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Introdução
resultados em tabelas e gráficos e faz uma análise dos resultados pode ser rico em
ludicidade, além de oportunizar um trabalho interdisciplinar.
Atrelada aos conceitos de Número, Geometria, Medidas e Estatística aparece à
Álgebra que pode ser abordada enquanto linguagem que representa o movimento da
matemática com as outras áreas do conhecimento e como leitura da realidade. Aqui a
essência reside no desenvolvimento do pensamento algébrico, o qual exige atividades ricas
em significado que permitam ao estudante pensar genericamente, perceber regularidades
e estabelecer relações entre grandezas (SANTA CATARINA, 1998).
Vale destacar que os conceitos de Número, Geometria, Medidas, Álgebra e
Estatística devem ser abordados contemplando suas relações, pois a Matemática aparece
fora da escola de uma forma mais ou menos global, contrapondo-se a apresentação linear
que normalmente aparece nos livros didáticos. Um conceito nunca está isolado ou solto
como deixam transparecer os manuais didáticos (DAMÁZIO, 2000). Vale destacar que o
objetivo maior do professor de matemática é garantir o acesso à matemática, legado que
pertence a humanidade e, como tal, deve estar acessível a todos os indivíduos. Sua
apropriação é condição imprescindível para o indivíduo instrumentalizar-se no mundo
atual, inclusive para se opor frente à marginalização social que lhe é imposta
(GIARDINETTO, 1999).
Com este entendimento, faz-se necessário levar em conta as possibilidades dos
estudantes, seus interesses e inclinações, lembrando que elas não apenas se preparam para
a vida, mas já as vivem. Vale ressaltar que os educandos possuem muitos conhecimentos,
ou conceitos cotidianos, adquiridos em sua prática social, os quais podem ser utilizados
como mediadores para a apropriação dos conceitos científicos abordados pela escola.
Para isso, compete ao professor apresentar os conceitos, conteúdos conectados com a
vida do estudante e com o que ele conhece como condição para a elaboração/apropriação
do conhecimento científico, a qual passa, necessariamente, pela mediação do outro, ou
seja, o caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa
(VYGOTSKY, 1984). Este caminho mediado acontece espontaneamente ou
naturalmente no meio onde a criança vive. Entretanto, do ponto de vista escolar, existe a
possibilidade do professor planejá-lo com intencionalidade, de forma a promover a
aprendizagem desejada (MOURA 2001).
O professor que ensina Matemática, mediador entre os conhecimentos matemáticos
historicamente produzidos e os alunos, se constitui em um dos grandes responsáveis por
possíveis transformações no processo educativo. Considerar que os sujeitos, ao
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interagirem, mediados pelo conteúdo, o fazem a partir de referenciais próprios, nos quais
estão estabelecidas as suas necessidades e motivos, requer do professor a criação de
situações que possibilitem partilhar significados (MOURA 2001). Com intencionalidade, o
professor torna-se responsável pela elaboração das atividades e pela sua condução.
Entretanto, há uma diferença substancial entre a intencionalidade pedagógica que orienta a
criança a ser apenas uma repetidora do conceito e aquela que orienta a (ré) elaborá-lo com
significados próprios (MOURA & LOPES, 2003).
Para dar conta de colocar os conhecimentos em jogo no espaço educativo, é
necessário o planejamento de atividades de ensino (MOURA, 2001), o qual oportunize
aos professores e aos estudantes irem além do senso comum. Consideramos que no
processo de conhecer a realidade temos que compreendê-la de forma interdisciplinar,
pois a mesma articula dialeticamente os diferentes conhecimentos produzidos pelas
diferentes ciências. Com esse entendimento, emerge a atividade de aprendizagem
(SANTA CATARINA, 2000) como um instrumento metodológico capaz de auxiliar no
trabalho de ensinar e de aprender com significado, com razão e emoção, de forma
contextualizada, lúdica, logo prazerosa, a partir de temáticas capazes de entrelaçar as
diferentes áreas. As ações que compõem as atividades de aprendizagem aparecem como
uma possibilidade de integrar as diversas áreas. Os conhecimentos interligados de forma
interdisciplinar dizem a respeito da vida que se vive, trazem questões que só podem ser
compreendidas com a contribuição das diferentes áreas. São essas múltiplas relações que dão
significado ao aprendizado e ao conhecimento adquiridos e elaborados pêlos estudantes.
Aqui se explicita a importância de todas as áreas de conhecimento, ou seja, nenhuma
área é mais importante que outra (ANDRADE, 2005).
Nesta perspectiva a seleção e a problematização de temas podem nortear os
trabalhos escolares e os conteúdos de Matemática utilizados na compreensão das
temáticas, tornando-se importantes instrumentos para a compreensão e articulação da
realidade social (SANTA CATARINA, 2000). A atividade de aprendizagem se
constitui em uma das possibilidades que:
“Estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém,
da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e
com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura
acumulada historicamente; levarão em conta os interesses dos alunos,
os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico mas sem
perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua
ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-
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apresentação dos gráficos as crianças foram percebendo que na comunidade havia seis
alunos com duas e três gerações na comunidade. Uma das primeiras famílias estava
registrada na oitava geração. As crianças diziam deve de ser o tatatatataravô e assim
brincavam:
- Nossa! Não dá para dizer que essa comunidade tem mais de 100 anos.
Relembram o que é século e década e falavam que a comunidade é antiga e
questionaram as contribuições dessas primeiras famílias à comunidade.
Todos perceberam o crescimento da comunidade e como já está povoada um
aluno disse:
- O pai conta que aqui aos redores era só roça de mandioca, milho, cana,
etc., e hoje é tudo casa. Justificando assim, o porquê de ter diminuído o número de
agricultores constatado no gráfico anterior. Hoje muitos já procuram a comunidade para
morar, pois fica próximo ao seu emprego e do acesso à rodovia BR 101.
engraçado os dados, pois os alunos com menor número de gerações foi o mais
representado no gráfico e o menor, com oito gerações. Desta forma eles iam tirando
conclusões a partir dos dados no gráfico e admirando-se com o tempo que a
comunidade já existe e as gerações que por aqui passaram.
Em mais uma das ações, as crianças foram desafiadas a construir o gráfico
de barras até então desconhecido. Na seqüência do trabalho foram questionados se
gostariam de continuar morando na comunidade, assim como seus familiares. Alguns
firmes com suas respostas disseram:
- Não vamos continuar, logo vamos embora!
Outros seguros responderam que vão ficar, pois querem ficar perto da
família e também de seus amigos e porque o que querem ser quando crescer, estando
nessa comunidade poderão ir para o trabalho que isso não irá atrapalhá-los e assim
poderão dar continuidade a suas gerações. Algumas crianças disseram que talvez fiquem
na comunidade, mas que seus familiares moram em outra cidade, porém pretendem para
lá ir também, ou ainda porque querem tentar a vida nos Estados Unidos, pois pensam
que indo para lá vão ter uma vida melhor que aqui.
Este momento foi aproveitado para valorizar a família, a pátria e destacando
que poderiam ter uma vida boa aqui nesta terra. Para tal é fundamental estudar e ter
vontade para alcançar os sonhos, pois quem busca tem mais chance de alcançar.
Com essa discussão partiram para a construção do gráfico. Inverteram os
lugares e começaram a registrar na tabela e ao terminar foi feita uma votação para a
escolha das cores do gráfico que seriam pintadas com tinta guache. Escolhidas as cores
continuaram os trabalhos. Iniciou-se a construção do gráfico e as crianças já de início
diziam:
- Podemos ver que as nossas gerações irão continuar em nossa comunidade.
Os mesmos diziam com orgulho e esperança:
- Vamos tentar aumentar o número de nossas gerações em nossa
comunidade e fazer dela mais importante e valorizada que hoje.
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trabalho dos açorianos. Saborearam a comida italiana escolhida por eles: a pizza e o
bolinho de bacalhau tradição dos portugueses acompanhado de um bom suco de uva. Na
festa eles brincaram com o boi de mamão que eles confeccionaram e outras
brincadeiras. A alegria das crianças estava estampada no rosto de cada uma.
CONSIDERAÇÕES
Com esta pesquisa, buscou-se resgatar nas crianças sua própria história, ou seja,
partindo da sua realidade, do seu conhecimento construído paulatinamente. Destarte, as
crianças ludicamente descobriam sua história e a da sua comunidade. Este “conhecer”
foi facilitado pela estatística via leitura e interpretação de tabelas e gráficos. As crianças
perceberam que de um jeito ou de outro os números estão por toda parte e que é preciso
ter “um olhar matemático” que permite compreender a realidade.
A pesquisa aponta que o ensino de Matemática nas séries iniciais do ensino
fundamental pode ser potencializado se incorporar a atividade de aprendizagem como
uma possibilidade de organizar a prática pedagógica, e com ela a ludicidade, a
contextualização, a inquirição e a interdisciplinaridade. Eixos que podem potencializar a
elaboração e apropriação dos conhecimentos necessários para formar cidadãos
historicamente capazes de fazer a diferença no mundo atual. Entende-se que o trabalho
docente ganhou uma outra configuração com as atividades desenvolvidas, as quais se
basearam na problematização de uma determinada temática e na elaboração de um
conjunto de ações para a compreensão da mesma.
O estudo desenvolvido contribui para destacar que todos são capazes de
aprender através das relações sociais, e que a escola, deve ter a responsabilidade ética de
garantir uma aprendizagem significativa para todos. Neste panorama, o papel do
professor enquanto mediador consiste em criar, em sala de aula, situações que
estabeleçam uma postura crítica e reflexiva perante o conhecimento historicamente
produzido dentro e fora da Matemática. Assim, a Matemática faz-se presente e
necessária para se compreender o contexto sociocultural e é aí que o seu ensino e
particularmente seus conceitos essenciais - Número, Medidas, Geometria, Álgebra e
Estatística - passam a ter significado e importância. Entretanto, torna-se fundamental aos
professores que pretendam caminhar nesta perspectiva, adotem uma postura de pesquisador.
Em outras palavras, é necessário que eles conheçam seus alunos e a comunidade onde a
escola está inserida para identificar o que será relevante de ser problematizado em sala de
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aula.
Além deste olhar voltado ao entorno dos estudantes, compete ao professor estar
sempre buscando subsídios teóricos e práticos objetivando potencializar sua prática
pedagógica. Vale destacar que para o professor que ensina matemática nas séries inicias
do ensino fundamental é mais cômodo continuar insistindo no "Arme e Efetue" ou no
"Resolva as Operações". Entretanto, o desafio está em superar esta prática secular e buscar
elementos para que a Matemática Escolar seja apreciada e útil (D´AMBROSIO, 2001).
BIBLIOGRAFIA