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Introdução
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Projeto financiado pela Fundação Araucária.
1. Crenças e representações
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Crenças podem ser difíceis de ser modificadas. Neste sentido alguns resultados
de pesquisa na formação inicial têm mostrado que os futuros professores
entram no programa de formação com crenças pessoais a respeito do ensino, com imagens
do bom professor, imagens de si mesmos como professores e a memória de si próprios
como alunos. Essas crenças e imagens pessoais geralmente permanecem sem alteração ao
longo do programa de formação e acompanham os professores durante suas práticas de
ensino” (Kagan, 1992, apud Marcelo, 1998, p. 55 ).
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2.2 Sujeitos
Os nomes dos alunos foram omitidos para preservar suas identidades. As iniciais
dos supervisores e dos alunos, no entanto, foram utilizadas para identificar os
depoimentos na pesquisa. Abaixo temos os alunos-professores e supervisores
identificados por instituição:
Supervisores TeV A H M
TJ, TS, TT
Alunos AP, AV HP, HA MI, MRF, MR
VR, VL, VFM, VA
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professor; c) Motivação; d) Contextos educacionais; e) Aprendizagem de Língua
Estrangeira; f) Material Didático; g) Avaliação. A análise dos dados mostrou as crenças
que os alunos trazem sobre o ensino de línguas, e como essas crenças são reforçadas ou
modificadas pela prática de ensino.
A entrevista constituía-se de dois tipos de perguntas: a) questões voltadas
especificamente para os itens do inventário de crenças; b) perguntas abertas sobre o
curso, a disciplina de prática de ensino, e percepções dos alunos em relação à sua
aprendizagem e formação. As respostas das entrevistas conduzidas pelos supervisores
foram transcritas, classificadas, e analisadas segundo o seu conteúdo.
3. 1 Crenças
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como, por exemplo, o fato de existir o “registro” (o modelo do professor). Entretanto os
entrevistados salientam que as pessoas estão abertas para mudanças e podem escolher o
próprio caminho, não prendendo-se a modelos. Para esta afirmação, os entrevistados
apresentaram mudança de opinião (4/5) e de intensidade (1/5).
(...) não o professor falar assim, oh, vocês não vão entender porque é difícil, mas não
também subestimar o aluno, falar, ah, isso aqui é “facinho”, subestimando... porque ele tem
capacidade de aprender. Então, eu acho que o professor tem que mostrar, não falando ah,
vocês não vão entender, (...) essa matéria é difícil, mas vocês são capazes de aprender
(VL,2005).
Para esta afirmação dois (2/5) alunos não sabiam se posicionar no inicio do ano,
mas finalizaram o processo concordando com a afirmação. Exceto estes alunos os
demais (3/5) apresentaram mudança de opinião.
O terceiro questionamento refere-se ao fato do “professor ser o principal
responsável pela melhoria do ensino nas escolas públicas”, e para tal afirmação os
alunos unanimemente finalizaram o processo discordando (3/3). Os entrevistados
apoiaram-se no fato do professor muitas vezes fazer seu máximo, mas é a escola, os
próprios alunos e os pais que na maioria das vezes não dão condições para que o ensino
nas escolas públicas melhore. Nenhum dos entrevistados considerou o professor como
único responsável para uma melhora no ensino das escolas públicas e sim a junção de
fatores sociais, políticos e econômicos.
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3.1.3 Motivação
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língua estrangeira porque “muita coisa do inglês se não souber no português não
consegue no inglês.” (AV, 2005). Para os alunos a dificuldade não está em utilizar a
língua materna, mas o quanto e como ela deve ser utilizada.
3.1.7 Avaliação
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experiência com estágio na(s) escola(s)? Gostaria de ter tido mais tempo de
permanência na escola? Por quê?
(A Prática de Ensino) Me ajudou a refletir muito. Por exemplo, eu já vinha com aquele
preconceito de que o professor é o responsável pelo fracasso do aluno na escola. Mas
quando você entra na escola, você vê toda a realidade tanto da parte do aluno quanto da
parte do professor, como da escola também (...) a gente sempre acaba culpando o professor.
(TJ, 2005)
Dos alunos entrevistados, três disseram não ver muita relação entre a Prática de
Ensino e as demais disciplinas do curso. Para eles as disciplinas encontram-se
desarticuladas e a teoria estudada nem sempre pode ser observada nas aulas dos
próprios professores da universidade. Para eles uma maior articulação entre teoria e
prática daria “uma visão mais ampla do todo” (MR, 2006). Outro aluno afirmou que
“essa parte teórica poderia ser bem mais prática (...) dentro das coisas que realmente
acontecem no nosso dia a dia” (TS, 2005). Nesse sentido, foi mencionada a importância
da professora de língua inglesa explicitar seus procedimentos didáticos aos alunos
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durante a aula, para que possam entender seus objetivos e fazer a articulação entre a
teoria e a prática.
A professora mesmo de inglês costuma explicar... “olha essa atividade que eu estou dando
pra vocês é por isso, por isso e por isso”. Mas às vezes ela nem precisaria, porque a gente já
estava com aquela noção do porque que estava agindo daquele jeito, o porquê daquela
atividade. (A gente) já consegue analisar melhor uma aula. (VL, 2005).
Para uma aluna, no entanto, a teoria “contribui muito (...) porque você vê que
aquela parte teórica que vem de didática, da literatura, da língua inglesa, ou da
metodologia; você vê que realmente aquilo existe na prática” (VL, 2005).
Eu acho que não vou ser um professor de inglês muito bom. Não vou dar conta das
expectativas dos alunos. Mesmo porque nunca fiz um cursinho de inglês e eu acho que para
dar aula no ensino fundamental até sai alguma coisa, mas para o ensino médio, não sai
coisa boa não (MRF, 2005).
Eu espero me sair muito bem, né... Porque é o que eu mais gosto de fazer; eu juntei o meu
gostar de inglês com o gostar de dar aula. Então juntando os dois... (talvez) eu saia
satisfeita. (VMF, 2005)
Também, espero me sair muito bem. Eu acho que eu tenho muito, muito ainda a aprender.
To com vários deslizes ainda, mas o importante é que eu já sei reconhecer onde eu to
errando (...) então, eu espero me sair bem, mas eu sei que só vou conseguir com prática e
muita preparação, que é o que eu pretendo fazer (VL, 2005).
Eu acho que eu cresci muito com o projeto que eu entrei. Foi o que me deu uma base maior
e eu comecei a me encontrar mesmo no terceiro ano. Porque até então as matérias eram
muito teóricas e você não via aquilo na prática. Tem muitas disciplinas que você não vê
objetivo, que você não entende o porquê. Mas o estágio foi uma coisa que me ajudou muito
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a ver o que eu quero e o que eu não quero. E também no NAP5 muita coisa que eu li, muita
coisa que eu conversei com os professores, (...) isso me ajudou muito mais que muita coisa
aqui na universidade (TJ, 2005).
Um dos pontos fortes eu acho que é observar todos os contextos, né, eu acho que sai mais
preparado e tem mais noção do que (acontece) X, e que as vezes alguém estudou só em
escola particular, outro só em escola estadual, outra não fez instituto de línguas. (...) E
mesmo que tivesse feito não teria a mesma visão que a gente tem agora. (VMF, 29005).
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Núcleo de Assessoria Pedagógica da UEL. Programa de extensão voltado para o ensino de inglês em escolas
públicas.
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Os “Roteiros Pedagógicos” são um material didático desenvolvido por formadores de professores da UEL para
auxiliar na condução da Prática de Ensino de Inglês.
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(...) eu concordo até um certo ponto, dependendo do objetivo que você tem, mas eu acho
interessante que a gente procure também experiências que venham... não é questão que a
gente esteja procurando uma receita, alguma coisa pronta e acabada, mas eu acho
interessante o aluno ter contato também com algumas experiências mais bem sucedidas de
ensino (VR, 2005).
4. Considerações Finais
Este estudo levou em conta apenas as respostas dos alunos envolvidos durante as
entrevistas realizadas com os alunos-professores selecionados a partir de suas respostas
aos inventários iniciais e finais. Os inventários propriamente ditos, não foram analisados
aqui. Portanto, os resultados não podem ser considerados como uma generalização do
universo de alunos das instituições envolvidas na pesquisa, mas como indícios de
crenças e de suas modificações.
A pesquisa mostrou que os alunos-professores observaram uma grande mudança
em suas percepções sobre o ensino de línguas, sobretudo por conta de sua vivência no
estágio. Outras percepções se referem ao curso de Letras e à disciplina de Prática de
Ensino. Algumas das transformações mais relevantes são as seguintes:
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A possibilidade de observarem aulas em contextos educacionais diferentes –
instituto de línguas, escola particular e escola pública – lhes dá uma boa visão do
campo profissional. A comparação entre os contextos derrubou alguns mitos em
relação às diferenças entre escola pública e particular: o ensino nos dois
contextos apresenta dificuldades e resultados semelhantes.
Referências Bibliográficas
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DURKHEIN, E. Représentations individuelles et représentations collectives. Revue de
Metaphysique et Morale VI. 1898. p. 273-302
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MOSCOVIC, S. (org). Psychologie social. Paris, Presse Universitaire de France, 1984
KAGAN, D. M. Professional growth among pre-service and beginning teachers. Review
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Professores de Língua Estrangeira e sua Formação Inicial. In: VIEIRA-ABRAHÃO,
M.H. Prática de Ensino de Língua Estrangeira: Experiências e Reflexões. Campinas:
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WOODS, D. Processes in ESL reading: a study of the role of planning and interpretive
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Applied Language Studies. Occasional Papers, 3. Ottawa: Carleton University, 1993.
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Anexos
Anexo A
INVENTÁRIO DE CRENÇAS
AFIRMAÇÕES DC D NS C CP
1. Quanto mais cursos sobre metodologia um professor fizer melhor será seu ensino
2. Quanto mais um professor conhecer a matéria melhor será seu ensino
3. Um bom professor é aquele que tem um relacionamento amigável com seus alunos
4. Cabe ao professor motivar o aluno
5. O professor é o principal responsável pela melhoria do ensino nas escolas públicas
6. Para ser um bom professor de língua estrangeira é preciso falar a língua corretamente
7. O professor de língua estrangeira precisa conhecer outras culturas
8. Para se ensinar língua estrangeira é preciso ter bons materiais didáticos
9. O professor deve explicar o porquê de aprender a língua e como ela vai ser usada
10. O professor é responsável pela aprendizagem dos alunos
11. O professor deve ser um bom modelo de usuário da língua
12. O professor deve mostrar aos alunos que a matéria não é difícil
13. O professor deve deixar os alunos se sentirem à vontade para se comunicarem sem medo de errar
14. O professor deve se impor
15. O professor deve ser dinâmico, flexível e ter senso de humor
16. O professor deve ter jogo de cintura para não deixar seus alunos perceberem que ele não sabe a matéria
17. O professor tende a ensinar do mesmo modo como foi ensinado
18. O professor de língua estrangeira precisa ter vivência no Exterior
19. O professor deve corrigir os erros dos alunos sempre que estes ocorrerem
20. Uma das maneiras mais eficazes de aumentar a motivação é estimular a competição entre alunos
21. O professor deve determinar e fazer valer regras para comportamento dos alunos
22. O professor deve dar exercícios de cópia e tradução para manter a classe quieta
23. As aulas em escolas públicas são tradicionais e, portanto, pouco eficazes
24. A indisciplina ocorre por fatores externos como posição das carteiras e tom de voz do professor
25. O desinteresse dos alunos pela matéria leva à indisciplina
26. O professor deve usar a língua estrangeira na aula o tempo todo, usando a tradução como último recurso
27. Na escola pública é difícil fazer trabalho em grupo com os alunos
28. É um privilégio lecionar em escolas de idiomas ou escolas particulares
29. O ensino na escola particular é melhor do que na escola pública
30. Os alunos da escola pública não vêem muito sentido em aprender língua estrangeira
31. É importante saber falar inglês no Brasil
32. As escolas servem como agentes de mudanças sociais
33. O ensino na escola pública deve ter os mesmos objetivos do ensino na escola de idiomas
34. É importante aprender língua estrangeira independentemente da classe social a que se pertence
35. Aprender língua estrangeira pode ajudar a reduzir diferenças sociais
36. No Brasil o ensino da leitura é mais importante do que de outras habilidades
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37. No Brasil as pessoas têm facilidade em aprender pronúncia de língua estrangeira
38. Para aprender o aluno tem que “amar” a língua estrangeira
39. É preciso dom para aprender língua estrangeira
40. O aluno deve ser interessado e participar das aulas
41. Alunos de classe mais baixa ou com problemas na família são mais indisciplinados
42. Os alunos precisariam ter um propósito para aprender L.I. para se mostrarem mais motivados
43. Para aprender língua estrangeira é preciso estar exposto a novidades, novos materiais e quebra da rotina
44. Para aprender língua estrangeira é preciso não pensar em língua materna
45. O aluno aprenderá com mais facilidade se o professor propiciar momentos de descontração durante a
aula
46. O aluno aprende melhor quando está se divertindo
47. É importante repetir e praticar bastante para aprender língua estrangeira
48. A parte mais importante da aprendizagem de língua estrangeira é o vocabulário
49. A conversação é o melhor meio para se aprender a língua
50. A melhor maneira de aprender uma língua estrangeira é ir ao país onde ela é falada como primeira língua
51. Quanto mais cedo se começar a aprender língua estrangeira mais fácil será sua aprendizagem
52. Os livros didáticos devem trazer temas condizentes com a realidade dos alunos
53. Um material didático baseado em metodologias mais recentes é melhor do que os baseados em métodos
antigos
54. Usar um livro didático ruim é ainda melhor do que não usar nenhum
55. O professor deve elaborar seu próprio material didático
56. Uma boa aula depende do material didático
57. Os materiais didáticos devem trazer recursos visuais
58. A parte mais importante da aprendizagem de língua estrangeira é a gramática
59. O professor deve sempre ler textos em voz alta
60. A avaliação dos alunos pode servir como instrumento de controle por parte do professor
61. O aluno em fase inicial de aprendizagem não tem condições de avaliar seu próprio desempenho
62. A avaliação serve para medir se o aluno conhece as estruturas gramaticais da língua
63. Uma aula com computador é muito mais produtiva do que uma aula com livro didático
64. Um professor que não planeja suas aulas tem grande chance de fracassar no ensino
65. Sempre que aparecer alguma atividade interessante o professor deve incluí-la em suas aulas
66. Mesmo sem conhecer a legislação que regula a educação é possível ser um bom professor
67. O uso da tecnologia na aula de inglês implica em novos papéis para professores e alunos
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Anexo B
O objetivo da entrevista é verificar qual a visão que o aluno tem, agora ao final da disciplina, sobre o que
seja ensinar inglês, nos vários aspectos tratados no inventário.
1 Você percebeu alguma transformação em seu modo de pensar sobre o ensino de inglês durante este
ano? Quais foram as mudanças?
3. No início do ano você disse que .... e agora diz .... Como explica essa mudança?
5. Como vê a relação entre a prática de ensino e demais disciplinas/atividades do curso em sua formação?
7. Quais aspectos de sua formação acha que foram mais interessantes? E os menos?
10. O que você apreendeu da experiência com estágio na(s) escola(s)? Gostaria de ter tido mais tempo de
permanência na escola? Por quê?
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