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A Economia Mundial foi marcada durante a década de 90 por quatro grandes Forças
Motrizes, fortemente inter-relacionadas: Emergência de Economias, Mutação de
Tecnologias, Internacionalização de Empresas e Globalização de Poupanças
Figura 1
EMERGÊNCIA
DE
ECONOMIAS
GLOBALIZAÇÃO DE
POUPANÇAS
INTERNACIONALI-
MUTAÇÃO DE
ZAÇÃO DE
TECNOLOGIAS
EMPRESAS
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
• os EUA têm níveis reduzidos de poupança privada (sobretudo das famílias), embora
estas apliquem as suas poupanças em activos que permitem aumentar rapidamente o
seu património (imobiliário, na fase de inflação; acções de empresas, na fase de
desinflação);
• os EUA colocam uma parte significativa da sua dívida pública a curto prazo, junto dos
Bancos Centrais do Japão e das Economias Emergentes (Ásia/Pacífico e México), em
contrapartida do aumento das reservas cambiais das economias emergentes ou
recém industrializadas da Ásia/Pacífico – cujas moedas nacionais estão
tradicionalmente alinhadas com o dólar ou com um “cabaz de moedas” em que o
dólar é predominante;
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Informação Internacional
O “Mundo do Pacífico” dispõe assim no seu interior dos principais motores de deslocação
das “Fronteiras Geoeconómica e Tecnológica e de Infra estruturação da Economia Mundial,
articulando, também no seu interior as principais Assimetrias, nomeadamente as da
Poupança /Investimento, Conhecimentos/Competências e Energéticas. Pode pois, a esta
luz, afirmar-se que constitui o “sistema motor” da Economia Mundial. Mas se quisermos
completar este modelo simplificado da Economia Mundial teríamos que introduzir quatro
outras entidades:
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Figura 2
ZONA
EURO
EUA
JAPÃO
ZONA
DÓLAR
OUTRAS
ECONOMIAS ECONOMIAS
ECONOMIAS EMERGENTES DA
CHINESAS ENERGÉTICAS
ÁSIA E AMÉRICA DO GOLFO
LATINA
Em 2000, após a passagem à terceira fase da UEM a economia mundial podia ser dividida
em três grandes realidades a nível monetário/cambial, ilustradas na Figura 2:
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Informação Internacional
• uma zona dólar onde se inclui os EUA, as “Economias Chinesas” (entendidas a este
nível como integrando a República Popular da China, Hong Kong, Taiwan e
Singapura) e outras economias emergentes da Ásia/Pacífico; a Arábia Saudita e as
outras economias energéticas do Golfo; o México e grande parte da América Latina;
• uma economia “refém” da zona dólar – o Japão – que importa matérias primas e
energia denominadas em dólares; exporta produtos industriais para o interior da zona
dólar – nomeadamente para os EUA, “Economias Chinesas” e economias emergentes
da Ásia Pacífico; e importa cada vez mais componentes e outros produtos intermédios
das economias asiáticas da zona dólar; e exporta capitais para os EUA e, Economias
Chinesas e outras economias emergentes da Ásia/Pacífico;
• a zona Euro que integra as economias da Europa Continental e três das economias
da Europa Atlântica – Holanda, Irlanda e Finlândia – deixando de fora o Reino Unido,
a Suécia e a Suíça; a Rússia não tem ainda uma posição definida entre a zona dólar e
a zona Euro – irá exportar cada vez mais energia para a “zona Euro” –
nomeadamente Alemanha, França e Itália – e depende dos empréstimos da
Alemanha; mas no seu interior circula um grande volume de dólares.
Os EUA detêm uma posição central na economia mundial devido, em primeiro lugar à sua
centralidade no ”Mundo do Pacífico” e em segundo lugar à sua relação tradicional com a(s)
Europa(s) e a América Latina, quer ao nível do investimento directo, quer do comércio; essa
posição central pode apreciar-se ao observar os seguintes aspectos:
• os EUA beneficiaram com a Internacionalização das Empresas, não tanto pelo que
investiram no exterior, já que são há muito a mais “multinacionalizada” das economias
desenvolvidas, mas porque a dotação de bases produtivas nos próprios EUA é a
tarefa primeira e de maior importância para as empresas japonesas e europeias que
se internacionalizam, quer o façam por investimento directo de raiz, por aquisições e
fusões ou por alianças estratégicas;
• os EUA beneficiaram com a Mutação Tecnológica porque são eles que comandaram
a revolução da convergência e da Internet e se colocaram em posição excelente nas
tecnologias da banda larga, graças ao enorme investimento realizado pelos
operadores de redes de comunicação e audiovisual, e é neles que mais se tem
desenvolvido a aplicação comercial das descobertas da genética, e mais
recentemente da genómica.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
• um sistema financeiro cada vez mais estruturado em torno dos mercados de capitais,
o que associado à própria dimensão da economia americana lhes dá uma
profundidade e liquidez sem igual a nível mundial, e que graças à competição nele
existentes gera inovações financeiras susceptíveis de atrair uma gama cada vez mais
diversificada de investidores, fim das separação entre bancos comerciais e de
investimento e das proibições dos bancos negociarem em títulos por conta própria;
• um intenso mercado de controlo das empresas, que torna os EUA no principal foco de
Fusões &Aquisições a nível mundial;
• uma fiscalidade que não penaliza os ganhos de capital face a outras fontes de
rendimento derivada da posse de activos financeiros (vd. juros e dividendos) e desse
modo estimula a orientação das poupanças para o investimento em acções, e das
grandes fortunas para os fundos de capital de risco.
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Informação Internacional
O tipo de interacções entre as Entidades que integram o que se designou por “Mundo do
Pacífico” tem vindo a evoluir, no contexto dos atributos básicos de cada uma das Entidades
e do tipo de funções que desempenham na matriz dos fluxos de capitais que o atravessam.
Identificaram-se três subperíodos:
• 1995 a 1998 – correspondendo a uma fase que se poderia definir como sendo de
“Febre da Ásia”, terminada com a crise financeira e cambial de 1997/8.
• EUA – Travagem gradual das despesas com a defesa, mas manutenção de elevados
défices orçamentais, em redução até 1987 mas agravados de novo após esta data;
compressão do investimento, levando ao crescimento do saldo financeiro do sector
privado; dólar competitivo, não impedindo queda da parte de mercado das
exportações dos EUA; redução do peso relativo do défice da balança corrente;
impacto da desregulamentação do sector bancário – as “Savings and Loans
Associations” aumentam dramaticamente a sua exposição ao sector imobiliário;
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Em termos cambiais o aspecto central foi alta do yen, que desde 1985 até 2000 se situará
numa tendência de valorização real (Gráfico 1).
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Informação Internacional
Gráfico 1
Fonte: “Japanese Bonds – The Other Bubble”, Smither´s &Co Ltd, Report nº 115, September 2000.
Este período foi marcado por um conjunto de acontecimentos: recessões no Japão, EUA,
Reino Unido, Suécia e suas diferentes saídas (1991/92); “guerra comercial” EUA – Japão
(1992/1995) crise do mercado obrigacionista em 1994 e crise cambial e financeira do México
(1994).
Neste período teve inicio uma longa fase de estagnação/recessão da economia do Japão;
uma década de expansão ininterrupta da economia dos EUA e uma fase prolongada de
contracção fiscal e de política monetária de combate à inflação na Europa; enquanto
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
• México – crise financeira e cambial de1994; foi uma crise de liquidez, ao contrário da
crise de 1982 que fora uma crise de solvabilidade e foi também uma crise de sobre-
consumo, associada ao colapso de um mecanismo de crescimento não inflacionista
centrado na manutenção de um peso sobre – valorizado; assistiu-se à posterior
flutuação do peso; esta crise desencadeou a primeira das grandes intervenções do
FMI realizadas na década de 90 em socorro de “economias emergentes”;
Durante este período a Europa funcionou em contra – ciclo dos EUA, assegurando uma
desincronização na economia mundial que reduziu tensões inflacionista e criando
oportunidades de colocação de capitais aos investidores institucionais dos EUA (diferencial
de taxas de juro – mais elevados na Europa – com um aparente baixo risco de câmbio,
devido ao funcionamento do Sistema Monetário Europeu).
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Informação Internacional
• A reabsorção das dificuldades do sector bancário nos EUA e a consolidação nos EUA
de um novo tipo de sistema financeiro e de um novo tipo de internacionalização
financeira, tendo como centro os investidores institucionais e os fundos mobiliários;
• forte crescimento dos investimentos directos (por parte do Japão, Coreia do Sul e
Taiwan) e de carteira (por parte dos EUA e Reino Unido) nas economias do México,
Chile e Ásia/Pacífico; influxos de capitais que neste último caso (e ao contrário do
México) não serviram para financiar défices correntes mas para aumentar as reservas
cambiais;
• aquisição maciça de títulos de curto prazo dos EUA pelas “economias emergentes” da
Ásia/Pacífico, em consequência de um rápido crescimento, com acumulação de
reservas.
Em termos cambiais registou-se uma alta do yen e uma desvalorização do dólar (esta na
continuação de um movimento iniciado em 1985); e assistiu-se à generalização na
Ásia/Pacífico de regimes cambiais tendo como âncora o dólar e utilizados para combater a
inflação; sub-avaliação das moedas asiáticas face ao yen e às moedas europeias.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Durante o ano de 1993 os EUA seguiram ainda uma política monetária "de facilidade",
traduzida em taxas de juro de curto prazo baixas, inserida nos esforços para apoiar o sistema
bancário americano, duramente atingido, no final dos anos 80 e início da década de 90, pelas
quebras em mercados tão importantes como o imobiliário. No final desse ano o excesso de
liquidez traduzira-se numa corrida à aquisição de títulos nos mercados estrangeiros,
contribuindo para que se gerasse, a nível global, uma euforia nos mercados de obrigações.
De acordo com John Plender (vd. Financial Times, 23 de Dezembro de 1994) a actuação de
instituições e investidores dos EUA foram determinantes nessa corrida às obrigações e,
dentro destas, aos títulos estrangeiros:
• o processo de desinflação nos anos 90, não antecipado por muitos investidores não
institucionais, penalizou os detentores de activos a curto prazo, reduzindo os
rendimentos que podiam esperar, há medida que as taxas nominais de curto prazo
foram descendo, como a política monetária pretendeu; muitos depositantes do sistema
bancário americano decidiram então transferir as suas poupanças para os fundos
mútuos mobiliários, que geriam carteiras de obrigações de longo prazo ou de acções, e
que ofereciam rendimentos muito superiores; há medida que as cotações dos títulos
americanos subiam, e em paralelo desciam os seus "yields", esses fundos iniciaram
uma procura sistemática de oportunidades no exterior; enquanto isto acontecia, os
fundos de pensão, por sua vez, lançaram-se num processo de diversificação geográfica
das suas carteiras de títulos, contribuindo igualmente para as aquisições de obrigações
no estrangeiro;
• nos EUA os bancos comerciais, atingido por uma acumulação de crédito mal parado,
utilizou as possibilidades de pagar depósitos a taxas mais baixas para investir em
obrigações de longo prazo com rendimentos superiores, nomeadamente obrigações de
Tesouro; os bancos de investimento orientaram-se, por seu lado, para um reforço das
actividades de transacção de títulos de longo prazo, por sua própria conta;
• os "hedge funds" e os tesoureiros de grandes empresas endividaram-se a curto prazo
para investir em obrigações do tesouro, com destaque para obrigações em moeda
estrangeira (ex: obrigações públicas europeias) com elevados rendimentos, bem como
em instrumentos derivados (na suposição de que o ano de 1994 assistiria a uma
quebra do yen).
Pode, pois, dizer-se que vários operadores americanos contribuíram para a alta verificada nos
mercados de obrigações, a nível mundial, mas que essa corrida às obrigações foi apoiada
num forte endividamento a curto prazo, aproveitando o nível das respectivas taxas de juro nos
EUA.
Durante o ano de 1994 assistiu-se ao colapso nas cotações das obrigações de vários países,
que acompanhou o aumento dos respectivos “yields”. De entre as várias explicações que
foram dadas para esse colapso retiveram-se algumas, apontadas no artigo já referido de John
Plender:
• a alteração na política monetária dos EUA, iniciada com o aumento das taxas de juro
de curto prazo, decidido pelo FED em Fevereiro, e prosseguida nos meses seguintes;
esta alteração levou a um movimento de venda rápida de obrigações, nomeadamente
por parte dos operadores que detinham vultuosas carteiras de obrigações de longo
prazo financiadas a curto prazo; por parte de operadores que se enganaram
redondamente quanto à evolução das cotações do dólar e do yen, e quanto as políticas
monetárias na Europa, e que se desfizeram em pouco tempo de quantidades maciças
de obrigações de Governos europeus; por parte de investidores institucionais com
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Este período foi marcado por um conjunto de acontecimentos – crise financeira e cambial do
México (1995); crise das economias emergentes da Ásia (1997/98) e de outras regiões
(1998/9); recessão no Japão (1998); reforço do “bull market” nos EUA, etc..
Neste período assistiu-se a um forte crescimento à escala mundial, centrado nos EUA (e
Reino Unido) e nas “economias emergentes”, com destaque para as asiáticas, tendo sido
interrompido em 1998 com a crise verificada nestas economias, que no entanto foi
rapidamente travada.
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Informação Internacional
• Um défice corrente dos EUA mantido em torno dos 2%, acompanhado por saídas de
capitais a longo prazo – investimento directo e investimento de carteira – este último
associado à diversificação de carteira dos investidores institucionais – a exigir
volumes elevados e sustentados de financiamento externo;
• um papel crucial das entradas de capitais a curto prazo na economia americana, com
origem na Ásia – empréstimos bancários oriundos do Japão e aquisição de títulos do
tesouro de curto prazo pelos bancos centrais das “economias emergentes” da Zona
dólar (como forma de materialização do volume crescente de reservas cambiais);
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Figura 3
MÉXICO/ E.U.A.
VENEZUELA
“EUROPAS”
JAPÃO
NOVAS
CHINA E
ECONOMIAS
ECONOMIAS
INDUSTRIALI-
EMERGENTES
ZADAS
ARÁBIA
SAUDITA E
GOLFO
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Informação Internacional
• Uma retirada rápida e maciça de capitais das “economias emergentes” da Ásia que se
precipitaram sobre os mercados financeiros dos EUA, contribuindo para acelerar o
processo de alta das acções, no segmento mais especulativo das “Tecnologias da
Informação/Comunicações/Internet”;
• um forte aumento no défice corrente dos EUA, que funcionou plenamente como
“consumidor de última instância” do “Mundo do Pacífico”, absorvendo o aumento de
exportações das economias asiáticas – nomeadamente de “hardware” electrónico –
por via do seu “boom” interno de investimento e consumo privado;
• uma redução nos fluxos de capitais a curto prazo do Japão em direcção aos EUA, em
virtude da actuação das autoridades nipónicas que travaram o funcionamento do “yen
carry arbitrage”; a rápida recuperação nas balanças correntes das economias
asiáticas mais atingidas pela crise permitiu, no entanto, a retoma dos fluxos de
capitais a curto prazo originados nos bancos centrais dessas economias, que
procuraram rapidamente reforçara as suas reservas cambiais para afazer face a
eventuais crises futuras;
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Em Setembro de 1998 o rendimento das Obrigações do Governo Japonês (JGB) a 10 anos atingiu
o valor de apenas 0,695%, um mínimo histórico.Com base nestes valores de rendimento, e na
elevação correspondente nas cotações das obrigações, o governo japonês parecia confiante em
que poderia aumentar substancialmente a emissão de obrigações do governo no ano fiscal que
começava em Abril de 1999, para financiar um programa de redução de impostos e um défice
orçamental record de 80 mil biliões de yens, com que esperava estimular uma economia em plena
recessão; bem como de obrigações garantidas pelo Governo para financiar o plano de
recapitalização do sistema bancário decidida em 1998 (já que o Banco Central se recusara a
assumir o custo do financiamento total desse plano, através da concessão de créditos directos à
Deposit Insurance Corporation).
Mas o governo estivera ele próprio por detrás dessa redução dos rendimentos, por via da compra
maciça de obrigações realizada pelo Trust Bureau Fund, do Ministério das Finanças, com base em
financiamentos obtidos junto dos Serviços Financeiros Postais, compras essas que elevaram as
cotações e reduziram os rendimentos. Ora o Trust Bureau Fund deparava-se nos anos seguintes
com uma potencial crise de liquidez, já que cerca de metade dos depósitos existentes nos Serviços
Financeiros Postais se encontram em contas a dez anos, com elevadas remunerações, e que
expiram em 2000 e 20001, não havendo nenhuma certeza de que os aforradores mantivessem as
suas poupanças no serviços postais.
O anúncio feito nos últimos dias de 1998 de que, por essa razão, o Trust Bureau Fund poderia ter
que cancelar novas aquisições em larga escala de obrigações do governo desencadeou uma
pânico de venda, que levou a uma quebra pronunciada nas cotações das obrigações e a uma
correspondente elevação do rendimento dos 0,695% de Setembro de 1998 para 1,9% no final
desse ano. Esta elevação das taxas de juro de longo prazo fez recear pelo êxito do programa de
relançamento por vai fiscal , por três razões principais:
• Um valor de 1,9% para os rendimentos de obrigações de longo prazo, ao ocorrer num
contexto deflacionário (redução nos preços de 2% ao ano), implicava taxas de juro real
elevadas que forneciam poucos estímulos para consumir ou para investir;
• A queda nas cotações das obrigações agravaria, no curto prazo, a situação financeira dos
bancos que dispunham de volumosas carteiras de obrigações, em que se passariam a
verificar elevadas menos valias; esta degradação da situação financeira aumentaria a
relutância dos bancos em conceder crédito ao sector empresarial, exactamente num período
de recessão;
• Uma elevação dos rendimentos das obrigações alongo prazo no mercado doméstico de
obrigações, faria reduzir o diferencial face aos mercados americanos e europeu, o que
poderia desencadear uma regresso de capitais e uma correspondente valorização do yen,
que atingiria as exportações japonesas.
Na altura surgiram várias propostas para tentar “segurar” o mercado obrigacionista:
• Diversificar as maturidades das obrigações do governo, mediante a emissão de obrigações
de médio prazo, por forma reduzir a pressão sobre as de longo prazo;
• aumentar as compras de obrigações do governo de longo prazo no mercado secundário, por
parte do Banco Central e/ou aumentar a oferta de obrigações de curto prazo, que o Banco
Central eventualmente pudesse adquirir directamente, sem resistências;
• fazer aceder directamente aos mercados de capitais as Agências do Governo, como a
Housing Loan Corporation, até agora financiadas pelo Trust Bureau Fund, mediante a
titularização em larga escala da sua carteira de empréstimos;
• acordar com os EUA uma compra maciça, por parte das autoridades americanas, de
obrigações do governo japonês de longo prazo.
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Informação Internacional
A atracção dos mercados financeiros dos EUA sobre os investidores externos, e em especial
a atracção exercida pelos títulos privados está patente no facto de no ano de 1999 as
aquisições de obrigações e acções por não residentes terem atingido os 338 biliões de
dólares, ou seja o equivalente a 96% do défice na BTC. A Figura permite analisar a evolução
do peso dos não residentes nos três segmentos do mercado de títulos norte – americano –
incluindo agora as obrigações do Tesouro. Podendo destacar-se os seguintes aspectos:
• Nos mercados de títulos do tesouro assistiu-se a uma redução do stock total da dívida
no montante de 71, 6 biliões de dólares, em virtude da canalização de parte dos
excedentes orçamentais para esse fim; tal redução tornou possível que, não obstante
os não residentes terem sido vendedores líquidos destes títulos em 9,6 biliões de
dólares, a sua parte no conjunto se tenha mantido relativamente estável;
• nos mercados de acções, e em consequência das aquisições maciças de acções
próprias pelas empresas americanas, assistiu-se a uma redução no total de acções
cotadas de cerca de 68 biliões de dólares; os investidores não residentes adquiriram 96
biliões de dólares de acções, situando-se logo a seguir em importância às aquisições
dos “mutual funds” (123 biliões de compras); e se os investidores externos detêm
apenas 9% do total das acções cotadas, em termos de fluxos seriam largamente
responsáveis pelo comportamento recente de índices como o S&P 500 ou do Nasdaq ;
• nos mercados de obrigações de empresas, os não residentes adquiriram cerca de 35%
do total das novas emissões (ou seja 157 biliões de dólares), muito acima do sector
segurador americano, com 71 biliões de dólares.
O relatório anual da UNCTAD “Trade and Development Report 2000”, no seu capítulo “The
Current Global Recovery and Imbalances in a Long Term Perspective” comentava esta
evolução nos seguintes termos:
• No passado os excessos de poupança do resto do mundo eram balanceados pelo
excesso de despesa do Governo dos EUA e a procura de activos denominados em
dólares era satisfeita com a emissão de obrigações do Tesouro. Actualmente é o sector
privado dos EUA que suporta o crescimento mundial e dado que o Governo gera um
excedente orçamental a procura de activos em não pode ser satisfeita com um
aumento da oferta de títulos do tesouro, sem risco, mas exige a emissão de títulos pelo
sector privado dos EUA;
• uma questão crucial é a de saber se os investidores externos que procuram antes de
mais a liquidez e a segurança estarão igualmente dispostos a deter títulos privados de
maneira permanente; enquanto as acções das empresas internet ocuparem o centro da
atenção, a perspectiva de realização rápida de ganhos de capital pode compensar o
maior risco em relação aos títulos do tesouro e o dólar poderá transformar-se na
“moeda veicular” das transacções internacionais de acções; a tendência para listar
muitas empresas das economias emergentes em Nova Iorque para ter garantias de
liquidez, reforça a tendência para o dólar se tornar na “moeda veicular” no mercado
global de acções;
• no entanto dado que a dívida privada não é uma substituta perfeita dos títulos do
Tesouro, o aumento do excedente orçamental dos EUA pode aumentar a fragilidade da
situação corrente e aumentar a probabilidade de um “hard landing” para o dólar. Nesse
caso as perspectivas globais dependerão do modo como for gerida a coordenação de
políticas monetárias entre os EUA, a Europa e o Japão.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
• Uma retirada rápida e maciça de capitais das "economias emergentes" da Ásia que
se precipitaram sobre os mercados financeiros dos EUA, contribuindo para acelerar o
processo de alta das acções, no segmento mais especulativo das "Tecnologias da
Informação/Comunicações/lnternet";
• um forte aumento no défice corrente dos EUA, que funcionou plenamente como
"consumidor de última instância" do "Mundo do Pacífico" absorvendo o aumento de
exportações das economias asiáticas - nomeadamente de "hardware" electrónico -
associado ao seu "boom" interno de investimento;
• uma redução nos fluxos de capitais a curto prazo do Japão em direcção aos EUA, em
virtude da actuação das autoridades nipónicas que travaram o funcionamento do "yen
carry arbitrage";
Um aumento dos fluxos de capitais a longo prazo em direcção aos EUA e com origem na
Europa (investimento directo internacional e investimento de carteira), por razões que se
prendem com três processos:
• a "corrida" à aquisição/fusão com empresas inovadoras dos EUA, por parte das
empresas europeias de Tecnologias de Informação e das Indústrias da Saúde;
• a corrida dos bancos europeus às operações mais rendíveis e de maior risco nos
EUA, a recomposição das carteiras dos investidores institucionais europeus por forma
a reduzir a sub-representação dos títulos americanos, e os movimentos de F&A de
bancos, seguradoras e fundos de investimento europeus nos EUA.
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Num relatório do Banco Mundial, publicado no primeiro trimestre de 1998, Guiilermo Perry,
economista principal do Banco Mundial para a América Latina apontava quatro factores chave que
teriam contribuído decisivamente para a vulnerabilidade das economias asiáticas que entraram em
crise a partir de meados de 1997 e, cinco causas que teriam estado na origem desses factores. Os
quatro factores foram, na síntese do Financial Times de 17 de Março de 1998, os seguintes:
• uma acumulação de dívida externa de curto prazo, excedendo as reservas cambiais, o que
tornou essas economias vulneráveis a ataques especulativos;
• a obtenção de vultuosos empréstimos em moeda estrangeira, sem o correspondente
"hedging", por parte quer do sistema bancário, quer de grandes empresas, que limitou, a
partir de certa altura, a margem de manobra das autoridades para procederem a uma
desvalorização atempada, sem colocar o sector privado sob grande pressão financeira;
• elevados níveis de divida por parte das empresas e "carteiras" de empréstimos de baixa
qualidade, por parte dos bancos, que se traduziram numa vulnerabilidade de uns e outros
perante a eventual elevação de taxas de juro ou de abrandamentos significativos do nível de
actividade; esta circunstancia adicionou-se à anterior, no sentido de restringir a margem de
manobra das autoridades para responder aos ataques especulativos;
• uma vulnerabilidade mais tradicional do sector externo, resultante de várias das economias
se terem defrontado com valorizações das suas moedas (nota: arrastadas pela valorização
do dólar desde meados de 1995, dólar com que as moedas de vários desses países
estavam alinhadas), tendo tal processo arrastado um abrandamento das receitas de
exportação e contribuído para elevados ou crescentes défices de transacções correntes.
No que respeita às causas a que se puderam ficar a dever estes factores de crise, Guiilermo Penry
aponta cinco:
• a existência, nos sistemas financeiros dessa economias de "incentivos" a comportamentos
privados contrários ao interesse público, materializando a figura de "moral hazards'', entre os
quais a existência explícita ou implícita de esquemas de seguro dos depositantes,
contribuindo para que banqueiros e investidores tenham corrido os riscos de um sobre –
investimento em activos financeiros;
• a existência, nalguns países, de formas de "capitalismo clientelar" que contribuíram para
ocultar a natureza não lucrativa de transacções;
• regimes de cambio rígidos que levaram a uma percepção, por parte de investidores e outros
actores de que o risco de desvalorização era pequeno, ao mesmo tempo que como se
referiu anteriormente, a ligação a um dólar em apreciação, fez reduzir as exportações;
• processos de liberalização a nível financeiro e das contas de capital externas parciais e mal
sequenciados, levando a uma redução das restrições à obtenção de empréstimos no
exterior, ao mesmo tempo que eram mantidas restrições à propriedade estrangeira sobre
entidades do sector bancário doméstico.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
O ano de 1999 foi um ano de crescimento rápido a nível mundial, em contraste com o
anterior. No "Mundo do Pacífico" - as economias asiáticas recuperaram de modo
surpreendente da recessão/abrandamento de 1998, a economia dos EUA manteve elevadas
taxas de crescimento e os produtores da OPEP, liderados pela Arábia Saudita mudaram de
estratégia e conseguiram obter em poucos meses uma forte elevação dos preços do
petróleo, o que alterou, favoravelmente as perspectivas económicas da Rússia. Analisando
mais em detalhe:
• EUA - A "febre da Internet" atinge o seu auge, com muitas das empresas do Nasdaq
a atingirem valorizações astronómicas, e o índice no seu conjunto a descolar
completamente do índice representativos de indústrias mais tradicionais (Dow Jones);
sucedem-se os IPO (Quadro I), intensificam-se a compras, por valores elevadíssimos,
de empresas "jovens" dominando tecnologias consideradas de alto potencial, por
parte das grandes empresas de Tl americanas e europeias; a elevada rendibilidade
geral das empresas americanas estimula um número cada vez maior de F&A, com
destaque para s que são promovidas por iniciativa de empresas da Europa;
Quadro 1
1996 505 58 23
1997 390 52 24
1998 247 45 37
Fonte: www.ipo-fun.com
• Japão - A economia foi alvo de mais um pacote de estímulo fiscal no inicio do ano de
1999 e parece iniciar um lento regresso ao crescimento; cresce o endividamento do
sector público e surgem as primeiras manifestações de exaustão do modo de
financiamento dessa dívida, que caracterizou a década de 90 (vd. CAIXA sobre crise
das obrigações); o dinamismo do sector empresarial concentra-se num sector
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Informação Internacional
• China - foi menos atingida pela crise de 1997/98 devido à sua menor integração nos
mercados internacionais de capitais (manutenção da inconvertibilidade da moeda
nacional ao nível das contas de capital) e ao fraco recurso à divida de curto prazo;
não obstante o da economia chinesa abrandou em 1998, com uma retracção da
procura interna e externa, reforçando-se os sinais de deflação e de excessos de
capacidade; face a esta conjuntura o Governo aplicou uma política orçamental
expansionista e prosseguiu na via de maior integração na economia global mediante o
acordo alcançado com os EUA, que Ihe abriu a porta à adesão à OMC; os sectores
favoráveis ao prosseguimento das reformas económicas internas obtiveram uma
vitória;
• Arábia Saudita e México - A queda brusca dos preços do petróleo em 1998, agravou
as dificuldades financeiras nos países produtores, e conduziu à decisão saudita de
reforçai a capacidade de influência da OPEP nos mercados, por via do
estabelecimento de acordos de limitação da produção extensivos a produtores não
membros da OPEP, como o México.
• uma alteração substancial dos fluxos protagonizados pelo Japão - redução dos
financiamentos bancários a curto prazo aos EUA e às economias emergentes da
Ásia: entradas de capitais externos no mercado de acções japonês, dirigidas às
empresas do sector das tecnologias da informação; aumento significativo das
emissões de obrigações em yens, por parte de não residentes (vd. Empresas
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
• uma continuada desvalorização do Euro face ao dólar e ao yen, neste último caso
alimentada pelo início da rápida redução nas carteiras de activos em Euro
constituídas por investidores japoneses antes da passagem à 3a fase da UEM,
redução essa devida à desvalorização da moeda europeia face ao dólar.
Em Setembro de 1999 o Federal Reserve Bank dos EUA endurece a política monetária,
iniciando o que pretende ser uma "aterragem suave" da economia americana depois da
euforia verificada em 1999.
Durante 2000, a continuação dos fluxos de capitais da zona Euro para os EUA permitiu
financiar o aumento do défice corrente dos EUA com a Europa (aumento do défice comercial
e redução dos rendimentos de capitais em dólares, devido à desvalorização do Euro) e parte
do aumento do défice comercial com a Ásia, enquanto a acumulação de reservas cambiais
por parte das economias asiáticas permitiu financiar o restante, libertando, pelo menos
temporariamente, a economia americana de pressões externas na fase inicial dessa
"aterragem".
Mas no final de 2000 existiam ainda dúvidas sobre o desenlace final desta "aterragem".
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Informação Internacional
A atracção dos mercados financeiros dos EUA sobre os investidores externos, e em especial a
atracção exercida pelos títulos privados está patente no facto de no ano de 1999 as aquisições de
obrigações e de acções por não residentes terem atingido os 338 biliões de dólares ou seja o
equivalente a 96% do défice na BTC. Analisando a evolução do peso dos não residentes nos três
segmentos do mercado de títulos norte-americano – incluindo também as obrigações do Tesouro,
podem destacar-se os seguintes aspectos:
• Nos mercados de títulos do tesouro assistiu-se a uma redução do stock total da dívida no
montante de 71,6 biliões de dólares, em virtude da canalização de parte dos excedentes
orçamentais para esse fim; tal redução tomou possível que, não obstante os não residentes
terem sido vendedores líquidos destes títulos em 9,6 biliões de dólares, a sua parte no
conjunto se tenha mantido relativamente estável;
• Nos mercados de acções, e em consequência das aquisições maciças de acções próprias
pelas empresas americanas, assistiu-se a uma redução no total de acções cotadas de cerca
de 6cz biliões de dólares; os investidores não residentes adquiriram 96 biliões de dólares de
acções, situando-se logo a seguir em importância às aquisições dos "mutual funds"
(123 biliões de compras); e se os investidores externos detêm apenas 9% do total das
acções cotadas, em termos de fluxos teriam sido largamente responsáveis pelo
comportamento recente de índices como o S&P 500 ou o Nasdaq;
• Nos mercados de obrigações de empresas, os não residentes adquiriram cerca de 35% do
total das novas emissões (ou seja 157 biliões de dólares), muito acima do sector segurador
americano, com 7I biliões de dólares.
O relatório anual da UNCTAD "Trade and Development Report 2000", no seu capítulo The
Current Global Recovery and Imbalances in a Long Tern Perspective comentava esta evolução nos
seguintes termos:
• No passado, os excessos de poupança do resto do mundo eram balanceados pelo excesso
de despesa do Governo dos EUA e a procura de activos denominados em dólares era
satisfeita com a emissão de obrigações do Tesouro; actualmente é o sector privado dos
EUA que suporta o crescimento mundial, e dado que o Governo gera um excedente
orçamental, a procura de activos em não pode ser satisfeita com um aumento da oferta de
títulos do tesouro – sem risco – mas exige a emissão de títulos pelo sector privado dos EUA;
• uma questão crucial é a de saber se os investidores externos que procuram antes de mais a
liquidez. e a segurança estarão igualmente dispostos a deter títulos privados de maneira
permanente; enquanto as acções das empresas internet ocuparem o centro da atenção, a
perspectiva de realização rápida de ganhos de capital pode compensar o maior risco em
relação aos títulos do tesouro e o dólar poderá transformar-se na moeda veicular'` das
transacções internacionais de acções; a tendência para listar muitas empresas das
economias emergentes em New York para ter garantias de liquidez, reforça a tendência para
o dólar se tornar na `'moeda veicular" no mercado global de acções;.
No entanto dado que a divida privada não é uma substituta perfeita dos títulos do Tesouro, o
aumento do excedente orçamental dos EIJA pode aumentar a fragilidade da situação corrente e
aumentar a probabilidade de um "hard landing” para o dólar. Nesse caso as perspectivas globais
dependerão do modo como for gerida a coordenação de políticas monetárias entre os EUA, a
Europa e o Japão.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Uma das maiores incertezas existentes quanto à evolução da economia mundial, e que está
associada à eventualidade de uma “aterragem turbulenta” nos EUA é a sua possível
coincidência com uma crise grave na economia do Japão, crise essas gerada antes de mais
por factores endógenos, mas multiplicável por uma evolução claramente negativa que se
venha a verificar nos EUA.
Mas para se compreender melhor a gravidade da situação, comece-se por recordar que a
economia japonesa experimentou ao longo da década de 90 as consequências de três
processos, de natureza financeira, que se sucederam e interagiram uns com os outros.
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Informação Internacional
Acumulam-se os défices públicos e a dívida pública explicita (sem contar com a divida
implícita na segurança social) atinge em 2000 os 130% do PIB, o valor mais elevado entre
os países industrializados.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Mas graças ao papel central dos serviços financeiros postais, e à política agressiva de
captação de depósitos seguida por estes (recorde-se que desde 1991 ofereceram taxas de
juro fixas de 6,5% a cerca de 35 milhões de contas, num ambiente em que as taxas de juro
de curto prazo se aproximaram de zero, a partir de 1995) o governo pode contar com um
massa de depósitos semelhante à do sector bancário e inteiramente utilizável para o
financiamento do FILP, que canalizou esses fundo para os "pacotes" de estímulo fiscal para
a aquisição maciça de dívida pública, que assim permanecia sob controlo directo do
governo; os fundos de segurança social pública completaram os serviços financeiros postais
nesta dupla função.
O gigantesco investimento público realizado ao longo da década de 90, hoje tão criticado,
pela sua aparente irracionalidade, permitiu canalizar uma parte muito significativa da
poupança das famílias para manter em actividade um sector da construção civil/obras
públicas sobre-dimensionado e sobre endividado à banca, e para "segurar" o preço da terra,
com o objectivo de evitar um colapso do sector bancário privado. Em contrapartida de ter
deixado os serviços financeiros postais com uma carteira de aplicações de baixíssima
remuneração, ou de duvidoso retomo.
A primeira reforma veio reduzir ainda mais as possibilidades de lucro dos bancos nos seus
negócios tradicionais, num contexto em que permanecem sob a ameaça de novo crédito mal
parado se se acelerarem as falências na "economia baseada na terra"; e em que as novas
oportunidades que Ihe foram abertas pelo Big Bang só se poderão desenvolver plenamente
no dia em que o sistema de pensões tenha uma forte componente de contas poupança
individuais e em que as famílias se vejam obrigadas a procurar aplicações de muito maior
rendimento/valorização, proporcionadas nos mercados de capitais e não nos depósitos
bancários ou na compra de obrigações do Governo.
(1) Recorde-se que a legislação japonesa permitia que parte das carteiras de acções dos bancos seja
contabilizada como capital
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mercado que facilitassem a aquisição dessas acções por parte das próprias empresas, o
que se traduziu numa queda nos índices bolsistas, tanto mais pronunciada quanto os
investidores externos se têm vindo a retirar da bolsa de Tóquio. Ora a queda do valor das
acções ameaça o capital dos bancos.
Por sua vez a continuação do aumento da dívida pública, se forçasse o governo a elevar os
rendimentos das obrigações para atrair as poupanças das famílias, levaria a uma queda nas
suas cotações, reduzindo o valor das volumosas carteiras de obrigações do governo,
detidas pelo sector bancário.
A situação actual apresenta-se como um "quebra cabeças", como se pode apreciar pelos
exemplos seguintes:
Donde resulta que a margem de manobra das autoridades japonesas para, contando só
com as suas actuações, impedirem a eclosão de uma crise e desencadearem um processo
de crescimento centrado numa "economia baseada no conhecimento" parece cada vez mais
estreito.
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O ”Mundo do Pacífico” – Fluxos de Capitais e Relações entre Moedas
Este cenário assentaria numa profunda transformação estrutural no Japão, e numa opção
clara por parte dos EUA no sentido do reforço dos laços privilegiados com o Japão, seu
principal aliado na Ásia. Assim:
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Informação Internacional
sector bancário actualmente existente, o que deveria facilitar a evolução muito mais
rápida para um sistema financeiro baseado no mercado de capitais; a valorização no
mercado bolsista permitiria, por seu lado, obter uma "almofada" de protecção neste
processo;
• os EUA procederiam a aquisições maciças de dívida pública japonesa, uma vez posto
em marcha o programa de reformas estruturais e de abertura, por intervenção do
Federal Reserve Bank que passaria deter yens como reservas cambiais – sob a forma
de obrigações a curto prazo.
• Uma nova contracção do crescimento económico japonês, mas por redução drástica
do peso da "economia baseada na terra" que trava o desenvolvimento, no Japão, de
uma "economia baseada no conhecimento", como a que existe nos EUA;
• uma “libertação” das poupanças domésticas, da tutela dos actuais sectores financeiro
público e privado, e uma sua reorientação para o financiamento do sector empresarial
mais ligado no Japão à criação da "sociedade da informação" e para o sector
empresarial dos EUA.
BIBLIOGRAFIA
• PICKFORD, Derry e SMITHERS, Andrew – “The Japanese Bonds – The Other Bubble”
(report nº 151, de 29 de September de 2000)
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Para a elaboração deste texto foram também utilizados artigos publicados em números
anteriores do “Informação Internacional”, nomeadamente:
O número especial da Oxford Review of Economic Policy “Japanese Economy”, vol 16, nº 2
Summer 2000, foi também de grande utilidade.
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