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18 a 21 Setembro de 2007
ISSN: 1678‐352X
primitivo e outro posterior, sendo esta divisão importante para os argumentos dois
autores. Bouvet (2005), no artigo “O ego na neurose obsessiva. Relação de objeto e
mecanismos de defesas” discute a relação do ego e do objeto na neurose obsessiva,
partindo do ponto de regressão da libido para a fase anal. Green com “Analidade
primária na relação anal” (1964), aborda o tema analidade e utiliza como referência a
divisão elaborada por Abraham, assim tenta entender porque o objeto anal seria o ponto
divisório entre a neurose e a psicose.
Abraham (1970) afirma que devido a essa relação de semelhança entre as duas
psicopatologias com a fase sádico-anal, alguns sintomas, característicos da neurose
obsessiva, podem aparecer na melancolia, da mesma forma que sintomas característicos
da melancolia podem aparecer na neurose obsessiva. O autor aponta que é comum
aparecerem casos de melancolia com sintomas obsessivos, assim como também é
comum neuróticos obsessivos apresentarem quadros depressivos.
De acordo com o autor, as semelhanças não ficam apenas nos sintomas, mas atingem
também os períodos de quiescência, chamados “intervalos livres”, que ocorrem entre
dois períodos da doença. Afirma que no intervalo livre da melancolia, sua formação de
caráter coincide inteiramente com a formação de caráter neurótica obsessiva. Nesse
período, segundo o autor, os psicóticos maníaco-depressivos apresentam as mesmas
características do neurótico obsessivo, como por exemplo, a ordem e a limpeza.
Bouvet (2005) retoma dois casos clínicos para demonstrar que a sintomatologia se
encontra muito adulterada e que é possível confundir diferentes psicopatologias. Para
tornar um pouco mais fácil a identificação delas é necessário que o terapeuta esteja
atento às relações objetais do paciente, que então podem expressar a adaptação do
indivíduo ao mundo.
Na terceira e última categorização, além dos autores já mencionamos nas outras duas
categorias temos ainda Parfitt (1999) e Hashimoto (1996). Todos estes autores, ao longo
de seus textos, elucidaram que as diferenças podem ficar claras durante o tratamento,
principalmente em relação à transferência. Hashimoto, em “Transference neurosis,
transference borderline, and transference psychosis” (1996) aponta a coexistência de
transferência neurótica, borderline e psicótica num quadro de neurose obsessiva
compulsiva; e assinala que na psicose é possível observar reações psicóticas,
desestruturantes e delirantes, além da agressividade presente. Isso implica que a
transferência neurótica ficará em segundo plano. Outros autores vão fazer menção à
característica um tanto delirante das idéias obsessivas que tomam conta do pensamento
do obsessivo, como Parfitt, em “Notes on some technical problems in a case of
obsessional neurosis” (1999). Da mesma maneira, encontrarão uma semelhança em
torno da angústia, pois é marcante a angústia psicótica na obsessão. Angústia psicótica
indica que, em ambos os quadros, o sofrimento, a angústia é realmente intensa, por isso
a denominação de angústia psicótica; decorrente dessa angústia, encontramos
intolerância e aversão às mudanças, daí a dificuldade na clínica de lidar com a neurose
obsessiva, mesmo que não seja um psicose.
Telles (1979) no seu o artigo “Mecanismos de defesas na neurose obsessiva: formação
reativa, anulação e isolamento”, afirma que os neuróticos obsessivos têm aversão a
mudanças, e por isso procuram à morte, pois essa é a única forma que pode ser
considerada como algo estável, já que a vida representa constantes mudanças.
ANAIS DO III CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA e IX SEMANA DE PSICOLOGIA 4
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Conclusões
Vimos que grande parte dos autores, depois de Freud, concordam em apontar a presença
de algumas características clássicas da neurose obsessiva e da estrutura psicótica em
ambos os quadros, tais como os rituais e os delírios. Devemos mencionar que Freud já o
havia apontado em “Notas sobre um caso de neurose obsessiva” (1921/1969), no
conhecido caso do “homem dos ratos”, da mesma maneira que em “Observações
psicanalíticas sobre um caso de paranóia (Dementia paranóides)” (1911-1913/1969),
“caso Schreber”.
Em “O homem dos ratos”, Freud se refere a um paciente que já sofria de sintomas
obsessivos desde a infância, mas que estes sintomas aumentaram nos últimos quatro
anos do paciente antes do início da análise. Os principais sintomas apresentados pelo
paciente eram os medos de que algo de muito ruim pudesse acontecer a seu pai ou a
mulher de quem gostava.
Em um determinado momento é possível identificar, através da descrição deste caso, a
presença de delírios no paciente. Isto se mostra, por exemplo, na passagem em que o
paciente parece estabelecer uma outra realidade, característica da psicose, com isso
pudemos retirar a idéia de traços psicóticos em neuróticos obsessivos. A passagem
mencionada está abaixo transcrita:
Abraham (1970) afirma que devido a essa relação de semelhança entre as duas
psicopatologias com a fase sádico-anal, alguns sintomas, característicos da neurose
obsessiva, podem aparecer na melancolia, da mesma forma que sintomas característicos
da melancolia podem aparecer na neurose obsessiva. Mas podemos apontar que
considerar apenas os sintomas dessas duas patologias não seria de grande valia para um
diagnóstico, e que é preciso que os terapeutas tenham cautela para realizá-lo. Trata-se,
antes de considerar outros fatores, sobretudo em torno daquilo que aproxima ambos os
quadros.
Sem dúvida esse estudo tem grandes implicações na clínica, não só em termos de
diagnóstico, mas de tratamento, pois a transferência, que aparece de forma muito mais
intensa na psicose e menos carregada de fantasias que na neurose, permitira, entre
outros elementos, fazer as distinções.
REFERENCIAS
______.(1908). Caráter e erotismo anal. In: Edição Standand Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. vol. IX.
______. (1923-1925). Neurose e psicose. In: Edição Standand Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. vol. XIX.
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GREEN, A. A analidade primária na relação anal. In: Obsessiva neurose. São Paulo:
Escuta Ltda, 2005.