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Incluído em 16/02/2005
O estado psíquico global com que a pessoa se apresenta e vive reflete a sua
Afetividade. Tal como as lentes dos óculos, os filtros da Afetividade fazem com
que o sol seja percebido com maior ou menor brilho, que a vida tenha
perspectivas otimistas ou pessimistas, que o passado seja revivido como um
fardo pesado ou, simplesmente, lembrado com suavidade. Interfere assim na
realidade percebida por cada um de nós, mais precisamente, na representação
que cada pessoa tem do mundo, de seu mundo.
Figura 1
1) sentimentos sensoriais;
2) sentimentos vitais;
3) sentimentos anímicos ou psíquicos, considerados como sentimentos do eu;
4) sentimentos espirituais ou da personalidade.
Os sentimentos sensoriais se encontram muito próximos da corporalidade,
estão localizados em determinadas partes sensíveis do corpo e se representam
tais como a dor e o prazer. Esses sentimentos são mais abrangentes e não
devem ser confundidos com as sensações simples dos cinco sentidos. Os
sentimentos sensoriais têm algumas características especiais: atualidade,
localização, funcionam como sinal, no sentido de que algo está ocorrendo, não
têm duração definida e falta-lhes a intencionalidade, o que não ocorre com os
sentimentos superiores.
Os estados de Euforia podem, por outro lado, surgir sem que tenha havido
uma situação real causadora. O humor é expansivo à nível de SITUAÇÕES
ANÍMICAS, tal qual nas experiências delirantes de teor místico ou de
beatificação, onde o Delírio tem como tema uma fantasia que proporciona bem
estar ao paciente. Nestes casos, o tônus afetivo é ainda mais expansivo que na
Exaltação e pode ser denominado de ÊXTASE. O êxtase é caracterizado por
um peculiar e delicioso senso superior, um desprendimento das coisas
materiais e a posse de algum tipo de poder incomum, às vezes, uma grande e
irreal religiosidade. Pode aparecer em pacientes psicóticos, delirantes ou
personalidades predispostas à idéias supervalorizadas.
Hipotimia (depressão)
Na hipotimia ou depressão, verifica-se o aumento da reatividade e
sensibilidade para os sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o
simples mal-estar até ao estupor melancólico. Caracteriza-se, essencialmente
por uma tristeza profunda, normalmente imotivada, que se acompanha de
lentidão e inibição de todos os processos psíquicos. Em suas formas leves, a
depressão se revela por um sentimento de mal-estar, de abatimento, de
tristeza, de inutilidade e de incapacidade para realizar qualquer atividade.
Nas Distimias, nas Reações Agudas ao Estresse e nas neuroses de modo geral,
a depressão costuma ser mais reativa, isto é, mais psicogênica (mais anímica
que vital), originando-se de situações psicologicamente compreensíveis e de
experiências desagradáveis. A anormalidade do sentimento depressivo nesses
quadros psicogênicos está na intensidade e na duração desse afeto em
comparação às pessoas normais e não em sua qualidade, como acontece nos
Transtornos Afetivos Bipolares.
O universo vivencial do deprimido vai sendo cada vez menor e mais restrito e a
preocupação com seu próprio estado sofrível toma conta de todo seu interesse
vivencial. Não há ânimo suficiente para admirar um dia bonito, para interessar-
se na realização ocupacional, para degustar uma boa bebida, para deleitar-se
com um filme interessante, para sorver uma boa companhia, para incrementar
sua discoteca, enfim, em seu rol de ocupações só existe a preocupação consigo
próprio. Nada mais lhe dá prazer, nada mais pode motivá-lo.
Neste caso o campo vivencial fica tão estreitado que só cabe o próprio paciente
com sua Depressão, o restante de tudo que a vida pode lhe oferecer não mais
interessa. Enquanto a Inibição Psíquica pode ser entendida como aspectos
mais exteriores do relacionamento do indivíduo com o mundo, como uma
espécie de prejuízo em seu rendimento de relacionamento, o Estreitamento do
Campo Vivencial, por sua vez, denota uma alteração mais interiorizada, um
prejuízo nas impressões que os objetos causam no sujeito. Um é centrífugo o
outro centrípeto.
C - Sofrimento Moral
O Sofrimento Moral, ou sentimento de menos-valia, é o fenômeno mais
marcante e mais desagradável na trajetória do depressivo. É um sentimento
de autodepreciação, autoacusação, inferioridade, incompetência,
pecaminosidade, culpa, rejeição, feiúra, fraqueza, fragilidade e mais um sem-
número de adjetivos autopejorativos. Evidentemente, tais sentimentos
aparecem em grau variado; desde uma sutil sensação de inferioridade até
profundos sentimentos depreciativos.
Bonhoeffer deixou uma descrição muito viva da apatia afetiva reveladas por
alguns delinqüentes, os quais suportam estoicamente uma completa
inatividade diante de situações que se tornariam desagradáveis ou
insuportáveis para um indivíduo são. Em primeiro lugar, o simples não fazer
nada, que se torna tão desagradável às pessoas normais, persiste e pode durar
meses seguidos nessas pessoas, sem que nem por um instante sequer revelem
alguma iniciativa ou manifestem verdadeiro desejo de trabalhar. Esse estado
de apatia, de indiferença emocional, se assemelha a certos casos de falta de
afetividade dos hebefrênicos.
Assim sendo, Isaías Paim acha que, acompanhando Schneider, a indiferença
afetiva real, como uma incapacidade para sentir emoções delicadas, só é
observada nessas personalidades) psicopáticas insensíveis, e ainda chama a
atenção para a particularidade de que nem todos esses psicopatas insensíveis
seriam, obrigatoriamente, personalidades anti-sociais. Na realidade, o termo
mais adequado para definir tais pessoas é, exatamente, a insensibilidade
afetiva, pessoas chamadas de "nervos de aço", ou "indivíduos capazes de
marchar sobre cadáveres ".
Incontinência Emocional
A Incontinência Emocional é uma forma de alteração da afetividade que se
manifesta pela facilidade com que se produzem as reações afetivas,
acompanhadas de certo grau de incapacidade para inibi-las. Diz Bleuler que a
maioria dos pacientes com incontinência emocional domina-se pior que os
demais. Tem de ceder diante dos acontecimentos mais insignificantes, tanto no
que se refere a sua expressão como à ação que deles se deriva. Bleuler cita o
exemplo de um paciente que não podia jogar cartas porque denunciava seu
jogo com a fisionomia.
Sugestibilidade
Sugestibilidade é uma alteração de ordem tanto afetiva quanto volitiva. Trata-
se de uma predisposição psíquica especial que determina uma grande
receptividade e submissão às influências estranhas exercidas sobre a pessoa.
No terreno puramente psíquico, encontra-se a sugestibilidade nos histéricos,
razão pela qual se tornam esses pacientes muito favoráveis à produção de
estados hipnóticos, de sintomas somáticos e até mesmo s de sintomas
psicóticos. Em alguns histéricos a sugestibilidade é exercida tanto no domínio
da vida interior (auto-sugestibilidade) quanto em relação ao meio exterior
(hétero-sugestibilidade).
A sugestibilidade é também muito comum nos estados demenciais, nos quais é
uma conseqüência de insuficiência intelectual. Na demência senil, a
sugestibilidade adquire grande significação do ponto de vista médico-legal, em
virtude de estarem esses pacientes sujeitos a explorações prejudiciais a seus
interesses pessoais, extorsão de dinheiro, captação de herança etc.
Ambivalência Afetiva
Apesar de não usar a palavra Ambivalência, Bleuler descreve as acentuações
afetivas opostas e basicamente simultâneas nos indivíduos normais. Fala do
amor e temor ou ódio que uma pessoa pode ter em relação a outra, dos
acontecimentos que se temem e são desejados (uma operação, a tomada de
posse de um cargo). O paciente ambivalente, apesar de não pode unir ambos
sentimentos e tendências opostas, percebe-os ao mesmo tempo (ama e
odeia), sem que ambos os sentimentos ajam entre si ou se debilitem. Deseja a
morte da mulher e se as alucinações a apresentam morta, pode ao mesmo
tempo ficar desesperado e chorar por isso.
Fobias
O termo Fobia é definido como um temor insensato, obsessivo e angustiante,
que certos doentes sentem em situações específicas. A característica essencial
da Fobia consiste no temor patológico, absurdo que escapa à razão e resiste a
qualquer espécie de objeção da lógica e da razão. Refere-se a certos objetos,
atos ou situações e pode apresentar-se sob os aspectos mais variados. O
temor obsessivo aos espaços abertos (agorafobia) ou fechados (claustrofobia),
aos contatos humanos ou com animais (cães, ratos), temor de atravessar ruas,
de subir ou descer elevadores, de lugares altos etc.
A percepção sensorial real, direta e material da coisa ou do ser sobre o qual a
fobia se sistematiza não é obrigatória ou necessária ao desencadeamento da
reação ansiosa. Esta pode resultar de representações fotográficas.
Apresentam-se as fobias em vários tipos de Transtornos Neuróticos,
particularmente no Transtorno Fóbico-Ansioso e em alguns estados psicóticos.
Irritabilidade
Bleuler considera a irritabilidade como uma predisposição especial ao desgosto,
à ira e ao furor. Os pacientes irritáveis manifestam impaciência e aumento da
capacidade de reação para determinados estímulos e intolerância à frustração,
aos ruídos, às aglomerações. Nesses casos, a perturbação consiste no aumento
da tonalidade afetiva própria das percepções, tanto que se pode verificar certa
contradição na conduta dos doentes, os quais sofrem mais com a falta de
consideração do ambiente do que propriamente com os ruídos produzidos no
meio exterior, ou seja, interpretam o ruído mais como uma provocação do que
um incômodo acústico.
Angústia
Blaser e Poeldinger estudaram a evolução do conceito de angústia, admitindo
que se deve a Kierkegaard a primeira distinção entre temor a um objeto e a
angústia, livre e flutuante, desprovida de objeto. Esta distinção foi adotada por
Karl Jaspers, tendo deixado claro o seu conceito ao escrever que a angústia é
um sentimento freqüente e torturante, e que o medo sempre se refere a
alguma coisa, enquanto a angústia é sem objeto.
Desde então, esta tem sido a orientação seguida pelos tratadistas, entre os
quais se encontra Binder, que desenvolveu amplas considerações no sentido de
estabelecer os limites entre medo e angústia. "Se procurarmos estabelecer a
diferença entre esses dois estados de ânimo, a introspecção nos mostrará que
a vivência afetiva de encontrar-se em perigo aparece em duas modalidades
diferentes: em uma forma diferenciada, em que o referido sentimento surge
em estruturas psíquicas amplamente configuradas, precisas e determinadas;
quando se costuma falar quase sempre da presença de medo ou temor, e em
forma mais primitiva, que se designa de modo geral como angústia e que
corresponde a estratos psíquicos mais profundos que, com freqüência, são
menos claramente conscientes e conservam conexões psíquicas mais difusas e
menos articuladas. Alguém teme algo ou sente medo diante de algo, enquanto
alguém se angustia, e nestas locuções se expressa que no temor ou no medo
do objeto perigoso aparece mais claramente destacado do indivíduo e é
percebido, imaginado ou pensado como uma articulação e uma delimitação
clara e determinada, enquanto na angústia os processos do conhecimento que
a precedem são, freqüentemente, muito mais vagos e indiferenciados,
características que correspondem a estratos psíquicos mais primitivos ".
2 - Angústia Real
O perigo ameaça a partir da circunstância. Ao contrário da Angústia Vital, a
Angústia Real tem origem em uma ameaça conscientemente percebida, a qual
provém do meio exterior e não de alguma parte interna do corpo. Bash admite
que "circunstâncias da vida persistentemente humilhantes podem ocasionar o
desenvolvimento de um estado de angústia crônica.
3 - Angústia Moral
O perigo se encontra localizado na própria psique e, especialmente, em
determinadas tendências psíquicas primitivas, que são afastadas por outras
tendências, superiores e mais evoluídas, e que se orientam em outro sentido
(conflito). Kielholz propos uma subdivisão da Angústia Moral, levando em
consideração a possibilidade de uma angústia consciente e outra inconsciente,
correspondendo esta última à angústia dita neurótica, à qual se refere de
modo especial a literatura psicanalítica.