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MUNDI L
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rg.br
E
ste manifesto-revista é resultado do seminário Crise de civilização.

é possível e
um outro mundo

03
“A busca de paradigmas de civilização As atuais crises climática,
alternativos e a agenda de transformação energética, alimentar e
financeira convergem numa
social”, realizado durante o Fórum Social
crise de civilização. O desafio,
Mundial 2011, em Dacar, no Senegal. diante dessa crise, é superar a
Organizado pelo Grupo de Reflexão e Apoio ao ordem capitalista e as relações
Processo Fórum Social Mundial (Grap), o seminário sociais, ambientais e culturais
discutiu os problemas do mundo atual, formas e que ela envolve. Um outro
propostas para superar a ordem capitalista. mundo é possível e é pra já.
Ao todo, 28 ativistas, pesquisadores, respresentantes
de organizações e governos participaram do seminário
(veja ao lado a lista de palestrantes). O evento durou dois
Boaventura de Sousa Santos dias, 8 e 9 de fevereiro, e ocorreu no Instituto Goethe, em Sociedade civil mundial Pós-capitalismo. No

01

04
Dacar. O público foi de 200 pessoas por dia.

é
Carles Riera rumo à Rio + 20. Redes e mundo que buscamos, a
Edgardo Lander Para além de apresentar os resultados do movimentos sociais definiram valorização da vida, do bem
Emilio Taddei seminário, este manifesto é um chamado para que a no Fórum Social Mundial comum, a justiça social e
Esther Vivas sociedade civil ao longo de 2011 e 2012 se organize 2011, em Dacar (Senegal), os direitos da natureza serão
e se manifeste em prol de um outro mundo. Este um cronograma de discussões centrais. A competição
Gustavo Soto
e mobilizações por um acirrada, o consumismo, o
Iara Pietricovsky manifesto é uma provocação para discutirmos e
outro mundo, um outro racismo, o patriarcalismo
Janeth Cuji afirmarmos um outro paradigma de civilização. paradigma de civilização. darão lugar à igualdade, à

pra
Joan Martínez Allier Entre em contato conosco, escreva para A programação culminará cooperação, à tolerância, ao
João Antônio Moraes secretariagrap@gmail.com num evento paralelo à Rio bem viver. Os Estados irão
João Whitaker + 20, em junho de 2012. descentralizar o seu poder,
José Batista de Oliveira Até lá, haverá manifestações ganhar caráter plurinacional
Ladislau Dowbor públicas no G20, na COP17, e respeitar a diversidade e as
Lilian Celiberti além da Conferência de populações indígenas.
Luiza Bairros Cochabamba, sobre os


direitos da Terra, e de um
Luiz Arnaldo Campos
Fórum Social preparatório
Magdiel Carrión Pintado
para a Rio + 20.
Maher Al-Charif
Manoel Messias Melo
Marco Deriu
Nadino Calapucha GRAP – Grupo de Reflexão e Apoio ao Economia verde não Diálogo e

02

05
Patrick Mooney Processo fórum social mundial
resolve o problema. descolonização do
Patrick Viveret www.grap.org.br
A promoção da chamada imaginário. Para viabilizar
Roberto Espinoza “economia verde”, um dos esse outro mundo, o diálogo
Rubens Born edição e produção:
motes principais da Rio + tem que ser a nossa cultura
Augusto Gazir
Silke Helfrich Filomena Siqueira 20 oficial, organizada pelas política. O diálogo é essencial
Susan George Marina Ghirotto publicado sob licença creative Nações Unidas, é ação para a construção de
commons. alguns direitos reservados:
Virgínia Vargas Laura Lisboa mitigatória e não resolverá os plataformas comuns entre os
Luiz Antonio Barata atribuição. problemas socioambientais mais variados movimentos,
Vitor Castro Você deve dar crédito ao autor
original, da forma especificada
do planeta. A Terra tem hoje ativistas e organizações sociais
Projeto gráfico e diagramação: pelo autor ou licenciante. boa parte da sua população e para a conquista da adesão
Mórula Oficina de Ideias uso não-comercial. com problemas no acesso de um público mais geral. O
Ilustrações:
Você não pode utilizar esta obra a alimentos, água, saúde, diálogo deve ser acompanhado
com finalidades comerciais.
Paula Santos saneamento. O aquecimento de uma nova maneira de ver
PERMITIDA A CRIAÇÃO DE OBRA global se agrava, e a indústria o mundo, do rompimento
DERIVADA.
As falas dos palestrantes neste Se você alterar, transformar
extrativista e o agronegócio com valores capitalistas, da
manifesto estão editadas. As íntegras ou criar algo a partir deste se ampliam. Não basta trocar descolonização do imaginário.
das falas, assim como outras trabalho, você pode divulgar
informações sobre o seminário, estão o resultado desde que sob uma
algumas peças. A crise é
disponíveis no site www.grap.org.br licença igual a esta. abrangente e está enraizada.
Maher Al-Charif
Instituto Francês do Para concebermos uma civilização alternativa, Como b
rincou
Oriente Próximo talismo Boaven
é preciso alguns princípios. Primeiro, o com um tura So
tariano” r osto hu usa San
direito do povo de escolher livremente . O des mano é tos dura
afio é su a mesm nte o ev
o caminho para o seu desenvolvimento. A ambien perar a a coisa ento, “c
tais e cu o rdem ca q ue um api-
democracia política não pode ser separada da lturais q p it tigre
ue ela e alista e vege-
nvolve. as relaç
democracia econômica. Deve haver a articulação Crise d ões socia
e civil is,
das lutas contra a exploração da natureza, a ização
revisão do conceito de progresso, uma ética E a t are
fa é urg
que permita o controle da evolução científica, rio. O m ente. A
undo te razão d
e o respeito à diversidade cultural. culação m enfrent isso est
finance ado nos á todos
ira e do ú ltimos a os dias
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Boa pa undial ional d espe-
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(Brasil PUC-SP
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ou o p explo ergindo. Nã
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Essa c blema da a a bolha ali abemos

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gência ternativa en entar
Fórum Social Mundial tem desde
2001, ano da sua primeira edição, isso d
e catá e
proclamado que “um outro mundo é
um do strof é o problem rgética.
e em c
possível”. O primeiro Fórum, na cida-
impotê
s noss
os des âmera a. Eu chamo
de brasileira de Porto Alegre, nasceu
ncia f afios lenta
como um contraponto ao Fórum Econômico rente é essa ,e
Mundial, evento símbolo do neoliberalismo, a isso n ossa
que reúne em Davos, na Suíça, governantes,
.
intelectuais, empresários e investidores.
Dez anos depois, Davos não tem mais a força
de antes, e governos neoliberais foram substituídos onda neodesenvolvimentista, a indústria extrativista e o agronegócio
por alternativas mais progressistas, principalmente se ampliam como se os recursos do planeta não tivessem fim.
na América Latina. O mundo, no entanto, não se Ao mesmo tempo em que as conferências sobre o clima fracas-
tornou por isso um lugar melhor para se viver. sam, que os países priorizam o crescimento econômico a qualquer
Os porquês e as alternativas para este mun- custo, a ênfase de alguns estudiosos, governos e organismos interna-
do e as suas crises foram o tema de um semi- cionais é na reforma do capitalismo, em medidas paliativas, como as
nário que reuniu cerca de 200 pessoas, duran- embaladas sob o rótulo de “economia verde”.
te o Fórum Social Mundial 2011, em Dacar, Não basta entretanto consertar ou trocar algumas peças. O pro-
Senegal. Os presentes, ativistas, pesquisadores, blema é mais enraizado e abrangente. As crises financeira, alimentar,
representantes de governos e organizações, ha- climática, energética convergem. Vivemos uma “catástrofe em câ-
viam participado da construção do Fórum, na mera lenta”, resumiu Ladislau Dowbor. A crise é de civilização. Um
última década. outro mundo é possível, necessário e é pra já.
O seminário “A busca de paradigmas de ci-
vilização alternativos e a agenda de transforma- Pós-capitalismo
ção social” teve 28 palestrantes (confira trechos Esse outro mundo, essa civilização pós-capitalismo, se organizará
de todas essas falas ao longo desta publicação) e em torno da valorização da vida. A preservação e o respeito aos limites
partiu da premissa de que só a crítica ao neoli- do planeta serão centrais. A natureza terá os seus direitos reconhecidos.
beralismo, só ser o anti-Davos, não bastava. As desigualdades sociais, a competição acirrada, a mercantilização da
vida, o padrão consumista, os persistentes racismo e
Magdiel Carrión Pintado Emilio Taddei

o que você faria?


ministro da Educação ou da Fazenda,
mercantilismo. Se você fosse
pelo modelo agroexportador, pelo
é financiado pelo extrativismo,
do povo, mas ao mesmo tempo isso
como responder às necessidades
governos progressistas temos
amplas expectativas de que com
mas as demandas cotidianas seguem em outra direção. Há
no qual se reconhece que o modelo atual é insustentável,
pensar o futuro. Vivemos num mundo um pouco esquizofrênico,
políticas, mas também limitações na reflexão teórica para
Na América Latina há uma riqueza de trocas nas lutas
Edgardo Lander
patriarcalismo darão lugar à justiça socioambiental,
Confederação Nacional de Comunidades do Peru Universidade de Lanus (Argentina)
à cooperação, à tolerância, à partilha, ao bem viver. Afetadas pela Mineração – Conacami

Segundo Silke Helfrich, “muda-se a lógica da acumu- No Peru, nossas comunidades e povos Os muitos movimentos críticos ao
lação de riquezas para uma do bem comum”. indígenas tiveram os seus territórios modelo extrativista apresentam um
“Não há leis dizendo que a democracia não pode invadidos por empresas extrativistas e horizonte novo. Uma perspectiva
entrar no terreno da economia”, frisou Susan George. de petróleo. Hoje estamos integrando crítica mais radical do capital
As estruturas políticas acompanharão as transforma- a luta com outras organizações, e da civilização está surgindo
exigindo que nossos direitos se como parte das lutas sociais e
ções. O Estado precisará descentralizar o poder, ga-
incluam nas Constituições dos ambientais na América Latina.
nhar caráter plurinacional, respeitar a diversidade e as países latino-
populações indígenas. Deverá existir uma governança americanos.
global participativa e igualitária.
A construção dessa alternativa não será, obviamen-

Universidade Central da Venezuela


te, fácil. Trata-se de um processo de disputa política
e também cultural. Um novo paradigma depende de
mudanças na maneira de ver o mundo.
Gustavo Soto lembrou os limites de movimentos
sociais, que, exitosos em superar governos neoliberais,
como na Bolívia, não conseguiram vencer a mentali-
dade capitalista e desenvolvimentista. A “descoloniza-
ção do imaginário”, definiu Marco Deriu, é esforço
crucial para superar a crise civilizatória.
Um outro esforço importante foi apontado por Lilian
Celiberti. Ela pediu a adoção do “diálogo como cultura
política”, tanto para a formação de alianças e plataformas
entre os diferentes movimentos e grupos sociais, quanto
para alcançar e influenciar o público mais geral. Iara Petricovsky exemplificou: “A população que vive minará num evento da sociedade civil mundial paralelo à
nas favelas está se constituindo como cidadãos com uma conferência Rio + 20, das Nações Unidas, de 4 a 6 de junho
linguagem que não é a nossa. A gente tem que es- de 2012, no Rio de Janeiro.
tabelecer conexões com experiências para além Até lá, movimentos, organizações e ativis-

Patrick Mooney Grupo ETC (Canadá)


do Fórum Social Mundial”, para não “perder o
bonde da história”.
tas de diferentes perfis e lugares se encontrarão
para a reunião do G20, para

Janeth Cuji
As crises estão convergindo, e as soluções que estão sendo a COP17 (conferência das
propostas para elas também convergem. Nós temos ouvido que Rio + 20 e plano de Nações Unidas sobre cli-
a solução para a crise de recursos energéticos e matérias- mobilizações Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador – Conaie ma), em Durban, na África
primas é a tecnologia, a nanotecnologia, que vai permitir
Para que sigamos nesse do Sul, para uma segunda
a produção a partir de átomos e moléculas. Ou seja, eles
bonde, o Grap (Grupo de
A exploração de Conferência de Cochabam-
estão dizendo que não vamos mais precisar de matérias-
primas. Também temos escutado que não precisamos mais nos Reflexão e Apoio ao Proces- petróleo, de madeira e ba (Bolívia), sobre os direitos
preocupar com o declínio dos combustíveis fósseis, pois
o que um dinossauro pode fazer, uma planta também pode.
so Fórum Social Mundial), a mineração afetam os da Terra, e para um Fórum
que organizou o seminário Social temático preparatório
Tudo que precisamos é controlar a biomassa do planeta. A em Dacar e edita este mani-
territórios indígenas. para a Rio + 20, em Porto
terceira ameaça dessa convergência é relacionada à mudança
climática. Temos escutado que a indústria, que nos trouxe
festo, está promovendo em Estamos fortalecendo as Alegre, no início de 2012.
o problema, irá nos tirar da crise pela geoengenharia. E
conjunto com outras redes comunidades, trabalhando As mobilizações também
por conta dessa convergência, indústria e governos estão e movimentos sociais um serão um protesto contra o
dizendo que precisam de uma nova aliança para garantir o cronograma de discussões e os temas da autonomia, da G20 e a COP17, pela for-
controle que eles precisam sobre o planeta. Essas são as mobilizações por um outro nacionalidade dos povos ma excludente como esses
ameaças que a nossa civilização enfrenta. paradigma de civilização. A
indígenas, da possibilidade encontros são organizados e
programação, aprovada em tomam as suas decisões, sem
assembleia durante o último de um governo indígena nas a participação ativa da socie-
Fórum Social Mundial, cul- comunidades. dade, sem a transparência
Marco Deriu Universidade de Parma (Itália) Esther Vivas
Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais da Universidade Pompeu Fabra (Espanha)
O surgimento de paradigmas alternativos dependerá da
nossa capacidade de renunciar formas de pensar que Os movimentos por soberania alimentar são
são obstáculos às mudanças. Houve uma colonização do centrais no combate à globalização capitalista.
imaginário, e a mudança também tem a ver conosco, A soberania alimentar
e não apenas com o mundo que nos envolve. A era do é um paradigma
desenvolvimento acabou, e devemos abandonar esse alternativo ao modelo
paradigma. Esse processo de desenvolvimento nos traz agroindustrial que
algumas lições. O crescimento não garante a satisfação nos têm levado a
das necessidades, mas cria novas demandas. Ele acenou com uma crise alimentar
riqueza e liberdade para todos, mas isso foi assegurado e rural. Há milhões
apenas para um número limitado. A pobreza não acabou, de pessoas passando
surgiram novas. Pela primeira vez, há uma consciência fome no mundo, quando

agricultura, pela soberania alimentar.


agora é pelos recursos naturais, pela água, pela
do que a luta só pela reforma agrária. A luta
A luta pela terra ganhou uma dimensão maior
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (Brasil)

José Batista de Oliveira


de que o futuro será pior do que o momento atual. A hoje se produz mais
civilização que inventou a ideia do progresso está alimentos do que nunca. Há alimentos
ameaçando a existência da humanidade. para todos, mas não há o acesso de
todos aos alimentos. Os trabalhadores
rurais perderam a autonomia para
Roberto Espinoza produzir, e os consumidores perderam o
controle sobre o que comem.
devida. A Rio + 20 oficial, O tigre come carne Rede Ubuntu e Rede Mundial de Direitos Coletivos (Peru)

por exemplo, definiu como O capital vive da abertura


Se tivermos a Belo Monte
um dos seus temas centrais a e da exploração constantes de Gustavo Soto
promoção da chamada eco- novas frentes de recursos na- e a represa de Vizcatan Centro de Estudos Aplicados aos Direitos Econômicos, Sociais e
nomia verde. Em fevereiro de
suspensas, chegaremos
Culturais – Ceadesc (Bolívia)
turais e de novos mercados.
2011, as Nações Unidas re- O desenvolvimento capitalis- A Bolívia iniciou um processo
comendaram o investimento ta será sempre insustentável à Rio + 20 com mais força. político muito interessante em 2000.
A defesa do direito a um bem comum,
de 2% do PIB mundial nessas
atividades, para estimular o
por definição. Como disse Temos que articular uma a água. Isso levou à mobilização
Nadino Calapucha, “temos
desenvolvimento econômico escutado muito a palavra de- rede ampla entre os de diferentes setores da sociedade
e culminou no surgimento de um
e melhorar o meio ambiente. senvolvimento, mas temos ex- movimentos para conquistar governo popular. Esse processo
A chamada responsabili- perimentado destruição, vio- provocou a discussão sobre temas
dade corporativa ambiental, lação dos direitos humanos, vitórias locais que irão como água, direitos indígenas e
os incentivos oficiais a setores ambientais e socioculturais”. guiar as lutas globais. O ambientais, que hoje fazem parte da
e empreendimentos que po- Uma evidência do contra- pauta social e política boliviana.
luam menos e outras ações senso que é pensar a ideolo-
caminho da mitigação das Esses temas se tornaram direitos
constitucionais. Essa é a parte
mitigatórias não resolverão, gia do crescimento econômi- mudanças climáticas, da boa da história. A outra parte é a
contudo, o nosso débito com co como compatível com a
o planeta. Acreditar na eco- preservação da natureza e a
adaptação, não é o caminho. que nos traz a este seminário: os
limites desses movimentos sociais
nomia verde é acreditar no igualdade social foi dada por Como diz Leonardo Boff, que foram exitosos em superar
“tigre vegetariano” de Boa- governos neoliberais, mas que
ventura Sousa Santos.
Esther Vivas: nunca se pro-
duziu tantos alimentos como
é entrar no reino das fracassam em mudar a mentalidade
sombras. O problema não é capitalista. Como é possível que
governos de origem popular não
que o clima está mudando tenham uma diretriz que não seja
repetir o velho desenvolvimentismo,
naturalmente. Há uma que nos escraviza e nos amarra a um
agressão climática. capitalismo selvagem.
agora, e há milhões de pessoas passando fome no mundo. No atual agronegócio,
Nadino Vou tentar confrontar os valores do paradigma

Silke Helfrich
Commons Strategies Group
afirmou ela, “os trabalhadores rurais perderam a autonomia para produzir, e os dominante com um paradigima do bem comum. Se na lógica
consumidores perderam o controle sobre o que comem”. Calapucha do mercado, o foco é como produzir e vender, no
paradigma alternativo o foco é como reproduzir o que
Não à toa os movimentos pela reforma agrária ganharam uma “dimensão Confederação de Nacionalidades Indígenas
da Amazônia Equatoriana - CONFENIAE precisamos, é o valor de uso. No paradigma dominante,
maior”, lembrou José Batista de Oliveira. Num mundo em que o alimento
eles sempre falam de escassez, recursos e a alocação
virou commodity para a especulação financeira, a luta dos sem-terra agora é Temos escutado
de recursos. Somos treinados para competir uns com
por recursos naturais e pela soberania alimentar. muito a palavra
os outros. No paradigma alternativo, a ideia é que
desenvolvimento, mas
temos o suficiente para todos se a gente dividir. A
temos experimentado
Indignação e emoção questão não são os recursos, mas a maneira com que nós
destruição, violação
A situação de um país como a Nigéria ilustra bem as contradições das quais se nos relacionamos quando se trata de recursos. Isso
dos direitos humanos,
significa uma mudança da monopolização do poder para
alimenta o capitalismo. Maior produtor de petróleo da África, a Nigéria é destino ambientais e
a descentralização do poder e a autonomia. Temos que
de investimentos, conta com uma classe média crescente e registrou nos últimos socioculturais. Por
adotar a ideia de que o nosso próprio desenvolvimento
anos crescimento acima dos 5%. No entanto, saúde e educação estão em colapso, isso propomos Estados
depende do desenvolvimento dos outros. Isso significa
e a maioria dos 150 milhões de habitantes vive na pobreza. plurinacionais, um
mudarmos de uma lógica de acumulação de bens e riqueza
Estado verdadeiramente
para a do bem viver.
participativo,
democrático, onde
Carles Riera todas as opiniões
sejam respeitadas.
Centro Internacional Escarré para Minorias Étnicas e Nações – Ciemen (Catalunha)
No Equador, temos ações )
Trans rança
A civilização, a cultura, ligada ao três irmãos na prisão
iação p e l a Ta x aç ã
aos
o das
C ida dão s – ATTAC (F
acusados de terrorismo Assoc Ajuda
crescimento econômico capitalista, por defenderem a nossa
e org e Financ
eiras e

desenvolveu determinados tipos us a n G


água, por pensarem
diferente. Mais de 150 S on de joga
fora
de relações sociais, cotidianas, um os e ssa
líderes indígenas estão u s r ecurs radigma, e O
os se No meu pa ida.
modelo de organização social, de sendo perseguidos pelo tira ix o. t e invert o mais
dity, l n
mesmo motivo.
commo s o seu etame aneta são Podem
os
compl
relações com a natureza, com o r no u
se to As finança orde m é
nte e
o p l da de .
socie ocial. Não
. Tudo . z o ambie Depois, a s
território. Portanto, é todo um sistema nanç a s comi da da ve m ei . ma i s
a não
as fi ve água e s ão ca ue é o t a nt e m ui t o
craci a.
si ante
e , q impor o no mia d em o
que está em questão. Também temos que ra de inclu ais import nomia real pessoas ma ec ndo que a onomi
manei que m co s ter u i ze o da ec o, uma
r u m a são o igadas à e lo, onde a ro é a is d rr
há le trar no te enor círcu
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questionar o modelo de organização propo . Imaginem o meno s l cí r cu ce i
Quero do scrit undo O ter ocrática pode
e n o o m mi .
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o mun er de os, s e g o m e m. m ç as sã s da econo
política, tanto local quanto olhar s nosso am e cons os de ém está na n
As fi nta apena
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para garantir a acumulação qu e
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Necessitamos de estruturas políticas v er n os at e controla
s go qu
O dos
distintas, que possibilitem a grande ício
benef
participação política e social, não
permitida pelos Estados nacionais.
Precisamos encontrar, na diversidade, Manoel Messias Melo
Central Única dos Ao criticarmos o modelo de consumo capitalista, não podemos
micromodelos locais, que se adequem Trabalhadores – CUT
(Brasil) negar o direito de consumo. Por exemplo, o acesso às
melhor a cada momento, e estruturas tecnologias de comunicação é essencial e, para ser universal,
exige uma solução de energia. Então, a resposta é negar
que levem a acordos globais de esse direito, ou manter esse direito e dar a prioridade
necessária à construção de alternativas? Não é suficiente
governança. Os Estados nacionais hoje parar o consumo como ele está hoje, negá-lo a quem ainda não
não permitem nem uma coisa nem outra. conseguiu esse direito. Seria injusto.
Os dados são do jornal britânico
The Guardian, que conclui: “A verdade
aqueles que são donos, controlam ou
se beneficiam da sua economia cada
matando 6 mil pessoas”, disse Rubens
Born. Cerca de 10% da população
um absurdo que isso não faça parte da
pauta global. Precisamos resgatar a
João Whitaker
Universidade de São Paulo – USP (Brasil)
é que a Nigéria é um Estado falido no vez mais dinâmica”. mora de forma precária. “A cada ano, o nossa indignação e emoção”.
que diz respeito à oferta de proteção, Neste mundo atual, 2,2 milhões de mundo produz 8 milhões de habitantes Em 2010 tínhamos 10%
Um outro mundo é pra já. da população mundial
saúde e educação à sua população, pessoas morrem por ano de diarréia. de favelas”, afirmou João Whitaker.
morando em favelas,
mas um Estado de muito sucesso para “São 20 Boeings 747 caindo por dia e O protesto foi de Rubens Born: “É
o equivalente a 830
milhões de pessoas.
A cada ano, o mundo
produz 8 milhões de
habitantes de favelados,

Joan Martínez Allier Boaventura


espalhados pelo mundo.
Cidades como São Paulo,
Rio, Nova Délhi, Bogotá
de Sousa
Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha)

apresentam uma média de


A dependência do Norte das matérias-primas do
Sul, da África, da América Latina, da Indonésia, Santos 50% da sua população
morando em favelas ou
Universidade de Coimbra (Portugal)
loteamentos informais.
nunca foi tão grande como agora. O Sul vende Lilian Em uma década, o Fórum Nessas cidades aparecem
barato e compra caro. A boa notícia é que isso Celiberti Social Mundial evoluiu e explodem os dramas
bastante. O Fórum e injustiças do
produz resistências, e o mundo está cheio de Articulação Feminista Marcosur
começou centrado na capitalismo: pobreza,
movimentos de justiça ambiental. Precisamos tornar o ideia do neoliberalismo, racismo, intolerância e
diálogo uma cultura o que para muitos nem violência do Estado com
política, uma pedagogia era uma crítica ao os pobres, inundações,
para a desconstrução do capitalismo, era uma desabamentos, lixo,
João Antônio pensamento colonizado,
racista, homofóbico.
crítica ao capitalismo
selvagem. Ora, um
doenças como cólera.
Assim como é dado
Moraes Precisamos de uma nova capitalismo de rosto ao pobre o sonho de
Iara Federação Única dos Petroleiros – FUP (Brasil) práxis, modificar a
lógica de poder em que
humano é a mesma
coisa que um tigre
que é possível se
tornar rico, é dada a

Luiz Arnaldo Pietricovsky Não há saída para a


questão energética
algumas lutas são mais vegetariano. Vai ser ideia de que a cidade
Instituto de Estudos Socioeconômicos – importantes do que cada vez mais difícil subdesenvolvida pode se
Campos Inesc (Brasil)

A cultura e a política
sem olharmos para o
consumo. Primeiro, a
outras. Há dez anos, era
central a luta contra o
nos mantermos apenas
com uma crítica ao
tornar desenvolvida.
Esse modelo é sedutor,
Fórum Social Pan-amazônico sustentabilidade. Já neoliberalismo. Agora neoliberalismo. A cria uma ideologia do
são dimensões que têm que
De acordo com dados consumimos cerca de 30% a nossa prioridade crítica é ao capitalismo consumo, de cenário
ser levadas em conta para
do Plano Decenal de acima da capacidade do é a articulação de e ao colonialismo, que das aparências, sob a
que possamos refazer a
Energia do governo planeta se renovar. A agendas. Nesses dez continuam vigentes em alegação de que se gera
nossa percepção de mundo,
brasileiro, está questão ambiental nos leva anos adquirimos uma nossas sociedades. É uma emprego, mas na verdade
falar além dos nossos
prevista a destruição a discutir a distribuição certa capacidade para dificuldade pensarmos é desastroso porque é
territórios, falar, por
de 5,3 milhões de km2² de recursos. É fundamental incorporar o aprendizado o novo a partir do concentrador de renda e
exemplo, para a população
da floresta amazônica dar a um imenso contigente de outros movimentos, de velho. Sem descolonizar gerador de miséria.
que vive nas favelas, que
para a construção de 61 da população acesso aos aprender com a ecologia as nossas cabeças e os
se organiza e que está se
novas represas. Ao todo, recursos. Isso só será social e suas lutas, com nossos saberes, nós não
constituindo como cidadã
15 delas vão afetar possível se o retorno da os movimentos que dicutem vamos chegar a lugar
com uma linguagem que não
áreas de preservação indústria de energia for a questão racial, com os nenhum.
é a nossa. A gente tem
ambiental, e 13 violarão de fato destinado ao povo. movimentos indígenas, de
que estabelecer conexões
território indígena. Tem E quanto mais pessoas no mulheres. Temos que criar
com outras linguagens e
ainda a construção de mundo discutirem energia, agendas comuns, criar
experiências, para além do
duas hidrelétricas no mais chances de êxito coletivos com capacidade
Fórum Social Mundial. Se
Peru, que vão desalojar teremos. A rediscussão do para serem ouvidos,
a gente não abrir a nossa
13 mil indígenas, padrão de consumo passará interagirem. Uma agenda
linguagem, não funcionar
inundando 45 mil km2. por isso. conjunta é o desafio.
multidimensionalmente,
vamos perder o bonde da
história.
Rubens Born
Rede Dialogue en Humanité

A nossa rede trabalha a construção de uma


alternativa à guerra, ao choque de civilizações,
porque percebemos que o capitalismo se utiliza
dessas guerras entre civilizações. E não apenas
na escala internacional. Moro num subúrbio de
Paris e constato que o problema do diálogo entre
civilizações ocorre tanto nos bairros, entre as
diferentes culturas da cidade, quanto no mundo.
Vitae Civilis (Brasil)

Segundo dados do Programa das Nações


Unidas para o Meio Ambiente, morrem por
ano 2,2 milhões de pessoas por diarréia.
São 20 boeings 747 por dia caindo e
matando seis mil pessoas. É um absurdo
Patrick Viveret

que isso não esteja fazendo parte da pauta


global. Precisamos resgatar os princípios
da indignação e da emoção, para nos
mobilizarmos e exigirmos ações. A nossa
solidariedade com o futuro se faz pela
nossa responsabilidade ética com esse
planeta. Outro princípio é a construção
de alianças e a comunicação. Para sermos
agentes históricos de transformação, temos
que nos comunicar com grandes públicos.
O nosso dilema é como construir um mundo
novo e sustentável atuando num mundo
injusto e perverso.

das mulheres no âmbito privado, é fundamental. Creio que essa


modifique a condição sexual do trabalho, rompendo o monopólio

economia do cuidado é uma condição central para um paradigma

O cuidado é tão importante para a sobrevivência das pessoas


é uma estratégia que alimentaria a interdependência da vida

e do planeta e não é considerado como parte da economia. A


alternativo. Um pacto social entre mulheres e homens, que

Luiza Bairros Virgínia Vargas


ministra da Promoção da Igualdade Racial do Brasil

À medida que o racismo provoca tantas


desvantagens ou vantagens simbólicas
e materiais, é preciso que a gente
na relação cotidiana dos seres humanos.

aprofunde um pouco mais a discussão


sobre a permanência do racismo, de uma
maneira tão forte, até os nossos dias.
Eu queria destacar dois fatores. O
primeiro é a capacidade do capitalismo
operar por desigualdades. Ele vai criando
e incorporando as desigualdades para
fortalecer a sua natureza excludente.
Um segundo fator tem a ver com sujeitos,
com a constituição do sujeito branco
Articulação Feminista Marcosur

como sujeito universal, a ponto de ele


raramente ser percebido como parte de
um grupo racial. Vivemos uma situação
esquizofrênica, em que se constituiu
uma identidade negra, mas não existe um
sujeito constituído com uma identidade
branca. Por isso que a nossa luta parece
não ter fim.

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