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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

SISTEMAS DE TELECOMUNICAÇÕES II

TRANSPARÊNCIAS

4 – ELEMENTOS de PROPAGAÇÃO e MÉTODOS de PLANEAMENTO

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LIGAÇÃO POR MICROONDAS

Na sua forma mais simples uma ligação de microondas, pode ter apenas um único salto
com um par de antenas separadas de 1 ou 2 km ou então pode ser constituída por uma
espinha dorsal (“backbone”) contendo vários saltos, no seu conjunto podendo atingir
várias centenas ou mesmo milhares de quilómetros. Tipicamente um salto unico cobre
de 30 a 60 km em regiões relativamente planas para frequências nas bandas de 2 a 8
GHz. Claro que quando as antenas são colocadas no topo de montanhas, podem esperar-
se saltos de muito maior comprimento.
As condições atmosféricas e a natureza do terreno afectam a propagação das
microondas de tal modo que dois pontos podem estar em linha de vista e a transmissão
não ser satisfatória.
A fig. 4.1 representa uma ligação de microondas (na maioria dos casos é uma ligação
bidireccional) para o transporte de canais de voz, vídeo ou de dados que são
combinados por técnicas de multiplexagem para produzir um sinal de banda-base (BB)
que vai entrar num processo de modulação (em frequência intermédia ou directamente
em RF, como já vimos) no transmissor (TX), realizando-se a desmodulação e a
recuperação do sinal de BB no receptor terminal (RX).

Fig. 4.1 – Ligação em microondas com 3 saltos

De notar que as frequências de RF utilizadas e que “são lançadas no espaço” não são
quaisquer e têm de obedecer a um critério rigoroso de selecção em função das
particularidades da ligação e das disponibilidades no espectro radioeléctrico.
Tem de existir uma economia de frequências e de se repetirem sempre que isso seja
possível.
No caso esquematizado na figura 4.1 acima, estamos a utilizar apenas duas frequências
(f e f’) para os 3 saltos da ligação.
As bandas de frequências a utilizar e os respectivos canais radioeléctricos dentro de
cada uma delas são internacionalmente especificados pela ITU-R.

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Presentemente as frequências mais utilizadas situam-se na gama dos 2 aos 38 GHz. Na


tabela seguinte listam-se as bandas recomendadas pela ITU-R.

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As duas tabelas seguintes, tabela II e tabela III, dão-nos, respectivamente, as


capacidades dos canais radioeléctricos e uma listagem dos aspectos positivos e
negativos das diversas faixas de frequências.

Tabela III
CONSIDERAÇõES SOBRE A SELECÇÃO DA BANDA DE FREQUÊNCIAS
Banda em GHz Prós Contras
A melhor propagação sob o ponto de vista de fading Feixes de grande largura de banda
2 Eficiente diversidade de espaço vulneráveis ao fading dispersivo
Margens de fading reduzidas
devido a ganhos da antena mais
baixos (mais corte)
Mais altos níveis de interferéncia
Saltos com grande libertação mais
vulneráveis ao fading por reflexão
6÷8 Cortes mais baixos em áreas sem ductos Saltos longos vulneráveis a
Eficiente diversidade de espaço fadings devidos à formação de
A melhor performance do sistema para saltos longos ductos e desacoplamento, em áreas
Boa discriminação a interferências e a reflexões com climáticas adversas, requerendo
garndes atrasos libertações mais altas do trajecto.
Bandas congestionadas em
algumas áreas geográficas
10 Boa performance em trajectos relativamente longos Canais de RF com largura de banda
Eficiente diversidade de espaço limitada (4 a 16 E1s)
Baixos cortes devidos à chuva em áreas climáticas
dversas
11 Largo espectro disponível (1000 MHz) Cortes devidos à chuva são um
Muitos canais disponíveis de alta capacidade factor de peso em algumas áreas de
clima adverso
13÷18 Canais de alta e de baixa largura de banda Cortes dominados pela chuva em
Bandas não congestionadas (de 2000 MHz a 18 GHz) áreas de clima adverso, limitando
assim o comprimento dos saltos
23÷38 Ausência de quaisquer restrições a nível da largura de Extrema sensibilidade à chuva,
banda com saltos mais curtos em cerca de
Bandas descongestionadas (2400 MHz de largura de 50 % em áreas de pluviosidade
banda a 23 GHz, p. ex.) elevada nos 23 GHz, p.ex., em
relação aos 18 GHz.

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Os sistemas de rádio móvel celular ganharam ultimamente algum espectro de


frequências em detrimento do rádio digital de microondas, nomeadamente através da
partilha da banda de 1.9 a 2.3 GHz com as ligações fixas de rádio.
Até sensivelmente ao meio dos anos 90, cada Recomendação definia claramente a gama
de frequências, o número de canais que podia ser utilizado dentro dessa gama, o
espaçamento entre canais, o débito binário e as possibilidades de polarização.
A competição do rádio digital de microondas com a fibra óptica tem conduzido a uma
notável liberalização da utilização do espectro de rádio.
As bandas de frequências têm sensivelmente permanecido as mesmas para o serviço de
rádio fixo, excepto no que diz respeito à inclusão de espectro adicional em alguns
países, particularmente nas frequências acima dos 20 GHz.
Muitas bandas de frequências podem ter agora vários tipos de configuração. As já muito
utilizadas bandas de 4 e 6 GHz melhoraram a sua flexibilidade. As maiores alterações
para estas bandas podem referir-se como sendo as seguintes:

- Larguras de canal variáveis;


- Operação co-canal.

Assim, por exemplo, a banda de 3.6÷4.2 GHz pode ter espaçamentos de canal de 10, 40,
60, 80 ou 90 MHz quer com polarizações alternadas (entrelaçadas) ou com co-
polarização. Os tipos de modulação variam desde o “4-PSK” ao “256-QAM”.
Na figura seguinte (fig. 4.2) mostram-se dois planos de frequências na banda dos 23
GHz, utilizando-se o primeiro para capacidades STM-1 (com possibilidades de co-
polarização) e o segundo para capacidades STM-0 (com polarizações intervaladas).

Fig. 4.2 - Canalização de RF na banda dos 23 GHz.

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Antenas
A grande maioria dos feixes hertzianos utilizam antenas parabólicas a que já nos
referimos no capítulo anterior.
O parâmetro mais importante a ter em conta no projecto é o seu ganho isotrópico mas
outra característica importante é a relação Frente-Costas que assume cada vez mais
relevo quanto maior for a concentração de feixes num determinado sector.
Como vimos uma antena, emite a sua Potência máxima segundo o seu lóbulo principal
(ver Fig 4.3 que tem o valor de referência de 0 dB, sendo todas as outras direcções
referidas ao valor máximo e repare-se na existência de múltiplos lóbulos). Nota-se que a
antena apresenta uma relação Frente-Costas de cerca de 38 dB, não sendo, portanto, em
particular, uma boa antena.

Fig. 4.3 - Diagrama de radiação de uma antena parabólica

Uma antena de elevadas características é, como vimos, a antena tipo “Horn Reflector”
ou de Reflector de Corneta conforme o que se ilustra na figura que se segue.

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Fig. 4.4 - Antena tipo Cornucópia

Esta antena apresenta uma grande supressão dos lóbulos laterais. Uma antena de 6 GHz
com 3 metros de diâmetro atinge uma relação Frente/Costas de cerca de 90 dB. Dado o
seu preço elevado esta antena só se usa em ligações especiais.

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Polarização

É um parâmetro muito importante também, pois tem consequências no processo de


propagação. O excitador da antena (“Feed Horn”) recebe do guia de ondas a energia
electromagnética que tem de projectar na superfície reflectora da antena para que sofra
aí uma reflexão e seja lançada no espaço ( na direcção contrária terá que receber a
energia vinda do espaço que incide na antena e que é reflectida na sua direcção).
Ora, o “feed-horn” está orientado numa de duas posições: a dimensão mais larga da
abertura rectangular está colocada horizontalmente ou verticalmente em relação ao
terreno (ver fig. 4.5).
Se a dimensão mais larga é colocada segundo a vertical (fig. 4.5a) o campo eléctrico
ficará segundo o plano horizontal e a antena diz-se polarizada horizontalmente. Se, pelo
contrário, a dimensão mais larga é colocada segundo a horizontal (fig. 4.5b) o campo
eléctrico ficará na vertical em relação à terra e a antena diz-se polarizada verticalmente.

(a) (b)
Fig. 4.5 - Representação de guia de onda com polarização
horizontal (a) e vertical (b)

Se, por exemplo, a polarização for horizontal, uma pequena porção da energia poderá
ser transmitida segundo a polarização vertical, mas normalmente o sinal segundo a
polarização Nâo Desejada está abaixo da desejada de cerca de 30 a 40 dB. Este valor é
conhecido como a Discriminação de Polarização Cruzada, a que já aludimos
anteriormente, chamando-lhe também XPD (“Cross Polarization Discrimination”).
Muitas vezes, como também já referimos, aplicam-se polarizações opostas em canais de
rádio a emitir sobre a mesma antena e com a mesma frequência. Este processo é
conhecido por Reutilização de Frequência (“Frequency Reuse”) e é usado em sistemas
com diversidade de frequência de que falaremos adiante.

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Ruído da antena

O ruído é um efeito perturbador das comunicações que recordaremos mais à frente.


O ruído que entra no sistema através da antena vai certamente limitar a “performance”
do sistema.
Um sistema de comunicações deve ter um factor de ruído (ou figura de ruído, “NF –
Noise Figure”) o mais baixo possível mas, algumas vezes, em vez de se falar de factor
de ruído fala-se em Temperatura de Ruído T.
Veremos adiante também que aqueles dois parâmetros estão relacionados pelas
seguintes expressões:

T = (NF-1).290 (4.1a) ou, em dB, NF|dB=10.log(1+T/290) (4.1b)

O gráfico da fig. 4.6 mostra a relação entre as duas grandezas.

Fig. 4.6 - Relação entre o Factor de Ruído e a


Temperatura de Ruído

Podemos mesmo “memorizar” certos valores aproximados dessas equivalências, por


exemplo:

1 dB ! 75º K
3 dB ! 290º K
5 dB ! 627º K
10 dB ! 2610º K

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A temperatura de ruído da antena depende :

- Do ruído do céu, galáxias, sol e lua.

- Da absorpção por gases atmosféricos e pela precipitação

- Da radiação proveniente da terra e introduzida pelos lóbulos traseiros e laterais na


antena

- Da interferência proveniente de fontes de ruído causadas pelo homem.

A supressão dos lóbulos laterais é muito importante para reduzir o ruído de antena. De
facto, o lóbulo principal pode não estar dirigido para uma parte “quente” do espaço (p.
ex., para o sol) mas pode estar um dos seus lóbulos laterais e isso fará aumentar a
temperatura de ruído da antena.

Torres

As antenas têm de ser geralmente instaladas a cotas elevadas relativamente ao solo. Daí
a necessidade de utilização de torres (a maioria das vezes, metálicas) e estas acabam por
ser um dos componentes da ligação em microondas que afectam significativamente o
custo da instalação.
Há dois tipos principais de torres metálicas: as torres auto-suportadas e as torres
espiadas (ou mastros espiados).
As torres auto-suportadas são mais dispendiosas mas têm a vantagem de uma ocupação
muito menor do terreno onde são implementadas, dado que as espias das torres espiadas
necessitam de amarrações longe da base da torre ou mastro.
A utilização de um tipo ou de outro vai depender de vários factores como a carga de
antenas, a velocidade do vento para cálculo, o custo das fundações, a área que pode ser
disponibilizada e o valor do seu metro quadrado, etc.
As torres auto-suportadas acima dos 55 metros têm elevadíssimos custos, pelo que, se
opta em geral, nessas situações, por torres espiadas.
A figura 4.7 seguinte serve de guia geral para a obtenção das áreas necessárias à
implementação das torres espiadas tendo em conta os pontos de amarração das espias.

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Torres

Fig. 4.7 - Àreas aproximadas para implantação de torres


espiadas
Fig. 4.7a - Torre auto-suportada, treliçada
de 72 m de altura

A rigidez das torres é um factor importante nas transmissões em microondas.


De facto, não só têm de cumprir com as normas de segurança em vigor (como para
qualquer construção) como ainda não devem sofrer “varejamentos” ou rotações que
façam as antenas “saír” do seu ângulo de meia potência, isto é, sob a acção do vento que
incida sobre a torre e antenas, em nenhuma destas deve acontecer que, em relação à sua
posição de repouso (sem vento, apontando para a antena distante com que comunica), o
eixo da antena se desvie mais de "/2 sendo " a largura do feixe a meia potência.
A velocidade máxima do vento para a qual se deve cumprir esta condição operacional é
fixada em função da importância das ligações, de condições económicas e das
condições climáticas do local de implementação. Regras mais conservadoras fixam o
desvio acima mencionado em "/3 em vez de "/2.
A velocidade máxima do vento para a qual a estrutura deva sobreviver (resistindo ao
derrube ou a deformações permanentes irrecuperáveis) é, em geral, fixada em valores da
ordem dos 220 Km/h.

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Ruído e Comunicações

O ruído, como se sabe, é o "inimigo número 1" das comunicações, consistindo em


perturbações do sinal originadas por fontes internas e externas, geralmente de carácter
aleatório.
É, portanto, aconselhável dividir o ruído em dois tipos: o ruído interno e o ruído
externo, o primeiro originado no próprio equipamento de telecomunicações e o segundo
que é uma propriedade do canal (no caso dos feixes hertzianos o canal é o rádio-link).

• Ruído Externo

Dentro deste tipo de ruído podemos distinguir os seguintes sub-tipos:


- Ruído com origem noutros equipamentos
Motores de automóveis, motores eléctricos, reguladores de iluminação,
computadores, etc, integram-se em equipamentos que produzem tensões ou correntes
com rápidos tempos de subida que podem produzir interferências.
O ruído deste tipo tem um largo espectro de frequências, mas com energia não
igualmente distribuída ao longo desse espectro.
É geralmente um ruído mais perturbador a relativamente baixas frequências, mas
pode aparecer também, em algumas situações em altas frequências se, por exemplo,
um computador, sem blindagem eficiente, produzir relativamente elevados sinais que
sejam múltiplos e sub-múltiplos do seu relógio principal.

- Ruído atmosférico
Também é referido como ruído estático, dado que as descargas atmosféricas têm
origem em electricidade estática, que é a principal fonte de ruído atmosférico.
Pode propagar-se a grandes distâncias. Muita da sua energia encontra-se dentro de
faixas que vão de baixas frequências até vários Megahertz.
É um ruído impulsivo que ocorre em breves instantes, apresentando uma elevada
relação entre o valor de pico (muito elevado) e o seu valor médio, espaçados de
longos períodos.
Não há nada a fazer para o evitar mas, alguns sistemas desactivam o receptor durante
a duração desses picos, fazem o que se chama o apagamento do ruído ou "noise
blanking".

- Ruído espacial
As estrelas e outros corpos no espaço são fontes de radiação sobre uma larga gama
de frequências originando o que se chama ruído cósmico, ruído estelar

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Ruído e Comunicações

ou ruído do céu ("sky noise"). Destes, pela sua proximidade, o mais importante é
o ruído solar que tem de ser seriamente considerado nas ligações satélite.
O ruído espacial é importante às altas frequências (acima de VHF) porque as
suas componentes de baixa frequência são absorvidas nas camadas altas da
atmosfera.
A chamada radiação do corpo negro ("black body radiation") é de importante
interesse nas comunicações de rádio.
Todos os objectos no espaço radiam energia num largo espectro de frequências.
O principal radiador de energia é também o principal absorvedor. Assim, o corpo
negro perfeito será o principal radiador.
Quanto mais elevada for a temperatura de um objecto, mais energia ele radia e
mais pequeno o comprimento de onda a que essa energia é radiada. Por exemplo,
objectos à temperatura desta sala radiam alguma energia em frequências de
microondas, mas a maior parte da radiação desses objectos surge na zona dos
infra-vermelhos. Embora a energia de rádio-frequência transmitida por esses
objectos a temperaturas moderadas seja pouco significativa, alguns receptores de
microondas de grande sensibilidade podem, por exemplo, detectar um homem
quando ele atravessa um campo de neve por comparação da radiação de
microondas que ele emite.

• Ruído Interno

Ruído térmico
O ruído térmico é devido à agitação térmica dos electrões num condutor que se
movimentam tanto mais e de uma maneira aleatória quanto maior for a
temperatura.
A densidade de potência do ruído térmico é constante com a frequência, isto é, a
potência de ruído por Hz é a mesma qualquer que seja a frequência - há tanta
potência de ruído entre 1 Hz e 2 Hz como há, por exemplo, entre 1 MHz e
1.000001 MHz.
Por isso este ruído se designa por ruído branco por analogia com a luz branca
que, como sabemos, tem uma distribuição uniforme de energia no espectro

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Ruído e Comunicações

visível. Também se designa por "ruído Johnson" ou ruído de fundo ("background


noise").
A expressão que nos dá a potência de ruído branco é a seguinte:

PN = k T B (4.2)

onde:
PN é a potência de ruído em Watts,
k é constante de Boltzmann ( k=1.38x10-23 J/°K),
T é a temperatura absoluta em graus Kelvin e
B é a largura de banda em Hz.

À temperatura normal de uma sala (25°C), para a largura de banda de 1Hz a


potência de ruído é -174 dBm.

Aquela equação está baseada no princípio de que a transferência de potência é


máxima, isto é, que a fonte (a resistência geradora do ruído) e a carga
(amplificador ou outro circuito que recebe o ruído) estão adaptadas.
A potência de ruído térmico existe em todos os condutores e resistências a
qualquer temperatura acima do zero absoluto.
O ruído térmico não depende do material envolvido nem da corrente que passa
através dele. Contudo, alguns materiais e dispositivos produzem outros tipos de
ruído que dependem da corrente.

Ruído "Shot" ("Shot Noise")


È um tipo de ruído que ocorre devido às flutuações aleatórias em dispositivos
como válvulas, transistores e díodos semicondutores.
Aquelas flutuações ou variações são originadas pelo facto de a corrente nesses
dispositivos ser devida a um fluxo de portadores (electrões ou buracos), cada um
dos quais transporta uma quantidade finita de carga eléctrica. A corrente pode
assim ser considerada como uma série de impulsos, cada um consistindo da carga
de um portador.
Logo é de esperar que a potência de ruído resultante seja proporcional à corrente
no dispositivo (válvula ou semicondutor de junção), ao contrário do que sucede
com o ruído térmico.

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Ruído e Comunicações

O ruído "shot" é geralmente representado por uma fonte de corrente. A corrente de


ruído para um díodo de junção ou de vácuo é a seguinte:

I N = 2qI 0 B (4.3)

onde:

IN é o valor médio quadrático da corrente de ruído,


q é a carga do electrão (1.6x10-19 C),
I0 é a corrente de polarização de DC do díodo, em Ampères e
B é a largura de banda onde o ruído está a ser calculado em Hz.

Esta equação é válida para frequências muito menores do que o inverso do tempo de
trânsito dos portadores. Dependendo do dispositivo, é válida para frequências de
alguns Megahertz a vários Gigahertz.
O espectro de potência deste tipo de ruído é semelhante ao do ruído térmico.

- Ruído de Excesso ("Excess Noise" ou "Flicker Noise")


É outro tipo de ruído existente em semicondutores e resistências de carbono,
acreditando-se que seja causado por variações na densidade de corrente dos
portadores.
Também é chamado ruído 1/f porque, numa dada largura de banda é inversamente
proporcional à frequência - numa largura de banda de 1 Hz, de 9 a 10 Hz por
exemplo, a potência de ruído é 10 vezes maior do que numa largura de banda de
1Hz centrada nos 100 Hz. Não é, portanto, um ruído branco e chama-se ainda Ruído
Rosa ("Pink Noise") em comparação com a luz cor de rosa pois que esta tem uma
mais alta proporção de vermelho ( a parte inferior do espectro visível) do que tem a
luz branca.
Não é, geralmente, um ruído que constitua um problema nas comunicações porque
decresce rapidamente com a frequência sendo desprezável acima de 1kHz.

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Ruído e Comunicações

- Ruído de tempo de trânsito ("Transit-time Noise")

Muitos semicondutores de junção produzem mais ruído às frequências que se


aproximam das suas frequências de corte. Trata-se de um ruído de alta frequência
que ocorre quando o tempo que os portadores de carga levam a atravessar a junção é
comparável ao período do sinal. Alguns portadores podem difundir-se para trás
através da junção causando uma flutuação de corrente que origina ruído.
Como, em geral, se trabalha a frequências bastante abaixo daquelas para as quais os
efeitos do tempo de trânsito são significantes, este tipo de ruído não é importante
salvo para alguns semicondutores em microondas.

Relação Sinal/Ruído ( "Signal-to-Noise Ratio”)

Admitamos que um feixe de microondas contendo informação é recebido por


determinada antena. Podemos mesmo supor que a portadora é de 7 GHz e que a
informação se distribui numa largura de banda de 1 MHz.

Há uma determinada potência que aparece na recepção que designaremos por PS (a


potência do sinal). Mas já vimos que, a uma determinada temperatura T, esse sinal é
"contaminado" com ruído de natureza térmica e outros. Designando por PN essa
potência de ruído chama-se relação sinal-ruído ao quociente:

S/N = PS / PN (4.4)

O mais corrente é a utilização de unidades logarítmicas, escrevendo-se

PS
S / N (dB) = 10 log ( 4.5)
PN

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Ruído e Comunicações

Factor de Ruído ou Figura de Ruído

É normal que a relação sinal-ruído à entrada de qualquer dispositivo (um


amplificador, por exemplo) seja menor que à sua saída dado que ele amplificará
igualmente o sinal e o ruído e adicionará o ruído gerado por ele próprio.
Ora, chama-se Factor de Ruído (“Noise Figure”) de um determinado dispositivo
(componente, andar ou série de andares) e designa-se por NF ao quociente entre a
relação sinal-ruído à sua entrada (não em dB) e a mesma relação
à sua saída (não em dB), tal como se indica na expressão 4.6:

(S / N )i
NF = (4.6)
(S / N )o

Geralmente o factor de ruído é expresso em dB vindo

NF (dB) = (S/N)i (dB) - (S/N)o (dB) (4.7)

Isto significa que

NF (dB) = 10 log NF (4.8)

Temperatura Equivalente de Ruído

A Temperatura Equivalente de Ruído corresponde a outro modo de especificar a


"performance", a respeito do ruído.
Esta temperatura não tem nada a ver com a temperatura real de operação do circuito
(um amplificador, por exemplo).

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Ruído e Comunicações

É a temperatura absoluta de uma resistência (ver figs. 4.8a e 4.8b) que ligada à
entrada de um amplificador ideal com o mesmo ganho, mas sem ruído, produziria o
mesmo ruído à saída que o amplificador real considerado.

Ganho de Potência A
(S/N)i (S/N)o
Ganho de Potência A
NF = 0 dB
(S/N)o
(S/N)i

Fig. 4.8a - Amplificador


real (com ruído) Resistência de ruído
equivalente

Fig. 4.8b - Circuito equivalente com


resistência de ruído e amplificador ideal

Ora,

(S / N) i S /N SN S N
NF = = i i = i o = i ! o ( 4.9 )
(S / N) o S o / N o S o N i S o N
i

onde Si é a potência do sinal à entrada, So á a potência do sinal à saída, No á a


potência do ruído à saída e Ni é a potência do ruído à entrada.

Se o amplificador tiver um ganho A, será A=So/Si vindo de (4.9):

NF = No/(NiA) ou No= (NF) Ni A (4.10)

Portanto, o ruído total à entrada é (NF) Ni dado que o amplificador tanto amplifica o
ruído como o sinal.

Partindo do princípio que o ruído de entrada é térmico vem, de (4.2):

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Ruído e Comunicações

Ni = kTB

O ruído de entrada equivalente gerado internamente à entrada do amplificador da


fig. 4.8b terá de ser:
.
Neq = (NF) Ni - Ni = (NF)kTB - kTB = (NF-1) kTB (4.11)

Se se supõe que este ruído é gerado numa resistência fictícia de temperatura Teq e, se
para além disso, a fonte real está a uma temperatura T0=290°K, então

k Teq B = (NF-1) k T0 B
Daqui,
Teq = (NF-1) T0 = 290 (NF-1) (4.12)

Aparentemente um resultado muito simples, porque Teq pode ser determinada


directamente a partir do factor do ruído e, portanto, não conterá, nenhuma
informação nova sobre o amplificador.
Mas Teq é extremamente útil quando se trata de receptores de microondas ligados a
antenas por linhas de transmissão.
A linha de transmissão e o receptor têm também as suas temperaturas equivalentes
de ruído. É possível uma temperatura de ruído equivalente para todo o sistema por
simples adição das temperaturas da antena, linha de transmissão e receptor. Daqui,
pode depois calcular-se o factor de ruído do sistema pois é, sucessivamente:

Teq = 290 (NF-1)

NF -1 = Teq /290

NF = (Teq/290) + 1 (4.13)

As temperaturas de ruído equivalentes de amplificadores de baixo ruído são baixas,


muitas vezes inferiores a 100°K.

Notar que isto não significa que o amplificador trabalha àquela temperatura.

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Relação Portadora/Ruído e Temperatura de Ruído do sistema antena/”feeder”


referidas à entrada do Receptor

Para os rádio-“links” analógicos a sua performance é satisfatória se a relação


portadora/ruído (“carrier-to-noise ratio”) exceder um determinado número de
decibeis.
A relação portadora-ruído é simplesmente a relação sinal-ruído medida antes do
sinal ser desmodulado, isto é, enquanto ainda há portadora.
De modo a determinar a relação portadora-ruído, necessitamos obviamente da
potência do sinal e da potência do ruído. A potência do sinal é simples de calcular.
A potência de ruído consiste principalmente de ruído térmico, quer recebido pela
antena (ruído do espaço – “space noise”) ou gerado na antena, linha de transmissão
ou receptor.
A antena recebe ruído do espaço e, talvez, também do terreno, dependendo se o
feixe da antena inclui o terreno.
A temperatura de ruído de espaço depende do ângulo de elevação da antena, da
frequência e das condições atmosféricas.
Para uma antena de um “link” de microondas terrestres com uma elevação da antena
de 0º e uma frequência de 6 GHz, uma temperatura de espaço típica será da ordem
de 120ºK.
As perdas resistivas na antena e na sua linha de transmissão (“feeder”) devem ser
tidas em conta para o cálculo da temperatura de ruído equivalente, à entrada do
receptor.
Partindo do princípio que a linha de transmissão está à temperatura de referência de
290ºK (17ºC) demonstra-se que a temperatura de ruído à entrada do receptor é dada
por
(L-1)290 + Tsky
Ta= --------------------- (4.14)
L
onde Ta é a temperatura de ruído efectiva da antena e “feeder”, em graus Kelvin,
referida à entrada do receptor e L é o valor das perdas no “feeder” e antena,
expresso como a relação entre a potência de entrada e de saída (não em dB) e Tsky é
a temperatura de espaço efectiva em graus Kelvin.
Por exemplo, se a temperatura de espaço for 120ºK e a linha de transmissão da
antena (“feeder”) tiver umas perdas de 2 dB, a temperatura de ruído do sistema da
antena/linha de transmissão, referida à entrada do receptor, é

(1.58-1).290 + 120
Ta = --------------------------- = 182ºK
1.58

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Ruído e Comunicações

Ruído de Amplificadores em Cascata

Sabe-se, por exemplo, que num receptor, se ligam dois ou mais amplificadores em
cascata.
Consideremos apenas 2 andares (fig. 4.9) e examinemos qual será a performance de
ruído do conjunto:

Andar 1 Andar 2

Ganho A1 Ganho A2
Factor de Ruído NF1 Factor de Ruído NF2

Fig. 4.9

Suponhamos que o ruído à entrada do 1º andar é Ni1 = kTB.

Então, o ruído à saída do 1º andar será:


No1 = Ni1 A1 NF1 = NF1 kTB A1

O segundo amplificador também, ele próprio, contribui com ruído que, de acordo
com a expressão (4.11) é

Neq2 = (NF2 -1) kTB

E este ruído aparece à saída do amplificador A2 amplificado, ou seja:

No2 = No1 A2 + Neq2 A2


=NF1 kTB A1 A2 + (NF2 -1) kTB A2

ou ainda,
No2 = kTBA2 (NF1 A1 + NF2 - 1)

O factor de ruído do conjunto é


NFT = No2 / (Ni1 AT)
com, AT (ganho total do conjunto), como se sabe, igual ao produto A1 A2 .
Pág. 4-21
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Ruído e Comunicações

Virá, portanto:

kTBA 2 ( NF1.A1 + NF2 ! 1) NF1.A1 + NF2 ! 1


NFT = =
kTBA1A 2 A1
NF2 ! 1 (4.15)
NF = NF1 +
T A1

Por aqui se vê que o factor de ruído do primeiro andar é o mais importante


contribuidor para a performance de ruído da cadeia de amplificação.

A fórmula de Friis generaliza este aspecto para uma cadeia de n amplificadores,


estabelecendo, para o factor de ruído total NFT :

NF2 ! 1 NF3 ! 1 NF4 ! 1 NFn ! 1 (4.16)


NFT = NF1 + + + + ... +
A1 A1 A 2 A1 A 2 A 3 A1A 2 A 3 ...A n !1

Assim se nota claramente a predominância do efeito do factor de ruído do primeiro


andar já que todos os outros aparecem divididos pelos produtos dos ganhos dos
andares anteriores.

De notar que na fórmula de Friis, os factores de ruído e os ganhos não são expressos
em dB.

Pág. 4-22
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Elementos de Propagação

Propagação em Espaço Livre

As microondas comportam-se de uma maneira semelhante à luz e ainda ninguém


sabe verdadeiramente como a luz se propaga no vazio mas, na verdade, todos
sabemos que ela se propaga !
As perdas devidas à propagacão em espaço livre são definidas de uma forma ideal
entre duas antenas isotrópicas colocadas no espaço, sem interferência do terreno
nem das condições atmosféricas, condições estas que na prática não podem ser
obtidas.
A Perda (Atenuação) em espaço livre é dada pela seguinte expressão:

(4.17)

sendo:

! o comprimento de onda e
D a distância entre emissor e receptor.

De facto, a densidade de potência Pd presente na frente de onda que chega à antena


receptora colocada à distância D da antena de emissão é :
Pt
Pd = ------------- (4.18)
4" D2
sendo Pt a potência de emissão da antena isotrópica.

Como a área efectiva da antena isotrópica é !2/(4") virá para a potência recebida
pela antena isotrópica receptora:

(4.19)

A atenuação de espaço livre é definida por: Pt 4"D 2


At = =( ) (4.20)
Pri !
Logaritmicamente, como ! = c/f :
4! 2
A t = 10 ! log ( ) + 20 ! log D + 20 ! logf
c Pág. 4-23
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(4.21)
Elementos de Propagação

Claro que acima se supôs sempre de D e ! devem ser expressos na mesma unidade .
Geralmente, em Microondas, usa-de D em km e f em GHz, pelo que, trabalhando
aquela equação com estas unidades se obtém a conhecida expressão:
At (dB) = 92.4 + 20 log D + 20 log f (4.22)
A figura seguinte (fig. 4.10.a) representa graficamente esta expressão em função
180

40 GHz
170
18 GHz
15 GHz
12 GHz
160 8 GHz
6 GHz
4 GHz
Atenuação de Espaço Livre (dB)

150
2 GHz

1 GHz
140

130

120

110

100

90
300
1 10 100 1000
Distância (Km)
Fig. 4.10.a Atenuação em Espaço Livre em função da distância

da distância para diversos valores da


frequência, enquanto que a fig.
4.10.b o faz em função da
frequência para diversas distâncias.
Como exemplo, para uma ligação de
48 km a 2 GHz, a perda em espaço
livre é de 132 dB e a 12 GHz é de
148 dB, o que realmente é um
grande valor de atenuação. De
facto,se for emitido emitido 1 W,
apenas seráo recebidos 10-13 W.

Fig. 4.10.b Atenuação em Espaço Livre


em função da frequência

Pág. 4-24
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Elementos de Propagação

Felizmente, aquelas curvas são para antenas isotrópicas, pois para antenas com 40
dB de ganho o valor anterior sobe para 10-5 W.

Efeitos Atmosféricos

! Absorpção

Pode-se considerar, para efeitos práticos, que a verdadeira propagação em espaço


livre existe numa grande parte do trajecto de comunicação via satélite, mas nas
comunicações terrestres faze-se forçosamente através da atmosfera.
O oxigénio da atmosfera absorve uma certa energia de microondas mas esta
atenuação é muito pequena na gama de frequências de microondas utilizada nos
rádio-“links” (é de apenas aproximadamente 0.01 dB/km a 2GHz e de 0.02 dB/km a
26 GHz).
Para mais completa referência, a fig. 4.11 mostra-nos, para diferentes humidades
absolutas e a uma determinada temperatura (15ºC), quais são as perdas atmosféricas
em dB/km função da frequência. Essas perdas são devidas ao vapor de água,
oxigénio e ozono.

C Fig. 4.11

ontudo as microondas são, essencialmente, significativamente afectadas pela chuva,


sobretudo a partir dos 10 GHz, como se pode também verificar através da

Pág. 4-25
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Elementos de Propagação

fig. 4.12 onde é notório que essa atenuação (resultante da absorpção e difusão pelas
gotas de água) aumenta com a intensidade da chuva e é também dependente do tipo
de polarização da onda.

Fig. 4.12 Curvas estimativas da atenuação devida à chuva

! Refracção

Outro efeito provocado por agentes atmosféricos á a refracção que consiste num
encurvamento da trajectória das ondas de rádio devido às mudanças das
características da atmosfera, pois esta altera a sua densidade, temperatura e
humidade com a altitude. Este efeito na refracção pode ser muito sério já que o feixe
pode ser desviado da sua trajectória normal devido a mudanças climáticas obrigando
a cortes que podem ir de uma fracção de segundo a várias horas.

Pág. 4-26
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Elementos de Propagação

A variação da densidade das camadas atmosféricas afecta o percurso e a velocidade


das microondas que se propagam na atmosfera com uma velocidade v de acordo
com a expressão
c c (4.23)
v= =
" !r
onde ! é o índice de refracção, c a velocidade da luz e "r a permitividade
relativa.
A fig. 4.13 indica o desvio de um feixe que passa de uma camada de ar mais densa
para outra menos densa, o que não é mais do que um fenómeno conhecido da Física.

Fig. 4.13 Refracção de um feixe de Microondas

A este propósito convém aqui recordar a Lei de Snell que estabelece que, dados dois
meios ( o meio 1 com o índice de refracção #1 e o meio 2 com o índice
de refracção #2 ) e a superfície de separação dos dois meios (ver fig. 4.14), a

Fig. 4.14 Refracção e Lei de Snell

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Elementos de Propagação

incidência de um raio na superfície de separação que forme com a normal a essa


superfície um ângulo $1 dá origem a um raio refractado que faz com aquela mesma
normal um ângulo $2 de tal forma que
!1 sin #1 = !2 sin #2 (4.24)

O índice de refracção (de acordo com a lei de Snell para a Óptica, também aplicável
em rádio-frequências) é dado por

" = µr!r (4.25)

sendo µr a permeabilidade relativa do meio e %r a permitividade relativa desse


mesmo meio.

No nosso caso, propagação na troposfera, é µr ! 1, para ambos os casos (ambos os


meios) vindo para o índice de refracção:

! = µr (4.26)

O índice de refracção do meio é a relação entre a velocidade da luz em espaço livre


(no vazio) e a velocidade da luz nesse meio:
c (4.27)
!=
v

Como
1
c= (4.28)
µ 0! 0
virá, finalmente:

1 1 1 c c
v= = = = = (4.29)
µ" µ 0µ r " 0 " r µ 0" 0" r "r !

confirmando a expressão 4.23 acima.


Pág. 4-28
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Elementos de Propagação

A verificar-se o que se passa o que está indicado na fi. 4.13 há como que um
encurvamento do feixe para baixo, isto é, no sentido da superfície terrestre, o
que permite, nestes casos, atingir maior distância do que se fosse em linha recta.

Este fenómeno é equivalente a aumentar o raio de curvatura terrestre e, em

Fig 4.15 – Aumento da distância de transmissão


devida à refracção

média, as condições atmosféricas originam uma curvatura do feixe que tem um


raio que é aproximadamente 1.33 vezes o verdadeiro raio da terra, o que, na
prática implica um alcance do feixe que é cerca de 15% mais elevado do que
se a propagação se fizesse em linha recta.

A “variação da curvatura” da terra devida à refracção é traduzida pelo factor K,


sendo este K a relação entre o raio equivalente efectivo da terra e o verdadeiro
raio da terra.

Há muitas vezes uma má interpretação àcerca do raio equivalente efectivo da


terra porque este não é o raio do feixe de microondas. Para umas dadas
condições atmosféricas é o raio de uma terra fictícia que permitiria que o feixe
de microondas fosse desenhado como uma linha recta.

Assim, por exemplo, se as condições de propagação são as “standard”, que são


afinal, as típicas de terrenos do interior (afastados da costa marítima ou de
grandes massas de água) teremos um valor de K=4/3 e isto equivale a dizer que
para uma terra com um raio igual a 4/3 de 6370 km (portanto, mais plana) o
feixe teria uma trajectória em linha recta..

Pág. 4-29
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

A curvatura da terra (ou melhor, a variação em altura de qualquer ponto à distância


d1 do terminal A que se encontre à cota zero, relativamente à linha recta que une as
cotas zero de A e B) que não é mais do que a “barriga” da terra naquele ponto e que
se designa por “Earth Bulge” (EB) é dada pela expressáo (ver figura 4.16):

d1 ! d 2
EB = (4.30)
12.75 !K

sendo d2 a distância daquele ponto ao outro terminal (terminal B).

EB
A B

d1 d2
Fig 4.16 – “Earth Bulge”

Notar que d1 e d2 são expressos em km, vindo EB em metros

É evidente que EB é máximo a meio da distância do “link” e que diminui quando K


aumenta.
Claro que no mesmo salto, se K diminuir, como EB aumenta, a possibilidade de
cortar o feixe aumenta se o “link” não estiver suficientemente liberto.

É comum manter-se o feixe em linha recta como na fig. 4.17 e aumentar ou diminuir
a curvatura da terra consoante o valor de K.

Pág. 4-30
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

Na figura que se segue procede-se de diferente maneira, isto é, mantem-se a terra


com a sua curvatura real inalterável e mostra-se como para diferentes valores de K
seria a trajectória real do feixe entre as duas antenas do salto em microondas:

Fig. 4.17 - Trajectórias do feixe de microondas para diferentes valores de K

Repara-se que para K=1 o feixe segue uma trajectória rectilínea, que para K=4/3 o
feixe encurva ligeiramente para baixo permitindo maiores alcances e ainda que
para valores de K maiores do que 4/3 (as chamadas condições “super-standard” ou
super-refractivas) os alcances seriam ainda maiores.
Para o valor particular de K=# o feixe teria uma curvatura exactamente igual à
curvatura da terra. Este tipo de condições “super-standard” resultam de certas
condições meteorológicas tais como um aumento da temperatura com a altitude
(inversão de temperatura).

Para valores de K inferiores a 1 (condições de atmosfera “sub-standard” ou sub-


refractiva) o feixe encurva para cima, diminuindo o alcance.
Esta situação ocorre quando, sob determinadas condições meteorológicas, a
densidade da atmosfera aumenta, em vez de diminuir, com a altitude.
Isso pode acontecer, por exemplo, com a formação de nevoeiro criado pela
passagem de ar quente sobre uma camada de ar frio.
Já nos referimos, como efeitos atmosféricos, à absorção (que ilustrámos na fig.
4.12) e à refracção.

Pág. 4-31
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

O efeito de canal ou “ducting” (ver fig. 4.18) é outro fenómeno relacionado com a
refracção atmosférica em que, sob determinadas condições, o feixe pode ser
“canalizado” como se estivesse dentro de um grande guia de ondas
(com reflexões sucessivas na baixa atmosfera) podendo a antena receptora perder
totalmente o sinal.

Fig.4.18 – Feixe de microondas refractado e conduzido através de um ”canal” atmosférico

Efeitos do Terreno

Como se sabe, a propagação das microondas é afectada por diferentes tipos de


obstáculos que o feixe possa encontrar no seu percurso. A forma e o tipo de material
desses objectos tem importância na influência sobre o feixe, podendo até prejudicar a
propagação mesmo que os objectos não estejam a obstruir directamente o feixe, isto
é, mesmo que não estejam a impedir a linha de vista.

! Reflexões

Um feixe de Microondas pode ser reflectido por qualquer obstáculo ou pela


superfície terrestre tal como se indica na Fig. 4.19 :

No caso da reflexão no terreno chegam à antena o feixe directo e o feixe reflectido,


este com um certo atraso de fase, uma vez que percorreu uma distância maior. Se as
duas ondas chegam em fase, há um aumento do sinal mas, se chegam em oposição
poderá haver cancelamento.

Pág. 4-32
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Elementos de Propagação

Fig.4.19 – Reflexão na superfície terrestre

A fig. 4.20 mostra como uma como uma onda pode inverter a fase por efeito de
reflexão no terreno.
Se não houvesse obstrução, a frente de onda continuaria para a’b. A superfície

Fig. 4.20 – Uma onda electromagnética sofre uma mudança de direcção e, geralmente, uma
mudança de fase na reflexão

de reflexão obriga a uma mudança de direcção que resulta na frente de onda acb.
Como a frente do onda continua a chegar à superfície reflectora é re-direccionada e a
sua fase altera-se.

Pág. 4-33
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

O desvio de fase de 180º ocorre para ondas polarizadas horizontalmente às


frequências de rádio das microondas enquanto que, para ondas polarizadas
verticalmente, o desvio de fase fica algures entre 0º e 180º dependendo das condições
do terreno e do ângulo de incidência.
Em terremos rugosos (áreas rochosas, áreas arborizadas, etc), a energia reflectida não
é grande dado que ao incidir no terreno há como que um “espalhamento” da onda em
diversas direcções.
Por outro lado sabemos que quanto mais rasante relativamente ao terreno é a onda
incidente mais energia terá a onda reflectida.
Havendo reflexão, à antena de recepção podem chegar duas ondas (a onda directa e a
onda reflectida). Dependendo do comprimento do trajecto da onda reflectida
comparado com o da onda directa, a onda reflectida pode chegar à antena receptora
ou em fase, ou em oposição de fase ou parcialmente desfasada em relação à onda
directa.
Em condições em que a superfície de reflexão seja bastante lisa e as ondas directa e
reflectida cheguem ao receptor em oposição de fase, a onda reflectida pode quase
completamente cancelar a onda directa e originar um desvanecimento (“fading”)
profundo na intensidade do sinal recebido.
Este fenómeno é mais “perigoso” quando a superfície reflectora é uma superfície de
água ou uma zona pantanosa ou uma fina camada de ar quente que exista
imediatamente acima da areia de um deserto durante o dia.
Portanto, em geral, as ondas reflectidas não são desejadas.AS alterações nas
qualidades refractivas do ar obrigam a uma constante mudança do ponto de reflexão
fazendo com que ondas directa e reflectida ora cheguem em fase ou desfasadas,
causando assim grandes variações na intensidade do campo recebido.

! Zonas de Fresnel

Na transmissão entre os terminais de um salto de um feixe hertziano verifica-se,


para a frequência de trabalho, que existe um lugar geométrico constituído pelo
conjunto dos pontos “P” para os quais a onda pode ser reflectida com um
comprimento de percurso adicional de meio comprimento de onda e a que
corresponde, naturalmente, um desfasamento de 180º relativamente ao raio
directo (ver fig. 4.21). Esse lugar geométrico é um elipsóide que se designa por
Elipsóide de Fresnel

Pág. 4-34
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

em homenagem ao homem que primeiro estudou este fenómeno, o francês


Augustin Jean Fresnel, no início do século XIX.

d3 P2 d2 d4
d1 P1

E R
d=de + dr

de P R1 R1max dr

Fig. 4.21 - Elipsóide de Fresnel

Portanto, o lugar geométrico dos pontos P1, P2, … para os quais as distâncias
d1+d2 = d3 + d4 = di + di+1 = d + (!/2) (com i=1,2,3,...) definem um elipsóide
chamado Elipsóide de Fresnel.
O raio máximo deste elipsóide fica naturalmente a meio da distància entre
emissor e receptor e é dado pela expressão:

R1max = d " ! / 2 (4.31)

À zona delimitada pelo elipsóide (elipsóide este que, como vimos, constitui uma
superfície que faz com que a energia nele reflectida chegue à antena receptora
desfasada de 180º ou de !/2) chamamos 1ª Zona de Fresnel.
Num ponto qualquer ao longo do percurso às distância de do Emissor e dr do
Receptor tais que de + dr =d (comprimento do salto) o Raio do 1º Elipsóide
Fresnel é dado por:

" ! de ! dr (4.32)
R1 =
d

Nas fórmulas anteriores todas as unidades são em metros.

Pág. 4-35
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

No entanto a fórmula prática para o cálculo do raio da 1ª Zona de Fresnel é a seguinte:


(4.33)
d !d
R1 = 17.32 e r
f !d
onde de , dr e d são dados em km e f é a frequência em GHz vindo o resultado R1 em
metros.

Nas figuras 4.22 e 4.23 verifica-se que, envolvendo o 1ª elipsóide de Fresnel existe
outro elipsóide que constitui uma superfície onde a reflexão das ondas se faz de tal
modo que o seu percurso total é maior que o percurso directo de dois meios
comprimentos de onda, ou seja, de !. A esse elipsóide dá-se o nome de 2º Elipsóide de
Fresnel.
Outros elipsóides se seguiriam (3º, 4º, etc) de maneira que numa frente de onda, como
se observa pelas figuras, aparece um círculo central (1ª zona de Fresnel) rodeado de
vários anéis correspondentes à 2ª, 3ª, 4ª, etc Zonas de Fresnel.

Fig. 4.22 - Zonas de Fresnel

Demonstra-se que a área de cada zona de Fresnel é aproximadamente igual pelo que as
contribuições para o valor do sinal trazidas por zonas adjacentes tendem a cancelar-se
uma à outra, devido à diferença de fases.
Contudo como as distâncias vão aumentando as contribuições das zonas de maior ordem
tornam-se menos significativas.

Pág. 4-36
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

Demonstra-se que o valor


final do campo recebido
resultante da contribuição
de todas as zonas de
Fresnel corresponde
aproximadamente a metade
daquele que se obtem
considerando apenas a 1ª
zona de Fresnel.
Daí a importância do 1ª
elipsóide de Fresnel.
Os raios máximos do 2º,
3º, etc elipsóides de
Fresnel são dados por

R 2 max = 2 ! R1max

R 3 max = 3 ! R1max

Fig.4.23 – Zonas de Fresnel


R n max = n ! R1max
e, de um modo geral, o raio do elipsóide de Fresnel de ordem n, em qualquer ponto P do
seu eixo é:
n ! de ! dr
R n = 17.32 (4.34)
f !d

com Rn em metros, de , dr e d em km e f em GHz

O 1º elipsóide de Fresnel não deve ficar de modo algum obstruído, pois há


consequências muito significativas quando qualquer obstáculo tal como uma colina,
árvores, edifícios, etc ficam situados dentro dele.

Por isso, quando se calcula um Link de Microondas é necessário traçar à escala o perfil
do terreno e desenhar o 1º elipsóide de Fresnel para confirmar se existe algum obstáculo
que esteja situado dentro do elipsóide.

Pág. 4-37
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

A prática demonstrou que, para se obter uma transmissão que não seja afectada por
obstáculos, estes deverão estar, no mínimo a 0.6 vezes o Raio do elipsóide
correspondente ao local.
Relativamente à definição de obstrução da primeira Zona de Fresnel e aos critérios de
libertação a utilizar em projecto, deve consultar-se o Anexo 1.

! Difracção

A difracção é um fenómeno característico das ondas electromagnéticas que sofrem um


desvio e dispersão quando passam tangentes a um obstáculo, desvio esse que depende
da forma e do tamanho do obstáculo.
A difracção pose ser do tipo “Smooth Sphere Diffraction” (difracção sobre obstáculo
esférico liso) quando o feixe é desviado por uma superfície aproximadamente esférica,
ou do tipo “Knife-Edge
Diffraction” (difracção sobre
um obstáculo em gume de
faca) quando o feixe é
desviado por um
O termo “Shadow Loss”
(perda de sombra) é usado
para definir o tipo de
atenuação por detrás do
obstáculo, a qual, como é
evidente, também depende da
frequência.
Fig.4.24 – Incidência tangencial do feixe
em ostáculos

Relativamente aos dois casos de


difracção da fig. 4,24 (“Knife Edge” e
“Smooth Sphere”) apresenta-se
ainda a fig.4.25a que compara as
perdas para esses dois casos com a
perda em espaço livre, em função da
Libertação (Clearance) da 1ª zona de
Fresnel.
A fig.4.25b apresenta também uma
família de curvas (uma para cada

Pág. 4-38
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

coeficiente de reflexão da superfície, R) que dão em ordenadas as perdas adicionais em


dB relativamente à situação de espaço livre e em abcissas a percentagem da libertação
da 1ª zona de Fresnel (0.5, por exemplo, significa que há uma libertação de 50% do
primeiro raio de Fresnel).
R=0 corresponde à difracção do tipo “Knife Edge” e R=-1 à difracção do tipo “Smooth
Sphere”.
O sinal (-) significa que há um desvio de fase de 180º que se verifica quando a energia é
reflectida ou difractada segundo ângulos pequenos.
R=- 0.3 corresponde a um valor comum para um grande número de percursos.

A libertação não é mais do que a distância (medida na vertical) entre o obstáculo e o


eixo do elipsóide de Fresnel (ver figura seguinte).

Pág. 4-39
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Elementos de Propagação

Critérios de Libertação

Perante o perfil de um salto de determinada ligação, uma das primeiras análises a


efectuar é a de todos os pontos que possam representar obstáculos susceptíveis de
obstruir a propagação do feixe entre as antenas emissora e receptora ou de produzir
perdas altas por difracção.

Considere-se a fig. 4.25c que mostra o exemplo de um perfil.


O que se pretende é que ao longo de todo o perfil exista sempre uma determinada

Ha D2 + Hb D 1 D1 D 2
C= Libertação ("CLEARANCE”) = ----------------------- - H o - ------------
D 12.75 K

D1D2
RF = 300 ------------
FD
C RF % Fresnel
Margem= Libertação - -------------- x RF
100
Margem
Ha
hsa

Ho
Hb

hsb
EB
D1 D2
D

Fig. 4.25c

libertação C por forma a que não haja qualquer obstrução do raio directo, ou melhor,
que garanta que o primeiro elipsóide de Fresnel (ou uma parte substancial dele) fique
desobstruído.

O valor de C é obtido através da fórmula incluída na própria figura onde Ha e Hb


representam as cotas das antenas em metros nos terminais A e B, respectivamente, hsa e
hsb as cotas ao nível do terreno, em metros e Ho a cota do obstáculo também em
Pág. 4-40
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

metros; D é o comprimento do salto em km e D1 e D2 saõ, respectivamente, as


distâncias do obstáculo aos terminais A e B, também em km.

A Margem M é a diferença entre a libertação C e a percentagem do raio de Fresnel RF


que se pretende desobstruída (no caso da figura temos %Fresnel=100%) e a fórmula
para o seu cálculo está também incluída na figura acima.

Há então que definir critérios a estabelecer por forma a que, com o mínimo de alturas de
torres em A e B, se consigam os valores de libertação adequados para todos os pontos
do trajecto.

Os critérios de libertação irão depender da frequência, do perfil do salto e das


características do(s) obstáculo(s) que se apresentem. No projecto as cotas das antenas e
as respectivas alturas das torres deverão basear-se, primeiramente, em critérios de
libertação que garantam a existência de “linha de vista” entre as antenas para as
diferentes condições de propagação, isto é, para os valores de K a considerar para o
trajecto em análise.

Em termos práticos devem seleccionar-se as mínimas alturas de antenas aceitáveis


definidas pelos seguintes critérios básicos:

• Libertação total para o valor “standard” de K (4/3)


• Libertação aceitável par o mínimo valor de K ocorrendo durante uma baixa
percentagem de tempo (0.1 % tipicamente)

Significa isto que para se actuar de uma forma correcta, a definição dos valores de K e
dos critérios de libertação adequados deve ser estudada caso a caso.

Contudo, os seguintes critérios “típicos” de libertaço devem ser aplicados em ligações


“standard” (saltos até aproximadamente 60 km, climas temperados, banda de
frequências de 2 a 18 GHz), na ausência de dados locais:
Nas frequências acima dos 2 GHz os critérios “standard” (a aplicar em simultaneidade)
são os seguintes:~

" Para K=4/3, 100 % de libertação do raio do 1º elipsóide de Fresnel

" Para K=2/3, 60 % de libertação do raio do 1º elipsóide de Fresnel

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Elementos de Propagação

No caso da existência de uma configuração de diversidade de espaço (assunto a que nos


referiremos mais adiante) a altura da antena de diversidade deve proporcionar uma
libertação de 6º% do raio do primeiro elipsóide de Fresnel para o valor “standard” de K.

Para as frequências entre 1.5 e 2 GHz devem ser usados os seguintes critérios:

" Para K=4/3, 60 % de libertação do raio do 1º elipsóide de Fresnel

" Para K=2/3, 30 % de libertação do raio do 1º elipsóide de Fresnel

A adopção dos critérios de libertação acima indicados permite-nos considerar como


desprezáveis as contribuições para a indisponibilidade da ligação, a respeito da
propagação, devidas a problemas de obstrução.

Em regiões em que as condições climáticas conduzam a valores de K inferiores a 2/3 ou


no caso de se terem calculado alturas de torres excessivas ou ainda em saltos críticos
com problemas severos de propagação (saltos muito longos, saltos sobre a água, áreas
tropicais, etc) os critérios acima podem ter de ser revistos.

Para feixes hertzianos de UHF ( nas bandas inferiores a 1 GHz):

" Para K=2/3, 10 % de libertação do raio do 1º elipsóide de Fresnel

" Para K=4/3 as perdas por obstrução têm de ser consideradas


como atenuação adicional no cálculo do nível do
sinal recebido.

Pág. 4-42
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

Fading

O Fading ou Desvanescimento consiste na variação da intensidade do sinal de


Microondas na recepção que é devido a alterações atmosféricas e/ou a reflexões no
terreno e na água no
trajecto de propagação.
Reparemos na fig.4.26
aqui junta, em que se
ilustra o modo como o
feixe de microondas
pode ser influenciado
pela variação do índice de
refracção do ar; como já
referimos, em
condições normais,
consideradas condições
“standard”, o valor de K
é igual a 4/3, para as
quais o feixe é
rectilíneo para uma
terra com 4/3 do verdadeiro do raio da terra e, é segundo esta condição que o feixe é
alinhado entre as duas antenas, emissora e receptora.
Mas quando a densidade do ar é tal que k<4/3 ficamos perante uma atmosfera
subrefractiva encurvando o feixe para cima ou ainda, se essa mesma densidade for tal
que modifica o índice de refracção para um valor k>4/3 ficaremos perante uma
atmosfera super-refractiva e o feixe encurva-se para baixo.
Qualquer destes tipos de desvio do feixe pode causar uma considerável redução da
intensidade do sinal recebido ou provocar mesmo o seu cancelamento

Há dois tipos principais de Fading:

1 – Fading não selectivo (Fading Plano ou ”Flat Fading”)

2 - Fading selectivo

O Fading diz-se não selectivo se for, de certo modo, independente da frequência e diz-
se selectivo se for dependente da frequência, isto é, se diferentes frequências dentro da
banda transmitida são afectadas diferentemente.

Pág. 4-43
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

Nenhum tipo de Fading pode ser previsto com exactidão porque, cada um deles é
causado por variações das condições atmosféricas. Em termos estatísticos apenas se
pode afirmar de acordo com a teoria das probabilidades que um sistema de microondas
estará inoperativo durante uma certa percentagem do ano, devido ao Fading. Existem,
entretanto, técnicas que permitem aumentar e garantir o tempo de serviço do sistema.

! Fading Não Selectivo ou “Flat Fading”

Vários tipos de Fading como os que se ilustram na fig. 4.27, estão dentro desta
categoria como o Fading devido à chuva, o Fading devido a uma obstrução parcial
causada por curvatura inversa e o Fading devido a “efeito de canal” dentro de uma
camada atmosférica (Ducting).

Tipo de Fading Registo típico do nível de sinal

1 HORA

a. Atenuação
devida à chuva
(10 GHz e acima)
NÃO SELECTIVO - 40 dB ou mais

Nevoeiro

b. Atenuação
(Obstrução,
VALES FRIOS Curvatura Inversa)
NÃO SELECTIVO
excepto se
acompanhado de
multi-trajecto
Nevoeiro
- 10 dB
MUTE ou mais
Água fria (Silen-
cia-
+ 20 dB ou mais
c. Efeito de mento)
Canal (dentro de
uma ca-
mada atmosférica
Selectivo em
espaço, somente

Fig.4.27 – Fading Não Selectivo

Pág. 4-44
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

! Fading Selectivo

Quando as condições atmosféricas são tais que existem várias camadas de ar


estratificadas com diferentes densidades podem ocorrer “fenómenos de canal” como já
vimos.
Contudo, se as condições são tais que o feixe não seja canalizado mas deflectido (ver
fig. 3,28) a energia das microondas pode atingir a antena receptora segundo vários
percursos diferentes do trajecto directo, originando um tipo de fading chamado fading
multipercurso ou multi-trajecto.
Neste tipo de fading multipercurso os sinais recebidos raramente estão em fase,
produzindo atenuação ou mesmo interrupção do sinal. O multipercurso é selectivo
porque este fenómeno pode ocorrer apenas para certos comprimentos de onda e para
certas condições atmosféricas existentes na ocasião.
A experiência mostrou que para percursos superiores a 40 km pode haver Fading
Multipercurso já para frequências superiores a 890 MHz e que é mais pronunciado no
verão ou quando o tempo está quente, húmido e sem vento.
Referimo-nos mais adiante, um pouco mais em pormenor, ao fading multipercurso.

Fig. 4.28 – Mecanismo do Fading Multipercurso

Entretanto, indicamos na figura seguinte (fig.4.29), com ilustrações, os vários tipos de


Fading selectivo.

Pág. 4-45
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

Tipo de Fading Registo típico do nível de sinal


1 HORA

Multi-trajecto
atmosférico
(estável)

Multi-trajecto
atmosférico
(turbulento)

Reflexão
(de camadas elevadas
elevadas ou de camadas
mais baixas)

Reflexão
Reflexão
(decamadas
(de lençóis atmosféricos)
elevadas ou de
camadas mais baixas)

Reflexão
(da terra ou água)
Trajecto
baixo devido a re-
flexão estável

Fig.4.29 – Fading Selectivo

Dos três factores que mais podem perturbar (interrompendo) um rádio-“link” e que são:

- A falta de energia primária;


- A falha (avaria) dos equipamentos;
- O “Fading” multipercurso

Pág. 4-46
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

O evento mais perturbador e contra o qual importa tomar medidas é o fading


multipercurso que é um fenómeno aleatório (não previsível) com quedas imprevistas no
sinal que chega ao receptor de microondas.

Este fading multipercurso ocorre geralmente durante a noite, é selectivo em frequência e


passa muito rapidamente. É causado pela energia reflectida ou refractada que chega ao
receptor desfasada em relação à onda directa.

Quando há um vento constante e uma mistura contínua do ar raramente ocorrem


múltiplos percursos de transmissão mas, quando o ar está muito parado, tende a formar-
se camadas, cada camada com uma temperatura diferente, e com uma mistura diferente.
Frequentemente o ar é mais parado durante a noite e imediatamente antes da
madrugada; nestas condições formam-se vários percursos.

Se dois raios têm trajectos que diferem de um comprimento de onda e um deles tiver
tido uma reflexão, chegarão ao receptor em oposição de fase e a sua intensidade
resultante será nula; note-se que para uma portadora de 5 GHz o comprimento de onda é
6 cm e que, portanto, bastará uma diferença de 3 cm no trajecto de duas componentes
quaisquer (ambas sem reflexão) para haver cancelamento.

Normalmente, em feixes analógicos ou em feixes digitais de pequena capacidade, o


conteúdo da informação da portadora de microondas não é prejudicado pelo fading
multipercurso. De facto, as diferenças no trajecto devidas a reflexões e refracções
variam geralmente de, por exemplo, 1 cm a 2 metros. Haverá assim muitas
“oportunidades” para severas separações em fase das componentes da onda portadora ás
frequêncais das microondas.
Contudo, tais diferenças nos trajectos, são somente uma pequena fracção da
componente de modulação (transportadora da informação) da portadora de microondas.
Assim, por exemplo, se a frequência mais alta da banda base do sinal modulador for 4
MHz, corresponder-lhe-á um comprimento de onda de 75 metros e uma diferença de
percurso de, por hipótese, 1 metro, representa apenas uma diferença de fase de 4.8°
entre duas componentes de 4 MHz (distorção não muito significativa).

Pág. 4-47
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Elementos de Propagação

Logo, o principal problema, nesses casos, é assegurar que suficiente energia de


microondas atinja a antena receptora de modo a que possa ser detectada correctamente.
Alguns “fadings” multipercurso reduzem a intensidade do sinal de apenas alguns dB
mas “fadings” profundos podem atingir até 40 dB ou mais.
Lord Rayleigh mostrou que os cancelamentos ocorrem de uma maneira previsível e
seguem uma distribuição de probabilidade conforme a figura seguinte
1 0 0 0

3.0

2.0

1.0
Percentagem de tempo abaixo do nível médio do sinal 0000

0.5 1 0 0

0.2

0.1

0.05 1 0

0.02

0.01

0.005 1

-10 -15 -20 -25 -30 -35 -40


Nível de Sinal em relação ao nível médio (dB)

Fig. 4.30 - Probabilidades de Fading de acordo com Rayleigh

Esta curva indica a probabilidade da existência de fadings em microondas, de diversos


valores (-10 a – 40 dB).

Por exemplo, fadings de -40 dB (ou mais) abaixo do nível médio do sinal podem
ocorrer em aproximadamente 0.007% do tempo.

Pág. 4-48
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

A medida da fiabilidade de um sistema é geralmente referida como a sua


disponibilidade. Obviamente que o nosso objectivo é que essa disponibilidade seja tão
próxima dos 100% quanto possível.

Um rádio-“link” estará indisponível ou porque há uma avaria no equipamento, ou


porque há uma falha de energia ou porque há uma interrupção do sinal devida a
fenómenos de fading ou outros ou ainda porque a relação sinal/ruído ou a taxa de erros
do sinal recebido são incompatíveis com a detecção das mensagens.

O problema reside em determinar por quanto tempo é tolerável uma interrupção ou que
degradação ou taxas de erros ( e por quanto tempo) são admissíveis

A tabela seguinte mostra-nos as ordens de grandeza dos tempos de interrupção máxima


toleráveis para alguns sistemas de informação.

Tabela 4.2
Tempos de Interrupção para vários tipos de tráfego
Tipo de tráfego Máximo tempo tolerável Efeitos por se exceder a
de interrupção tolerância
Circuitos de voz 100 ms Falha de marcação no
equipamento de comutação
Video 100 µs Perda de sincronismo
Dados (64 Kbps) 10 µs Erros
Dados (2.488 Gbps) 1 ns Erros

Durante muitos anos o BER (“Bit Error Rate” ou taxa de erros binários) tem sido
considerado uma medida essencial para caracterizar a Performance de uma ligação
digital, definindo a sua qualidade e a sua aceitação em Transmissão.

O BER é definido como a relação entre os bits errados e o número total de bits
recebidos no mesmo período de tempo.

Assim, se num Link a 2.048 Mbit/s, se produz 1 bit errado por segundo, o BER será:

Pág. 4-49
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

BER = 1/2.048 x 106 = 4.88 x 10-7

O BER foi um parâmetro adequado para definir as características de um equipamento


digital desde que emergiu em 1980.

Entretanto, as causas, os tipos, e a distribuição dos erros estão mais bem conhecidas e
compreendidas desde essa época.

O BER em muitos sistemas digitais varia devido aos efeitos da propagação e às


interferências.

É necessário assegurar que os sistemas não excedam limiares críticos por mais de
determinadas percentagens de tempo.

A figura seguinte é um registo do valor de BER ao longo do tempo, por ele se


verificando que a acessibilidade está geralmente referida a taxas de erro e há dois
limiares importantes a considerar, pelo menos para a Rec. ITU-T G.821, que são as
taxas de erro 10-3 e 10-6.

Inaceitável
BER Registado

10-3

Degradado
-6
10

Aceitável
10-10
Excelente
tempo

Fig. 4.31

Pág. 4-50
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Acima de 10-3 a taxa de erros é totalmente inaceitável, considera-se degradada entre 10-3
e 10-6, aceitável entre 10-6 e 10-10 e excelente quando é inferior a 10-10.

As recomendações ITU-T G.821, ITU-T G.826 e ITU-T G.828 são as presentemente


utilizadas para análise de performance das ligações digitais (em microondas, fibras
ópticas ou noutros meios).

Recomendação ITU-T G.821

O tempo total de medidas, TL (ver figura 4.32) é dividido em períodos de um segundo e


o tempo indisponível (SUNAVAIL) é subtraído para obter o tempo disponível (SAVAIL)
sobre o qual os parâmetros G. 821 são calculados.

Nota: Um período de tempo indisponível começa quando o BER em cada segundo é


maior do que 10-3 por um período de 10 segundos consecutivos (estes 10
segundos são considerados tempo indisponível). Um novo período de tempo
disponível começa com o primeiro segundo de um período de 10 segundos
consecutivos em que cada um tem um BER inferior a 10-3.

Entretanto, antes de examinar a figura, vejamos algumas definições importantes:

ES (Errored Second) – É qualquer segundo em que haja pelo menos um erro.

EFS (Error Free Seconds) - È o complemento do ES, isto é, se sobre um determinado


intervalo de medida se tem 0.1% de ES, será EFS=99.9%.

SES (Severely Errored Second) – É qualquer período de 1 segundo com um BER


excedendo 10-3.

DM (Degraded Minute) – É qualquer período de um minuto, dentro do tempo


disponível, em que o BER excede 10-6.

Pág. 4-51
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

RBER (Residual Bit Error Ratio) ou [BBER (Background Bit Error Ratio)]
- É a taxa residual de erros binários, causados unicamente pelo ruído originado no
circuito, sem o efeito da propagação.

Fig. 4.32

Durante o tempo disponível, cada segundo contendo um ou mais erros é classificado e


armazenado como um segundo com erros ou segundo errado (ES).

Cada período de 1 segundo com um BER superior a 10-3 é classificado como um


segundo com erros severos (SES). Estes são subtraídos do tempo disponível e o que
resta é agrupado em períodos de 60 segundos. Qualquer destes períodos que tenha um
BER excedendo 10-6 é classificado como um minuto degradado (DM).

Todas estas classificações e cálculos são efectuados automaticamente pelos analisadores


de transmissão correntes.

Pág. 4-52
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

A Recomendação ITU-T G.821 estabelece os objectivos seguintes (relativamente à sua


“performance” com respeito aos erros) para uma ligação digital internacional:

Tabela 4.2.a - RECOMENDAÇÃO ITU-T G.821


Objectivos, com respeito à “performance” relativa a erros, na ligação fictícia de referência (“HRX – Hypothetical
Reference Connection”) de uma rede digital ISDN
Parâmetro OBJECTIVOS
DM (Minutos degradados) Menos do que 10 % de intervalos de um minuto deverão
ter um BER superior a 10-6
SES (Segundos Severamente Menos do que 0.2 % de intervalos de um segundo
Errados) deverão ter um BER superior a 10-3
ES (Segundos com erros) Menos do que 8 % de intervalos de um segundo com
erros (equivalente a um EFS superior a 92 %)
Nota: Medições efectuadas durante um determinado período (p. ex., um mês) num canal unidireccional de 64 kbit/s da
ligação internacional fictícia de referência, de 27500 km de comprimento

Notar que a Rec. G.821 se refere à performance global para uma ligação ponto-a-ponto a
64 kbit/s numa ligação internacional muito longa de 27.500 km de comprimento.
A ligação fictícia de referência (HRX) como mostra a figura 4.33 consiste de uma secção
de alto grau ou alta qualidade (“High Grade”) interligada em cada um dos seus extremos
com uma secção de média qualidade (“Medium Grade”) que, por sua vez, termina numa
secção local.
27 500 Km

1 250 Km 25 000 Km 1 250 Km

Fig.
4.33

LOCAL MEDIUM HIGH MEDIUM LOCAL


GRADE GRADE GRADE GRADE GRADE

Pág. 4-53
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Tipicamente a “secção de qualidade local” será uma ligação metálica tal como o lacete
de assinante, enquanto que a secção de médio grau ou média qualidade pode
corresponder, por exemplo, à interligação de uma central local com uma central de
trânsito.

Como se viu na tabela acima a recomendação especifica (para aquela ligação de


referência) os seguintes objectivos:

- Não se deverá ultrapassar 0.2% de SESs (Severely Errored Seconds)


- Não se deverá ultrapassar 10% de DMs (Degraded Minutes)
- Não se deverá ultrapassar 8% de ESs (Errored Seconds)

A cada um dos três tipos de secções são afectadas diferentes percentagens do total da
especificação G.821 conforme as três tabelas seguintes:
Tabela 4.3
Tipo de Secção Repartição dos objectivos em DMs
Local (duas secções terminais) 15 % por cada secção local terminal & 1.5 %
Médio grau (duas secções) 15 % por cada secção & 1.5 %
Alto grau (uma secção) 40 % & 4.0%

Tabela 4.4
Tipo de Secção Repartição dos objectivos em ESs
Local (duas secções terminais) 15 % por cada secção local terminal & 1.2 %
Médio grau (duas secções) 15 % por cada secção & 1.2 %
Alto grau (uma secção) 40 % & 3.2 %

Tabela 4.5
Tipo de Secção Repartição dos objectivos em SESs
Local (duas secções terminais) 15 % por cada secção local terminal & 0.015 %
Médio grau (duas secções) 15 % por cada secção & 0.015 %
Alto grau (uma secção) 40 % & 0.04 %

Note-se que neste último caso, dos Severely Errored Seconds, a “afectação” destes
SESs é diferente pois que, o objectivo total de 0.2 % nos 27500 km é dividido em duas
partes (0.1 % para os equipamentos e 0.1 % para os efeitos do fading).

Pág. 4-54
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Para avaliar o cumprimento de uma ligação de telecomunicações em relação aos


objectivos da ITU, é necessário primeiramente identificar os períodos de
indisponibilidade e verificar se cumprem os objectivos a respeito da indisponibilidade e,
depois, verificar os objectivos de performance durante o período disponível.

Ora, a Recomendação ITU-R F.557-4 define que o período de tempo indisponível


numa ligação por rádio digital começa quando, em pelo menos uma direcção de
transmissão, uma ou ambas das seguintes condições ocorre durante 10 segundos
consecutivos: ou o sinal digital é interrompido (p. ex., perda de alinhamento ou da
temporização) ou o BER em cada segundo é pior do que 10-3. Esses 10 segundos são
considerados como tempo indisponível.
Estabelece também que o período de indisponibilidade termina quando, para ambas as
direcções de transmissão, o BER em cada segundo é melhor do que 10-3 durante 10
segundos consecutivos, sendo estes 10 segundos condiderados como fazendo parte do
tempo disponível. Estas noções de disponibilidade e indisponibilidade estão, aliás, em
perfeita linha de coerência com o que já se referiu como estabelecido na Rec. G.821.
A mesma Recomendação ITU-R F.557-4 estabelece que o objectivo de disponibilidade
apropriado para o circuito fictício de referência para feixes hertzianos digitais (circuito
de 2500 km de comprimento a que adiante nos referiremos e que é designado por
HRDP-Hypothetical Reference Digital Path) deve ser 99.7 % do tempo.

Especifica-se então que a disponibilidade A (“Availability”) de uma ligação por feixes


hertzianos com um comprimento L entre 280 km e 2500 km tem de ser dada por:

A = 100 – (0.3 x L/2500) %

Então, referindo-nos ao objectivo de indisponibilade global de 0.3 %, há que reparti-lo


por 3 categorias principais de corte da ligação: devidas à propagação, ao equipamento e
outras causas. Uma aproximação consiste numa repartição igual, isto é:

o Propagação (difracção, chuva, ductos, etc) : 0.1 %


o Equipamento (MTBF e MTTR) : 0.1%
o Outros (manutenção e avarias “catastróficas) : 0.1 %

Pág. 4-55
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Como se sabe o MTBF é o Tempo Médio Entre Avarias (“Mean Time Between
Failures”) e depende da fiabilidade do equipamento e dos seus componentes e o MTTR
é o Tempo Necessário para Restabelecimento da Ligação (“Mean Time To Restore”) e
depende de vários factores como tempos de acesso ao local da avaria, tempo necessário
para a reparação, acessibilidade a componentes de reserva, etc)

Os objectivos da ITU-R pressupõem, como vimos, um circuito exclusivo de rádio com


um comprimento de referência de 2,500 km tendo-se, consequentemente, os objectivos
seguintes (tendo em atenção que terá uma qualidade exigível igual à da secção de 25000
km da ligação fictícia de referência HRX)

- 0.4 % para os DMs


- 0.32 % para os ESs

No que respeita aos SESs, como a Recomendação ITU-R faz a atribuição dos restantes
0.1 % do objectivo global de 0.2 % às secções de médio e alto grau (0.05 % a cada uma)
para ter em conta o fading , tem-se para o circuito de alta qualidade de rádio de 2500 km
de comprimento um objectivo igual à soma de 0.004 % com 0.05%, ou seja de 0.054 %
dos SESs.

O RBER (BER Residual) não deve exceder 5x10-9 segundo a Recomendação ITU-R
F.634.

Ora, a ligação de rádio de 2,500 km que a ITU-R especifica (ver figura 4.34) como
circuito digital fictício de referência (HRDP) contém 9 conjuntos de equipamentos
multiplex por cada sentido de transmissão e 9 secções de rádio digital idênticas
consecutivas de igual comprimento (280 km).

É exactamente esta distância (280 km) que é considerada como o mínimo comprimento
de uma ligação em feixes hertzianos deverá ter para a aplicação daqueles objectivos

Pág. 4-56
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Fig. 4.34 – Ligação fictícia de referência para feixes hertzianos digitais

Assim, para circuitos de alto grau (alta qualidade) os objectivos de performance são os
seguintes (considerando ser D o comprimento total da ligação em quilómetros e designando
por SESs% a percentagem de tempo em que no circuito o BER excede 10-3 :

" D para 280 km ' D ' 2500 km


SESs%" ! 0.054%
2500
" 280 para D ' 280 km
SESs%" ! 0.054%
2500
Nota: Embora a ITU especifique o mínimo comprimento da ligação, para a aplicação dos
objectivos como 280 km, desde que essa ligação não seja demasiado curta, os comprimentos reais
dos saltos podem ser usados para a fixação do objectivo, por exemplo, se tivermos dois saltos de
(50 + 50)
50 km nessa ligação deverá ser SESs% " ! 0.054 % = 0.00216% do pior mês
2500

No que respeita aos objectivos de performance para rádio-links que façam parte das
secções de médio grau (média qualidade) da ligação fictícia de referência de uma
ligação ISDN, eles estão definidos na Recomendação ITU-R F.696-2 e estão
esquematizados no quadro seguinte onde são referidas quatro classes.
Tabela 4.6

Fracção de tempo em qualquer mês


Parâmetro de Performance
Class 1 Class 2 Class 3 Class 4
280 km 280 km 50 km 50 km

SESR 0.00006 0.000075 0.00002 0.00005

ESR 0.00036 0.0016 0.0016 0.004

Pág. 4-57
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade
Estes objectivos de performance em termos de erros aplicam-se para cada direcção e
para cada canal de Nx64 kbit/s com N<32.
Os valores indicados para os comprimentos têm de ser entendidos como os máximos
comprimentos das secções digitais reais. Se a secção for mais curta não haverá lugar a
redução da afectação dos erros a essa secção.
A Rec. ITU-R F.696-2 estabelece também para os radio-links digitais que pertençam à
secção de médio grau (média qualidade) os valores da indisponibilidade total
bidireccional para as quatro classes acima indicadas, conforme a tabela 4.6a :

Classe Indisponibilidade (%)


Classe 1 0.033
Classe 2 0.05
Classe 3 0.05
Classe 4 0.1

Tabela 4.6a

Finalmente, no que diz respeito aos objectivos de performance para rádio-links que
façam parte das secções locais (ITU-R Rec. F.697), temos, por cada direcção de um
canal de 64 kbit/s

• BER ( 10-3 por não mais do que 0.015 % do tempo no pior mês
• BER ( 10-6 por não mais do que 1.5 % do tempo no pior mês (medido num
minuto)
• ESs por não mais do que 1.2 % do tempo no pior mês

Recomendação ITU-T G.826

A melhoria da qualidade dos Serviços e o aumento do tráfego da informação exigiram


melhores características quanto aos erros, de modo que a nova Recomendação G.826 da
ITU-T estabelece novos parâmetros para os valores do BER.
Adoptam-se as seguintes definições:

a) Relativamente a eventos com erros:

EB (Errored Block) – É um pré-determinado número de bits consecutivos que apresenta


um ou mais bits errados.

Pág. 4-58
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Nota: Um bloco é um conjunto de bits consecutivos associado com o trajecto; cada bit
pertence somente a um e a só um bloco. Tenha-se em atenção que bits consecutivos
podem não ser contíguos no tempo
ES (Errored Second) – É um período de um segundo em que haja pelo menos um ou
mais EBs ou, pelo menos, um defeito ou SDP (“Severely Disturbed Period”).
SES (Severely Errored Second) – É o período de 1 segundo que contenha uma
percentagem igual ou maior que 30% de EBs ou pelo menos um SDP (“Severely
Disturbed Period”).

Nota: Um SDP são 4 blocos ou 1 ms com uma densidade de erros superior ou igual a 10-2.
No caso de medida fora de serviço ("Out-of-Service Measurement") considera-se haver um SDP quando quatro blocos contíguos

apresentam, todos eles, uma densidade de erros de 10-2, ou quando há perda do sinal de informação.

No caso de monitoração em serviço ("In-Service Monitoring") considera-se haver um SDP quando há um defeito na rede tal

como uma perda de sinal, um sinal de indicação de alarme ou uma perda de alinhamento de trama.

BBE (Background Block Error) – é um EB (Errored Block) não ocorrendo como


parte de um SES
SEP (Severely Errored Period) – é um período de tempo em que pelo menos 3 mas
não mais do que 9 SESs ocorrem.

b) Relativamente a parâmetros de erros:

ESR (Errored Second Ratio) – é a relação entre o número de ESs e o número total de
segundos no tempo disponível durante um intervalo fixo de medida.

SESR (Severely Errored Second Ratio) – é a relação entre o número de SESs e o


número total de segundos no tempo disponível durante um intervalo fixo de medida.

BBER (Background Block Error Ratio) – é a relação entre o número de BBEs e o


número total de blocos no tempo disponível durante um intervalo fixo de medida.

SEPI (Severely Errored Period Intensity) – é a relação entre o número de eventos SEP
no tempo disponível, dividido pelo tempo total disponível em segundos.

Pág. 4-59
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Quaisquer blocos que surjam durante segundos severamente errados (SESs) não são
considerados.

Existem dois motivos para transitarmos para um novo “standard”, baseado em blocos
de erros:
1 – Aumentar a qualidade de serviço das redes;
2 – Ter em consideração os novos processamentos de sinal, tal como o FEC
(Forward Error Correction) e o Scrambling que tendem a originar erros em
grupos de bits ou Blocos (Bursts) em vez de darem origem a erros aleatórios
de bits individuais.

No passado um BER de 10-3 era um valor limite satisfatório para as especificações de


Microondas mas o novo “standard” é muito mais exigente, reduzindo o BER para cerca
de 10-5..
Por outro lado, não se deve confundir o BER com o BBER pois este diz respeito a um
Bloco Errado que não faça parte de um SES; por outras palavras, é uma medida de um
Bloco Errado isolado, em vez de uma mais peocupante longa rajada (burst) de erros.
Em geral, se o objectivo do ESR for atingido, também o será do BBER.

O objectivo do ESR é mais rigoroso. É necessário um BER de cerca de 10-12 para


satisfazer o objectivo do ESR num salto de 50 km a 155 Mbps.
É então necessário um referencial de um BER de 10-13 e, hoje em dia, quer os sistemas
de fibra óptica, quer os rádios digitais têm de o cumprir..
Os rádios têm mais dificuldade em conseguir aquele objectivo, mas com o recurso a
técnicas como o FEC, os igualizadores transversais, a diversidade e outras estão perto
dele.

Para se ter uma ideia das diferenças entre os “standards”, estima-se que uma ligação
rádio projectada para cumprir o anterior objectivo de disponibilidade para um BER igual
a 10-3 teria, com base no novo “standard”, um tempo de corte 30% superior !

A tabela seguinte dá-nos os objectivos de performance da Recomendação G.826 em


relação ao circuito fictício de referência (“HRP - Hypothetical Reference Path”) de
27500 km de comprimento, ligação internacional incluindo dois países terminais e até
quatro países intermédios (ver fig. 4.35):

Pág. 4-60
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Performance e Disponibilidade

Débito binário Bits/bloco ESR SESR BBER


(Mbit/s)
1.5 - 5 800 - 5000 0.04 0.002 2 x 10-4
> 5 - 15 2000 - 8000 0.05 0.002 2 x 10-4
> 15 - 55 4000 - 20000 0.075 0.002 2 x 10-4
> 55 - 160 6000 - 20000 0.16 0.002 2 x 10-4
> 160 15000 - 30000 n/a 0.002 1 x 10-4
Tabela 4.7 – Rec. G.826 – Objectivos de performance terminal-a-terminal

Aqui, o intervalo sugerido para as medidas é de um mês. Para os feixes hertzianos os


objectivos devem respeitar a qualquer mês.
Estes objectivos terminal-a-terminal são divididos num troço nacional e num troço
internacional (ver fig. seguinte).

Ligação
entre países
País Países intermédios (p. ex., País
terminal efectuada terminal
sobre cabo
PEP IG IG IG IG submarino) IG PEP

Parte Parte Internacional Parte


nacional nacional

Circuito fictício de referência (HRP)


27500 km

IG – International Gateway (define o limite entre partes nacionais e/ou internacionais e, usualmente corresponde a um
“cross-connect”, a um multiplexer de alta hierarquia ou a um “switch” (B-ISDN ou N-ISDN))
PEP – Path End Point (Ponto Extremidade do Circuito)

Fig. 4.35 – Ligação hipotética de referência

As regras para a repartição dos objectivos são baseadas numa atribuição em bloco e
noutra atribuição em função da distância (múltiplos de 500 km). A cada troço nacional
são afectados pelo menos 17.5 % dos objectivos terminal a terminal.

Na figura seguinte (fig. 4,35b) esquematiza-se o processo de repartição dos objectivos.

Pág. 4-61
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Performance e Disponibilidade

Objectivo Total = 100 %

A atribuir em blocos = 45 % A atribuir em função da distância = 55 %


%

Parte internacional = 10 % Parte nacional = 35 %

Terminação A = 17.5 %

Terminação A = 1 %

Trânsito 1 = 2 %

Trânsito 2 = 2 %
Por cada 500 km = 1%
Trânsito 3 = 2 %

Trânsito 4 = 2 %

Terminação B = 1 %

Terminação B = 17.5 %

Fig. 4.35 – Repartição de Objectivos – Rec. G.826

A ITU-R dá nas Recomendações ITU-R F. 1397 e ITU-R F.1491 as regras para


repartição dos objectivos pelos troços internacional e nacional. Faz uma distinção entre
os países terminais e os países intermédios (onde se faz trânsito) e convém notar que os
objectivos agora se referem a débitos binários iguais ou superiores ao acesso primário.
Na Rec ITU-R F.1397 os Objectivos de Performance em Erros são expressos pela
seguinte fórmula geral para qualquer ligação rádio:

EPO = Bj x (Llink / LR) + Cj

onde EPO significa “Error Performance Objectives” e pode ser substituído por SESR,
ESR ou BBER conforme o parâmetro a seleccionar, Llink é o comprimento da ligação
em km, LR é o comprimento de referência (2500 km) e Bj e Cj são valores numéricos
definidos nas tabelas da Rec F.1397 de que a tabela seguinte (tabela 4.8) é um exemplo.

Pág. 4-62
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Performance e Disponibilidade

O valor mais baixo Llink para “escalar” os objectivos para o caso real é Lmin e tem,
provisoriamente o valor de 50 km.

O índice j é tal que:

j = 1 para Lmin $ Llink $ 1 000 km para país intermédio


j = 2 para 1 000 km < Llink para país intermédio
j = 3 para Lmin $ Llink $ 500 km para país terminal
j = 4 para 500 km < Llink para país terminal

BR é o “block allowance ratio” , isto é, um valor atribuído em bloco (não dependente do


comprimento da ligação) devendo esse valor ser escolhido pelo operador da rede no
intervalo entre 0 e 1 (0 < BR $ 1);

Débito binário Lmin $ Llink $ 1 000 km 1 000 km < Llink


Parâmetro
(Mbit/s)
B1 C1 B2 C2
ESR 1.5-5 2 % 10–3 (1 + BR) 0 2 % 10–3 8 % 10–4 % BR
ESR >5-15 2.5 % 10–3 (1 + BR ) 0 2.5 % 10–3 1 % 10–3 % BR
ESR >15-55 3.75 % 10–3 (1 + BR) 0 3.75 % 10–3 1.5 % 10–3 % BR
ESR >55-160 8 % 10–3 (1 + BR) 0 8 % 10–3 3.2 % 10–3 % BR
ESR >160-3 500 em estudo em estudo em estudo em estudo
SESR 1.5-3 500 1 % 10–4 (1 + BR) 0 1 % 10–4 4 % 10–5 % BR
BBER 1.5-3 500 1 % 10–5 (1 + BR) 0 1 % 10–5 4 % 10–6 % BR
Tabela 4.8 –Parâmetros para o EPO para países intermédios de acordo com a Rec. ITU-T G.826

Como resultado da aplicação daquelas fórmulas temos a seguinte tabela para países
intermédios em ligações PDH:

Pág. 4-63
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Performance e Disponibilidade

Débito Comprimento ES SES BBER


binário (km) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
(Mbit/s)
1000 2080 – 4160 104 – 208 4.0 – 8.0
1.5 - 5
2500 5200 - 7280 260 - 364 10.0 – 14.0
1000 2600 – 5200 104 – 208 4.0 – 8.0
> 5 - 15
2500 6500 - 9100 260 - 364 10.0 – 14.0
1000 3900 – 7800 104 – 208 4.0 – 8.0
> 15 - 55
2500 9750 - 13650 260 - 364 10.0 – 14.0
1000 8320 – 16640 104 – 208 4.0 – 8.0
> 55 - 160
2500 20800 - 29120 260 - 364 10.0 – 14.0
Tabela 4.9 – Objectivos de “performance” para ligações PDH internacionais, países intermédios

Como se vê na tabela os objectivos são definidos não por um só valor mas por uma
gama de valores já que BR pode variar entre 0 e 1.

São considerados na tabela dois comprimentos L1 e L2 (1000 e 2500 km). Para qualquer
outro comprimento entre 50 e 2500 km procede-se como segue:

- até L1 o objectivo é proporcional ao comprimento da ligação


- para um comprimento entre L1 e L2 o objectivo é calculado por interpolação.

Uma tabela semelhante à Tabela 4.9 é considerada para os parâmetros para o EPO para
países intermédios, mas agora referente à Rec. G.828, relacionada com sistemas SDH.
Um procedimento análogo ao anteriormente exposto conduziria à seguinte tabela de
objectivos:

Pág. 4-64
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Performance e Disponibilidade

Débito Comprimento ES SES BBER


binário (km) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
(Mbit/s)
1000 520 – 1040 104 – 208 1.0 – 2.0
1 664
2500 1300 - 1820 260 - 364 2.5 – 3.5
1000 520 – 1040 104 – 208 1.0 – 2.0
2 240
2500 1300 - 1820 260 - 364 2.5 – 3.5
1000 520 – 1040 104 – 208 1.0 – 2.0
6 848
2500 1300 - 1820 260 - 364 2.5 – 3.5
1000 1040 – 2080 104 – 208 1.0 – 2.0
48 960
2500 2600 - 3640 260 - 364 2.5 – 3.5
1000 2080 – 4160 104 – 208 2.0 – 4.0
150 336
2500 5200 - 7280 260 - 364 5.0 - 7.0
Tabela 4.10 – Objectivos de “performance” para ligações SDH internacionais, países
intermédios

Reportando-nos agora aos objectivos (segundo a Rec F.1397) para ligações


internacionais PDH e SDH em países terminais temos mais as duas tabelas seguintes:
Débito binário Comprimento ES SES BBER
(Mbit/s) (km) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
500 2080 – 4160 52 – 104 2.0 – 4.0
1.5 - 5
2000 5200 - 6240 260 - 312 10.0 – 12.0
500 2600 – 5200 52 – 104 2.0 – 4.0
> 5 - 15
2000 6500 - 7800 260 - 312 10.0 – 12.0
500 3900 – 7800 52 – 104 2.0 – 4.0
> 15 - 55
2000 9750 - 11700 260 - 312 10.0 – 12.0
500 8320 – 16640 52 – 104 2.0 – 4.0
> 55 - 160
2000 20800 - 24960 260 - 312 10.0 – 12.0

Tabela 4.11 – Objectivos de “performance” para ligações PDH internacionais, países terminais

Pág. 4-65
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Performance e Disponibilidade

Débito binário Comprimento ES SES BBER


(Mbit/s) (km) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
500 260 - 520 52 – 104 0.5 – 1.0
1 664
2500 1300 - 1560 260 - 312 2.5 – 3.0
500 260 - 520 52 – 104 0.5 – 1.0
2 240
2500 1300 - 1560 260 - 312 2.5 – 3.0
500 260 - 520 52 – 104 0.5 – 1.0
6 848
2500 1300 - 1560 260 - 312 2.5 – 3.0
500 520 - 1040 52 – 104 0.5 – 1.0
48 960
2500 2600 - 3120 260 - 312 2.5 – 3.0
500 1040 - 2080 52 – 104 1.0 – 2.0
150 336
2500 5200 - 6240 260 - 312 5.0 - 6.0

Tabela 4.12 – Objectivos de “performance” para ligações SDH internacionais, países iterminais
No que diz respeito à parte nacional da ligação real a Rec ITU-R F.1491 considera 3
secções:

o Secção de Longa Distância (da Gateway Internacional para o Centro Primário,


Secundário ou Terciário)
o Secção de Curta Distância (do Centro Primário, Secundário ou Terciário para a
Central Local)
o Secção de Acesso (da Central Local para o PEP - ponto terminal da ligação)

Para as Secções de Longa Distância (“Long-Haul Sections”) geramos as tabelas 4.13 e


4.14 com os objectivos. O parâmetro A1 (relativo à afectação em bloco às secções de
longa distância) referido na Recomendação, é seleccionado pelo operador de rede dentro
da gama de 1% a 2% (a Rec. F.1491 indica 1% como um valor típico). Assim,
consideramos os objectivos expressos não por um valor apenas, mas por uma gama de
valores correspondendo a A1=0.01 e A1=0.02.

São também considerados dois comprimentos L1 e L2 . Para qualquer outro


comprimento entre 50 e 2500 km procede-se como segue:

- até L1 o objectivo é proporcional ao comprimento da ligação


- para um comprimento entre L1 e L2 o objectivo é calculado por interpolação ou
extrapolação
Pág. 4-66
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Performance e Disponibilidade

Débito binário Comprimento ES SES BBER


(Mbit/s) (km) (segundos/mês) (segundos/mês)] ( x 10-6)
1.5 - 5 100 1248 - 2088 62 - 114 2.4 - 4.4
1000 3120 - 4160 156 - 208 6.0 - 8.0
> 5 - 15 100 1560 - 2610 62 - 114 2.4 - 4.4
1000 3900 - 5200 156 - 208 6.0 - 8.0
> 15 - 55 100 2340 - 3915 62 - 114 2.4 - 4.4
1000 5850 - 7800 156 - 208 6.0 - 8.0
>55 - 160 100 4992 - 8352 62 - 114 2.4 - 4.4
1000 12480-16640 156 - 208 6.0 - 8.0

Tabela 4.13 – Objectivos de “performance” para ligações PDH nas secções de longa distância (parte
nacional)

Débito binário Comprimento ES SES BBER


(Mbit/s) (km) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
1,664 100 312 - 572 62 - 114 0.6 - 1.1
1000 780 - 1040 156 - 208 1.5 - 2.0
2,240 100 312 - 572 62 - 114 0.6 - 1.1
1000 780 - 1040 156 - 208 1.5 - 2.0
6,848 100 312 - 572 62 - 114 0.6 - 1.1
1000 780 - 1040 156 - 208 1.5 - 2.0
48,960 100 624 - 1044 62 - 114 0.6 - 1.1
1000 1560 - 2080 156 - 208 1.5 - 2.0
150,336 100 1248 - 2088 62 - 114 1.2 - 2.2
1000 3120 - 4160 156 - 208 3.0 - 4.0

Tabela 4.14 – Objectivos de “performance” para ligações SDH nas secções de longa distância (parte
nacional)

Para as Secções de Curta Distância (“Short-Haul Sections”) e de Acesso os objectivos


ficam listados nas tabelas que se seguem. As atribuições em bloco para ambas as
secções são da responsabilidade do operador de rede e ficam entre 7.5% e 8.5%. Assim,
as tabelas referem-se não a um simples valor mas a uma gama correspondendo às
afectações em bloco de 7.5% e 8.5%.

Pág. 4-67
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Performance e Disponibilidade

Débito binário ES SES BBER


(Mbit/s) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
1.5 - 5 7800 - 8840 390 - 442 15.0 - 17.0
> 5 - 15 9750 - 11050 390 - 442 15.0 - 17.0
> 15 - 55 14625 - 16575 390 - 442 15.0 - 17.0
> 55 - 160 31200 - 35360 390 - 442 15.0 - 17.0

Tabela 4.15 – Objectivos de “performance” para ligações PDH nas


secções de curta distância e de acesso (parte nacional)

Débito binário ES SES BBER


(Mbit/s) (segundos/mês) (segundos/mês) ( x 10-6)
1,664 1950 - 2210 390 - 442 3.75 - 4.25
2,240 1950 - 2210 390 - 442 3.75 - 4.25
6,848 1950 - 2210 390 - 442 3.75 - 4.25
48,960 3900 - 4420 390 - 442 3.75 - 4.25
150,336 7800 - 8840 390 - 442 7.50 - 8.50

Tabela 4.16 – Objectivos de “performance” para ligações SDH nas


secções de curta distância e de acesso (parte nacional)

Chama-se a atenção para o facto dos objectivos para o ESR e o BBER serem
dependentes do débito binário enquanto que o objectivo para o SESR é aplicável a
qualquer débito binário e é comum para os sistemas PDH e SDH.

Objectivos de Indisponibilidade

A Rec. ITU-T G.827 define os seguintes dois parâmetros:

! AR - Taxa de disponibilidade (Availability Ratio) : relação entre o tempo total


disponível durante o período de observação e a duração do período de observação

! Mo – Tempo médio entre interrupções (Mean time between outages) : é a


duração média dos intervalos em que a ligação está disponível durante o período
de medida. O número de interrupções por período de medida chama-se frequência
das interrupções e designa-se por OI (“Outage Intensity”)

Pág. 4-68
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Se o período de medida for um ano e Mo for expresso em fracções do ano, então OI é o


inverso de Mo.

A Taxa de Indisponibilidade UR é o parâmetro complementar em relação a AR, isto é:


UR = 1-AR

As Recomendações ITU-R F.1492 e ITU-R F.1493 estabelecem os objectivos de


disponibilidade para feixes hertzianos digitais relativamente a um débito binário igual
ou superior ao do acesso primário, para respectivamente troços internacionais e
troços nacionais.

De acordo com a Rec. ITU-R F.1492 os objectivos de disponibilidade aplicáveis a cada


direcção de um feixe hertziano digital de comprimento Llink fazendo parte de um troço
internacional de um circuito a débito binário constante igual ou superior ao acesso
primário são dados pelas duas expressões (4.35a) e (4.35b)

& L #
AR = 1 ' $$ B j link + Cj !! (4.35a)
% LR "

1
Mo = (4.35b)
Llink
Dj + Ej
LR
onde:

o valor de j é : 1 para Lmin < Llink $ 250 km


2 para 250 km < Llink $ 2 500 km
3 para 2 500 km< Llink $ 7 500 km
4 para Llink > 7 500 km,

LR é o comprimento de referência (LR = 2 500 km), o valor limite inferior para Llink
utilizado para “escalar” os objectivos é Lmin igual a 50 km e os valores de Bj, Cj, Dj e Ej
são dados nas tabelas (4.17) e (4.18) a seguir indicadas.

Performance e Disponibilidade

Pág. 4-69
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Comprimento
Lmin $ Llink $ 250 250 < Llink $ 2 500 2 500 < Llink $ 7 500 Llink > 7 500
(km)

B1 C1 B2 C2 B3 C3 B4 C4

Troço Para estudo Para estudo


1.9 % 10–3 1.1 % 10–4 3 % 10–3 0 3 % 10–3 0 posterior posterior
Internacional

Tabela 4.17 – Parâmetros para os objectivos da taxa de disponibilidade AR para ligações fazendo parte de um
troço internacional de um circuito digital com um débito binário constante igual ou superior ao do acesso
primário (Rec ITU-R F.1492)

Comprimento
Lmin $ Llink $ 250 250 < Llink $ 2 500 2 500 < Llink $ 7 500 Llink & 7 500
(km)

D1 E1 D2 E2 D3 E3 D4 E4

Troço Para estudo Para estudo Para estudo Para estudo


150 50 100 55 posterior posterior posterior posterior
Internacional

Tabela 4.18 – Parâmetros para os objectivos da frequência das interrupções para ligações fazendo parte de
um troço internacional de um circuito digital com um débito binário constante igual ou superior ao do acesso
primário (Rec ITU-R F.1492)

De acordo com a Rec. ITU-R F.1493 os objectivos de disponibilidade aplicáveis a cada


direcção de um feixe hertziano digital de comprimento Llink fazendo parte de um troço
nacional de um circuito a débito binário constante igual ou superior ao acesso primário
são dados pelas duas expressões (4.35c) e (4.35d)

& L #
AR = 1 ' $$ B j link + Cj !! (4.35c)
% LR "
1
Mo = (4.35d)
L
D j link + E j
LR
onde:
o valor de j (secção de troço nacional) é : 1 para a rede de acesso
2 para curta distância
3 para grande distância
LR é o comprimento de referência (LR = 2 500 km), o valor limite inferior para Llink
utilizado para “escalar” os objectivos é Lmin igual a 50 km e os valores de Bj, Cj, Dj e
Ej são dados nas abelas (4.19) e (4.20) a seguir indicadas.

Performance e Disponibilidade

Pág. 4-70
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Secção de Secção de Curta Secção de Grande Distância


Acesso Distância

B1 C1 B2 C2 B3 C3

0 5 % 10– 4 0 4 % 10– 4 3 % 10–3 para 250 km $ Llink < 2 500 km 0 para 250 km $ Llink < 2 500 km
1,9 % 10–3 para Lmin $ Llink < 250 km 1,1 % 10– 4 para Lmin $ Llink < 250 km
Tabela 4.19 – Parâmetros para os objectivos da taxa de disponibilidade AR para ligações fazendo parte de um
troço nacional de um circuito digital com um débito binário constante igual ou superior ao do acesso primário
(Rec ITU-R F.1493)

Secção de Secção de Curta Secção de Grande Distância


Acesso Distância

D1 E1 D2 E2 D3 E3

0 100 0 120 100 para 250 km $ Llink < 2 500 km 55 para 250 km $ Llink < 2 500 km
150 para Lmin $ Llink < 250 km 50 para Lmin $ Llink < 250 km
Tabela 4.20 – Parâmetros para os objectivos da frequência das interrupções para ligações fazendo parte de
um troço nacional de um circuito digital com um débito binário constante igual ou superior ao do acesso
primário (Rec ITU-R F.1493)

Indisponibilidade devida à chuva

A chuva é um factor limitativo do alcance dos feixes hertzianos de microondas,


especialmente acima dos 10 GHz.

As Recomentações ITU-R PN.837-1 e ITU-R PN 838 dão indicações importantes para o


cálculo dos tempos de interrupção do link devidos à precipitação pluviométrica,
nomeadamente dividindo o globo em zonas climáticas no respeitante às intensidades de
precipitação não excedidas por determinadas percentagens de tempo e definindo
coeficientes, para as diferentes faixas de frequências, necessários para o cálculo das
atenuações específicas (em dB/km) a aplicar nas ligações para a determinação das
percentagens de tempo em que ocorrerão interrupções devidas à chuva.

Recomenda-se a consulta e a leitura atenta daqueles documentos e apresenta-se, de


seguida, um exemplo de cálculo de indisponibilidade devida à chuva para um salto à
frequência de 12 GHz.

Pág. 4-71
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Performance e Disponibilidade

Exemplo de Cálculo de Indisponibilidade devida à chuva

Considere-se uma ligação hertziana digital em Portugal Continental com o comprimento


de 20 km, à frequência de 12 GHz (polarização horizontal) que se sabe ter uma margem
de Fading de 40 dB e vamos procurar calcular o tempo de corte esperado nessa ligação
devido à chuva.

Começamos por ver a zona climática pluviométrica em que se insere Portugal Continental
consultando os mapas da Rec. ITU-R PN.837-1 e concluimos ser a zona K.

Vemos depois na tabela 1 daquela Recomendação qual é a intensidade pluviométrica


em 0.01 % do tempo e que designaremos por R0.01.

Observa-se que é R0.01= 42 mm/h.

Passamos depois a calcular o comprimento efectivo equivalente do salto, isto é, o


comprimento em km que servirá de base para o cálculo da atenuação adicional devida à
chuva em 0.01% do tempo, e que é dado por:

1
L ef = L. r = L !
L
1+
L0
onde Lef é o comprimento equivalente efectivo, L o comprimento real e L0 é dado pela
expressão (a r dá-se o nome de coeficiente de redução):
*
L 0 = 35 " e ! 0.015R

sendo R* = R0.01 se R0.01 < 100 mm/h e R* = 100 se R0.01 & 100 mm/h.

No nosso caso temos:


L0 = 35.e-(0.015x42) = 18.6

1
L ef = 20 ! = 20 x 0.482 = 9.64 km
20
1+
18.6
Logo, virá para Lef :
Agora interessa saber a atenuação em dB/Km devida àquela precipitação e que nos é
dada pela expressão:
' = K (R0.01)(

Pág. 4-72
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

§Performance e Disponibilidade

sendo K e ( (coeficientes dependentes da frequência) retirados da Tabela 1 da Rec. 838


– Questão 2/5, tendo em atenção que há uma coluna para a polarização horizontal e uma
coluna para a polarização vertical. Aqui teremos de ir às colunas do KH e do (H porque
estamos perante uma ligação em polarização horizontal.

Para 12 GHz obtem-se KH=0.0188 e (H=1.217 vindo, portanto, para a atenuação


específica ' :

' = 0.0188 . (42)1.217 = 1.78 dB/km


Nota: se a frequência não figurar directamente na tabela far-se-ão interpolações usando uma escala
logarítmica para a frequência , uma escala logarítmica para KH e KV e uma escala linear para "H e "V .

Agora já podemos calcular a atenuação no “link” esperada em 0.01% do tempo:


A0.01 = 'Lr = ' Lef = 1.78 x 9.64 = 17.16 dB

A margem de Fading que temos é Ap = 40 dB e a questão está em saber a percentagem


de tempo p% em que essa margem é ultrapassada, isto é, em que o “link” está
indisponível. Ora bem, essa percentagem de tempo é dada pela expressão:

Ap
"0.546± 0.546 2 "4 x0.043x log10
0.12A 0.01
p% = 10 0.086

Substituindo valores fica


!
40
"0.546± 0.546 2 "4 x0.043x log10
0.12x17.16
p% = 10 0.086

"0.546± 0.0764
! p% = 10 0.086 = 7.34x10"4 %

e esta é a percentagem de tempo em que o “link” está indisponível por acção da chuva.
!

Pág. 4-73
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Diversidade

Diz-se que há diversidade quando se verifica a operação simultânea de dois ou mais


sistemas ou partes do sistema, para garantir uma melhor segurança do sistema
Referimo-nos muitas vezes a este facto dizendo que há redundância dos equipamentos
ou duplicação dos equipamentos.
Uma ligação de microondas pode estar bem projectada com respeito à margem de
fading, aos percursos desobstruídos, à eliminação de reflexões, etc, mas mesmo assim,
pode ter um mau comportamento.
O fading multipercurso pode causar falhas temporárias do sistema nos saltos mais bem
projectados.
Nas regiões em que existam condições de fading multipercurso acentuado é necessário
muitas vezes prever a diversidade no projecto.
Existem dois tipos de diversidade em radio-links:

1- Diversidade de Espaço

2- Diversidade de Frequência.

Nota: Nem a diversidade de espaço, nem a diversidade de frequência proporcionam uma melhoria ou
protecção contra a atenuação devida à chuva.

! Diversidade de Espaço

Neste modo de operação (fig. 4.36) o receptor de microondas recebe o sinal de duas ou
mais antenas espaçadas verticalmente de vários comprimentos de onda.
Neste sistema de diversidade está prevista recepção de sinais de dois percursos
diferentes (ver fig. 4.36) a partir do emissor que vão ser recebidos por duas antenas do
lado do receptor. Além disso (ver fig. 4.37) pode haver fenómenos de reflexão, podendo
chegar à antena sinais provenientes de vários percursos.
A diversidade de espaço baseia-se no facto de não ser expectável que sinais do mesmo
comprimento de onda que “viajem” por diferentes trajectos de refracção venham a ter o
mesmo comportamento.
Assim (ver fig. 4.38, onde se consideram, por simplicidade, apenas dois trajectos a
chegar a cada antena receptora) os trajectos originados pela refracção b e b’ não têm o
mesmo efeito de interferência nos raios directos a e a’, o que conduz a uma boa
probabilidade de o fading multipercurso não produzir atenuações profundas

Pág. 4-74
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Diversidade
simultâneas nos sinais recebidos nas duas antenas e isto está provado estatisticamente.

Fig. 4.36 - Sistema com diversidade de espaço

Os sinais das duas antenas de recepção são enviados simultâneamente a um combinador


(“Combiner”) de diversidade que tem por missão ou seleccionar o melhor dos dois
sinais ou então somá-los.
A análise estatística
mostrou que o
aumento de
fiabilidade (ou
redução do tempo
fora de serviço) é da
ordem de 10 a 200, o
que é surpreendente,
aumentando ainda
mais com a
frequência, com o
espaçamento das Fig. 4.37 - Trajecto dos sinais no caso da protecção do
antenas e com a sistema por diversidade de espaço
diminuição do comprimento do percurso.
Um espaçamento típico das antenas é da ordem dos 200 comprimentos de onda (pelo
menos 10 metros na banda dos 6 GHz, por exemplo).

Pág. 4-75
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Diversidade
Matematicamente, o Factor
de Melhoria é:

Is = T/Td (4.35)

sendo Td e T os tempos de
interrupção com e sem
diversidade,
respectivamente. Fig. 4.38 - Salto de Microondas com Diversidade de Espaço
A melhoria por diversidade de
espaço, para “links” sobre o terreno, com fracas reflexões no solo, pode ser calculada,
com razoável precisão, pela equação de Vigants:

1.2 x 10-3 # s2 f .10(F-V)/10


Is = ---------------------------------- (4.36)
d
onde ! representa a eficiência ou eficácia do comutador de diversidade, s o
espaçamento vertical em metros entre as duas antenas (centro a centro), f a frequência
em GHz, F a margem de fading em dB, V a diferença, em ganho, entre as duas antenas
e d o comprimento do salto em km.
A diversidade de espaço é, geralmente, a primeira escolha para sistema de protecção,
porque, por um lado, para um só canal radioeléctrico, é mais económica que a
diversidade de frequência (a apresentar seguidamente) e, por outro lado, não requer
largura de espectro adicional, em oposição à diversidade de frequência que necessita de
mais espectro.

! Diversidade de Frequência

Neste sistema de protecção faz-se a utilização simultânea de dois rádios de microondas


em cada terminal (há uma duplicação dos equipamentos de rádio que ficam a operar
sobre a mesma antena). O sinal a transmitir é “injectado” (ver fig. 4.39)
simultâneamente nos dois transmissores, operando estes em frequências diferentes.
Os dois transmissores operam sobre uma mesma antena. Na recepção, os dois sinais,
recebidos também numa só anena, são conduzidos aos respectivos receptores e, após a
sua detecção, são introduzidos num combinador com o fim de maximizar a saída.
A diversidade de frequência baseia-se no facto de (ver fig. 4.40) dois raios (um de cada
frequência) poderem ter o mesmo percurso de refracção (b) mas não terem o mesmo
efeito de interferência nos raios directos (a). Com sinais com diferentes

Pág. 4-76
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

comprimentos de onda, mas seguindo os mesmos trajectos, é improvável que eles


causem simultâneamente fadings profundos.

Diversidade

Fig. 4.39 - Sistema com Diversidade de Frequência

Para o sistema ser eficiente é necessário que a separação de frequências seja


relativamente grande: uma separação de frequências da ordem dos 2% considera-se
adequada e de 5% será muito boa (na banda dos 6 GHz deverá, portanto, existir uma
separação de, pelo menos, 120 MHz).

Fig. 4.40. - Salto de Microondas com Diversidade de Frequência


A maior desvantagem da diversidade de frequência é a largura de banda adicional necessária.
Por outro lado, a melhoria obtida através desta protecção é inferior à que se obtém com
diversidade de espaço. O factor de melhoria que se obtém, em relação a sistemas sem
diversidade, é, pelo menos, da ordem de 10.
O factor de melhoria pode ser aproximado pela expressão:

80 . $f . 10F/10
If = ----------------- (4.37)
f2 . d

Pág. 4-77
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Diversidade

onde $f é a separação de frequências em GHz, F é a margem de fading em dB, f é a


frequência da portadora em GHz (2'f'11) e d é o comprimento do salto em km
(30'd'70).
Há casos de utilização de combinações das duas diversidades referidas mas só em
situações de fadings multipercurso extremamente elevados.
A comutação não deve afectar a qualidade de transmissão, pelo que se utiliza um
comutador tipo hitless que consiste numa técnica em que os “fluxos” de bits recebidos
na banda-base regenerada são comparados bit por bit. Detectando-se um erro num deles,
utilizando uma memória elástica, é tomada a decisão de comutar para o sinal isento de
erros. Este método é conhecido por comutação “sem erros” ou hitless.

! Diversidade Híbrida

Em zonas de condições de propagação muito difíceis pode ser necessário recorrer a uma
“mistura” dos dois tipos de diversidade acima referidos e a que chamaremos
diversidade híbrida.
Trata-se, no essencial, de uma melhoria da diversidade de espaço por utilização de
diversidade de frequência (se tal frequência adicional estiver disponível no espectro
existente).
O sistema apresentado na figura 4.41 utiliza 3 antenas (duas num terminal e uma no
outro) mas em casos em que se pretenda uma mais elevada performance e que a
protecção da linha de alimentação das antenas exista em ambos os terminais utilizam-se
quatro antenas.
É evidente que, para a diversidade híbrida, sob o ponto de vista económico. é muito
mais interessante a solução da fig. 4.41.

Diversidade
Fig. 4.41 - Salto de Microondas com Diversidade Híbrida

Pág. 4-78
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

! Cálculo de um salto

Uma ligação de microondas pode ter desde apenas alguns quilómetros até várias
centenas de quilómetros. Num projecto completo, o tamanho da antena, a potência do
emissor, a potência mínima recebida aceitável e o comprimento do percurso, são
elementos que estão todos interdependentes O ponto de partida de um projecto é
geralmente o Nível Minimo da
Potência a Receber, abaixo da
qual a comunicação não é
satisfatória.

A fig. 4.42 fornece para os dois


tipos de sinais, analógico e
digital; a variação da relação
sinal-ruído (S/N) e do BER, em
função da potência recebida em
dBm.

Verifica-se que enquanto para o


rádio analógico a variação da
relação sinal-ruído S/N é
gradual, para o digital a queda
no BER é brusca para valores à
volta de –60 dBm.

O nível da potência recebida Pr Fig. 4.42 - Comparação da degradação da performance dos


em dBm, é: sinais analógico e digital em função da potència
recebida
Pr = Pt – % (4.38)

sendo: Pt - Nível da potência transmitida em dBm


" - Perdas totais na ligação em dB

Quanto ao nível da potência transmitida ela está sobretudo limitada pelo custo e pelo
grau de fiabilidade da instalação e hoje em dia os valores utilizados são da ordem de 1W
ou menos.
O balanço total entre as perdas e “ganhos” conduz ao valor das perdas “líquidas” no
salto que são dadas por:
% = %fs + %b + %f - Gt - Gr (4.39)

Pág. 4-79
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

onde:
%fs - perdas ou atenuação em espaço livre (“free space attenuation”)
%b - perdas no branching
%f - perdas nos guias de onda (“feeder”)
Gt – Ganho da antena de transmissão
Gr - Ganho da antena de recepção

Relativamente a %fs, como se sabe, a atenuação em espaço livre aumenta com a


frequência utilizada e com o comprimento do salto

Quanto a %b , não se podem evitar as perdas na rede de branching, constituída por


diversos filtros e circuladores, podendo ir de pouco mais de 1 dB a 6 ou 7 dB,
dependendo do tipo de equipamento e se estamos a trabalhar com diversidade ou não

No que respeita a %f – perdas nos guias de onda (para as frequências mais baixas, isto
é, iguais ou inferiores a 2 GHz serão perdas nos cabos coaxiais) dizem respeito à
atenuação introduzida por esses “feeders” que interligam o emissor e receptor com a
antena. Quanto maior for esse comprimento maiores serão as perdas. Esse comprimento
pode ser tão curto como 1 metro ou atingir várias dezenas de metros quando a antena
está colocada no topo de uma torre elevada. Por exemplo, a 6 GHz, dependendo do tipo
de guia de onda utilizado, as perdas podem ir de 3 a 9 dB/100 m.

Finalmente, para Gt e Gr - os ganhos das antenas, sendo antenas parabólicas para


microondas, aumentam, como vimos, com as suas dimensões (com o seu diâmetro) e
com a frequência.

Minimizar as perdas totais “líquidas” no salto requer que lidemos com “conflitos” entre
grandezas. Entretanto, o parâmetro mais controverso, é o comprimento dos saltos pois,
quanto mais curtos forem, menor será a Perda em Espaço Livre mas, por outro lado,
interessa que sejam longos para minimizar o número de estações repetidoras e assim
diminuir o custo da ligação.
A extensão dos percursos pode ser limitada pela curvatura da terra em regiões planas
ou, em geral, pelo perfil do terreno, obrigando ao emprego de torres com altura
elevada, encarecendo bastante o custo global da instalação. Contudo, nalgumas
situações, pode ter de se ir para torres elevadas (inclusivamente acima de 100 metros) se
com isso se conseguir evitar a utilização de repetidores intermédios onerosos.
Em regiões montanhosas, onde é possível ter saltos de grande comprimento, o factor
limitativo pode muito bem ser a atenuação em espaço livre.

Pág. 4-80
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

Aumentando o diâmetro das antenas pode muito bem compensar o aumento da


atenuação em espaço livre e dar uma boa margem de segurança à ligação, mas há que
ter em atenção que há limites práticos para o tamanho das antenas e que quanto maiores
forem, mais fortes terão de ser as torres e/ou sistemas de fixação que as suportam, com
os consequentes custos. Para complicar mais a situação, como a largura do feixe a meia
potência de uma antena parabólica diminui com o aumento do diâmetro da antena,
passa a ser um problema mais complicado o alinhamento do feixe entre as antenas de
emissão e recepção.
O nível da potência recebida Pr deverá ser substancialmente mais elevado do que o
nível mínimo aceitável pelo receptor, os seja, do que o limiar do receptor que
designaremos por Pth.

A assim não ser, durante condições de fading multipercurso, o sinal seria perdido.
Isto leva-nos ao conceito de margem de fading ( FM – “Fade Margin” ) que é a
diferença entre a potência nominal recebida (na ausência de qualquer fading) e o limiar
do receptor:
FM = Pr - Pth (4.40)

Esta grandeza tem de ser, evidentemente, positiva.


A margem de fading é um parâmetro que está primariamente associado com o fading
dispersivo devido a efeito atmosféricos, mas deve conter também as componentes de
fading atribuíveis à interferência e ao ruído térmico.
A margem de fading em cada salto de uma determinada ligação vai ser função da
disponibilidade global que se pretender para essa ligação. Este é um problema
estatístico, dada a natureza estatística do fading.
Claro que se considera para Pth o nível de patamar recebido abaixo do qual a ligação
não satisfaz e é normalmente fixado em função do valor mínimo aceitável para o BER.
Também é evidente que a indisponibilidade do link diminui quando a margem de fading
é aumentada. A probabilidade PF de o fading exceder o valor da margem de fading FM,
no pior mês, é dada pela expressão:

PF = P0 x 10(-FM/10) (4.40.a)

sendo P0 o chamado factor de ocorrência multipercurso.

Ora, esse P0 , de acordo com Barnett-Vigants, pode ser expresso pela seguinte fórmula:

P0 = c .Q. fB . dC (4.40.b)

Pág. 4-81
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

onde:

c.Q é o chamado factor geoclimático tendo-se:

c = 4.1x10-5 para regiões marítimas, sub-tropicais, de altas humidade e


temperatura;
c = 3.1x10-5 para regiões temperadas, marítimas;
c = 2.1x10-5 para regiões temperadas, continentais;
c = 1.0x10-5 para regiões secas e montanhosas

Q é o coeficiente do perfil do terreno e tal que Q = 1/&1.3 representando & a rugosidade


do terreno (desvio padrão, medido em metros, das elevações do terreno em intervalos de
1000 metros),

f é a frequência da portadora (em GHz) sendo


0.85 ' B ' 1 (normalmente B=1)

d é o comprimento do salto em km, com C tal que


2 ' C ' 3.5 (normalmente C=3)

Ficará então:

PF = c .Q. fB . dC . 10-FM/10 (4.41)

Nota 1: B e C dependem da localização geográfica

Nota 2: O cálculo da rugosidade média do terreno, de acordo com o modelo Barnett-


Vigants, faz-se como sendo o desvio padrão das elevações do terreno tomadas de 1 em
1 km, excluindo as elevações nos terminais. De qualquer modo, o valor da rugosidade
tem de estar inscrito entre 6 e 42 metros, isto é, ainda que o cálculo conduza a valores
inferiores a 6 metros, na expressão de Q ter-se-á de considerar !=6 e, de igual modo,
se o cálculo conduzir a valores superiores a 42 m, Q é calculado com !=42.
Assim, pode utilizar-se a seguinte fórmula (com aqueles limites):
! (h i " h) 2
#= (4.41.a)
n

onde os valores hi representam as alturas do perfil do terreno acima do nível do mar


tomadas com distâncias de 1 em 1 km, n é o número de pontos intermédios do perfil
hi
espaçados de 1 km e h = ! é o valor médio das altitudes hi
n

Pág. 4-82
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

Normalmente o valor de PF é expresso em percentagem, ficando então, como fórmula a


utilizar normalmente :

PF% = 100 c.Q.f. d3 . 10-FM/10 (4.42)

com PF%=100% PF

Têm sido feitas actualmente estatísticas mais rigorosas relativamente ao cálculo das
margens de fading mas a equação 4.42 dá-nos uma aproximação bastante razoável para
os fins que pretendemos.
A título de exemplo indica-se que uma margem de fading de 30 dB resulta normalmente
numa disponibilidade do sistema de 99.9 % e que, para áreas com condições muito
desfavoráveis de fading se projectam os saltos para ter uma margem “confortável” de
fading da ordem dos 40 dB.

É importante ter em conta que a Margem de Fading FM contida nas fórmulas 4.41 e
4.42 acima não é apenas a margem de fading plana (margem de fading térmica). Só se
pode considerar que seja assim se estivermos a tratar de feixes hertzianos de baixa
capacidade (máximo, p. ex., de 34 Mbps) e, mesmo assim, estando a ignorar os efeitos
de eventuais interferências.

É que a propagação em multi-percursos dá origem a um outro tipo de fading


denominado fading dispersivo pelo facto de diferentes raios electromagnéticos de
amplitudes similares alcançarem o receptor com atrasos relativamente elevados,
causando distorsões de amplitude e de fase do raio directo.

A maioria das vezes o valor da distorsão é mínimo porque o valor do sinal devido ao
raio directo é muito mais elevado do que o que provem dos raios reflectidos.

Contudo, sob condições de fading pode acontecer um enfraquecimento importante do


sinal devido ao raio directo originando os chamados “notches” (enfraquecimentos
profundos) selectivos em frequência e estaremos então em presença do chamado fading
dispersivo.
Quando esses “notches” se movem as bandas laterais do sinal recebido ficam
assimétricas e as componentes I e Q no desmodulador deixam de ficar ortogonais. O
resultado será o aparecimento de ISI (Interferência Intersimbólica) no desmodulador e
um aumento do BER ou mesmo uma perda na recuperação do sinal de dados.

Pág. 4-83
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

Portanto, sempre que se trate de feixes hertzianos digitais de alta capacidade há que ter
em conta que o valor de FM acima terá de ser:

FM = TFM + DFM + IFM

onde TFM representa a Margem de Fading Térmica, IFM a Margem de Fading de


Interferência e DFM a Margem de Fading Dispersivo. Esta última grandeza está ligada
ao conceito de “assinatura” do desmodulador do equipamento que abordaremos no
próximo capítulo. À soma daquelas 3 grandezas também se chama Margem de Fading
Composta (CFM – Composite Fade Margin)

Um parâmetro muito utilizado em feixes hertzianos que caracteriza a performance


intrínseca do equipamento (portanto, nada tendo a ver com as características da
propagação) é o chamado valor do sistema também designado por ganho do sistema.

O Valor do Sistema é o valor ideal da relação sinal-ruído que seria obtida no caso de
uma ligação emissor-receptor sem perdas entre os pontos de referência do emissor e o
receptor, supondo o emissor isento de ruído.
Obtém-se a partir da seguinte expressão:

SV = Pt + 114 – 10 log B – W – NF (4.42a)


onde:

SV = Valor do Sistema (“System Value”) em dB


Pt = Potência na flange de saída do emissor em dBm
B = Largura de banda do receptor em MHz
W = Relação sinal-ruído em dB na banda equivalente a B para uma taxa erros
igual a 10-3
NF = Factor de Ruído do receptor em dB
- 114 = 10 log (KTB) para B=1MHz é a densidade de ruído térmico em dBm

Assim, se num determinado salto de um feixe hertziano o rádio (analógico ou digital)


tiver, por exemplo, um Valor de Sistema igual a 111 dB, a relação sinal-ruído obtida
no receptor é simplesmente a diferença entre o Valor do Sistema e as perdas líquidas no
trajecto (soma das perdas nas linhas de transmissão – coaxial ou guia de onda – com as
perdas em espaço livre e com os ganhos das antenas de emissão e recepção) que se
forem 61 dB conduzirão a uma relação sinal-ruído S/N = 111 – 61 = 50 dB. Quer dizer,

S/N|dB = SV – NPL (4.42b)

Pág. 4-84
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

onde NPL representa as perdas líquidas no percurso entre a flange de saída do emissor e
a flange de entrada no receptor.

Trata-se, evidentemente de uma relação entre sinal e ruído térmico

A figura seguinte ilustra o que se passa com os níveis de potência ao longo dos vários
pontos de um salto em microondas.
Fig. 4.43 - Ganhos e perdas numa secção de radio típica

A zona sombreada indica a área de perdas esperadas para ter em conta o fading em,
p.ex, 99.9% do tempo .

Na figura da página seguinte, tem-se uma perspectiva mais completa perante uma
ligação em rádio digital, do que são as diferentes margens de fading e do que é a
margem de fading composta (combinação das margens térmica, de interferência e
dispersiva) que aí designamos por CFM (“Composite Fade Margin”).

Pág. 4-85
ISEL STII
4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Nível da RÁDIO DIGITAL - NÍVEIS de RUÍDO e INTERFERÊNCIA -- Exemplo com Rádio de 64-QAM --
Potência de -
Saída (TX) O nível de ruído térmico N é dado por: N= -114+10 log B + NF [dBm], sendo aqui
B=47 Mbit/s/6 bps/Hz=7.8 MHz e NF= 5 dB, vindo N!-100 dBm
+ 30 dBm

Ganho do Sistema ou Valor


do Sistema:

SV=Pt +114 – 10 log B-W-NF NPL


Perdas
GANHO do SISTEMA Nível de Líquidas no (65 dB)
Sinal na Percurso
Recepção na
ausência de (Net Path Loss)
“fading”

-35 dBm
C C
Limiar de CFM- Margem de
Recepção Margem “Fading” Composta
(para TFM
de TFM
BER=10-3) Fading,
+
+ DFM = CFM
Relação
40 dB IFM Relação
Térmica 61 dB 38.9 dB portadora-
39 dB Portadora-
IFM (Interference ruído (C/N) Interferência
Fade Margin): -75 dBm na ausência de
DFM- Margem de (C/I)
Margem de Relação 1 dB de “fading”
“Fading” Dispersivo (71 dB)
“Fading” de portadora 25 dB degradação (65 dB)
Interferência ruído, devido à
C/N interferência
Nível do ruído térmico (-100 dBm)
N N
Nível de interferência co-canal (-106 dBm)
I ruído térmico (-100 dBm) I
DFM (“Dispersive Fade Margin”) – É o valor, expresso em dB, que mede a susceptibilidade do receptor em relação ao “fading” dispersivo . Pág. 4-86
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

! Repetidores Passivos

Há várias configurações possíveis para os Repetidores Passivos os quais se utilizam


algumas vezes quando um obstáculo físico se interpõe no percurso do feixe de
microondas (fig.4.44)

Fig.4.44 – Repetidores Passivos


(a) Duas antenas parabólicas (antenas costas-com-costas)
(b) Um Reflector Plano (Billboard) - Ver também fig. 44d
(c) Dois Reflectores planos – Ver também fig. 44e
Pág. 4-87
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Análise e Cálculo de um “Link”

Fig.4.44d – Reflector Plano


(“Billboard”)

Fig. 4.44e – Reflector Duplo


(“Billboard”)
É muitas vezes utilizado quando a
direcção do trajecto do feixe deva ser só
ligeiramente desviada.
O segundo reflector contribui com
pequenas perdas extra.

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Análise e Cálculo de um “Link”

Uma situação em que um repetidor passivo é muitas vezes utilizado é aquela em


que o pico de uma montanha tenha de ser ultrapassado. Esse pico pode ser tão
inacessível que não haja possibilidade de alimentar uma estação repetidora activa
por não ser possível (ou ser anti-económica) a instalação de um ramal para a
energia eléctrica.
Como vimos na fig. 4.44a, uma possibilidade de criar uma estação repetidora
passiva é instalar na mesma torre ou mastro duas antenas parabólicas costas-
com-costas, interligadas entre si por um troço de guia de ondas tão curto quanto
possível. Evidentemente que cada antena do repetidor é cuidadosamente alinhada
com a antena terminal para a qual está virada.
Outra possibilidade é a que se representou na fig. 4.44b que é aquela em que um
reflector metálico plano deflecte o feixe de nicroondas segundo um determinado
ângulo C.
Enquanto este ângulo C for inferior a cerca de 130 graus somente se necessita de
um reflector. Se os dois trajectos das antenas terminais para o ponto em que
queremos que se dê a reflexão estão quase em linha (isto é, havendo um ângulo
entre eles de mais de 130 graus) será necessário utilizar um reflector duplo como
se mostra nas figuras 4.44c e 4.44e
Os reflectores passivos planos têm dimensões que vão de 1.2 m x 1.8 m até
12.0 x 18.0 m. As superfícies reflectoras são geralmente feitas de alumínio
tratado para resistir à corrosão.
Uma regra básica, relativamente às irregularidades admissíveis na superfície
reflectora no que diz respeito aos desvios em relação a uma superfície
perfeitamente lisa, é a de que esses desvios não deverão ser superiores a 1/8 do
comprimento de onda a que se está a transmitir.

Para o caso de um só reflector, a distância entre o Reflector e a Antena Parabólica


terminal é importante para o cálculo das perdas no percurso.
Diz-se que o reflector pode estar em Campo Próximo (“Near Field”) ou em
Campo Afastado (“Far Field”).
Diz-se que estamos em Far Field quando a distància da antena é tal que que a
Onda Esférica varia da Onda Plana, sobre uma determinada área, de menos de
!/16.
Se esta condição náo é satisfeita, estamos em Near Field.
A máxima distância para a qual ainda se está em Near Field é dada pela
expressão:
r = 2 D2 /!
sendo:
D - Diâmetro do reflector circular ou o seu lado se for quadrado
! - Comprimento de onda na mesma unidade de D.

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Análise e Cálculo de um “Link”

Como exemplo, o valor da distância do campo próximo (r) para 6 GHz é,


para D=3 m, de cerca de 360 metros.
O ganho de um reflector passivo Gp corresponde ao de duas antenas
parabólicas costas-com-costas, ou seja:
4$ # A e# "
G p = 10 # log ( 2
)2 (4.43)
!
Sendo C o ângulo entre o feixe incidente e reflectido (mais à frente também
o designamos por 2"), a área perpendicular ao feixe (área efectiva do
reflector) é
Ae = Ar cos (C/2) (4.44)
sendo Ar a área real.

Se o reflector 1
passivo está em (a)
“Far Field” o
cálculo das perdas 1
no percurso é feito 2
(b)
de forma normal,
mas em “Near
Field” os ganhos 1 2
das antenas e dos (c)
reflectores
interactuam uns
com os outros 2
tornando os
cálculos complexos. 1 (d)
3
A fig. 4.45 compara
as perdas de
percurso para várias
3 2
combinações de 1
“Near Field”, “Far (e)
Field” e com
reflectores simples
e duplos. Fig. 4.45 – Configurações de Reflectores Passivos (R.P.)

a) Perdas (Loss) em percurso sem RP: L = L1 - Gt - Gr


b) Reflector passivo em “Far Field”: L = L1 + L2 - Gt – Gp - Gr
c) Reflector passivo em “Near Field”: L = L2 - Gt - Gr - " n
d) Dois RP em “Far Field”: L = L1 + L2 + L3 - Gt - Gpa - Gpb - Gr
e) Dois RP próximos L = L1 + L2 - Gt - Gpa - " p - Gr

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Análise e Cálculo de um “Link”

No caso b) a perda total L é a soma algébrica dos ganhos das antenas e do


reflector e das perdas em espaço livre em cada secção.

Contudo, em c) com um reflector em “Near Field” as perdas de espaço livre da


secção mais curta não são incluídas e, em vez disso, consta um factor que se
denomina de ganho relativo, que se representa por " n e que tanto pode ser um
ganho como uma perda, dependendo do tamanho do reflector passivo, da
distância entre o passivo e a antena e da frequência.

A figura da página seguinte (fig. 4.47) dá-nos os valores de " n (“Relative Gain”)
em função do parâmetro de campo próximo 1/k, o qual se encontra definido na
própria figura como sendo
1 #!"!d
= 2 (4.45)
k 4a

onde ! é o comprimento de onda, d é a distância entre o reflector e a antena e


a2 é a área efectiva do reflector
passivo isto é,

a2 = (altura) x (largura) x [cos (C/2)]

sendo C verdadeiro ângulo entre os


feixes incidente e reflectido no
Fig. 4.46
passivo como se mostra na fig. 4.46 e
que é praticamente igual a 2" que é o
Fig. 4.46
ângulo (projectado na horizontal)
entre os feixes incidente e reflectido,
quando estes não se desviam muito da horizontal (desvios inferiores a 20º).

Existe uma curva para cada parâmetro L (factor de acoplamento) sendo este
definido por
" (4.46)
L = D! 2
4!a

onde D é o diâmetro da antena parabólica.


Para uma mais completa referência inclui-se na figura 4.48 sob o título “NEAR
FIELD LOSS/GAIN” o conjunto de procedimentos a seguir para a obtenção do
ganho relativo " n .

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Análise e Cálculo de um “Link”

De notar que na figura 4.48 se designa a área efectiva do reflector passivo por Ae
em vez de a2, mas o significado é exactamente o mesmo.

No caso d) os dois repetidores estão em “Far Field” relativamente às antenas e


entre eles e, neste caso, as perdas no trajecto são a soma das atenuações de
espaço livre nas 3 secções subtraída da soma dos ganhos das duas antenas e dos
dois reflectores.

No caso e), em que os dois reflectores estão próximos um do outro, tem-se em


conta apenas o ganho de um dos reflectores (ou o menor ganho dos dois se forem
diferentes) adicionado de um factor de perda de acoplamento ! p que se
determina a partir das curvas da figura 4.49 onde o parâmetro b/a é dado por
b
= b2 a 2 (4.47)
a
que é a raíz quadrada da relação entre as áreas efectivas b2 do maior reflector e a2
do menor reflector e o parâmetro 1/k2 é dado por
1 2" ! d (4.48)
2
= 2
k a
2
sendo a a área efectiva do menor reflector, d a distância que separa os dois
reflectores passivos e " o comprimento de onda a que se está a trabalhar (tudo
nas mesmas unidades, p.ex., metros e metros quadrados).

Também para uma mais completa referência se inclui uma figura adicional (fig.
4.50) sob o título “DOUBLE PASSIVE REPEATER CLOSE COUPLING
LOSS” tendo aqui Aeb o significado de b2 (área efectiva do maior reflector) e Aea
o significado de a2 (área efectiva do menor reflector).

Um reflector passivo pode ser usado em montagem tipo periscópio como se


mostra nas figuras 4.51a e 4.51b com antena montada junto ao solo e apontando
para o reflector passivo montado no topo da torre.

A razão pela qual se usa esta montagem é para limitar a influência do ruído
térmico introduzido no receptor pela linha de transmissão (guia de ondas) quando
há grandes comprimentos envolvidos e simultâneamente, limitar as perdas no
guia de ondas pois que o seu comprimento fica reduzido a um mínimo (troço
horizontal até à antena). Inclusivamente, com uma selecção apropriada das
dimensões pode chegar-se a um ganho “líquido” superior ao da antena parabólica
isolada.

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Análise e Cálculo de um “Link”

Apesar das vantagens apontadas, o seu uso tem sido limitado às frequências
de 6 e 11 GHz devido a problemas de intermodulação, etc.

Fig. 4.51a – Feixe de microondas com reflectores em montagem tipo periscópio nos
dois terminais

Fig. 4.51b – Feixe de microondas com reflectores em montagem tipo periscópio num dos
terminais com uma blindagem para evitar interferências do “sinal furtivo”
(“sneaking” signal) que eventualmente possa ser radiado pela antena.

! Interferências

Os equipamentos de emissão e recepção digital de microondas estão


sujeitos a vários tipos de Interferências que degradam a qualidade da
transmissão.
As principais fontes de interferência são:

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1 -Interferências Intra-Sistemas
• Ruído
• Imperfeições
• Eco

2-Interferências Inter-Canais
• Canais Adjacentes
• Polarização Cruzada Co-canal
• Emissor e Receptor
• Emissões Espúrias

3-Interferências Inter-Saltos.
• Frente-Costas
• Sobre-alcance

4-Interferências Extra-Sistemas
• Satélites
• Radar
• Outros Sistemas de Radio

1- Interferência Intra-Sistemas

É o tipo de interferência gerado nos canais de rádio devido ao ruido térmico,


imperfeições do sistema e distorções devidas a ecos,etc .

Um bom projecto do sistema assegura que as imperfeições não introduzam


degradações significativas.

Contudo, as distorções de eco causadas por reflexões nos edifícios e/ou no


terreno e devidas a duplas reflexões dentro do trajecto de RF (antena e linha de
transmissão) podem não ser desprezáveis para sistemas QAM de ordem
elevada.

O atraso de eco causa interferências que aumentam com o aumento desse


atraso. As reflexões no terreno causam atrasos de eco na ordem de 0.1 a 1 ns.
As reflexões perto das antenas ou de edifícios distantes são, geralmente,
superiores a 1ns e podem causar interferências de eco significativas.

Os ecos causados por dupla reflexão nos guias de onda podem originar atrasos
muito grandes, da ordem de 100 ns ou mais.

2- Interferência Inter-Canais

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Ocorre entre as bandas de frequência de transmissão em microondas como se


mostra na fig. 4.52.

Fig. 4.52 – Interferência Inter-Canais

A interferência entre canais adjacentes pode ser “Cross-polar” ou Copolar.

A interferência co-canal pode ser sòmente do tipo “cross-polar” (de polarização


cruzada)
Para canais adjacentes, a interferência Copolar pode ser suprimida por filtros e quanto
â “Cross-Polar”, a discriminação hoje em dia é satisfatória e por isso não causa
muitos problemas .

A fig.4.53 apresenta uma família de curvas (S(N) das quais podemos extraír o valor
do BER, em função do sinal recebido, para diferentes níveis de interferência co-
canal.
O ruído introduzido por um canal no outro é devido a uma discriminação de
polarização cruzada pouco efectiva das antenas e os valores S/N são, para todos os
efeitos, os valores da discriminação de polarização cruzada para canais a operar com
o mesmo nível de potência de saída.
Porque este tipo de interferência pode ser mais preocupante que a interferência entre
canais adjacentes, o valor de S/N deverá ser superior a 25 dB, ou, preferivelmente,
superior a 30 dB.

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Vê-se das curvas que, por exemplo, se o sinal recebido tiver um nível de –70 dBm e
se não houver interferência (S/N=!) obteremos um BER pouco acima de 10-10 mas
se S/N for 30 dB o BER subirá para cerca de 2x10-8 e se S/N for apenas igual a 20 dB
o BER ainda se degrada mais, passando para cerca de 10-5.

Fig. 4.53 – Interferência Co-Canal

3 - Interferência Inter-Saltos

Ocorre devido à má relação frente-costas ou devido a interferência intra-nodal de


saltos adjacentes ou ainda devido á interferência de sobre-alcance.
A relação S/I (relação sinal-interferência) é determinada pela discriminação
angular das antenas e pode decrescer se houver fading. Os projectos e o
planeamento de frequências têm que ser efectuados com extremo cuidado para
evitar que haja degradações superiores a 1 dB.

Pág. 4-100
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Análise e Cálculo de um “Link”

A fig. seguinte ilustra. vários exemplos de fontes de interferência inter-saltos,


inter-canais e intra-sistemas.

Fig. 4.54 – Fontes de interferência em rádio-links

1- Sinal co-canal ou de canal adjacente de outro salto diferente


2- Recepção frente-trás de salto oposto
3- Canal adjacente (mesmo salto)
4- Polarização cruzada (mesmo salto)
5- Radiação frente-trás
6- Sobre-alcance
7- Reflexões no terreno.

4 - Interferência Extra-Sistemas
Este tipo de interferência pode ser causado por outros canais digitais ou analógicos
usando a mesma banda de RF ou por emissões fora de banda a partir de outros
sistemas como, por exemplo, o radar. Isto é devido ao espectro de frequências de
emissão estar muito preenchido. Ora. em rádio digital, o espectro na banda de
transmissão fica completamente ocupado porque a energia é espalhada
uniformemente através de toda a banda, ao passo que o sinal de um rádio analógico
tem a sua energia concentrada no meio da banda com uma pequena porção da
energia nas bandas laterais. Isto signifia que um rádio analógico é muito
susceptível de ser interferido por um rádio digital.
Trata-se de uma interferência do tipo de canal adjacente que pode constituir um
problema em sistemas de alta capacidade (p. ex., interferência de um sistema de
rádio STM-0 num rádio-“link” analógico de 1800 canais da capacidade).

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Análise e Cálculo de um “Link”

! Cálculo do ruído em sistemas de rádio digital de microondas (“DMR”)

Como já se disse atrás, até há pouco tempo o parâmetro principal que


determinava a qualidade de um “link” digital era o BER, mas também se
evidenciou que os valores da Rec. ITU-T G.821 tendem a ser substituidos pelos
da Rec. ITU-T G.826 e que, por exemplo, cada vez mais se utiliza com referência
o BER de 10-6 em vez do BER de 10-3.
Para a comunicação de voz o valor do BER=10-6 é considerado adequado para
uma boa qualidade e, para os dados, o valor aceitável é de 10-7 mas estes valores
nem sempre são facilmente atingidos pois um “link DMR” pode ser constituído
em várias secções e o BER será a soma dos BERs de cada secção, tal como se
ilustra na fig. 4.55.

Fig. 4.55 – Acumulação do BER


Desta maneira, para se conseguir um link em condições satisfatórias para suportar
tráfego de dados cada secção deverá ter um BER da ordem de 10-9 ou mesmo 10-11.
Em comunicações digitais é costume utilizar uma parâmetro fundamental para a
determinação da sua performance de ruído, ou melhor, para a determinação da
performance do sistema em termos de ruído definido pela relação, em dB, entre a
energia por bit da informação recebida e a densidade de ruído e designado por
Eb/No (energia por bit por densidade de ruído)

Ora,
C Potência de pico da portadora
Eb = ----- = -------------------------------------- (4.50)
Br “bit-rate”

N Potência de ruído em Beq


No = ----- = ------------------------------------------------------------------------ (4.51)
Beq Largura de banda de ruído equivalente, a 3dB, na recepção

Pág. 4-102
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Análise e Cálculo de um “Link”

Logo, Eb C Beq
---- = (------ ) . ------ (4.52)
No N Br

Para um receptor perfeito, à temperatura de 17ºC (290ºK) sabemos que aquele


ruído No é dado por
No = -174 dBm + NF|dB (4.53)

sendo NF|dB a figura de ruído do receptor em dB e No a potência de ruído numa


largura de banda de 1 Hz.
Então,
Eb
---- = Pr – (-174 dBm + NF|dB ) – 10 log Br (4.54)
No
onde se considera que o nível do sinal recebido (Pr) é o nível da portadora
modulada.
A fig. 4.56 resulta de vários cálculos que relacionam o BER com Eb/No para
vários níveis de modulação QAM e dá-nos os valores que é necessário ter para
Eb/No de modo a que se consiga obter um determinado BER como objectivo.

Fig. 4.56 – Valores do BER


em função de Eb/No

Pág. 4-103
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

Portanto, para um determinado BER mínimo pretendido obtem-se das curvas acima o
valor Eb/No mínimo para o conseguir e, através da expressão (4.54) pode
dimensionar-se a ligação.
Como Pr = Pt – ", subtituindo na equação 4.54, virá

Eb
---- = Pt – " + 174 dBm - NF|dB – 10 log Br (4.55)
No

sendo :
Pt a potência de emissão em dBm
" as perdas no trajecto em dB
NF|dB o factor de ruído em dB
Br o bit-rate, isto é, a taxa binária de transmissão.

! Exemplos de cálculo

Exemplo 1

Neste exemplo procura-se calcular a relação Eb/No para um sistema de 40 Mbit/s cuja
antena vê uma temperatura de espaço de 120º K e apresenta perdas na linha de
transmissão iguais a 2 dB e cujo receptor recebe uma potência de –62 dBm, sabendo
que o factor de ruído desse receptor é igual a 2 dB.

Ora, a temperatura de ruído da antena/linha de transmissão é dada por

(L-1) 290 +120 (100.2 –1) 290 + 120


T1 = -------------------- = -------------------------- = 182º K
L 100.2

isto porque, a temperatura de ruído devida à linha de transmissão, à saída desta, é


dada por 290 (L-1)/L sendo L as perdas (não em dB) da linha de transmissão.

A temperatura de ruído do receptor é dada pela expressão 4.12 :

T2 = 290 (NF-1) = 290 (102/10 –1) = 168º K

Pág. 4-104
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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

A temperatura de ruído do sistema é a soma daquelas duas, isto é:

T = T1 + T2 = 182 + 168 = 350ª K

A potência Pr em é dada por

P = 10-62/10 mW = 631 pW

A energia por bit , Eb , é simplesmente o quociente entre Pr e a taxa binária de


transmissão:
631x10-12 W
Eb = ----------------- = 15.8 x 10-18 J
40x106

O ruído térmico é

No = K T = 1.38 x 10-23 x 350 = 4.83x10-21 W/Hz

Finalmente:

Eb
Eb/No |dB = 10 log ----- = 35.14 dB
No

Exemplo 2

Consideremos um sistema DMR a 155 Mbit/s, operando a 6 GHz com o tipo de


modulação 64-QAM sobre um salto de 37 km com terreno pouco acidentado e com
antenas de diâmetro de 3 metros em torres de 25 metros de altura.
Dimensionar a ligação por forma a ser obtida uma Margem de Fading que
proporcione uma disponibilidade da ligação superior ou igual a 99.9999%.

Da fig. 4.56 conclui-se que o valor (teórico) da relação Eb/No para um BER de 10-9 é
de 22 dB.

Pág. 4-105
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O valor prático deverá ser superior em 5 dB, de onde:

Eb/No = 27 dB

O valor de 1 W (30 dBm) de potência de transmissão é aceitável para se obter uma


boa linearidade. A figura de ruído de um receptor típico de 6 GHz é de 4 dB, pelo
que, de acordo com a equação 4.55 vem:

27 =30 – " +174 –4 – 81.9


e daqui,
" = 91.1 dB

Vimos já a equação :
" = "fs + "b + "f - Gt - Gr

que nos dá o “balanço” das perdas e ganhos ao longo do trajecto.

Calculemos a atenuação de espaço livre:

"fs = 92.4 + 20 log f + 20 log d = 92.4 + 20 log 6 + 20 log 37 =


= 139.3 dB

Seja "b = 1.0 dB o valor das perdas no “branching” e, considerando os dois terminais,
vem:

"b = 2 x 1.0 dB = 2.0 dB

Num guia de onda a 6 GHz as perdas são da ordem de 5 dB/100 m e, como temos
duas torres de 25 metros de altura, virá para "f:

"f = 2 x 25 x 5/100 = 2.5 dB

Calculemos os ganhos das antenas, supondo uma eficiência #= 70% :

4)A ' )2D2 $


G t = G r = 10 log + = 10 log %
% 0 . 70 * "" ! 44dB
(2 & (2 #

Logo,

Pág. 4-106
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" = 139.3 + 2.0 + 2.5 – 44 – 44 = 55.8 dB

Comparando este valor com 91.1 dB verificamos que temos uma margem de fading
de 35.3 dB.

Entretanto, pretende-se uma disponibilidade do sistema de 99.9999 % que


corresponde a 32 segundos/ano de indisponibilidade, perguntando-se então quais as
condições para atingir esta condição

A percentagem de indisponibilidade de 0.0001% tem que ser dividida pelas duas


direcções de transmissão (2 sentidos), sendo então:

PF% = 0.0001/2 = 0.00005 %

A expressão que nos dá a probabilidade em percentagem da indisponibilidade da


ligação é a expressão (4.42) que aqui reproduzimos:

PF% = 100 c.Q.f. d3 . 10-FM/10

Supondo que estamos perante uma região continental, em clima temperado e fazendo
Q=1 por não possuirmos dados do terreno vem:

Com f = 6 GHz, c=2.1x10-5, B=1, C=3 e d=37 km vem:

PF% = 0.188 %

Vemos assim que o sistema com a configuração dada ultrapassa o valor pretendido de
0.00005 % de indisponibilidade máxima, para a margem de fading acima calculada.

A diversidade de espaço aumenta a disponibilidade de serviço por um factor Is (ver


expressão 4.36) dado por:

1.2 $ 10 !3 # S2 f "10( F!V ) / 10


Is =
d

Uma separação vertical de 10 metros entre as antenas é o mínimo para satisfazer 200$
a 6 GHz.

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Análise e Cálculo de um “Link”

Então, com S =10, f = 6 GHz, V=0 (usaremos antenas iguais), d= 37 km e #=1,


temos:

Is = 65.93

o que significa que PF% ficaria em 0.0028%, melhor, mas ainda assim não
satisfazendo o nosso objectivo.

Podemos passar por aumentar a separação vertical entre as duas antenas em


diversidade de espaço, para 15 metros obtendo-se um valor para Is igual a 148.36
donde:

PF(SD)% = 0.00126 %

isto é, a indisponibilidade, em percentagem, conseguida com a diversidade de espaço


(“Space Diversity” – SD) tem o valor de 0.00126 %, portanto, ainda superior aos
0.00005 % que pretendemos.

Lançamos mão agora da única “arma” que nos resta de combate ao fading ( a
diversidade de frequência) para baixar aquele valor.

A expressão 4.37 dá-nos o factor de melhoria If :

80 . %f . 10F/10 80 x 0.120 x 1035.3/10


If = ------------------ = -------------------------- = 24.42
f2 . d 62 x 37

Nota: estamos a usar uma separação de frequências de 2 % (!f=120 MHz)

A indisponibilidade total passa então a ficar dada por

0.00126
PF(SD+FD)% = ------------- & 0.00005 %
24.42

cumprindo-se assim o objectivo de 99.9999 % de disponibilidade.

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4 – Elementos de Propagação e Métodos de Planeamento

Análise e Cálculo de um “Link”

Durante chuva muito intensa não haverá fading multipercurso neste sistema. Como já
foi salientado nem a diversidade de espaço nem a diversidade de frequência
proporcionariam qualquer melhoria da performance para a atenuação devida à chuva.
A margem de fading de 35.3 dB seria, contudo, suficiente neste caso, dado que
mesmo para a chuva mais forte (ver fig. 4.12) de 100 mm/h que produziria uma
atenuação de aproximadamente 1 dB/km seria necessário que essa chuva intensa
cobrisse 35.3 km dos 37 km do salto para “consumir” toda a margem e. a
probabilidade de isso acontecer é extremamente remota, pois quedas de chuva de
tamanha intensidade só ocorrem sobre extensões de 10 km ou menos.

Este problema, contudo, constituiu um bom ponto de partida para mostrar como os
vários parâmetros associados com a diversidade afectavam a disponibilidade.

Há outras medidas que podem ser tomadas, já que a diversidade é um processo


dispendioso de aplicação, que poderão ser efectivas para várias situações com
excepção das situações de condições severas de propagação. Essas medidas incluem
sistemas de comutação de protecção, igualizadores adaptativos de IF, igualizadores
transversais e FEC (“Forward Error Correction”) que são aplicáveis de acordo com as
condições locais e as exigências da transmissão.

===================== / / / ======================

Fim do Capítulo 4

ISEL, Outubro de 2004

A. Saraiva Fernandes

Pág. 4-109

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