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Desejo.
Gozo.
“Eu não sou nenhuma Hilda Furacão 3 não, ouviu bem? Estou mais
para Teresa d’Ávila, cujo êxtase foi cantado em prosa e verso, tá.
Enquanto esta, uma grandiloqüente que morre de não morrer pelo
desejo impossível de encontrar-se com Deus, a dama de Belo
Horizonte sofre de um gozo apenas proibido, de uma paixão menor
por um prosaico padre de batina e tudo o mais”. (Os grifos são
meus).
Se o gozo histérico é para além do falo, será que esse sujeito vive no
anseiode um gozo maior? Quem sabe o gozo (in)ex-sistente próprio
do feminino efacultado apenas aos verdadeiros místicos, à
experiência do êxtase místico, comodiz Lacan? Será que podemos
dizer que “a histérica” – algum sujeito histérico –é uma pretensiosa
do tal gozo? Posto que gozar falicamente ele não quer,impossibilitado
de colocar alguma coisa no lugar de coisa alguma, despreza estegozo
que considera insuficiente, embora seja ele – que em algum lugar
Lacanchamou de “gozo idiota” – o gozo possível aos comuns mortais.
Uma vez que não se é místico porque se quer, por se pretender esse
gozo amais e até poder se comprazer com ele – pois ao que parece o
verdadeiro místicoé passivo nesse gozo, submetido a ele, mas se
alegra com isso – o sujeitohistérico continua gozando de insatisfação
e de tristeza, sem poder dizer comoSanta Teresa diz com
convicção: ...“Esta divina prisão/Do amor com queeu vivo/Faz a meu
Deus meu cativo/E livre meu coração/ ...” (Santa Teresade Jesus,
(1977 [1571]:502). (Grifo meu).
Melancolia.
Assim como a insatisfação do sujeito histérico pode ser tomada
comoreveladora da verdade do desejo, isto é, a de ser relegado a um
constantepor-vire o excesso de seu gozo como indicador da verdade
de que o gozopode ser “mais, ainda”, até a morte, também a tristeza
que lhe acomete podeindicar uma outra verdade, a que se refere à
pura e simples dor de existir.
Se esta não é uma fala de angústia, o único afeto que não engana
sobre suacausa, segundo Lacan, é uma fala enganosa e enganada
pelo sentimento de tristezae desilusão. Este, por sua vez, é
compatível com as diferentes estruturasclínicas, como afirma Colette
Soler em seu texto “Um mais de melancolia”. Dizela: ... “a tristeza
depressiva não é a angústia, um afeto-tipo da relação comum real
inassimilável, ela é, ao contrário ‘senti-mente’ que engana sobre
acausa” ... “é um estado do sujeito submetido à flutuação e
compatível com asdiferentes estruturas clínicas” e que ...“diz respeito
à suspensão da causa dodesejo.” (1999 [1997]:102)
Em fim.
Notas:
(4) Gíria comum no Rio de Janeiro. Refere-se ao pau que sustentaa barraca de
praia ou decamping.
_______O Seminário, Livro 20, Mais, Ainda, Rio deJaneiro, Zahar Editores, 1982.