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Laboratório de Perícias Ricardo Molina de Figueiredo
I) MATERIAL QUESTIONADO
Dois arquivos de vídeo enviados pelo solicitante, idênticos aos encontrados nos sites
www.youtube.com/watch?v=IZEaxdlxpvu e www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/817575-veja-
video-do-tumulto-em-que-jose-serra-é-atingido-no-rio.shtml
Com base nas imagens esclarecer se o candidato José Serra teria sido atingido por
algum objeto e em que momento.
III) DISCUSSÃO
A análise das imagens revela que cada uma das gravações capturou eventos totalmente
distintos. O vídeo no site www.youtube.com/watch?v=IZEaxdlxpvu mostra o momento no
qual o candidato é atingido por um objeto, cuja forma e características de impacto indicam
ser uma pequena bola de papel. A sequência de frames na figura 01 mostra a trajetória
do objeto "bolinha de papel" (doravante chamaremos esta situação de "evento bolinha de
papel"). Como se pode verificar na figura 01, o objeto atinge a cabeça do candidato na
parte posterior e, após o impacto, volta, por reflexão. Este fenômeno ocorre em função do
pequeno peso e da consistência elástica do material, fatores que diminuem transferência
mais efetiva de energia, levando a "bolinha" a ter energia suficiente para rebater e, após o
impacto, percorrer a trajetória oposta.
Ressalte-se que não há como confundir o "evento bolinha de papel" com o "evento fita",
visto que ocorrem em momentos diferentes. Tal constatação pode ser feita facilmente,
com base nos seguintes elementos:
O fato de a filmagem não mostrar a trajetória do objeto no evento "fita" está dentro das
expectativas. Com efeito, o celular usado na captação das imagens, captura poucos
frames por segundo, como se pode depreender do intervalo de quase 500 ms entre
frames consecutivos. Assim, supondo que o objeto se deslocasse a cerca de 40 km/h, o
que equivaleria a 11.11 m/s, a definição "espacial" do celular usado seria de
aproximadamente 5.6 m, ou seja, como o celular só capta um frame a cada 500 ms, seria
impossível captar qualquer imagem da trajetória do objeto que atingiu o candidato à
distância em que se encontrava o repórter da Folha que realizou as imagens. No
momento em que o objeto "fita" impacta a cabeça do candidato, a velocidade cai para
zero e, assim, foi possível capturar a imagem, ainda que com equipamento pouco
sofisticado em termos de definição e velocidade de captura.
A possibilidade de o objeto "fita", visto no vídeo ora comentado, ser um artefato digital
aleatório pode, para efeitos práticos, ser descartada. O objeto tem contorno bem definido,
os reflexos de luz que emite são compatíveis com a direção da iluminação e, além disso,
a maior parte do objeto "fita" encontra-se entre a cabeça do candidato e a objetiva do
Instituto de Pesquisa em Som, Imagem e Texto Ltda.
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Laboratório de Perícias Ricardo Molina de Figueiredo
IV) CONCLUSÕES
3) O vídeo em www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/817575-veja-video-do-
tumulto-em-que-jose-serra-é-atingido-no-rio.shtml mostra outro momento, no qual o
candidato é atingido na região fronto-parietal direita por um objeto semelhante a um rolo
de fita larga (crepe ou assemelhada). Alguns momentos depois o candidato leva a mão à
cabeça próximo ao ponto no qual o objeto o atingiu.
4) A possibilidade de o objeto "fita" ser um artefato digital aleatório pode ser na prática
descartada, em função dos seguintes aspectos: (a) o objeto tem contornos bem definidos;
(b) o objeto encontra-se, em sua maior parte entre a cabeça do candidato e a objetiva da
câmera (celular), não podendo, pois, ser um efeito de iluminação que se originasse da
região atrás do candidato; (c) a região mais iluminada do objeto é compatível com a
direção de onde se origina a luz.
luz
Figura 03.Nesta figura vemos em detalhe o objeto que atingiu a cabeça do candidato José
Serra. No quadro à direita, para facilitar a visualização, demarcamos a linha de topo da cabeça
(pontilhado azul), a parte do círculo externo inferior do objeto "fita" que se encontra mais à
direita em relação ao topo da cabeça do candidato (pontilhado vermelho) e o círculo interno
correspondente ao carretel (pontilhado amarelo). Observe-se que a maior parte do objeto
encontra-se entre a cabeça do candidato e a objetiva do celular que captou as imagens. Não há
como, portanto, atribuir a imagem vista a um efeito eventualmente causado por algo que
estivesse "atrás" do candidato. Observe-se também que a parte mais iluminada do objeto é
compatível com a direção da iluminação neste local e momento (indicada pela seta). Atribuir o
evento a um efeito digital aleatório não parece razoável, em função dos argumentos acima
expostos.