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VÂNIA SANTOS DO CARMO

A APRENDIZAGEM NUMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA

GOIÂNIA
2006
VÂNIA SANTOS DO CARMO

A APRENDIZAGEM NUMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA

Artigo elaborado para fins de avaliação parcial na disciplina


Estágio Supervisionado em Psicopedagogia Clínica, Turma
A, Departamento de Pós-Graduação, do Curso de
Especialização em Psicopedagogia, da Universidade Católica
de Goiás.

GOIÂNIA
2006
VÂNIA SANTOS DO CARMO

A APRENDIZAGEM NUMA ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA

Profª Raquel Borges Ribeiro


Supervisora Assinatura Nota

Profª Mestre Janete Carrer


Coordenadora Assinatura Nota

GOIÂNIA, 15/09/2006
1

RESUMO - O artigo discute a aprendizagem numa abordagem psicopedagógica,

destacando os aspectos considerados importantes no aparecimento de dificuldades de

aprendizagem da criança no contexto escolar. Ressalta o despreparo da escola para trabalhar

com o aluno que apresenta defasagem de conteúdo ou em outras áreas, na série em curso.

Evidencia a necessidade de se repensar o papel da escola e do professor quanto ao processo

ensino-aprendizagem, nas diferentes relações, considerando que é o trabalho da escola que

possibilita ao sujeito o domínio da aprendizagem sistemática, permitindo-lhe, através desse

domínio, descobrir-se autor no desvelamento dos significados do mundo.

Unitermos: Psicopedagogia. Processo ensino-aprendizagem. O papel da escola.

INTRODUÇÃO

“A principal tarefa da escola é ajudar o aluno a


desenvolver a capacidade de construir relações e
conexões entre os vários nós da imensa rede de
conhecimento que nos enreda a todos. Somente quando
elaboramos relações significativas entre objetos, fatos e
conceitos podemos dizer que aprendemos”.
Kleiman e Moraes

Um dos grandes desafios da escola, atualmente, é saber lidar com a criança que

apresenta dificuldade na aprendizagem escolar. E, no seu despreparo, a escola pode

desencadear no aluno mais problemas ainda, e até mesmo agravar os já existentes, reforçando

nessa criança, o auto-conceito negativo, desmotivação, desinteresse e outros mecanismos de

defesa, como a indisciplina, rebeldia ou agressão, que utiliza para justificar a sua

incompetência diante da aprendizagem escolar, acreditando-se incapaz de internalizar esses

conhecimentos.

Sabe-se que a criança, na aprendizagem escolar, pode atrasar-se em qualquer etapa

do seu desenvolvimento. Os motivos, tanto podem ser internos, advindos de aspectos


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cognitivos, afetivos, motores, ou externos, devido a uma mediação inadequada na relação

professor, aluno e família.

O processo de aprendizagem no parecer de Pozzo1, pode ser conceituado, a partir de

uma abordagem construtivista, como um processo de reestruturação dos conhecimentos e

comportamentos adquiridos pelo aprendiz. Esse processo se inicia com o nascimento e

permanece ativo ao longo da vida do sujeito.

Segundo Bossa2, a aprendizagem se inicia, já nos primeiros instantes de vida do

bebê, quando este aprende o que é necessário para garantir a sua sobrevivência, como mamar,

andar, falar, pensar. Para a autora “a aprendizagem e a construção do conhecimento são

processos naturais e espontâneos na espécie humana” e que a aprendizagem escolar também

deve ser assim. Caso contrário, alguma coisa deve estar errada.

Os estudos em torno do processo de aprendizagem humana possibilitaram que na

França, em meados do século XX surgisse a Psicopedagogia.

A Psicopedagogia é uma área de conhecimento interdisciplinar que se preocupa em

estudar o processo de aprendizagem em seus diferentes espaços, à partir das relações que o

sujeito estabelece à sua volta, nas interações com os grupos, instituições e cultura.

Pela complexidade do seu objeto de estudo, a Psicopedagogia pode atuar em vários

campos, entre eles é possível citar o campo clínico terapêutico, o institucional e o da pesquisa.

Segundo Bossa3, o psicopedagogo, no trabalho clínico, deve considerar essa relação

do sujeito com sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem, e a dimensão da

relação entre psicopedagogo e sujeito, de forma a favorecer a aprendizagem.

Conforme Fernàndez4, “a aprendizagem é um processo cuja matriz é vincular e

lúdica e sua raiz corporal; seu desdobramento criativo põe-se em jogo através da articulação

inteligência-desejo e do equilíbrio assimilação-acomodação”.


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Sendo a aprendizagem um processo que se desenvolve por meio do organismo, do

corpo, do desejo e da inteligência, pode-se afirmar que toda aprendizagem passa pelo corpo e

só é possível ser concretizada, se estiverem em equilíbrio essas quatro instâncias.

Pelo corpo nos apropriamos no nosso EU, da nossa identidade. A estrutura cognitiva

organiza e constrói a objetividade, o pensar com a lógica, permitindo ao sujeito apropriar-se

do conhecimento. A estrutura do desejo dá a significação, a mobilização ao interesse para

aprender. Inteligência e desejo possibilitam que o organismo se transforme em corpo e este se

disponha ou não ao aprender. Se essas instâncias não estiverem em equilíbrio acontecem as

dificuldades de aprendizagem.

Do ponto de vista de Fernandez4, não se pode entender um processo de aprendizagem

a partir do aprendente, sem recorrer ao ensinante. Ao se buscar a compreensão do processo de

aprendizagem, deve-se considerar tanto o ser que aprende como o que ensina, pois a forma de

se ensinar pode remeter a uma dificuldade de aprendizagem ou vice-versa. A autora enfatiza

ainda que os problemas de aprendizagem podem ser abordados sob dois aspectos,

respondendo as ordens de causa interna e externa à estrutura familiar e individual do sujeito.

Na causa interna surgem os problemas de aprendizagem sintoma, forma escolhida

inconscientemente pelo sujeito para camuflar a angústia e disfarçar a realidade, quando

esconde de si mesmo o seu saber e sua possibilidade de aprender. Outra causa interna é a

inibição cognitiva, quando o sujeito evita o pensar e o contato com o objeto de conhecimento,

por representarem para ele um perigo, assim, ele se defende, acreditando que aprender não é

bom, não é interessante.

Na causa externa, há o problema de aprendizagem reativo, gerado na instituição

escolar, em decorrência de fatores pedagógicos ligados a má condução da metodologia do

ensino, avaliação, relação professor-aluno, enfim, à organização curricular e estrutural de


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funcionamento geral da escola. Esses fatores interferem na qualidade do processo ensino-

aprendizagem, restringindo as condições de acesso do aluno ao conhecimento sistematizado.

No processo de aprendizagem há uma interação permanente do sujeito com o meio,

expresso inicialmente pela família, em seguida pela escola, ambos permeados pela sociedade.

Weiss5 ressalta que “a não aprendizagem na escola é uma das causas do fracasso

escolar, e que a compreensão desse fracasso deve ser analisada e estudada sob as perspectivas

da sociedade, da escola e do aluno, considerando-se alguns aspectos ligados a essas

perspectivas, como os aspectos orgânicos, relacionados à construção biofisiológica do sujeito

que aprende; os aspectos cognitivos, ligados ao desenvolvimento e funcionamento das

estruturas cognoscitivas em seus diferentes domínios; os aspectos emocionais, ligados ao

desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste

através da produção escolar; os aspectos sociais, ligados à perspectiva da sociedade em que

estão inseridas a família e a escola; e os aspectos pedagógicos com questões ligadas à

metodologia do ensino, à avaliação, à dosagem de informações, à estruturação de turmas,

enfim, à organização e funcionamento geral da escola”.

De acordo com Bossa3, o problema de aprendizagem constitui uma espécie de código

secreto, desconhecido pelo próprio sujeito, resultado da articulação de toda história de suas

relações e que, numa dada circunstância, se constitui num sintoma. Com o olhar e a escuta,

numa postura crítica, irá em busca da causa do sintoma, dos motivos que desencadearam a

dificuldade de aprendizagem, procurando saber como se constitui o sujeito, como este se

transforma em suas diversas etapas da vida, como produz conhecimento e como aprende.

Ressalta a autora supra citada, que esse saber requer um respaldo teórico que ampare

o profissional na compreensão do processo ensino-aprendizagem em seu contexto.


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Segundo Piaget6, o conhecimento é construído através da ação, quando o sujeito

estabelece desde o nascimento, uma relação de interação com o meio, e é essa relação da

criança com o mundo físico e social que promove seu desenvolvimento cognitivo.

A forma de raciocinar e de aprender passa por estágios definidos e estes, conforme

Peterson e Felton-Collins7, ocorrem em uma seqüência hierarquizada, caracterizada por um

modo de pensar em potencial, intervindo quatro fatores, que juntos, ajudam a criança a passar

de um estágio para outro, que são a maturação, a experiência, a transmissão social e a

equilibração. A maturação, que é o amadurecimento dos sistemas biológico, muscular e

nervoso; a experiência, que consiste na ação e construção progressiva, abstraídas da

assimilação das informações sensoriais e motoras do sujeito, na interação com os objetos; a

transmissão social ou contribuições sociais e educativas promovendo a evolução do

conhecimento da criança na interação com o outro; e equilibração, quando o sujeito

desempenha um papel ativo na construção de seus conhecimentos, organizando-se

internamente. O equilíbrio reúne o amadurecimento, a experiência e a interação. Em cada

estágio a criança reconstrói ao nível do estágio anterior, refletindo e reestruturando. Essa

passagem deve ser estimulada e o meio deve oferecer os estímulos.

As crianças aprendem em seu próprio ritmo e através de seus próprios interesses, que

dependem a cada momento do conjunto de suas noções adquiridas e de suas disposições

afetivas, que, juntos levarão a um melhor equilíbrio.

Para Vygotsky8, o meio social em que o indivíduo está inserido, influencia nas suas

experiências e aquisição de conceitos a respeito do mundo que o cerca. Ele vai desenvolver-se

e perceber o mundo à sua volta, de acordo com esse aprendizado. O desenvolvimento é visto

como um processo e não depende da maturidade, mas dos resultados dos aprendizados

construídos ao longo da vida dentro do seu grupo cultural. Nesse processo, valorizou as

funções psicológicas superiores, buscando a compreensão dos seus mecanismos e de como


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exercem influência no indivíduo, para que aconteça uma transformação qualitativa no seu

desenvolvimento.

A aprendizagem, segundo Vygotsky8, inicia antes mesmo da criança freqüentar a

escola, nas primeiras interações sociais, ainda bebê, quando internaliza significados de objetos

de sua vivência, à partir do significado atribuído pelo adulto àquela situação. Já, na escola, o

aprendizado sistematizado contribui na análise e compreensão das relações reais entre o

processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizagem. Portanto, é essencial, a

necessidade de se compreender os níveis de desenvolvimento real, quando as funções mentais

da criança já se estabeleceram e ela já soluciona problemas de forma independente, e o nível

potencial, determinado pela solução de problemas sob a mediação de outras pessoas, como os

pais, professores ou colegas, definindo a zona de desenvolvimento proximal.

Compete ao professor, orientar e ajudar a criança no seu processo de aprendizagem e

desempenho cognitivo, com metodologia e atividades apropriadas, construindo

continuamente, zona de desenvolvimento proximal com a mesma, à partir do real, afim de que

avance para novos estágios em processo, de acordo com suas possibilidades potenciais.

Compreender como se dá o processo de aquisição da língua escrita pela criança,

também se faz necessário aos educadores que se propõem ajudá-la no seu processo de

alfabetização.

Ferreiro9 e colaboradores, em seus estudos sobre a psicogênese da língua escrita,

pesquisaram sobre o sistema de escrita considerando suas origens psicogenéticas e históricas

como ponto inicial de um processo evolutivo e natural que culmina com a aprendizagem do

código lingüístico, à partir de hipóteses que a criança formula na compreensão da escrita,

relacionando a combinação de letras aos sons da fala.

Nem todas as crianças de um mesmo agrupamento situam-se no mesmo momento do

processo evolutivo. É importante que a escola compreenda esse processo e que repense sua
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metodologia, ensinando o que a criança consegue aprender. Segundo Ferreiro 9, “o êxito da

aprendizagem depende, então, das condições em que se encontre a criança no momento de

receber o ensino”, em relação ao momento conceitual em que se situa.

METODOLOGIA

O Estágio Supervisionado em Psicopedagogia Clínica do Curso de Especialização

em Psicopedagoia da Universidade Católica de Goiás, foi realizado em uma instituição

pública municipal que se propõe ao apoio à inclusão, direcionado a educandos da própria

rede, de 6 a 14 anos de idade.

O atendimento psicopedagógico foi realizado com três crianças, no período de

22/03/2006 à 26/06/2006, em duas sessões semanais, tendo a duração de 40 min cada sessão.

O diagnóstico foi priorizado neste trabalho. As sessões psicopedagógicas ocorreram em uma

sala improvisada com mesa, cadeiras e um armário de aço.

Para a realização do atendimento, escolheu-se o caso de Mateus (nome fictício), com

8 anos de idade, cursando a 2ª série, no período matutino, em uma escola pública. É filho

único e seus pais são separados. Mora com a mãe, ficando com ela nos finais de semana,

devido ao seu trabalho e nos outros dias, mora na residência de sua cuidadora, que assume

esta responsabilidade, desde o seu nascimento.

As queixas apresentadas pela professora são: dificuldade na compreensão e

estruturação de textos, troca letras, dificuldade de socialização, e às vezes é agressivo com os

colegas para se defender das gozações que fazem, devido a um problema físico aparente. A

mãe queixa-se que o filho é muito nervoso na escola, não lê e não escreve direito.

Para realização do diagnóstico psicopedagógico utilizou-se os seguintes recursos:

Anamnese, Hora do Jogo, EOCA, Técnicas Projetivas Psicopedagógicas, Provas Operatórias


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Piagetianas, Provas Pedagógicas, análise do material escolar e questionário direcionado ao

professor sobre o desempenho do educando no espaço escolar.

A anamnese foi aplicada para colher dados sobre a história de vida da criança e suas

aprendizagens, desde as informais e precoces até as dos conteúdos escolares.

A Hora do Jogo possibilitou o levantamento de hipóteses sobre o tipo de relação que

a criança estabelece com o objeto de conhecimento, mostrando sua maneira de agir para

conhecer, para aprender e para resolver uma situação problema identificada nas diferentes

modalidades de aprendizagem. Segundo Fernández4, “a hora do jogo pode oferecer uma

compreensão a respeito de alguns processos que podem ter levado à instalação de alguma

patologia no aprender”.

A EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem), que possibilitou

observar a situação de aprendizagem na criança, quanto a temática, dinâmica, o produto, e

levantar hipóteses sobre as causas das dificuldades de aprendizagem e os devidos

instrumentos de investigação a serem usados no diagnóstico.

As Técnicas Projetivas Psicopedagógicas permitiram avaliar a representação social

que a criança faz dos conhecimentos escolares, familiares e consigo mesma, investigando a

variável emocional que condiciona positiva ou negativamente a aprendizagem. Foram

aplicadas as provas projetivas: Par Educativo, que demonstra a relação vincular entre

professor, aluno e objeto de conhecimento; Eu e Meus Companheiros, através da qual

percebe-se o vínculo da criança com os colegas de classe; Família Educativa, que possibilita

verificar o tipo de vínculo existente entre os membros da família, a representação que a

criança faz do que os familiares sabem fazer e o modelo de aprendizagem que os mesmos

possuem e transmitem.

Outro instrumento utilizado no diagnóstico foram as Provas Operatórias Piagetianas,

um conjunto de atividades que possibilita avaliar as estruturas cognitivas que a criança já


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adquiriu, mostrando o grau de aquisição de algumas noções cognitivas básicas com que a

criança é capaz de operar. As provas aplicadas foram: conservação da quantidade de matéria,

conservação de comprimento, conservação da quantidade de líquido, conservação de peso,

intersecção de classes, inclusão de classes e seriação.

Foram aplicadas também Provas Pedagógicas com atividades específicas

direcionadas à leitura, escrita e matemática. Na avaliação da leitura utilizou-se um livro de

história infantil atraente, com texto ilustrado e adequado à sua idade e escolaridade, para que

pudesse ler o texto completo, e então, segundo Weiss5, “verificar se ao final da leitura, ele

apreendeu o sentido global do texto, se é capaz de sintetizá-lo”. Para avaliar a escrita foi

utilizado um jogo de quebra-cabeça de uma cena completa, quando realizou a montagem do

mesmo citando um relato oral dos objetos constantes na cena. Em seguida foi realizado um

ditado com os nomes desses objetos. Após o ditado escreveu uma frase formulada

previamente por ele, sobre a cena e finalmente produziu uma história oral e escrita dando um

título à sua produção. Na avaliação da matemática usou-se um jogo com desafio lúdico,

permitindo a exploração do raciocínio lógico matemático, noção de quantidade e cálculo

mental simples e operacional envolvendo situações problema com operações de adição e

subtração.

Segundo Weiss5 “É necessário que se pesquise o que o paciente já aprendeu, como

articula os diferentes conteúdos entre si, como faz uso desses conhecimentos nas diferentes

situações escolares e sociais, como os usa no processo de assimilação de novos

conhecimentos.” Esclarece a autora, que a análise dessas atividades juntamente com a análise

do material escolar da criança, possibilitam ao terapeuta definir o nível pedagógico para se

verificar a adequação à série em curso.


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À partir do estudo dos dados colhidos na avaliação investigativa, pôde-se levantar a

hipótese diagnóstica, identificando os obstáculos objetivantes e subjetivantes que interferem

no seu processo de aprendizagem.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO

Os dados obtidos na anamnese indicaram que Mateus sofreu estímulos desagradáveis

na vida intra-uterina, devido às agressões físicas do pai à sua mãe, durante toda gestação,

estendendo aos primeiros meses, até a separação do casal. A mãe estava sempre apreensiva e

nervosa, o que certamente interferiu de forma negativa nas suas primeiras interações sociais,

quando, conforme Vygotsky8, a aprendizagem se inicia. Mateus nasceu de parto cesárea e

com má formação em uma das orelhas.

Rejeitou o seio materno, não conseguiu sugar no peito, o que fez com que sua mãe

introduzisse a mamadeira, na segunda semana após seu nascimento. Aceitou sugar na

mamadeira e passar para a alimentação sólida, introduzida aos sete meses.

Seu desenvolvimento ocorreu dentro do esperado. Firmou a cabeça aos quatro meses,

sentou e engatinhou aos seis meses, andou com dez meses e falou com um ano de idade,

quando também se deu o controle dos esfíncteres.

Dorme bem, mas tem medo de ficar só, no claro ou no escuro.

Suas primeiras aprendizagens informais foram realizadas com a mãe e sua cuidadora.

Houve a preocupação de ambas quanto a ajudá-lo em seu desenvolvimento e necessidades

fisiológicas, porém, de forma automatizada e facilitadora, talvez, em função do pouco tempo

disponível à ele, por priorizarem outros afazeres.

Mateus iniciou sua escolaridade aos quatro anos, na creche. Aos seis anos, passou

para uma escola pública de Ensino Fundamental e nela ainda permanece.


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Desenvolveu uma rotina solitária, sem limites, poucas regras e poucos estímulos,

apresentando em casa, um comportamento calmo e passivo, porém, na escola demonstra

agressividade, inquietação e nervosismo.

O estabelecimento de vínculo afetivo por sua mãe e sua cuidadora, foi reduzido e a

circulação de conhecimento não foi favorecida, instalando-se então, uma modalidade de

aprendizagem com pouca assimilação e acomodação (a criança assimila quando incorpora

novas informações ao seu esquema de ação, e acomoda quando modifica o seu esquema para

incorporar o objeto).

Na análise das provas projetivas psicopedagógicas, percebe-se no Par Educativo, que

Mateus retrata a aprendizagem numa situação assistemática, em que um colega aprende com o

outro, não há objeto de conhecimento. O relato não é coerente com o que mostra o desenho,

acrescentando que uma criança ensina a outra a fazer uma atividade de matemática. No

desenho há o real, no relato há o ideal, o que gostaria que estivesse acontecendo, mostrando

com isso, que vive um conflito interno.

Na prova Família Educativa, demonstra o que os pais sabem fazer, mas não se

encontra inserido na situação. Evidencia o desejo da família unida.

Na prova Eu e Meus Companheiros, há presença de uma interação afetiva, mas não

há circulação de conhecimento.

A análise das provas projetivas indicaram que não há ênfase na aprendizagem

sistemática, em função da ausência de circulação de conhecimento. Existe o desejo de

aprender, porém, Mateus não conta com a ajuda da família e nem da escola para concretizar o

seu desejo.

Nas provas pedagógicas, Mateus já opera no nível alfabético inicial. Sua leitura é

mecânica, o que dificulta a apreensão global do que lê; interpreta com coesão, dentro do

contexto, mas ainda de forma restrita. Expressa-se oralmente com clareza. Já na produção
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escrita, que requer sua autoria, ainda não está totalmente compreensível. Apresenta omissões

assistemáticas e trocas de letras relacionadas a falta de discriminação auditiva. Em relação à

matemática, apresenta bom raciocínio lógico e já realiza cálculo mental simples. Opera bem

em situações-problema que envolve a adição e subtração.

Através da análise do questionário respondido pelas professoras, sobre o desempenho

do educando no espaço escolar, verificou-se quanto aos aspectos sociais, que Mateus

apresenta dificuldades de socialização, com poucos contatos e poucos amigos, sendo às vezes

agressivo e rejeitado pelos colegas. Com os professores, não consegue demonstrar um vínculo

afetivo.

Nos jogos e brincadeiras, às vezes tem iniciativa, liderança e espírito esportivo. Não

apresenta atitude de cooperação e tem dificuldade quanto à aceitação de regras e limites.

Nos trabalhos escolares demonstra interesse e iniciativa, mas às vezes trabalha

somente com a ajuda da professora, por apresentar dificuldade na compreensão e estruturação

dos textos.

Não se distrai com estímulos externos e esforça-se para realizar as atividades no

tempo previsto. Sua letra é legível e as anotações necessárias ao aprendizado da matéria, são

realizadas, cumprindo com responsabilidade o que lhe é solicitado.

Na análise de seu material escolar, mostrou organização, responsabilidade e cuidado

quanto à conservação do mesmo. Apesar de sua dificuldade na melhor compreensão e

estruturação dos textos, demonstra interesse, iniciativa, faz os registros necessários à

aprendizagem e realiza as atividades propostas, o que também foi confirmado pelas

professoras, no questionário escolar.

No aspecto cognitivo, constatou-se que o predomínio de sua aprendizagem é

assistemática, com um modelo de hipoacomodação e hipoassimilação. Por hipoacomodação

entende-se uma pobreza de contato com o objeto; dificuldade na internalização de imagens e


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falta de estimulação. Na hipoassimilação há um esquema de objeto empobrecido; déficit

lúdico e imaginação criadora pobre. Encontra-se em transição ao pensamento operatório

concreto, demonstrando boa capacidade de atenção e concentração.

No aspecto orgânico, a dominância de Mateus é a direita, com boa coordenação

motora fina, lateralidade e noção temporal, mas apresenta dificuldade de orientação espacial,

percepção, discriminação visual e auditiva, esta, quando se encontra mais distante de quem

fala.

No aspecto sócio-emocional, Mateus demonstra um auto-conceito negativo e auto-

estima rebaixada, com sentimentos de menos valia, abandono e rejeição. Apresenta também

insegurança e dificuldade de socialização.

Os fatos ocorridos em suas primeiras aprendizagens informais, acrescentado à má

formação em uma das orelhas e uma possível deficiência auditiva leve, certamente causaram-

lhe, ao iniciar sua escolarização, a dificuldade de socialização, com respostas agressivas aos

colegas, quando estes o provocam com apelidos relacionados ao seu problema físico, bem

como a dificuldade de aprendizagem.

Percebe-se que, Mateus demonstra desejo e esforço em aprender, mas atrasou-se em

algum momento de sua escolaridade, distanciando-se do nível de compreensão dos conteúdos

propostos, para a série em curso, talvez, devido às próprias limitações, deixando de

acompanhar a turma no mesmo ritmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise dos resultados da avaliação psicopedagógica, foi possível concluir

que a escola pode desencadear dificuldades de aprendizagem no aluno ao deixar de respeitá-lo

na sua individualidade e no seu próprio ritmo. Cada ser que se desenvolve tem seu tempo e

suas peculiaridades. É preciso ter um olhar atento às suas necessidades.


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Considera-se de extrema importância que o professor, conheça cada aluno em seus

aspectos cognitivos, emocionais, psicomotores e sócio-culturais, e que, também se respalde

em teorias norteadoras de sua prática pedagógica, de forma a contribuir no seu crescimento

pessoal, para que possa ajudar o aluno em seu desenvolvimento.

Segundo Peterson e Fellton-Collins7, “quando uma criança é estimulada e encorajada

a seguir seus interesses, ela se envolve no verdadeiro processo do conhecimento. Em suas

tentativas de encontrar sentido no que vê e de resolver os problemas com os quais se depara,

ela se motiva a buscar soluções”.

O professor deve, portanto, oferecer várias oportunidades para que a criança construa

o seu conhecimento, tendo em mente as diferenças individuais de como as crianças aprendem

e em qual estágio de desenvolvimento se encontram.

Considerando que Mateus encontra-se em processo de alfabetização, e sem o apoio

necessário da família, sugere-se que esta se envolva mais em todo processo educativo do

filho, promovendo circulação de conhecimento.

À escola, recomenda-se a adequação da metodologia, propiciando meios para

favorecer o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e conceitual em que o educando se

encontra, ressaltando a necessidade de atendê-lo em suas necessidades. Destaca-se ainda a

importância do estabelecimento do vínculo afetivo na relação professor-aluno e colegas, para

deixá-lo mais confiante e seguro no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento.

Cabe ao psicopedagogo clínico, realizar um trabalho com Mateus com o objetivo de

possibilitar-lhe a ressignificação do vínculo ensinante/aprendente e de sua modalidade de

aprendizagem, mediando a restauração do vínculo com o objeto de conhecimento, para que

consiga vencer os obstáculos e ajustar-se à vida escolar, no acesso à construção do

conhecimento.
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REFERÊNCIAS

1. Pozzo JI. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed;
2002.60.

2. Bossa NA. Dificuldades de Aprendizagem: o que são? Como tratá-las? Porto Alegre:
Artmed; 2000.11.

3. Bossa NA. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre:


Artes Médicas; 1994.11,14.

4. Fernàndez A. A Inteligência Aprisionada: Abordagem psicopedagógica clínica da criança


e sua família. Porto Alegre: Artmed; 1991.48,167.

5. Weiss MLL. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de


aprendizagem escolar. 10ª ed. Rio de Janeiro: DP&A; 2004.15-16, 23-24, 93, 97.

6. Piaget J. Seis Estudos de Psicologia. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária; 1980.

7. Peterson R. Felton-Collins V. Manual Piagetiano para Professores e Pais. Porto Alegre:


Artmed; 2002.14-15, 19.

8. Vygotsky LS. A Formação Social da Mente: O desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes; 2003.

9. Ferreiro E. Teberosky A. Psicogênese da Língua Escrita. 20ª ed. Porto Alegre: Artmed;
1999.291.

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