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EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

COMO TRABALHO SOCIAL ÚTIL

José Francisco de Melo Neto1

Resumo:
Este texto é resultado da pesquisa sobre bases ontológicas da extensão, contendo dois outros projetos de
pesquisa: o primeiro está voltado à análise de visão de mundo e da sociedade, além da concepção da
extensão presentes nos seguintes projetos de extensão – Projeto Escola Zé Peão, o Projeto Qualidade de
Vida, Projeto Praia de Campina e Projeto CERESAT (Centro de Referência da Saúde do Trabalhador),
vinculados à área da alfabetização de adultos, à tecnologia, aos movimentos sociais e à saúde (todos
com mais de cinco anos de andamento e vinculados à UFPB); o segundo expressa a análise dos
conceitos de extensão universitária, presentes em atividades de extensão e nos textos institucionais nas
décadas de 80 e 90, no âmbito da Universidade Federal da Paraíba. Os resultados mostram as
diferenciadas concepções de extensão nessas atividades extensionistas e, sobretudo, apontam para uma
perspectiva conceitual bem mais ampla - a extensão como trabalho social útil.

A participação em comissão de seleção de projetos de extensão e de escolha de


alunos para atuarem nesses projetos tem contribuído para a apreensão de vários
conceitos de extensão. Esses conceitos, em sua maioria, fazem parte das acepções
dominantes sobre extensão universitária, em geral, aprisionadas pelas práticas
assistenciais.
Neste trabalho, será apresentado um variado percurso de definições correntes
entre aqueles que realizam práticas extensionistas – estudantes, membros de
comunidades, professores - como aquelas sistematizadas em textos oficiais e
norteadores para a elaboração de projetos em extensão universitária, além da tentativa
de apresentar através da pesquisa nesse campo, uma outra possibilidade de se
compreender e conceituar a extensão universitária.
Uma dessas concepções afirma ser a extensão algo enriquecedor para os
objetivos da universidade. Observa-se nesta compreensão que: primeiro, não são
colocados os objetivos da universidade e, segundo, não se esclarecem o tipo e nem a
forma como ocorre esse enriquecimento, se é monetário, teórico, prático ou outra

1
Professor efetivo do Programa de Pós-Graduação em Educação – Educação Popular, Comunicação e
Cultura, do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, atuando na linha de pesquisa
Fundamentos e Processos em Educação Popular. É coordenador do Grupo de Pesquisa em Extensão
Popular.
2

alternativa. É vista como algo promotora do conhecimento. Uma perspectiva incapaz de


responder às questões: que tipo de conhecimento está sendo promovido? Como está
sendo produzido? Quem está sendo beneficiado com essa promoção? A extensão é
mostrada como expressão do retorno à sociedade daquilo que esta investe na
universidade. Embute-se uma compreensão de troca entre a universidade e a sociedade,
em que aquela precisa devolver a esta tudo que está sendo investido. Essa visão
vislumbra a universidade como devedora da sociedade, fragilizando-a nessa relação ou
expressando, talvez, um desejo de instalação, na universidade, da política do toma-lá-
dá-cá. Há uma definição que mostra a extensão como um meio que liga o ensino e a
pesquisa. Imagina-se que um ente concreto liga os dois outros constituintes: ensino e
pesquisa. Contudo, o ensino e a pesquisa também podem constituir esse ente. Mas, será
necessário que se saiba o significado do meio presente nessa conceituação. Será o meio
um instrumento pelo qual se pode chegar a outras conjecturas sobre extensão? Será um
instrumento através do qual se domina a própria extensão, o ensino ou a pesquisa? Será
o meio o intermediário para se chegar ao ensino e à pesquisa? Precisa-se desse meio?
Extensão também se apresenta como uma forma de corrigir a ausência da
universidade na problemática da sociedade. Terá essa forma um conteúdo? Se houver,
a questão que se estabelece é a apresentação desse conteúdo. Afinal, qual é o conteúdo
dessa forma? Entretanto, a formulação vai mais além: ela considera a universidade
como ausente dos problemas da sociedade. É verdade que ela está ausente de vários
problemas, mas é também verdade que se faz presente em outros tantos. No campo das
ciências sociais cabe perguntar: por que nos cursos de graduação, em geral, não se
estuda “Brasil” ou “América Latina”? Em muitos cursos de medicina não se estudam as
doenças tropicais. Essas mesmas indagações podem ser feitas em relação à pesquisa.
Contudo, a universidade está presente naquelas temáticas em que os setores dominantes
definiram para que sejam submetidas aos projetos de extensão, às atividades de ensino e
à pesquisa. Os órgãos financiadores estão, permanentemente, definindo as temáticas
para o ensino, pesquisa e extensão.
Durante a realização do XIII Fórum de Pró-Reitores de Extensão das
Universidades Públicas do Nordeste, a extensão foi considerada “um nascedouro e
desaguadouro da atividade acadêmica, da qual a pesquisa seria o desenvolvimento das
respostas, e o ensino o envolvimento dos estudantes em todas as etapas desse
3

processo2...”. Ao considerar a extensão como nascedouro e desaguadouro de atividades,


esta visão, simplesmente, a elege como a origem e o fim das atividades acadêmicas.
Parece muito mais um procedimento idealizado quando se destina esse papel à extensão.
Há de se perguntar: A origem da problemática da pesquisa não passa pela realidade
circundante do pesquisador? Será obra de mera idéia gerada de sua genialidade ou de
circunstancial inspiração? O ensino envolvido pela perspectiva apresentada não poderia
ter origem a partir de elementos da realidade? De que forma a extensão propõe-se a ser
nascedouro e desaguadouro de toda e qualquer atividade acadêmica? Essa formulação
inspira Pró-Reitores a veicularem a compreensão de extensão como a porta na qual os
clientes e usuários têm de bater, quando necessitados. Dessa forma, materializa-se a
extensão, extraindo-lhe o véu metafísico que a envolvia, tornando-a um ente concreto.
Todavia, a presença de uma porta pressupõe a existência de uma separação, sendo esta o
divisor entre o dentro e o fora. Pressupõe-se, em decorrência das formulações, até então
apresentadas, que a universidade deva estar do lado de dentro e, o algo do lado de fora
deve ser a sociedade ou vice-versa. Mais uma vez, se isto é verdade, mantém-se o
mesmo viés da visão na qual a universidade constitui-se como uma instituição
descolada da sociedade, como se não fosse uma organização sua. Em grande medida, a
extensão vai sendo veiculada como prestação de serviços. Ora se torna estágio, quando
atrelada a programas de governo; ora se torna uma forma de captar recursos; ora por
meio dela, busca-se estudar problemas da realidade. O mais curioso é que a extensão,
muitas vezes, é considerada como uma espécie de sobra na universidade, podendo ser
tudo aquilo que não se identifique como atividade de ensino ou de pesquisa. Para Rocha
(l980), essas expressões são equivocadas para a compreensão da extensão. Para ele, é
melhor pensar a extensão por meio da comunicação, considerando essa comunicação na
perspectiva freireana, em que a sua sustentação decorre do processo dialógico. Contudo,
admitida a existência do diálogo, é preciso, porém, perguntar com quem o diálogo se
faz? Será que não permanece, nessa formulação, a divisão entre a sociedade e a
universidade, mesmo que ambas possam existir, distanciando-se e se aproximando
como resultado desse diálogo? Como se dá esse diálogo comunicativo? Existe uma ação
comunicativa habermasiana nessa compreensão, onde a busca principal constitui-se no
consenso como mecanismo último da organização da sociedade? Esse diálogo proposto

2
Conceito apresentado no XIII Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas do
Nordeste. Natal/RN, l995.
4

como estratégia para a convivência social suportará a coexistência consensual em uma


sociedade de classes?
Pode-se ainda resgatar a formulação de extensão universitária produzida pelo I
Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão de Universidades Públicas. Nele foram
apresentados vários aspectos determinantes para uma compreensão da extensão
universitária e que merecem destaque, como por exemplo: a extensão constitui-se como
processo educativo, cultural e científico. Parece interessante ter como ponto de partida,
a visão de processo para análise e definição do que seja extensão. O Fórum caracterizou
esse processo como via de mão dupla. Aí, pode-se questionar o uso da idéia de via,
considerando que essa simbologia cai também na dificuldade de compreensão da
existência da instituição universitária como integrada à sociedade. Essa via de mão
dupla da extensão teria o papel de manter a interligação entre ambas. Esse movimento
de vai-e-vem, na formulação do Fórum, viabilizaria a democratização do conhecimento
acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade, ou seja,
no buscar e levar conhecimento. Ora, será que a democratização do conhecimento,
mesmo aquele acadêmico, resolve-se pela extensão através da perspectiva de mão
dupla? Sabe-se que a questão da democratização do conhecimento envolverá a produção
e a posse dos resultados, constituindo-se dessa forma, numa questão muito mais
abrangente e complexa.
O conceito de extensão não pode assentar-se como via de mão única,
considerando a presença autoritária, aí implícita, do fazer acadêmico, onde a
universidade sabe e vai levar algum conhecimento àqueles que nada sabem: as
comunidades ou a classe trabalhadora. Também, a concepção de extensão como via de
mão dupla separa o processo educativo da própria educação, o processo cultural da
produção da cultura, bem como o processo científico da própria ciência. Pode-se
questionar: Quais os interesses que se manifestam nessa realização? Será a extensão
algo ideal, capaz de viabilizar uma relação transformadora, como propõe aquele
conceito? Em uma via de mão dupla, há um momento de tensão nesse passar de algo
que vem em uma mão, pelo algo que vem em sentido contrário. Será esse o momento da
extensão? Mas de que se constitui esse momento? Em geral, as ultrapassagens no
mundo físico, seguindo a simbologia das vias apresentadas, são muito rápidas. Extensão
será apenas um rápido momento ou buscar-se-á a sua permanência, considerando a idéia
de processo? Talvez, visualize-se uma mão que segura outra. Essa simbologia já fora
bastante utilizada, na década de 60, sobretudo, nos tempos da Aliança para o Progresso,
5

prestando-se para a ideologia do desenvolvimento da época. Essa simbologia parece


conduzir, por conseguinte, à monotonia e à estabilidade e, naquele caso, à dominação.
As mãos tinham expressão diferenciada de força. Assim, essas situações não combinam
com o conceito de processo, que é dinâmico. Extensão será expressão de monotonia?
Esta compreensão de extensão, como via de mão dupla, pode destacar, ainda, um
retorno dos conhecimentos para a universidade, como se aí estivesse o único espaço
para a reflexão teórica. Não se estará gerando uma dicotomia, inclusive espacial, da
condição de reflexão teórica, ao transladá-la para o espaço da universidade? Pode até se
perguntar: Será a universidade o lugar, por excelência, para a reflexão teórica? Não
seria esse espaço o próprio lócus de realização das atividades de extensão? Na
compreensão da extensão como via de mão dupla afirma-se que a produção de
conhecimento é resultante do confronto com a realidade, seja brasileira, regional ...
Enfim, do confronto com a realidade. Não será uma redução dos diferenciados
processos de geração do conhecimento?
Contudo, na perspectiva conceitual do Fórum, convém retomar a idéia de que
“... extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integradora social”
(BRASIL/MEC, l987: 1). Esta é uma formulação que avança no campo teórico,
trazendo à categoria trabalho, como uma preocupação conceitual. Mas, o trabalho
presente na realização das atividades de extensão pode, perfeitamente, servir para
integrar pessoas à sociedade. Portanto, a extensão terá um papel integrador da
sociedade, tornando-se esse instrumento. Ao que se apresenta, esse tipo de trabalho não
condiz com o tipo de sociedade que interessa aos setores subalternos da sociedade.
Como integrar pessoas em sociedades que permanentemente lhes excluem? Mas, a
categoria teórica trabalho pode ser utilizada para se discutir um conceito de extensão
voltado a um trabalho distante de qualquer perspectiva de integração social e definido
pela busca de outras possibilidades de vida, da construção de outro processo cultural.
Extensão pode ir além de um trabalho como o proposto pelo conceito do I Fórum de
Pró-Reitores. Esse trabalho tem uma dimensão educativa e precisa ser “qualificado”. É
uma qualificação dirigida para a própria universidade, enquanto seja possível observá-la
em outra perspectiva. Dessa forma, é que extensão também é entendida como
responsável por um “trabalho para fazer com que os alunos assimilem um
conhecimento através da inserção na realidade em que estão vivendo e que esses
6

conhecimentos digam alguma coisa para o nosso momento atual” 3. Esta mesma visão
concebe a universidade como a responsável por um trabalho que possibilite o exercício
da função de “ligar o ensino e a pesquisa com a realidade”.
A extensão é vista como tendo a missão de fazer a universidade sair dos seus
muros. Elabora problemas existentes a partir da discussão da realidade em que está
inserindo-se e vivenciando. Extensão como uma busca não só de explicações teóricas,
mas, também, de respostas àquelas necessidades imediatas de setores da sociedade.
Nesse sentido, a extensão torna-se “um trabalho; um trabalho que não tem um tempo
definido mas está dentro de uma perspectiva de trabalho permanente, trabalho
continuado”4. Apresenta-se, dessa maneira, uma possibilidade diferenciadora daquelas,
até então apresentadas, enquanto que também qualifica o tipo de trabalho que está sendo
desenvolvido nos projetos de extensão em andamento. Essas atividades, para muitos,
passam a se constituir como sendo a própria extensão e, marcadamente, identificando-as
como um trabalho. “Penso extensão como o trabalho a partir daquilo que a gente faz.
Acho que é a partir daquilo que cada grupo faz que, na verdade, vai se constituindo o
que a gente chama de extensão-universidade5 ” .
Veicula-se, em alguns projetos de extensão, uma perspectiva de extensão gerada
a partir das atividades em desenvolvimento e sem estar prisioneira de qualquer
formulação idealista. O ponto de partida dessa perspectiva é a realidade concreta ou o
concreto real que, submetido à análise da teoria, da abstração, vai vislumbrando outras
possibilidades ideológicas da extensão. “Extensão como trabalho que envolva pesquisa
e um trabalho que tenha uma finalidade social bastante definida”6.
Conforme os dados coletados da pesquisa no âmbito do Projeto CERESAT
(Centro de Referência da Saúde do Trabalhador), dentre os aspectos variados de
interesse da pesquisa, observe-se a dimensão referente à concepção de extensão que
inspira aquele projeto e que alimenta a continuação do debate sobre a questão
conceitual.

3
Membro da equipe da PRAC/UFPB. Texto da entrevista para esta pesquisa.
4
Membro da equipe de projeto CERESAT. Texto da entrevista para esta pesquisa.
5
Membro da equipe do projeto CERESAT. Texto da entrevista para esta pesquisa.
6
Membro da direção da universidade. Texto da entrevista para esta pesquisa.
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TABELA 1

PROJETO CERESAT

DISTRIBUIÇÃO DOS TEMAS E ITENS, POR SEGMENTO 7

TEMAS ITENS A% B% C% D% Fi % itens Fgi % tema

1.1 - Visão que privilegia o mercado 07 06 09 09 136 07


I - Concepção de mundo 1.2 - Visão integradora (inst. pessoa) aperfeiçoando a soc. 06 02 02 01 36 02 1840 26
1.3 - Visão transformadora 87 92 89 91 1668 91
2.1 - Conjunto de instituições independentes 04 02 01 03 43 02
II - Concepção de sociedade 2.2 - Totalidade integrada 01 04 03 01 43 02 1799 25
2.3 - Modo de produção 95 94 96 96 1713 96
3.1 - Estado árbitro: acima das classes/auton. Absoluta 22 14 67 00 06 19
III - Concepção de Estado 3.2 - Est. instrumento: inst. manip. pela classe dominante 33 50 00 100 16 50 32 01
3.3 - Estado ampliado: ( contradições de classe ) 45 36 33 00 10 41
4.1 - Interesses voltados a indivíduos 00 03 00 07 11 02
IV - Configuração dos interesses sociais 4.2 - Interesses voltados a grupos 57 21 10 68 155 26 591 08
4.3 - Interesses voltados à classe dominada 43 76 90 35 425 72
V - Concepção de prática social 5.1 - Interesses voltados a indivíduos 02 05 03 06 19 04 442 06
5.2 - Processo em consonância com classes dominadas 98 95 97 94 423 96
6.1 - Instituição do saber com vida independente 38 65 58 31 41 55
VI - Relação universidade-sociedade 6.2 - Instituição voltada ao mundo empresarial 00 11 33 56 17 23 74 02
6.3 - Instituição como aparelho de conflito ideológico 62 24 09 13 16 22
7.1 - Via de mão única 61 29 66 62 167 48
VII – Concepção de extensão universitária 7.2 - Via de mão dupla 06 08 00 01 17 05 349 05
7.3 - Trabalho social ( construção de nova hegemonia ) 33 63 34 37 16 47
8.1 - Trabalho técnico com discurso modernizador 00 02 00 04 23 02
VIII - Natureza do trabalho social na extensão 8.2 - Trabalho técnico com discurso de neutralidade 09 06 08 09 89 08 1175 17
8.3 - Trabalho técnico com discurso transformador 91 92 92 87 1063 92
9.1 - Agente de interesses do mercado ( capital ) 14 64 36 55 85 54
IX - Papel do agente institucional 9.2 - Agente neutro da instituição 28 01 41 14 21 13 157 02
9.3 - Agente comprometido com as classes dominadas 58 35 23 31 51 33
X – Pedagogia da extensão universitária 0.1 - Pedagogia tradicional 00 00 00 00 00 00 549 08
0.2 - Pedagogia crítica e transformadora 100 100 100 100 549 100

A - Entrevista com coordenadores C - Entrevista com comunitários Fi - Freqüência de indicadores


B - Entrevista com executores D - Documentos dos projetos Fgi - Freqüência geral dos
indicadores

O tema VII da tabela está voltado à compreensão de extensão, veiculada pelos


participantes das atividades nesse projeto. A concepção da extensão universitária foi
sintetizada a partir de três visões que, normalmente, se apresentam no debate na
universidade. A primeira é a via de mão única que, de forma mais caracterizada,

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Esta tabela mostra a composição interna dos temas com seus itens, a freqüência dos indicadores por item
e seus percentuais considerados separadamente nos documentos e nas entrevistas - estas distribuídas em
entrevistas com os coordenadores, os executores e os membros da comunidade alcançada pelo projeto.
Mostra ainda a freqüência geral dos indicadores de cada tema, bem como o percentual desse tema no
conjunto do projeto.
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expressa a universidade como uma instituição independente, e que cabe a ela passar
para a sociedade os resultados de alguns dos seus trabalhos. Concretizam esta
perspectiva a prestação de serviços, a promoção de cursos e eventos, a assistência, a
venda de serviços, o treinamento de indivíduos da sociedade, a realização de estágios,
cursinhos preparatórios para programas de pós-graduação, enfim. A universidade
levando benefícios à sociedade. Uma outra visão é apresentada através da simbologia da
mão dupla em que a extensão pode ser compreendida como um processo educativo,
cultural e científico. Esta concepção privilegia o aspecto de que a universidade leva
conhecimento à comunidade, como também traz conhecimento da sociedade para a
instituição. A universidade e a sociedade são aí, concebidas como agindo de mãos
dadas, procurando, também, atender às demandas sociais em forma de troca de algo
com a sociedade e tendo desta a sua contrapartida. Uma terceira concepção que começa
a projetar-se nesses projetos de extensão é a extensão como um trabalho social com uma
utilidade definida. Esta concepção estaria sendo demarcada por indicadores que
mostram certo tipo de trabalho em desenvolvimento entre universidade e sociedade, não
como entes separados, mas em relação permanente entre si e que nem, por isso,
identificam-se, pois se diferenciam. O sentido que se propõe é de um trabalho social útil
como processo educativo, cultural e científico, porém voltado à construção de uma nova
hegemonia. O trabalho aqui, aparece configurado com a própria classe subalterna,
especialmente dirigido à organização dos seus diferentes setores. De acordo com esse
entendimento, a universidade e a comunidade devem ser as possuidoras do produto
desse trabalho. Um trabalho que carece da presença da crítica como ferramenta nas
atividades que o constituem. Esse conceito traz, em si, a dimensão de superação do
senso comum ao expor e explicar os elementos da realidade. Elementos que são gerados
a partir de formulações abstratas, sim, mas tendo na realidade, no mundo concreto, a
anterioridade de suas bases analíticas. Nesse movimento de análise da realidade, um
segundo movimento tem continuidade no campo das abstrações, em busca de elementos
mais ainda abstratos, permeados, entretanto, pelo concreto inicial e, finalmente, através
dos recursos expostos por essas abstrações, seja possível criar um novo concreto,
permeado das abstrações anteriores, enfim, um concreto, agora, cheio de pensamento.
Este movimento de produção de conhecimento também expressa outro
instrumental teórico de produção de bens culturais e de outro processo cultural. Esse
percurso metodológico estabelece-se pela constante crítica dessa produção e do produto
gerado, tornando-se também propositivo. Busca a superação das dimensões do
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estabelecido, considerando, por exemplo, que “as relações de classe não são
espontaneamente transparentes ao nível da experiência ‘imediata’, da experiência
‘vivida’ - aquela experiência que é simplesmente um reflexo sobre a vida cotidiana”
(Przeworski, 1989:122). Para o conhecimento dessas relações, torna-se necessário o
exame da crítica. Este possibilita ir além da experiência vivida pelas equipes e
comunitários, superando esse reflexo primeiro da experiência. A crítica é necessária,
pois perscruta essas relações, assumindo seu papel transformador.
Os dados revelam que neste projeto, 47% apontam para uma percepção da
extensão como trabalho social. Mas, com relação aos executores do projeto, 63% das
opções do tema concentram-se no entendimento de extensão muito mais em termos da
possibilidade de torná-la um trabalho social. Observa-se, contudo, que entre os
coordenadores do projeto existe uma sintonia dessa visão de extensão com as
percepções da visão transformadora do mundo, presente em um modo de produção
determinado e um Estado expresso através de possibilidades de sua ampliação
decorrente das contradições de classe. É uma relação universidade e sociedade
permeada dos conflitos ideológicos dessas classes.
Observa-se, agora, como as preocupações conceituais manifestam-se no Projeto
Escola Zé Peão, projeto voltado a alunos adultos e trabalhadores em canteiros de obras
em João Pessoa.
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TABELA 2
PROJETO ESCOLA ZÉ PEÃO
DISTRIBUIÇÃO DOS TEMAS E ITENS, POR SEGMENTO

TEMAS ITENS A% B% C% D% Fi % itens Fgi % tema

1.1 – Visão que privilegia o mercado 13 09 07 24 183 11


I - Concepção de mundo 1.2 - Visão integradora (inst. pessoa) aperfeiçoando a soc. 01 01 01 01 08 01 1631 26
1.3 – Visão transformadora 86 90 92 75 1420 88
2.1 - Conjunto de instituições independentes 06 06 04 01 61 04
II - Concepção de sociedade 2.2 - Totalidade integrada 01 01 03 01 37 02 1684 27
2.3 – Modo de produção 93 93 93 98 1586 94
3.1 - Estado árbitro: acima das classes/auton. Absoluta 83 20 00 60 12 33
III - Concepção de Estado 3.2 - Est. instrumento: inst. manip. pela classe dominante 17 80 100 40 25 67 37 01
3.3 – Estado ampliado: ( contradições de classe ) 00 00 00 00 00 00
4.1 - Interesses voltados a indivíduos 00 01 00 00 01 00
IV - Configuração dos interesses sociais 4.2 - Interesses voltados a grupos 37 17 20 49 207 29 716 11
4.3 - Interesses voltados à classe dominada 63 82 80 51 508 71
V - Concepção de prática social 5.1 - Interesses voltados a indivíduos 11 01 02 07 08 02 441 07
5.2 - Processo em consonância com classes dominadas 89 99 98 93 433 98
6.1 - Instituição do saber com vida independente 41 57 74 55 79 60
VI - Relação universidade-sociedade 6.2 - Instituição voltada ao mundo empresarial 12 25 13 25 23 17 133 02
6.3 - Instituição como aparelho de conflito ideológico 47 18 13 20 31 23
7.1 - Via de mão única 35 35 84 24 92 43
VII – Concepção de extensão universitária 7.2 - Via de mão dupla 07 04 02 06 10 05 212 04
7.3 - Trabalho social ( construção de nova hegemonia ) 58 61 14 80 110 52
8.1 - Trabalho técnico com discurso modernizador 02 03 01 01 08 01
VIII - Natureza do trabalho social na extensão 8.2 - Trabalho técnico com discurso de neutralidade 27 09 07 03 58 08 746 12
8.3 - Trabalho técnico com discurso transformador 71 88 92 96 680 91
9.1 - Agente dos interesses do mercado ( capital ) 38 30 17 52 48 28
IX - Papel do agente institucional 9.2 - Agente neutro da instituição 27 00 04 03 12 07 170 03
9.3 – Agente comprometido com as classes dominadas 35 70 79 45 110 65
X - Pedagogia da extensão universitária 0.1 - Pedagogia tradicional 00 00 00 00 00 00 461 07
0.2 - Pedagogia crítica e transformadora 100 100 100 100 100 100

A - Entrevista com coordenadores C - Entrevista com comunitários Fi - Freqüência de indicadores


B - Entrevista com executores D - Documentos dos projetos Fgi - Freqüência geral dos
indicadores

Com o trabalho que se desenvolve neste projeto, pouco a pouco, consolida-se


uma concepção onde predomina a visão da sociedade como um modo de produção,
sendo definido a partir de uma base material. Todos os setores do projeto apresentam
proximidade na concepção e quase coincidência no percentual. Uma média dos itens de
94% (2.3) expressa tal aproximação de visão de sociedade e visão de mundo. É uma
concepção veiculada após o aprendizado do trabalho educativo de organização num
bairro ou num sindicato, com todas as suas possibilidades e limitações.
A contradição surge ao se observar a relação da universidade com a sociedade,
quando a essa é vista como uma instituição do saber com vida independente. Nesse
aspecto, registra-se um percentual de 41% (6.1) entre os coordenadores, percentual que
11

cresce entre os executores do programa para 57% (6.2) e é ainda maior entre os
trabalhadores, com 74% (6.3). Chega-se a uma média de 60% (6.1) da visão da
universidade tida como fechada para a sociedade. Trata-se de uma visão na qual a
universidade permanece encastelada em seu próprio mundo e forma indivíduos
comprometidos, basicamente com a ideologia das elites, ou seja, uma instituição que
vem exercendo o papel de treinadora, recicladora de pessoas, em geral das classes
dominantes.
Convém destacar sobre concepções de extensão, a terceira possibilidade, ainda
em construção, que é a visão de que extensão universitária pode ser entendida como um
trabalho social útil e, necessariamente, será um processo educativo, cultural e
científico. São expressivos, contudo, os resultados do item 7.3 entre os coordenadores e
executores e nos documentos produzidos pelo projeto, com percentuais de 58%, 61% e
80%, respectivamente.
Concebe-se como um trabalho realizado junto à comunidade pela universidade
ou seus agentes (estudantes e professores), rompendo a dicotomia existente entre os
pólos dessa relação. É uma perspectiva onde o trabalho configura-se numa dimensão de
continuidade e de permanência, em processos de realimentação, valorizando a prática e
a reflexão sobre essa prática. Esta concepção de extensão torna viável o fazer ensino
entre aqueles adultos que se alfabetizam, a pesquisa sobre metodologias e os próprios
conteúdos dessas atividades extensionistas.
Uma perspectiva que também é seguida, ao se analisar o projeto de extensão no
Vale do Rio Mamanguape, na região canavieira da Paraíba. Vejam-se os dados
presentes na concepção de extensão daqueles que atuam nesse projeto.
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TABELA 3
PROJETO PRAIA DE CAMPINA
DISTRIBUIÇÃO DOS TEMAS E ITENS, POR SEGMENTO

TEMAS ITENS A% B% C% D% Fi % itens Fgi % tema

1.1 - Visão que privilegia o mercado 15 15 19 10 92 16


I - Concepção de mundo 1.2 - Visão integradora (inst. pessoa) aperfeiçoando a soc. 04 04 09 10 33 06 567 16
1.3 - Visão transformadora 81 81 72 80 442 78
2.1 - Conjunto de instituições independentes 02 01 -- -- 08 01
II - Concepção de sociedade 2.2 - Totalidade integrada 52 59 37 17 455 47 979 28
2.3 - Modo de produção 46 40 63 83 516 52
3.1 - Estado árbitro: acima das classes/auton. Absoluta -- -- 75 50 04 36
III - Concepção de Estado 3.2 - Est. instrumento: inst. manip. pela classe dominante 66 100 25 -- 05 46 11 01
3.3 - Estado ampliado: (contradições de classe) 34 -- -- 50 02 18
4.1 - Interesses voltados a indivíduos -- 05 01 -- 03 01
IV - Configuração dos interesses sociais 4.2 - Interesses voltados a grupos 39 32 07 20 47 16 303 08
4.3 - Interesses voltados à classe dominada 61 63 92 80 253 83
V - Concepção de prática social 5.1 - Interesses voltados a indivíduos 12 -- -- -- 04 02 185 05
5.2 - Processo em consonância com classes dominadas 88 100 100 100 181 98
6.1 - Instituição do saber com vida independente 55 82 65 -- 68 69
VI - Relação universidade-sociedade 6.2 - Instituição voltada ao mundo empresarial 21 09 31 50 18 18 99 03
6.3 - Instituição como aparelho de conflito ideológico 24 09 04 50 13 13
7.1 - Via de mão única 25 63 68 95 73 60
VII - Concepção de extensão universitária 7.2 - Via de mão dupla 28 24 13 -- 24 19 135 04
7.3 - Trabalho social (construção de nova hegemonia) 47 13 19 05 25 21
8.1 - Trabalho técnico com discurso modernizador 01 01 -- -- 03 01
VIII - Natureza do trabalho social na extensão 8.2 - Trabalho técnico com discurso de neutralidade 58 63 29 11 361 50 724 21
8.3 - Trabalho técnico com discurso transformador 41 36 71 89 360 49
9.1 - Agente dos interesses do mercado (capital) 42 64 -- 100 23 50
IX - Papel do agente institucional 9.2 - Agente neutro da instituição 29 04 -- -- 05 10 46 02
9.3 - Agente comprometido com as classes dominadas 29 32 100 -- 18 40
X - Pedagogia da extensão universitária 0.1 - Pedagogia tradicional 01 -- -- -- 01 01 408 12
0.2 - Pedagogia crítica e transformadora 99 100 100 100 389 99

A - Entrevista com coordenadores C - Entrevista com comunitários Fi - Freqüência de indicadores


B - Entrevista com executores D - Documentos dos projetos Fgi - Freqüência geral dos
indicadores

Destaca-se, aqui, a terceira possibilidade que se manifesta em 47% (7.3) a


extensão como um processo educativo, cultural e científico, assumido a partir da
posição das classes subalternas, buscando contribuir para a construção de uma outra
hegemonia. Nesse sentido, a extensão é um trabalho social útil a serviço das classes
subalternas. O processo que se estabelece, por conta dessa concepção, envolve a
universidade e a sociedade, propondo uma relação efetiva entre elas a partir da sua clara
diferenciação, considerando as suas especificidades. O conhecimento, aí gerado, é
produção coletiva e deve estar voltado ao trabalho acadêmico universitário e à
organização coletiva das classes dominadas. Trata-se de um trabalho que pretende
apropriar-se do saber da universidade e do saber dessas classes, dessas populações ou
comunidades, para, num processo de reflexão e reelaboração, possibilitar nova
13

apropriação desse saber. Um trabalho útil que, segundo o depoimento de um dos


entrevistados, serve para “organizar o homem do campo e fazer com que ele se
valorize com o seu pequeno pedaço de terra”.
Mesmo em projetos de extensão voltados à tecnologia, também apresentam a
perspectiva da extensão como trabalho social útil.

TABELA 4
PROJETO QUALIDADE DE VIDA
DISTRIBUIÇÃO DOS TEMAS E ITENS, POR SEGMENTO

TEMAS ITENS A% B% C% D% Fi % itens Fgi % tema

1.1 - Visão que privilegia o mercado 53 58 --- --- 107 55


I - Concepção de mundo 1.2 - Visão integradora (inst. pessoa) aperfeiçoando a soc. 10 01 --- --- 13 07 195 28
1.3 - Visão transformadora 37 41 --- --- 75 38
2.1 - Conjunto de instituições independentes 15 05 --- --- 19 11
II - Concepção de sociedade 2.2 - Totalidade integrada 48 75 --- --- 101 58 174 25
2.3 - Modo de produção 37 20 --- --- 54 31
3.1 - Estado árbitro: acima das classes/auton. absoluta 75 00 --- --- 03 60
III - Concepção de Estado 3.2 - Est. instrumento: inst. manip. pela classe dominante 00 00 --- --- 00 00 05 01
3.3 - Estado ampliado: (contradições de classe) 25 100 --- --- 02 40
4.1 - Interesses voltados a indivíduos 00 00 --- --- 00 00
IV - Configuração dos interesses sociais 4.2 - Interesses voltados a grupos 69 00 --- --- 11 55 20 03
4.3 - Interesses voltados à classe dominada 31 100 --- --- 09 45
V – Concepção de prática social 5.1 - Interesses voltados a indivíduos 09 10 --- --- 02 10 21
5.2 - Processo em consonância com classes dominadas 91 90 --- --- 19 90 03
6.1 - Instituição do saber com vida independente 84 76 --- --- 44 83
VI - Relação universidade-sociedade 6.2 - Instituição voltada ao mundo empresarial 16 12 --- --- 08 15 53 08
6.3 - Instituição como aparelho de conflito ideológico 00 12 --- --- 01 02
VII - Concepção de extensão universitária 7.1 - Via de mão única 69 83 --- --- 30 73
7.2 - Via de mão dupla 14 17 --- --- 06 15 41 06
7.3 - Trabalho social (construção de nova hegemonia) 17 00 --- --- 05 12
8.1 - Trabalho técnico com discurso modernizador 09 16 --- --- 15 12
VIII - Natureza do trabalho social na extensão 8.2 - Trabalho técnico com discurso de neutralidade 74 72 --- --- 91 73 124 17
8.3 - Trabalho técnico com discurso transformador 17 12 --- --- 18 15
9.1 - Agente dos interesses de mercado (capital) 12 27 --- --- 04 21
IX - Papel do agente institucional 9.2 - Agente neutro da instituição 50 09 --- --- 05 26 19 03
9.3 - Agente comprometido com as classes dominadas 38 64 --- --- 10 53
X – Pedagogia da extensão universitária 0.1 - Pedagogia tradicional 00 07 --- --- 02 05 45 06
0.2 - Pedagogia crítica e transformadora 100 93 --- --- 43 95

A - Entrevista com coordenadores C - Entrevista com comunitários Fi - Freqüência de indicadores


B - Entrevista com executores D - Documentos dos projetos Fgi - Freqüência geral dos
indicadores

Mais uma vez, vale destacar os dados sobre extensão universitária, ao se


observar a Tabela 4, referente ao tema VII - Distribuição dos itens do tema VII -, por
segmento. A presença da visão de extensão como via de mão única está representada
entre coordenadores e executores com percentuais de 69% e 83%, respectivamente.
14

“É justamente aí onde eu vejo essa parte da extensão. Eu vejo como um


trabalho da universidade, justamente com a sociedade, com o objetivo de quê?
De assessorar essa comunidade, transmitindo conhecimentos que ela não
adquiriu. A gente está na universidade, tem esse conhecimento que precisa ser
repassado para a sociedade”8.

Mas a visão da extensão como uma possibilidade de trabalho social útil aparece,
entre os coordenadores, com um percentual de 17%. É um percentual expressivo,
considerando o fato de que esse tema revela-se com 6% no conjunto dos temas do
projeto, enquanto que este mesmo item projeta um percentual de 12% entre os demais
itens.
Esse direcionamento conceitual – extensão como trabalho social útil - é
manifestado ao nível dos projetos analisados9. Destaque-se que os indicadores, em torno
desta perspectiva, apresentaram percentuais elevados nos projetos CERESAT e Escola
Zé Peão, particularmente entre os executores, com percentuais de 63% e 61%,
respectivamente. Entre os coordenadores do Projeto Praia de Campina, atinge-se o
percentual de 47% e entre os executores, 13%. No Projeto Qualidade de Vida, essa
concepção expressa-se entre os coordenadores com 13%, considerado também um
índice representativo.
Sendo trabalho social e útil, a efetivação da extensão gera um produto que
transforma a natureza, na medida em que cria cultura. É um trabalho imbuído da sua
dimensão educativa. O produto desse trabalho, todavia, passa a pertencer tanto às
equipes dos projetos de extensão, à universidade, quanto à própria comunidade ou aos
grupos comunitários, para aplicação na organização de seus movimentos.
Essa dimensão da extensão possibilita a superação da alienação gerada pela não
posse do produto do trabalho por parte de seus produtores, no modo de produção
capitalista. Todos os produtores devem apropriar-se desse produto do trabalho, que é o
saber.
Esse trabalho caracteriza-se como um espaço de atuação de todos os que buscam
a organização de seus grupos, de sua comunidade ou de sua classe. Um espaço onde
existem processos de realimentação dos conhecimentos, que estão sendo produzidos, e

8
Estudante e membro da equipe do Projeto Qualidade de Vida. Texto da entrevista para esta pesquisa.
9 A pesquisa analisou dez temas, entre eles a concepção de extensão presente nos projetos, buscando os
indicadores para a concepção de extensão como via de mão única, via de mão dupla e trabalho social,
destacando a visão dos coordenadores, dos executores e de membros da comunidade.
15

outros que são gerados a partir desses últimos. Esse trabalho deve expressar,
necessariamente, uma relação íntima entre a teoria e a prática social em
desenvolvimento.
Nessa perspectiva de extensão, observem-se os resultados do segundo projeto de
pesquisa que mostram dados convidativos para manter-se a busca da reconceituação da
extensão, a partir de experiências em desenvolvimento no cenário das práticas
extensionistas.

TABELA 5
10
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COMO TRABALHO SOCIAL ÚTIL

INDICADORES DÉCADA DE 80 DÉCADA DE 90

Concepção de extensão como via de mão única. 68,92% 51,93%

Concepção de extensão como via de mão dupla. 11,33% 25,95%

Surgimento da extensão como trabalho social útil. 19,75% 21,97%

Fonte: Dados do relatório de Sílvio Carlos Fernandes da Silva, da pesquisa Extensão Universitária como
Trabalho Social, que também analisou a concepção de extensão nas décadas de 80 e 90, aqui
destacadas, presentes em atividades extensionistas, na Universidade Federal da Paraíba.

Há um expressivo decréscimo percentual da presença dos indicadores de mão


única nas décadas de 80 e 90. Um crescimento da visão de extensão como mão dupla,
expressando a aplicação do conceito de extensão, na visão do Fórum, presentes nos
10
Pesquisa desenvolvida no período de maio de 1998 a setembro de 2000, pelos alunos/as Sílvio Carlos
Fernandes da Silva, Karla Lucena de Souza, Izabel Marinho da Costa e Andréa Tavares A. Magalhães,
como bolsistas do PIBIC/CNPQ/UFPB, sendo coordenada pelo Prof. Dr. José Francisco de Melo Neto.
A pesquisa analisou, além de outros aspectos das atividades extensionistas, as concepções de extensão
presentes nessas atividades, na Universidade Federal da Paraíba, nas décadas de 80 e 90. Seguiu
também o mesmo itinerário metodológico dos projetos já apresentados.
16

projetos dessas décadas, e o aparecimento da perspectiva de reconceituação da extensão


como um trabalho social útil, em vários projetos e atividades, com percentuais de
19,75% na década de 80 para 21,97% na década de 90.
A partir dos dados apresentados dessas pesquisas uma questão impõe-se: Que
dimensões deve ter o trabalho, tornando-o um fundamento filosófico da extensão?
Na busca de resposta à questão, convém salientar que o trabalho, como
dimensão filosófica e educativa, pertence a instâncias fundamentais na vida da
sociedade. É pelo trabalho que o ser humano assegura as condições materiais de sua
subsistência. Pela educação, em seu sentido mais amplo, garante-se a preservação dos
conhecimentos do passado, que são transmitidos às novas gerações, num processo de
acumulação de conhecimentos, essencial à qualidade de vida material e espiritual da
humanidade, mantendo a sobrevivência da espécie. O trabalho torna-se, portanto, fator
de criatividade do humano.
Essa perspectiva natural do trabalho foi apresentada por Marx (1983:149)
considerando-o como uma relação do homem com a natureza. Contudo, desde o início,
ele apresenta o trabalho como um processo.

“Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em


que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a
natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele
põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços e
pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para
sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento sobre a natureza externa a ele e
ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza”.

Mas o homem, diferentemente dos outros animais que se guiam pelo instinto,
atua sobre a natureza de forma diferenciada, modificando-a e modificando também a si
mesmo. É essa capacidade que o distingue dos demais animais, ao superar a condição de
animalidade de sua espécie.
A partir das análises realizadas nesses projetos de extensão, o trabalho vem
apresentando-se, ainda de forma pouca expressiva, mas que já surgem dados que
apontam para esta perspectiva conceitual. No desenvolvimento das atividades
extensionistas em que o humano defronta-se com a natureza, também realiza, a partir
dela própria, uma síntese do particular com o universal. É o trabalho que possibilita o
significado da ação social, suas limitações, suas possibilidades e conseqüências, sem
nenhum recurso metafísico. Mesmo sendo um ponto de partida, é sobre essa base
natural do trabalho que se elevam as relações sociais da espécie humana. O trabalho
17

torna-se uma relação social já a partir da relação estabelecida com a natureza, indicando
nas relações de produção, também expressas nas atividades de extensão, o caráter
social, indissociável, que acompanha o processo de trabalho.
À medida que a extensão universitária pode ser apresentada como trabalho,
exige-se desse trabalho a superação da simples relação primeira do homem com a
natureza. O trabalho realiza-se como processo constituído através das relações sociais -
trabalho social útil.
A atividade orientada nos projetos de extensão analisados passa pela produção
do conhecimento como necessidade humana, indispensável ao metabolismo social entre
o homem e a natureza.
No modo de produção capitalista, os conhecimentos do processo de trabalho,
que antes estavam sob o controle de indivíduos como os artesãos, transformaram-se em
capital. Fleury (l990: 129) afirma que: “A totalidade do processo, as condições que lhe
dão sentido, somente são apreendidas a partir do ponto de vista dos capitalistas, e o
conhecimento passa a ser uma propriedade exclusiva deste grupo social, e como tal,
uma das suas grandes fontes de poder na sociedade”.
A possibilidade de se entender extensão como trabalho social com explícita
utilidade opõe-se à visão fragmentada do trabalhador em relação ao processo produtivo,
no modo de produção capitalista, determinada pela divisão social do trabalho. O
conhecimento da totalidade do processo é transferido para o capital, representado
sobretudo, pela classe social dominante: a burguesia. A posse desse conhecimento
reforça as estruturas de dominação que estão inseridas nas relações sociais de produção
e também vai garantir, pelo lado do capitalista, a reprodução das relações de produção,
considerando que o modo de produção capitalista funda-se na separação entre a
propriedade do trabalho e a dos meios de produção. Essa separação também impõe ao
trabalhador a manutenção de sua posição na estrutura das relações de produção,
considerando que a sua sobrevivência estará garantida enquanto ele estiver fornecendo
ao mercado a sua força de trabalho, já que esta é seu único bem disponível.
A extensão expressa pela realização do trabalho social útil pode, ainda, efetivar
e desenvolver entre seus participantes a necessidade da conquista de cidadania. Uma
cidadania cujo significado deve estar bem cristalino na perspectiva de que seja um
processo de formação de cidadão crítico, enquanto consciente como sujeito de
transformação, e também ativo, superando o idealismo contemplativo e interpretativo da
natureza.
18

Um trabalho social útil não se exerce apenas a partir dos membros da


comunidade universitária - docentes, servidores e alunos. Ele tem uma dimensão
externa à universidade, que é a participação dos membros da comunidade em seus
movimentos sociais ou outras formas de ação política - dirigentes sindicais ou mesmo as
associações - numa relação biunívoca para a qual confluem membros da universidade e
participantes desses movimentos.
Extensão, como trabalho social útil, passa a ser agora exercida pela universidade
e por membros de uma comunidade sobre a realidade objetiva. Um trabalho
coparticipado que traz consigo as tensões de seus próprios componentes em ação e da
própria realidade objetiva. Um trabalho onde se buscam objetos de pesquisa para a
realização da construção do conhecimento novo ou reformulações das verdades
existentes. Esses objetos pesquisados são também os constituintes de outra dimensão da
universidade: o ensino. É também um trabalho de busca de objeto para a pesquisa. A
extensão configura-se e concretiza-se como trabalho social útil, imbuído da
intencionalidade de pôr em mútua correlação o ensino e a pesquisa. Portanto, é social
pois não será uma tarefa individual; é útil, considerando que esse trabalho deverá
expressar algum interesse e atender a uma necessidade humana. E, sobretudo, é um
trabalho que tem na sua origem a intenção de promover o relacionamento ensino e
pesquisa. Nisto, e fundamentalmente nisto, diferencia-se das dimensões outras da
universidade, tratadas separadamente: o ensino e a pesquisa.
Como trabalho social útil, a extensão expressa-se sobre a realidade objetiva e seu
produto aos produtores retorna. Isso mostra a extensão exercendo e assumindo uma
dimensão filosófica, também fundamental, que é a busca de superação da dicotomia
entre teoria e prática. Há, então, possibilidade de se direcionarem projetos para a
ampliação da hegemonia voltada aos setores subalternos da sociedade, contribuindo
para o desvelamento das ideologias dominantes e construindo uma nova estratégia da
função social, ou mesmo uma dimensão de serviços de extensão a favor da cultura das
classes subalternas. Este é mais um papel possível do aparelho de hegemonia - a
universidade - que, através da extensão, pode também direcionar a pesquisa e o ensino
para um outro projeto social.
19

Referências

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Policultura-Praia de Campina. João Pessoa, set/1994. (mimeo).
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Públicas. Brasília, l987.(mimeo).
BRASIL/MEC/UFRN. XIII Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades
Públicas do Nordeste. Documento Final. Natal, l994.
Fleury, Maria de Fátima Pacheco. A Ideologia do Desenvolvimento e as Universidades
do Trabalho em Minas Gerais (Tese de Doutoramento). Campinas/SP, Universidade
Estadual de Campinas, l990.
Limoeiro Cardoso, Miriam. Ideologia do Desenvolvimento - Brasil: JK - JQ. 2a. ed,
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
Marx, Karl. O Capital: crítica da economia política. vol. I. Apresentação de Jacob
Gorender; Coordenação e revisão de Paul Singer; tradução de Regis Barbosa e Flávio
R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, l983. (os economistas).
Przeworski, Adam. Capitalismo e Social Democracia. Trad. Laura Teixeira Motta. São
Paulo: Companhia de Letras, l989.
Rocha, Roberto Mauro Gurgel. As oito teses equivocadas sobre a extensão
universitária. In: A Universidade e o Desenvolvimento Regional, Fortaleza: Edições
UFC, 1980, p. 216/244.
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Silva, Sílvio Carlos Fernandes. Extensão universitária como trabalho social. Relatório
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UFPB/PRAC. Relatório de Atividades da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários.
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UFPB/PRAC. Relatório das Atividades - 1995. João Pessoa, 1995. (mimeo).
UFPB/ NESC/CERESAT. O Que é o Programa de Saúde do Trabalhador? João
Pessoa, jan/1995. (mimeo).

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