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Autor para contato: Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Programa de
Mestrado em Ciência de Tecnologia de Alimentos, Campus em Uvaranas,
Ponta Grossa, PR, Brasil; (42) 3220-4823; e-mail: lmqueji@pop.com.br
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Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Coordenação de Alimentos,
Ponta Grossa, PR
RESUMO
Publ. UEPG Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng., Ponta Grossa, 12 (2): 21-29, ago. 2006
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ABSTRACT
Publ. UEPG Exact Earth Sci., Agr. Sci. Eng., Ponta Grossa, 12 (2): 21-29, ago. 2006
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O princípio do Farinógrafo é demonstrar a re- te, por cadeias retas e por outras altamente ramificadas
sistência da massa mediante uma ação mecânica de moléculas de glicose, apresentando duas frações: a
(Quaglia, 1991). O aparelho é composto por um de amilose e a de amilopectina, em proporções que
malaxador que mistura a farinha de trigo, uma bureta variam de acordo com as espécies e com o grau de
milimetrada para auxiliar na adição de água destilada e maturação das plantas (Bobbio e Bobbio, 1992).
um registrador que elabora um diagrama conhecido A amilose e a amilopectina estão associadas atra-
como farinograma, o qual oferece os seguintes parâ- vés de pontes de hidrogênio e, internamente, os seus
metros: absorção de água, tempo de desenvolvimento grupamentos de glicose estão estabilizados por meio
da massa, estabilidade, índice de tolerância à mistura e de ligações glicosídicas. A amilose possui ligações
tempo de quebra (Ranken, 1993). glicosídicas do tipo alfa (1J4) e não é ramificada,
O princípio do Extensógrafo é revelar a força embora possam ocorrer torções e redobramentos em
da farinha de trigo mediante uma distensão, sendo esta sua estrutura. Já a amilopectina, possui ligações
análise útil para examinar a influência de alguns agentes glicosídicas do tipo alfa (1J4), porém a cada 20 ou
melhoradores (Lewis, 1993). O aparelho é formado 30 unidades de glicose há um ponto de ramificação
por um boleador, um rolo modelador, cápsulas re- onde a ligação é alfa (1J6) (Lehninger et al., 1995).
ceptoras de massa, uma câmara de fermentação, uma A dimensão dessas frações varia conforme a fonte de
alavanca de distensão e um registrador que elabora o amido, sendo que a amilose pode conter, no máximo,
extensograma, o qual oferece os seguintes parâmetros: 6000 (seis mil) unidades de glicose e a amilopectina
extensibilidade e resistência da massa (Carvalho, 2.000.000 (dois milhões), e por isso é considerada uma
1999). das maiores moléculas da natureza (Maarel et al.,
O aparelho Falling Number tem como princípio 2001).
a determinação indireta da atividade enzimática, na qual O amido possui boa capacidade de hidratação
o amido geleificado é liquefeito pela alfa-amilase devido ao grande número de grupos hidroxila expos-
(Aquarone et al., 2001). É composto por duas di-vi- tos que podem formar pontes de hidrogênio com a
sões, uma elétrica e outra mecânica, com funções de água (Lehninger et al.,1995). Porém essa capacida-
fornecimento de calor para ocorrer a gelatinização do de de hidratação depende da temperatura, pois em
amido e, ao mesmo tempo, misturar a suspensão de água fria o grânulo absorve somente 30% do seu peso
água e farinha de trigo. A atividade da enzima alfa- em água, devido à sua estrutura cristalina. Quando a
amilase inicia com a geleificação do amido (55-65ºC) temperatura aumenta e atinge um certo intervalo, cha-
e finaliza após sua desnaturação, próximo a 80ºC (Car- mado de temperatura de gelatinização, o grânulo co-
valho, 1999). meça a intumescer e formar soluções viscosas, devi-
Os fatores de qualidade da farinha de trigo po- do aos grupos hidroxila expostos e também pelo rom-
dem ser divididos em dois grupos básicos: os inerentes pimento das pontes de hidrogênio mais fracas entre
ao trigo, resultantes da composição genética e das as cadeias de amilose e amilopectina (Ciacco e Cruz,
condições de crescimento da planta e os que depen- 1982, citado por Herbario, 2004). Na panificação,
dem do processo de armazenamento e moagem do durante as etapas de cocção do pão, ocorre exata-
trigo em farinha. As proteínas formadoras do glúten mente este procedimento, ou seja, à medida que a
(gliadina e glutenina), o amido, os lipídeos e outros temperatura aumenta o amido adquire solubilidade e
compostos hidrossolúveis são essenciais para garantir aumenta a viscosidade da massa (Aquarone et al.,
o potencial de panificação, dependendo do teor e da 2001). A Figura 1 mostra a estrutura química da
qualidade destes na farinha (Aquarone et al., 2001). amilose e da amilopectina, com suas ligações
O amido desempenha papel importante na ma- glicosídicas, pontos de ramificação e os grupos
nutenção da estrutura do pão no cozimento, ajudando hidroxila expostos.
na retenção dos gases produzidos durante a fermenta- O problema na hidratação do amido é quando
ção (Aquarone et al., 2001). É considerado um polissa- este é danificado por ação da moagem ou pela dure-
carídeo de alto peso molecular, formado estruturalmen- za dos grãos. Isto ocasiona aumento na absorção de
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água pela farinha de trigo, influenciando negativamente entre amilose e amilopectina, como também, pela faci-
no produto final, pois a massa adquire uma consis- lidade da formação de pontes de hidrogênio entre a
tência mais pegajosa, ocorrendo redução de volume água e os grupos hidroxila (Quaglia, 1991). As fari-
nos pães e alteração da textura do miolo, entre outros. nhas de trigo, que são destinadas à panificação, po-
Esses problemas tecnológicos ocorrem pelo rompimen- dem possuir uma porcentagem de amido danificado
to de algumas ligações do tipo pontes de hidrogênio entre 4 e 8% (Aquarone et al., 2001).
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suplementações com alfa-amilase, utilizando os equi- enzima em 1 quilograma de farinha.
pamentos Farinógrafo Brabender, Extensógrafo Cada amostra, correspondente aos quatro tra-
Brabender e o Falling Number. tamentos, continha um quilograma de farinha de trigo,
sendo que sua obtenção foi representativa de um total
de cinco quilogramas, homogeneizados em misturador
Chopin. O restante da farinha foi desprezado.
2. Material e métodos Para a aditivação das farinhas de trigo foi utiliza-
do o misturador Chopin, por vinte minutos. As amos-
2.1. Material tras foram acondicionadas em embalagens de polietileno
A enzima alfa-amilase de origem fúngica, com a fim de evitar absorção de umidade. Em continuida-
nome comercial Panzym FA-40, da empresa Prozyn, de, foram realizadas análises de reologia da massa e
foi utilizada para o tratamento da farinha de trigo. Sua de atividade enzimática.
atividade por unidade corresponde a 1160 Fau/g (uni-
dade alfa-amilásica por grama de farinha de trigo). 2.2.2. Análises reológicas da massa
A farinha de trigo utilizada foi classificada indus- Estas análises foram realizadas de acordo com
trialmente como farinha comum, podendo ser indicada a metodologia oficial da American Association of Ce-
tanto para uso doméstico quanto industrial, e isso de- real Chemists (AACC, 1995).
penderá dos tratamentos posteriores dados a essa fa- Os parâmetros do farinograma foram obtidos
rinha. segundo o método 54-21, as análises de extensografia
foram realizadas segundo o método 54-10 e a deter-
minação da atividade enzimática seguiu o método de
2.2. Métodos análise 54-81 B.
2.2.1. Preparo das amostras
Foram avaliados quatro tratamentos, sendo eles
o controle (farinha de trigo sem alfa-amilase) e os de-
mais, os aditivados nas concentrações de 0,05, 0,15 e 3. Resultados e discussão
0,30 gramas de alfa-amilase por quilograma de farinha
de trigo, respectivamente. Segundo Aquarone et al. 3.1. Farinograma
(2001), a quantidade máxima permitida de alfa-amilase A Figura 2 ilustra os farinogramas obtidos com
é de 30 (trinta) gramas por 100 (cem) quilogramas de a farinha de trigo controle e aditivadas com 0,05, 0,15
farinha de trigo, o que corresponde a 0,3 gramas de e 0,30 gramas de alfa-amilase / quilograma de farinha.
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Figura 2 - Farinogramas obtidos com a farinha de trigo controle e aditivadas com alfa-amilase.
Tabela 1 - Parâmetros obtidos pelo farinograma da farinha de trigo controle (sem enzima) e das farinhas aditivadas com alfa-
amilase.
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tanto, certa redução da absorção de água conforme a teve-se inalterado, porém houve uma redução de 1,8
concentração da enzima foi aumentada. De acordo minutos na amostra adicionada de 0,30 gramas de
com Lehninger et al. (1995), quando o amido é dani- enzima.
ficado há maior exposição dos grupos hidroxila, como Os outros parâmetros avaliados foram o índice
também, ocorre rompimento de ligações do tipo pon- de tolerância à mistura e a estabilidade. De acordo com
tes de hidrogênio entre amilose e amilopectina, favore- Carvalho (1999), as farinhas de trigo com baixo índice
cendo o aumento de absorção de água pela farinha. de tolerância e alta estabilidade possuem boa capaci-
Porém, quando a enzima alfa-amilase está presente há dade ao processo mecânico de mistura e são chama-
uma modificação na estrutura química do amido, alte- das de farinhas “fortes”. As análises demonstraram que
rando a absorção de água da farinha. a adição da enzima na farinha proporcionou uma
O segundo parâmetro analisado foi o tempo de melhoria na estabilidade e uma redução no índice de
desenvolvimento da massa. Este se relaciona com a tolerância à mistura.
etapa de fermentação, pois se a massa se desenvolver
em tempo insuficiente, ela não será capaz de reter os
gases produzidos pelas leveduras, resultando em um 3.2. Extensograma
produto de baixo volume (Carvalho, 1999). Nesse A Figura 3 ilustra os extensogramas obtidos com
estudo o tempo de desenvolvimento inicial do glúten a farinha de trigo controle e aditivadas com 0,05, 0,15
dos tratamentos com até 0,15 gramas da enzima, man- e 0,30 gramas de alfa-amilase / quilograma de farinha.
Figura 3 - Extensogramas obtidos com a farinha de trigo controle e aditivadas com alfa-amilase.
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Os parâmetros extraídos dos extensogramas obtidos são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Parâmetros obtidos pelo extensograma da farinha de trigo controle (sem enzima) e das farinhas aditivadas com alfa-
amilase
A resistência da massa corresponde à proprieda- por esta característica. Nas análises percebe-se que o
de de resistir a uma força de distensão e a tendência de aumento na concentração da enzima proporcionou
retornar à forma original (elasticidade). Esta caracterís- maior distensão da massa, sendo o máximo atingido
tica está relacionada com o tempo de mistura e de desen- com 0,30 gramas de alfa-amilase.
volvimento da massa. A fração protéica responsável por
esta função é a glutenina (Carvalho, 1999). Os resulta-
dos obtidos revelam que conforme a concentração en- 3.3. Atividade enzimática
zimática foi aumentada, a resistência da massa diminuiu. Pela análise dos resultados obtidos pelo Falling
Segundo Aquarone et al. (2001), a extensibi- Number (Tabela 3), pode-se observar que o tempo
lidade está relacionada com o volume na panificação, de liquefação do gel de amido foi reduzindo com o
ou seja, o quanto a massa é capaz de esticar sem rom- aumento da concentração enzimática, comprovando a
pimento da estrutura. A fração gliadina é responsável afirmação de Quaglia (1991).
Tabela 3 - Avaliação da atividade enzimática, pelo Falling Number, da farinha de trigo controle (sem enzima) e das farinhas
aditivadas com alfa-amilase.
Em uma indústria moageira, os moleiros utilizam A adição da enzima alfa-amilase à farinha de tri-
o valor obtido pelo Falling Number para produzir pro- go melhorou as características mecânicas de mistura
dutos específicos ou fazem uma mescla de farinhas com da massa, observadas pelos resultados obtidos de es-
valores diferentes até atingir a faixa ideal para um de- tabilidade e índice de tolerância. A propriedade de
terminado produto. Quando as farinhas de trigo são distensão da massa (extensibilidade) foi intensificada e
destinadas à panificação a verificação da atividade a elasticidade foi reduzida conforme a concentração
enzimática é muito importante, pois possui relação com da enzima foi sendo aumentada.
o volume e as características do miolo do pão (Carva-
lho, 1999). Agradecimentos
A autora e co-autores agradecem à empresa
Bunge Alimentos S.A. pela disponibilização das amos-
tras de farinha de trigo, pela enzima alfa-amilase e uti-
4. Conclusão lização dos equipamentos.
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REFERÊNCIAS Zaragoza: Acribia, 1984. p.27.
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