atitude afetiva diante de determinada
situação. Esses sentimentos derivam do núcleo de sua personalidade, do
próprio eu, e ocasionam o sentido pleno dos sentimentos, assim como as
tendências valorativas da pessoa. O desespero, o remorso, a paz, o amor, o
arrependimento, o perdão e a serenidade espiritual são exemplos deste
sentimento sublime e supremo.

Hipertimia (afetos expansivos)


Na propedêutica dos Distúrbios da Afetividade, os Afetos Expansivos são
considerados por alguns autores como afetos agradáveis. Isso, em
contraposição aos afetos depressivos, considerados como desagradáveis. A
tonalidade afetiva dos estados expansivos é de prazer, confiança e felicidade,
daí a denominação de afetos agradáveis. Genericamente, o estado afetivo
expansivo e conhecido como EUFORIA.

Na hipertimia ou estado de ânimo morbidamente elevado distinguem-se a


euforia e a exaltação afetiva. A euforia simples se traduz por um estado de
completa satisfação e felicidade. Verificam-se elevação do estado de ânimo,
aceleração do curso do pensamento, loquacidade, vivacidade da mímica facial,
aumento da gesticulação, riso fácil e logorréia. A euforia simples é observada
nos indivíduos predispostos constitucionalmente e, em sua forma pura, na fase
maníaca, da psicose maníaco-depressiva, nos estados hipomaníacos, na
embriaguez alcoólica, na demência senil e na paralisia geral. Na epilepsia,
podem-se verificar estados de euforia simples, nas crises de automatismos
mímicos, em geral de duração rápida, que se manifestam por acessos ou crises
agudas.

O paciente eufórico apresenta uma postura psíquica de otimismo exagerado,


sentimento de plenitude e bem estar acima do normal, confiança em si mesmo
aumentada e uma sólida segurança. Encontramos este estado de Euforia nos
pacientes maníacos e hipomaníacos, conforme veremos ao estudarmos as
entidades nosológicas.

O estado expansivo do humor pode aparecer como reação emocional à alguma


vivência muito agradável, uma espécie de Reação Vivencial Eufórica a nível de
uma SITUAÇÃO REAL. Nestes casos falamos em EXALTAÇÃO; reações
exuberantes que se rompem em explosões de transbordamento de alegria,
reconhecidamente exagerados, mas compreensivas diante da vivência causal.
A Exaltação de um indivíduo que, por exemplo, ganha um prêmio ou é
promovido no emprego, normalmente se traduz por hiperatividade
psicomotora, taquipsiquismo, verborragia, anorexia, insônia, hilaridade e
alegria transbordante. Portanto, manifesta-se como uma reação compatível
mas desproporcional ao evento causador.

Os estados de Euforia podem, por outro lado, surgir sem que tenha havido
uma situação real causadora. O humor é expansivo à nível de SITUAÇÕES
ANÍMICAS, tal qual nas experiências delirantes de teor místico ou de
beatificação, onde o Delírio tem como tema uma fantasia que proporciona bem
estar ao paciente. Nestes casos, o tônus afetivo é ainda mais expansivo que na
Exaltação e pode ser denominado de ÊXTASE. O êxtase é caracterizado por
um peculiar e delicioso senso superior, um desprendimento das coisas
materiais e a posse de algum tipo de poder incomum, às vezes, uma grande e
irreal religiosidade. Pode aparecer em pacientes psicóticos, delirantes ou
personalidades predispostas à idéias supervalorizadas.

Os pacientes portadores deste estado de êxtase experimentam um grande bem


estar e suas faces denotam um júbilo indisfarçável. Nestas situações
imaginárias, normalmente conseqüentes à idéias delirantes, deliróides ou
supervalorizadas, os limites entre o pensamento lógico e mágico são tênues ou
rompidos. Seu extremo patológico pode ser exemplificado pela esquizofrenia e,
na extremidade limítrofe, pelo fanatismo.

Finalmente os estados eufóricos podem manifestar-se em resposta aos


SENTIMENTOS VITAIS, via de regra emancipados causalmente dos fatores
vivenciais-ambientais. É uma afetividade que brota do interior do ser e, por
isso, independe das situações reais ou imaginárias. Trata-se de uma força
interior profundamente arraigada à personalidade. Nestes casos os pacientes
irradiam deleite e autoconfiança, apresentam hiperatividade motora intensa,
excesso de alegria e hilaridade irradiante. Trata-se da ELAÇÃO. Na ELAÇÃO há
um transbordamento dos sentimentos instintivos e um afastamento mais
acentuado da realidade. Todos acontecimentos são recebidos com exagerada
satisfação e felicidade pelo paciente, o qual, julga-se completamente imune
aos acontecimentos negativos, mantém uma certa intimidade com divindades
cósmicas e comporta-se destemidamente diante de qualquer desafio.

O Afeto Expansivo, ou seja, os Estados Eufóricos tomados isoladamente não


podem ser considerados patognomônicos de nenhuma doença mental
específica, mas compõem o quadro sintomático de diversas patologias. Podem
fazer parte do quadro de Transtornos Afetivos Bipolares em fase maníaca, de
Psicoses Esquizofrênicas ou de Transtornos da Personalidade. Algumas vezes
aparecem nas intoxicações agudas por drogas ou em Psicoses induzidas por
elas. Isso tudo não inviabiliza o aparecimento da Euforia em outros estados
psíquicos, mesmo em casos de morbidade duvidosa.
Na exaltação patológica há não só euforia mas, também, aumento da
convicção do próprio valor pessoal e das aspirações. É acompanhada de
aceleração do curso do pensamento, que pode chegar à fuga de idéias, desvio
da atenção e certa facilidade para passar rapidamente do pensamento à ação.
Pode haver labilidade ou instabilidade afetiva desses pacientes se traduz pela
extrema facilidade com que eles passam da euforia à tristeza ou à cólera. O
estado de ânimo nesses casos é chamado de distimia expansiva. Nos estados
de exaltação patológica os pacientes dão a impressão de serem mais jovens,
há aumento do vigor geral, manifestações de apetite voraz e de excitação
sexual, insônia, grande facilidade dos movimentos expressivos e tendência
irresistível à ação.

Hipotimia (depressão)
Na hipotimia ou depressão, verifica-se o aumento da reatividade e
sensibilidade para os sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o
simples mal-estar até ao estupor melancólico. Caracteriza-se, essencialmente
por uma tristeza profunda, normalmente imotivada, que se acompanha de
lentidão e inibição de todos os processos psíquicos. Em suas formas leves, a
depressão se revela por um sentimento de mal-estar, de abatimento, de
tristeza, de inutilidade e de incapacidade para realizar qualquer atividade.

Os pacientes hipotímicos estão dominados por um profundo sentimento de


tristeza imotivada. No doente deprimido, as percepções são acompanhadas de
uma tonalidade afetiva desagradável: tudo Ihe parece negro. Os doentes
perdem completamente o interesse pela vida. Nada lhes interessa do presente
nem do futuro e, do passado, são rememorados apenas os acontecimentos
desagradáveis. As percepções são lentas, monótonas, descoloridas. Ao
paciente parece que os alimentos perderam o sabor habitual. Nos estados
depressivos, as ilusões são mais freqüentes do que as alucinações.

As idéias deliróides nos pacientes hipotímicos são comuns, expressando


geralmente idéias de culpa, de indignidade, ruína, pecado e de auto-acusação.
O pensamento é lento e o próprio ato de pensar é acompanhado de um
sentimento desagradável. O conteúdo do pensamento exprime motivações
dolorosas. O paciente é incapaz de livrar-se de suas idéias tristes pela simples
ação de sua vontade ou dos "pensamentos positivos", como se diz.

O quadro clínico do estado afetivo depressivo é caracterizado pela inibição


geral da pessoa, pela baixa performance global refletida pela lentidão e
pobreza dos movimentos, pela mímica apagada, pela linguagem lenta,
monótona e pelas dificuldades pragmáticas.

Os sintomas somáticos são bastante evidentes nos pacientes hipotímicos. Os


distúrbios vasomotores se traduzem em mãos frias, algumas vezes pálidas e
cianosadas, pela palidez dos lábios e hipotermia. São freqüentes os espasmos
ou dilatações vasculares, com conseqüente oscilação da pressão arterial. Os
pacientes deprimidos dão-nos a impressão de mais velhos. As perturbações
digestivas também são constantes, a língua pode se apresentar saburrosa, há
alterações do apetite, tanto com inapetência quanto com hiperfagia e
constipação intestinal. Os distúrbios circulatórios ocasionam um sentimento
subjetivo de opressão na região cardíaca, causando a chamada angústia
precordial.

Em determinados casos, sob a influência de fatores externos ou em


conseqüência de causas internas temporárias, a depressão pode aumentar de
modo considerável, determinando um estado de excitação ansiosa. Quando o
paciente, não encontra solução para seu sofrimento costuma pensar no
suicídio.

A depressão patológica é um dos sintomas fundamentais do Transtorno Afetivo


Bipolar, em sua fase depressiva. Estados depressivos também podem ser
observados em todas as psicoses e neuroses. No Transtorno Afetivo Bipolar,
entretanto, a depressão tem uma origem ligada a fatores afetivos internos
(sentimentos vitais), que escapam à compreensão do doente e de seus
familiares.

Nas Distimias, nas Reações Agudas ao Estresse e nas neuroses de modo geral,
a depressão costuma ser mais reativa, isto é, mais psicogênica (mais anímica
que vital), originando-se de situações psicologicamente compreensíveis e de
experiências desagradáveis. A anormalidade do sentimento depressivo nesses
quadros psicogênicos está na intensidade e na duração desse afeto em
comparação às pessoas normais e não em sua qualidade, como acontece nos
Transtornos Afetivos Bipolares.

O termo Depressão, mais comumente usado que Hipotimia, pode significar um


sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios emocionais sem ser exclusivo de
nenhum deles, pode significar uma síndrome traduzida por muitos e variáveis
sintomas somáticos ou ainda, pode significar uma doença, caracterizada por
marcantes alterações afetivas. Portanto, não está errado dizer que o termo
Depressão seja por demais descritivo e muito pouco explicativo. Há sempre
uma estranha expectativa do público ao ouvir, do psiquiatra, com freqüência,
que isso ou aquilo é Depressão, sem muito zelo com maiores explicações sobre
este misterioso fenômeno.

O público está certo, ao estranhar a ostensiva e constante presença desta tal


Depressão em quase tudo que diz respeito à transtornos emocionais e, os
psiquiatras, não estão menos certos ao procurarem descobrir uma ponta de
Depressão em quase tudo que lhes aparece pela frente. Do ponto de vista
semiológico, seria extremamente fácil e cômodo se a Depressão fosse
caracterizada, exclusivamente, por um rebaixamento do humor com
manifestação de tristeza; coisa que até o amigo íntimo, o vizinho ou o dono da
padaria da esquina poderiam diagnosticar. Entretanto, não se trata de saber se
o paciente tem ou não Depressão, mas sim, o que exatamente ele faz com a
sua Depressão, mais precisamente, de que forma este transtorno afetivo nele
se manifesta.
Os afetos depressivos, da mesma forma como dissemos dos afetos expansivos,
podem aparecer como uma resposta a SITUAÇÕES REAIS, através de uma
Reação Vivencial depressiva, quando diante de fatos desagradáveis,
aborrecedores, frustrações e perdas. Trata-se, neste caso, de uma resposta a
conflitos íntimos e determinados por fatores vivenciais. Daí denominação
DEPRESSÃO REATIVA, ou seja, em reação a alguma coisa real e acontecida,
à uma fonte exógena que pode ser casualmente relacionada àquela reação.

Esta Depressão Reativa, embora compreensiva por tratar-se de uma reação


afetiva à uma vivência desagradável, não deve ser entendida como normal e
fisiológica mas apenas compreensível. Diante de fatos desagradáveis podemos
esperar, fisiologicamente, a tristeza e não a Depressão e, quanto à isso, não
devemos fazer nenhuma confusão. Esta última, a Depressão, deve ser uma
denominação reservada para as Reações Vivenciais Anormais proporcionadas
por circunstâncias vivenciais desagradáveis, ou seja, reações desproporcionais
em quantidade, qualidade e temporalmente ao agente causal. Os sentimentos
de tristeza que normalmente acompanham situações frustrantes são
diferenciados da Depressão por não comportarem a tríade sintomática de
Inibição Psíquica, Estreitamento de Campo Vivencial e Sofrimento Moral.

A Depressão pode aparecer ainda acompanhado, ou aparentemente motivada,


por SITUAÇÕES ANÍMICAS. Neste caso, certas perspectivas futuras, certos
anseios e objetivos de vida estão representados intrapsiquicamente de maneira
negativa. Há um sentimento depressivo associado às conjecturas irreais de tal
forma que o panorama atual dos acontecimentos e a expectativa do porvir são
funestamente valorizados. Sofre-se por aquilo que não existe ainda ou, muito
possivelmente, nem existirá. Um exemplo disso é a depressão experimentada
diante da possibilidade da perda de um emprego, ou da perspectiva de vir a
sofrer de grave doença e assim por diante.

Evidentemente, não se trata aqui, de que tais perspectivas sombrias estejam a


alimentar a Depressão, mas muito pelo contrário, ou seja, a Depressão é quem
confere um significado lúgubre às possibilidades do futuro. Não se pode
acreditar que, neste caso, exista uma relação causal vivencial solidamente
vinculada à Depressão, pois, de qualquer forma, as situações referidas como
promovedoras e alimentadoras da Depressão não aconteceram ainda. Em
outros termos e de acordo com que se sabe sobre Reações Vivenciais (vide
adiante), falta o elemento estressor, o qual existe apenas na imaginação do
paciente. Portanto, é lícito pensar já numa Depressão mais profundamente
arraigada no ser, a qual, embora atrelada à personalidade, utiliza os elementos
vivenciais apenas para nutrir sua necessidade de sofrimento (uma vez que,
ainda não aconteceram concretamente).

Há, finalmente, casos de Depressão procedentes de um temperamento


francamente depressivo ou seja, a nível de SENTIMENTOS VITAIS. São,
neste caso, transtornos da afetividade emancipados dos elementos vivenciais
quanto à causalidade. Isso não impede que sejam desencadeados por
vivências traumáticas. Trata-se de uma Tonalidade Afetiva Básica rebaixada e,
evidentemente, talhada à reagir sempre depressivamente à vida.

As pessoas que se encontram depressivas durante uma fase de suas vidas,


cujo contexto vivencial sugere-nos uma circunstância sofrível, quer como
conseqüência de um fato único, quer como uma somatória de fatos
traumáticos sucessivos, sem que possamos detectar um temperamento
depressivo prévio, provavelmente estarão apresentando uma Depressão
Reativa. Neste caso, esta reação depressiva não pode ser tida como
decorrência de uma Tonalidade Afetiva Depressiva de Base, mas como uma
resposta emocional à uma circunstância de vida. Daí empregar-se,
antigamente, a denominação de DEPRESSÃO EXÓGENA, ou seja, dependente
de fatores externos à personalidade da pessoa. Depois de estabelecido nesta
pessoa o estado depressivo, ainda que, conseqüente a fatores reais e externos
à sua personalidade, tudo mais em sua vida parecerá depressivo, até que saia
desta fase afetiva. Assim sendo, poderá também ser pessimista quanto à sua
situação futura, portanto, depressivo quanto à Situações Imaginárias.

Da mesma forma, os pacientes portadores de Tonalidade Afetiva Depressiva de


Base, por possuírem um temperamento previamente depressivo,
independentemente dos fatos vividos, sempre estarão tingindo de negro suas
perspectivas futuras. São portadores da, anteriormente denominada,
DEPRESSÃO ENDÓGENA e, como se viu, relacionada não apenas ao
Sentimentos Vitais como também às Situações Imaginárias.

A questão em se saber a natureza endógena ou exógena do estado depressivo,


hoje em dia, parece não despertar o mesmo interesse de antes. Os indivíduos
com características afetivas depressivas (anteriormente denominados de
depressivos endógenos) reagirão sempre aos estímulos da vida de uma forma
consoante ao seu afeto depressivo, portanto, dando-nos a falsa impressão de
apresentarem Depressão Reativa: a maioria dos eventos, para eles, terá uma
conotação negativa. Por outro lado, a clínica tem mostrado, com freqüência,
determinadas vivências bastante suportáveis para alguns, ocasionando, em
outros, verdadeiras Reações Depressivas. Isso nos sugere que tal Reação
Depressiva não deve ser legada apenas aos elementos vivenciais.

No fundo, considerando o estado afetivo no qual o indivíduo se encontra no


momento, tem sido tarefa muito penosa estabelecer a natureza de sua
Depressão. Nestes casos, recorremos quase sempre à personalidade pregressa
do paciente; se a tonalidade afetiva era, anteriormente, depressiva, há
possibilidade deste estado depressivo atual ser de natureza endógena, mas
mesmo assim não será uma implicação obrigatória.

Outras vezes, também de acordo com exemplos cotidianos da prática clínica,


personalidades previamente bem adaptadas e sugerindo uma boa adequação
afetiva poderão, não obstante, apresentar fases de profunda Depressão sem
motivação vivencial. Procura-se, nestes casos de depressão sem motivação
ambiental ou, talvez, em atenção a um conforto do terapeuta, justifica-la como
decorrência da eventual somatória de vivências passadas. Certeza disso,
entretanto, ninguém pode ter.

A psicopatologia recomenda como válido a existência de apenas três sintomas


depressivos clássicos e suficientes para sua detecção, no entanto, estes
sintomas podem manifestar-se de infinitas maneira nas diversas pessoas.
Trata-se, esta tríade, da Inibição Psíquica, do Estreitamento do Campo
Vivencial e do Sofrimento Moral. Compete à sensibilidade do observador,
relacionar um sentimento, uma conduta, um pensamento ou um determinado
sintoma como sendo uma tradução pessoal e individual de um desses três
sintomas básicos da Depressão, tradução esta adequada a disposição pessoal
da personalidade de cada um.

< aname="inibição">A- Inibição Psíquica


Inibição Psíquica é uma espécie de freio ou lentificação dos processos psíquicos
em sua globalidade, uma dormência generalizada de toda a atividade mental.
Em graus variáveis, esta inibição geral torna o indivíduo apático,
desinteressado, lerdo, desmotivado, com dificuldade em suportar tarefas
elementares do cotidiano e com grande perda na capacidade em tomar
iniciativas. O campo da consciência e da motivação estão seriamente
comprometidos, daí a dificuldade em manter um bom nível de memória, de
rendimento intelectual, da atividade sexual e até da agressividade necessária
para tocar adiante o dia-a-dia.

Percebe-se os reflexos desta inibição global inclusive na atividade motora,


bastante diminuída, e até na própria expressão da mímica, através da
aparência de abatimento e de desinteresse. Esta Inibição Psíquica tem sido a
responsável pelo longo itinerário que tais pacientes percorrem antes de se
acertarem com um tratamento psíquico. Começam pensando tratar-se de
anemia, fraqueza, problema circulatório, depois passam a tratamentos
alternativos de macrobiótica, yoga, tai-chi-chuam, submetem-se a passeios de
gosto duvidoso levados por amigos bem intencionados e, muitas vezes,
consultam até um neurologista. É o mais próximo que chegam da mente,
provavelmente por considerarem que "nervoso" é uma doença ruim que só dá
nos outros.

Diante da Inibição Psíquica da Depressão, uma das primeiras atitudes é


submeter-se a algum exame de sangue, depois inúmeras radiografias.
Normalmente a causa psíquica é a última a ser questionada, embora seja a
primeira que se faz sentir. Os que rodeiam o paciente portador de Inibição
Psíquica são solícitos em lembrá-lo de que a vida é boa, ressaltam que nada
lhes falta, que gozam de saúde, não são ricos mas tem gente em pior situação,
pertencem a uma família decente e compreensiva... O paciente, por outro lado,
não sendo um retardado mental, sabe de tudo isso e as palavras estimulantes
apenas aumentam sua perplexidade e seu aborrecimento consigo próprio. A
Inibição Psíquica é secundária à Depressão, um sintoma decorrente da
Depressão e não uma doença que corrompe o juízo crítico, tornando os
pacientes completamente desorientados em relação às condições de vida ou
familiar. Para tratá-la, de fato, deveremos abordar o problema de base, ou
seja, abordar a Depressão.

B- Estreitamento do Campo Vivencial


O estreitamento do Campo Vivencial não pode ser diferenciado totalmente da
Inibição Psíquica. A palavra mais adequada para designar este fenômeno é
ANEDONIA, ou seja, a incapacidade em sentir prazer. Acontece que o
deprimido destina a maior parte de sua energia psíquica para a manutenção da
Depressão. Vale aqui o ditado de que a alegria consome-se em si própria e a
depressão alimenta-se a si mesma. Esta destinação da energia psíquica para a
manutenção da Depressão faz com que faltem forças para a manutenção do
ânimo para todo panorama existencial.

O universo vivencial do deprimido vai sendo cada vez menor e mais restrito e a
preocupação com seu próprio estado sofrível toma conta de todo seu interesse
vivencial. Não há ânimo suficiente para admirar um dia bonito, para interessar-
se na realização ocupacional, para degustar uma boa bebida, para deleitar-se
com um filme interessante, para sorver uma boa companhia, para incrementar
sua discoteca, enfim, em seu rol de ocupações só existe a preocupação consigo
próprio. Nada mais lhe dá prazer, nada mais pode motivá-lo.

Neste caso o campo vivencial fica tão estreitado que só cabe o próprio paciente
com sua Depressão, o restante de tudo que a vida pode lhe oferecer não mais
interessa. Enquanto a Inibição Psíquica pode ser entendida como aspectos
mais exteriores do relacionamento do indivíduo com o mundo, como uma
espécie de prejuízo em seu rendimento de relacionamento, o Estreitamento do
Campo Vivencial, por sua vez, denota uma alteração mais interiorizada, um
prejuízo nas impressões que os objetos causam no sujeito. Um é centrífugo o
outro centrípeto.

C - Sofrimento Moral
O Sofrimento Moral, ou sentimento de menos-valia, é o fenômeno mais
marcante e mais desagradável na trajetória do depressivo. É um sentimento
de autodepreciação, autoacusação, inferioridade, incompetência,
pecaminosidade, culpa, rejeição, feiúra, fraqueza, fragilidade e mais um sem-
número de adjetivos autopejorativos. Evidentemente, tais sentimentos
aparecem em grau variado; desde uma sutil sensação de inferioridade até
profundos sentimentos depreciativos.

Quando a Depressão adquire características psicóticas o Sofrimento Moral pode


ser traduzido sob a forma de delírios humor-congruentes. Um judeu, psicótico
depressivo, durante uma de suas crises de depressão profunda apresentava
um pensamento francamente delirante, o qual dava-lhe a certeza de ter parte
de seu cérebro apodrecido. Outrossim, julgava-se culpado por ter ingerido,
contra os preceitos de sua religião, carne suína há mais de 15 anos atrás. Uma
espécie de punição divina aplicada ao pecador incauto.
O prejuízo da auto-estima proporcionado pela Depressão pode ainda,
dependendo da intensidade, determinar uma ideação claramente paranóide,
onde a culpa adquire uma posição destacada. Para fins de diagnóstico, deve-se
ter em mente que nas psicoses esquizofrênicas, onde freqüentemente aparece
a ideação paranóide, a auto-estima não se encontra perturbada como nos
estados depressivos psicóticos. Esta observação pode auxiliar o diagnóstico
diferencial entre uma depressão com sintomatologia psicótica (ideação
deliróide) e uma psicose esquizofrênica (com delírios)

O Sofrimento Moral deve, ainda, ser considerado como o sintoma mais


responsável pelo desfecho suicida das depressões severas. Aparece como uma
prova doentia da incompetência do ser, de seu fracasso diante da vida e de
sua falência existencial. Enquanto nos estados eufóricos a auto-estima
encontra-se patologicamente elevada e as idéias de grandeza proporcionam
uma aprazível sensação de bem-estar ao paciente, na Depressão, através do
Sofrimento Moral, coloca-se numa das posições mais inferiores entre seus
semelhantes.

Apatia (indiferença afetiva)


Bleuler salienta, com muita razão, que a Apatia Afetiva no sentido de que a
afetividade esteja completamente abolida, não se observa nunca em nenhuma
psicose, entretanto, a diminuição do afeto é um sintoma constante em várias
enfermidades mentais. Na esquizofrenia, por exemplo, os autores antigos
admitiam a existência de um "embotamento afetivo", no sentido de uma
derrocada completa da afetividade. Observações posteriores revelaram que o
que se verifica, na realidade, é uma alteração qualitativa dos processos
afetivos, tornando os sentimentos dos esquizofrênicos inadequados e
inteiramente incompreensíveis para as pessoas afetivamente normais. Os
pacientes se conservam apáticos e indiferentes diante de situações emocionais
ou se manifestam alegres ante acontecimentos que, normalmente, provocam
tristeza.

Indiferença afetiva e uma completa ausência de "sensibilidade moral" são


observadas em certas personalidades anti-sociais (psicopáticas),
especialmente naqueles indivíduos os quais Kurt Schneider chamava de
"psicopatas insensíveis". Diz Schneider que esses pacientes "são indivíduos
destituídos absolutamente de compaixão, de vergonha, de sentimento de
honra, de remorso e de consciência". A indiferença afetiva revelada por certos
criminosos habituais pode até conduzir ao erro de considerá-los como
esquizofrênicos.

Bonhoeffer deixou uma descrição muito viva da apatia afetiva reveladas por
alguns delinqüentes, os quais suportam estoicamente uma completa
inatividade diante de situações que se tornariam desagradáveis ou
insuportáveis para um indivíduo são. Em primeiro lugar, o simples não fazer
nada, que se torna tão desagradável às pessoas normais, persiste e pode durar
meses seguidos nessas pessoas, sem que nem por um instante sequer revelem
alguma iniciativa ou manifestem verdadeiro desejo de trabalhar. Esse estado
de apatia, de indiferença emocional, se assemelha a certos casos de falta de
afetividade dos hebefrênicos.
Assim sendo, Isaías Paim acha que, acompanhando Schneider, a indiferença
afetiva real, como uma incapacidade para sentir emoções delicadas, só é
observada nessas personalidades) psicopáticas insensíveis, e ainda chama a
atenção para a particularidade de que nem todos esses psicopatas insensíveis
seriam, obrigatoriamente, personalidades anti-sociais. Na realidade, o termo
mais adequado para definir tais pessoas é, exatamente, a insensibilidade
afetiva, pessoas chamadas de "nervos de aço", ou "indivíduos capazes de
marchar sobre cadáveres ".

Admitia-se também antigamente, que nos estados demenciais e na deficiência


mental existiria uma deficiência obrigatória da afetividade. Também quanto a
essa crença Bleuler mostrou que o transtorno se concentra na alteração de
raciocínio e não no campo da afetividade. Os pacientes demenciados acabam
perdendo o conceito do que é bom, do que é possível, do que é belo
(moralmente falando) e, por conseguinte, não costumam revelar sentimentos
adequados.

Manifestações de indiferença afetiva podem ser também observadas nos


Transtornos Neuróticos. Na depressão o desinteresse pelas coisas do mundo
exterior pode conduzir ao erro de considerar esses pacientes semelhantes aos
casos de apatia afetiva esquizofrênica.

Incontinência Emocional
A Incontinência Emocional é uma forma de alteração da afetividade que se
manifesta pela facilidade com que se produzem as reações afetivas,
acompanhadas de certo grau de incapacidade para inibi-las. Diz Bleuler que a
maioria dos pacientes com incontinência emocional domina-se pior que os
demais. Tem de ceder diante dos acontecimentos mais insignificantes, tanto no
que se refere a sua expressão como à ação que deles se deriva. Bleuler cita o
exemplo de um paciente que não podia jogar cartas porque denunciava seu
jogo com a fisionomia.

A Incontinência Emocional é um dos sintomas freqüentes nas perturbações


psíquicas provocadas por lesões orgânicas do cérebro, manifestando-se
também em várias psicoses e neuroses. Na arteriosclerose cerebral a
Incontinência Emocional constitui um dos sintomas mais característicos.
Nesses casos, os próprios pacientes se queixam de extrema facilidade para
emocionar-se, com tendência ao choro fácil, o que não ocorria antes de
adoecer. Segundo Nágera, a Instabilidade Afetiva nem sempre se apresenta
junto com a Incontinência Emocional, pois existem pessoas que não podem
conter as emoções, embora revelem tenacidade afetiva.

Sugestibilidade
Sugestibilidade é uma alteração de ordem tanto afetiva quanto volitiva. Trata-
se de uma predisposição psíquica especial que determina uma grande
receptividade e submissão às influências estranhas exercidas sobre a pessoa.
No terreno puramente psíquico, encontra-se a sugestibilidade nos histéricos,
razão pela qual se tornam esses pacientes muito favoráveis à produção de
estados hipnóticos, de sintomas somáticos e até mesmo s de sintomas
psicóticos. Em alguns histéricos a sugestibilidade é exercida tanto no domínio
da vida interior (auto-sugestibilidade) quanto em relação ao meio exterior
(hétero-sugestibilidade).
A sugestibilidade é também muito comum nos estados demenciais, nos quais é
uma conseqüência de insuficiência intelectual. Na demência senil, a
sugestibilidade adquire grande significação do ponto de vista médico-legal, em
virtude de estarem esses pacientes sujeitos a explorações prejudiciais a seus
interesses pessoais, extorsão de dinheiro, captação de herança etc.

A sugestibilidade pode ser também observada nos estados de excitação


maníaca e nos alcoolistas. No delirium tremens, por exemplo, podem-se
sugerir facilmente várias coisas ao paciente, inclusive as alucinações. Na
catatonia, a sugestibilidade é predominantemente motora, razão pela qual será
estudada nas alterações da atividade voluntária.

Ambivalência Afetiva
Apesar de não usar a palavra Ambivalência, Bleuler descreve as acentuações
afetivas opostas e basicamente simultâneas nos indivíduos normais. Fala do
amor e temor ou ódio que uma pessoa pode ter em relação a outra, dos
acontecimentos que se temem e são desejados (uma operação, a tomada de
posse de um cargo). O paciente ambivalente, apesar de não pode unir ambos
sentimentos e tendências opostas, percebe-os ao mesmo tempo (ama e
odeia), sem que ambos os sentimentos ajam entre si ou se debilitem. Deseja a
morte da mulher e se as alucinações a apresentam morta, pode ao mesmo
tempo ficar desesperado e chorar por isso.

Honório Delgado define a Ambivalência como a anormalidade das tendências, e


que se caracteriza pela coexistência de juízos contraditórios sobre o mesmo
objeto simultaneamente. Portanto, no plano afetivo a Ambivalência consiste
em experimentar sentimentos opostos, simultaneamente e em relação ao
mesmo objeto.

A Ambivalência Afetiva surge em todas as situações de conflito, especialmente


nos Transtornos Neuróticos mas, será na esquizofrenia que a Ambivalência se
apresentará com aspectos mais característicos e mais extremos.

Fobias
O termo Fobia é definido como um temor insensato, obsessivo e angustiante,
que certos doentes sentem em situações específicas. A característica essencial
da Fobia consiste no temor patológico, absurdo que escapa à razão e resiste a
qualquer espécie de objeção da lógica e da razão. Refere-se a certos objetos,
atos ou situações e pode apresentar-se sob os aspectos mais variados. O
temor obsessivo aos espaços abertos (agorafobia) ou fechados (claustrofobia),
aos contatos humanos ou com animais (cães, ratos), temor de atravessar ruas,
de subir ou descer elevadores, de lugares altos etc.
A percepção sensorial real, direta e material da coisa ou do ser sobre o qual a
fobia se sistematiza não é obrigatória ou necessária ao desencadeamento da
reação ansiosa. Esta pode resultar de representações fotográficas.
Apresentam-se as fobias em vários tipos de Transtornos Neuróticos,
particularmente no Transtorno Fóbico-Ansioso e em alguns estados psicóticos.

Irritabilidade
Bleuler considera a irritabilidade como uma predisposição especial ao desgosto,
à ira e ao furor. Os pacientes irritáveis manifestam impaciência e aumento da
capacidade de reação para determinados estímulos e intolerância à frustração,
aos ruídos, às aglomerações. Nesses casos, a perturbação consiste no aumento
da tonalidade afetiva própria das percepções, tanto que se pode verificar certa
contradição na conduta dos doentes, os quais sofrem mais com a falta de
consideração do ambiente do que propriamente com os ruídos produzidos no
meio exterior, ou seja, interpretam o ruído mais como uma provocação do que
um incômodo acústico.

No Transtorno Explosivo da Personalidade o sintoma principal é a irritabilidade.


Nesses pacientes existe um grau elevado de reatividade emotiva, unido a uma
extraordinária tensão afetiva, que se descarrega sob a forma de reações de
tipo "curto-circuito". Estes surtos são paroxismos coléricos ou furiosos que
põem em perigo a vida de pessoas do ambiente e a integridade da
propriedade. Esses indivíduos, por exemplo, ouvem uma palavra qualquer e,
antes que tenham compreendido o seu verdadeiro sentido, reagem de maneira
explosiva, respondendo com insultos ou com atos de violência.

Nos estados de exaltação eufórica, quando os conflitos se tornam inevitáveis


em virtude de o paciente manifestar superestimação da própria personalidade
e elevação das aspirações, observam-se freqüentemente explosões de cólera e
irritabilidade. Onde as manifestações de irritabilidade mórbida se tornam mais
características é na epilepsia. Bleuler dizia que nos epilépticos existe,
freqüentemente, uma irritabilidade crônica.

Desde o século passado autores de compêndios apontavam para a


concordância clínica entre irritabilidade e epilepsia. Legrande du Saulle
escreveu que "fora da crise convulsiva, os epilépticos são egoístas,
desconfiados, sombrios, irritáveis e coléricos. Um gesto, um simples olhar
bastam para causar-lhes muitas vezes, a mais penosa das impressões,
inflamar-lhes a cólera. Já para Schüle, "o caráter dos epilépticos consiste numa
extraordinária irritabilidade mórbida, que rapidamente se transforma em atos
impulsivos. São indivíduos caprichosos, desconfiados, excitados contra si
mesmos e contra os outros, turbulentos, ora de uma alegria cuja causa muitas
vezes ignoram, ora de uma depressão exagerada, agora humildes e com
tendências religiosas. logo orgulhosos, duros maus".

Foi de Falret o mérito de ter sido o primeiro a destacar as características


psicológicas dos epilépticos, fora das crises convulsivas. Em 1861, Falret
escreveu que a "irritabilidade constitui o traço dominante dos epilépticos. Esses
doentes são geralmente desconfiados, questionadores, predispostos à cólera...
" "...irritam-se com grande facilidade pelos motivos mais simples, entregando-
se, freqüentemente, a atos de violência, instantâneos as mais das vezes, sem
provocação nenhuma de parte daqueles que são suas vítimas. Júlio de Matos
refere-se a esses pacientes como apresentando "uma excessiva irritabilidade,
sempre pronta a explodir em cólera, não raro impulsionados à prática das
ações mais violentas e cruéis.

Na década de 80, Maria Lúcia Coelho fazia seu doutorado em psiquiatria


relacionando traços dos epilépticos, tanto dos convulsivos quanto dos não-
convulsivos, e apontando também a irritabilidade e baixa tolerância à
frustrações, entre outros traços, num minucioso e completo trabalho científico.

Entretanto, modernamente, para evitar alguma confrontação com o critério de


epilepsia adotado pela neurologia, fala-se em Transtorno Explosivo
Intermitente ou Transtorno Explosivo da Personalidade como uma ocorrência
co-mórbida com a epilepsia. Mas, de qualquer forma, vale a dica e observação
de tantos autores virtuosos...

Angústia
Blaser e Poeldinger estudaram a evolução do conceito de angústia, admitindo
que se deve a Kierkegaard a primeira distinção entre temor a um objeto e a
angústia, livre e flutuante, desprovida de objeto. Esta distinção foi adotada por
Karl Jaspers, tendo deixado claro o seu conceito ao escrever que a angústia é
um sentimento freqüente e torturante, e que o medo sempre se refere a
alguma coisa, enquanto a angústia é sem objeto.

Desde então, esta tem sido a orientação seguida pelos tratadistas, entre os
quais se encontra Binder, que desenvolveu amplas considerações no sentido de
estabelecer os limites entre medo e angústia. "Se procurarmos estabelecer a
diferença entre esses dois estados de ânimo, a introspecção nos mostrará que
a vivência afetiva de encontrar-se em perigo aparece em duas modalidades
diferentes: em uma forma diferenciada, em que o referido sentimento surge
em estruturas psíquicas amplamente configuradas, precisas e determinadas;
quando se costuma falar quase sempre da presença de medo ou temor, e em
forma mais primitiva, que se designa de modo geral como angústia e que
corresponde a estratos psíquicos mais profundos que, com freqüência, são
menos claramente conscientes e conservam conexões psíquicas mais difusas e
menos articuladas. Alguém teme algo ou sente medo diante de algo, enquanto
alguém se angustia, e nestas locuções se expressa que no temor ou no medo
do objeto perigoso aparece mais claramente destacado do indivíduo e é
percebido, imaginado ou pensado como uma articulação e uma delimitação
clara e determinada, enquanto na angústia os processos do conhecimento que
a precedem são, freqüentemente, muito mais vagos e indiferenciados,
características que correspondem a estratos psíquicos mais primitivos ".

Com referência a sua origem, o próprio Binder admitiu a possibilidade de a


angústia apresentar três aspectos diferentes:
1 - Angústia Vital
Lopez Ibor considera a angústia vital como o elemento básico da personalidade
humana, podendo surgir sem características patológicas mas, em condições
mórbidas, está representada por seus graus mais acentuados. A angústia se
acha corporalizada.

De acordo com Binder, esta forma de angústia apodera-se do consciente


quando existem condições corporais íntimas ameaçadoras da vida. "Surge de
modo mais claro nos estados de hipoxemia e anoxemia de qualquer natureza,
seja devido a espasmos das coronárias (angina do peito), à perda de sangue
(sempre que não leve à inconsciência), à dificuldade respiratória (asma
brônquica, estrangulação) ou a asma cardíaca.

Bash considera que, nesses casos, a reação psíquica é perfeitamente normal:


"O objeto se apresenta no consciente sob a forma de sensações viscerais". A
própria debilidade constitucional, seja do sistema ou de sua regulação
vegetativa, pode determinar o aparecimento de sensações desagradáveis, as
quais são captadas como ameaça à integridade do eu, estando, nesse caso, a
angústia vital ligada à depressão ou à transtorno orgânico. A angústia vital,
exceto nos casos de depressão, indica um grave transtorno orgânico.

2 - Angústia Real
O perigo ameaça a partir da circunstância. Ao contrário da Angústia Vital, a
Angústia Real tem origem em uma ameaça conscientemente percebida, a qual
provém do meio exterior e não de alguma parte interna do corpo. Bash admite
que "circunstâncias da vida persistentemente humilhantes podem ocasionar o
desenvolvimento de um estado de angústia crônica.

3 - Angústia Moral
O perigo se encontra localizado na própria psique e, especialmente, em
determinadas tendências psíquicas primitivas, que são afastadas por outras
tendências, superiores e mais evoluídas, e que se orientam em outro sentido
(conflito). Kielholz propos uma subdivisão da Angústia Moral, levando em
consideração a possibilidade de uma angústia consciente e outra inconsciente,
correspondendo esta última à angústia dita neurótica, à qual se refere de
modo especial a literatura psicanalítica.

Kammerer é de opinião que todas as definições da angústia se reduzem a três


condições essenciais:
a) o sentimento da iminência de um perigo que virá, mas de um perigo
indeterminado. Esse sentimento se acompanha da elaboração de temas
trágicos, os quais ampliam todas as imagens na proporção de uma drama;
b) a atitude atenta diante do perigo, verdadeiro estado de alerta, que invade
todo o indivíduo, tendendo para a catástrofe que se avizinha;
c) a desordem, isto é, a convicção da incapacidade absoluta e o sentimento de
desorganização e de prostração diante do perigo.
O estado de angústia quase sempre perturba as funções fisiológicas e se
expressa através de uma série de distúrbios autonômicos. Normalmente há
constrição respiratória, dispnéia, opressão cardíaca, taquicardia, palpitações,
lentidão ou aceleração do pulso, palidez, relaxamento da musculatura facial,
espasmos em órgãos diversos, transpiração nas mãos e na face.

A angústia é um dos elementos fundamentais em Psicopatologia, representa o


sintoma dominante na maioria dos transtornos neuróticos, e está presente em
muitas psicoses, mormente em sua fase prodrômica.

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