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HISTÓRIA ORAL E ARQUEOLOGIA

o exemplo Puri-Coroado e algumas considerações a respeito da aplicação dos métodos


da História Oral na identificação de sítios arqueológicos

Vlademir José Luft1

RESUMO: Incluída normalmente na etapa de prospecção, a busca do sítio arqueológico sempre foi algo muito
pouco considerado, seja em termos práticos, seja em termos teóricos. Preocupados com esta etapa e pensando na
sua importância para a elaboração do trabalho, nossa proposta é de que esta seja algo metodologicamente
elaborado e não apenas um encontro fortuito. É assim que estamos propondo o uso da História Oral nesta etapa
da pesquisa arqueológica, uma vez que a mesma nos parece ser a forma mais correta para a recuperação de tais
informações, bem como de produzir material primário para uma série de outras pesquisas na área da
Arqueologia, da Sociologia, da História, da Antropologia, etc.
Palavras-Chave: História, História Oral, Arqueologia

ABSTRACT: The search of the archaeological site, generally included in the prospecting stage, has always been
less considered in its pratical and theorical aspects. Concerned about the search of the site and its meaning for the
whole work, our proposal is to think of it not only as a fortuitous discovery but as a consequence of a
methodological study. Therefore we intend to use Oral History in this phase of the archaeological research
because we believe this is the best way recover information concerning the site and also to bung up primary
material for several future research in Archaeology, Sociology, History, Anthropology and so on.
Key-Word: History, Oral History, Archaeology

Com uma origem que pode ser comum, apesar da diferenciação física e cultural; com
uma dispersão que atinge o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, apesar
das barreiras naturais; com um sentido de deslocamento indefinido, apesar de todos os
vestígios indicarem uma origem nos “sertões das Minas Geraes”; aldeados ou exterminados,
apesar da resistência e da bravura de um ou da passividade e da docilidade de outro; inimigos
entre si, apesar da origem e do espaço comum; e com um modo de vida raramente
estabelecido; os Puri e os Coroado1, filiados ao grupo linguístico Puri, são dois grupos muito
pouco conhecidos e que dificilmente têm sido objeto de trabalho.
Como principal objetivo do Programa Arqueológico Puri-Coroado e procurando segui-
las no tempo e no espaço, para demonstrar a forma como viveram e têm vivido, a recuperação
das informações com que trabalhamos deve ter seu espectro ampliado, utilizando-se de fontes
escritas e orais, e não apenas a cultural como tradicionalmente acontece no trabalho
arqueológico.

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- Doutor em História Social (UFRJ), professor Adjunto do UniMSB, luft@globo.com

1
No que diz respeito especificamente à fonte oral, raramente é utilizada e quando o é, é
subestimada. Quando dizemos que raramente é utilizada, estamos nos referindo à utilização
do depoimento do informante para a produção de uma fonte, e não apenas como um
instrumento utilizado pelo arqueólogo, para que se possa chegar ao sítio arqueológico.
É assim que analisaremos aqui as das entrevistas realizadas até o momento na região
das serras da Piedade, São Geraldo e Santa Maria, nos municípios de Visconde de Rio Branco
e São Geraldo, localizados na Zona da Mata de Minas Gerais, onde está uma concentração de
locais com possíveis ocupações Puri e Coroado, segundo fontes escritas e culturais. Os
entrevistados são representantes dos mais diversos segmentos sociais daquela região e que, de
uma forma ou outra, estão envolvidos com as questões destes locais de ocupação.
Nossa análise, portanto, será no sentido de, à luz dos conhecimentos que tratam da
História Oral, verificar, metodologicamente, a forma, e as condições, como as entrevistas
foram realizadas.
Em termos técnicos, as entrevistas iniciaram com o objetivo de cobrir uma lacuna
deixada pela pesquisa arqueológica, mais especificamente pela etapa denominada prospecção
arqueológica. Como pesquisador, percebemos, em nosso trabalho de localização de sítios
arqueológicos, em campo, que as informações apresentadas pelo(s) informante(s), membro(s)
daquela sociedade onde o(s) sítio(s) está(estão) inserido(s), não eram fornecidas, e os motivos
para tal podem ser os mais variados, ou não representavam a totalidade das informações que
detinha(m) o(s) entrevistado(s). No caso da primeira hipótese, três possibilidades nos são
visíveis: as informações estarem incompletas, inclusive ao próprio informante; as informações
serem imprecisas; ou as informações não serem verdadeiras.
Após percebermos e analisarmos este quadro, chegamos a conclusão de que isto pode
ocorrer por quatro motivos específicos: (1) Pelo informante não confiar nas pessoas estranhas
que acabam de chegar, em busca de informações sobre locais com determinado tipo de “resto”
e que em sua realidade podem representar um sem número de coisas, muitas delas de teor
místico ou de teor financeiro, tais como a existência de ouro, por exemplo. Neste caso muitas
vezes as informações existem e na maioria delas são verdadeiras, mas são omitidas. Estamos
considerando-o como informante(s) primário(s). (2) Pelo informante simplesmente não
conhecer, ou reconhecer, o local, ou mesmo não deter as informações necessárias ou
procuradas. Neste caso estão principalmente as pessoas com uma idade mais avançada.
Poderíamos considerá-lo como uma informação secundária. (3) Pelo informante, que neste

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caso é uma pessoa “mais esperta”, e normalmente mais jovem, querer uma importância maior
do que a que lhe pode ser dada, em função das informações que poderá prestar, ou mesmo dos
locais que poderá indicar e que realmente possuam os elementos procurados. Neste caso,
existe sempre a tentativa de uma barganha e que envolve, sempre, termos financeiros. Pode-se
tratar, também, de uma informação primária. (4) Pelo informante deter uma, ou mais,
informações de outra(s) pessoa(s). Neste caso a imprecisão é muito grande e o risco de
estarmos diante de uma informação que não será confirmada também é muito grande.
Poderíamos considerá-la como uma informação secundária.
Dissemos “percebemos e analisamos este quadro” porque da forma como aprende-se,
ou ensina-se, na escola ou nos manuais de arqueologia, normalmente a informação que é dada
ao arqueólogo, em campo, por qualquer tipo de informante, deve ser considerada. Nunca é
feita a observação de que poderemos, ou deveremos, analisá-las, interpretá-las, e que podem
existir problemas nestas informações. Como poderíamos resolver este impasse e, ao mesmo
tempo, recuperar a informação da forma mais completa possível? Seria isto possível? Neste
sentido Ferreira (1994, p. 8)2 nos diz que “... as possíveis distorções dos depoimentos e a falta
de veracidade a eles imputada podem ser encaradas de uma nova maneira, não como uma
desqualificação, mas como uma fonte adicional para a pesquisa.”. É desta forma que estamos
tratando este trabalho.
Mas, devemos lembrar que o tempo de que se dispõe para este trabalho, ou mesmo
para o trabalho de campo, normalmente é muito pequeno. Portanto, o tempo a ser gasto no
trato com os informantes e com a comunidade, na busca de informações sobre sítios ou locais
com restos arqueológicos, deve ser o menor possível. Aqui outra questão: como conciliar a
necessidade da pesquisa com a falta de tempo? Neste momento estávamos com alguns
problemas.
O primeiro era trabalhar com algo totalmente novo, teórica e metodologicamente, a
História Oral. Até então, acreditávamos ser possível fazer História Oral apenas com um
gravador na mão e algumas perguntas na cabeça. Numa primeira tentativa, a nível
experimental, descobrimos que isso não seria possível.
A descoordenação das perguntas, a falta de um roteiro para a entrevista, a surpresa
diante das respostas do entrevistado, a demora na formulação das perguntas, a falta de
perguntas que direcionem a entrevista para o tema, perguntas muito longas e elaboradas, a fala
muito prolongada e desnecessária dos entrevistados, a valorização excessiva de detalhes

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irrelevantes por parte do entrevistado sem que o interrompamos e, principalmente, o comando
da entrevista nas mãos do entrevistado, são os detalhes que mais nos chamam a atenção e
fizeram com que os dos entrevistados percebessem nosso despreparo na realização e condução
da entrevista. Confirmamos, na prática, que História Oral não é apenas um gravador na mão.
Não é simplesmente uma entrevista.
O segundo problema estava no trato com a comunidade. Neste ponto, procuramos,
antes de realizarmos as entrevistas, entrar em contato com a comunidade com a qual iríamos
trabalhar, ou seja, nos fazermos conhecidos, nos tornarmos reconhecidos, e dessa forma
passíveis de receber a confiança daquelas pessoas, daquela comunidade. Após convivermos,
por praticamente dois anos, com a comunidade de Visconde do Rio Branco - MG e,
principalmente, das serras da Piedade, Santa Maria e São Geraldo, este problema, ao menos
em termos teóricos, estava resolvido: éramos reconhecidos e solicitados por ela.
Nosso terceiro problema continuava a ser a História Oral. Para as entrevistas
necessitávamos de um roteiro. Elaboramos o primeiro. Nele procuramos destacar três tipos de
informações.
O primeiro visava conhecer o entrevistado, saber quem era, quem eram seus
ascendentes, quem eram seus descendentes, qual era sua prole, porque morava ali, quem eram
as pessoas que conhecia, etc ... Era um pouco de sua história de vida. Entendemos, pela
convivência, que isso os valorizava e nos ajudava a conseguir não somente um maior número
de informações, mas também informações mais precisas, bem como a indicação de outras
pessoas com as quais poderíamos conversar ou mesmo que pudessem nos levar aos locais
indicados. A partir desta primeira parte do roteiro, estávamos selecionando, automaticamente,
o público alvo de nossas entrevistas. Neste primeiro momento seriam as pessoas mais velhas
da comunidade e, obviamente, as que tivessem algum tipo de informação sobre locais com
restos arqueológicos e que interessassem a nosso trabalho. Direcionamos nossas entrevistas
desta forma por considerarmos estarem nestas pessoas as informações mais precisas e
importantes que buscamos. Esta primeira parte visa também, entender como aquele indivíduo
está inserido em sua sociedade ou naquele segmento do qual faz parte.
O segundo tipo de informação visava saber do entrevistado, o que ele conhecia sobre
nosso objeto de estudo, os índios Puri, Coroado e Coropó, que teriam habitado aquela região.
É importante lembrar que neste caso estaríamos procurando e, eventualmente, obtendo, uma
visão de alguém sobre o passado. Estas informações, muitas vezes sobre um passado distante,

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decorrem de uma tradição oral, passada, principalmente, de pai para filho e, neste caso, a cada
geração, pode ser alterada. Assim, a visão dos filhos do senhor Honório Imaculada, por
exemplo, é a mesma visão do pai sobre a questão da ocupação indígena e sobre os sítios
arqueológicos na serra da Piedade, que será repassada a outrem, mesmo que aquela
informação não seja verdadeira. Isto pode ser visto quando da entrevista do senhor Honório e
de seus filhos Haroldo e Gasparino. É provável que, no futuro, quando Haroldo e Gasparino
estiverem com a idade do senhor Honório, tenham uma nova versão sobre isto tudo, como já
podemos observar hoje, quando é possível falar com eles em separado, ou distante do pai.
O terceiro tipo de informação que buscávamos neste primeiro “roteiro preliminar para
entrevistas”, nos daria conta do material encontrado, quem o teria encontrado, onde teria sido
encontrado, para onde teria sido levado, o que teria sido feito com ele, etc ... Com isto
estaríamos identificando e confirmando, ou não, com mais precisão, as informações que
teriam sido prestadas até então, uma vez que agora, com base na cultura material, estariam
sendo localizadas e materializadas.
Foi com este ROTEIRO PRELIMINAR PARA ENTREVISTAS (primeira versão) que
realizamos as primeiras três entrevistas. É importante mencionar que apesar deste roteiro, as
entrevistas não foram conduzidas de forma rígida. Procuramos, após dar a palavra ao
entrevistado, interrompê-lo o mínimo possível, tomando o cuidado de não induzi-lo nas
respostas, embora algumas vezes isto tenha ocorrido. Embora esta indução não seja
intencional, as respostas que nos eram dadas, nos chamavam a atenção e nos faziam pedir
maiores informações, maiores esclarecimentos e detalhes, nomes de pessoas, o local de alguns
acontecimentos, quem seriam e onde estariam as pessoas citadas.
Foi justamente por este motivo que preparamos uma nova versão do ROTEIRO
PRELIMINAR PARA ENTREVISTAS (segunda versão) onde alguns destes elementos
estariam contemplados, pois gostaríamos de verificar a forma como os outros entrevistados se
comportariam diante de tais informações e se as dominavam.
Além disso, incluímos duas questões sobre a Arqueologia, ou seja, o que o
entrevistado entendia ser Arqueologia, se já havia ouvido falar nela e o que ele pensava ser o
trabalho do arqueólogo. Isto foi, principalmente, para ver em que medida o trabalho de
identificação e recuperação do material arqueológico, através das escavações, seria, ou não,
bem recebido pela comunidade e se poderíamos ter algum tipo de interferência quando da
realização dos mesmos.

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Após estas primeiras entrevistas, outro elemento que passamos a observar foi com
relação ao ritual que as estava envolvendo. Devido ao tipo de pessoas com quem estamos
tratando, na sua grande maioria muito simples, uma entrevista, que sempre procuramos
marcar com antecedência, representa um acontecimento especial para aquela pessoa e, muitas
vezes, para sua família. Em função disso, em apenas duas entrevistas, com a senhora
Terezinha de Almeida Pinto, realizada em Visconde do Rio Branco - MG e com o senhor
Valdemiro Vianna Filho, realizada em Mariana - MG, foi possível ficarmos sozinhos com o
entrevistado. Em alguns casos pareceu-nos que era uma tática, ou seja, intencional. Seria para
não ficarmos sozinhos com o entrevistado ou é mesmo a simplicidade, e muitas vezes a
ingenuidade, destas pessoas? Como existe sempre na entrevista a participação do
acompanhante, normalmente opinando e/ou reforçando o dito pelo entrevistado, estamos
pensando em algo que possa evitar esta situação.
Isto talvez deva-se ao fato de termos optado por fazer com que as entrevistas sejam no
meio do entrevistado, ou seja, no local de sua preferência, a seu modo, assistidos por quem ele
julgar melhor. Sabemos que somos formadores de opinião e que qualquer ato ou fato que
gerarmos poderá dar origem a um produto diferente daquele que normalmente poderia surgir.
Por isso, procuramos influenciar o mínimo possível, seja em termos de idéia, seja em termos
de postura. Como já dissemos anteriormente, este nosso procedimento é por acreditarmos ser
necessário mostrar à comunidade o que estamos fazendo, quem somos e o que pretendemos
com este trabalho. É exatamente pela falta deste procedimento que muitos pesquisadores não
conseguem obter as informações que lhes possibilite chegar ao sítio arqueológico, ou então
pelo mau procedimento de alguns, em outros momentos, muitas vezes não muito distantes,
que as informações são omitidas por todos conscientemente.
Após estas observações e mais algumas entrevistas, preparamos um novo ROTEIRO
PRELIMINAR PARA ENTREVISTAS (terceira versão). Desta vez, também as observações
da pessoa contratada para transcrever as fita foram proveitosas. Segundo ela, deveríamos,
além de identificar o entrevistado, o que já estávamos fazendo, deveríamos identificar
também: o seu endereço, a data da entrevista, o local onde está sendo realizada a entrevista, os
acompanhantes ou presentes na entrevista, o ambiente em que foi realizada a entrevista, além
de procurar não deixar mais de uma pessoa falar ao mesmo tempo.
Outro procedimento adotado daqui por diante foi, ao final da entrevista, a elaboração
de um relatório com impressões sobre a mesma. Neste relatório buscar-se-á analisar, entre

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outras coisas, a forma como o local da entrevista se insere na realidade do entrevistado e em
nosso trabalho; quais foram as condições da entrevista, do entrevistado e do entrevistador;
qual era o clima, em termos emocionais, das pessoas envolvidas na entrevista; qual foi o nível
de interferência das pessoas presentes na entrevista; qual é o envolvimento do entrevistado, e
das pessoas presentes na entrevista, com o projeto de pesquisa e com o tema, em nosso caso
os índios Puri, Coroado e Coropó; qual a reação do entrevistado, e dos presentes na entrevista,
em relação às perguntas, ou a alguma(s) pergunta(s) específica(s). Este procedimento seria a
reunião daquilo que Alberti (1989, pp. 66-68)3 apresenta em sua ficha de entrevista e caderno
de campo.
Outro procedimento ao qual é necessário estar alerta, refere-se à liberação da
entrevista. Embora todas as pessoas que estamos entrevistando tenham conhecimento do uso
que faremos deste material em nossa pesquisa, inclusive para publicações, estamos fazendo
uma solicitação, por escrito, aos nossos entrevistados, liberando o uso científico do material
proveniente de sua entrevista. Esta preocupação apareceu quando das últimas entrevistas,
principalmente com o senhor José Agripino ooooo. Nela apareceram, não do senhor Agripino,
mas de seus filhos e genros, preocupações sobre o tipo de informação que estava sendo dada
por ele e o uso que faríamos dela.
A preocupação mais freqüente está no fato de os sítios arqueológicos estarem, na
maioria das vezes, em terras de propriedade privada, e delas ser extraído algum tipo de metal
ou mineral de valor comercial que possa interessar ao proprietário. Apesar da preocupação em
apresentar nosso trabalho, há sempre uma desconfiança: a de que estaríamos procurando algo
de valor comercial e não apenas “ossos”, “pedras”, “cacos de cerâmica” e “restos de índios
velhos”.
Entendemos ser necessário, também, o encaminhamento destas entrevistas ao Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, onde a pesquisa está autorizada,
propomos a criação de um banco de entrevistas com informações sobre sítios arqueológicos e
que poderá ser consultado por outros pesquisadores. Por isso, a assinatura de um documento
liberando o uso das informações nela contida, é uma boa estratégia, pois serve de proteção de
pessoas inescrupulosas.
Ter como objeto de estudo os grupos indígenas brasileiros requer um acentuado grau
de paciência e de perseverança. Suas fontes são escassas, de difícil localização e, quando não,
de acesso. Isto, em se tratando de grupos considerados “grandes”. Quando o objeto de estudo

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refere-se, como em nosso caso, a grupos “pequenos”, de língua isolada, pouco conhecidos, ou
reconhecidos, e muitas vezes confundidos com outros grupos, a situação pode ser muito mais
difícil.
O Programa Arqueológico Puri-Coroado, que tem por objeto de estudo a análise
arqueológica e histórica das sociedades Puri e Coroado, tem a necessidade de buscar fontes
dos mais diversos tipos e, normalmente, de caráter bastante geral, sempre no sentido de suprir
as enormes lacunas existentes no conhecimento sobre estes dois grupos.
Devido a estas questões relacionadas às fontes, a grande diversidade cultural destes
grupos, sua ampla área de ocupação e a abrangência teórico-metodológica que estamos
procurando dar ao trabalho, onde a ênfase não é apenas o material cultural recuperado do sítio
arqueológico, mas o contexto que o envolve, desde a antiguidade até nossos dias, a
recuperação de informações orais, que se tornam, pela História Oral, uma fonte de valor
histórico igual ao das fontes escritas, é de fundamental importância. No caso dos grupos Puri e
Coroado, onde a fragmentação, seja documental, cultural ou espacial é um fato, a geração de
mais uma fonte, capaz de aumentar as possibilidades de sua identificação, é plenamente
aceitável e esperada. Apesar das dificuldades em identificar, até o momento, uma origem, seja
espacial ou cultural, praticamente todas as fontes e suas referências são unânimes em
identificar a região do rio Pomba, principalmente em sua margem esquerda, em território da
Zona da Mata mineira, como a principal concentração destes grupos. As serras de Santa
Maria, Piedade, São Geraldo e da Onça, nos municípios de Visconde do Rio Branco, São
Geraldo e Guidoval têm demonstrado, na prática, estas informações.
Nestas serras, sua população convive com os restos culturais, desde sua ocupação
inicial. Grutas, cavernas e abrigos encrustrados nas serras, são nichos onde podem ser
encontrados, entre outras coisas, urnas funerárias, restos de fogueiras, sepultamentos,
vasilhame cerâmico e material lítico. Na base das serras, ou em seus vales, podem ser
encontrados restos de ocupações do tipo aldeia, onde é abundante o material cerâmico. Além
disso, encontra-se com facilidade, muito material lítico polido.
É com esta realidade que a população convive. Sejam velhos ou novos, sempre há
alguém que já viu, ouviu ou sabe onde encontrar estes restos, ou mesmo onde eles estão
concentrados. São estas pessoas que estão sob nosso olhar, que nos fornecem as informações
mais concretas sobre locais com “restos de índios”, e de onde vêm, após uma análise, nossos
entrevistados.

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Foi com este perfil que preparamos nossos roteiros para as entrevistas e escolhemos
nossos entrevistados. Os depoimentos a que nos referimos a seguir, são os primeiros que
obtivemos e que demonstram as primeiras, e principais, dificuldades encontradas.
A primeira entrevista foi com a senhora Terezinha de Almeida Pinto, e foi realizada
após mais de um ano de contatos. Dona Terezinha é uma das pessoas mais influentes da
comunidade, no que diz respeito à cultura, ao patrimônio e à preservação da história local. Foi
por sua iniciativa que criou-se, por Decreto Municipal, o “Museu Municipal de Visconde do
Rio Branco”, onde hoje estão guardadas peças dos mais diversos gêneros e épocas e que
contam a história da região, da cidade e de seus moradores. Além disso, também por sua
iniciativa, criou-se a “Associação dos Amigos do Museu Municipal de Visconde do Rio
Branco”, que tem por objetivo promover a cultura, a nível popular, no município. Dona
Terezinha tem hoje mais de 70 anos de idade e sempre morou em Visconde do Rio Branco.
Conhece praticamente todos os seus moradores e praticamente todos já ouviram falar de Dona
Terezinha. Foi por insistência sua que levou-se para o museu, o que sobrou dos restos de
material arqueológico, ossos e cerâmica, encontrados na serra da Piedade em 1986. Além
disso, tem peregrinado pela região em busca de moradores que tenham, em suas casas,
material arqueológico. Foi exatamente por este motivo, e por seu intermédio, que chegamos
até o senhor José Agripino, morador da vila de Santa Maria, e que tem, em sua casa, mais de
80 peças de material lítico polido, recolhidas nas serras da região. A intenção de Dona
Terezinha é conseguir levar todo este material para o Museu Municipal. Desde que a
conhecemos, temos apoiado suas iniciativas, principalmente as ligadas à arqueologia, uma vez
que têm por princípio preservar, mesmo fora de contexto, o material arqueológico da região.
Apesar de já a conhecermos a bastante tempo, a entrevista com Dona Terezinha era
inevitável. E para nossa surpresa, na entrevista, realizada nas dependências do Museu
Municipal, sem nenhum acompanhante, nos foram colocadas informações que ainda
desconhecíamos. Como exemplo, podemos citar o caso do senhor Agripino, hoje, uma das
nossas peças mais importantes em Visconde do Rio Branco.
A segunda entrevista foi realizada com o senhor Honório Imaculada, um antigo
morador da serra da Piedade, no distrito denominado Piedade de Cima, e muito conhecido da
comunidade de Visconde do Rio Branco. Foi em suas terras, através de seus filhos Gasparino
e Haroldo, que se descobriu, em 1986, uma série de urnas funerárias e material arqueológico
ligado a sepultamentos. O senhor Honório é conhecido em toda Visconde do Rio Branco,

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também, por sua grande capacidade de criar e aumentar fatos diversos. Em relação a presença
de antigos grupos indígenas na serra da Piedade, sua versão é muito criticada e ridicularizada.
Apesar disso, todos os locais e histórias que a comunidade relata a respeito dos índios, sempre
aparece o seu nome. Além disso, Ele, ou seus filhos, conhecem toda a população e a região,
bem como sabem de praticamente todas as histórias sobre locais com “restos de índios”.
Dessa forma, não poderíamos deixar de entrevistar o senhor Honório, bem como os
seus filhos Gasparino e Haroldo. Eles também são peças importantes em nosso trabalho de
campo. A entrevista com ele foi realizada em sua casa, na serra da Piedade e contou com a
presença de sua esposa, Dona Jacira, de seus filhos, Gasparino e Haroldo, e de nosso
motorista, Adilson, que trabalha na Prefeitura Municipal de Visconde do Rio Branco e
também é morador da cidade. Esta entrevista foi um acontecimento muito importante para a
família, e como pode ser visto na transcrição da entrevista, todos participaram e opinaram. Foi
muito difícil conduzir a entrevista. O senhor Honório é uma pessoa muito difícil de controlar.
Hoje, alguns anos após a entrevista, sabemos que a grande maioria dos fatos relatados
e localizados por ele e seus filhos, são verdadeiros. O que parece existir na verdade, é uma má
vontade da população em relação a eles, uma vez que são conhecidos por serem muito
espertos em seus negócios: a exploração das jazidas de pedras para paralelepípedo, utilizados
na pavimentação de ruas, calçadas e bases para casas e prédios.
A busca de um sítio arqueológico sempre foi algo muito pouco considerado pelo
arqueólogo, seja em termos práticos, seja em termos de elaboração metodológica,
principalmente no sentido de poder retirar muito mais que simples indicações, fortuitas, de
locais com cerâmicas, ossos, pedras e pinturas, de alguém que pode ser o proprietário da terra,
um caçador, que ouviu, e/ou conhece, sobre a existência de tais materiais, ou mesmo pelo
próprio arqueólogo ao averiguar, em campo, a possibilidade de existência destes materiais em
locais propícios para isto, tais como cavernas e abrigos, entre outros.
Esta tarefa de busca do sítio arqueológico é normalmente incluída na etapa de pesquisa
denominada, pelo arqueólogo, de prospecção arqueológica e que significa, na verdade, a
exploração, do local escolhido, ou indicado, como sítio arqueológico e que pode, ou não,
apresentar material arqueológico de superfície. Normalmente, é justamente este material, de
superfície, que serve de referência para a indicação, por outrem ou pelo próprio arqueólogo,
daquele local como sítio arqueológico.

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Esta busca a sítios arqueológicos acontece, sempre, em função de uma, ou mais,
indicações para uma área ou região a qual, tendo confirmada a sua existência torna-se objeto
de projeto de pesquisa. Ela também acontece, quando o arqueólogo estiver trabalhando em um
determinado sítio arqueológico e buscar, através de informações de moradores, caçadores ou
conhecedores da região, os possíveis locais com indicativos, já mencionados, de outros sítios.
Nossa proposta, portanto, é de que este Trabalho de busca seja algo
metodologicamente elaborado e não apenas um encontro fortuito de um sítio arqueológico.
Assim, o encontro deste passaria a ser documentado da forma mais completa possível,
recuperando a forma como aquela sociedade, ou aquele segmento social, percebe, entende, se
relaciona e utiliza aquele tipo de informação, seja a nível pessoal, seja a nível coletivo.
Desta forma, o uso da História Oral nesta etapa da pesquisa arqueológica nos parece
ser o método mais correto para a recuperação de tais informações, bem como de produzir
material primário para uma série de outras pesquisas na área da Arqueologia, Sociologia,
História, Antropologia, etc. No projeto arqueológico sobre os grupos Puri e Coroado, estamos
utilizando tal proposta.
A Arqueologia, ciência que ainda hoje está baseada na técnica, apesar de todos os
ensaios teóricos, para a recuperação e análise dos restos deixados sobre o terreno pelo homem
e pela natureza, tem sofrido muito com a falta de um método que ultrapasse esta questão. A
prova está em que o material cerâmico, o material lítico, os restos humanos diretos, os restos
alimentares, bem como todo e qualquer elemento recuperado durante uma escavação
arqueológica tem um tratamento técnico a cada dia mais aprimorado, mais detalhado, a fim de
que possam oferecer, se não todas, ao menos uma grande parte das informações que contêm,
para explicar o próprio material e nunca recompor a sociedade da qual fazem parte.
Isto, concordando com os arqueólogos que dizem não ter a Arqueologia um método
próprio, é devido a falta de um método que tenha por base o homem, a sociedade. O que há na
realidade, são pesquisas utilizando-se de métodos diversos, e até mesmo da mescla de alguns,
segundo a preferência ou o interesse de cada pesquisador, trazidos de outras áreas do
conhecimento, sem no entanto delas comungarem.
Nós, por acreditar ser a Arqueologia uma ciência histórica que tem como objeto de
estudo, principalmente, as sociedades pré-históricas, propomos o uso, como base para a busca
dessas sociedades, de um método da História, a História Oral.

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Desta forma, a pesquisa, desde o momento de sua preparação até a sua conclusão, deve
levar em consideração que o objetivo é a recuperação, total ou em parte, de uma sociedade,
historicamente estabelecida, e não apenas de elementos isolados e na maioria das vezes sem
nexo, já que ao serem recuperados sem levar em consideração o contexto do qual fazem parte,
seja o pré-histórico ou o histórico, não passarão de simples objetos ou utensílios pertencentes
a uma sociedade qualquer e não àquela sociedade específica.
Assim, por acreditarmos ser esse processo todo, um processo histórico que merece
uma análise histórica, em todos os sentidos e não apenas no sentido técnico, estamos
propondo o uso de um método da História para melhor analisá-lo e entendê-lo.
Desta forma, pensando o sítio arqueológico, local onde estão representadas as
sociedades com as quais trabalha o arqueólogo, não apenas onde o homem deixou seus restos,
mas como sendo este local parte de um espaço maior, organizado, onde uma determinada
sociedade viveu, é que iremos trabalhar.
Essa concepção deve-se ao fato de consideramos o homem como um ser que vive em
sociedade e ocupa espaços, os quais são utilizados de acordo com sua necessidade, tendo cada
sociedade suas necessidades específicas. Por isso, acreditamos que o sítio arqueológico não
seja apenas o local onde encontramos elementos de uma sociedade, mas todos os espaços
utilizados por ela, espaços que por sua vez compõem-se de locais que têm aspectos distintos e
podem, até mesmo, estarem subdivididos.
Além disso, devemos acrescentar que dentro dessa nossa concepção de sítio, um
mesmo local ocupado pelo homem, como por exemplo um abrigo ou uma caverna, pode ter
sido ocupado por mais de uma sociedade e nesse caso devem ser percebidas, se possível,
quando da escavação e estudadas separadamente, pois são dessa forma, sítios distintos.
Com isso, não teremos mais um sítio rupestre, um sítio lítico, um sítio cerâmico e
tantos outros, mas sim uma sociedade ocupando um espaço dentro do qual encontramos seu
local de produção, de habitação, de cerimonial, etc.. Assim, quando identificamos um desses
locais não podemos perder de vista que ele representa apenas uma parte de determinada
sociedade e que portanto não deve, quando da sua conclusão, ser dado como resultado final
daquela sociedade, uma vez que ela não desapareceu, apenas mudou de local, foi habitar outro
espaço, talvez com novas forças produtivas, novas relações sociais, novas condições naturais.

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A partir dessa concepção, utilizamo-nos de Sonoja (1984, pp. 35 e 41)4 que nos diz
que “... podríamos establecer que um sítio arqueológico está compuesto por materiales de
diversa naturaleza, origem y significacion.” e que

... no es pues, una asociacion casual de artefatos, sino un conjunto de asociaciones de


artefatos, aspectos y áreas de actividad cuya estructura representa la organizacion de
la vida cotidiana de um grupo de individuos reunidos también para cumplir tareas
objetivas y concretas dentro de un espacio conscientemente delimitado.

Desta forma, em seu trabalho, o arqueólogo deveria demonstrar e analisar a


racionalidade existente e evidenciada pelos elementos provenientes, ou resultantes, das
relações entre a sociedade e a natureza, entre a sociedade e o meio em que vive e entre a
sociedade com outras sociedades e/ou espaços, regiões, meios, etc.
Propomos aqui, a ampliação do trabalho do arqueólogo, ou seja, esta racionalidade
existente deva ser demonstrada e analisada a partir da busca e identificação do sítio
arqueológico, inserindo aí, através da História Oral, o tratamento às fontes orais que nos
levam até o sítio e que nos falam de seu envolvimento com ele, seja de forma individual, seja
de forma coletiva. Com isso, o arqueólogo poderá entender melhor porque aquele local
encontra-se da forma como está (intacto, destruído, preservado) e tratá-lo de maneira mais
adequada, principalmente com relação ao método mais apropriado para a recuperação daquele
material arqueológico.
Esta proposta de pensar o sítio arqueológico levando em consideração o conjunto de
espaços utilizados por uma sociedade em determinado tempo, associando-o, através da
História Oral, à forma como um segmento de nossa sociedade o vê e o concebe, nos faz
pensar de forma diferente, ou seja, de que aquele espaço não parou no tempo quando de sua
desocupação pelo homem "pré-histórico", mas, pelo contrário, continuou sendo ocupado até
nossos dias, por sociedades diversas e com concepções diferentes, seja em termos de espaço e
de mundo, ou de vida. É desta forma que os arqueólogos têm encontrado um sem número
sítios arqueológicos, de momentos muito diferentes, sendo ocupados ainda hoje. Se não
estivermos preparados e conscientes de tal fato tenderemos a fazer interpretações que não
corresponderão a realidade.
O arqueólogo, na busca do sítio arqueológico, entra em contato com três tipos de
referências: a fonte oral, a fonte escrita e a evidência material. A ordem, ou a seqüência, desta
lista é aleatória, dependendo exclusivamente do arqueólogo e de seu método de trabalho.

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Apesar disso, indiscutivelmente a referência mais utilizada e considerada é a evidência
material, por possuir indícios mais diretos, seguros e rápidos na localização do sítio
arqueológico. Nela podem ser utilizados vários métodos, tais como, observação direta,
fotografia aérea e detecção por resistibilidade, entre outros.
A fonte escrita, por sua vez, se comparada ao seu grande potencial, é muito pouco
utilizada. Acreditamos que este fato aconteça devido, principalmente, a maior familiaridade
do arqueólogo com a cultura material, com o trato dos restos materiais, com o material
arqueológico, em campo ou em laboratório. Isto é, com certeza, um dos principais motivos
que o afasta dos arquivos e do manuseio de fontes escritas, uma vez que o arqueólogo deve ser
aquele que trabalha com o documento material. O responsável pelo documento escrito seria o
historiador.
No que diz respeito a fonte oral, esta sim, raramente é utilizada, ou quando utilizada, é
subestimada. Quando falamos que raramente ela é utilizada, estamos nos referindo ao
depoimento do informante para a produção de uma fonte, e não apenas como um instrumento
a ser utilizado pelo arqueólogo, para que se possa chegar ao sítio arqueológico. Apesar do
depoimento de informantes, ser utilizada com extrema freqüência, muito raramente é
mencionada na literatura arqueológica. A prova pode estar ao analisar algumas referências5
que tratam, “em termos teóricos”, do trabalho de campo do arqueólogo. Verificamos que
apenas duas delas fazem menção direta à utilização de informações fornecidas pela população
local na busca dos sítios arqueológicos: Moberg (1986, p. 46)6 quando diz que “... de uma
maneira geral, uma grande parte das investigações arqueológicas exerce-se no terreno, em
contacto com as fontes de informação no seu próprio lugar de origem.” e Evans & Meggers
(1965, pp. 32-33)7 quando dizem que

A principal fonte de informação na localização de sítios arqueológicos são os


próprios habitantes locais. Os residentes de Três Lagoas, por exemplo, poderiam
indicar ao arqueólogo diversos sítios a serem usados como ponto de partida. Os
demais seriam localizados viajando-se pelo rio e parando de casa em casa para tomar
informações. ... No caso da vegetação ser muito densa e a área nunca ser atingida por
inundações, então a pesquisa dependerá quase que exclusivamente das informações
dos residentes locais. Felizmente, a maioria desses residentes é usualmente
observadora, não lhe passando desapercebido qualquer aspecto fora do comum,
como cacos lembrando-se freqüentemente da localização de tais ocorrências.

Se, ao contrário disso, analisarmos referências que têm por base a apresentação
“prática” do trabalho do arqueólogo, também verificaremos que este mesmo quadro se

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repetirá, ou seja, não há menção de como aquele sítio arqueológico foi encontrado e de que
forma a sociedade que o circunda, a sociedade no qual está inserido, o tem em sua realidade.
Embora este tema não esteja apresentado, e discutido, em nenhum manual de
arqueologia, seja para iniciantes, amadores ou profissionais, é algo com o qual os arqueólogos
vivem, e necessitam, permanentemente, quando estão em campo. Muitas vezes, dependendo
da região e do conhecimento que se tem da mesma, o que era, até então, um informante
fortuito, é transformado em guia, passando a acompanhar todos os passos das campanhas de
campo.
Algumas vezes o guia não é necessário, mas mesmo assim é incluído na equipe. Isso
ocorre porque esta pessoa, que sempre é moradora da região e conhecida da população,
domina a linguagem e os costumes usados por todos, podendo com isso facilitar, em um
primeiro momento, o acesso a esta população, bem como, posteriormente, aos locais de
interesse arqueológico, e que eventualmente poderão ser objeto de estudo daquela pesquisa
e/ou daquele arqueólogo.
O informante, que poderá ser um morador e/ou alguém que conhece a região escolhida
para a pesquisa, é a principal referência para a produção de informações que poderão nos levar
a locais de interesse arqueológico. A qualidade do informante, ou da informação, será medida
pelo conhecimento, pelo tempo e pelo grau de interação que o mesmo tem com a região e com
seus moradores.
Além das informações sobre os locais com restos arqueológicos, outro elemento que
nos será apresentado na entrevista, e que poderá ser utilizado também por outros
pesquisadores, será a relação e a forma como estes locais, de interesse arqueológico, foram
inseridos naquele espaço durante os mais vários momentos de tempo, e como aquela
comunidade, representante de um desses momentos de tempo, o concebe.
A relação entre arqueólogo e informante, ponto fundamental nessa proposta de uma
arqueologia pensada como uma Ciência da História, multidisciplinar, capaz de produzir
informações, e documentos, que poderão ser utilizados por outras áreas do conhecimento, tem
como uma de suas bases a História Oral. Este método, por conseqüência, transforma o
depoimento do informante em uma fonte, e como tal, o coloca a disposição do público e dos
pesquisadores para usos diversos.
O depoimento, principal momento na relação entre arqueólogo e informante, é o
instrumento que recupera, ou tenta recuperar, as informações tencionadas. Ele deverá ter como

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base um questionário elaborado a partir das questões consideradas necessárias e importantes
para a elaboração de um parecer a respeito da realidade arqueológica da região.
Dentre as inúmeras questões que envolvem, ou que deveriam envolver, o trabalho do
arqueólogo quando da busca, em campo, do sítio arqueológico, estão as relações existentes
entre ele, sítio, e a comunidade que o envolve.
Embora este fato seja, na maioria das vezes, simplesmente ignorado, toda comunidade,
ou segmento dela, que tem um sítio arqueológico próximo a si, localizados em terras de
alguns de seus membros ou, quando não, próximos a elas, tem uma determinada postura em
relação a estes locais, provocando o estabelecimento de novas relações com eles, locais, e com
o mundo que o circunda, seja em termos familiares, de amizade, comunitários ou sociais.
Esta postura em relação a estes sítios arqueológicos podem variar desde sua total
destruição até sua total preservação, podendo passar por uma variada gama de atitudes, dentre
as quais uma é extremamente comum, a de omitir ou esconder a informação. Isto pode
ocorrer principalmente por desinformação ou por medo.
No caso da desinformação, a mesmo pode ser em função de várias questões. A mais
contundente refere-se ao valor, financeiro, que estes locais, e seu material, podem ter. Por
inúmeras vezes nos defrontamos com pessoas que desejam vender informações sobre locais
com material cerâmico, lítico ou ósseo, ou mesmo querem vender o próprio material já
retirado por eles. Além disso, pode haver casos onde, em função de uma notícia de que este
tipo de informação e de material não têm valor financeiro, acaba por destruí-lo, podendo
chegar, até mesmo, a dinamitá-lo.
O medo, por sua vez, é outro motivo importante que faz com que locais com restos
arqueológicos sejam destruídos ou tenham sua identificação omitida. Isto ocorre
principalmente por questões místicas. Neste caso, a estes locais, principalmente com restos de
sepultamentos expostos na superfície, são imputadas informações do tipo “local assombrado”,
“local de despacho”, “local de desova de cadáveres”, etc. Sempre haverá uma notícia de que
naquele determinado local, à noite, houve-se “vozes, barulhos, luzes”, etc.
Além da informação, também devemos lembrar quem produz estas visões a cerca
destes locais. As visões podem ser diferentes, dependendo de quem originalmente as criou.
Para tal, sua credibilidade perante a comunidade, seu grau de instrução e sua posição social
são os elementos mais marcantes. A velocidade e a amplitude alcançada pela versão serão
diretamente proporcional ao seu grau de conhecimento e credibilidade junto a comunidade.

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Por sua vez, o grau de instrução terá influência na fidedignidade da localização e na descrição
do achado, ou seja, quanto maior o grau de instrução, mais detalhado será o achado, ao mesmo
tempo que, quanto menor o grau de instrução, mais precisa será a localização. Isto é de fácil
explicação. No interior, a regra, com algumas exceções, é de que as pessoas com alguma
instrução estejam morando na cidade, enquanto que os menos favorecidos neste item morem
no campo, na serra, no mato, etc..
Por outro lado, a preservação destes locais estará diretamente relacionada a influência
e a posição social que ocupam algumas pessoas dentro de sua comunidade. Isto fará com que
alguns segmentos desta comunidade se dediquem a preservação destes locais, bem como
procurarem pesquisadores capazes de dar conta de tais elementos. Um bom exemplo disto
podem ser os “Rotary Club” ou as “Associações Comunitárias”. Dentro delas existem
inúmeras pessoas dedicadas a preservar todo e qualquer elemento que possa das conta de sua
história e de sua cultura.
Portanto, a relação existente entre o sítio arqueológico e a comunidade que o envolve é
de fundamental importância para o arqueólogo, uma vez que poderá ser exatamente esta
relação que determinará a preservação do sítio, ou do resto, a integridade e a preservação da
informação, e o seu acesso a ele.
Com o exposto até o momento, podemos ter um quadro que nos da conta da realidade
encontrada pelo arqueólogo na busca do sítio arqueológico. Nela verificamos ser importante
não apenas o sítio em si, mas principalmente a percepção, a seu respeito, da comunidade que o
envolve, uma vez que com ela poderá se ter, ou não, a informação do sítio, mesmo que este já
esteja destruído, ou parcialmente destruído. Dessa forma, já nos é possível traçar um quadro a
respeito das novas relações entre o sítio arqueológico, a comunidade circundante e o
arqueólogo no momento da "prospecção arqueológica".
Na verdade, as relações existente entre os dois primeiros, sítio arqueológico e
comunidade circundante ou envolvente, não são novas, como poderíamos pensar e estamos
propondo. Elas sempre existiram, sempre estiveram lá, fazendo parte da realidade e do
processo de conhecimento daquela comunidade em relação aquele seu espaço de ocupação e
dos elementos que dele fazem parte. Nova seria a percepção e a utilização das mesmas,
enquanto fonte, pelo arqueólogo.
Fonte. Esta, acreditamos, seja a palavra chave. Porque a utilização deste
conhecimento, transformado em informação pelo arqueólogo, como já demonstramos, sempre

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foi utilizado. O necessário é a transformação deste tipo de informação, e suas relações, em
algo sistemático e metodologicamente estabelecido e previsto.
Assim, o encontro do sítio arqueológico, até então envolvido por uma grupo de tarefas
denominadas "prospecção arqueológica", passaria a ter no mínimo três etapas: a verificação
das fontes escritas, a busca das informações orais, em locais indicados pela fonte escrita, que
serão transformadas em fontes orais, e a checagem destas duas informações "in loco" através
da existência, ou não, dos restos arqueológicos.
As informações restantes, recuperadas quando da produção da fonte oral, e não
manuseadas pelo arqueólogo, deverão ser utilizadas por pesquisadores de outras áreas, no
sentido de instaurar, quando não a tem, naquela comunidade, a noção de preservação, de sua
história, de sua cultura e de sua identidade.
Da mesma forma que dissemos a pouco que a utilização de informações na busca do
sítio arqueológico não era algo novo, também a história oral, enquanto método, não o é.
Nova é sua possibilidade de utilização pela arqueologia. E enquanto possibilidade sua
perspectiva é infinita.
É importante lembrarmos que para que esta visão possa ser plenamente implantada e
utilizada há a necessidade de alterarmos a forma de concebermos a arqueologia. Não podemos
continuar entendendo o sítio arqueológico apenas como aquele local onde estão alguns restos,
sem identificar a sociedade a que pertencem e sem levar em conta os diversos tipos de
informações e de fontes existentes, e que a ele dizem respeito.
Como esperávamos, a inclusão da História Oral na pesquisa arqueológica preencheu
todas as nossas expectativas, recuperando informações que julgávamos não encontrar e nos
dando indicações que, de outra forma, muito dificilmente seriam alcançadas. A prova está na
entrevista do Senhor Honório, quando nos diz que se não fossemos tão chatos, ele não teria
nos dado as informações que nos deu.

1 - Para a grafia dos nomes dos grupos indígenas, seguimos a convenção estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia - ABA,
em 1953, onde normatiza que os nomes de povos e de línguas indígenas sejam empregados na forma invariável, sem flexão de gênero e
número. In: Revista de Antropologia, volume 2, número 2, USP, São Paulo, 1954, pp. 150-154.
2 - FERREIRA, Marieta de Moraes. História Oral: um inventário das diferenças. In: Entre-vistas: abordagens e usos da história oral, Rio de
Janeiro, Editora Fundação Getúlio Vargas, 1994.
3 - ALBERTI, Verena. História oral: a experiência do CPDOC, Rio de Janeiro, Centro de Pesquisas e Documentação de História
Contemporânea, 1989.

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4 - SONOJA, M.. La inferencia en la arqueologia social. In: Boletín de antropologia americana, Instituto Panamericano de Geografia e
História, Cidade do 10: 35-44, 1984.
5 - CAMPS, G.. Manuel de recherche préhistorique, Paris, Dois Editeurs, 1979. - ALIMEN, M.H. & STEVE, M.J. Prehistoria, Historia
Universal - Siglo XXI, volumen 1, Madrid, Siglo XXI Editores, 1975. - RAHTZ, P. Convite à arqueologia, Rio de Janeiro, Imago Editora,
1989. - FRÉDÉRIC, L. Manual prático de arqueologia, Coimbra, Livraria Almedina, 1980. - CHILDE, V.G. Introdução à arqueologia,
coleção Saber, Mira-Sintra, Publicações Europa-América, 1980. - BRAY, W. & TRUMP, D. Dictionary of archaeology, Harmondsworth,
Penguin Books, 1982. - MOBERG, C.A. Introdução à arqueologia, Lisboa, Edições 70, 1986. - EVANS, C. & MEGGERS, B.J. Guia
para prospeção arqueológica no Brasil, série Guias - 2, Belém, Conselho Nacional de Pesquisa / Museu Paraense Emílio Goeldi, 1965.

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